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SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO SERVIÇO SOCIAL MARIA EDIVÂNIA DOS SANTOS LIMA UELBA ANDRADE SILVA E SILVA ANTONIA JAIANE VIEIRA SANTOS DANIELA ALVES RODRIGUES PROTEÇÃO ESPECIAL DE ALTA COMPLEXIDADE PARA CRIANÇAS, ADOLESCENTES E JOVENS NA POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL A atuação do assistente social nos serviços de acolhimento institucional São Paulo 2018 1 MARIA EDIVÂNIA DOS SANTOS LIMA UELBA ANDRADE SILVA E SILVA ANTONIA JAIANE VIEIRA SANTOS DANIELA ALVES RODRIGUES PROTEÇÃO ESPECIAL DE ALTA COMPLEXIDADE PARA CRIANÇAS, ADOLESCENTES E JOVENS NA POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL A atuação do assistente social nos serviços de acolhimento institucional Trabalho apresentado como requisito de avaliação da disciplina de Atividades Interdisciplinares do curso de graduação em Serviço Social da UNOPAR - Universidade Norte do Paraná. São Paulo 2018 2 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.................................................................................................4 2. DESENVOLVIMENTO ..................................................................................5 2.1 Breve histórico: Constituição Federal de 1988 e neoliberalismo...........5 2.2 A regulação da Política de Assistência Social: documentos norteadores e proteções afiançadas.....................................................7 2.2.1 Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais............................8 2.2.2 Proteção Social Especial para crianças e adolescentes.........................9 2.2.3 Estatuto da Criança e do Adolescente.................................................11 2.2.4 Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes................................................................................12 2.2.5 Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes a Convivência Familiar e Comunitária.....................12 2.2.6 A Nova Lei da Adoção.........................................................................13 2.3 A prática profissional do Assistente Social nos Serviços de Acolhimento Institucional para crianças e adolescentes........................13 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................15 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................16 3 1. INTRODUÇÃO A Constituição Federal de 1988, conhecida como Constituição Cidadã, é um divisor de águas na história dos direitos sociais no Brasil. Nela, todas as pessoas - crianças, adultos e idosos - são consideradas sujeitos de direitos, portadores de dignidade humana, e o Estado é chamado a cumprir seu papel de garantidor e efetivador desses direitos. Uma série de documentos foram elaborados posteriormente a fim de detalhar e regulamentar os artigos constitucionais em várias áreas, incluindo a Assistência Social, reconhecida como direito do cidadão e dever do Estado. Esse processo desenrolou-se, porém, a partir do contexto marcado pela implantação de políticas neoliberais nos anos 1990, tendo sido, portanto, não linear e não livre de conflitos e lutas. Este trabalho se dedica a pontuar os principais eventos relacionados ao período pós-Constituição de 1988 no que diz respeito à (re)construção da Política Nacional de Assistência Social, com prioridade à Proteção Social Especial de Alta Complexidade direcionada às crianças, adolescentes e jovens. De forma suscinta e objetiva, serão apresentadas as mais importantes legislações norteadoras e instrumentos metodológicos a serem utilizados pelos assistentes sociais nos serviços de acolhimento institucional. 4 2. DESENVOLVIMENTO 2.1 Breve histórico: Constituição Federal de 1988 e neoliberalismo A Constituição Federal de 1988 alçou a Assistência Social ao campo dos direitos sociais e a incluiu no tripé da Seguridade, ao lado da Saúde e da Previdência. Entretanto, na década que se seguiu poucas ações foram realizadas no sentido de se buscar concretizar os ideais preconizado pela Carta Magna. Apesar do advento da LOAS (Lei Orgânica de Assistência Social) em 1993, a Assistência Social continuou se resumindo a um “mix de ações dispersas e descontínuas de órgãos governamentais e de entidades sociais em torno do Estado, em relações ambíguas e contraditórias (Brasil, CapacitaSUAS volume 3: 2008). Nesse período, o país mergulhou na política neoliberal e amargou o desmonte da infraestrutura estatal promovido pelo governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Somente em 2004, já no governo do Presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT), seria aprovada a PNAS (Política Nacional de Assistência Social), a fim de materializar as diretrizes da LOAS. A política neoliberal de FHC representou, sob nova roupagem, o retorno do Liberalismo - a ideia de que os mercados devem regular todas as esferas de produção e reprodução social, sem intervenção do Estado. Essa filosofia ganhou força com a publicação, em 1776, de A Riqueza das Nações, de Adam Smith. A obra defendia, grosso modo, o direito natural do homem à propriedade privada e à busca dos seus interesses por meio da competição com seus pares. Logo, se cada um fosse livre para buscar o melhor para si, o resultado seria uma ordem social “natural” e uma sociedade melhor para todos. Essa visão à primeira vista bastante atraente começou a ser refutada já a partir de 1830, com as primeiras crises do capitalismo. As críticas atingiram seu auge com a Crise de 1929, que comprovou os terríveis efeitos da completa falta de regulação das atividades econômicas. A resposta foi, em países da Europa e nos Estados Unidos, a imposição de um Estado forte e controlador que deveria garantir proteção social básica aos cidadãos e se colocar entre o mercado e a população a fim de minimizar o impacto 5 negativo do sistema. Essas medidas ficaram conhecidas como Estado de Bem-Estar Social e consistiam na garantia de direitos sociais e na criação de um conjunto de políticas públicas visando assegurar aos indivíduos uma vida digna (HOBSBAWM, 1995). Episódios como a Crise do Petróleo, na década de 1970, porém, levaram a certa retomada dos valores e princípios liberais no Ocidente. No Brasil, a partir da década de 1990, as políticas neoliberais engessaram ou enterraram boa parte do conteúdo previsto na Constituição por meio de privatizações em massa de empresas estatais, desindustrialização e desregulamentação do mercado externo. Junto com a crescente despolitização das relações sociais e aprofundamento da exploração do trabalho, a ideia de que o acesso aos direitos sociais deve se dar pela via do mercado - e não por meio do Estado - passou a ser amplamente disseminada por meio de discursos como o do “empreendedorismo”. O neoliberalismo foi particularmente perverso no país, pois, devido ao passado colonial escravocrata e à industrialização tardia (entre outras razões), por aqui sequer houve um período de Bem-Estar Social anterior ao desmonte do Estado que pudesse ter deixado um legado de políticas e equipamentos sociais. Ao contrário, antes da Constituição de 1988 houve importantes conquistas na área trabalhista, mas a Política Nacional de Assistência Socialainda baseava-se na caridade, na filantropia: “(...) Sendo que tais práticas compreendiam ações paternalistas e/ou clientelistas do poder público, favores concedidos aos indivíduos, pressupondo que tais pessoas atendidas eram favorecidas e não cidadãs ou usuários de um serviço ao qual tinham direito. Portanto, a assistência confundia-se com a benesse, ou seja, ajuda aos pobres e necessitados, configurando-se mais como uma prática do que como uma política.”. (Histórico da Política de Assistência Social. Capítulo 2) Para piorar, o cenário econômico mundial de lá pra cá se tornou ainda mais grave do que no século XVIII, quando do surgimento do Liberalismo, uma vez que o sistema capitalista atingiu um novo estágio de desenvolvimento, chamado Capitalismo Fictício Especulativo, caracterizado pela globalização (sem fronteiras para o capital, não para as pessoas), pela robotização da produção e redução sem precedentes da absorção da mão de obra, além do capital fictício que se reproduz sem qualquer controle nas bolsas de valores sem que haja uma riqueza real correspondente, uma efetiva produção de bens com geração de empregos. 6 “Neste cenário de redefinição do papel do Estado, observa-se a transferência de uma considerável parcela de serviços sociais para a sociedade civil. Na verdade, está-se diante da desresponsabilização do Estado e do Capital com as respostas da “questão social”. Este deslocamento engendra o retorno de práticas tradicionais no que se refere ao trato das contradições sociais no verdadeiro processo de refilantropização da questão social, sob os pressupostos da ajuda moral próprias das práticas voluntaristas, sem contar a tendência de fragmentação dos direitos sociais.” (ALENCAR, p. 7) 2.2 A Regulação da Política de Assistência Social: documentos norteadores e proteções afiançadas Apesar da origem ligada à caridade, ao tecnicismo e ao clientelismo, a despeito dos 20 anos de autoritarismo da Ditadura Civil-Militar (1964-1984) e mesmo com o neoliberalismo dos anos 1990, o Serviço Social resistiu e evoluiu, construindo coletivamente uma trajetória de lutas e conquistas tanto no campo teórico e de profissionalização, quanto em relação à própria Política Nacional de Assistência Social no Brasil. Conforme já assinalado acima, a Constituição Federal de 1988 coloca a Assistência Social como direito do cidadão e dever do Estado, o que é regulamentado pela LOAS (Lei 8742) em 1993. Essa lei traz como objetivo da Assistência a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice, além da promoção da integração ao mercado de trabalho, garantindo condições mínimas de sobrevivência a quem se encontra em algum momento de vulnerabilidade da vida - como desemprego ou incapacitação para o trabalho. A LOAS determina que a proteção social deve ser garantida por meio de serviços, benefícios, programas e projetos. Os detalhes do funcionamento dessa estrutura aparecem em três principais instrumentos que surgem mais tarde: a Política Nacional de Assistência Social de 1998, e duas Normas Operacionais Básicas editadas em 1997 e 1998. Entretanto, os marcos regulatórios mais expressivos aparecem em 2004, com a provação da Política Nacional de Assistência Social – PNAS, e 2005, quando a Norma Operacional Básica (NOB/2005) institui o Sistema Único da Assistência Social — SUAS. A NOB/2005 definiu e normatizou conteúdos do pacto federativo, restabelecendo de forma unitária, hierarquizada e complementar as competências dos entes federados na gestão do financiamento e execução da Assistência Social. Seguindo a evolução normativa da política, destaca-se a relevância da 7 promulgação da Lei 12.435 de 2011, que alterou a LOAS, incluindo o SUAS, as unidades de referência, serviços e programas socioassistenciais na legislação nacional. Também introduziu novos dispositivos relacionados ao Benefício de Prestação Continuada — BPC e financiamento do sistema. (Princípios e Diretrizes da Assistência Social: da LOAS à NOB/SUAS. 2013, p. 48) É importante ressaltar que a Lei 12.435/2011 representa um importante passo na consolidação da Política de Assistência Social no país, uma vez que, com ela, o SUAS deixa de ser um projeto de governo para se tornar um projeto de Estado. 2.2.1 Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais No conjunto de documentos regulatórios da Assistência Social, destaca-se também a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, publicada como Resolução nº 109, em novembro de 2009. Esta normativa: “ (...) possibilitou a padronização em todo território nacional dos serviços de proteção social básica e especial, estabelecendo seus conteúdos essenciais, público a ser atendido, propósito de cada um deles e os resultados esperados para a garantia dos direitos socioassistenciais. Além das provisões, aquisições, condições e formas de acesso, unidades de referência para a sua realização, período de funcionamento, abrangência, a articulação em rede, o impacto esperado e suas regulamentações específicas e gerais.” (Cartilha ‘Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais’, 2015) A Tipificação organiza os serviços sociais por níveis de complexidade, descrevendo os serviços da Proteção Social Básica e da Proteção Social Especial: 8 A Proteção Social Básica age na prevenção de riscos sociais e pessoais por meio da oferta de programas, projetos, serviços e benefícios a indivíduos e famílias em situação de vulnerabilidade, ou seja, quando ainda não houve rompimento de vínculo. Já a Proteção Social Especial, de média e alta complexidade, é direcionada às famílias e indivíduos que já se encontram em situação de risco e que tiveram seus direitos violados por causa do abandono, maus tratos, abuso sexual, uso de drogas etc. 2.2.2 Proteção Social Especial para crianças e adolescentes Os serviços da Proteção Especial de Alta Complexidade destinados às crianças, adolescentes e jovens oferecem acolhimento institucional, seja em Abrigo, Casa Lar, programas de Família Acolhedora ou em Repúblicas (esta última exclusiva para jovens) e devem garantir “privacidade, o respeito aos costumes, às tradições e à diversidade de: ciclos de vida, arranjos familiares, raça/etnia, religião, gênero e orientação sexual.” (pg. 44). O atendimento precisa levar em conta as particularidades do usuário e ocorrer em pequenos grupos, assegurando autonomia e participação em ambientes acolhedores que lembrem uma casa. O acolhimento, provisório e excepcional, é disponibilizado também para crianças com suas respectivas famílias, mas principalmente àquelas em situação de risco pessoal e social quando os responsáveis, por alguma razão, não são capazes de cumprir seu dever de cuidar e proteger. As unidades têm que ficar o máximo possível próximas geograficamente do local de origem dessas crianças e assegurar que irmãos (ou outros tipos de relações de parentesco) permaneçam juntos até que retornem às famílias de origem ou sejam encaminhados a famílias substitutas. “O serviço de acolhimento institucional para crianças e adolescentes pode ser desenvolvido nas seguintes modalidades: 1. Atendimento em unidade residencial onde uma pessoa ou casal trabalha como educador/cuidador residente, prestando cuidados a um grupo de até 10 crianças e/ou adolescentes; 2. Atendimento em unidade institucional semelhante a uma residência, destinada ao atendimento de grupos de até 20 crianças e/ou adolescentes. Nessa unidade é indicado que os educadores/ cuidadores trabalhem em turnos fixos diários, a fim de garantir estabilidade das tarefas de rotina diárias, referência e previsibilidade no contato com as crianças e adolescentes.Poderá contar com espaço específico para acolhimento imediato e emergencial, com profissionais preparados para receber a criança/adolescente, em qualquer horário do dia ou da noite, enquanto se realiza um estudo diagnóstico detalhado de cada situação para os encaminhamentos necessários.” (pg 44). 9 Existe também a possibilidade de encaminhamento de crianças e adolescentes para programas de Família Acolhedora, principalmente quando a avaliação técnica indica grande possibilidade de retorno à família de origem. O atendimento aos jovens segue basicamente as mesmas normativas, mas deve prepará-los o quanto possível para a vida após o acolhimento institucional desenvolvendo autonomia e capacidades necessárias para gerir a própria vida cotidiana, preservando o vínculo com a família de origem sempre que não houver impedimento. Após completar a maioridade, especialmente entre 18 e 21 anos, o jovem pode ser atendido pelo Serviço de Acolhimento em Repúblicas, por tempo limitado. Neste caso, o objetivo é a qualificação e inserção profissional e a construção do projeto de vida. Os serviços de acolhimento devem sempre funcionar em articulação com a rede socioassistencial local, no âmbito do SUAS (Sistema Único de Assistência Social), do SUS (Sistema Único de Saúde), do Sistema Educacional e demais políticas públicas, além de órgãos do Sistema de Garantia de Direitos, tais como: Sistema de Justiça, Conselho Tutelar, Segurança Pública e Conselho de Direitos. Os serviços também não podem ferir os princípios e diretrizes do ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente - nem das “Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes”, além de outras legislações relacionadas à Proteção Social da infância, adolescência e juventude, como por exemplo a Nova Lei da Adoção. Normativas e políticas nacionais diretamente relacionadas ao tema: Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) – Lei nº 8.069/1990; Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do SUAS (NOB-RH/SUAS); Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais – Resolução nº 109/2009 do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS); “Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes”- Resolução Conjunta nº 1/2009, do CNAS e do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA); Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária; Plano Decenal dos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes; Diretrizes Internacionais para Cuidados Alternativos a crianças sem cuidados parentais. Orientações para a Elaboração para o Plano de Acolhimento da Rede de Serviços de Acolhimento para Crianças, Adolescentes e Jovens. 2014 10 2.2.3 Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (CF/1988). Conforme o artigo acima fica evidenciado que o ECA (Lei 8.069/1990) também é fruto da Constituição Cidadã de 1988, firmando a doutrina da Proteção Integral. Segundo o ECA, a criança e o adolescente, reconhecidos como sujeitos de direitos, devem ser prioridade absoluta do país em serviços, orçamento e políticas públicas. O Estatuto prevê uma série de direitos fundamentais a toda criança (0 a 12 anos) e a todo adolescente (12 a 18 anos), não apenas os que estiverem em situação irregular, sendo a responsabilidade pela garantia desses direitos compartilhada entre o Poder Público, a família e a sociedade. Ao romper com as antigas formas de enxergar a criança e o adolescente como “adultos em miniaturas” e a educação como punição, o ECA considera que essa é uma fase peculiar de desenvolvimento da pessoa humana, que se encontra em processo de formação física, emocional e intelectual. Por essa razão, crianças e adolescentes não podem responder pelo cumprimento das leis na mesma condição dos adultos. Em razão dessa concepção de infância e adolescência, em casos de conflito com a lei o ECA prevê medidas de proteção para a criança, como encaminhamento aos pais, matrícula na escola ou tratamento psicológico; e medidas socioeducativas para o adolescente, que apenas um juiz pode aplicar. São elas: Advertência (casos de atos infracionais menos graves); Obrigação de reparar o dano (se houver dano patrimonial e o adolescente tiver condições de reparar); Prestação de serviços à comunidade (máximo de seis meses, oito horas semanais); Liberdade assistida (nomeação de um orientador que vai acompanhar o adolescente por no mínimo seis meses); Inserção em semiliberdade (diretamente ou como progressão depois da internação); e Internação, que deve obedecer aos princípios da brevidade e da excepcionalidade e ser aplicada apenas em casos com violência ou grave ameaça à pessoa. 11 2.2.4 Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes Este documento, de 2009, tem como finalidade “regulamentar, no território nacional, a organização e oferta de Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes, no âmbito da política de Assistência Social”. (pg 12). Tais orientações são destinadas apenas aos serviços que acolhem crianças e adolescentes que se encontram sob medida protetiva (Art. 101, ECA), isto é, sem situação de abandono ou afastados do convívio familiar por decisão judicial. 2.2.5 Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes a Convivência Familiar e Comunitária O Plano, elaborado em 2006, representa a defesa do direito da criança e do adolescente à convivência familiar e comunitária e o rompimento com a cultura da institucionalização. Temas como a valorização da família e políticas de apoio sócio familiar, o reordenamento dos Abrigos e a implementação de programas de famílias acolhedoras, além da adoção centrada no interesse da criança e do adolescente nortearam as discussões para elaboração dos objetivos do documento. 2.2.6 Nova Lei da Adoção A burocratização dos processos de adoção no Brasil frequentemente é alvo de críticas por parte da população em geral, não somente dos interessados em adotar. Tais críticas são direcionadas principalmente à morosidade do Judiciário e ao nível de exigências a serem cumpridas pelos interessados em adotar. Em 2017 foi sancionada, portanto, uma nova lei com o objetivo de acelerar a adoção. Para isso, introduziu mudanças no ECA, no Código Civil e até na CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas). As novas regras do ECA sobre adoção dizem respeito a entrega voluntária, destituição do poder familiar, acolhimento, apadrinhamento e guarda. A alteração na CLT é relativa à extensão aos pais adotantes de garantias já concedidas atualmente aos pais biológicos. No Código Civil, a modificação é para acrescentar nova possibilidade de destituição do poder familiar. (A Nova Lei da Adoção, 2017) 12 Essa lei, no entanto, esbarra na própria (falta de) estrutura do Poder Judiciário ao impor prazos para o encerramento dos processos de adoção e divide a opinião dos especialistas, que temem o aumento de abusos e irregularidades, especialmente o afastamento indevido da família de origem (nuclear e extensa). 2.3 A prática profissional do Assistente Social nos Serviços de Acolhimento Institucionalpara crianças e adolescentes O acolhimento institucional de crianças, jovens e adolescentes precisa ser realizado em consonância com os princípios e diretrizes dos documentos citados neste trabalho, entre outros que seguem na mesma direção. A publicação “Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes”, especificamente, aborda metodologias e instrumentos utilizados nesses serviços, possibilitando ao profissional de Serviço Social uma prática ética e responsável, dentro dos padrões estabelecidos pela atual legislação. A publicação destaca alguns instrumentos importantes, como o estudo diagnóstico, fundamental para amparar a decisão de afastamento da criança ou adolescente do convívio com a família. Este estudo deve ser feito por uma equipe multidisciplinar articulando Assistência Social, Conselho Tutelar e Justiça da Infância e da Juventude. Uma escuta qualificada de cada pessoa envolvida no caso deve ser realizada como parte do processo de avaliação diagnóstica para auxiliar a identificar os riscos aos quais a criança ou adolescente possam estar sujeitos e se existem integrantes da família extensa capaz de se responsabilizar pelos seus cuidados. Em situações de acolhimento emergencial, o estudo diagnóstico deve ser realizado num período máximo de vinte dias. Assim que a criança ou adolescente chega ao serviço de acolhimento é realizado pela equipe técnica e pela supervisão ligada ao órgão gestor da Assistência Social um Plano de Atendimento Individual e Familiar, no qual devem constar “objetivos, estratégias e ações a serem desenvolvidos tendo em vista a superação dos motivos que levaram ao afastamento do convívio e o atendimento das necessidades específicas de cada situação.” (pg. 32). 13 O acompanhamento da situação familiar também é imprescindível desde o início do acolhimento. São técnicas utilizadas para esse acompanhamento: estudo de caso; entrevista individual e familiar; grupo com famílias; grupo multifamiliar; visita domiciliar; orientação individual, grupal e familiar; e encaminhamento e acompanhamento de integrantes da família à rede local. (p. 37-38). Vale lembrar que os diversos instrumentos disponíveis para o Assistente Social devem ser sempre utilizados dentro de uma atuação profissional ética, que promova articulação entre teoria e prática, investigação e intervenção, pesquisa e ação, ciência e técnica. 14 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do que foi exposto, evidenciam-se os importantes avanços obtidos desde a Constituição de 1988 para a Assistência Social e para a Proteção à Infância no Brasil. Os serviços devem ser focados no território, prestados por equipe multidisciplinar, articulada em rede, priorizando sempre o interesse da criança e adolescente, com acompanhamento familiar e objetivando o máximo possível a preservação dos vínculos familiares e comunitários, o sentimento de pertencimento, e a superação das situações geradoras de abandono, negligência e/ou violência: trata-se, sem dúvida, de uma construção coletiva, respaldada por estudos sérios e comprometida com a defesa intransigente dos direitos humanos. Obviamente, essa construção não está acabada, e existem inúmeras dificuldades práticas para a efetivação desses direitos, especialmente em relação às crianças, adolescentes e jovens. Continua necessário ir além, aprofundar os conhecimentos, aprimorar as práticas. Porém, levando em conta a jovem e frágil democracia brasileira, é preciso também lutar para evitar retrocessos. Desde a promulgação da Constituição Cidadã, ela nunca esteve tão ameaçada como no presente momento. Cabe aos profissionais do Serviço Social não titubear face às ameaças de desmonte de toda a estrutura material e não material conquistada, honrando diariamente o Código de Ética da profissão e mantendo-se sempre alertas à conjuntura política e econômica estadual e nacional. 15 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALENCAR, de Torres Maria Mônica. O trabalho do assistente social nas organizações privadas não lucrativas. Disponível em: http://www.cressrn.org.br/files/arquivos/4UkPUxY8i39jY49rWvNM.pdf A NOVA LEI DA ADOÇÃO. 2017. Disponível em: http://genjuridico.com.br/2017/11/23/nova-lei-da-adocao/ BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome. Política Nacional de Assistência Social – PNAS, Brasília- DF, 2004. Disponível em: http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Normativas/PNAS200 4.pdf ______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome. Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, Brasília – DF, 1993. Disponível em: https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Normativas/LoasAn otada.pdf ______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome. Orientações para a Elaboração para o Plano de Acolhimento da Rede de Serviços de Acolhimento para Crianças, Adolescentes e Jovens – DF, 2014. Disponível em: http://www.neca.org.br/images/plano_de_acolhimento.pdf ______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome. Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes. Brasília, 2009. Disponível em: http://www.mds.gov.br/cnas/noticias/orientacoes_tecnicas_final.pdf ______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome. Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes a Convivência Familiar e Comunitária. Brasília, 2006. Disponível em: https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/Plano_De fesa_CriancasAdolescentes%20.pdf ______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome. Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais. Brasília – DF, 2013. Disponível em: http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Normativas/tipificaca o.pdf ______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome. CapacitaSUAS volume 3: 2008. Disponível em: https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/CapacitaS UAS_Caderno_3.pdf 16 ______. Constituição Federal de 1988 – Seguridade Social – Art. 194, alterado pela Emenda Constitucional nº 20 de 1998. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm ______. Estatuto da Criança e do Adolescente, Câmara dos Deputados, Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. DOU de 16/07/1990 – ECA. Brasília, DF. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm CARTILHA ‘TIPIFICAÇÃO NACIONAL DE SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS’. Reportagem publicada em 06.01.2015 em: http://radardaprimeirainfancia.org.br/cartilha- tipificacao-nacional-de-servicos-socioassistenciais/ HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. HISTÓRICO DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL: uma construção lenta e desafiante, do âmbito das benesses ao campo dos direitos sociais. Disponível em: http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2013/JornadaEixo2013/anais-eixo8- direitosepoliticaspublicas/pdf/historicodapoliticadeassistenciasocial.pdf PRINCÍPIOS E DIRETRIZES DA ASSISTÊNCIA SOCIAL: DA LOAS À NOB SUAS. Publicado em: Social em Questão. Ano XVII, nº 30 - 2013. Disponível em: http://osocialemquestao.ser.puc-rio.br/media/OSQ_30_Quinonero_3.pdf 17 sumário CARTILHA ‘TIPIFICAÇÃO NACIONAL DE SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS’. Reportagem publicada em 06.01.2015 em: http://radardaprimeirainfancia.org.br/cartilha-tipificacao-nacional-de-servicos-socioassistenciais/
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