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Art.+155+ +Furto

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Dos Crimes Contra a Pessoa e o Patrimônio
Crimes Contra o Patrimônio
Furto
Prof. Anderson Rodrigues da Silva
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Introdução.
Proteção constitucional: Preceitua o art. 5.º, caput, da Constituição Federal que todos são iguais perante a lei, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à propriedade, considerado, pois, um dos direitos humanos fundamentais. 
Por isso, o Código Penal tutela e protege o direito de propriedade especificamente neste Título II. 
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Introdução.
Conceito de furto: Significa apoderar-se ou assenhorear-se de coisa pertencente a outrem, ou seja, tornar-se senhor ou dono daquilo que, juridicamente, não lhe pertence. 
Obs: O nomen juris do crime, por si só, dá uma bem definida noção do que vem a ser a conduta descrita no tipo penal.
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Furto.
Subtrair: É tirar, fazer desaparecer ou retirar e, somente em última análise, furtar (apoderar-se).
É verdade que o verbo “furtar” tem um alcance mais amplo do que “subtrair”, e justamente por isso o tipo penal preferiu identificar o crime como sendo furto e a conduta que o concretiza como subtrair, seguida, é lógico, de outros importantes elementos descritivos e normativos.
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Furto.
Assim, o simples fato de alguém tirar coisa pertencente a outra pessoa não quer dizer, automaticamente, ter havido um furto, já que se exige, ainda, o ânimo fundamental, componente da conduta de furtar, que é assenhorear-se do que não lhe pertence.
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Furto.
Sujeitos ativo e passivo: Qualquer pessoa.
Detentor da coisa: Se não é proprietário nem possuidor, não pode figurar como sujeito passivo de crime patrimonial, pois a detenção não possui valor econômico. Ex: o funcionário da empresa, ao levar o dinheiro ao banco para efetuar um pagamento referente ao empregador, caso tenha a quantia subtraída, o sujeito passivo é a empresa. 
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Furto.
Ladrão que subtrai coisa já furtada de outro ladrão: Há crime de furto, embora a vítima seja o legítimo dono ou possuidor do objeto. 
Portanto, inexiste impunidade, uma vez que o primeiro ladrão, bem como o segundo respondem por furto, tendo por sujeito passivo o proprietário da coisa. 
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Furto.
Consumação do furto: Trata-se de tema polêmico e de difícil visualização na prática.
Há, basicamente, quatro teorias para fundamentar a consumação do furto:
a) o furto se consuma apenas com o toque na coisa móvel alheia para apoderar-se dela (teoria do contato);
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Furto.
b) concretiza-se no momento da remoção ou mudança de lugar, vale dizer, o furto se consuma apenas quando a coisa é removida do local onde fora colocada pelo proprietário; 
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Furto.
c) distingue a remoção em dois momentos: a apreensão (aprehensio) e o traslado de um lugar a outro (amotio de loco in locum); para a consumação, requer-se que a coisa seja trasladada do lugar onde estava a outro local; somente assim se completa a subtração (ablatio).
Obs: Há de sair da esfera de vigilância do dono;
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Furto.
d) o furto se consuma quando a coisa é transportada pelo agente ao lugar por ele pretendido (eo loco quo destinaverat) para colocá-la a salvo (Laje Ros, La interpretación penal en el hurto, el robo y la extorsión, p. 207-208).  
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Furto.
Segundo nos parece, O furto está consumado tão logo a coisa subtraída saia da esfera de proteção e disponibilidade da vítima, ingressando na do agente.
Cuida-se da terceira teoria: Apreender e retirar da esfera de proteção da vítima. 
Não se demanda a posse mansa e pacífica, mas, repita-se, a retirada do bem da esfera de disponibilidade do ofendido.
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Furto.
É imprescindível, por tratar-se de crime material (aquele que se consuma com o resultado naturalístico), que o bem seja tomado do ofendido, estando, ainda que por breve tempo, em posse mansa e tranquila do agente. 
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Furto.
STF: “1. Para a consumação do furto, é suficiente que se efetive a inversão da posse, ainda que a coisa subtraída venha a ser retomada em momento imediatamente posterior. Jurisprudência consolidada do Supremo Tribunal Federal. 2. Ordem denegada” (HC 114329-RS, 1.aT., rel. Roberto Barroso, 01.10.2013, m.v.).
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Furto.
TJSP: “(...) O crime se consumou, eis que o acusado logrou sair da residência levando a bicicleta, dois estojos porta CDs e a frente descartável do toca CDs, de modo que houve a inversão da posse das rei furtivae, que indubitavelmente deixaram a esfera de vigilância da vítima, tendo sido o agente encontrado já a alguns quarteirões de distância do local dos fatos, agindo como se fosse dono dos bens furtados.
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Furto.
Além disso, o simples fato de os objetos terem sido recuperados não autoriza, por si só, o reconhecimento da figura tentada, pois não afasta a diminuição, por mais que passageira, havida no patrimônio do ofendido e, portanto, a efetiva lesão do bem jurídico tutelado” (Ap. 990.08.049100-8, 16.a C., rel. Almeida Toledo, 11.01.2011, v.u.).
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Furto.
TJMG: “O delito de furto se consuma quando o agente tem a posse mais ou menos tranquila da coisa, ainda que por breve momento, fora da esfera de vigilância da vítima, sendo desnecessária a posse tranquila da res subtraída” (Ap. Crim. 1.0024.13.379224-2/001-MG, 6.a C. Crim., rel. Rubens Gabriel Soares, 02.06.2015);. 
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Furto.
TJSC: “O Código Penal brasileiro adotou a teoria da aprehensio ou amotio, segundo a qual a configuração do crime de furto ocorre com a inversão da posse da res, de modo que seja assegurado ao agente o domínio pacífico do bem subtraído, ainda que de forma efêmera” (2014.077809-6-Santo Amaro da Imperatriz, 1.a C. Crim., rel. Carlos Alberto Civinski, 19.05.2015, v.u.).
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Furto.
TJAC: “O momento consumativo no crime de furto ocorre quando o bem é retirado da esfera de disponibilidade do seu proprietário e passa para a posse do criminoso, ainda que tal não se dê de forma tranquila e seja por breve espaço de tempo” (Ap. 0000616-81.2013.8.01.0012-AC, C. Crim., rel. Samoel Evangelista, 14.05.2015, v.u.). 
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Furto.
TJAM: “I – Ainda que o apelado tenha mantido em sua posse a res furtiva por um curto período, deve ser condenado pelo delito de furto consumado, uma vez que no referido lapso temporal as mercadorias saíram da esfera de posse da vítima e foram para a do agente de forma efetiva; II – Reconhecida a consumação do delito, inaplicável a redução de pena do art. 14, II, do Código Penal; III – Diante da confirmação da prática de delito consumado, foi reestruturada a pena (...)
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Furto.
(...) privativa de liberdade aplicada ao apelado; IV – Apelação conhecida e provida” (Ap. 0209766-54.2013.8.04.0001-AM, 2.a C. Crim., rel. Encarnação das Graças Sampaio Salgado, 03.09.2015, v.u.). 
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Furto.
TJGO: “Para a consumação do furto é necessário que o agente detenha a posse da res fora da esfera de vigilância da vítima. Há furto tentado, e não consumado, se embora o agente tenha retirado determinados bens de dentro do veículo arrombado, sequer saiu com a res furtivado local dos fatos, diante da chegada da polícia no momento consumativo” (Ap. Crim. 103229-22.2014.8.09.0175-GO, 1.a C. Crim., rel. Itaney Francisco Campos, 28.04.2015, v.u.). 
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Furto.
Atenção: Há vários julgados considerando consumado o furto desde que haja a simples tomada da coisa das mãos da vítima, independentemente de sair da sua esfera de vigilância. 
Essas decisões, na essência, têm adotado a primeira teoria (basta tocar a coisa), embora se diga que esse “toque” constitua “posse”.
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Furto.
Outras afirmam que é preciso tomar a coisa da vítima, mesmo que por alguns momentos. 
Contudo, tomando-se por base os julgados do STF, verifica-se a tendência de haver inversão de posse, ainda que por pouco tempo.  
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Furto.
STF: “A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal dispensa, para a consumação do furto ou do roubo,o critério da saída da coisa da chamada ‘esfera de vigilância da vítima’ e se contenta com a verificação de que, cessada a clandestinidade ou a violência, o agente tenha tido a posse da res furtiva, ainda que retomada, em seguida, pela perseguição imediata” (HC 108.678-RS, 1.a T., rel. Rosa Weber, 17.04.2012, m.v.). 
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Furto.
STJ: “A Terceira Seção desta Corte, ao apreciar o Recurso Especial Representativo de Controvérsia n.º 1.524.450/RJ, firmou o entendimento no sentido de que se consuma o crime de furto com a posse de fato da res furtiva, ainda que por breve espaço de tempo e seguida de perseguição ao agente, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada” (AgRg no REsp 1483770-RS, 6.a T., rel. Nefi Cordeiro, 04.02.2016, DJe 16.02.2016);. 
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Furto.
“Esta Corte e o Supremo Tribunal, para balizar o debate sobre a consumação do crime de furto, adotam a teoria da apprehensio, também denominada de amotio, segundo a qual se considera consumado o delito no momento em que o agente obtém a posse da res furtiva, ainda que não seja mansa e pacífica e/ou haja perseguição policial, sendo prescindível que o objeto do crime saia da esfera de vigilância da vítima” (AgRg no REsp 1.300.954-RS, 5.a T., rel. Laurita Vaz, 15.05.2012, v.u.). 
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Furto.
Atenção: Não são sinônimos a apprehensio e a amotio.
Na realidade, são fases sequenciais e constituem a terceira teoria.
Primeiro, o agente apreende (apprehensio) e depois transfere de um lugar a outro (amotio), dando-se ambas as fases, atinge-se a ablatio (subtração). 
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Furto.
Elemento subjetivo do tipo: É o dolo (vontade do agente de subtrair coisa alheia móvel), contudo, reclama-se o elemento subjetivo do tipo específico, que é a vontade de apossamento do que não lhe pertence, consubstanciada na expressão “para si ou para outrem”. 
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Furto.
Essa intenção espelha um desejo do agente de apoderar-se, definitivamente, da coisa alheia. 
É o que se chama tradicionalmente de dolo específico. 
Não existe a forma culposa. 
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Furto.
Conceito de coisa: É tudo aquilo que existe, podendo tratar-se de objetos inanimados ou de semoventes. 
No contexto dos delitos contra o patrimônio (conjunto de bens suscetíveis de apreciação econômica), cremos ser imprescindível que a coisa tenha, para seu dono ou possuidor, algum valor econômico.
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Furto.
Furto de coisa puramente de estimação: Entendemos não ser objeto material do crime de furto, pois é objeto sem qualquer valor econômico.
Não se pode conceber seja passível de subtração, penalmente punível, por exemplo, uma caixa de fósforos vazia, desgastada, que a vítima possui somente porque lhe foi dada por uma namorada, no passado, símbolo de um amor antigo.
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Furto.
Caso seja subtraída por alguém, cremos que a dor moral causada no ofendido deve ser resolvida na esfera civil, mas jamais na penal, que não se presta a esse tipo de reparação.
Há posição em sentido contrário:
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Furto.
TJPR: “Pode haver concurso de crimes entre a violação de sepultura e furto, desde que o objeto material do furto não seja o cadáver ou de próteses do cadáver. A lei não exige que a coisa furtada tenha valor comercial ou de troca, bastando que seja bem patrimonial, isto é, que represente alguma utilidade para quem detenha a posse, ou até mesmo um significado ditado pelo valor afetivo” (Ap. Crim. 225248-0-PR, 1.a C. Crim., rel. Cunha Ribas, 15.05.2003, v.u.). 
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Furto.
Furto de cadáver: Pode ser objeto material do crime de furto caso tenha valor econômico e esteja na posse legítima de alguém (ex.: subtrair o corpo pertencente a um museu, que o exibe por motivos científicos ou didáticos).
Não sendo este o caso, a subtração do cadáver pode constituir crime contra o respeito aos mortos (art. 211, CP).
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Furto.
“Os mortos são coisas, e são suscetíveis de ser levados de um lugar a outro. No entanto, não podem ser objeto de furto porque não são coisas alheias, e por isso não pertencem como coisas próprias a pessoa alguma. Não obstante, quem se apodera do corpo de um animal morto, em posse de outrem, comete furto, porque é uma coisa alheia” (LAJE ROS, La interpretación penal en el hurto, el robo y la extorsión, p. 115).
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Furto.
TJSP: “O cadáver – salvo quando perde sua individualidade, o que se dá, por exemplo, se constituir patrimônio de algum instituto científico, passando a ter valor econômico e a ser coisa alheia – é coisa fora do comércio e sua proteção é erigida em razão de princípios éticos, religiosos, sanitários e de ordem pública impostos pelo direito positivo” (1.a C., 18.05.1987, rel. Marino Falcão, RT 619/291, acórdão antigo, mas mantido para ilustrar, em face da raridade de realização do crime). 
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Furto.
Furto de coisas abandonadas (res derelicta) não pertencentes a ninguém (res nullius) ou perdidas (res deperdita): As duas primeiras situações não podem ser objeto do crime de furto, uma vez que não integram o patrimônio de outrem; a terceira hipótese também não se encaixa como objeto de furto, pois há tipo específico para tal caso, cuidando-se de apropriação indébita (art. 169, parágrafo único, II, CP).
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Furto.
Na jurisprudência: TJMA: “Coisa abandonada (res derelicta) é aquela que não pertence a ninguém, não podendo ser objeto de furto por não integrar o patrimônio de outrem. Se o objeto do crime é de propriedade conhecida, estando apenas em local desabitado, seu apoderamento implica conduta ilícita” (Ap. 0118342013-MA, 2.a C. Crim., rel. José Bernardo Silva Rodrigues, 30.01.2014, v.u.).
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Furto.
Furto de coisas de ínfimo valor e princípio da insignificância: Em tese, as coisas de pequeno valor podem ser objetos do crime de furto, embora se deva agir com cautela nesse contexto, em face do princípio da insignificância (crimes de bagatela).
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Furto.
O Direito Penal não se ocupa de insignificâncias (aquilo que a própria sociedade concebe ser de somenos importância), deixando de se considerar fato típico a subtração de pequeninas coisas de valor nitidamente irrelevante.
Ex.: O sujeito que leva, sem autorização, do banco, onde vai sacar uma determinada quantia em dinheiro, o clipe que está sobre o guichê do caixa, embora não lhe pertença.
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Furto.
Não se deve exagerar, no entanto, na aplicação do princípio da bagatela, pois o que é irrelevante para uns pode ser extremamente importante para outros.
Ex.: Subtrair uma galinha, de quem só possui um galinheiro com quatro, representa um valor significativo, que necessitará ser recomposto.
Por outro lado, subtrair um pintinho de uma granja imensa, com milhares de aves, pode ser insignificante, sem qualquer afetação ao patrimônio.  
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Furto.
STF: “Habeas corpus. Direito penal. Furto qualificado. Ínfimo valor da res furtiva. Rompimento de obstáculo. Princípio da insignificância. Inaplicabilidade. 1. A pertinência do princípio da insignificância deve ser avaliada, em casos de pequenos furtos, considerando não só o valor do bem subtraído, mas igualmente outros aspectos relevantes da conduta imputada. 2. Não tem pertinência o princípio da insignificância em crime de furto qualificado cometido mediante rompimento de obstáculo. Precedentes.
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Furto.
3. Ordem denegada” (HC 121760-MT, 1.a T., rel. Rosa Weber, 14.10.2014, v.u.);.
“Habeas corpus. 2. Tentativa de furto qualificado com emprego de chave falsa (rádio CD player automotivo, avaliado em cento e noventa e nove reais). Absolvição sumária. Reforma da decisão pelo TJMG. 3. Pedido de aplicação do princípio da insignificância. 4. Ausência de um dos vetores considerados na aplicação do princípio da bagatela:
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Furto.
 o reduzido grau de reprovabilidade da conduta. 5. Reiteração delitiva. Precedentes no sentido de afastar o princípio da insignificância a acusados reincidentes ou de habitualidade delitiva comprovada. 6. Ordem denegada” (HC 122529-MG, 2.a T., rel. Gilmar Mendes,02.09.2014, v.u.); 
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Furto.
Furto de talão de cheques: Pode ser objeto do crime de furto, visto possuir nítido valor econômico, tanto para quem subtrai, que o vende a estelionatários, quanto para a vítima, que é obrigada a sustar os cheques, retirar outro talão, pagando ao estabelecimento bancário taxas elevadas e sofrendo prejuízo material.
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Furto.
Furto de uso: Não se trata de crime, uma vez existir a necessidade do ânimo de assenhoreamento. 
Se o agente retirar a coisa da posse da vítima apenas para usar por pouco tempo, devolvendo-a intacta, é de se considerar não ter havido crime.
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Furto.
Importante: É indispensável para a caracterização do furto de uso, a devolução da coisa no estado original, sem perda ou destruição do todo ou de parte. 
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Furto.
Requisitos:
1º) demonstrativos da total ausência do ânimo de assenhoreamento:
2º) rápida devolução da coisa;
3º) restituição integral e sem qualquer dano do objeto subtraído;
4º) devolução antes que a vítima perceba a subtração, dando falta do bem.
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Furto.
TJSP: “não há falar-se em furto de uso, pois os apelantes chegaram a se deslocar com o veículo até outro Estado, vindo o mesmo a ser localizado apenas três dias após a subtração. A vítima sofreu prejuízo, tanto que foram subtraídas algumas peças do veículo, inclusive o motor, o que não se coaduna com a tese do furto de uso” (Ap. 0000994-55.2009.8.26.0279, 2.a C., rel. Antonio Luiz Pires Neto, 16.12.2013, v.u.).
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Furto.
TJRS: “Nenhuma prova veio aos autos de que o réu necessitou fazer uso do veículo da vítima para levar sua mãe ao médico. Para configuração do furto de uso é necessário que o agente tenha a intenção exclusiva de usar o bem por um curtíssimo período de tempo e de devolvê-lo ao seu proprietário logo após o uso, de livre e espontânea vontade, o que não é o caso dos autos. Não comprovadas as circunstâncias caracterizadoras do estado de necessidade, conforme art. 24 do CP” (Ap. Crim. 70059853374-RS, 7.a C. Crim., rel. Carlos Alberto Etcheverry, 20.08.2015, v.u.);. 
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Furto.
Furto em túmulos e sepulturas: Cremos haver, como regra, apenas o crime de violação de sepultura (art. 210, CP) ou, conforme o caso, destruição, subtração ou ocultação de cadáver (art. 211, CP), pois os objetos materiais que estão dentro da cova não pertencem a ninguém. Foram ali abandonados pela família. 
Entretanto, se o agente subtrai adornos ou bens que guarnecem o próprio túmulo, como castiçais ou estátuas de bronze, naturalmente há furto.
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Furto.
Furto sob vigilância: Se um indivíduo é vigiado num supermercado o tempo todo por seguranças e câmeras internas, de modo a tornar, naquela situação concreta, impossível a consumação do delito de furto, trata-se da hipótese do art. 17. 
Mas se a vigilância for falha ou incompleta, cremos ser cabível falar em tentativa. O mesmo se diga de uma tentativa de furto de quem não possui bens economicamente viáveis.
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Furto.
A questão da trombada: Cremos não se tratar de furto, e sim de roubo. 
A violência utilizada na trombada, por menor que seja, é voltada contra a pessoa para arrancar-lhe a bolsa, a corrente, o relógio ou qualquer outro bem que possua, de forma que configurada está a figura do art. 157.
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Furto.
Dizer que o ato violento tem por objetivo apenas a coisa é desconhecer o significado da “trombada”, que inexoravelmente provoca o toque físico ao corpo da vítima, com uso da força bruta. 
O furto deve prescindir de todo e qualquer tipo de violência contra a pessoa, não havendo lesão à integridade física do ofendido.
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Furto.
Pode-se falar em furto – mas, nesse caso, não acreditamos tratar-se de “trombada” – quando o agente ludibria a vítima, retirando-lhe o bem que possui.
Ex.: Fingindo limpar o líquido que propositadamente derrubou na roupa do ofendido, o autor toma-lhe a carteira. Há toque físico no corpo da vítima, embora esta conduta seja típica do furto, porque não houve violência contra a pessoa. 
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Furto.
Furto de cartão de crédito e bancário: A simples subtração do cartão de plástico pode ser considerada crime de bagatela, ou seja, fato atípico. 
O cartão não tem valor algum e a administradora ou o estabelecimento bancário, comunicado o furto, repõe o mesmo ao cliente sem nenhum custo, como regra.
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Furto.
Por isso, a situação é diversa daquela que apresenta o talão de cheques.
 Neste caso, há a necessária e custosa sustação das folhas e o reenvio de outro, muitas vezes cobrado. 
Se o agente do furto utilizar o cartão para fazer saques ou comprar algum produto em lugar do titular da conta, configura-se o estelionato. 
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Furto.
Furto de imagem: A coisa, objeto do delito, deve ser palpável, não podendo tratar-se de uma imagem, como a captada por meio de uma foto ou filme. 
Se uma pessoa invade um lugar para fotografar ou filmar alguma coisa, pode responder por violação de domicílio e até violação de direito autoral, no tocante ao uso da imagem, mas não por furto.
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Furto.
“O furto deve ser furto de coisa, ou recair em uma coisa; a coisa mesma deve ser subtraída. É por isso que não comete furto o fotógrafo do Santo Sudário que, em 1898, em Turim, porque se limitou tão somente a fotografá-lo” (LAJE ROS, La interpretación penal en el hurto, el robo y la extorsión, p. 100). 
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Furto.
Furto famélico: Pode, em tese, constituir estado de necessidade. 
É a hipótese de se subtrair alimento para saciar a fome.
O art. 24 do Código Penal estabelece ser possível o perecimento de um direito (patrimônio) para salvaguardar outro de maior valor (vida, integridade física ou saúde humana), desde que o sacrifício seja indispensável e inevitável.
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Furto.
Atualmente, não é qualquer situação que pode configurar o furto famélico, tendo em vista o estado de pobreza que prevalece em muitas regiões de nosso país.
Fosse ele admitido sempre e jamais se teria proteção segura ao patrimônio. 
Portanto, reserva-se tal hipótese a casos excepcionais, como, por exemplo, a mãe que, tendo o filho pequeno adoentado, (...)
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Furto.
subtrai um litro de leite ou um remédio, visto não ter condições materiais para adquirir o bem desejado e imprescindível para o momento.
Na jurisprudência: “Admite-se o furto famélico àqueles que, vivendo em condições de maior indigência, subtraíram objetos, aptos a satisfazer privação inadiável, na qual padeciam tanto eles como seus familiares e dependentes.
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Furto.
Ninguém furta gêneros alimentícios para acrescentá-los a seu patrimônio; fá-lo, tão somente, para saciar a fome e atender suas vicissitudes imediatas, pois que apenas a isso se prestam mercadorias de tal natureza” (TJPB, Ap. 99.004701-5, C. Crim., rel. Júlio Aurélio Moreira Coutinho, 16.11.1999, v.u., RT 773/647, julgado antigo, mas mantido para ilustrar a situação).
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Furto.
Elemento normativo do tipo: Alheia é toda coisa que pertence a outrem, seja a posse ou a propriedade.
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Furto.
Conceito de móvel: É a coisa que se desloca de um lugar para outro.
Trata-se do sentido real, e não jurídico. 
Assim, ainda que determinados bens possam ser considerados imóveis pelo direito civil, como é o caso dos materiais provisoriamente separados de um prédio (art. 81, II, CC: “Não perdem o caráter de imóveis: (...)
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Furto.
II – os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se reempregarem”), para o Direito Penal são considerados móveis, portanto suscetíveis de serem objeto do delito de furto.
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Furto.
No mesmo sentido: “ainda que o Código Civil considere que as coisas móveis postas intencionalmente pelo proprietário, como acessórias de um imóvel, devem ser consideradas como tais, quem se apodera delas não comete usurpação de imóvel, mas furto” (LAJE ROS, La interpretación penal en el hurto, el robo y la extorsión, p. 111).
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Furto.
Objeto material: É a coisa sujeita à subtração, que sofre a conduta criminosa
Objeto jurídico: É o patrimônio do indivíduo, que pode ser constituído de coisas de sua propriedade ou posse, desde que legítimas. 
A mera detenção, em nosso entender, não é protegida pelo Direito Penal, pois não integra o patrimônio da vítima. 
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Furto.
Causa específica de aumento de pena: Trata-se do furto cometido durante o repouso noturno – ou simplesmente furto noturno. 
A jurisprudência majoritária tem entendido que essa causa de aumento deve ser aplicada somente ao furto simples, isto é, à figura prevista no caput, tendo em vista a sua posição sistemática na construção do tipo penal.
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Furto.
A pena do furto qualificado, já aumentada nas suas balizas mínima e máxima, não seria por este aumento afetada.
Obs: Há entendimento divergente em razão do modelo trifásico eleito pelo legislador brasileiro acerca da dosimetria da sanção penal.
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Furto.
Repouso noturno: Entende-se por repouso noturno, a fim de dar segurança à interpretação do tipo penal, uma vez que as pessoas podem dar início ao repouso noturno em variados horários, mormente em grandes cidades, o período que medeia entre o início da noite, com o pôr do sol, e o surgimento do dia, com o alvorecer.
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Furto.
A vigilância tende a ser naturalmente dificultada quando a luz do dia é substituída pelas luzes artificiais da urbe, de modo que o objetivo do legislador foi justamente agravar a pena daquele que se utiliza desse período para praticar o delito contra o patrimônio.
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Furto.
Ensina JORGE ALBERTO ROMEIRO que ocorreu na Índia a primeira anotação encontrada na lei penal acerca da circunstância agravante de furto praticado durante a noite:
“Se os ladrões, depois de haverem feito uma brecha num muro, cometem um roubo durante a noite, que o rei ordene a sua empalação em pontudo dardo, após a amputação das duas mãos” (parágrafo 276 do Código de Manu).
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Furto.
Continua o mestre dizendo que Moisés já definia o período noturno “como o espaço de tempo que medeia entre o pôr e o nascer do sol” (A noite no direito e no processo penal, p. 181). 
Assim, no contexto desta causa de aumento, se a vítima dorme durante o dia – por ser vigilante noturno, por exemplo –, não incide a agravação da pena.
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Furto.
Por outro lado, é possível haver o aumento caso o furto seja cometido em zona rural (sítio ou fazenda), fora da casa-sede, desde que os moradores estejam repousando. 
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Furto.
Obs: Se um imóvel é invadido durante a noite, estando ou não habitado, com ou sem moradores no seu interior repousando, o furto merece pena mais severa.
 É a solução correta. 
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Furto.
STJ: “Para a incidência da causa especial de aumento prevista no § 1.º do art. 155 do Código Penal, é suficiente que a infração ocorra durante o repouso noturno, período de maior vulnerabilidade para as residências, lojas e veículos, sendo irrelevante o fato de que o crime tenha sido cometido em estabelecimento comercial que se encontrava fechado. Precedentes” (REsp 1.191.065-MG, 5.a T., rel. Gilson Dipp, 17.04.2012, v.u.).
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Furto.
Furto privilegiado: Prevista no § 2.º do artigo 155 do Código Penal, tem a natureza jurídica de causa obrigatória de diminuição da pena em limites variáveis entre um a dois terços e até mesmo a substituição da pena de reclusão pela de detenção e da pena privativa de liberdade pela de multa (aliás, nessa última hipótese, está-se diante de um autêntico privilégio, pois a pena em abstrato se altera completamente para menor).
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Furto.
A diferença entre a insignificância que gera a atipicidade da conduta, pois o bem subtraído possui ínfimo valor, incapaz de afetar o patrimônio da vítima, a figura do furto privilegiado permite a concretização do delito, embora com atenuação da pena. 
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Furto.
Pequeno valor: É o valor da coisa que não ultrapassa quantia equivalente ao salário mínimo. 
De fato, seria por demais ousado defender a tese de que um objeto cujo valor seja superior ao do salário mínimo – auferido por grande parte da população – possa ser considerado de “pequeno valor”. 
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Furto.
STJ: “Conforme o entendimento deste Superior Tribunal, se o valor da res subtraída não excede a importância correspondente ao salário mínimo vigente à época dos fatos e o agente é primário, mostra-se possível o reconhecimento do furto privilegiado” (AgRg no REsp 1447688-SP, 5.a T., rel. Jorge Mussi, 12.02.2015, v.u.);
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Furto.
STJ: “Afasta-se a incidência do furto privilegiado quando o valor dos bens subtraídos é muito superior ao salário mínimo” (AgRg no REsp 1.265.654-RS, 6.a T., rel. Sebastião Reis Júnior, 02.02.2012, v.u.). 
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Furto.
Aplicação do privilégio à figura qualificada: Há polêmica quanto à possibilidade de aplicação do privilégio às figuras qualificadas previstas no § 4.º, prevalecendo o entendimento acerca da possibilidade. 
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Furto.
STF: “Habeas corpus. Penal. Furto. Compatibilidade entre o privilégio e a qualificadora do crime de furto: possibilidade. Precedentes. Habeas corpus concedido. 1. As causas especiais de diminuição (privilégio) são compatíveis com as de aumento (qualificadora) de pena previstas, respectivamente, nos §§ 2.º e 4.º do artigo 155 do Código Penal. Precedentes. 2. Habeas corpus concedido” (HC 123934-MG, 2.a T., rel. Cármen Lúcia, 11.11.2014, v.u.). 
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Furto.
 Equiparação a coisa móvel: Energia é a qualidade de um sistema que realiza trabalhos de variadas ordens, como elétrica, química, radiativa, genética, mecânica, entre outras. 
Assim, quem faz uma ligação clandestina, evitando o medidor de energia elétrica, por exemplo, está praticando furto. Nessa hipótese, realiza-se o crime na forma permanente.
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Furto.
 
Furto de sinal de TV a cabo e internet: É válido para encaixar-se na figura típica, pois são formas de energia.
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Furto.
Conceito de qualificadora: Quando o tipo penal faz prever circunstâncias acrescentadas ao tipo básico, tornando-o mais grave.
O gravame é exposto na forma da alteração do mínimo e do máximo em abstrato das penas previstas para o delito. Assim, enquanto o furto simples (figura básica ou elementar) tem uma pena de reclusão de 1 a 4 anos e multa, o furto qualificado (contendo circunstâncias específicas) altera a pena para reclusão de 2 a 8 anos e multa.
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Furto.
Destruição: É a conduta que provoca o aniquilamento ou faz desaparecer alguma coisa.
Rompimento: É a conduta que estraga ou faz em pedaços alguma coisa.
Obs: O rompimento parcial da coisa é suficiente para configurar a qualificadora:
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Furto.
Obstáculo: É o embaraço, a barreira ou a armadilha montada para dificultar ou impedir o acesso a alguma coisa.
STF: “1. Consoante já decidiu esta Corte, ‘a destruição ou avaria de automóvel para a subtração de objeto que se encontra em seu interior faz incidir a qualificadora prevista no inciso I do § 4.º do art. 155 do Código Penal’ (HC 95.351-RS, rel. Min, Ricardo Lewandowski, 1.a T., unânime, DJe 07.11.2008).
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Furto.
Necessidade do exame de corpo de delito: Se o crime deixa vestígios, é indispensável o exame de corpo de delito (art. 158, CPP), não podendo supri-lo a prova testemunhal.
Desnecessidade do exame pericial: Há corrente sustentando a viabilidade de suprimento do laudo pericial, atestando o rompimento de obstáculo, por outros meios de prova, tais como o auto de constatação e testemunhas.
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Furto.
Destaque para o furto de água: Verifica-se em decisão proferida pelo STJ que o furto de água não pode ser considerado insignificante, diante da crise hídrica pela qual atravessa o país. 
Além disso, o pagamento da quantia devida não afasta o crime.
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Furto.
Abuso de confiança: Confiança é um sentimento interior de segurança em algo ou alguém, portanto,implica credibilidade. 
O abuso é sempre um excesso, um exagero em regra condenável.
Portanto, aquele que viola a confiança, traindo-a, está abusando.
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Furto.
A qualificadora que diz respeito ao abuso de confiança pressupõe a existência prévia de credibilidade, rompida por aquele que violou o sentimento de segurança anteriormente estabelecido.
Ex.: uma empregada doméstica que há anos goza da mais absoluta confiança dos patrões, que lhe entregam a chave da casa e várias outras atividades pessoais (como o pagamento de contas), caso pratique um furto, incidirá na figura qualificada.
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Furto.
Por outro lado, a empregada doméstica recém-contratada, sem gozar da confiança plena dos patrões, cometendo furto incide na figura simples. 
Note-se que a simples relação de emprego entre funcionário e empregador não faz nascer a confiança entre as partes, que é um sentimento cultivado com o passar do tempo. 
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Furto.
Fraude: É uma manobra enganosa destinada a iludir alguém, configurando, também, uma forma de ludibriar a confiança que se estabelece naturalmente nas relações humanas.
 Assim, o agente que criar uma situação especial, voltada a gerar na vítima um engano, tendo por objetivo praticar uma subtração de coisa alheia móvel, incide da figura qualificada.
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Furto.
Ex.: o funcionário de uma companhia aérea que, no aeroporto, a pretexto de prestar auxílio a um turista desorientado, prometendo tomar conta da bagagem da vítima, enquanto esta é enviada a outro balcão de informações, subtrai bens contidos nas malas incide na figura qualificada. 
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Furto.
Furto com fraude versus estelionato: Eis polêmica estabelecida no caso concreto, provocando variadas posições na jurisprudência. 
O cerne da questão diz respeito ao modo de atuação da vítima, diante do engodo programado pelo agente.
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Furto.
Se o autor consegue convencer o ofendido, fazendo-o incidir em erro, a entregar, voluntariamente, o que lhe pertence, trata-se de estelionato.
Se o autor, em razão do quadro enganoso, ludibria a vigilância da vítima, retirando-lhe o bem, trata-se de furto com fraude. 
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Furto.
Escalada: É a subida de alguém a algum lugar, valendo-se de escada.
Portanto, torna-se fundamental que o sujeito suba a algum ponto mais alto do que o seu caminho natural, ou seja, é o ingresso anormal de alguém em algum lugar, implicando acesso por aclive.
Ex.: subir no telhado para, removendo telhas, invadir uma casa.
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Furto.
Destreza: É a agilidade ímpar dos movimentos de alguém, configurando uma especial habilidade. 
O batedor de carteira (figura praticamente extinta diante da ousadia dos criminosos atuais) era o melhor exemplo. 
Por conta da agilidade de suas mãos, conseguia retirar a carteira de alguém, sem que a vítima percebesse.
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Furto.
Chave falsa ou Gazua: É o instrumento destinado a abrir fechaduras ou fazer funcionar aparelhos.
Obs: A mixa – ferro curvo destinado a abrir fechaduras –, segundo nos parece, pode configurar a qualificadora. 
Afinal, deve-se notar que se a chave é falsa não há de possuir o mesmo aspecto ou a mesma forma da chave original. 
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Furto.
Concurso de duas ou mais pessoas: Quando mais de um agente se reúnem para a prática do crime de furto é natural que se torne mais acessível a concretização do delito.
Por isso, configura-se a qualificadora. 
Obs: O apoio pode ser prestado, como coautor ou partícipe. 
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Furto.
Semoventes: São os animais (coisas para o furto) suscetíveis de movimento próprio – art. 82 do Código Civil de 2002.
Domesticáveis: Apto a se tornar caseiro, manso, domado, como são os cães há milênios.
De produção: Algo decorrente do trabalho humano, com ou sem instrumentos específicos, para atingir larga escala de produtos, com o fim de comércio e lucro).
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Boa noite!!!

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