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Iodetos na Prática Clínica

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Iodetos
Na prática clínica, são utilizados dois tipos distintos de iodeto. Ambos tiram proveito da captação seletiva e da concentração de iodeto pela glândula tireoide em níveis muito maiores que os do sangue.
O primeiro agente, 131I–, é um isótopo radioativo do iodeto que emite intensamente partículas beta tóxicas para as células. O canal de Na+/I– expresso nas membranas das células foliculares da tireoide é incapaz de diferenciar o 131I– do iodeto estável normal (127I–). Por conseguinte, o 131I– é sequestrado no interior da glândula tireoide. Isso o torna uma forma de terapia específicae efetiva para o hipertireoidismo. O iodeto radioativo intracelular concentrado continua emitindo partículas beta, provocando destruição local e seletiva da glândula tireoide. Ele é utilizado no tratamento de tireotoxicose e constitui alternativa para a cirurgia no tratamento do hipertireoidismo. Existe a preocupação de que o paciente possa eventualmente desenvolver hipotireoidismo após tratamento com iodeto radioativo, visto que é difícil estabelecer, de modo individual, até que ponto o 131I– radioativo destruirá todas ou a maioria das células foliculares da tireoide. A meta é administrar suficiente 131I– para produzir um estado eutireóideo, sem precipitar hipotireoidismo. Esse resultado desejado nem semprevé obtido; por exemplo, a paciente desenvolveu hipotireoidismo após tratamento com 131I–. De qualquer modo, é mais fácil tratar clinicamente o desenvolvimento de hipotireoidismo do que o hipertireoidismo. Com base em estudos epidemiológicos, é pouco provável que o iodeto radioativo em doses terapêuticas tenha qualquer efeito sobre a incidência de câncer da tireoide.
O segundo agente farmacológico clinicamente importante é, paradoxalmente, o iodeto inorgânico estável. Iodeto em altos níveis inibe síntese e liberação de hormônio tireoidiano, fenômeno conhecido como efeito de Wolff–Chaikoff. Este fenômeno é, provavelmente, mediado pela infrarregulação do simportador Na+/I– na glândula tireoide. O efeito de retroalimentação negativa das concentrações intratireóideas elevadas de iodeto é reversível e transitório; a síntese e a liberação de hormônio tireoidiano normalizam-se dentro de poucos dias após aumento da concentração plasmática de iodeto. Por conseguinte, o iodeto inorgânico não constitui útil terapia a longo prazo para hipertireoidismo. Todavia, esse fenômeno tem outras aplicações importantes.
Por exemplo, iodeto em altas doses diminui tamanho e vascularidade da glândula tireoide. Devido a esse efeito, é frequentemente administrado antes de uma cirurgia da glândula tireoide, possibilitando excisão tecnicamente mais fácil da glândula.
O iodeto também pode ter importantes efeitos preventivos. Quando ocorreu o acidente nuclear em Chernobyl, houve a preocupação de que a liberação de iodeto radioativo no ar sobre a Polônia pudesse causar destruição da glândula tireoide em nível populacional. Como medida preventiva, milhões de crianças polonesas receberam grandes doses de iodeto durante vários dias para suprimir temporariamente a função da glândula tireoide e, assim, evitar a captação do iodeto radioativo ambiental.
(GOLAN)
GOLAN, David (ed.). Princípios de Farmacologia - A Base Fisiopatológica da Farmacologia, 3ª edição. Guanabara Koogan, 02/2014. VitalBook file.

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