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Propriedade Intelectual 1 Propriedade Intelectual Professor Nilton Flores Propriedade Intelectual 2 Propriedade Intelectual 3 Propriedade Intelectual .......................................................................................... 5 Direito autoral ......................................................................................................... 5 Direitos Morais e Patrimoniais ................................................................................ 7 Direitos Conexos ..................................................................................................... 10 Artistas .......................................................................................................................... 10 Programa de Computador ....................................................................................... 11 Das Cláusulas Contratuais ............................................................................................... 14 Marcas ..................................................................................................................... 15 Tipos de Marcas ............................................................................................................. 16 Direito de Precedência ............................................................................................ 17 Formas de Registro das Marcas ....................................................................................... 17 Busca Prévia .................................................................................................................. 18 Licença de marca ........................................................................................................... 19 Expressões, Frases e Sinais de Propaganda ...................................................................... 19 Marca Notória ................................................................................................................ 20 Marca de Alto Renome ............................................................................................... 20 Marca Notoriamente Conhecida ....................................................................................... 21 Conceito de Nome Empresarial (ou Nome Comercial) ............................................ 22 A Proteção à Livre Concorrência ..................................................................................... 23 Crime de Concorrência Desleal ........................................................................................ 23 Concorrência Parasitária e Aproveitamento Parasitário....................................................... 24 Patentes de Software ...................................................................................................... 25 Know-How ............................................................................................................... 26 Pensamento Crítico Conceitual ........................................................................................ 27 Know-How e o Segredo .................................................................................................. 27 Cessão ou Licença de Know-How? ................................................................................... 30 Know-How e Segredo Comercial ...................................................................................... 30 Natureza Jurídica do Know-How ...................................................................................... 32 Elementos de um Contrato de Know-How ........................................................................ 34 Diferença entre Assistência Técnica e Know-How .............................................................. 34 Patente .................................................................................................................... 37 Requisitos de Privilegiabilidade e Criações Industriais Não Privilegiáveis ............................ 37 Período de Graça ........................................................................................................... 38 Outros Requisitos para Concessão de uma Patente ........................................................... 39 Licença Compulsória ....................................................................................................... 39 Desenho Industrial .................................................................................................. 40 Desenhos Industriais Não Registráveis ............................................................................. 40 Da Vigência do Registro .................................................................................................. 41 Criações Realizadas por Empregado ou Prestador de Serviços............................................ 42 Desenho Industrial e Marca Tridimensional ....................................................................... 42 Referências .............................................................................................................. 44 SUMÁRIO Propriedade Intelectual 4 PROPRIEDADE INTELECTUAL DIREITO AUTORAL A Lei de Direitos Autorais em vigor é a Lei 9.610/98. O Direito Autoral é o ramo da ordem jurídica que disciplina a atribuição de direitos relativos a obras literárias e artísticas, abrangendo, além disso, os chamados direitos conexos do direito de autor, como os dos artistas e intérpretes. Os direitos autorais têm como função proteger as criações expressas em obras literárias, musicais, científi cas e artísticas, e sua proteção se dá desde o nascimento da obra fi xada em um suporte material. No passado, a sociedade não tinha conhecimento sobre a reprodução ilegal das obras intelectuais, pois estas não eram consideradas um direito de propriedade. Em outras palavras, o autor não tinha a propriedade intelectual pelo seu trabalho, já que ele era disponível ao público sem qualquer proteção aos direitos de seu criador. Não havia os recursos técnicos de fi xação de som, imagem, ideias, criações do espírito em geral. As obras literárias conhecidas circulavam em exemplares manuscritos, em pequenas quantidades, a grande maioria da população não sabia ler, e a cultura restringia-se ao círculo de intelectuais que gravitava em torno dos monarcas e da nobreza local. Com a invenção da imprensa por Gutemberg no século XV, tornou-se possível a rápida multiplicação das obras literárias, popularizando o acesso à cultura. A súbita noção de que um mesmo texto podia ser reproduzido aos milhares trouxe também, de forma clara, o conhecimento de que o dono de uma cópia não detinha o direito de reproduzi-la, privilégio do autor do texto. A primeira lei sobre o assunto foi sancionada pela Rainha Ana da Inglaterra em 1710, estabelecendo privilégios com a duração de 21 anos para os autores de obras literárias e de 14 anos para os demais tipos de obras. O copyright surgiu pelo interesse de uma rainha em proteger os artistas e escritores que viviam em sua corte. Os autores agraciados pelo privilégio real recebiam royalties cada vez que sua obra era encenada, tocada ou editada. Tanto o copyright como o droit d’auteur reconheceram a existência da propriedade imaterial e o direito de o autor receber, durante o período determinado em lei, rendimentos pela utilização de sua obra. A principal diferença entre os dois sistemas é que o copyright como que desvincula a obra da personalidade do autor, fi xando apenas o período de proteção, enquanto que, no droit d’auteur, o prazo de proteção persiste durante a vida do autor e prolonga-se por um período após sua morte, benefi ciando os herdeiros, além de dar ao autor um certo controle sobre a forma de utilização de sua obra,através dos direitos morais, também transmissíveis aos herdeiros. Sobre o sistema europeu, Ascensão (1997, p. 5) conclui o que se segue: O sistema continental europeu é o sistema chamado de direito de autor, assente na tutela do criador. Este sistema coexiste no plano internacional, mediante composições muitas vezes semânticas, com o sistema anglo-americano do copyright. Porque centrado na tutela do exemplar, o sistema anglo-americano admite largamente que o direito de autor seja atribuído à empresa, embora só a lei americana acolha a noção de obra coletiva. Dessa forma, nota-se que há dois sistemas ligados ao direito autoral: o anglo-saxão, o qual protege a obra em si, e o europeu, o qual protege, além da obra, a personalidade do autor. Vale ressaltar que a Convenção de Berna, considerada um dos tratados mais importantes no que tange às relações internacionais envolvendo os direitos de autor, foi criada com base no sistema europeu e consagrou, de forma ampla e defi nitiva, os direitos de autor em todo o mundo. Ela estabelece a divisão dos direitos em direitos morais e patrimoniais. Assim, a partir de 1886, as legislações internas dos países que aderiram à Convenção de Berna, incluindo o Brasil, foram se aproximando do sistema europeu. Propriedade Intelectual 5 A atual Constituição Federal de 1988 consolidou a matéria em seu artigo 5°, incisos XXVII e XXVIII, quais sejam: Art. 5º. Todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito a vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXVII – aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fi xar. XXVIII – são assegurados nos termos da lei: a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução de imagens e voz humana, inclusive nas atividades desportivas; b) o direito de fi scalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes, e às respectivas representações sindicais e associativas. Sobre a natureza jurídica dos direitos de autor, encontramos várias teorias que surgiram para esclarecer qual seria ela, sendo tratada por uns como direito de propriedade e, por outros, como direito da personalidade, além de outras defi nições. Como se tratava de direito sobre coisa incorpórea, os direitos autorais eram defi nidos como direitos reais. Com relação a esse tema, também é importante mencionar que havia duas teorias sobre os direitos autorais que eram debatidas no início do século passado: a teoria monista e a teoria dualista. A teoria monista tem como base a natureza única desse direito, sejam direitos reais ou direitos pessoais. Já a teoria dualista tem como base a natureza dúplice do direito, a partir da existência dos direitos de ordem moral paralelamente à dos de ordem pessoal, os quais se inter-relacionam entre si. O artigo 7° da Lei 9.610/98 (Lei de Direitos Autorais) defi ne que as obras intelectuais protegidas são todas as criações de espírito, expressas por qualquer meio ou fi xadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro. Todas as obras intelectuais protegidas serão objeto de estudo detalhado na próxima aula. O que efetivamente distingue o direito autoral dos demais direitos é o seu objeto, a obra intelectual, como bem suscetível de utilização, que, no entanto, se dá em duas ordens de atividades: a utilização intelectual, ou seja, a fruição do próprio corpo místico da obra, mediante seu aproveitamento artístico, científi co, didático, informativo ou outro dessa natureza; e a utilização econômica, que se opera por meio de sua apresentação pública e remunerada, de sua reprodução ou, ainda, da participação do autor ou seus herdeiros na valorização patrimonial dela, nos sucessivos atos de alienação de certos corpos mecânicos ou nos próprios direitos de utilização econômica. Cumpre destacar que as obras intelectuais podem nascer de forma autônoma e independente ou podem nascer com base em obras preexistentes. No primeiro caso, pode-se defi nir como uma obra originária. No segundo, defi ne-se como uma obra derivada, tendo em vista que esta foi criada com base em outra obra originária. No caso das obras derivadas, faz-se necessário solicitar autorização do autor da obra preexistente. O resultado fi nal também é protegido pelo direito do autor, que assegura, com isso, a proteção às obras originárias e às obras derivadas. Propriedade Intelectual 6 DIREITOS MORAIS E PATRIMONIAIS O autor, criador de uma obra musical literária, artística ou científi ca, tem o direito de utilizá-la de acordo com seus interesses, uma vez que, de acordo com a legislação de direitos autorais, caberão ao autor de uma obra intelectual os direitos morais e patrimoniais sobre a obra que criou. Dentro desta ótica, verifi camos que as ações que inOs direitos de autor dividem-se, com isso, nos direitos morais e patrimoniais. Os direitos morais estão previstos no artigo 24 da Lei de Direitos Autorais e são aqueles que unem indissoluvelmente o criador à obra criada, pois emanam da sua personalidade e imprimem um estilo a ela (ABRAÃO, 2002, p. 74). Já os direitos patrimoniais estão previstos nos artigos 28 e 29 da referida lei e podem ser defi nidos como os direitos de fruição e de disponibilização exclusivos do autor ou titular da obra criada e fi xada em suporte mecânico (ABRAÃO, 2002, p. 80). Os direitos morais do autor são irrenunciáveis e inalienáveis e são aqueles previstos no artigo 24, conforme abaixo: I. O de reivindicar, a qualquer tempo, a autoria da obra; II. O de ter seu nome, pseudônimo ou sinal convencional indicado ou anunciado como sendo o do autor na utilização de sua obra; III. O de conservar a obra inédita; IV. O de assegurar a integridade da obra, opondo-se a quaisquer modifi cações ou à prática de atos que, de qualquer forma, possam prejudicá- la ou atingi-lo, como autor, em sua reputação ou honra; V. O de modifi car a obra, antes ou depois de utilizada; VI. O de retirar de circulação a obra ou de suspender qualquer forma de utilização já autorizada quando a circulação ou utilização implicarem afronta à sua reputação e imagem; VII. O de ter acesso a exemplar único e raro da obra, quando se encontre legitimamente em poder de outrem, para o fi m de, por meio de processo fotográfi co ou assemelhado, ou audiovisual, preservar sua memória, de forma que cause o menor inconveniente possível a seu detentor, que, em todo caso, será indenizado de qualquer dano ou prejuízo que lhe seja causado (Lei 9.618/98). Os direitos patrimoniais de autor baseiam-se no direito de utilizar, fruir e dispor de sua obra, bem como o de autorizar sua utilização ou fruição por terceiros, dependendo de prévia autorização: reprodução, edição, adaptação, arranjo musical, no caso de obras musicais, tradução, inclusão em fonograma ou produção audiovisual, distribuição, inclusão em base de dados e quaisquer outras modalidades de utilização existentes ou que venham a ser inventadas, conforme elencado no artigo 29, o qual estabelece que depende de autorização prévia e expressa do autor a utilização da obra, por quaisquer modalidades, tais como: I. A reprodução parcial ou integral; II. A edição; III. A adaptação, o arranjo musical e quaisquer outras transformações;IV. A tradução para qualquer idioma; V. A inclusão em fonograma ou produção audiovisual; VI. A distribuição, quando não intrínseca ao contrato fi rmado pelo autor com terceiros para uso ou exploração da obra; VII. A distribuição para oferta de obras ou produções mediante cabo, fi bra ótica, satélite, ondas ou qualquer outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção da obra ou produção para percebê-la em um tempo e lugar previamente determinados por quem formula a demanda, e nos casos em que o acesso às obras ou produções se faça por qualquer sistema que importe em pagamento pelo usuário; VIII. A utilização, direta ou indireta, da obra literária, artística ou científi ca [...]; Propriedade Intelectual 7 IX. A inclusão em base de dados, o armazenamento em computador, a microfi lmagem e as demais formas de arquivamento do gênero; X. Quaisquer outras modalidades de utilização existentes ou que venham a ser inventadas. Os direitos patrimoniais são aqueles referentes à utilização econômica da obra, diferentemente do que ocorre nos direitos morais, que possuem a estrita vinculação entre a pessoa do autor e sua criação intelectual. Carboni (2003, p. 32) menciona: No mundo de hoje, podemos dizer que o desenvolvimento tecnológico é um dos fenômenos que mais diferencia as sociedades, tanto uma das outras, como as atuais das precedentes. Às relações entre desenvolvimento tecnológico e mutação social, o Direito não permanece imune. Com efeito, na esfera do direito positivo, as ligações entre direito de autor e desenvolvimento tecnológico e dos meios de comunicação são evidentes. É do desenvolvimento tecnológico das formas de reprodução das criações intelectuais que surge o direito de autor. Diante do exposto, não há dúvidas de que a chamada “Era Digital” vem transformando as relações sociais, e cada vez mais há necessidade de adaptação a essa nova realidade. O grande desafi o é defi nir como deve ser realizada essa mudança, já que todos têm interesse no desenvolvimento tecnológico, mas, ao mesmo tempo, há a preocupação de proteger os interesses dos autores, visando ao incentivo da criação intelectual e, consequentemente, ao desenvolvimento da cultura, da coletividade e do acesso à informação. No que se refere à tecnologia digital, de acordo com Mario Fabiani (apud CHAVES, 1996), esta permite, assim, infl uir sobre reprodução e distribuição de obras já existentes, utilizá-las para criar outras ou para retirar informações a serem acrescentadas a outras informações e constituir dados temáticos de amplo espectro. O acesso a essas tecnologias será cada vez mais facilitado ao grande público, graças aos novos achados com a realização de aparelhos mais sofi sticados, mais potentes e de menor custo. No mundo globalizado, as transformações digitais simplesmente eliminam os limites territoriais e fazem com que os países adotem uma política internacional visando à criação de normas e procedimentos comuns a todos. A grande questão é como proteger esta política pública. Essa nova realidade trazida pelo avanço da internet, por exemplo, gerou confl itos entre as novas tecnologias desenvolvidas, os consumidores e os titulares dos direitos de autor. O objetivo dos direitos autorais sempre foi o incentivo aos criadores das obras, para que continuem criando obras novas, visando à melhoria e ao desenvolvimento da cultura e ao atendimento dos interesses da coletividade. Com isso, a legislação procura assegurar ao autor os direitos sobre sua obra, havendo aquele o direito exclusivo de exploração e divulgação dela. http://www.mp.rs.gov.br/media/ imprensa/2012/11/30305_640_480__martelo3654675676.jpg No entanto, essa concepção deve ser interpretada com algumas ressalvas, uma vez que há diversas utilizações de obras que não necessitam de autorização do autor, não sendo a sua utilização livre considerada como violação aos direitos deste. Essa ideia tem como objetivo estabelecer um equilíbrio: incentivar a criação artística e, ao mesmo tempo, limitar esses direitos para benefi ciar a coletividade. Propriedade Intelectual 8 Essas limitações referem-se ao prazo do monopólio (artigo 41 e 42) e a questões discriminadas no artigo 46, 47 e 48 da Lei 9.610/98, conforme apresentado a seguir: Art. 41. Os direitos patrimoniais do autor perduram por setenta anos contados de 1º de janeiro do ano subsequente ao de seu falecimento, obedecida a ordem sucessória da lei civil. Parágrafo único – Aplica-se às obras póstumas o prazo de proteção a que alude o caput deste artigo. Art. 42. Quando a obra literária, artística ou científi ca realizada em co-autoria for indivisível, o prazo previsto no artigo anterior será contado da morte do último dos co-autores sobreviventes. Parágrafo único – Acrescer-se-ão aos dos sobreviventes os direitos do co-autor que falecer sem sucessores. [...] Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais: I – a reprodução: a) na imprensa diária ou periódica, de notícia ou de artigo informativo, publicado em diários ou periódicos, com a menção do nome do autor, se assinados, e da publicação de onde foram transcritos; b) em diários ou periódicos, de discursos pronunciados em reuniões públicas de qualquer natureza; c) de retratos, ou de outra forma de representação da imagem, feitos sob encomenda, quando realizada pelo proprietário do objeto encomendado, não havendo a oposição da pessoa neles representada ou de seus herdeiros; d) de obras literárias, artísticas ou científi cas, para uso exclusivo de defi cientes visuais, sempre que a reprodução, sem fi ns comerciais, seja feita mediante o sistema Braille ou outro procedimento em qualquer suporte para esses destinatários; II – a reprodução, em um só exemplar de pequenos trechos, para uso privado do copista, desde que feita por este, sem intuito de lucro; III – a citação em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de comunicação, de passagens de qualquer obra, para fi ns de estudo, crítica ou polêmica, na medida justifi cada para o fi m a atingir, indicando-se o nome do autor e a origem da obra; IV – o apanhado de lições em estabelecimentos de ensino por aqueles a quem elas se dirigem, vedada sua publicação, integral ou parcial, sem autorização prévia e expressa de quem as ministrou; V – a utilização de obras literárias, artísticas ou científi cas, fonogramas e transmissão de rádio e televisão em estabelecimentos comerciais, exclusivamente para demonstração à clientela, desde que esses estabelecimentos comercializem os suportes ou equipamentos que permitam a sua utilização; VI – a representação teatral e a execução musical, quando realizadas no recesso familiar ou, para fi ns exclusivamente didáticos, nos estabelecimentos de ensino, não havendo em qualquer caso intuito de lucro; VII – a utilização de obras literárias, artísticas ou científi cas para produzir prova judiciária ou administrativa; Art. 47. São livres as paráfrases e paródias que não forem verdadeiras reproduções da obra originária nem lhe implicarem descrédito. Art. 48. As obras situadas permanentemente em logradouros públicos podem ser representadas livremente, por meio de pinturas, desenhos, fotografi as e procedimentos audiovisuais (Lei 9.618/98). Nos incisos do artigo 46 acima mencionados, encontram- se direitos e obras originalmente protegidas, mas que são legalmente liberadas para o uso, diante da supremacia do interesse público sobre o direito individual do autor. Cumpre destacar que o rol de que tratado artigo 46 é taxativo, uma vez que é uma exceção à regra geral de proteção ao direito do autor. Sobre esse assunto, Cabral (1998b) observa que praticamente em todas as legislações os limites aos direitos de autor são expressos de forma taxativa e nunca exemplifi cativa. São numerus clausus. Não podem estender-se além daquilo que o texto legal fi xou. O legislador, tratando de problema delicado, não quis dar oportunidade a que a lei, pela interpretação Propriedade Intelectual 9 aplicativa, pudesse ir além daquilo que seria razoável para compatibilizar duas situações antagônicas. Apesar disso, é justamente nessa área que se verifi cam os maiores problemas e confl itos. Em relação ao artigo 48, nota-se que as obras de artes plásticas e arquitetônicas situadas em logradouro público podem ser livremente reproduzidas por meio de pinturas, desenhadas e fi lmadas. Pode-se dizer que logradouro público é o espaço destinado ao uso comum, como uma rua, uma praça, uma estrada, entre outros. DIREITOS CONEXOS No âmbito da legislação brasileira, a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, incisos XVII e XVII, prevê que todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito a vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] XXVII – aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fi xar. XXVIII – são assegurados nos termos da lei: a) a proteção as participações individuais em obras coletivas e à reprodução de imagens e voz humana, inclusive nas atividades desportivas; b) o direito de fi scalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes, e às respectivas representações sindicais e associativas; [...] No que tange à Lei de Direitos Autorais brasileira (Lei nº 9.610/98), esta dispõe, logo em seu artigo 1º, que regula os direitos autorais, entendendo-se sob essa denominação os direitos de autor e os que lhes são conexos. A Lei de Direitos Autorais estabelece que as normas relativas aos direitos de autor aplicam-se, no que couber, aos direitos dos artistas, intérpretes ou executantes, dos produtores fonográfi cos e das empresas de radiodifusão. Os direitos conexos estão previstos em um capítulo próprio da Lei de Direitos Autorais, nos artigos 89 a 95. Bittar (2001) preceitua os direitos conexos da seguinte forma: Os direitos conexos são reconhecidos em função da premissa de que o direito de autor protege a forma concedida pelo autor e do entendimento de que a sua efetivação em nada mais interfere com os direitos do autor da obra original ou da referência. Com o mesmo raciocínio, aliás, se justifi cam as derivações de obras primígenas, como anotamos. Amparam, pois, de um lado, criações intelectuais no plano artístico (as dos artistas, intérpretes e executantes, que inserem elementos em suas apresentações) e que auxiliam na divulgação da obra interpretada, em seu contexto reproduções ou utilizações não autorizadas. De outro lado resguardam interesses econômicos de categorias que atuam na fi xação e na colocação de obras intelectuais ao público, empregando enormes capitais ao mesmo tempo em que também contribuem para difusão dessas obras. O reconhecimento desses direitos visa, nesses casos, a evitar a captação e a produção não autorizadas de programas, fonogramas, cassetes e demais formas de apresentação e fi xação de obras, que prejuízos sensíveis causam ao respectivo sistema. O desenvolvimento tecnológico permitiu a comunicação das obras em ambientes variados, por meio da fi xação de sons e imagens, o que antigamente não era possível, pois a interpretação artística era concebida única e exclusivamente ao vivo. Os titulares dos direitos conexos são os artistas (intérpretes e executantes), os produtores fonográfi cos e as empresas de radiodifusão. Será tratada com mais detalhes a questão dos direitos conexos dos artistas. Artistas Os artistas são defi nidos, de acordo com os dicionários, como a pessoa que professa as belas-artes, que interpreta uma obra musical, teatral, cinematográfi ca, coreógrafa. Interpretar, por sua vez, é explicar o que é obscuro ou oculto, esclarecer, explanar (CHAVES, 1999, p. 40). Propriedade Intelectual 10 O artigo 91 trata da faculdade que as empresas de radiodifusão têm de realizar fi xações de interpretação ou execução de artistas que as tenham permitido para utilização em determinado número de emissões, facultando sua conservação em arquivo público, dispondo, ainda, que a reutilização subsequente da fi xação pelas empresas de radiodifusão, no País ou no exterior, somente será lícita mediante autorização escrita dos titulares de bens intelectuais incluídos no programa, devida uma remuneração adicional aos titulares para cada nova utilização. Cumpre destacar que não são só os autores que recebem proteção em razão de direitos conexos, mas também os dubladores, em decorrência do “acréscimo intelectual” realizado às respectivas obras pela nova voz que é aposta a tais obras. O caso da família do dublador Marcelo Gastaldi, que faleceu em 1995, por exemplo, mostra a luta pelo recebimento de tais direitos pelos dubladores. O referido dublador interpretou a voz dos personagens mexicanos “Chaves” e “Chapolim” e não foi devidamente remunerado em decorrência da exibição do programa. PROGRAMA DE COMPUTADOR O programa de computador é todo escrito destinado a processamento de dados, compreendendo todo o conjunto de instruções para o citado fi m (textos, manuais, codifi cações). Não há, pois, como se confundir o software com o respectivo suporte, ou hardware (disquete, fi ta ou chip), que constitui o respectivo corpo físico, ou mecânico. Assim como o disco é o suporte da música1. A proteção jurídica do software está regulada pela Lei 9.609/98 (Lei de Software). Subsidiariamente, aplica-se o regime dos direitos autorais (Lei 9.610/98), nos termos do artigo 2º do citado diploma legal: “Art. 2º O regime de proteção à propriedade intelectual de programa de computador é o conferido às obras literárias pela legislação de direitos autorais e conexos vigentes no País, observado o disposto nesta Lei”. Ao contrário do que ocorre no regime dos direito autorais, a Lei 9.609/98 traz para o programa de computador uma aproximação do sistema do copyright, no sentido de que afasta os direitos morais, excetuando apenas os direitos de paternidade e contra alterações não autorizadas que impliquem deformação, mutilação ou outra modifi cação ao programa e ofendam a honra ou reputação do autor, conforme o disposto no artigo 2º, §1º: § 1º - Não se aplicam ao programa de computador as disposições relativas aos direitos morais, ressalvado, a qualquer tempo, o direito do autor de reivindicar a paternidade do programa de computador e o direito do autor de opor-se a alterações não-autorizadas, quando estas impliquem deformação, mutilação ou outra modifi cação do programa de computador, que prejudiquem a sua honra ou a sua reputação. A titularidade do programa de computador nem sempre é daquele que o cria. Na obra feita sob os efeitos de um contrato de trabalho, os direitos são conferidos ao empregador, salvo disposição em contrário, consoante o artigo 4º da Lei 9.609/98: Art. 4º Salvo estipulação em contrário, pertencerão exclusivamente ao empregador,contratante de serviços ou órgão público, os direitos relativos ao programa de computador, desenvolvido e elaborado durante a vigência de contrato ou de vínculo estatutário, expressamente destinado à pesquisa e desenvolvimento, ou em que a atividade 1 http://www.alfa-redi.org/upload/revista/103101--13-55-artigo-WEB-2001.doc Propriedade Intelectual 11 do empregado, contratado de serviço ou servidor seja prevista, ou ainda, que decorra da própria natureza dos encargos concernentes a esses vínculos. Como ressalva dessa regra, o parágrafo 2º do referido artigo dispõe que o programa pertencerá ao empregado que o criou se feito sem relação com o contrato de trabalho e sem a utilização dos recursos, informações tecnológicas, materiais, instalações ou equipamentos do empregador (LUPI, 1998, p. 42). Assim como no Direito Autoral, o titular de programa de computador tem a faculdade de registrá-lo ou não perante o INPI. Vejamos o que dispõe o artigo 3º, da Lei nº 9.609/98: “Os programas de computador poderão, a critério do titular, ser registrados em órgão ou entidade a ser designado por ato do Poder Executivo, por iniciativa do Ministério responsável pela política de ciência e tecnologia”. O Decreto nº 2.556/98 - que dispõe sobre a proteção da propriedade intelectual de programa de computador e sua comercialização no País - regulamentou o previsto no art. 3º da Lei nº 9.609/98, nos seguintes termos: Art. 1º Os programas de computador poderão, a critério do titular dos respectivos direitos, ser registrados no Instituto Nacional da Propriedade Industrial – INPI. § 1º O pedido de registro estabelecido neste artigo deverá conter, pelo menos, as seguintes informações: I - os dados referentes ao autor do programa de computador e ao titular, se distinto do autor, sejam pessoas físicas ou jurídicas; II - a identifi cação e descrição funcional do programa de computador; e III - os trechos do programa e outros dados que se considerar sufi cientes para identifi cá-lo e caracterizar sua originalidade, ressalvando-se os direitos de terceiros e a responsabilidade do Governo. § 2º As informações referidas no inciso III do parágrafo anterior são de caráter sigiloso, não podendo ser reveladas, salvo por ordem judicial ou a requerimento do próprio titular. A Lei 9.609/98 deixou a critério do interessado o registro perante o INPI. Contudo, é imprescindível ter- se em mente que a própria lei, quando trata da proteção efetiva dos direitos autorais, criou duas condicionantes ao efetivo exercício ou proteção, em seu artigo 2º, parágrafo 2º: “Fica assegurada a tutela dos direitos relativos a programa de computador pelo prazo de cinquenta anos, contados a partir de 1º de janeiro do ano subsequente ao da sua publicação ou, na ausência desta, da sua criação”. Tais documentos são fundamentais nas questões relativas à pirataria de programas, pois será sobre tal documentação que se fará exame de mérito por peritos, num procedimento necessário para as decisões das ações judiciais. Por isso, é crescente o entendimento de que devem ser trazidas para registro as partes principais do programa fonte. As informações que fundamentam o registro são sigilosas, os documentos são colocados dentro de um envelope especial e fi cam guardados em arquivo de segurança do INPI, não sendo dado conhecimento de seu teor nem sequer a funcionários do setor encarregado pelo registro. A revelação só ocorrerá a requerimento do titular ou por ordem judicial2. No tocante à duração da proteção do registro, no caso do software, face à rapidez de sua obsolescência, a proteção sofre maior limitação temporal. A duração da tutela dos direitos relativos ao programa de computador é de 50 anos, contados a partir de 1º de janeiro do ano subsequente ao da sua publicação ou, na ausência desta, da sua criação, nos termos do artigo 2º, § 2º, da Lei de Software. Cessando a referida proteção, a criação cai em domínio público, sendo dispensável qualquer autorização do autor 2 http://www.alfa-redi.org/upload/revista/103101--13-55-artigo-WEB-2001.doc Propriedade Intelectual 12 para o exercício de qualquer direito relativo ao programa de computador. A forma de colocação dos softwares no mercado dá-se por meio de contratos de licenciamento fi rmados entre o usuário fi nal e o detentor da tecnologia, demonstrando uma vinculação permanente entre este e o produto comercializado. Para tanto, é imprescindível a autorização formal do titular do direito autoral para que o licenciamento tenha efeito e possibilite a sua utilização pelo usuário fi nal, que, por exemplo, adquiriu um programa em CD-ROM3. No software por encomenda, o vínculo criado entre as partes contratantes (titular e usuário fi nal) é de natureza pessoal. Isso porque, nesse caso, o programa é produzido em função das necessidades específi cas do usuário, mediante prévia encomenda deste. Consequentemente, a licença de utilização ao referido produto será determinada pelo comum acordo entre as partes que assinam o contrato, que poderão, livremente, negociar e estipular suas condições. No segundo caso, quando o programa de computador é produzido tendo-se em vista a generalidade de usuários – conhecido como software de prateleira -, este é gravado em série, em diferentes formatos (CD-ROM, pen drive e na “nuvem”), mantidos em estoques para disponibilização dos interessados em utilizá-los. A formalização da licença de utilização também é imprescindível. Nesses casos, por exemplo, a formalização pode se dar por meio de um contrato de adesão impresso no exterior da embalagem na qual o software é oferecido no varejo, com a advertência de que a abertura do envelope implica automaticamente a adesão às condições e cláusulas contratuais4. Um ponto importante a ser abordado refere-se ao engano, por vezes cometido, ao se confundir a realização do programa de computador com sua reprodução, esta última vedada pelo Direito Autoral. A realização nada mais é do que sua execução. Consiste na liberdade de carregar ou rodar um programa em um computador. Por outro lado, quando as instruções são movidas e armazenadas (copiadas) de uma área de memória para outra, estamos diante de uma reprodução de software, que é proibida por lei sem a prévia autorização do autor. http://www.propintelectual.com.br/site/ images/stories/direitos-autorais.jpg A Lei 9.609/98 deixa claro de que o programa de computador é um bem jurídico imaterial, estando juridicamente protegido pelo regime de Direitos Autorais conferido às obras literárias. A consequência legal desa classifi cação é, sob este aspecto, que o software é tido como um bem infungível, ou seja, que não pode ser substituído por outro de mesma espécie. Contudo, tecnicamente, o software pode ser defi nido como um conjunto organizado de instruções em linguagem de computador de modo a atender aos fi ns determinados e desejados pelos usuários. Alega-se que o usuário que adquire o direito ao uso de um software utiliza-se apenas do software aplicativo, ou seja, da parte executável do programa de computador – que é substituível por outros programas que solucionem os mesmos problemas específi cos e com a mesma qualidade (característica de bem fungível defi nida em nosso Código Civil). Em contrário, o sistema fonte do programa de computador, que não é substituível (infungível), permanece em poder do titular dos direitos autorais, não sendo liberado a terceiros. Resulta disso que o software executável que é cedido ao usuário, por ser um bem fungível, não pode ser objetode contrato de locação, mas sim de cessão ou licença de 3 http://www.alfa-redi.org/upload/revista/103101--13-55-artigo-WEB-2001.doc 4 http://www.alfa-redi.org/upload/revista/103101--13-55-artigo-WEB-2001.doc Propriedade Intelectual 13 uso, isso porque a locação de um bem para outra pessoa por determinado tempo, para uso e gozo, somente se aplica para bens infungíveis5. A crescente distribuição e comercialização de softwares pela internet é uma realidade de importância para o mundo jurídico. Negociações pela Internet demonstram a inadequação dos instrumentos de controle das transações comerciais de softwares6. Inexiste uma ferramenta efi caz de controle de cópias dos programas de computador distribuídos na rede7. Com exemplo, podemos citar a disponibilização de um programa de computador na homepage do titular dos direitos autorais do software produzido. Este pode oferecer o produto por meio de comandos de download, que, por mais fi scalizados que sejam, possuem limites de verifi cação, além das difi culdades técnicas em se coibir a livre utilização por terceiros, que, sem prévio conhecimento do titular, podem duplicar ilegalmente o software. A Lei 9.609/98 defi ne “contrato de cessão de direitos de comercialização de software” como sendo o contrato entre o titular dos direitos autorais que deseje ampliar os pontos de comercialização do seu produto e terceiros. O contrato deve ser escrito, com a fi nalidade precípua e exclusiva de, em nome do fornecedor, proceder à comercialização do produto, e com isso, realizar remessas periódicas de pagamento em função dos negócios realizados, baseados em percentuais contratualmente fi rmado ou em função do preço fi xo. Observe-se, porém, que essa lei, em seu art. 8º, é taxativa: Aquele que comercializar programa de computador, quer seja titular dos direitos do programa, quer seja titular dos direitos de comercialização, fi ca obrigado, no território nacional, durante o prazo de validade técnica da respectiva versão, a assegurar aos respectivos usuários a prestação de serviços técnicos complementares relativos ao adequado funcionamento do programa, consideradas as suas especifi cações. Das Cláusulas Contratuais Diante da extensão das responsabilidades da empresa produtora do software e da que o comercializará perante o usuário/cliente fi nal, é fundamental que o contrato de cessão de direitos de comercialização de software8: • Estipule com clareza limites para a cessão de direitos, deixando claro que será exclusivamente para distribuição e comercialização do software para o qual está sendo contratada a empresa que irá comercializar. • Vede a possibilidade da empresa contratada de nomear terceiros para subcontratar a comercialização. • Obrigue contratualmente à empresa que comercializar o produto de informática a adoção das mesmas condições fi xadas na licença de uso da empresa produtora. • Determine com precisão a quem competirá e quem dará a garantia ao usuário fi nal, bem como que irá prestar os serviços de manutenção, nos casos de danifi cação do produto. • Fixe em que termos será realizado o treinamento para comercialização do produto, se haverá custos ou não. Frise-se que a atual Lei de Software declara nulas todas as cláusulas que limitem a produção a distribuição/ comercialização, ou ainda que eximam qualquer dos contratantes por eventuais ações de terceiros decorrentes de vícios, defeitos ou violação de direito autoral. Mais, em 5 http://www.alfa-redi.org/upload/revista/103101--13-55-artigo-WEB-2001.doc 6 “O nosso ordenamento jurídico é moldado para disciplinar as relações sociais advindas da relação com o tempo (momento em que ocorre o fato gerador) espaço (competência/jurisdiçào) e a massa (a tangibilidade), contudo, quando esse elementos não estão presentes, fi cam as relações caracterizadas como não incidentes no ordenamento jurídico, em obediência ao princípio da legalidade.” ARAGÃO, Luciano Oliveira. A tributação na rede. In: SILVA JÚNIOR, Roberto Roland Rodrigues (org.). Internet e Direito. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2001. p.147. 7 “Agrega-se à problemática da dimensão da Internet, da gama de pessoas a que atinge e da velocidade com que propaga arquivos e informações, o fato desta ser um meio de comunicação “virtual”. Esta característica difi culta a determinação de critério espaciais e temporais de ocorrência de fatos, como a reprodução indevida de uma obra, muitas vezes não sendo possível identifi car a origem de um arquivo, bem como o momento de sua criação. A falta de regulamentação deste novo suporte material também agrava a situação jurídica dos autores que têm na Internet as suas obras veiculadas, aplicando-se até a presente data somente a Lei n. 9.610/98 e a Lei n. 9.609/98, as quais se mostram insufi cientes para resguardar os direitos envolvidos. A soma das características acima mencionadas demonstra que a Internet é um meio de comunicação de difícil fi scalização e de escassa regulamentação tornando propícia a violação de direito autorais” (GOMES DOS SANTOS, 2001, p. 360). 8 http://www.alfa-redi.org/upload/revista/103101--13-55-artigo-WEB-2001.doc Propriedade Intelectual 14 se tratando de comercialização de software de origem externa, determina taxativamente que o contrato deverá estipular a responsabilidade quanto a tributos e encargos exigíveis. Muitos são os problemas que podem advir de contratos de cessão de comercialização mal redigidos, e grandes serão as indenizações por eventuais prejuízos a terceiros. Do ponto de vista da legislação, é revenda ilegal de software todo programa que não tiver autorização do titular dos direitos autorais para distribuição e licenciamento de programas. As penalidades aplicam-se tanto para programas nacionais quanto estrangeiros9. O crime de revenda ilegal consuma-se com o ato de publicidade ou republicidade, não sendo necessário o dano efetivo, bastando o dano potencial. Em 2003, o Superior Tribunal de Justiça já teve oportunidade de se pronunciar acerca do quantum debeatur nos casos de danos materiais por pirataria e comércio irregular, deixando claro que o software está sujeito à proteção conferida as obras intelectuais. No acórdão, da lavra da Min. Nancy Aldrighi10, determinou-se que o valor indenizatório seguiria a norma contida no parágrafo único do artigo 130, acima transcrito, ao invés do artigo 159 do Código Civil (atual art. 927 da Lei 10.406/02). As decisões são norteadas pelo princípio da proporcionalidade. Vale destacar, conforme suas palavras, que “a jurisprudência pátria, inclusive, por diversas vezes já referendou o entendimento de que o quantum compensatório em casos de violação por uso (sem comercialização) pode ser analisado caso a caso e, até mesmo, aferido pela autoridade judicial competente sob critérios totalmente diferentes daqueles adotados pela atual corrente majoritária”11. Alguns especialistas na matéria acreditam que o art. 103, parágrafo único, da Lei 9.610/98 seria aplicável apenas nos casos em que o infrator revende programas ilegais e não deveria ser utilizado para aferir indenizações quando o infrator é apenas usuário. E, ainda, que tal interpretação teria origem em três pilares: o peso da multa; a característica do infrator; e o resultado do laudo pericial. A aplicação aos infratores da multa de 3.000 vezes o valor da licença de software poderia, muitas vezes, ocasionar o enriquecimento ilícito, o qual é vedado pelo nosso ordenamento jurídico. Seria, de fato, injusto que o fabricante do software arrecadasse muito mais do infrator do que ganharia vendendo o seu produto. MARCAS O art. 5º, XXIX,da Constituição Federal de 1988 dispõe que a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade e ao direito de uso exclusivo de marcas e outros signos distintivos. A Lei nº 9.279/96 (Lei de Propriedade Industrial) defi ne marca, no seu art. 122, como: “[...] todos os sinais distintivos visualmente perceptíveis, não compreendidos nas proibições legais”. Já o art. 124 lista uma série de situações em que o sinal não poderá ser registrado como marca: I – brasão, armas, medalha, bandeira, emblema, distintivo e monumento ofi ciais, públicos, nacionais, estrangeiros ou internacionais, bem como a respectiva designação, fi gura ou imitação; II – letra, algarismo e data, isoladamente, salvo quando revestidos de sufi ciente forma distintiva; III – expressão, fi gura, desenho ou qualquer outro sinal contrário à moral e aos bons costumes ou que ofenda a honra ou imagem de pessoas ou atente contra liberdade de consciência, crença, 9 A legislação anterior (art. 37 Lei 7646/87) era mais rígida ao dispor que mesmo que o titular do programa autorizasse contratualmente empresa a revender software, se esse programa não estivesse devidamente formalizado junto à SEI, ter-se-ia o enquadramento de revenda ilegal. 10 R. Esp. 443.119/RJ – Min. Nancy Aldrighi, 3ª Turma, 08/05/2003 – RDDP 6/205. 11 Processo 98001048951-3 – 37ª Vara Cível Rio de Janeiro; Apelação Cível n.º 19.884/99, 6ª Câmara Cível, TJRJ e AGA 162.419-RJ Propriedade Intelectual 15 culto religioso ou idéia e sentimento dignos de respeito e veneração; IV – designação ou sigla de entidade ou órgão público, quando não requerido o registro pela própria entidade ou órgão público; V – reprodução ou imitação de elemento característico ou diferenciador de título de estabelecimento ou nome de empresa de terceiros, suscetível de causar confusão ou associação com estes sinais distintivos; VI – sinal de caráter genérico, necessário, comum, vulgar ou simplesmente descritivo, quando tiver relação com o produto ou serviço a distinguir, ou aquele empregado comumente para designar uma característica do produto ou serviço, quanto à natureza, nacionalidade, peso, valor, qualidade e época de produção ou de prestação do serviço, salvo quando revestidos de sufi ciente forma distintiva; VII – sinal ou expressão empregada apenas como meio de propaganda; VIII – cores e suas denominações, salvo se dispostas ou combinadas de modo peculiar e distintivo; IX – indicação geográfi ca, sua imitação suscetível de causar confusão ou sinal que possa falsamente induzir indicação geográfi ca; X – sinal que induza a falsa indicação quanto à origem, procedência, natureza, qualidade ou utilidade do produto ou serviço a que a marca se destina; XI – reprodução ou imitação de cunho ofi cial, regularmente adotada para garantia de padrão de qualquer gênero ou natureza; XII – reprodução ou imitação de sinal que tenha sido registrado como marca coletiva ou de certifi cação por terceiro, observado o disposto no art. 154; XIII – nome, prêmio ou símbolo de evento esportivo, artístico, cultural, social, político, econômico ou técnico, ofi cial ou ofi cialmente reconhecido, bem como a imitação suscetível de criar confusão, salvo quando autorizados pela autoridade competente ou entidade promotora do evento; XIV – reprodução ou imitação de título, apólice, moeda e cédula da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios, dos Municípios, ou de país; XV – nome civil ou sua assinatura, nome de família ou patronímico e imagem de terceiros, salvo com consentimento do titular, herdeiros ou sucessores; XVI – pseudônimo ou apelido notoriamente conhecidos, nome artístico singular ou coletivo, salvo com consentimento do titular, herdeiros ou sucessores; XVII – obra literária, artística ou científi ca, assim como os títulos que estejam protegidos pelo direito autoral e sejam suscetíveis de causar confusão ou associação, salvo com consentimento do autor ou titular; XVIII – termo técnico usado na indústria, na ciência e na arte, que tenha relação com o produto ou serviço a distinguir; XIX – reprodução ou imitação, no todo ou em parte, ainda que com acréscimo, de marca alheia registrada, para distinguir ou certifi car produto ou serviço idêntico, semelhante ou afi m, suscetível de causar confusão ou associação com marca alheia; XX – dualidade de marcas de um só titular para o mesmo produto ou serviço, salvo quando, no caso de marcas de mesma natureza, se revestirem de sufi ciente forma distintiva; XXI – a forma necessária, comum ou vulgar do produto ou de acondicionamento, ou, ainda, aquela que não possa ser dissociada de efeito técnico; XXII – objeto que estiver protegido por registro de desenho industrial de terceiro; e XXIII – sinal que imite ou reproduza, no todo ou em parte, marca que o requerente evidentemente não poderia desconhecer em razão de sua atividade, cujo titular seja sediado ou domiciliado em território nacional ou em país com o qual o Brasil mantenha acordo ou que assegure reciprocidade de tratamento, se a marca se destinar a distinguir produto ou serviço idêntico, semelhante ou afi m, suscetível de causar confusão ou associação com aquela marca alheia. Propriedade Intelectual 16 http://www.territoriocreativo.es/wp-content/ uploads/2012/08/marcas2.png Tipos de Marcas O Art. 123 da Lei de Propriedade Industrial, por sua vez, diferencia as marcas em três tipos, quais sejam: (i) marcas de produto ou serviço, (ii) marca de certifi cação e (iii) marca coletiva, defi nindo-as da forma que se segue: I. Marca de produto ou serviço: aquela usada para distinguir produto ou serviço de outro idêntico, semelhante ou afi m, de origem diversa; II. Marca de certifi cação: aquela usada para atestar a conformidade de um produto ou serviço com determinadas normas ou especifi cações técnicas, notadamente quanto à qualidade, natureza, material utilizado e metodologia empregada; e III. Marca coletiva: aquela usada para identifi car produtos ou serviços provindos de membros de uma determinada entidade. A marca é uma propriedade imaterial de natureza incorpórea e patrimonial, podendo inclusive ser penhorada. Destaca-se que a Lei de Propriedade Industrial, em seu art. 5º, considerou os direitos da propriedade industrial como bens móveis, para efeitos legais. A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, assegurou aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País. As marcas têm funções importantes, tais como: a função distintiva, que se caracterizam por preencher a função de distinguir os produtos e serviços aos quais se apõem de outros produtos ou serviços idênticos; a função de identifi cação de origem, que tem o intuito de indicar a origem dos produtos, permitindo ao titular destes distinguir suas mercadorias ou seus produtos/serviços de outros, idênticos ou semelhantes, de procedência diversa, conforme artigo 123, inciso I, da Lei 9.279/96. Observamos, por conseguinte, a função de garantia da qualidade dos produtos, pois os consumidores, pela identifi cação da marca de uma empresa, concluirão, de fato, que os produtos têm a mesma origem, possuindo uma qualidade constante. Com a compra dos produtos e a satisfaçãodos consumidores, presume-se que estes voltem a comprá- los devido ao conhecimento da marca. Essa força atrativa é utilizada para obter, manter e aumentar a clientela, exercendo, com isso, proteção no sentido de evitar o enfraquecimento do seu caráter distintivo. DIREITO DE PRECEDÊNCIA Art. 129, lei 9279/96: § 1º Toda pessoa que, de boa fé, na data da prioridade ou depósito, usava no País, há pelo menos 6 (seis) meses, marca idêntica ou semelhante, para distinguir ou certifi car produto ou serviço idêntico, semelhante ou afi m, terá direito de precedência ao registro. § 2º O direito de precedência somente poderá ser cedido juntamente com o negócio da empresa, ou parte deste, que tenha direta relação com o uso da marca, por alienação ou arrendamento. A marca é imprescindível para o sucesso de uma empresa e pode ser mais valiosa que todo patrimônio material de uma sociedade empresária, sendo seu registro no INPI muito importante para a proteção da sociedade empresária. Propriedade Intelectual 17 O INPI é uma autarquia federal criada em pela Lei n° 5648, de 11 de Dezembro de 1970, sendo o órgão responsável pela concessão dos registros de marcas, patentes, modelos de utilidade e desenho industrial no Brasil. Formas de Registro das Marcas As marcas podem ser registradas sob a forma nominativa, mista, fi gurativa ou tridimensional, de acordo com defi nição abaixo12: Nominativa: É constituída por uma ou mais palavras no sentido amplo do alfabeto romano, compreendendo, também, os neologismos e as combinações de letras e/ou algarismos romanos e/ou arábicos. Figurativa: É constituída por desenho, imagem, fi gura ou qualquer forma estilizada de letra e número, isoladamente, bem como dos ideogramas de línguas tais como o japonês, chinês, hebraico, etc. Nesta última hipótese, a proteção legal recai sobre o ideograma em si, e não sobre a palavra ou termo que ele representa, ressalvada a hipótese de o requerente indicar no requerimento a palavra ou o termo que o ideograma representa, desde que compreensível por uma parcela signifi cativa do público consumidor, caso em que se interpretará como marca mista. Mista: É constituída pela combinação de elementos nominativos e elementos fi gurativos ou de elementos nominativos, cuja grafi a se apresente de forma estilizada. Tridimensional: É constituída pela forma plástica (estende-se por forma plástica, a confi guração ou a conformação física) de produto ou de embalagem, cuja forma tenha capacidade distintiva em si mesma e esteja dissociada de qualquer efeito técnico. É importante mencionar, ainda, que o registro de marca junto ao INPI garante a proteção dela apenas no território nacional. Essa limitação territorial é prevista na Convenção de Paris13, a qual estabelece que a proteção conferida pelo Estado pelo registro de marca ou de patente tem validade somente nos limites territoriais do país que a concede. Diante disso, os titulares de marcas no Brasil, no caso de terem interesse em registrar suas marcas em outros países, devem requerer esse registro em cada um, separadamente, de acordo com a legislação local. Não havendo esse registro no exterior, a proteção da marca fi ca limitada ao território nacional. Busca Prévia O procedimento de registro geralmente se inicia com uma busca prévia, que, embora não seja obrigatória, é importante para fi ns de verifi cação de eventuais marcas anteriormente registradas, idênticas ou semelhantes, no mesmo ramo de serviço ou produto que o interessado pretende registrar sua marca. Após tal busca, efetua-se o pedido de registro de marca junto ao INPI, por meio de formulário próprio, no qual são prestadas informações e fornecidos dados sobre a marca e o requerente. O pedido de registro de marca deverá referir-se a um único sinal distintivo e uma única classe, e conter, obrigatoriamente, a especifi cação dos produtos e serviços identifi cados pela Classifi cação Internacional de Produtos e Serviços e, segundo disposto nos atos normativos do INPI, conterá: • O requerimento. • Procuração, no caso de o interessado não requerer pessoalmente. • Documentação específi ca para cada tipo de marca (ex. etiquetas, fi cha para busca do elemento fi gurativo, descrição das características do produto ou serviço, etc.). • Comprovante de pagamento. 12 Fonte: www.inpi.gov.br 13 A Convenção da União de Paris, de 1883, da qual o Brasil é signatário, deu origem ao hoje denominado Sistema Internacional da Propriedade Industrial e foi a primeira tentativa de uma harmonização internacional dos diferentes sistemas jurídicos nacionais relativos à propriedade industrial. A Convenção de Paris foi elaborada de modo a permitir razoável grau de fl exibilidade às legislações nacionais, desde que fossem respeitados alguns princípios fundamentais. Tais princípios são de observância obrigatória pelos países signatários. Cria-se um “território da União”, constituído pelos países contratantes, onde se aplicam os princípios gerais de proteção aos Direitos de Propriedade Industrial. Propriedade Intelectual 18 • No caso de marca fi gurativa, a inclusão do requerente na Classifi cação Internacional de Elementos Figurativos de Marcas. Após essa fase, o pedido será submetido a exame formal preliminar e, se devidamente instruído, protocolizado junto ao INPI. Posteriormente ao protocolo, o pedido de registro é publicado na Revista da Propriedade Industrial, para fi ns de garantir a publicidade dele e para que terceiros eventualmente ofereçam oposição ao registro da referida marca, no prazo de 60 dias a contar de sua publicação. O depositante será intimado da oposição, podendo se manifestar no prazo de 60 dias. Decorrido o prazo de oposição, ou se interposta esta, fi ndo o prazo de manifestação, será feito o exame, durante o qual poderão ser formuladas exigências, que deverão ser respondidas no prazo de 60 dias. Se a exigência não for respondida, o pedido será defi nitivamente arquivado. Mas, em sendo respondida, ainda que não seja cumprida, ou contestada a sua formulação, dar-se-á prosseguimento ao exame. Concluído o exame, será proferida decisão, deferindo ou indeferindo o pedido de registro. Se a decisão for pelo indeferimento do pedido, caberá interposição de recurso no prazo de 60 dias. A decisão do recurso dar-se-á pelo Presidente do INPI e, em havendo a manutenção do indeferimento, encerrar-se-á a instância administrativa. No entanto, não caberá recurso da decisão pelo deferimento do pedido, devendo ser efetuado e comprovado, no prazo de 60 dias, o pagamento das retribuições relativas à expedição do certifi cado e ao primeiro decênio de vigência do registro. Findo o prazo mencionado, a retribuição poderá ainda ser paga e comprovada dentro de 30 dias, mediante o pagamento de retribuição específi ca, sob pena de arquivamento defi nitivo do pedido. Em havendo o recolhimento, é publicada a concessão do registro. O certifi cado de registro será concedido depois de deferido o pedido e comprovado o pagamento das retribuições correspondentes. As retribuições são relativas à expedição do certifi cado de registro e ao primeiro decênio de sua vigência, que deverão ser pagas no prazo de 60 dias contados do deferimento. Cessão de marca A cessão de uma marca está regulada nos artigos 134 e 135 da Lei de Propriedade Industrial, os quais dispõem o que se segue: Art. 134. O pedido de registro e o registro poderão ser cedidos, desde que o cessionário atenda aos requisitos legais para requerer tal registro. Art. 135. A cessão deverá compreender todos os registrosou pedidos, em nome do cedente, de marcas iguais ou semelhantes, relativas a produto ou serviço idêntico, semelhante ou afi m, sob pena de cancelamento dos registros ou arquivamento dos pedidos não cedidos. Licença de marca O artigo 139 da Lei de Propriedade Industrial dispõe que o titular de registro ou o depositante de pedido de registro poderá celebrar contrato de licença para uso da marca, sem prejuízo de seu direito de exercer controle efetivo sobre as especifi cações, natureza e qualidade dos respectivos produtos ou serviços. http://www.iramas.com/img/news/marca_registrada.jpg Propriedade Intelectual 19 Além disso, o licenciado poderá ser investido pelo titular de todos os poderes para agir em defesa da marca, sem prejuízo dos seus próprios direitos. O contrato de licença deverá ser averbado no INPI para que produza efeitos em relação a terceiros, que contarão a partir da data de sua publicação. Expressões, Frases e Sinais de Propaganda Pelo Decreto nº 24.507, de 29/04/1934, aprovou-se o regulamento para concessão de patentes de desenho e modelo industrial, para o registro do nome comercial, do título de estabelecimento e para a repressão à concorrência desleal. No Título II do referido decreto, foi inserida a proteção às frases de propaganda. Inicialmente, muitas construções doutrinárias passaram a tratar marca e expressões de propaganda como se fossem institutos idênticos. Essas legendas aproximam-se das denominações empregadas como marca, podendo ser consideradas como “marcas verbais” e registradas com esse caráter, desde que satisfaçam aos requisitos essenciais daquelas marcas (CERQUEIRA, 1982). Podemos afi rmar, resumidamente, que as expressões de propaganda visam divulgar determinado produto/ serviço, enquanto que as marcas visam identifi cá-los. A defi nição da marca, bem como a sua fi nalidade, foram dadas pelo legislador, conforme se atesta pela leitura dos arts. 122 e 123 da Lei da Propriedade Industrial. Em que pese a diferença dos conceitos de marca e expressão de propaganda, muitas vezes há uma zona cinzenta que torna difícil identifi car se estamos diante de slogan ou marca. Sinais há, porém, que se situam na zona fronteiriça entre slogans e marcas. Isso ocorre porque slogans e marcas preenchem funções comuns. São círculos secantes, não concêntricos, porque os sinais publicitários não são simples espécies de marca, mas, isto sim, elementos de identifi cação do produtor ou prestador de serviços com afeição própria, ainda que tenham algumas funções comuns, outras possuem que lhes são próprias e que lhes dão cunho independente. O sinal de propaganda não visa a identifi car o produto, a ponto de o público empregá-lo para denominar aquele bem em particular, com aquelas características. Todavia, quando fi gura sobre o próprio produto, torna-se infactível por vezes negar- lhe verdadeira função de marca. Nessa hipótese, desempenha ambos os papéis e torna-se apto ao registro a título de marca, sem enquadrar-se na norma proibitiva do artigo em debate (DANNEMANN SIEMSEN BIGLER & IPANEMA MOREIRA, 2001). Em maio de 1996, a entrada em vigor da Lei nº 9.279/96 (Lei da Propriedade Industrial) excluiu de seu âmbito o registro de expressões e sinais de propaganda14, conforme se verifi ca pela redação de seus artigos 124, VII, e 233: Art.124 – Não são registráveis como marca: [...] VII – sinal ou expressão empregada como meio de propaganda. Art. 233 – Os pedidos de registro de expressões ou sinal de propaganda serão defi nitivamente arquivados e os registros permanecerão em vigor pelo prazo de vigência restante, não podendo ser prorrogados. Apesar dos dispositivos legais, podemos notar que a linha de entendimento do INPI acerca da matéria, não raras vezes, é controvertida. Exemplo: a Unilever N. V. depositou o pedido de registro para as marcas nominativas “Carte D’Or” e “A Qualidade que Faz a Diferença” (816992690 e 816992703) para assinalar, respectivamente, produtos previstos nas classes 35:30 e 33:10-20. A Constituição Federal afi rma expressamente que a fi nalidade do registro de marca é conceder ao seu titular a 14 Em países como Chile, Argentina, Paraguai, Uruguai, Honduras, a marca pode ser igualmente constituída por “frases publicitárias” para produtos ou serviços. Propriedade Intelectual 20 propriedade para um signo distintivo, de forma exclusiva, e que assinale, diferencie, ou melhor, marque seus serviços ou produtos no mercado. Portanto, as expressões absolutamente descritivas, contidas nos registros das marcas da primeira apelada, afrontam o princípio da novidade presente no direito marcário, desatendendo, portanto, o requisito da fi nalidade do interesse público dos atos administrativos. Marca Notória Eis a norma precursora da proteção às marcas de alto renome no ordenamento pátrio: Art. 67. A marca considerada notória no Brasil, registrada nos termos e para os efeitos deste Código, terá assegurada proteção especial, em todas as classes, mantido registro próprio para impedir o de outra que a reproduza ou imite, no todo ou em parte, desde que haja possibilidade de confusão quanto à origem dos produtos, mercadorias ou serviços, ou ainda prejuízo para a reputação da marca. Parágrafo único. O uso indevido de marca que reproduza ou imite marca notória registrada no Brasil constituirá agravante de crime previsto na lei própria (Lei 5.772/71). Marca de Alto Renome Art. 125, Lei de Propriedade Industrial: “À marca registrada no Brasil considerada de alto renome será assegurada proteção especial, em todos os ramos de atividade”. O legislador privilegiou terminologia assente na doutrina, chamando de alto renome às marcas que merecem proteção em todos os segmentos mercadológicos, ou seja, é de alto renome, num país, aquela marca que, ante sua simples menção, o consumidor, qualquer que seja seu nível, identifi ca, imediatamente, o produto ou serviço que ela distingue. A identifi cação da marca, portanto, dá-se como que por refl exo, sem a necessidade de esforços daqueles que são com ela confrontados. Logo, consideram-se de alto renome as marcas largamente difundidas e inescusavelmente conhecidas pelo público, de fácil associação ao produto correspondente, exercendo um grande fascínio e enorme poder de atração diante de consumidor. Para aferição do alto renome da marca, serão levados em consideração os seguintes fatores, segundo o art. 5º da Resolução 110/2004 do INPI, dentre outros: 1) data do início do uso da marca no Brasil; 2) público usuário ou potencial usuário dos produtos ou serviços a que a marca se aplica; 3) fração do público usuário ou potencial usuário dos produtos ou serviços a que a marca se aplica, essencialmente pela sua tradição e qualifi cação no mercado, mediante pesquisa de opinião ou de mercado ou por qualquer outro meio hábil; 4) fração do público usuário de outros segmentos de mercado que, imediata e espontaneamente, identifi ca a marca com os produtos ou serviços a que ela se aplica, mediante pesquisa de opinião ou de mercado ou por qualquer outro meio hábil; 5) fração do público usuário de outros segmentos de mercado que, imediata e espontaneamente, identifi ca a marca essencialmente pela sua tradição e qualifi cação no mercado, mediante pesquisa de opinião ou de mercado ou por qualquer outro meio hábil; 6) meios de comercialização da marca no Brasil; 7) amplitude geográfi ca da comercialização efetiva da marca no Brasil e, eventualmente, no exterior; 8) extensão temporal do uso efetivo da marcano mercado nacional e, eventualmente, no mercado internacional; 9) meios de divulgação da marca no Brasil e, eventualmente, no exterior; 10) extensão temporal da divulgação efetiva da marca no Brasil e, eventualmente, no exterior; 11) valor investido pelo titular em publicidade/ propaganda da marca na mídia brasileira nos últimos 3 (três) anos; Propriedade Intelectual 21 12) volume de vendas do produto ou a receita do serviço nos últimos 3 (três) anos; 13) valor econômico da marca no ativo patrimonial da empresa. Uma vez reconhecido o alto renome da marca, dar-se-á a respectiva anotação por parte do INPI, válida por prazo quinquenal. Essa anotação é meramente declaratória, jamais devendo ser entendida como constitutiva do alto renome, e não tem caráter prorrogável. Uma vez decorrido o prazo quinquenal, seu titular deverá novamente invocar a proteção especial, pela via incidental, apresentando prova de que a marca continua a gozar de elevado índice de conhecimento perante o público consumidor. Marca Notoriamente Conhecida Art. 126 – A marca notoriamente conhecida em seu ramo de atividade nos termos do art. 6º.bis (I), da Convenção da União de Paris para Proteção da Propriedade Industrial, goza de proteção especial, independentemente de estar previamente depositada ou registrada no Brasil. Parágrafo 1º - A proteção de que trata este artigo aplica-se também as marcas de serviço. Parágrafo 2º - O INPI poderá indeferir de ofício pedido de registro de marca que reproduza ou imite, no todo ou em parte, marca notoriamente conhecida (Lei 9279/96). http://www.picgifs.com/wallpapers/wallpapers/ coca-cola/Coca_Cola03.jpg Com o advento da nova Lei da Propriedade Industrial, promulgada em 1996, reproduziu o legislador no texto normativo a proteção assegurada pelo art. 6º bis da Convenção da União de Paris (CUP). Andou bem o legislador ao fazê-lo, afastando defi nitivamente as discussões quanto à compatibilidade entre esse instituto e o sistema atributivo adotado pelo país e consolidando o arsenal de mecanismos inibidores da usurpação das marcas dotadas de maior valor distintivo. O Art. 129 da L. 9.279/96 consagra a um só tempo a atributividade do registro (“A propriedade da marca adquire-se pelo registro [...]”) e, ao instituir que a proteção conferida por um Estado não transcende os limites de seu território, o princípio da territorialidade. A proteção conferida à marca notoriamente conhecida excepciona esses dois princípios na medida em que se aplica também a marcas ainda não registradas/depositadas no Brasil. O uso do “ainda” é intencional e visa chamar atenção para o fato de que, uma vez invocada contra terceiros a proteção prevista no Art. 126 da LPI, deve seu titular, no prazo improrrogável de 60 dias, comprovar o depósito do pedido de registro da marca notoriamente conhecida, sob pena do não conhecimento da oposição, nulidade administrativa ou ação de nulidade contra a marca sobre a qual almejava prevalecer15. Logo, o Brasil compromete-se, na qualidade de signatário da Convenção, a recusar ou invalidar registro de sinal que constitua usurpação de sinal marcário, protegido em outro país convencional, quando este tiver galgado notoriedade no Brasil, dentro de seu segmento de mercado. Para aferir se uma marca é notoriamente conhecida, deverá o INPI, portanto, levar em consideração o grau de conhecimento da marca no Brasil e dentro de seu ramo de atividade. Saliente-se que a marca pode ser desconhecida do grande público. Importante é a notoriedade em seu ramo 15 Art. 158 – Protocolizado, o pedido será publicado para apresentação de oposição no prazo de 60 (sessenta) dias. [...] Parágrafo 2º - Não se conhecerá da oposição, nulidade administrativa ou de ação de nulidade se, fundamentada no inciso XXIII do art. 124 ou no art. 126, não se comprovar, no prazo de 60 (sessenta) dias após a interposição, o depósito do pedido de registro da marca na forma desta lei. Propriedade Intelectual 22 de atividade. Por exemplo, uma determinada marca que, embora a população desconheça, identifi ca componentes de maquinários agrícolas, detendo um terço da produção europeia e sendo largamente exportada para o Brasil. Nesse caso, a marca será notoriamente conhecida aqui e, mesmo que não tenha sido registrada pela empresa europeia no Brasil, não poderá ser registrada nem usada por terceiros. Observe-se que o critério determinante da proteção é tão somente o conhecimento da marca no Brasil e não seu efetivo uso. Note-se, ainda, que o art. 126 autoriza sua aplicação ex ofi cio por parte do examinador CONCEITO DE NOME EMPRESARIAL (OU NOME COMERCIAL) É nome sob o qual o empresário exerce suas atividades, seja a título individual (fi rma individual), seja em sociedade (fi rma coletiva / denominação). Empresário é a pessoa física ou jurídica que, em nome próprio, desenvolve atividade economicamente organizada para fi ns de produção e circulação de bens e serviços (art. 966 do Novo Código Civil). O nome, como designativo do sujeito que sob ele contrai direitos e obrigações, é, em verdade, do empresário individual ou da sociedade empresária e não propriamente da empresa, a qual é entendida modernamente como sinônimo da atividade empresária. A proteção ao nome empresarial tanto visa proteger a clientela, evitando o desvio ou a confusão entre os consumidores, como o crédito do empresário e da sociedade empresária, evitando o abalo de sua imagem. Com o advento da Constituição Federal de 1988, a proteção ao nome comercial ganhou assento constitucional. Art.5º, XXIX – A lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem como a proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento econômico do País. Proteção ao nome comercial encontra-se também positivada na LPI: Art. 124. Não são registráveis como marca: [...] V – reprodução ou imitação de elemento característico ou diferenciador de título de estabelecimento ou nome de empresa de terceiros, suscetível de causar confusão ou associação com estes sinais distintivos; Art. 194. Usar marca, nome comercial, título de estabelecimento, insígnia, expressão ou sinal de propaganda ou qualquer outra forma que indique procedência que não a verdadeira, ou vender ou expor à venda produto com esses sinais. Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou multa. Art. 195. Comete crime de concorrência desleal quem: [...] V – usa, indevidamente, nome comercial, título de estabelecimento ou insígnia alheios ou vende, expõe ou oferece à venda ou tem em estoque produto com essas referências; A marca e o nome de empresa não se confundem, embora ambos possuam função designativa. O nome empresarial designa um empresário (individual ou sociedade empresária), isto é, o sujeito de direitos e obrigações, e distingue-o de outros. A marca designa produto ou serviço, diferenciando-os de outros idênticos. Uma sociedade empresária tem um só nome empresarial, mas poderá ter várias marcas perante o INPI. O nome empresarial designa um empresário (individual ou sociedade empresária), isto é, o sujeito de direitos e obrigações, e distingue-o de outros. A marca designa produto ou serviço, diferenciando-os de outros idênticos. Uma sociedade empresária tem um só nome empresarial, mas poderá ter várias marcas perante o INPI. Observa-se, em caso de colidência entre ambos, a preexistência, a anterioridade do sinal distintivo,
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