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DESCRIÇÃO Introdução à propriedade intelectual, seus fundamentos, designadamente marcas e patentes, e sua proteção. PROPÓSITO Compreender os principais conceitos e importância da proteção à propriedade intelectual, com foco no direito de marcas e patentes, no direito brasileiro. Discutir conceitos básicos da tutela judicial de marcas e patentes. Apresentar o conceito de visual law e suas principais vantagens para o efetivo conhecimento de direitos e acesso à justiça. PREPARAÇÃO Antes de iniciar o conteúdo deste tema, tenha em mãos uma cópia da Constituição Federal, bem como da Lei de Propriedade Industrial (Lei Federal nº 9.279/1996). OBJETIVOS MÓDULO 1 Reconhecer os principais institutos que integram o sistema brasileiro de proteção à propriedade intelectual MÓDULO 2 Identificar as principais classificações e a importância dos direitos derivados da proteção através de marcas e patentes MÓDULO 3 Listar as formas cíveis de tutela de marcas e patentes regularmente concedidas pelo INPI MÓDULO 4 Definir as características e fundamentos do legal design e visual law MÓDULO 1 Reconhecer os principais institutos que integram o sistema brasileiro de proteção à propriedade intelectual INTRODUÇÃO: O QUE É PROPRIEDADE INDUSTRIAL? Em nosso dia a dia, é corriqueiro o contato com os chamados direitos de propriedade industrial. Basta caminhar na rua, abrir o computador ou assistir à televisão para ter contato com marcas, ouvir músicas protegidas por direitos autorais, ou utilizar um aparelho celular coberto por centenas de patentes. Ainda que o contato com a matéria seja frequente e a área de propriedade industrial esteja cada vez mais difundida no país, vê-se que são poucos os profissionais que possuem familiaridade com a matéria. Também são poucos os estados brasileiros que possuem juízes, turmas e câmaras especializados no julgamento de ações envolvendo propriedade intelectual. A Convenção da Organização Mundial de Propriedade Intelectual (ABPI), de acordo com o site da Associação Brasileira de Propriedade Intelectual define nosso tema de estudo como: [...] A SOMA DOS DIREITOS RELATIVOS ÀS OBRAS LITERÁRIAS, ARTÍSTICAS E CIENTÍFICAS, ÀS INTERPRETAÇÕES DOS ARTISTAS INTÉRPRETES E ÀS EXECUÇÕES DOS ARTISTAS EXECUTANTES, AOS FONOGRAMAS E ÀS EMISSÕES DE RADIODIFUSÃO, ÀS INVENÇÕES EM TODOS OS DOMÍNIOS DA ATIVIDADE HUMANA, ÀS DESCOBERTAS CIENTÍFICAS, AOS DESENHOS E MODELOS INDUSTRIAIS, ÀS MARCAS INDUSTRIAIS, COMERCIAIS E DE SERVIÇO, BEM COMO ÀS FIRMAS COMERCIAIS E DENOMINAÇÕES COMERCIAIS, À PROTEÇÃO CONTRA A CONCORRÊNCIA DESLEAL E TODOS OS OUTROS DIREITOS INERENTES À ATIVIDADE INTELECTUAL NOS DOMÍNIOS INDUSTRIAL, CIENTÍFICO, LITERÁRIO E ARTÍSTICO. (ABPI, s.d.) Trata-se, portanto, de disciplina que possui amplo escopo de atuação, com uma notável riqueza de assuntos e especificidades, que vão, por exemplo, da proteção do direito autoral às patentes de invenção. É através dos direitos de propriedade intelectual que compositores garantem que serão devidamente remunerados pela execução de suas obras, mas também lojas possam registrar os cheiros de seus ambientes físicos em outros países (no Brasil, como veremos, não existe essa possibilidade), e empresas desenvolvedoras de vacinas possam proteger os resultados de seus investimentos em pesquisa. A matéria, que ao mesmo tempo garante a proteção daqueles que criam novas ideias, também é importante fator para a apuração do grau de desenvolvimento econômico do país e do grau de risco a estrangeiros que nele pretendem investir. Um país que não assegura a proteção de inventos, por exemplo, naturalmente terá maior resistência de empresas quanto à inserção de novos produtos, considerando o risco de não garantir a justa compensação caso terceiros violem a invenção. Por isso, economias sólidas internacionalmente costumam ter, como regra, maior tradição de proteção desses direitos, que são fator relevante para o desenvolvimento nacional e o acesso a produtos de ponta pelo mercado consumidor. A regulamentação da matéria deriva muitas vezes de tratados internacionais, como: A Convenção da União de Paris; A Convenção de Berna; O Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (comumente chamado de TRIPs); O Tratado de Cooperação em Matéria de Patentes, entre outros. Assim, a legislação nacional aplicável, em especial a lei de propriedade industrial, que trataremos adiante e regula as marcas, patentes, modelos de utilidade e desenhos industriais, em diversos aspectos, reproduz o pactuado pelo país no cenário internacional. ESPÉCIES DE DIREITOS DE PROPRIEDADE INTELECTUAL Os direitos de propriedade intelectual abrangem diferentes institutos, como as patentes de invenção, as patentes de modelos industriais, os desenhos industriais, os direitos autorais, entre outros. A seguir, exemplificamos alguns, embora seja uma lista não taxativa: • AS PATENTES DE INVENÇÃO E PATENTES DE MODELO INDUSTRIAL Visam garantir exclusividade temporária à concretização de uma ideia para um produto ou processo que busque resolver, como regra, um problema até então existente. Preenchidos os requisitos legais, a patente deverá ser concedida pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial, sem que haja uma análise de conveniência ou oportunidade pela autarquia. Ao ser concedida a patente, busca-se garantir que o inventor seja compensado pelos investimentos de tempo e recurso para o desenvolvimento da tecnologia. Enquanto patentes de invenção protegem efetivamente uma nova tecnologia, patentes de modelo de utilidade buscam proteger novas formas de utilização em objetos de uso prático, como utensílios e ferramentas, que apresentem melhorias no seu uso ou na sua fabricação. Considerando o maior grau de inventividade do primeiro grupo de patentes, o legislador lhe garante uma exclusividade de vinte anos a contar da data de depósito perante o INPI, enquanto as patentes de modelo de utilidade terão exclusividade de quinze anos, sempre a contar da data de depósito. EXEMPLO Patentes de invenção podem cobrir um produto final, como um medicamento específico, como a Neosaldina® (patente de produto), ou podem cobrir o método inventivo que leva ao produto final (patente de processo). Já em relação ao modelo de utilidade, um objeto conhecido, mas que tenha um aperfeiçoamento, pode ser protegido. Imagine eventualmente um dispositivo de segurança que possa prender determinada ferramenta a um prestador de serviços nas alturas para evitar acidentes com a queda do objeto. Isso não necessariamente será uma invenção, mas possivelmente um aperfeiçoamento de algo já existente e utilizado para outro fim. • AS MARCAS São sinais distintivos que identificam certos bens ou serviços produzidos ou prestados por determinadas pessoas ou empresas. Seu uso ajuda consumidores a identificarem e comprarem produtos ou serviços, na medida em que a marca se torna indicador de procedência e qualidade. No Brasil, a proteção das marcas é restrita a sinais visualmente perceptíveis, mas, em outros países, é possível registrar sons (como vinhetas) e odores como marcas, por exemplo. O registro da marca vigorará pelo prazo de dez anos, contados da data da concessão do registro, prorrogável por períodos iguais e sucessivos. EXEMPLO Marcas como Petrobras, Redley, Pacheco etc., por serem visualmente perceptíveis, caso preencham os requisitos legais, podem ter seus registros concedidos pelo INPI. O cheiro de determinada loja ou produto, ou a vinheta de um programa ou quadro de televisão (como a vinheta do Plantão da TV Globo, por exemplo) não podem ser protegidos como marcas no Brasil, sem prejuízo de eventualmente poderem ser resguardados por outros direitos de propriedade intelectual, se aplicável. • DESENHOS INDUSTRIAIS (OU DESIGN) Protegem uma forma ornamental ou estética de um objeto que tenha fim industrial ou comercial. Para ser protegido, o desenho industrial deve proporcionar resultado visualnovo e original na sua configuração externa e que possa servir de tipo de fabricação industrial. Os desenhos industriais asseguram uma exclusividade de dez anos contados da data do depósito, prorrogável por três períodos sucessivos de cinco anos cada. EXEMPLO É comum a proteção de uma pluralidade de objetos, como relógios, copos, escovas de dente etc., por meio de desenhos industriais. • DIREITOS AUTORAIS E DIREITOS CONEXOS Regulam "as relações jurídicas, advindas da criação e da utilização econômica de obras intelectuais estéticas e compreendidas na literatura, nas artes e nas ciências" (BITTAR, 2000, p. 8). Tais direitos buscam a um só tempo garantir que o autor de determinada obra seja creditado como tal (os chamados direitos morais do autor), mas também que ele seja compensando pela exploração de sua obra (os chamados direitos patrimoniais). Esse tópico não será alvo de nosso estudo, pois possui regulação específica pela Lei de Direitos Autorais, demandando um estudo individualizado, considerando sua robusta regulamentação pelo legislador brasileiro. • INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS São utilizadas para caracterizar um bem como derivado de uma região específica, possuindo qualidades e reputação derivadas do local de produção do bem. EXEMPLO É o caso dos espumantes produzidos na região de Champagne. No Brasil, para vinhos, é o caso do Vale dos Vinhedos; Goiabeiras, para artesanato; Cerrado Mineiro, para café; Canastra, para queijo; Divina Pastora, para rendas; Franca, para calçados; Linhares, para cacau; Salinas, para aguardente. Vale dos Vinhedos. DIREITOS DE PROPRIEDADE INTELECTUAL Vamos entender melhor o conceito de propriedade intelectual e suas espécies assistindo ao vídeo a seguir. OBJETIVOS DA PROTEÇÃO À PROPRIEDADE INTELECTUAL Ao se observar os objetos de proteção da propriedade intelectual, verifica-se uma dificuldade inerente à matéria, que está no fato de que se busca proteger, na maioria das vezes, bens imateriais, como ideias. Não estando diante de um bem concreto, palpável, a facilidade de copiá-lo faz com que haja a necessidade de criação de regras específicas que impeçam aquele que nada investiu na criação, ainda que momentaneamente, de usufruir os frutos advindos da invenção. Sem isso, incentivos incorretos estariam sendo dados, pois aquele que nada investiu, uma vez divulgada a ideia (um novo produto, uma marca, uma obra escrita), teria ampla liberdade de apenas reproduzi-la, lucrando com ela, e potencialmente impedindo o benefício daquele que investiu tempo e dinheiro na criação. E pior: o concorrente que não investiu na criação seria capaz de comercializar o produto final em valor inferior àquele que criou a ideia, pois não teria que recuperar os custos com a invenção, diferentemente do inventor. HAVERIA, ENTÃO, O QUE SE CHAMA COMUMENTE DE UMA FALHA DE MERCADO, POIS O MERCADO, ATUANDO SOZINHO, NÃO ATINGIRIA UM RESULTADO CONSIDERADO EFICIENTE, FORNECENDO INCENTIVOS INCORRETOS. Assim, a proteção à propriedade industrial garante àquele que investiu e criou determinada ideia um monopólio temporário (ou um direito de exclusiva, como menciona parte da doutrina) para que em determinado intervalo de tempo seja capaz de explorar, sem concorrência desautorizada, o objeto de sua invenção. Através desse período de exclusividade, o legislador considera que o inventor da tecnologia, marca, do objeto de direito autoral será capaz de ser compensado pelo seu esforço criativo e que terá incentivos para seguir com novas invenções, contribuindo para o desenvolvimento industrial e econômico do país. A REGULAMENTAÇÃO BRASILEIRA A importância da propriedade intelectual no país se extrai, desde um primeiro momento, da opção do legislador constituinte de reconhecer, como direito fundamental, a proteção a tais direitos. Não sem críticas de parte da doutrina, que considera que a proteção à propriedade deveria constar como um derivado da proteção à ordem econômica, e não como um direito fundamental da pessoa humana, consta no artigo 5º, XXIX, da Constituição. RESUMINDO Considerando a importância desses institutos para o interesse social, o desenvolvimento tecnológico e econômico do país, o legislador optou por proteger a propriedade industrial por meio de uma cláusula pétrea, que não pode ser alterada com uma emenda constitucional, mas apenas por meio de nova Constituição. A mesma coisa ocorre em relação aos chamados direitos autorais e conexos, trazendo o legislador constituinte a sua proteção nos incisos XXVII e XXVIII do art. 5º da CF. NA PRÁTICA, AS DISCUSSÕES SOBRE OS DIREITOS DE PROPRIEDADE INTELECTUAL, EM ESPECIAL OS DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL, ESTÃO SEMPRE RELACIONADAS À LIBERDADE DE ATIVIDADE ECONÔMICA E DE CONCORRÊNCIA. Isso porque a regra geral no ordenamento jurídico é a da livre concorrência, justamente para evitar a criação de monopólios, que são considerados uma falha de mercado. Posto de forma superficial, monopolistas, como regra, não possuem incentivos para reduzir seus preços, ou desenvolver novos e melhores produtos (salvo para reduzir seus próprios custos), já que não possuem concorrência, afetando negativamente consumidores. Contudo, para corrigir outra falha de mercado, que seria impedir que titulares de invenções, marcas, obras literárias fossem compensados por seus esforços, o legislador fez a escolha de criar direitos de exclusividade temporários sobre as criações para que houvesse a compensação devida do criador e, ao mesmo tempo, um incentivo a novas criações. Considerando esse cenário de confronto entre a livre concorrência e o estímulo ao ressarcimento do inventor, tem-se que, na prática, as principais discussões envolvendo direitos de propriedade intelectual seguem relacionadas aos limites da exclusividade devida e em que momento isso passa a se caracterizar como abuso do direito de propriedade intelectual (artigo 36, XIX, Lei n.º 12.529/11). Daí o surgimento da necessidade de modalidades de limitação desses direitos. No ordenamento jurídico atual, existem diferentes alternativas para restringir os direitos da propriedade intelectual. A mais comum advém de prazo fixado por lei. No caso das patentes, a Lei de Propriedade Industrial (Lei nº 9.279/1996 - LPI) garante que, após o fim do termo prescrito, aqueles conhecimentos que eram tidos como exclusivos durante a validade da patente integrarão o chamado domínio público, que constitui a regra para os bens imateriais. Outros termos são trazidos pela Lei de Direitos Autorais (Lei nº 9.610/1998) para a exclusividade sobre obras literárias, fonogramas etc. Além do termo legal, outra restrição presente na legislação está nos limites territoriais do exercício dos direitos de exclusividade garantidos. Nos direitos relativos à propriedade intelectual, prevalece o chamado princípio da territorialidade, que limita geograficamente o escopo da oponibilidade de direitos de propriedade industrial, como marcas e patentes, ao próprio país. Tais pontos serão tratados com mais especificidade ao se analisar em detalhe as marcas e patentes. Ainda sobre o arcabouço legislativo brasileiro, tem-se que a LPI (BRASIL, 1996), nosso maior alvo de análise neste conteúdo, afirma que "a proteção dos direitos relativos à propriedade industrial, considerado o seu interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País, efetua-se mediante: I - concessão de patentes de invenção e de modelo de utilidade; II - concessão de registro de desenho industrial; III - concessão de registro de marca; IV - repressão às falsas indicações geográficas; e V - repressão à concorrência desleal". RESUMINDO Essa lei, chamada por diversos autores de Código da Propriedade Industrial, realiza um recorte temático, abordando as principais matérias que trataremos ao longo dos próximos módulos. Além disso, especialmente no que se refere a marcas e patentes, por exemplo, há uma série de normativas internas do INPI que são aplicáveis na regulação dos direitos trazidospelas leis citadas acima (Lei nº 5.468/70). Assim, o INPI emite frequentemente novas normas e regras aplicáveis a pedidos que tramitam perante a autarquia, e que por ela precisam ser concedidos para que se tornem oponíveis a terceiros pelo seu titular. VOCÊ SABIA Não é incomum que regulações internas do INPI sejam questionadas no Poder Judiciário, já que há casos em que se verifica que pode ser visto que a autarquia excede seu poder regulamentador, passando a limitar direitos previstos na LPI, sem que haja base legal para tanto. VERIFICANDO O APRENDIZADO MÓDULO 2 Identificar as principais classificações e a importância dos direitos derivados da proteção através de marcas e patentes INTRODUÇÃO Dentre os direitos de propriedade industrial, o ordenamento jurídico brasileiro, como visto, tutela as marcas e patentes que possuem requisitos específicos na Lei de Propriedade Industrial (LPI). Na prática, dentre os direitos de propriedade industrial mencionados no módulo anterior, esses são os institutos que normalmente buscam ser mais protegidos pelas empresas e, muitas vezes, possuem, inclusive, valor superior àquele dos ativos corpóreos da empresa, como sua sede, materiais etc. Diante da relevância desses direitos para a empresa e seus concorrentes, marcas e patentes são comumente judicializadas, gerando um contencioso altamente especializado, que, muitas vezes, envolvem o conhecimento técnico de profissionais fora do campo do direito. As principais formas de judicialização serão tratadas no módulo a seguir. MARCAS VISÃO GERAL As marcas são um dos principais direitos de propriedade industrial. Por serem um instituto de trato cotidiano, grande parte dos debates envolvendo o direito marcário exigem, antes de tudo, a visão de determinado cenário fático pelas lentes do consumidor médio. Esse consumidor, para determinados produtos, pode ser extremamente cauteloso (como um médico gastroenterologista comprando um aparelho de endoscopia); e, para outros, compra sem o menor grau de atenção (um estudante comprando um sabonete para lavar as mãos). O consumidor pode ser especialista ou absolutamente leigo. O consumidor pode trocar um produto pelo outro, ou que jamais considere determinado produto ou serviço substituível. Por isso mesmo, o estudo das marcas não deixa de ser o estudo da ótica do consumidor. Ao tratar das marcas, Denis Borges Barbosa as qualifica como aquelas que "ao designar um produto, mercadorias ou serviço, servem para em princípio para identificar a sua origem; mas, usada como propaganda, além de poder também identificar a origem, deve primordialmente incitar ao consumo, ou valorizar a atividade empresarial do titular" (BARBOSA, 2010, p. 698). Além disso: AS MARCAS SÃO SINAIS DISTINTIVOS APOSTOS A PRODUTOS FABRICADOS, A MERCADORIAS COMERCIALIZADAS, OU A SERVIÇOS PRESTADOS, PARA A IDENTIFICAÇÃO DO OBJETO A SER LANÇADO NO MERCADO, VINCULANDO-O A UM DETERMINADO TITULAR DE UM DIREITO DE CLIENTELA. PODENDO SER REGISTRADAS, SÃO DIREITOS DE EXCLUSIVA A PARTIR DO REGISTRO, NÃO SE CONCEBENDO, NO DIREITO BRASILEIRO VIGENTE, DIREITO DE EXCLUSIVA RESULTANTE DA SIMPLES OCUPAÇÃO DA MARCA. (BARBOSA, 2010, p. 42) Não por acaso, em diferentes empresas, o valor atribuído a tal ativo supera, muitas vezes, a estrutura física do negócio, demonstrando a importância que deve ser dada a tal instituto da propriedade industrial. Também por isso, empresas bem assessoradas juridicamente sempre buscarão registrar suas marcas perante os órgãos competentes (como no INPI), bem como impedir que terceiros venham a fazer uso ou registrar marcas próximas às suas, já que isso poderia levar à confusão por consumidores, associação indevida, ou mesmo à chamada diluição, isto é, aquilo que ocorre quando a marca, por conta da proximidade de outras, passa a perder sua distintividade no mercado. PRINCÍPIOS INTRODUTÓRIOS A tutela das marcas no Brasil é guiada principalmente por três princípios: TERRITORIALIDADE ESPECIALIDADE SISTEMA ATRIBUTIVO TERRITORIALIDADE Trazido no artigo 129, da LPI (BRASIL, 1996), quando é afirmado que o registro garante o uso exclusivo em território nacional. Assim, concedida uma marca pelo INPI após o devido processo administrativo, seu titular poderá usufruir sua exclusividade apenas no país, como regra, sendo a exceção mais comumente conhecida a das "marcas notoriamente conhecidas", que serão tratadas no momento oportuno. ESPECIALIDADE Significa que a exclusividade marcária será garantida "sobre produtos ou serviços correspondentes à atividade do requerente, visando a distingui-los de outros idênticos ou similares, de origem diversa". Dessa forma, ao se garantir a exclusividade sobre determinado sinal, o titular da marca poderá excluir o uso daquele contra terceiros que pretendam fazer uso semelhante, não obtendo, contudo, exclusividade em todos os ramos de atividade. Tal princípio também comporta exceções, como as chamadas "marcas de alto renome”. SISTEMA ATRIBUTIVO Prescreve que a propriedade e o uso exclusivo só são garantidos com a concessão de um registro válido (art. 129 da LPI). A exceção a tal princípio está no chamado "usuário anterior". O QUE É PASSÍVEL DE PROTEÇÃO Segundo a LPI, são registráveis como marcas "os sinais distintivos visualmente perceptíveis, não compreendidos nas proibições legais". O legislador brasileiro optou, então, principalmente por uma questão prática, por permitir que apenas signos visuais fossem passíveis de proteção. Não havendo permissão, a princípio, para a proteção de sons, cheiros etc., como marcas. A LPI divide as marcas como: DEFINIÇÃO FUNÇÃO EXEMPLO De produto ou serviço Usada para distinguir produto ou serviço de outro idêntico, semelhante ou afim, de origem diversa. Sadia, Perdigão, Vivo, Osklen etc. Certificação Usada para atestar a conformidade de um produto ou serviço com determinadas normas ou especificações técnicas, notadamente quanto à qualidade, natureza, material utilizado e metodologia empregada. ISO. Coletiva Aquela usada para identificar produtos ou serviços provindos de membros de uma determinada entidade. Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), Unimed, entre outras. Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal Na classificação usual, as marcas também são divididas como: NOMINATIVAS Aquelas que possuem apenas letras escritas. FIGURATIVAS Aquelas que possuem apenas elementos gráficos, como imagens ou ideogramas. MISTAS Aquelas que são uma combinação de letras escritas e elementos gráficos. TRIDIMENSIONAIS Aquelas que protegem a forma ou o formato de um produto. I. EXCEÇÕES LEGAIS Vimos acima que podem ser registradas como marcas signos visualmente perceptíveis, e as diferentes formas de classificá-las de forma geral. Contudo, o legislador trouxe que determinados tipos de marcas não são passíveis de proteção (art. 124). Após definir as marcas que em tese seriam passíveis de proteção, a LPI traz uma lista de sinais que não são registráveis como marcas, por exemplo: I – Brasão, armas, medalha, bandeira, emblema, distintivo e monumento oficiais, públicos, nacionais, estrangeiros ou internacionais, bem como a respectiva designação, figura ou imitação. Exemplo: uma marca com a figura do Cristo Redentor, a bandeira brasileira, Arcos da Lapa etc. O INPI admite, contudo, o registro em hipótese de "suficiente estilização das imagens oficiais ou de seus elementos, apenas sugerindo o símbolo oficial". II - Letra, algarismo e data, isoladamente, salvo quando revestidos de suficiente forma distintiva. Exemplo: 19.05.2021, XXIII etc. III - Expressão, figura, desenho ou qualquer outro sinal contrário à moral e aos bons costumes ou que ofenda a honra ou imagem de pessoas ou atente contra liberdade de consciência, crença, culto religioso ou ideia e sentimento dignos de respeito e veneração. Esse é um dos dispositivos mais polêmicos da LPI, na medida em que o legisladoratribui aos examinadores do INPI o dever de zelar pela moral e bons costumes no campo marcário, sendo tal ponto absolutamente subjetivo. Além disso, determinados produtos, como aqueles relacionados ao sexo, por exemplo, muitas vezes, terão público específico, que não se sentiria ofendido com determinada marca de conotação sexual, razão pela qual há hipóteses em que a autarquia admite o registro para marcas específicas para públicos específicos. Ainda, o dispositivo busca proteger os valores constitucionais de liberdade de consciência ou crença. IV – Designação ou sigla de entidade ou órgão público, quando não requerido o registro pela própria entidade ou órgão público. Exemplo: INPI, IBAMA etc. V – Reprodução ou imitação de elemento característico ou diferenciador de título de estabelecimento ou nome de empresa de terceiros, suscetível de causar confusão ou associação com estes sinais distintivos. Exemplo: Pedido de marca para ANIMALÍSSIMO quando existente uma empresa com o nome ANIMALÍSSIMO LTDA., sendo ambas as empresas atuantes no ramo de moda. VI – Sinal de caráter genérico, necessário, comum, vulgar ou simplesmente descritivo, quando tiver relação com o produto ou serviço a distinguir, ou aquele empregado comumente para designar uma característica do produto ou serviço, quanto à natureza, nacionalidade, peso, valor, qualidade e época de produção ou de prestação do serviço, salvo quando revestidos de suficiente forma distintiva. Exemplo: Pedido para a marca Sabonete para designar o próprio produto; pedido para a marca FAST FOOD, para serviços de alimentação. VII – Sinal ou expressão empregada apenas como meio de propaganda. Exemplo: Pedido para a marca "Compre Já", ou pedidos para expressões que na realidade são slogans, e não utilizadas como marca. VIII - Cores e suas denominações, salvo se dispostas ou combinadas de modo peculiar e distintivo. Exemplo: enquanto não pode haver marca para uma cor per se, a utilização daquela marca de forma distintiva pode ser coberta como: PIZZARIA VERDE E ROSA; MARROM YOGURTERIA etc. IX – Indicação geográfica, sua imitação suscetível de causar confusão ou sinal que possa falsamente induzir indicação geográfica. X – Sinal que induza à falsa indicação quanto à origem, procedência, natureza, qualidade ou utilidade do produto ou serviço a que a marca se destina. Exemplo: MINEIRO, para produtos advindos de outro estado. Embora todas as hipóteses acima regulem situações relacionadas à impossibilidade de exclusividade sobre determinado signo, na prática, vê-se de forma mais comum ações de nulidade de marcas baseadas nos incisos XIX e XXIII do artigo 124, da LPI, razão pela qual tais dispositivos merecem ser aprofundados. II. O INCISO XIX TRATA DA PROIBIÇÃO DE PROTEÇÃO DE UMA NOVA MARCA QUANDO EXISTENTE NO PAÍS REGISTRO ANTERIOR E AS CONDIÇÕES PRESENTES NAQUELE INCISO REPRODUÇÃO OU IMITAÇÃO Em primeiro lugar, deve-se estar diante de "reprodução ou imitação, no todo ou em parte, ainda que com acréscimo". A reprodução se dará quando houver cópia total ou parcial da marca registrada, por exemplo: a nova marca Tramontina ou Tamontina S. reproduzindo a marca Tramontina. A imitação, por sua vez, se dará quando "não há uma cópia servil da marca registrada, mas semelhança capaz de criar confusão prejudicial ao titular da marca original e aos próprios consumidores" (GAMA CERQUEIRA, 2010, p. 47). Ex. uso da marca COPETTO para sorvetes, em imitação à marca CORNETTO. MARCA ALHEIA REGISTRADA Além desses elementos, para a incidência do inciso XIX, a marca reproduzida ou imitada deve estar registrada no Brasil ("marca alheia registrada"), isto é, ter sido concedida após a análise administrativa pelo INPI. USO PARA DISTINGUIR OU CERTIFICAR PRODUTO OU SERVIÇO IDÊNTICO, SEMELHANTE OU AFIM Outro elemento trazido pela legislação está no próprio uso que é feito pela marca que se pretende registrar, e leva em consideração um aspecto iminentemente concorrencial. Assim, para que a nova marca não seja aceita, ela deve ter como finalidade denominar um produto ou serviço que seja idêntico (i.e., exato mesmo produto ou serviço), semelhante (ocorrerá na maioria das vezes quando os produtos não forem idênticos, porém intercambiáveis) ou afim (i.e., diferentes características podem marcar a afinidade entre produtos e serviços, como o fato de terem o mesmo público consumidor, canais de distribuição análogos etc.). USO SUSCETÍVEL DE CAUSAR CONFUSÃO OU ASSOCIAÇÃO COM MARCA ALHEIA O último elemento está na capacidade da nova marca causar confusão ou associação com a anterior. Haverá cenário de confusão quando o consumidor puder ser levado pela nova marca a confundir o produto ou serviço ou questão com aquele denominado pela marca anterior. Haverá associação, por sua vez, quando ainda que o consumidor não troque uma marca pela outra, ao visualizar a marca nova, a associe com a marca mais antiga, havendo um aproveitamento indireto da higidez e sucesso da última. Todos os elementos mencionados possuem algum grau de subjetividade, razão pela qual deverão ser sempre analisados em conjunto e diante dos possíveis usos da nova marca para que se conclua pela aplicabilidade ou não do inciso mencionado. Além disso, como traz o Manual de Marcas: COMO REGRA GERAL, QUANTO MENOR A SEMELHANÇA ENTRE OS SINAIS, MAIOR DEVERÁ SER A AFINIDADE MERCADOLÓGICA ENTRE OS PRODUTOS OU SERVIÇOS ASSINALADOS A FIM DE CARACTERIZAR O RISCO DE CONFUSÃO OU ASSOCIAÇÃO INDEVIDA. CONTUDO, FATORES COMO GRAU DE ATENÇÃO DO CONSUMIDOR, NÍVEL DE ESPECIALIZAÇÃO DO PÚBLICO-ALVO, ORIGEM HABITUAL, PERMUTABILIDADE E COMPLEMENTARIEDADE DOS PRODUTOS OU SERVIÇOS PODEM AMPLIAR OU REDUZIR A POSSIBILIDADE DE CONFLITO ENTRE OS CONJUNTOS. (INPI, 2021) III. INCISO XXIII. Além da regra do inciso XIX do artigo 124 da LPI, regra costumeiramente citada como óbice ao registro de marca nova está no inciso XXIII do mesmo artigo. Embora muitos dos elementos entre os incisos se assemelhem, o inciso XXIII (BRASIL, 1996) traz como requisito à sua aplicação que se esteja diante de "marca que o requerente evidentemente não poderia desconhecer em razão de sua atividade, cujo titular seja sediado ou domiciliado em território nacional ou em país com o qual o Brasil mantenha acordo ou que assegure reciprocidade de tratamento". Em primeiro lugar, diferentemente do inciso XIX, não se faz necessária a existência de um registro prévio para a aplicação do inciso; ou seja: NÃO APENAS MARCAS REGISTRADAS PODERÃO SER CONSIDERADAS IMPEDITIVAS AO REGISTRO DE NOVAS MARCAS. Aqui, basta que se esteja diante de marca prévia (e não necessariamente registro de marca), e que esta não possa ser desconhecida por aquele que agora pleiteia o registro de uma nova marca perante o INPI. A grande questão discutida pela doutrina e pela jurisprudência está em como saber na prática que aquele que requer o novo registro não poderia deixar de conhecer a marca anterior. Há casos em que marca anterior, ainda que não registrada no país, é tão conhecida que a prova é de maior facilidade. EXEMPLO A mesma coisa ocorre quando se está diante de relação empresarial prévia entre empresas, como um ex-sócio de determinada empresa que possui a marca INDEX, ao deixar de ser sócio daquela, busca registrar perante o INPI a marca INDEXA, para seguir com suas atividades fora da empresa. Ou cenário semelhante em que determinada empresa atua como distribuidora de produtos da outra, mas que, ao término do contrato de distribuição, busca proteger a marca do produto que até então distribuía para também seguir atuando no mercado, agora como concorrente da empresa. Para os demais cenários, as chances de êxito na aplicação do inciso XXIII dependerão fortemente da produção de provas que sejam capazes de demonstrar que determinada empresa não poderia deixar de conhecer a marca da outra em razão de sua atividade. TUTELA DIFERENCIADA: AS MARCAS DE ALTO RENOME E NOTORIAMENTE CONHECIDAS Como mencionamosao tratar dos princípios gerais que regem as marcas, há tipos que são considerados pela lei como merecedores de nível de tutela diferenciado, como as marcas de alto renome e as marcas notoriamente conhecidas. A marca de alto renome é aquela que é amplamente conhecida em determinado país, fazendo com que o legislador considere que é merecedora de tutela em todos os ramos de atividade. No Brasil, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) já reconheceu o alto renome das seguintes marcas: BARBIE, PLAYSTATION, HONDA, TOYOTA, SONHO DE VALSA, PETROBRAS, BAUDUCCO, VIVO, FERRARI, TIGRE, IBOPE, COCA-COLA, entre outras. Ou seja, se normalmente um registro marcário é merecedor de proteção contra outros sinais que pretendam afetar sua distintividade no mesmo ramo de atividade, a tutela fornecida para as marcas de alto renome é qualitativamente superior, pois impede até mesmo a utilização de signo semelhante para ramo diverso de atividade. EXEMPLO A marca HONDA não poderia ser utilizada nem mesmo para a venda de roupas. Já a marca notoriamente conhecida goza de proteção especial, independentemente de estar previamente depositada ou registrada no Brasil, excepcionando, portanto, o princípio da territorialidade. Isto advém do artigo 6º, bis, da Convenção da União de Paris: A DIFICULDADE EM RELAÇÃO A TAL MARCA ESTÁ EM SABER QUAIS OS CRITÉRIOS PARA QUE UMA MARCA SEJA RECONHECIDA COMO TANTO. Diante da ausência de critérios legislativos claros, coube à doutrina e à jurisprudência trazerem as sugestões para concretizar tal definição, valendo citar, a título de exemplo, os critérios sugeridos pelo Comitê sobre Marcas Notórias da OMPI: (A) Para determinar se a marca é marca notória, a autoridade competente deve ter em conta todas as circunstâncias a partir das quais pode-se inferir que a marca é notória. (B) Em particular, a autoridade competente deve considerar as informações apresentadas a ele com relação aos fatores dos quais pode-se inferir que a marca é, ou não, notória, incluindo, mas não se limitando a, informações sobre o seguinte: o grau de conhecimento ou de reconhecimento da marca no setor pertinente do público; a duração, extensão e área geográfica de qualquer uso da marca; a duração, extensão e área geográfica de qualquer promoção da marca, incluindo anúncios ou publicidade e a apresentação, em feiras ou exposições, dos bens e / ou serviços a que a marca se aplica; da duração e da área geográfica dos registros e / ou os pedidos de registro, da marca, na medida em que refletem o uso ou o reconhecimento da marca; o registro da execução bem sucedida de direitos sobre a marca, em particular, na medida em que a marca foi reconhecida como bem conhecido pelas autoridades competentes; o valor associado à marca. (BARBOSA, 2010) Ainda assim, a prova acerca da notoriedade de determinada marca é assunto que atrai grande polêmica, sendo alvo de diferentes questionamentos perante as cortes brasileiras. SURGIMENTO E EXTINÇÃO DA EXCLUSIVIDADE MARCÁRIA Por conta do já mencionando sistema atributivo, a exclusividade marcária no país é obtida por meio de seu registro perante o INPI. Quando concedida, o titular poderá ceder seu registro, licenciar a marca e deverá zelar pela sua integridade material e reputação, nos termos do artigo 130, da LPI. A exceção ao sistema atributivo está no chamado usuário anterior de boa-fé, que nos termos do artigo 129, §1º, da LPI (BRASIL, 1996), é "toda pessoa que, de boa-fé, na data da prioridade ou depósito, usava no País, há pelo menos 6 (seis) meses, marca idêntica ou semelhante, para distinguir ou certificar produto ou serviço idêntico, semelhante ou afim, terá direito de precedência ao registro". Embora haja discussão sobre tal ponto, diferentes autores entendem que o exercício do direito à precedência está condicionado à apresentação, pelo usuário anterior de boa-fé, de uma oposição administrativa ao pedido de registro da marca posterior e comprovação de que depositou pedido de marca para aquela vinha fazendo uso anteriormente. ATENÇÃO Nessa oposição administrativa, o usuário anterior de boa-fé deverá também trazer provas de que de fato fazia o uso da marca anterior há, pelo menos, 6 (seis) meses antes do pedido de registro feito da nova marca em questão. Ainda, segundo o INPI, aquele que realiza o uso anterior deverá, para se opor ao uso de terceiro, depositar seu próprio pedido perante o INPI. Quando apresentada a oposição com base no uso anterior, e esta for considerada procedente pelo INPI, será indeferido o primeiro pedido, com base no uso anterior da outra empresa/indivíduo. Caso, ao contrário, a tese de uso anterior for indeferida, será concedido o registro para o pedido de marca depositado primeiro. Feito tal breve aparte, como regra, o titular do registro marcário terá a possibilidade de excluir terceiros do uso da marca ou de variações que busquem causar associação indevida ou confusão no público consumidor. Essa exclusividade, contudo, é limitada pela própria LPI, que, em seu artigo 132, traz que o titular não poderá se opor a determinados usos de sua marca. COMO REGRA, AS MARCAS SERÃO PROTEGIDAS PELO PRAZO DE DEZ ANOS CONTADOS DA CONCESSÃO DO REGISTRO. Uma vez expirado o prazo, a marca poderá ser prorrogada a requerimento do titular, e sempre por igual período. As especificidades relacionadas ao momento de pedir a prorrogação do registro são trazidas pelo artigo 133 da LPI. O fim da exclusividade marcária se dá, como regra, pela extinção do registro marcário. Isso ocorrerá: (a) ao fim do período de exclusividade da marca; (b) pela renúncia do titular total ou parcial em relação à marca (i.e., o titular poderá abrir mão do registro marcário como um todo, ou de parte dele – Exemplo: embora o registro marcário cubra uma linha de produtos, o titular poderá abrir mão do uso da marca para a designação de um tipo de produto específico); (c) pela caducidade - mais bem explicada a seguir; (d) caso o titular da marca não tenha cumprido o que determina o artigo 217 da LPI, i.e., caso o titular seja uma empresa estrangeira, deverá constituir e manter procurador devidamente qualificado e domiciliado no país, com poderes para representá-la administrativa e judicialmente, inclusive para receber citações. Como visto, uma das hipóteses de extinção do registro marcário (e, consequentemente, da exclusividade do uso da expressão no ramo de negócio no país) poderá se dar por meio da caducidade. O procedimento da caducidade é regulado pelo artigo 217 da LPI (BRASIL, 1996), que traz que um registro marcário será considerado caduco através de procedimento iniciado por pessoa com legítimo interesse, e se após cinco anos da concessão, na data do requerimento: I - O USO DA MARCA NÃO TIVER SIDO INICIADO NO BRASIL; OU II - O USO DA MARCA TIVER SIDO INTERROMPIDO POR MAIS DE 5 (CINCO) ANOS CONSECUTIVOS, OU SE, NO MESMO PRAZO, A MARCA TIVER SIDO USADA COM MODIFICAÇÃO QUE IMPLIQUE ALTERAÇÃO DE SEU CARÁTER DISTINTIVO ORIGINAL, TAL COMO CONSTANTE DO CERTIFICADO DE REGISTRO. (LEI Nº 9.279, 1996) Como defesa no procedimento de caducidade, o titular poderá demonstrar o uso ou justificar o desuso da marca por razões legítimas. Uma vez rejeitado o pedido de caducidade, um novo pedido nesse sentido só poderá ocorrer cinco anos depois, conforme determina o artigo 145, da LPI. PATENTES: VISÃO GERAL Como mencionamos no primeiro módulo, as patentes visam garantir a um inventor o direito de exclusividade temporário sobre determinado invento. O raciocínio por detrás do sistema de patentes é garantir àquele que investiu tempos e recursos na solução de um problema técnico, tempo de exclusividade no mercado, de modo que possa ser recompensado por todo o investimento feito. Para tanto, deve o inventor divulgar em sua patente a forma de reprodução de seu invento, de modo que, findo o período de exclusividade, terceiros possam ingressar no mercado. A LPI traz duas formas de patentes: INVENÇÃO(ARTIGO 8º DA LPI) MODELO DE UTILIDADE (ARTIGO 9º DA LPI) INVENÇÃO (ARTIGO 8º DA LPI) Cobre uma invenção que preencha os requisitos de novidade, atividade inventiva, e aplicação industrial. MODELO DE UTILIDADE (ARTIGO 9º DA LPI) Cobre "o objeto de uso prático, ou parte deste, suscetível de aplicação industrial, que apresente nova forma ou disposição, envolvendo ato inventivo, que resulte em melhoria funcional no seu uso ou em sua fabricação". Alguns exemplos de modelo de utilidade são: tesoura para canhotos, lacres de garrafas etc. OS PRINCÍPIOS APLICÁVEIS Assim como se dá com o direito de marcas, as patentes também são regidas pelos princípios da anterioridade e pelo sistema atributivo. OS CHAMADOS REQUISITOS DE PATENTEABILIDADE Antes de tudo, ressaltamos que o ato de concessão de uma patente é estritamente vinculado a requisitos legais e objetivos, não havendo margem para a chamada discricionariedade administrativa ou judicial. Os órgãos administrativos e judiciais competentes têm, pois, apenas duas opções: Deferir o pedido Caso ele preencha os requisitos legais. Indeferir o pedido Caso não preencha, sem margem para um juízo de conveniência e oportunidade. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal já era clara nesse sentido em 1968: "EMENTA: - Patente de invenção. Ocorrência dos requisitos ou pressupostos legais, para o seu deferimento, a caracterizarem o ato vinculado ou regrado, obrigatório, para a Administração Pública. Recurso ordinário provido." (STF, 1969). A LPI traz em seu artigo 8º alguns dos chamados requisitos de patenteabilidade, quais sejam: NOVIDADE ATIVIDADE INVENTIVA APLICAÇÃO INDUSTRIAL A esses se somam outros requisitos trazidos na lei, como a suficiência descritiva, vedação à adição de matéria, vedação à dupla proteção, dentre outros. I. NOVIDADE O primeiro requisito trazido pela legislação está na novidade daquilo que se reivindica como invenção. De forma simples, haverá novidade para determinada invenção quando à época do depósito do pedido de patente (ou de sua prioridade), não houver documento no estado da técnica que revele integralmente a invenção cuja exclusividade se pretende. Ao regular o requisito da novidade, o artigo 11 (BRASIL, 1996) da LPI traz que "o estado da técnica é constituído por tudo aquilo tornado acessível ao público antes da data de depósito do pedido de patente, por descrição escrita ou oral, por uso ou qualquer outro meio, no Brasil ou no exterior, ressalvado o disposto nos arts. 12 [período de graça], 16 e 17 [prioridade]". A definição do que se deve considerar como estado da técnica para fins de aferição dos requisitos de patenteabilidade também nem sempre é matéria simples na prática. UMA PATENTE SERÁ CONSIDERADA COMO PREENCHENDO O REQUISITO DA NOVIDADE QUANDO NÃO FOR REVELADA POR UM DOCUMENTO ÚNICO PRESENTE NO ESTADO DA TÉCNICA. II. ATIVIDADE INVENTIVA Em comparação com a novidade, a atividade inventiva é um requisito muito mais refinado e de aplicação muito mais complexa. Ao analisar tal requisito, é preciso realizar uma verdadeira viagem no tempo para que se verifique se um técnico no assunto, na época de depósito do pedido de patente, com base nos conhecimentos disponíveis à época, chegaria na dita invenção de forma óbvia. Assim, é preciso verificar, com as lentes desse terceiro fictício, se, ao analisar o estado da técnica, este estaria motivado de forma óbvia a atingir o objeto da patente. As dificuldades de aplicação desse requisito são teoricamente claras, mas se tornam ainda mais evidentes em casos concretos. Em diversos casos, o INPI demora anos para começar a análise de determinado pedido de patente, o que faz com que, ao examinar a suposta invenção, tenha que fazer esse exercício neutro de volta no tempo, ignorando todos os conhecimentos que surgiram depois. A DIFICULDADE DESSA ATIVIDADE FAZ COM QUE O REQUISITO DA ATIVIDADE INVENTIVA SEJA UM DOS MAIS SUBJETIVOS DOS DIREITOS DE PATENTES. Justamente por conta das dificuldades de aplicação do requisito de forma neutra, surgiram testes aplicados ao redor do mundo para se buscar objetivar a análise da atividade inventiva. No Brasil, o INPI adota o chamado método "problema-solução", que pode ser descrito da seguinte forma: 5.10 Três etapas são empregadas para determinar se uma invenção reivindicada é óbvia quando em comparação com o estado da técnica: (i) determinar o estado da técnica mais próximo; (ii) determinar as características distintivas da invenção e/ou o problema técnico de fato solucionado pela invenção; e (iii) determinar se a invenção é ou não óbvia para um técnico no assunto. (...) 5.11 Ao determinar se a combinação de duas ou excepcionalmente três divulgações distintas resulta em óbvia ou não, o Examinador deverá atender os seguintes critérios: (i) se o conteúdo dos documentos é tal que um técnico no assunto seria capaz de combiná-los diante do problema solucionado pela invenção; e (ii) se os documentos são provenientes de campos técnicos similares ou próximos e, caso não, se os documentos são pertinentes a um problema particular com o qual a invenção está relacionada; (iii) a combinação de duas ou mais partes de um mesmo documento poderia ser óbvia se existe uma base razoável para que um técnico no assunto associe estas partes entre si. (INPI, 2015) O critério em questão é verificado através de outros testes em outros países, sendo que a interferência jurisprudencial na construção de tal conceito é também marcante no direito americano e europeu, por exemplo. III. O PROBLEMA DO VIÉS RETROSPECTIVO (HINDSIGHT BIAS) Diante do grau de subjetividade do requisito em questão, é comum que haja uma tentação daquele que analisa determinado pedido de patente em adotar o chamado viés retrospectivo (ou hindsight bias), que deve ser evitado. O viés retrospectivo é um fenômeno estudado no campo da Psicologia, sendo conhecido por criar uma distorção entre a análise de previsibilidade de um determinado evento no passado e a recordação futura do momento em que feita a previsão, tratando a questão como óbvia (OLIVEIRA, 2017). No âmbito do direito patentário, tal fenômeno é fatal, pois sob o efeito dele, o examinador consideraria óbvias invenções que a seu tempo revolucionaram o estado da técnica, como o clip (que nada mais é do que um fio de arame dobrado de forma especial), ou blocos de notas adesivas (um conjunto de folhas capazes de grudar em objetos e lugares). Nas palavras de Denis Borges Barbosa, o exame da atividade inventiva não comporta tal viés, sendo necessário que o examinador se coloque no lugar de um técnico no assunto à época do pedido de patente. É preciso, assim, se transportar no tempo, e realizar uma análise prospectiva da invenção a partir do documento mais próximo da invenção disponível no estado da técnica: COMO, NECESSARIAMENTE, A AVALIAÇÃO DO QUID IMPREVISUM SE FARÁ EM DATA POSTERIOR, FREQUENTEMENTE MUITO POSTERIOR, A DOUTRINA E A JURISPRUDÊNCIA REITERAM ESTRENUAMENTE QUE O EXAMINADOR OU JUIZ NÃO AVALIARÁ A ATIVIDADE INVENTIVA A POSTERIORI. UMA VEZ CONSEGUIDA A NOVA SOLUÇÃO, TUDO PARECE ÓBVIO. A POSTURA DA ANÁLISE SERIA SEMPRE PROSPECTIVA A PARTIR DO DOCUMENTO MAIS PRÓXIMO, E NÃO RETROSPECTIVA, A PARTIR DA NOVA INVENÇÃO. (BARBOSA, s.d., p. 69) Dito de outro modo: é preciso que um técnico no assunto (e não um inventor), analisando o estado da arte à época do pedido, verifique se havia algo no “campo de visão natural do homo habilis [técnico no assunto] que o motivasse a formular a solução técnica com uma razoável expectativa de sucesso” (BARBOSA, s.d., p. 64). Do contrário, há o risco de que seja feito o caminho inverso: partir da solução técnica descrita na patente, para buscar, no estado da técnica, elementos que supostamente justificassem sua obviedade, o que tornaria qualquer invenção óbvia. IV. OS FATORES SECUNDÁRIOS COMO FORMA DE BUSCAR MITIGAR A SUBJETIVIDADE DO EXAME Diante do grau de subjetividade da análise, a doutrina também indica a possibilidadede utilização de "fatores secundários", que podem reforçar a inventividade da patente. Tais elementos, conhecidos como objective criteria, são amplamente utilizados por escritórios de patentes estrangeiros e pelo próprio INPI, e dão mais segurança ao aplicador do direito ao determinar ou não a presença de atividade inventiva, como também ensina a doutrina: ESTES FATORES, VERDADEIROS SUBTESTES, VÃO SUGERIR SE A INVENÇÃO ERA OU NÃO INVENTIVA, TENDO FOCO EM QUESTÕES ECONÔMICAS E MOTIVACIONAIS. NISSO SE CONTRAPÕE ÀS QUESTÕES ALTAMENTE TÉCNICAS QUE NORMALMENTE PERMEIAM OS EXAMES DE PATENTEABILIDADE, MOTIVO PELO QUAL SERIAM MAIS SUSCETÍVEIS À ANÁLISE JUDICIAL. (MAIOR, 2010, p. 184). A utilização de tais critérios evita justamente o viés retrospectivo do qual foi acometido o laudo pericial, encampado pela r. sentença. Entre esses estão, de acordo com Maior (2010, p.84): sucesso comercial; demanda antiga e não suprida no mercado; tentativas fracassadas de solucionar o mesmo problema técnico; cópia por terceiros; licenciamento da tecnologia para terceiros; resultados inesperados; ceticismo de técnicos sobre a possibilidade de sucesso. Alguns deles estão, inclusive, previstos nas Diretrizes de Exame do próprio INPI, como o sucesso comercial. V. APLICAÇÃO INDUSTRIAL Embora não haja precisão legislativa ou doutrinária sobre o requisito, o art. 15 da LPI busca a proteção de invenções que tenham aplicação na indústria, não se podendo tratar apenas de ideias ou criações puramente literárias, científicas ou artísticas (CERQUEIRA, 2010, p. 81-83). VI. SUFICIÊNCIA DESCRITIVA Além dos requisitos acima, para ser concedida, a patente deve preencher o requisito da suficiência descritiva (artigo 24 da LPI), i.e., deve permitir que um técnico no assunto seja, lendo a patente, capaz de reproduzi-la. ATENÇÃO Toda a premissa do sistema de patentes se extrai de um quid pro quo, segundo a qual o inventor descreve para a coletividade o objeto da sua efetiva invenção de forma a permitir que desde a publicação do pedido, terceiros possam estar cientes da invenção e aprender com aquele conhecimento efetivamente descrito para o desenvolvimento de pesquisas adicionais. Tal previsão produz efeitos desde o momento do depósito, pois é naquele momento que o suposto inventor deve demonstrar já estar diante de um invento ou algo concreto, até mesmo para que, quando publicado o pedido, terceiros possam ver do que se trata a suposta invenção, e possam iniciar processos inventivos com base em novas tecnologias. Diante do dever legal de que a invenção seja descrita de forma clara no relatório descritivo, o legislador também instituiu no artigo 25, da LPI (BRASIL, 1996), de forma lógica, que o inventor só poderia reivindicar exclusividade sobre algo que estava efetivamente descrito no relatório descritivo. Por isso, "[a]s reivindicações deverão ser fundamentadas no relatório descritivo, caracterizando as particularidades do pedido e definindo, de modo claro e preciso, a matéria objeto da proteção". Quando isso não ocorre, estamos diante de cenário da chamada "falta de suporte no relatório", quando o depositante busca proteger algo que extrapola o que descreveu, demonstrando que pretende exclusividade sobre algo que deixou de ensinar para o público. VII. ADIÇÃO DE MATÉRIA A LPI veda que seja a chamada adição de matéria no processamento administrativo de uma patente. Para melhor compreender tal requisito, é importante esclarecer que o pedido de patente é depositado, permanece em sigilo por 18 meses (artigo 30 da LPI), e que seu exame se inicia quando o titular o requer, o que deve se dar em até 36 meses do depósito do pedido (artigo 33 da LPI). Segundo o artigo 32 da LPI, não pode o inventor buscar ampliar aquilo que pretendia originalmente proteger, para buscar exclusividade sobre conhecimentos que surgiram (seja por mérito seu, seja por mérito de terceiros), em momento posterior ao depósito de seu pedido. Poderá, contudo, ampliar o escopo daquilo a que se buscava proteção desde que efetivamente descrito no pedido de patente, e desde que isso se dê até o pedido de requerimento de exame. Após o requerimento de exame, o titular só poderá abrir mão de partes da proteção que pretende, mas nunca ampliar aquele que originalmente pretendia. Tal previsão é relevante porque o processo administrativo de concessão de uma patente não é naturalmente rápido, sendo comum que tramite por anos antes de ser decididos em seu mérito. Anos nos quais novas tecnologias são inventadas (seja pelo próprio suposto inventor, seja por terceiros), o que não pode permitir que o suposto inventor então aumente seu pedido para buscar proteger algo que sequer imaginou quando depositou seu pedido de patente. VIII. DUPLA PROTEÇÃO A vedação à dupla proteção está na intenção do legislador de impedir que a mesma invenção seja alvo de períodos de exclusividade indevidos. Por isso mesmo, uma invenção deve ser alvo de uma patente, não se podendo proteger a mesma exata invenção em diferentes patentes, sob pena de se permitir períodos de exclusividade alongados, incompatíveis com a intenção constitucional de um direito de exclusividade temporário. REQUISITOS PARA A CONCESSÃO DE PATENTE Assista ao vídeo para conhecer mais dos diversos requisitos das patentes. FIM DA EXCLUSIVIDADE I. TERMO LEGAL A LPI estabelece que patentes terão prazo de duração de 20 anos, enquanto modelos de utilidade terão de 15 anos, sempre a contar da data de depósito do pedido perante o INPI (artigo 40, caput, da LPI). O cenário brasileiro relacionado à concessão de patentes é mundialmente conhecido por sua morosidade. Há hipóteses, por exemplo, em que o INPI tardava quase 20 anos para finalizar a análise administrativa do pedido de patente, o que fazia com que, na prática, a patente fosse concedida já expirada. Por isso, ainda durante o trâmite legislativo do projeto de lei que gerou a LPI, foi inserida a regra do artigo 40, parágrafo único, que previa prazo mínimo de dez anos de validade para patentes e sete anos para modelos de utilidade, a contar de sua concessão. Dito de outro modo: a regra seria que a patente, se concedida, teria sempre prazo de 20 anos a contar de sua data de depósito. Contudo, se a demora administrativa fizesse com que tal prazo fosse inferior a dez anos, a LPI garantiria que o inventor tivesse sempre um prazo mínimo de exclusividade, que seria contado a partir da concessão da patente pelo INPI. O dispositivo legal, contudo, foi declarado inconstitucional pelo STF em 2021 ao julgar a Ação Direita de Inconstitucionalidade nº 5.529. O STF também aprovou uma modulação de efeitos da decisão, fazendo com que a declaração de inconstitucionalidade afetasse patentes farmacêuticas já em vigor, mas não as de outras áreas. O quadro a seguir resume como a decisão do Supremo Tribunal Federal afeta o panorama das patentes brasileiras: SITUAÇÃO FÁTICA SOLUÇÃO PROPOSTA EFEITO PRÁTICO Patentes já deferidas com a aplicação do parágrafo único do art. 40 quando houver ação judicial em curso (proposta até o dia 7 de abril de 2021) que tenha como objeto a constitucionalidade do dispositivo Sem modulação (Efeito ex tunc) Independentemente do setor tecnológico, as patentes perdem o período adicional de exclusividade que decorreria do parágrafo único. Passam a ter o termo do caput do art. 40. Patentes já deferidas com a aplicação do parágrafo único do art. 40 quando se tratar de produtos e processos farmacêuticos e equipamentos e/ou materiais em uso de saúde Sem modulação (Efeito ex tunc) Perdem o período adicional de exclusividade que decorreria do parágrafo único. Passam a ter o termo do caput do art. 40. Ficam resguardados eventuais efeitos concretos já produzidos em decorrência da vigência de patentes com prazo estendido. Demais patentes já deferidas com a aplicação do parágrafo único do art. 40 da LPI, que não incidam nos itens acima Com modulação (Efeitoex nunc) Permanecem com o prazo estendido decorrente do parágrafo único. Pedidos de patentes já depositados e ainda em tramitação no INPI Efeito imediato (não incidência do Independentemente do tempo de tramitação do processo, a patente vigerá pelo prazo previsto no caput do art. 40. parágrafo único) Novos pedidos de patentes depositados após a declaração de inconstitucionalidade Efeito imediato (não incidência do parágrafo único) A patente vigerá pelo prazo previsto no caput do art. 40. Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal II. OUTRAS HIPÓTESES Além da expiração do termo legal, a patente também será extinta pela renúncia de seu titular, ressalvado o direito de terceiros, pela caducidade (hipótese relacionada à licença compulsória, cuja regulamentação, diante de sua complexidade e extensão, não será alvo de nosso programa), pela falta de pagamento da retribuição anual; e pela inobservância do disposto no art. 217 da LPI. VERIFICANDO O APRENDIZADO MÓDULO 3 Listar as formas cíveis de tutela de marcas e patentes regularmente concedidas pelo INPI INTRODUÇÃO Como visto no módulo anterior, a exclusividade contra terceiros de marcas e patentes advém da concessão de um registro válido pelo INPI. Uma vez concedidos tais registros, poderá o titular do registro obstar atos de terceiros que considere violar seus direitos de exclusividade. Como resposta, é comum que o concorrente considerado infrator busque a nulidade da marca ou da patente que supostamente infringe, de modo que tenha liberdade de atuar no mercado. As principais formas de disputas judiciais envolvendo marcas e patentes serão tratadas a seguir. AÇÕES DE MARCAS AÇÕES DE INFRAÇÃO Como regra, as chamadas ação de infração de marcas são ajuizadas por seu titular em face daquele considerado infrator na justiça estadual. Como regra, as ações poderão ser ajuizadas no foro de domicílio do réu (artigo 46, do CPC) ou do lugar do ato ou fato se houver pedido indenizatório (artigo 53, IV, a, do CPC). Em tal ação, o titular buscará demonstrar que o terceiro faz uso indevido de sua marca, seja reproduzindo-a ou imitando-a, normalmente com o objetivo parasitário de se aproveitar de reputação construída por determinada empresa com investimentos nas marcas. As ações, de forma mais corriqueira, envolvem um pedido de abstenção de uso, bem como pedido de reparação de danos, que comumente são danos emergentes (i.e., danos sofridos pelo titular da marca), lucros cessantes (i.e., o que o titular da marca deixou de receber com a infração), e danos morais. SAIBA MAIS Especificamente sobre os lucros cessantes, o artigo 210 da LPI traz diferentes critérios que podem ser utilizados para sua apuração, cabendo ao titular da marca escolher entre eles. Embora seja até hoje de certa forma controvertido o ponto acerca da reparação de danos morais por empresas, a jurisprudência em casos de marcas costuma ser tranquila no sentido de que havendo infração, haverá presunção de que o dano moral se deu, sem necessidade de sua comprovação. É o que se chama de dano in re ipsa, sendo seu valor normalmente fixado com base em diferentes critérios, que consideram não só a extensão da violação, o porte das empresas envolvidas, mas também a finalidade de servir de desincentivo para que o dano não mais aconteça no futuro. É também bastante comum que tais ações envolvam pedidos liminares de busca e apreensão de produtos contrafeitos, de abstenção imediata de uso, de destruição de mercadorias, entre outros. AÇÕES DE NULIDADE Diferentemente do que ocorre com ações de infração, as ações de nulidade são, como regra, ajuizadas perante a Justiça Federal, pois a LPI prescreve que o INPI, autarquia responsável pelo ato administrativo impugnado, deverá obrigatoriamente participar da ação. Isso não significa, contudo, que o INPI sempre atuará defendendo seu ato administrativo, não sendo incomum que a autarquia, se convencida de seu erro, passe a defender a nulidade do ato em questão. AS AÇÕES DE NULIDADE TERÃO COMO OBJETIVO DECLARAR QUE O ATO ADMINISTRATIVO QUE CONCEDEU A MARCA VIOLA AS HIPÓTESES PRESENTES, EM ESPECIAL, DO ARTIGO 124, DA LPI, JÁ TRATADOS NO MÓDULO ANTERIOR. AÇÕES DE PATENTES AÇÕES DE INFRAÇÃO Assim como nas ações de infração de marcas, a ação poderá ser movida no foro de domicílio do réu (artigo 46, do CPC) ou do lugar do ato ou fato se houver pedido indenizatório (artigo 53, IV, a, do CPC). A AÇÃO DE INFRAÇÃO PODERÁ SER MOVIDA PELO TITULAR DA PATENTE, OU POR LICENCIADO, QUANDO EXISTENTE UM ATO DE INFRAÇÃO, DISPOSTOS NO ART. 42 DA LPI. Ações envolvendo patentes são normalmente amplamente conectadas a uma análise técnica que comparará o que está sendo objeto de proteção da patente com o produto ou processo considerado infrator. Diante dessa complexidade, é muito comum que seja nomeado um perito técnico com conhecimento da área de tecnologia envolvida na patente, que fará o cotejo em questão para verificar ou não a existência de infração. Assim como nas ações de infração de marcas, é comum que seja requerida uma indenização pelos danos ocorridos, que também serão danos emergentes, lucros cessantes e danos morais. AÇÕES DE NULIDADE Assim como nas ações de nulidade de marcas, o INPI figurará como parte necessária, seja para defender, seja para concordar com a nulidade do ato administrativo questionado. Diante da participação do INPI, a ação tramitará, como regra, perante a Justiça Federal. No objeto da ação, o autor buscará o reconhecimento de que a patente não preenche os chamados requisitos de patenteabilidade, ou que houve violação de alguma regra procedimental pelo INPI, que levou à concessão indevida da patente. Ações de nulidade de patente também possuem alta complexidade técnica, e necessitam de um olhar de um "técnico no assunto", como tratamos no módulo 2. Assim, é comum que seja nomeado um perito com conhecimento da área tecnológica em debate. Por fim, reconhecida a nulidade da patente, esta terá efeitos: EX TUNC ERGA OMNES RESUMINDO A patente será considerada como se nunca tivesse existido, já que os efeitos retroagem à data do depósito, e não só para o autor da ação, mas para todos. TUTELA JURISDICIONAL DAS MARCAS E PATENTES Acompanhe agora a explicação do professor sobre as ações para proteção das marcas e patentes. DISCUSSÕES PROCESSUAIS (1): A NULIDADE COMO MATÉRIA DE DEFESA NAS AÇÕES DE PATENTE Um dos aspectos processuais controvertidos em casos envolvendo patentes está na interpretação que deve ser dada ao artigo 56, §1º, da LPI, que possibilita a chamada arguição da nulidade de patente como matéria de defesa em ação na qual se discute suposta infração da mesma patente. Dessa forma, em determinada ação de infração, poderá o réu não só se defender alegando que não infringe determinada patente, bem como apontar que esta é nula de pleno direito, por não preencher os requisitos legais de validade. Além da previsão do artigo mencionado, aqueles que defendem tal possibilidade consideram que essa se extrai do artigo 350 do CPC (BRASIL, 2015): "se o réu alegar fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor, este será ouvido no prazo de 15 (quinze) dias, permitindo-lhe o juiz a produção de prova". Para aqueles que defendem a impossibilidade de se levantar a nulidade como matéria de defesa em ação de infração pendente perante a Justiça Estadual, o argumento principal está no fato de que a patente é um ato administrativo, e, como tal, possui presunção de validade e legalidade. Para desconstituir tal presunção, seria necessário a propositura de ação autônoma de invalidade perante a Justiça Federal, em que o INPI é corréu necessário, a teor do artigo 57 da LPI. Isso porque, se foi a autarquia que concedeu a patente em questão, não há como se desconstituir a patente em ação em que a própria autarquia não tenha condições de defender a validade de seu ato administrativo. Sem que sepretenda aqui se posicionar sobre a correta interpretação da questão, ainda controvertida nos tribunais, fato é que os efeitos advindos da declaração de nulidade nos dois cenários descritos são distintos. Ao se propor uma ação de nulidade autônoma, necessariamente perante a Justiça Federal, tendo em vista o litisconsórcio passivo necessário do INPI, busca-se uma declaração que produzirá efeitos erga omnes, de que determinado título patentário é nulo de pleno direito. Tal declaração, que possuirá efeitos ex tunc por força do artigo 48 da LPI, retira a patente do mundo jurídico, tornando-a inoponível a qualquer terceiro. Já a apresentação da nulidade como matéria de defesa em ação de contrafação, essa é uma questão prejudicial interna. Caso esta seja constatada, não haverá infração, já que não se pode violar algo que é nulo. Todavia, tal análise da nulidade se dá tão somente entre os sujeitos daquele processo, não produzindo efeito erga omnes, e não invalidando a patente como um todo. EMBORA LONGE DE PACIFICADA, A DECISÃO MAIS RECENTE DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA SOBRE O TEMA ENTENDE PELA POSSIBILIDADE DE ARGUIÇÃO DA NULIDADE COMO MATÉRIA DE DEFESA, NO RESP 1843507/SP. DISCUSSÕES PROCESSUAIS (2): A CHAMADA PREJUDICIALIDADE EXTERNA E A POSSIBILIDADE DE SUSPENSÃO DA AÇÃO DE INFRAÇÃO Em disputas judiciais relacionadas ao direito de patentes, é muito comum a coexistência de ações de infração e de nulidade baseadas nos mesmos títulos patentários. Isso porque, sendo atribuída a infração de determinada patente a uma empresa, por exemplo, um dos mecanismos de defesa possíveis está no ajuizamento de ação autônoma contestando a própria validade das patentes em questão, como visto. Afinal, anulada a patente pelo não preenchimento dos requisitos legais previstos na LPI, não haveria de se falar na suposta infração. O ponto mencionado é reforçado pelo próprio artigo 48 da LPI, que estabelece a produção de efeitos retroativos da declaração de nulidade da patente à data do depósito do pedido. Portanto, tendo sido declarada a nulidade, tem-se um cenário em que os efeitos são aqueles em que a patente nunca existiu. ATENÇÃO Diante desse cenário, muito se discute se, havendo pendentes ações de infração e nulidade de patentes de forma simultânea, deveria ser suspensa a ação de infração (na maioria das vezes pendente perante a Justiça Estadual) até que julgada a própria validade da patente (na maioria das vezes, em discussão perante a Justiça Federal). Afinal, o reconhecimento da nulidade gera uma questão prejudicial à análise da própria infração, já que inexistindo patente válida, tampouco existirá uma infração. AO MESMO TEMPO QUE A SUSPENSÃO PODE SER VISTA COMO UMA QUESTÃO LÓGICA, E ATÉ MESMO DE ECONOMIA PROCESSUAL, NÃO SE PODE NEGAR OS EFEITOS PRÁTICOS QUE ADVÊM DESSA CONCLUSÃO. Se reconhecida a relação de prejudicialidade entre ações de infração e nulidade, parece evidente a vantagem que a suspensão de uma ação de infração traria ao suposto infrator que vem a pleitear a nulidade de determinada patente em ação autônoma (mesmo que infundada), uma vez que interromperia o trâmite da ação de infração, postergando uma possível condenação. Assim, na prática, poderia estar mitigando os poderes do titular de direito de patente, ou retardando sua compensação, considerando os danos que foram causados à sua invenção que, ao menos naquele momento, segue patenteada. A discussão acerca da necessidade de suspensão ou não da ação de infração tem como base o artigo 313, V, "a", do Código de Processo Civil: [...] SUSPENDE-SE O PROCESSO: (...) QUANDO A SENTENÇA DE MÉRITO: (…) DEPENDER DO JULGAMENTO DE OUTRA CAUSA OU DA DECLARAÇÃO DE EXISTÊNCIA OU DE INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO JURÍDICA QUE CONSTITUA O OBJETO PRINCIPAL DE OUTRO PROCESSO PENDENTE. (LEI Nº 13.105, 2015) O artigo estabelece dois requisitos claros: i) que não haja sentença de mérito na ação logicamente subordinada (neste caso, a ação de infração); ii) que a questão subordinante seja objeto principal de outro processo pendente (neste caso, a nulidade é objeto da ação autônoma de nulidade). ATENÇÃO Em relação ao primeiro requisito, é importante notar que só estará autorizada a suspensão prevista no CPC quando na ação de infração ainda não houver sido proferida sentença de mérito. Ainda que a norma seja clara, há casos em que tribunais optaram por mitigar tal requisito, entendendo que as consequências advindas da não suspensão no caso concreto seriam graves. Já em relação ao segundo requisito, a princípio se extrai da lei que uma vez pendentes, simultaneamente, ações de infração e de nulidade com base nas mesmas patentes, que guardam uma relação de subordinação lógica, estará autorizada a suspensão da primeira com base no artigo 313, V, "a" d CPC. Contudo, parte da doutrina e da jurisprudência interpretam a expressão “processo pendente” de forma diferenciada, criando aquilo que poderia ser chamado de um terceiro requisito condicionante da suspensão. Para essa corrente, o sobrestamento da ação de infração com base na prejudicialidade externa só estará autorizado quando esta tiver sido proposta após a ação de nulidade que tramita perante a Justiça Federal. Assim, para aqueles que se filiam a tal corrente, permitir a suspensão da ação de infração com base em ação de nulidade proposta em momento posterior nada mais seria do que dar à parte infratora o poder de dispor sobre a suspensão processual. Em resumo, atualmente a questão segue sendo alvo de decisões conflitantes, que podem ser divididas em três grupos: GRUPO 1 GRUPO 2 GRUPO 3 GRUPO 1 Decisões judiciais que entendem que a patente, quando concedida pelo INPI, possui presunção de validade, razão pela qual produzirá efeitos até que o contrário seja declarado em ação judicial. Por isso, independentemente do momento em que a ação de nulidade for ajuizada (se antes ou depois da ação de infração), ela não suspenderá a ação de infração. GRUPO 2 Decisões judiciais que entendem que a ação de infração deverá ser suspensa se a ação de nulidade tiver sido ajuizada antes daquela. GRUPO 3 Decisões judiciais que entendem que, sempre em que houver coexistência de ações de infração e de nulidade sobre a mesma patente, a primeira deverá ser suspensa, já que a ação de nulidade poderá impactá-la de forma substancial. VERIFICANDO O APRENDIZADO MÓDULO 4 Definir as características e fundamentos do legal design e visual law INTRODUÇÃO Embora não comumente classificado como campo abrangido pela propriedade intelectual, a disciplina do visual law tem ganhado cada vez mais espaço no Brasil e no mundo, de modo a garantir mais acessibilidade do direito aos cidadãos, sejam eles clientes ou até mesmo servidores da Justiça. Como se sabe, o linguajar jurídico muitas vezes acaba por empregar expressões pouco usuais ou termos rebuscados que embora sejam compreendidos por advogados, excluem justamente os titulares de direito que precisam ter acesso pleno à jurisdição. Por isso, não é incomum que pessoas, ainda que tenham acesso à legislação, não conheçam seus direitos, justamente por não compreenderem o texto legal, ou como esse deve ser interpretado. A visual law surge, então, como um dos meios de melhora no acesso à justiça, permitindo, em especial por meio de recursos gráficos, que haja uma efetiva comunicação e tradução que beneficie aqueles que são destinatários de contratos, processos, e textos legais. O QUE É VISUAL LAW E SUA RELAÇÃO COM O LEGAL DESIGN Como mencionado, o visual law tem como objetivo tornar mais acessível o acesso à Justiça, e comumente faz uso de recursos visuais, como fluxogramas, infográficos, boards, de forma a passar a mensagem pretendida de forma simplificada e direta, buscando melhor traduzir textos complexos e captar a atenção daquele a quem a mensagem é direcionada. O visual law é parte do que comumente se denomina de legal design, que busca interação entre o design, a tecnologia e o direito. Assim, emboraos conceitos estejam relacionados, o visual law é uma das estratégias de legal design, mas não a esgota. O objetivo do legal design é sempre buscar transmitir a mensagem de forma mais direta e acessível, permitindo, assim, que se tenha uma comunicação focada no destinatário, de forma a ampliar a transparência na comunicação. VANTAGENS DO VISUAL LAW O visual law desempenha função relevante não apenas em processos judiciais, mas também como forma de mitigá-los. Contratos extensos podem ser resumidos por meio de recursos visuais, que garantirão que seus destinatários tenham maior clareza na mensagem passada. Isso faz com que não só a mensagem seja transmitida de forma mais efetiva, mas também que ela seja retida pelo destinatário com mais sucesso, permitindo um processo comunicativo mais adequado. A mesma coisa ocorre em processos judiciais, pois a comunicação por meio de recursos gráficos e simplificada pode fazer com que o magistrado tenha acesso mais direcionado às informações, permitindo que, de fato, foque sua análise nos elementos jurídicos mais relevantes para a solução da demanda. O uso de recursos como tabelas ou elementos que sumarizem os elementos probatórios e as teses jurídicas em debate poderá fazer com que seja proferida uma sentença de forma mais célere e com melhor qualidade. De modo a comunicar a mensagem da forma mais clara o possível, técnicas indicadas envolvem: o uso de linguagem simples; organização da mensagem de forma lógica e com o uso de artifícios visuais, como tabelas, títulos descritivos, possíveis fontes e cores diversas, entre outros. Como ponto de partida da estratégia de visual law, é importante que seja internalizado qual é o destinatário da mensagem, e quais os principais aspectos da mensagem que se pretende passar. A partir daí, discute-se as melhores técnicas e recursos para que aquela pessoa tenha acesso rápido e claro à informação. EXEMPLO Termos de usos de site são com alguma frequência considerados contratos de adesão com cláusulas abusivas, em especial por lhes faltar clareza ou informações suficientes para o consumidor médio. A utilização de técnicas como cláusulas em destaque, tabelas, e resumos das cláusulas principais do contrato é capaz de passar a mensagem de forma mais transparente, o que poderá ter um efeito direto na defesa da validade dessas cláusulas e na redução do número de litígio envolvendo aquelas. Podemos mencionar dois exemplos de uso de estratégia do visual law. A primeira se relaciona ao projeto do Centro de Pedagogia Urbana de Nova York, que visava navegar no sistema penal para menores da cidade. O pôster, utilizado no projeto, mostra as principais etapas envolvidas no processo relacionado a ofensas praticadas por menores. Também na cidade mencionada, foi lançado o projeto para vendedores de rua, que pretendia traduzir normas da cidade para vendedores de forma acessível e clara, em especial porque muitos deles não falavam inglês de forma nativa. O guia, de forma simples, traz em diferentes idiomas as principais regras aplicáveis aos vendedores por meio de desenhos. O QUE É O VISUAL LAW? Assista o vídeo para saber mais sobre o que é visual law e as suas vantagens. VERIFICANDO O APRENDIZADO CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Como se há visto antecedentemente, embora seja um ramo específico e pouco difundido do Direito, a propriedade intelectual, além de possuir base constitucional entre os direitos fundamentais, abrange uma pluralidade de áreas, como direitos autorais, segredos de negócios, entre outros. Nesta senda, as marcas e patentes contam com uma regulamentação detalhada pela LPI, que traz diversas classificações e requisitos para que venha a ser deferido um registro que garantirá a exclusividade do titular em relação a um signo visualmente distintivo ou uma invenção. Por outro lado, face a lei não ser sempre clara quanto aos requisitos, diversas demandas surgem no judiciário. Conseguintemente, na esfera cível as principais demandas judiciais envolvem ações de infração ou nulidade de marcas e patentes. Enquanto ações de marcas costumam ser mais simples, ações de patentes exigem amplo conhecimento técnico, muitas vezes exigindo a nomeação de um perito. Nas ações de infração de ambos os institutos, além do pedido inibitório, é costumeiramente pedido a indenização pelos danos causados. Por fim, e não menos importante, a visual law pretende auxiliar na comunicação efetiva dentro da cultura jurídica, tendo como foco a transmissão da mensagem de forma clara e transparente, de modo que se tenha como foco o destinatário e o que efetivamente precisa ser comunicado. Para tanto, o visual law faz uso de diferentes técnicas visuais para facilitar a absorção e entendimento do conteúdo transmitido. PODCAST Agora, o Professor Felipe Zaltman encerra o conteúdo trazendo suas considerações sobre os assuntos que acabamos de abordar, como as principais características e os princípios do direito da propriedade intelectual, bem como a importância do visual law nos dias atuais. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PROPRIEDADE INTELECTUAL. O que é Propriedade Intelectual? Consultado na internet em: 22 jun. 2021. BARBOSA, Denis Borges (org.) et al. Aspectos polêmicos da propriedade intelectual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004. 203 p. (Coleção Propriedade Intelectual; v. 3). BARBOSA, Denis Borges. Uma introdução à propriedade intelectual. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003. BRASIL. Lei nº 9279, de 14 de maio de 1996. Consultado na internet em: 22 jun. 2021. BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Consultado na internet em: 29 jun. 2021. BRUNSCHWIG, Colette Reine. On Visual Law: Visual Legal Communication Practices and Their Scholarly Exploration (2014). In: SCHWEIHOFER, Erich et al. (eds.). Zeichen und Zauber des Rechts: Festschrift für Friedrich Lachmayer. Bern: Editions Weblaw, 2014. CERQUEIRA, João da Gama. Tratado da Propriedade Industrial, vol. II, Tomo II, Parte III. Atualizado por: Newton Silveira e Denis Borges Barbosa. 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