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AULA 5 – FUNÇÕES DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO 
A neuroanatomia e a fisiologia descritas cedem importantes mecanismos que 
permitem movimentos funcionais da mandíbula. As três grandes funções do 
sistema estomatognático são: 
• Mastigação; 
• Deglutição; 
• Fonação. 
Algumas funções secundárias auxiliam a respiração e a expressão emocional. 
 
MASTIGAÇÃO 
Representa a fase inicial da digestão, quando o alimento é dividido em 
pequenos pedaços para facilitar a deglutição. Por norma, a mastigação é uma 
atividade prazerosa que envolve os sentidos do paladar, olfato e tato. No 
entanto quando o estomago está cheio, um feedback inibe esta sensação de 
prazer. 
A mastigação pode ter um efeito de relaxamento ao diminuir o tónus muscular 
e atividades exaustivas. É um mecanismo neuromuscular complexo que 
envolve músculos, dentes, estruturas periodontais, lábios, língua, palato e 
glândulas salivares. Esta atividade funcional é praticamente involuntária, no 
entanto, pode ser utilizado com controlo voluntário. 
O temporal é o musculo da mastigação mais ativo. O masséter está ativo 
quando há alimento interposto na região molar. 
 
Como se estuda a função mastigatória? 
Kinesiografia – Técnica simples, rápida e precisa que permite estabelecer 
traçados nos 3 planos do espaço para movimentos mastigatórios. Quantifica a 
amplitude e a velocidade dos movimentos. 
Gnatofotografia – Técnica baseada nos princípios fotográficos. Permite 
obter registo dos movimentos mandibulares e possibilita visualizar as 
alterações feitas durante um tratamento reabilitador. Começa em oclusão 
em relação cêntrica, passa a intercuspidação máxima, protrusão, abertura 
máxima e encerramento. Permite, também, avaliar a intensidade dos 
traçados e a dificuldade para realizar movimentos e a amplitude dos mesmos: 
• Traçados intensos – movimentos lentos e difíceis; 
• Traçados ténues – movimentos rápidos e livres. 
 
MOVIMENTO DA MASTIGAÇÃO 
A mastigação é composta por movimentos rítmicos tridimensionais de 
separação e encerramento dos dentes maxilares e mandibulares, numa 
conjugação coordenada de abertura, encerramento, lateralidade, protrusão e 
retrusão da mandíbula, descrevendo um movimento em forma de lágrima. 
Movimento de mordida corresponde à sequencia de abertura e encerramento 
realizado pela mandíbula. 
 O movimento de mastigação dá-se nos 3 planos: 
• Plano frontal descreve duas fases: 
▪ Fase de abertura; 
▪ Fase de encerramento que se subdivide 
em fase de esmagamento e em fase de 
trituração. 
• Plano sagital define o lado de trabalho e o lado 
de não-trabalho 
• Plano horizontal 
Sequencia do movimento de mordida, observando num plano parafrontal: 
Fase de abertura – A partir da posição de intercuspidação, a mandibula desce 
até os bordos incisais dos caninos distanciarem-se por 16-18mm. Daí 
movimenta-se lateralmente 5-6mm da linha média, conforme o encerramento 
toma início. (o movimento é promovido pelos músculos pterigoide lateral 
inferior, pelo digástrico e pela gravidade, sendo a abertura imitada pelos 
supra-hioideus, digástrico e elevadores da mandíbula). 
Fase de encerramento: (Os movimentos de encerramento com alimento 
interposto são efetuados pelos pterigoides contralaterais e pelo temporal e 
masséter ipsilateral quando há contacto dos molares, começa a atividade do 
masséter e pterigoide medial. Sem alimento a atividade é essencialmente do 
temporal) 
• Esmagamento – esta fase segura a comida entre os dentes. Os dentes 
aproximam-se, diminuindo o deslocamento lateral, até ficarem a uma 
distância de 3mm e a mandíbula fica a 3-4mm da linha média. Nesta 
fase , a cúspide bocal dos dentes mandibulares do lado para o qual a 
mandíbula se deslocou vão estar sob as cúspides bocais dos dentes 
maxilares. 
• Trituração – A mandíbula é conduzida pela superfície oclusal dos dentes 
à posição de intercuspidação de origem. Neste processo as cristas 
marginais das cúspides deslizam entre si, triturando o alimento 
Sequencia do movimento de mordida, observando num plano parassagital: 
• Lado de trabalho – seguindo o movimento dum 
incisivo inferior num plano sagital, observa-se 
um movimento ligeiramente anterior na 
descida, seguido de um movimento posterior 
durante o encerramento, terminando num 
ténue movimento anterior. Seguindo o primeiro 
molar inferior ou o côndilo, o movimento é 
muito parecido ao descrito pelo incisivo. 
 
 
• Lado de não-trabalho – Seguindo o primeiro 
molar inferior, este cai da posição de 
intercuspidação quase verticalmente e, na fase 
final do encerramento também descreve uma 
trajetória quase vertical. O côndilo move-se 
anteriormente na abertura e no fechamento 
segue uma trajetória quase idêntica. 
 
CONTACTO DOS DENTES 
Alguns estudos afirmam que os dentes não se contactam durante a 
mastigação devida à interposição do alimento entre os dentes e à resposta 
rápida do sistema neuromuscular. Outros estudos indicam que há contacto, 
sendo este menor quando o alimento é levado à boca, aumentando com cada 
mordida. 
 
 
 
FORÇAS DE MASTIGAÇÃO 
A força máxima de mordida pode ir até aos 443kg, variado de individuo para 
individuo. Estudos mostram que a força é maior nos homens do que nas 
mulheres, é maior quando aplicada por um molar do que mor um incisivo, 
aumenta com a idade até se alcançar a puberdade e que pode ser aumentada 
com prática e exercício. Também varia com as relações esqueléticas faciais 
(pessoas com divergências entre a mandíbula e a maxila têm menor força do 
que pessoas com arcadas dentárias paralelas). 
 
Durante a mastigação, a maior quantidade de força é aplicada pelo primeiro 
molar, sendo que com alimentos mais duros, a mastigação ocorre 
predominantemente na área dos primeiros molares e segundos pré-molares. 
A mordida por indivíduos com próteses totais é apenas ¼ da força de 
indivíduos com dentes naturais. 
 
FUNÇÃO DOS TECIDOS MOLES 
Lábios 
Guiam e controlam os alimentos para o interior da cavidade oral, encerrando 
esta a seguir. Os lábios são essenciais na ingestão de líquidos. 
Língua 
Para além de fornecer o paladar, manuseiam o alimento dentro da cavidade 
oral, distribuindo-o dentro da cavidade. 
A língua inicia o processo de divisão do alimento, pressionando-o contra o 
palato duro. Depois, empurra-o para as superfícies oclusais onde passa a ser 
esmagado e triturado (assume esta função no lado lingual, enquanto que o 
musculo bucinador assume a mesma responsabilidade vestibularmente). 
A língua também limpa os dentes, removendo resíduos de alimento que 
tenham ficado retidos. 
 
 
 
CICLO MASTIGATÓRIO 
A mastigação pode ser encarada como uma função autónoma com um centro 
de controlo subcortical ou como a soma de reflexos, isto é, funciona como um 
sistema complexo de biofeedback com recetores musculares, periodontais e 
mucosos para além do núcleo da mastigação (v par – nervo trigémeo). 
Há 3 etapas sequenciais na mastigação: 
1. Incisão do alimento e reconhecimento: 
a. Abertura obliqua adequada à dimensão do alimento; 
b. Movimentos laterais de encerramento até ao contacto de 
caninos, determinando o lado de trabalho; 
c. Recetores enviam a primeira informação relativa à temperatura, 
dureza e consistência. 
2. Redução do tamanho das partículas: 
a. Movimentos rápidos e amplos; 
b. Esmagamento e redução do alimento; 
c. Ciclos irregulares para análise de eventuais alimentos duros que 
não tenham sido esmagados; 
d. Começam a aparecer ciclos diretos e esquerdos; 
3. Fase de trituração: 
a. Caninos continuam a atuar como guia; 
b. Ciclos tornam-se mais regulares e mais pequenos;c. Trituração por ação dos molares; 
d. As cúspides cruzam-se; 
e. Ação intensa dos masséteres; 
f. Alimentos fibrosos não permitem o contacto dentário; 
g. Regresso à oclusão em relação cêntrica. 
 
DEGLUTIÇÃO 
A deglutição é uma serie de contrações musculares coordenadas que movem 
o bolo alimentar da cavidade oral à parede posterior orofaríngea. Consiste em 
atividade muscular voluntária e involuntária e em reflexo muscular. 
A decisão de deglutição depende do grau de trituração do alimento, da 
intensidade do sabor, do grau de lubrificação do alimento e do estado de 
vigília. 
A presença de bolo alimentar estimula as amígdalas,a úvula, o palato mole, a 
base da língua e as paredes posterior e lateral da faringe e epiglote, 
informando o centro de deglutição (na região central do tronco cerebral) a 
iniciar o processo de deglutição. 
Durante a deglutição, os lábios fecham-se encerrando a cavidade oral e os 
dentes são levados até à sua posição de máxima intercuspidação, 
estabilizando aa mandíbula (a mandíbula deve estar fixa de forma a que a 
contração dos músculos supra- e infra-hioideus possam controlar o 
movimento do osso hioide necessário à deglutição). 
 
Existem dois tipos de deglutição: 
• Deglutição somática – designação da deglutição adulta. 
▪ A mandíbula é estabilizada pelos dentes; 
▪ Ocorre por contração dos músculos mastigadores; 
▪ Inicia-se com a erupção dos dentes posteriores decíduos. 
• Deglutição visceral – designação da deglutição infantil. 
▪ A mandíbula é estabilizada pela interposição da língua entre os 
arcos dentários; 
▪ Baseada num reflexo não condicionado, dirigido pelo nervo 
facial; 
▪ Ocorre por contração dos músculos orbicular dos lábios, 
bucinador e músculos daa língua; 
▪ Ocorre até à erupção dos dentes posteriores. 
A transição da deglutição visceral para a somática pode não acontecer devido 
à falta de suporte dos dentes provocada pela posição incorreta das arcadas ou 
pela posição incorreta dos dentes e pelo desconforto do contacto dentário 
provocado por cáries, sensibilidade dentária ou ma oclusão. 
Como resultado da manutenção da deglutição infantil pode haver 
deslocamento labial dos dentes anteriores provocado pela força da língua 
Músculos da deglutição: 
Músculos principais: 
• Milo-hioideu; 
• Genio-hioideu; 
• Posterior da língua; 
• Palato faríngeo; 
• Constritores da faringe; 
• Tiro hioideu; 
• Crico-tiroideu; 
• Esquelético do esófago. 
Músculos facultativos: 
• Extrínsecos da língua; 
• Faciais; 
• Elevadores da mandíbula. 
 
Fases da deglutição 
Primeira fase – fase oral 
• É uma fase voluntária e inicia-se com divisão seletiva do alimento numa 
massa ou bolo alimentar. O tónus muscular é mantido e observam-se 
movimentos mandibulares e linguais. 
• Esta separação é feita essencialmente pela língua. O bolo alimentar é 
colocado no dorso da língua e é pressionado contra o palato duro. A 
língua apoia-se no palato duro atrás dos incisivos, os lábios fecham-se e 
os dentes estão em contacto. Inicia-se uma onda reflexa de contração 
na língua que conduz o bolo alimentar posteriormente, ficando retido 
pela protuberância anterior do palato, evitando que desliza para a 
orofaringe. 
• O bolo é trazido para a parte de trás da língua pelos músculos milo-
hioideu, constritores faríngeos, pelo selamento da nasofaringe e por 
ação peristáltica. 
Segunda fase – fase faríngea: 
• É consciente, mas voluntária. Há elevação do osso hioide, do palato 
mole e do paciento na boca, 
• Uma onda peristáltica causada pelos constritores faríngeos conduz o 
bolo alimentar ao esófago. Palato mole sobe, tocando na parede 
faríngea posterior fechando a passagem nasal e interrompendo a 
respiração. Nesta fase, a atividade muscular faríngea abre os orifícios 
faríngeos dos tubos de Eustáquio que se encontram normalmente 
fechados. 
• A mandíbula adota uma posição de máxima intercuspidação. Há 
encerramento da epiglote e das cordas vocais. A epiglote bloqueia a 
passagem de ar faríngea até à traqueia e mantém o bolo alimentar no 
esófago. 
 
 
Terceira fase – fase esofágica: 
• Consiste na passagem do bolo alimentar ao longo do esófago até ao 
estômago por ondas peristálticas. 
• O palato mole relaxa, a laringe baixa, a epiglote abre, a língua move-se 
para a frente e a mandíbula volta à posição de repouso. 
• À medida que o bolo alimentar se aproxima do esfíncter da cárdia, este 
relaxa deixando o bolo entrar no estômago. 
Os músculos na porção superior do esófago são principalmente voluntários e 
podeser usados para devolver o alimento à boca quando necessário. Os 
músculos na porção inferior são totalmente involuntários. 
 
Frequência da deglutição 
Em 24 horas decorrem 590 ciclos de deglutição: 
• 146 durante as refeições; 
• 394 entre as refeições; 
• 50 durante o sono, 
 
FONAÇÃO 
A fonação ocorre quando uma massa de ar é forçada dos pulmões através da 
laringe e da cavidade oral, por ação da contração do diafragma. Ocorre na fase 
expiratória da respiração, pois esta é longa, permitindo a formação de frases 
ininterruptamente. A inspiração é feita entre frases ou nas pausas. 
O som com a tonalidade desejada é criada pela contração e relaxamento 
controlados das cordas vocais. A ressonância e articulação exata do som são 
determinados após a tonalidade produzida pela forma precisa articulada na 
boca. 
A precisão do som é elaborada pela laringe e pelas cavidades oral e nasal. 
Os músculos responsáveis são o elevador do palato, o palato-faríngeo e 
constritor superior da faringe. Não há contacto dentário. 
A articulação de palavras inicia-se com 1 ano e o mecanismo de fala fica 
desenvolvido aos 7/8 anos de idade. 
 
Articulação do som 
 
A articulação de sons obtém-se pela variação de posições dos lábios e da 
língua no palato e nos dentes, possibilitando uma variedade de sons.: 
• M, B e P – Formados pelos lábios ao se juntarem, tocando-se; 
• S – Formado pela passagem de ar entre os bordos incisais dos incisivos, 
próximos entre si sem que estes se toquem; 
• D – Quando pela ponta da língua quanto esta toca no palato 
posteriormente aos incisivos superiores; 
• Th – Formado pela língua quando esta toca nos incisivos superiores; 
• F e V – Formado quando o lábio inferior toca nos bosdor incisais dos 
incisivos superiores; 
• K e G – formados quando a porção posterior da língua se eleva até 
tocas no palato mole. 
 
Durante a fala não ocorre contacto dentário. Caso um dentemal posicionado 
contacte um antegonista durante a fala, estímulos sensoriais do dente e do 
ligamento periodontal são enviados para o SNC que altera imediatamente o 
modo de fala por vias nervosas aferentes. 
Quando o mecanismo da fala se encontra totalmente desenvolvido, o controlo 
neuromuscular torna-se essencialmente inconsciente, sendo a fala 
considerada um reflexo aprendido. 
 
RESPIRAÇÃO 
Está coordenada com a mastigação, deglutição e oclusão. Nunca é 
interrompida durante a mastigação, mas é durante a deglutição. 
 
O que impede a passagem de alimentos para as vias respiratórias? 
• Pregas vocais vestibulares e cordas vocais unem-se; 
• Laringe eleva-se; 
• Epiglote cobre a laringe; 
Em caso de falha, há tosse. 
 
Controlo respiratório 
É normalmente involuntário, podendo ser voluntário como na obstrução nasal, 
em que o encerramento dos lábios e impossível e os movimentos de 
mastigação alteram-se, adotando-se o mecanismo de deglutição infantil. 
 
Respiração bucal 
É causado por: 
• Passagem nasofaríngea estreita, associada a uma membrana nasal 
inflamada; 
• Adenoides; 
• Cornetosinflamados; 
• Desvio do septo nasal. 
Consequências: 
• Ausência de contacto entre a língua e o palato 
• Lábios separados.

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