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AULA-INTRODUCAOAODIREITO

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CONCEITO DE DIREITO
Prof. Luiz Henrique Boselli de Souza
A palavra direito deriva do latim: directum. 
No Direito Romano, o vocábulo utilizado para exprimir o direito era outro: jus-juris, da raiz sânscrita ju, de onde provém jungere (jungir, atrelar). Mas, enquanto a expressão romana externava com oportunidade a idéia de jugo, isto é, do vínculo que o direito cria entre as pessoas, o designativo directum traz consigo a metáfora de que o direito deve ser uma linha reta, exatamente conforme com a regra. Assim, fundamentalmente, é direito aquilo que está conforme com as leis. 
Acepções: direito como o justo; regra de direito; poder de direito; sanção de direito. Vejamos:
a) o direito como o que é justo: os jurisconsultos romanos já ensinavam que jus est a justitia appellatum, isto é, que o direito provém da justiça. A criação do direito não tem e não pode ter outro objetivo senão a realização da justiça. No ensinamento de Aristóteles, aperfeiçoado pela filosofia escolástica, a justiça é a perpétua vontade de dar a cada um o que é seu, segundo uma igualdade. Assim, a regra de direito, ao conferir um poder de direito, só será direito propriamente dito na medida em que atribuir às pessoas atingidas faculdades e obrigações que, por natureza, lhes sejam próprias. Noutras palavras, na medida em que atender ao direito justo (ex: atribuir o poder familiar ao filho sobre o pai e não ao pai sobre o filho; isso pode ser regra, mas não uma regra justa). 
b) regra de direito e poder de direito: regra de direito, na acepção ampla, é a ordem social obrigatória estabelecida para regular a questão do meu e do seu. Constitui uma imposição da natureza das coisas, e historicamente veio surgindo e aperfeiçoando-se gradativamente como fator indispensável ao convívio social. 
c) sanção de direito: discute-se se existe ou não direito sem sanção, isto é, sem a força do poder público ou dos grupos sociais que o torna obrigatório. Parece que a sanção não é da essência do direito, porque não é ela que o torna justo ou injusto. Mas é da sua natureza ter sanção, sem o que o direito seria inatuante.
d) conceito: “Direito é o conjunto das regras sociais que disciplinam as obrigações e poderes referentes à questão do meu o do seu, sancionadas pela força do Estado e dos grupos intermediários” (Limongi França, Instituições, pag 7).
No conceito acima encontram-se os quatro aspectos fundamentais do Direito: a) é conjunto de regras sociais:
b) que disciplinam as obrigações e poderes;
c) o direito como o justo (referentes às questões do meu e do seu);
d) a sanção de direito (sancionadas pela força do Estado e dos grupos intermediários).
 
- segundo Kant, os juristas ainda continuam à procura do seu conceito de direito: É de Radbruch, contudo, a mais singela das definições: “o conjunto das normas gerais e positivas, que regulam a vida social” (apud Washington de Barros Monteiro, Curso de Direito Civil, parte geral, pag. 1).
 
Distinção entre o direito e a moral 
Moral e direito são normas de conduta, que têm um momento de incidência comum, mas que se diferenciam, quer em razão do campo de ação, quer no tocante à intensidade da sanção que acompanha a norma, quer no alcance ou nos efeitos desta.
Serpa Lopes indica os principais pontos de diferença entre uma e outro: 
a) a apreciação da moral se projeta sobre o campo individual, nas relações do homem consigo próprio, enquanto o direito se projeta sobre as relações do homem com os seus semelhantes; 
b) o direito é amparado pela sanção estatal. Se é desobedecido, pode receber o amparo da autoridade pública, ao passo que a moral tem como sanção unicamente a própria consciência do indivíduo; 
c) enquanto a moral, muitas vezes, abrange obrigações não atingidas pelo Direito, pois que este não tem por objetivo a perfeição moral, senão pura e simplesmente o padrão médio do bonus pater familias, por outro lado o Direito se distende com as suas normas a um campo absolutamente estranho à Moralr como certas normas de caráter puramente econômico ou de outras espécies de natureza amorfa, como o regulamento de tráfego e tudo quanto se funda sobre a utilidade social; 
d) a moral afeta a paz interior, enquanto o Direito a exterior; 
e) a moral não tem valia para quem não a aceita, ao passo que o Direito se impõe, mesmo em face daquele que porventura o ignorar, embora, em determinadas circunstâncias, se admita o erro de direito. 
Em suma, embora não se confundam os campos da moral e do direito, é indiscutível a existência de um entrelaçamento entre ambos. Na verdade, as normas morais tendem a converter-se em normas jurídicas, como sucedeu com o dever do pai de zelar pelo filho.
DIREITO OBJETIVO E DIREITO SUBJETIVO
O fenômeno jurídico, embora seja um só, pode ser encarado sob mais de um ângulo. Encarado como um conjunto de normas que a todos se dirige e a todos vincula, temos o direito objetivo. 
Encarada como prerrogativa que para o indivíduo decorre da norma, tem-se o direito subjetivo. É a faculdade conferida ao indivíduo de invocar a norma a seu favor, ou seja, a faculdade de agir sob a sombra da regra.
Direito objetivo é a regra de direito, a regra imposta ao proceder humano, a norma de comportamento a que o individuo deve se submeter, o preceito que deve inspirar sua atuação. É o direito enquanto regra e a cuja observância o indivíduo pode ser compelido mediante coação. 
Direito subjetivo é poder. São as prerrogativas de que uma pessoa é titular, no sentido de obter certo efeito jurídico, em virtude da regra de direito. A expressão designa uma faculdade reconhecida à pessoa pela lei e que lhe permite realizar determinados atos. 
 O direito de propriedade, assegurado pela Constituição, é preceito de direito objetivo, dirigido a todos, indistintamente. A prerrogativa que dele decorre, para o titular do domínio, de invocar a norma, na defesa de seu interesse, é o direito subjetivo do proprietário. 
A norma de direito objetivo garante a posse. Assim, se o possuidor for turbado ou esbulhado em sua posse, tem a prerrogativa de ser nela mantido, ou reintegrado. Temos, assim, de um lado o preceito de direito objetivo, que se dirige a todos. De outro, a prerrogativa individual, isto é, a faculdade conferida ao possuidor de invocar a seu favor e na defesa de seu interesse o preceito geral, o direito subjetivo.
DIREITO POSITIVO E DIREITO NATURAL
O direito pode ser concebido sob uma forma abstrata, um ideal de perfeição. Os homens estão perenemente insatisfeitos com a situação em que se encontram e sua reação é melhorá-la cada vez mais. Assim, o direito positivo é o ordenamento jurídico em vigor num determinado país e numa determinada época;
o direito natural é o ordenamento ideal, correspondente a uma justiça superior e suprema. É o direito que advém da própria natureza do homem.
Realmente, não se pode deixar de reconhecer a existência de uma lei anterior e superior ao direito positivo. Leis existem que, apesar de não escritas, são indeléveis, jamais se apagam. Sobre elas descansa a vida das comunidades. Elas ordenam o respeito a Deus, o respeito à liberdade e aos bens, a defesa da pátria, e constituem as bases permanentes e sólidas de toda legislação. 
Aristóteles, estudando as leis de mais de quinhentas cidades, concluiu pela existência de certo Direito adotado invariavelmente pelos diversos povos, a par de outro, especial a cada um: “Existe, de um lado, a lei particular, e, de outro, a comum: a primeira varia conforme os povos e se define de modo relativo a eles, seja ela escrita ou não escrita; a lei comum é aquela que é conforme a natureza” (Retórica, I, XIII, 2) . 
Assim, representa o direito natural o conjunto de princípios ideais preexistentes e dominantes, universal e eterno, realizando o legislador obra má e injusta, sempre que dele se afasta. Segundo Lafayette, o direito natural é o princípio regulador do direito positivo, o ideal para o qual este sempre tende e doqual tanto mais se aproxima quanto mais se aperfeiçoa. 
DIREITO PÚBLICO E DIREITO PRIVADO 
- direito objetivo subdivide-se em direito publico e direito privado. Direito público é o destinado a disciplinar os interesses gerais da coletividade. A ele compete a organização do Estado (Direito Constitucional); a disciplina de sua atividade na consecução de seus fins políticos e financeiros, cuidando da hierarquia entre seus órgãos, das relações com seus funcionários etc. (Direito Administrativo); a distribuição da Justiça (Direito Judiciário); a repressão aos delitos (Direito Penal). Também pertencem ao ramo do direito público o direito do trabalho, o direito internacional, direito tributário, direito processual. 
- direito privado é o conjunto de preceitos reguladores das relações dos indivíduos entre si. Regula as relações entre os homens, tendo em vista o interesse particular dos indivíduos, ou a ordem privada: as obrigações que se estabelecem de indivíduo para indivíduo, quer oriundas do contrato, quer derivadas do delito, quer provenientes da lei; os direitos reais sobre coisas próprias, ou seja, o domínio, e os direitos reais sobre coisas alheias (superfície, servidões, usufruto, uso, habitação etc.); e ainda as questões que se ligam à transmissão da propriedade causa mortis. 
Subdivide-se o direito privado em:
direito civil, disciplinando a atividade dos particulares em geral;
direito comercial, disciplinando a atividade das pessoas comerciantes. 
Em regra, as normas de direito público são cogentes ou indisponíveis, isto é, as partes não podem delas dispor, convencionar de modo a não aplicá-las, enquanto que as de direito privado são dispositivas, isto é, a relação é dominada pela vontade privada, que pode dispor de modo diferente do previsto pelo legislador. 
FORMAS DE EXPRESSÃO DO DIREITO (“FONTES”) 
As formas de expressão do Direito são os modos pelos quais o direito se exterioriza. É a roupagem de que se reveste para vir à tona dos fatos da vida. 
Há uma forma fundamental, que é a lei. Todas as demais são formas complementares/supletivas: a analogia, o costume, a jurisprudência, a doutrina e os princípios gerais de direito.
O art. 4º da ) Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei 4657/42 assim dispõe: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito”. 
A LEI 
A lei é forma fundamental de expressão do Direito.
É através dela que o Estado inova na ordem jurídica, criando direitos e obrigações.
A Constituição Federal, na própria declaração de direitos, assevera que "ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei" (CF, art. 5º, inc. II: princípio da leqalidade). 
O art. 4º da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro prescreve que somente quando a lei for omissa é que se aplicarão os outros modos suplementares de expressão do Direito. Portanto, a lei é quem nos dá as linhas básicas do sistema e, além disso, é nela que encontramos a grande maioria das soluções dos problemas jurídicos. 
Para Washington de Barros Monteiro, a lei "é um preceito comum e obrigatório, emanado do poder competente e provido de sanção” (ob. cit., pag. 13). 
- é um preceito, isto é, norma, regra de proceder; 
- comum, porque se dirige indistintamente a todos os membros da coletividade, sem exclusão de ninguém. 
- obrigatório: ela ordena, não exorta, nem teoriza. Ninguém se subtrai ao seu tom imperativo e ao seu campo de ação. 
 -emanado do poder competente: se provier de órgão incompetente, perde obrigatoriedade e, portanto, deixa de ser direito. Esse poder é o poder legislativo, em âmbito federal, pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal (CF, art. 44); em âmbito estadual pelas Assembleias Legislativas; e nos Municípios pelas Câmaras Municipais.
- provido de sanção (no sentido de coação): a sanção é elemento inseparável do direito e atua de modo direto, constrangendo o indivíduo a fazer o que a lei determina. 
Elaboração da Lei
Constituição Federal:
Art. 65. O projeto de lei aprovado por uma Casa será revisto pela outra, em um só turno de discussão e votação, e enviado à sanção ou promulgação, se a Casa revisora o aprovar, ou arquivado, se o rejeitar.
Parágrafo único. Sendo o projeto emendado, voltará à Casa iniciadora.
Art. 66. A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de lei ao Presidente da República, que, aquiescendo, o sancionará.
§ 1º - Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto.
§ 2º - O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea.
§ 3º - Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do Presidente da República importará sanção.
§ 4º O veto será apreciado em sessão conjunta, dentro de trinta dias a contar de seu recebimento, só podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados e Senadores. 
§ 5º - Se o veto não for mantido, será o projeto enviado, para promulgação, ao Presidente da República.
§ 6º Esgotado sem deliberação o prazo estabelecido no § 4º, o veto será colocado na ordem do dia da sessão imediata, sobrestadas as demais proposições, até sua votação final. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)
§ 7º - Se a lei não for promulgada dentro de quarenta e oito horas pelo Presidente da República, nos casos dos § 3º e § 5º, o Presidente do Senado a promulgará, e, se este não o fizer em igual prazo, caberá ao Vice-Presidente do Senado fazê-lo.
Obs: O poder executivo colabora na confecção da lei através da sanção, da promulgação e da publicação. Sanção é o ato pelo qual o executivo manifesta sua aquiescência à lei elaborada pelo legislativo. Se não concordar com a lei, pode vetá-la. A lei só se torna obrigatória depois de sancionada, promulgada (promulgação é o ato pelo qual o chefe de Estado atesta perante o corpo social a existência da lei, ordenando-lhe o respectivo cumprimento) e publicada (publicação é o meio adotado para tornar a lei conhecida). 
ANALOGIA
A analogia consiste em aplicar a um caso não previsto uma norma legal que contemple hipótese análoga.
Tem fundamento na igualdade de tratamento. Onde existem as mesmas razões, o tratamento deve ser o mesmo.
Ex: uma lei que discipline a responsabilidade das companhias de estrada de ferro pelos danos causados à bagagens e a passageiros, pode, por analogia, ser aplicada a todas as espécies de transporte terrestre se não houver lei própria para estas.
COSTUME
Também designado pelas expressões usos e costumes, direito costumeiro ou direito consuetudinário. 
Limongi conceitua o costume como “a regra aceita como obrigatória pela consciência do povo, sem que o poder público a tenha estabelecido”(pag. 14). 
Costume é a prática uniforme, constante, pública e geral de determinado ato, com a convicção de sua necessidade (W.Barros Monteiro). 
Ele é composto de dois elementos:
O uso ou prática reiterada de um determinado comportamento;
A convicção de sua obrigatoriedade (elemento interno ou psicológico cultivado pela sociedade ou ao menos mantida por uma categoria de pessoas)
Ex: cheque pré-datado
DOUTRINA (ou Direito Científico) 
Segundo Limongi França, direito científico ou doutrina é o resultado das indagações e pesquisas dos cientistas do Direito. Seu valor como fonte do direito é inegável, pois é absolutamente necessário à integração do sistema. 
O direito científico é constituído pelo conjunto orgânico dos resultados das indagações dos profissionais do Direito, suas lições, opiniões, especialmente daqueles que se dedicaram à respectiva pesquisa. 
Obs: alguns autores nãoconsideram a doutrina como fonte do direito, mas tendência é aceitá-la, devido a sua importância na integração das normas jurídicas.
JURISPRUDÊNCIA
Jurisprudência é o conjunto de pronunciamentos do Poder Judiciário, num determinado sentido, a respeito de certa questão jurídica, de modo constante, reiterado e pacífico (Limongi, Instituições, pag. 16). 
A jurisprudência é fonte do direito na medida em que se reveste das características de uma pratica ou costume judiciário. E isto se dá com a aceitação comum, reiterada e pacífica de uma tese jurídica por parte dos tribunais.
A jurisprudência dominante de uma determinada Corte pode vir expressa na forma de um verbete, que são as chamadas “súmulas”.
Não se admite a jurisprudência contra legem (contrária à lei), o que importaria em atribuir função legiferante a um órgão jurisdicional.
Diversificam profundamente os sistemas jurídicos contemporâneos quanto ao seu valor.
Obs: a prevalência das fontes do direito varia entre os sistemas jurídicos adotados pelos países.
Para o sistema anglo-saxão (ex: Inglaterra e Estados Unidos), a common law, o direito se revela muito mais pelos usos e costumes e pelos precedentes judiciais do que pela lei. É, por isso, um direito costumeiro e jurisprudencial. 
Já no sistema chamado “romanístico” (Brasil e maioria dos países da Europa, como Itália, França, Espanha, Portugal), a fonte primordial do direito é a lei, com atribuição de valor secundário às demais fontes (que atuarão basicamente na ausência da lei).
PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO 
São princípios que se encontram na consciência dos povos e são universalmente aceitos, mesmo que não escritos (Carlos Roberto Gonçalves).
São regras de caráter genérico que orientam a compreensão do sistema jurídico, sua aplicação e integração.
Muitos, pela sua importância, passaram a integrar o direito positivo, isto é, foram incorporados pela leis, como, por exemplo, “ninguém pode lesar a outrem” (C. Civil, art. 186); “não se admite escusa de não cumprimento da lei por desconhecimento” (art. 3º da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro):
Art. 3o Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.
Outros estão implícitos, como “a boa-fé se presume”, “ninguém pode transferir mais direitos do que tem”.
CODIFICAÇÃO
O legislador, após transformar os costumes em leis, passa a ter a ambição de reunir em um só texto todo o direito em vigor.
Essa idéia é antiga: códigos de Hamurabi, de Justiniano, Napoleão, de 21.03.1804; Código Civil alemão (01.01.1900), que influenciou os códigos japonês e chinês; código suíço, de 1907;
DIREITO E ECONOMIA
Podemos dizer que direito e economia mantém uma “interação dialética” (conforme expressa Miguel Reale), ao invés de pensar que um se sobrepõe ao outro.

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