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PREFÁCIO O Projeto Biomecânica Aplicada nasceu como um fruto da colaboração estabelecida entre o Laboratório de Biomecânica da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo, EEFE-USP, e o Programa de Educação Tutorial da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo, PET-EEFE, tendo sido inspirado na disciplina de Biomecânica Aplicada da EEFE-USP, ministrada, anualmente, pelo Profº Drº Júlio Cerca Serrão. Além disso, contamos também com a tutoria do Profº Drº Luciano Basso, responsável pelo PET-EEFE. Vale mencionar que este trabalho teve, inicialmente, apoio financeiro do Programa de Estímulo ao Ensino de Graduação – Monitoria (PEEG) da USP, e, posteriormente, da Secretaria de Educação Superior (SESu), do Ministério da Educação (MEC). Por fim, destaco que meu objetivo com o presente projeto será o de divulgar, de forma bastante acessível, conhecimentos muito ricos sobre Biomecânica Aplicada, buscando, com isto, auxiliar não só estudantes de educação física em sua formação e atuação, como também educar o público leigo interessado em atividade física e esporte. Desejo a todos uma excelente leitura! SOBRE O AUTOR O Professor Fernando Ernesto Paiotti Bimonti é Bacharel em Educação Física pela Escola de Educação física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE- USP), Mestrando em Biomecânica pela EEFE-USP e Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito Largo São Francisco da Universidade de São Paulo. É especializado em Fisiologia e Biomecânica do exercício, tendo realizado pesquisas na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, em Portugal, como bolsista da USP e na Universidade de Tsukuba, no Japão, como bolsista do Ministério da Educação japonês. Conta com mais de 15 anos de experiência em musculação e atua como Personal Trainer, consultor online em musculação e em corrida e é autor do site ensinandomusculacao.blogspot.com.br. CURSOS ADVANCED BODYBUILDING AND FITNESS TRAINER SPECIALIST – pela IFBB (Federação Internacional de Fisiculturismo). ADVANCED NUTRITION SPECIALIST – pela IFBB (Federação Internacional de Fisiculturismo). PREMIAÇÕES - 1º colocado no vestibular da FUVEST para o curso de EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE. - Vencedor de bolsa de primeiro lugar, no valor de R$20.000,00, do Programa de Bolsas de Mobilidade Internacional Santander e Mérito Acadêmico USP, para realização de Estágio de Pesquisa no Exterior (Laboratório de Biomecânica da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Portugal). - Vencedor de bolsa de primeiro lugar, no valor de ¥80.000, do Programa de Bolsas de Mobilidade Internacional da Universidade de Tsukuba, Japão, para participação no International Development through Sport, na Tsukuba Summer Institute, 2018. - Vencedor do “Prêmio de Melhor Aluno” da ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – EEFE/USP, concedido ao melhor aluno da Universidade no ato da colação de grau. CONTATO: fernando.paiotti@gmail.com SUMÁRIO CAPÍTULO I - A BIOMECÂNICA DA MARCHA ........................................................................ 10 1. AS FORÇAS DE REAÇÃO DO SOLO NA MARCHA ................................................................................ 10 2. QUAL A DIFERENÇA ENTRE MARCHA E CORRIDA? ............................................................................ 11 3. O MOMENTO DE DUPLO APOIO E O ACÚMULO DE ENERGIA ........................................................... 11 4. TODOS PODEM FAZER CAMINHADA? O PROBLEMA DOS IDOSOS E DOS OBESOS ........................... 12 4.1. CAMINHADA PARA IDOSOS........................................................................................................ 13 4.2. CAMINHADA PARA OBESOS ....................................................................................................... 14 5. CONCLUSÃO ....................................................................................................................................... 17 6. BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................... 17 CAPÍTULO II - A BIOMECÂNICA DA CORRIDA ....................................................................... 19 1. A CORRIDA E AS FORÇAS DE REAÇÃO DO SOLO ................................................................................ 19 2. CORRIDA Vs. MARCHA ....................................................................................................................... 20 3. CORRIDA E OS IMPRESSIONANTES ÍNDICES DE LESÃO ...................................................................... 20 4. POR QUE TANTAS PESSOAS SE LESIONAM PRATICANDO CORRIDA? ................................................ 21 4.1. VOLUME DE TREINAMENTO ...................................................................................................... 22 4.2. INTENSIDADE DE TREINAMENTO ............................................................................................... 23 4.2.1. GEOMETRIA DE COLOCAÇÃO DE PÉ ................................................................................... 23 4.2.2. VELOCIDADE ....................................................................................................................... 25 4.2.3. FADIGA ............................................................................................................................... 25 5. COMO AUMENTAMOS A VELOCIDADE DE CORRIDA? ....................................................................... 26 6. QUAIS MÚSCULOS DEVEMOS FORTALECER PARA MELHORAR O DESEMPENHO NA CORRIDA? ...... 27 7. TREINANDO POTÊNCIA PARA MELHORAR O DESENPENHO NA CORRIDA ......................................... 29 8. CORRER DE CANELEIRAS NOS PÉS VAI ME DEIXAR MAIS RÁPIDO? ................................................... 31 9. CURIOSIDADES ................................................................................................................................... 32 10. CONCLUSÃO ..................................................................................................................................... 33 11. BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................. 33 CAPÍTULO III – A BIOMECÂNICA DO SALTO ......................................................................... 35 1. O SALTO E A SOBRECARGA ................................................................................................................ 35 2. REDUZINDO A SOBRECARGA NO SALTO – O QUE FUNCIONA ........................................................... 37 2.1. DESACELERAÇÃO ........................................................................................................................ 38 2.2. FORÇA ........................................................................................................................................ 38 2.3. SINCRONIA ................................................................................................................................. 38 2.4. PRÉ-ATIVAÇÃO ........................................................................................................................... 39 3. REDUZINDO A SOBRECARGA NO SALTO – O QUE NÃO FUNCIONA ................................................... 39 4. ANÁLISE DINÂMICA DO SALTO .......................................................................................................... 40 5. QUAIS FATORES FAZEM COM QUE UM SALTO SEJARUIM? .............................................................. 41 6. TREINANDO SALTOS COM PLIOMETRIA............................................................................................. 42 7. CONCLUSÃO ....................................................................................................................................... 45 8. BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................... 45 CAPÍTULO IV - QUAL É A IMPORTÂNCIA DO CALÇADO ESPORTIVO NA CORRIDA? ................ 47 1. UMA BREVE INTRODUÇÃO SOBRE O CALÇADO ESPORTIVO ............................................................. 47 2. O CALÇADO REDUZ O IMPACTO DA CORRIDA? É MELHOR QUE CORRER DESCALÇO? ..................... 48 3. USAR O CALÇADO MINIMALISTA É SEGURO? E CORRER DESCALÇO? ............................................... 51 4. COMO ESCOLHER UM BOM CALÇADO ESPORTIVO? ......................................................................... 52 4.1. QUALIDADE DO CALÇADO .......................................................................................................... 52 4.2. CALÇADO FALSIFICADO .............................................................................................................. 53 4.3. SENTIMENTO/SENSAÇÃO ........................................................................................................... 54 5. O PROBLEMA DA PRONAÇÃO E DA SUPINAÇÃO ............................................................................... 55 6. O CALÇADO PODE MELHORAR NOSSO DESEMPENHO ESPORTIVO? ................................................. 56 7. E OS CALÇADOS ESPECÍFICOS DAS MODALIDADES ESPORTIVAS? SERVEM PARA ALGO? ................. 57 8. CONCLUSÃO ....................................................................................................................................... 58 9. BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................... 59 CAPÍTULO V – COLÓQUIOS SOBRE A BIOMECÂNICA DA NATAÇÃO ...................................... 60 1. A FORÇA DE ARRASTO ....................................................................................................................... 60 A) ARRASTO DE SUPERFÍCIE .............................................................................................................. 60 É possível contornar este problema ................................................................................................. 60 B) ARRASTO DE FORMA .................................................................................................................... 61 É possível contornar este problema do arrasto de forma ................................................................ 61 C) ARRASTO DE ONDA ....................................................................................................................... 61 CAPÍTULO VI - A BIOMECÂNICA DO ALONGAMENTO .......................................................... 62 1. O QUE É ALONGAMENTO? ................................................................................................................ 62 2. ALONGAMENTO VS. AQUECIMENTO ................................................................................................. 62 3. TIPOS DE ALONGAMENTO ................................................................................................................. 63 4. O ALONGAMENTO COMO VILÃO DO TREINAMENTO DE FORÇA ...................................................... 64 A) PERDENDO FORÇA ........................................................................................................................ 64 C) ALONGAMENTOS PARA MELHORAR A DOR MUSCULAR TARDIA E A RECUPERAÇÃO? ................ 66 D) HIPERMOBILIDADE ....................................................................................................................... 66 5. O ALONGAMENTO COMO UMA IMPORTANTE FERRAMENTA NO TREINAMENTO DE FORÇA .......... 67 A) MELHORANDO PERFORMANCE E FORÇA COM ALONGAMENTOS BALÍSTICOS ........................... 67 B) MELHORANDO A EXECUÇÃO DOS EXERCÍCIOS ATRAVÉS DE ALONGAMENTOS ESTÁTICOS ........ 67 6. BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................... 68 CAPÍTULO VII - A BIOMECÂNICA DO TREINAMENTO FUNCIONAL ........................................ 69 1. O QUE É ESTE MEIO DE TREINAMENTO FUNCIONAL? ....................................................................... 69 2. O TREINAMENTO FUNCIONAL AUMENTA A ATIVAÇÃO MUSCULAR? ............................................... 70 3. QUAIS OUTRAS VANTAGENS O TREINAMENTO FUNCIONAL POSSUI? .............................................. 72 4. PARA QUEM ELE É INTERESSANTE? ................................................................................................... 73 5. BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................... 74 CAPÍTULO VIII - A BIOMECÂNICA DO CROSSFIT ................................................................... 75 1. O QUE É ESTE MEIO DE TREINAMENTO? ........................................................................................... 75 2. ELE FUNCIONA? ................................................................................................................................. 75 3. BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................... 79 CAPÍTULO IX - DISCUSSÕES SOBRE ERGONOMIA ................................................................. 80 BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................................ 82 9 10 CAPÍTULO I - A BIOMECÂNICA DA MARCHA Neste capítulo, iremos discutir uma das atividades que você mais realizou em sua vida: a caminhada. Contudo, por questões de nomenclatura técnica, ela será aqui tratada através do termo marcha. Dentre os assuntos que iremos discutir, temos: a biomecânica da marcha, a sobrecarga que ela gera em nosso aparelho locomotor, quais impactos ela poderá gerar em alguns grupos populacionais, com destaque para idosos e obesos, além de algumas estratégias de treino. Boa leitura! 1. AS FORÇAS DE REAÇÃO DO SOLO NA MARCHA Essa discussão é um pouco complexa, pois envolve análise gráfica, porém, ela é essencial, para que o leitor tenha noção de onde tirarei as informações que utilizarei para justificar os temas deste capítulo. Sendo assim, tentarei fazê-la da maneira mais indolor possível. Observem o gráfico abaixo, obtido por uma análise de forças de reação do solo na marcha, e reparem que nele temos dois picos e um vale, parecendo as corcovas de um camelo: O primeiro destes dois picos é chamado de pico passivo e representa o impacto que levamos quando colocamos o calcanhar no solo. Posto isto, a força começa a cair, pois estamos dobrando o joelho e descendo o corpo, e, de repente, ela sobe novamente, 11 criando o segundo pico, dessa vez, de propulsão, afinal, como estamos andando, estamos nos propulsionando para frente. Posto isto, o gráfico acaba quando retiramos o hálux (dedão) do solo, pois, como o pé já não está mais no chão, ele não está mais recebendo forças de reação em relação a ele. Tenham em mente que tudoisto representou as forças trocadas com o solo por apenas UM de nossos pés, durante um tempo médio de 700 milissegundos. Como a marcha é contínua, tirando e colocando o pé no chão, esse gráfico vai se repetindo cíclica e continuamente enquanto a ação perdurar. Para encerrarmos, reparem que coloquei uma linha de peso corporal no gráfico para nos ajudar a entender algumas coisas: a primeira é que o impacto que levamos no calcanhar, quando colocamos o pé no chão, é um pouco maior que nosso peso corporal (PC), ficando em torno de 1,2 a 1,5 vezes acima dele. Por outro lado, na fase de propulsão, a força também é acima do nosso peso, uma vez que queremos empurrar nosso corpo para frente. 2. QUAL A DIFERENÇA ENTRE MARCHA E CORRIDA? A diferença é o chamado “duplo apoio”, que só ocorre na marcha e é representado pelo momento onde estamos com os dois pés no chão. Na corrida, isto não acontece, pois apenas um de nossos pés faz contato com o solo de cada vez. Tenha em mente que a diferença entre correr e caminhar NÃO É A VELOCIDADE! Caso você caminhe muito rápido ou corra muito devagar, esses padrões de apenas um ou em algum momento os dois pés terem contato com o solo continua sendo preservado. E por que estou insistindo nisso? Porque faz muita diferença no impacto que damos em nosso aparelho locomotor, em estruturas como joelhos e tornozelos, quando estamos correndo ou caminhando. Não é à toa que tantas pessoas se lesionam por praticarem corrida sem adequado planejamento, porém, aguardem, haja vista que isto será assunto do próximo capítulo. 3. O MOMENTO DE DUPLO APOIO E O ACÚMULO DE ENERGIA Voltando ao momento de duplo apoio, ele representa a fase onde temos a maior estabilidade, o maior equilíbrio, pois nosso centro de gravidade se encontra dentro de uma área grande de apoio, por isso é mais difícil cairmos quando estamos com os dois pés no chão do que quando com apenas um. 12 Por curiosidade, no gráfico que vimos no item 1 deste capítulo, eu mostrei que há um vale/depressão, que seria o momento entre os dois picos. Esse intervalo, que representa a fase de deflexão, onde simplesmente deixamos nosso corpo cair, flexionando os joelhos, representa o duplo apoio. Bom, “mas por que fazemos isto?”, talvez o leitor esteja se perguntando, e o motivo é muito simples: para acumularmos energia! Ocorre que este foi um padrão selecionado pela natureza há milhares e milhares de anos atrás, quando andávamos dezenas de quilômetros todos os dias em busca de alimento. Se gastássemos muita energia para andar, a menos que tivéssemos fartura de alimentos, o que não era o caso, estaríamos todos mortos, pois gastaríamos tanta energia que nem a comida daria conta de repor. Sendo assim, um padrão de marcha econômico foi selecionado como ideal, sendo, na prática, mostrado por essa fase onde deixamos o corpo cair, flexionamos os joelhos, acumulando energia nos músculos dos membros inferiores, e a devolvemos na forma de propulsão para andar, economizando, assim, combustível. Tenha em mente que tudo isto acontece muito rápido e você não vai enxergar as pessoas caindo e subindo como se estivessem dançando reggae por aí! Isto é verificado em laboratório, através de aparelhos próprios de medição e acontece de maneira muito sutil ao nosso olhar! Apenas para encerrarmos este tópico, trago mais uma reflexão: a marcha funciona à base de um mecanismo de acúmulo e restituição de energia, de modo que você economize combustíveis internos, como a gordura, sendo assim, repare que como estratégia de emagrecimento ela já sai em desvantagem, uma vez que precisaremos andar MUITO, mas MUITO, tanto em tempo quanto em distância, a fim de gastarmos uma quantidade considerável de energia... Como nosso corpo vai sofrendo adaptação ao treinamento, ficando mais eficiente com o passar do tempo, a tendência é que o cenário do gasto energético fique ainda mais prejudicado. 4. TODOS PODEM FAZER CAMINHADA? O PROBLEMA DOS IDOSOS E DOS OBESOS Realizar caminhada parece ser algo inofensivo, afinal, trata-se de um movimento utilizado em nosso dia-a-dia, extremamente simples de ser realizado. O problema, amigos leitores, ocorre quando pensamos no gráfico que discutimos no primeiro item deste capítulo, no contexto dos idosos e dos obesos, uma vez que eles 13 são pertencentes a grupos de risco e, infelizmente, podem ser bastante prejudicados ao realizarem exercícios de caminhada, o que é uma grande ironia, afinal, esta é a primeira coisa que o grande público, assim como os treinadores despreparados e profissionais variados da saúde, com destaque para os médicos, pensam em recomendar para esses grupos sociais. Posto isto, vamos, primeiramente, discutir a questão dos idosos, passando, na sequência, à dos obesos. 4.1. CAMINHADA PARA IDOSOS Conforme vimos no gráfico da marcha, temos uma fase chamada de duplo apoio, que seria aquela onde acumulamos energia, de modo a diminuir o custo do nosso andar. Acontece que, conforme envelhecemos, o tempo de duplo apoio vai sendo proporcionalmente aumentando, por perda de equilíbrio, o que é péssimo, uma vez que prejudica nosso mecanismo de acúmulo e restituição de energia, haja vista que ele precisa acontecer de forma rápida, de modo que o que foi guardado não seja dissipado. Além disso, a deflexão que o idoso faz, que seria aquele momento de flexão dos joelhos, de deixar o corpo cair, é diminuído, também pela perda de equilíbrio, fato que o obriga a acumular menos energia do que uma pessoa normal. Em outras palavras, apenas para simplificar o que foi exposto, caminhar, para os idosos, é uma atividade bem mais cansativa do que para as pessoas jovens, pois eles não conseguem acumular e devolver energia de forma adequada, cansando-se muito mais, o que os levará a andar mais devagar e por menos tempo. Para piorar, o aparelho locomotor do idoso, especialmente o dos sedentários, vai se fragilizando com o tempo, por conta de perda de massa óssea e muscular. Sendo assim, a quantidade de treino de marcha (volume), assim como sua velocidade (intensidade), devem ser muitíssimo bem planejadas, a fim de evitar sobrecarga desnecessária, fato pode levar, por exemplo, a fraturas por stress, o que não é muito difícil, uma vez que muitos idosos já têm ossos fragilizados. 14 Existem algumas estratégias interessantes para usarmos com idosos, de modo a auxiliá-los a romper estes ciclos prejudiciais descritos, ajudando-os a voltar a caminhar dentro de um padrão melhor, mais eficiente e seguro: - Treinamento de força: para reduzir a perda de massa muscular (sarcopenia) e fortalecer a que permanece. Além disso, um músculo treinado é capaz de absorver impactos, reduzindo a sobrecarga em outras estruturas do corpo, como ossos e articulações, o que é ótimo; - Treinamento de potência: além de ganho de massa magra, minimiza a perda de massa óssea (osteopenia), auxilia em velocidade e recuperação de equilíbrio, o que reduz quedas; - Treinamento funcional: traz benefícios no equilíbrio, na funcionalidade de movimentos diários e em aspectos cognitivos. Todas estas prescrições de programas de treinos devem ser realizadas por profissionais capacitados e que REALMENTE saibam trabalhar com idosos, JAMAIS por amadores, entusiastas ou por profissionais diversos da área da saúde. E não falo isso por sensacionalismo não! Segundo a Organização Mundial de Saúde, 25% das fraturas de colo do fêmur, principal osso do corpo que quebra em quedas sentadas de idosos, levam o indivíduo a óbito em 3 meses! Por não conseguir se locomover, o idoso ficará acamado, aumentando as chances de desenvolver doenças infecciosas, sobretudo respiratórias, por isso 1 a cada 4 morrem. Além disso, por não se mover, ele irá perder ainda mais massaóssea e muscular, ou seja, aquela intervenção que seria para ajudá-lo, na verdade, o piorou ou o matou... 4.2. CAMINHADA PARA OBESOS A obesidade é um problema bastante grave no mundo todo, englobando boa parte da população do planeta. Segundo dados do Ministério da Saúde, 52,5% da população brasileira, em 2015, estava obesa ou acima do peso. Analisando este contexto de outras formas, 49% das mulheres e 50% dos homens em nosso país estão acima do peso. Em relação às crianças de 5 a 9 anos, 33,5% delas encontram-se nesta mesma situação, o que é muito preocupante, já que o cenário está cada vez mais precoce. 15 O problema do obeso, dentro do contexto da marcha, não é outro senão o do excesso de peso corporal. Como devem se lembrar, no primeiro item deste capítulo eu comentei que durante a marcha nossas estruturas do aparelho locomotor, como joelhos e pés, recebem o equivalente a 1,2 a 1,5 vezes o peso corporal de impacto, ou seja, se você pesa 100kg, a cada passo, seu pé leva uma sobrecarga de 120 a 150kg. Por curiosidade, o que determina o número desse intervalo, 1,2 a 1,5 é a velocidade de caminhada: quanto mais rápida ela for, mais perto do limite máximo ela será, simples assim. Bom, e talvez você esteja se perguntando: “É impressão minha ou o autor está sugerindo que a caminhada não é um bom exercício para obesos?!” Exato, amigo leitor, é isto mesmo que estou sugerindo, fato que parece um grande absurdo, não é verdade?! Afinal, a caminhada é a primeira atividade que recomendam que os obesos façam! A título de comparação, para que você entenda a gravidade da situação, quando uma pessoa de 70kg CORRE a 18km/h, o que é uma altíssima velocidade, ela gera um total de 161kg de sobrecarga para o aparelho, por exemplo. Por outro lado, quando um obeso de 120kg CAMINHA DEVAGAR, ele gera um impacto total de 144kg nessas mesmas estruturas! Entendeu o problema?! Uma sobrecarga que um indivíduo precisou se esforçar enormemente para gerar, o obeso a leva O DIA INTEIRO! E você ainda vai passar/recomendar mais caminhada para ele?! Complicado... Uma estratégia dessas, realizada de forma amadora e mal planejada, no longo prazo, irá proporcionar desgaste articular no indivíduo, com destaque para degeneração da cartilagem dos joelhos, conhecida por condromalácia, doença irreversível, sem cura, e que pode deixar o sujeito sem andar um dia. Para piorar, por conta do chamado ângulo-Q do quadril, as mulheres obesas tendem a sofrer ainda mais danos, agravando a situação. Fora todos estes problemas citados, ainda há outro bastante delicado, com o qual encerrei o item 3 deste capítulo: a caminhada é uma atividade muito econômica, pois a natureza assim nos selecionou, portanto, para perder peso com ela, precisamos caminhar por horas, horas e mais horas, o que, além de inviável, ainda irá somar uma sobrecarga colossal no aparelho locomotor do obeso! 16 “Mas afinal, se a caminhada é tão problemática assim, o que podemos fazer então para ajudar os obesos?” Mais uma vez, o primeiro passo é o de contratar um profissional de ponta, uma vez que se trata de um grupo de risco onde erros não podem ser cometidos, já que as consequências podem ser irreversíveis. O segundo aspecto é ter em mente que, como o impacto será um grande problema em nossa vida, ele precisa ser contornado. Vejamos algumas possibilidades: - Treinamento de força: para reduzir a perda de massa muscular que ocorre com o sedentarismo e envelhecimento e fortalecer o aparelho locomotor. Além disso, um músculo treinado é capaz de absorver impactos, reduzindo a sobrecarga em outras estruturas do corpo, como ossos e articulações, o que é ótimo. O gasto energético aqui não é muito grande, porém, também não pode ser ignorado; - Natação: é uma atividade com um gasto energético absurdo, uma vez que a água atrapalha nossa capacidade de economizar energia; - Exercícios aeróbios com impacto reduzido: como elíptico e bicicleta ergométrica. É importante ter em mente que o impacto externo foi subtraído, porém, o interno, de uma estrutura corporal na outra, ainda permanece. Sendo assim, o volume e a intensidade dos programas devem ser bem planejados. - Caminhada: mas ela não era problemática?! Sim, mas podemos contornar a questão do alto impacto com duas estratégias: fazendo caminhada na areia e na subida. Estes dois procedimentos reduzem muito a sobrecarga, com a vantagem de aumentarem o gasto energético, haja vista que prejudicam o mecanismo de acúmulo e restituição de energia, dissipando-a, por conta do aumento do tempo de contato com o solo. Enfim, há vários procedimentos que podemos adotar, minha intenção não foi a de esgotar a lista, mas apenas mostrar ao leitor, sobretudo se este tiver sobrepeso, que há esperança! E muita, sobretudo quando informo que, para cada 1kg de peso corporal perdido, diminuímos em 2,2kg a sobrecarga nos joelhos, o que é excelente! Além disso, ainda temos um fator importantíssimo que não mencionei que seria a questão da dieta, coisa que irá auxiliar ainda mais nos resultados positivos, porém, que depende da atuação conjunta de um nutricionista e um profissional de educação física. Para encerrarmos, mais uma vez, tenha em mente que tudo deve ser muito bem planejado e pensado por alguém que realmente saiba o que está fazendo com o aluno, de modo a não correr riscos desnecessários e colher apenas benefícios, e não malefícios, afinal, de que adianta perder peso rapidamente hoje e ficar incapacitado de andar amanhã?! 17 Já vi muitos treinadores irresponsáveis, graduados ou amadores, recomendando corrida para obesos, HIIT, crossfit, pular corda, entre outras atividades como auxiliares no emagrecimento. O que estas pessoas fazem, na verdade, é prestar um desserviço, pois na verdade estão prejudicando a vida das pessoas (lembrando que o preço disso pode não vir hoje, mas sim daqui um tempo, na forma de degeneração articular, dor lombar crônica, entre outras). 5. CONCLUSÃO Vimos, ao longo deste capítulo, como funciona a questão da caminhada e como ela impacta em nosso organismo, seja positiva, seja negativamente. O principal fator que deve ser levado em consideração é que ela pode ser usada como estratégia de emagrecimento, porém, com algumas ressalvas, já que ela pode não ser muito eficiente e trazer muita sobrecarga articular em algumas populações, sobretudo idosos e obesos, que, ironicamente, são as que mais a utilizam... Ao longo do capítulo, tracei diversas perspectivas que podem ser levadas em consideração na hora do treinador montar um programa de atividade física. Em nenhum momento minha ideia foi ensiná-los o que fazer, mas sim mostrar que existem diversas abordagens adequadas para contornar tudo que levantei como “perigoso” durante nossos quatro itens de discussão. 6. BIBLIOGRAFIA - Aaboe J, Bliddal H, Messier SP, Alkjær T, Henriksen M. Effects of an intensive weight loss program on knee joint loading in obese adults with knee osteoarthritis. Osteoarthritis Cartilage. 2011 Jul;19(7):822- 8. doi: 10.1016/j.joca.2011.03.006. Epub 2011 Apr 8. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21440076 - Arokoski J, Kiviranta I, Jurvelin J, Tammi M, Helminen HJ. Long-distance running causes site-dependent decrease of cartilage glycosaminoglycan content in the knee joints of beagle dogs. Arthritis Rheum. 1993 Oct;36(10):1451-9. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/7692860 - Hennig EM, Rosenbaum D. Pressure distribution patterns under the feet of children in comparison with adults. Foot Ankle Int. 1991;11(5):306-11. - Hills AP, Hennig EM, Byrne NM, Steele JR. The biomechanics of adiposity – structural and functional limitations of obesity and implications for movement. Obes Rev. 2002;3(1):35-45. - Hills AP, Hennig EM, McDonaldM, Bar-Or O. Plantar pressure differences between obese and non- obese adults: a biomechanical analysis. Int J Obes. 2001;25(11):1674-9. - Lexell J, Taylor CC, Sjöström M. What is the cause of the ageing atrophy? Total number, size and proportion of different fiber types studied in whole vastus lateralis muscle from 15- to 83-year-old men. J Neurol Sci. 1988 Apr;84(2-3):275-94. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/3379447 Hunter, G. R., McCarthy, J. P., & Bamman, M. M. (2004). Effects of resistance training on older adults. Sports Med, 34(5), 329-348. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15107011. 18 - Messier SP, Ettinger WH, Doyle TE, Morgan T, James MK, O’tool ML et al. Obesity: effects on gait in an osteoarthritic population. Journal of Applied Biomechanics 1996; 12 : 161–172. - Messier SP, Loeser RF, Mitchell MN, Valle G, Morgan TP, Rejeski WJ, et al. Exercise and weight loss in obese older adults with knee osteoarthritis: a preliminary study. J Am Geriatr Soc 2000; 48: 1062-72 - PINHO, JOÃO PEDRO DOS SANTOS FERREIRA MOREIRA DE. Tese de doutorado: Estrutura e função osteomuscular, capacidade funcional e qualidade de vida de idosas em resposta a um modelo de treinamento fundamentado no princípio de ação do ciclo alongamento-encurtamento. ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. 2016. - Raymond C. Browning, Craig P. McGowan and Rodger Kram. Obesity does not increase External Mechanical Work per kilogram body mass during Walking. J Biomech. 2009 Oct 16; 42(14): 2273–2278. - Snyder KL, Kram R, Gottschall JS. The role of elastic energy storage and recovery in downhill and uphill running. J Exp Biol. 2012 Jul 1;215(Pt 13):2283-7. doi: 10.1242/jeb.066332. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22675189 - Vincent HK, Heywood K, Connelly J, Hurley RW. Obesity and weight loss in the treatment and prevention of osteoarthritis. PM R. 2012 May;4(5 Suppl):S59-67. doi: 10.1016/j.pmrj.2012.01.005. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22632704 - YAMADA, H. Strengh of biological materials. Baltimore: Williams & Wilkins, 1970. 19 CAPÍTULO II - A BIOMECÂNICA DA CORRIDA A corrida é uma das atividades físicas mais realizadas no mundo, sendo o número de praticantes e inscritos em provas cada vez maior. Os objetivos deles são muito variados, envolvendo qualidade de vida, performance esportiva, hobby e, talvez um dos mais famosos: perda de peso. Sendo assim, através deste capítulo, iremos discutir a biomecânica da corrida, a fim de entendermos o porquê de tantas pessoas se lesionarem realizando-a, assim como debater se ela é uma boa estratégia para perda de peso e quem poderia se beneficiar de sua prática. Boa leitura! 1. A CORRIDA E AS FORÇAS DE REAÇÃO DO SOLO Assim como fizemos no capítulo da marcha, também iremos analisar a corrida primeiramente através de um gráfico de forças de reação do solo pelo tempo, medida esta que é feita em laboratório de biomecânica através de uma plataforma de força. Repare, primeiramente, que temos imagens do que está acontecendo na “vida real” e no gráfico, ao mesmo tempo: quando encostamos o calcanhar no chão, geramos um pico de força de reação muito grande (pico passivo), num curto espaço de tempo, onde está a seta “Impact transient”. Feito isto, vamos colocando o resto do pé no chão e fazemos uma pequena deflexão, representada pelo vale do gráfico, que seria o momento de acumular energia. Por fim, temos a propulsão (pico ativo), que seria o momento de empurrar o solo com força para nos lançarmos à frente. 20 Agora, passada esta fase mais técnica e aparentemente complicada, vamos comparar a caminhada e a corrida. 2. CORRIDA Vs. MARCHA Tudo isto que mostrei no gráfico, acredite se quiser, dura algo entre 150 e 200 milissegundos, ou 0,15 a 0,2 segundos, para acontecer: é muito rápido, sobretudo quando comparamos com a caminhada, que dura cerca de 0,7 segundos, ou seja, mais que o triplo de tempo! Além disso, há ainda uma diferença brutal de impacto entre elas, uma vez a caminhada dá de sobrecarga em nosso aparelho locomotor, cada vez que colocamos o pé no chão, cerca de 1,2 a 1,5 vezes o nosso peso corporal. Sendo assim, se você pesa 100kg, recebe, a cada passo, entre 120 e 150 kg de impacto, por exemplo, nos joelhos. Na corrida, por sua vez, essa sobrecarga é muito variável e depende da velocidade. A título de exemplificação, quando corremos a 3m/s (ou 10,8km/h), recebemos, em média, entre 1,6 e 1,7 vezes o peso corporal como impacto nas articulações; a 18km/h, 2,6 vezes; num belo sprint a 36km/h, coisa feita pelos velocistas, a marca sobe para 4,6 vezes! Apesar de estes valores parecerem gigantes, o que posso dizer a vocês é que na verdade não o são, desde que você esteja bem treinado/preparado para lidar com eles, caso contrário, lesões lhe aguardarão! 3. CORRIDA E OS IMPRESSIONANTES ÍNDICES DE LESÃO Como disse na introdução do capítulo, a corrida é uma das atividades físicas mais populares que existe, não parando de crescer a cada ano. A título de curiosidade, em 1998, tivemos apenas 14 mil pessoas inscritas em provas de corrida; atualmente, já passamos dos 132 mil! Tanta aceitação tem diversos fatores, sendo um deles o baixo custo da atividade, uma vez que tudo que você precisa para realizá-la é querer correr, simples assim, não requerendo nenhum local especial ou pagamento de mensalidades. Para completar, as grandes mídias sociais vivem incentivando e seduzindo as pessoas a praticarem exercício físico, destacando, na grande maioria das vezes, a corrida. Além disso, incrementar a apelação do contexto, os médicos recomendam vivamente a corrida a todos, por conta dos famigerados benefícios cardiovasculares. 21 Por falar em médicos, gostaria de fazer um adendo: a grande maioria deles adora se sentir “treinador” e prescrever exercício físico às pessoas, recomendando que façam X, Y ou Z, o que é um grande absurdo, uma vez que eles não estudaram praticamente nada sobre atividade física na faculdade, não conhecem biomecânica e fisiologia do exercício, não são capacitados, muito menos autorizados pelo CREF, a prescreverem treino, mas... todos sabemos que nosso país está lotado de profissionais fazendo esse tipo de coisa... Enfim, voltando à questão da corrida e das lesões: com tanta propaganda e recomendação para que esse tipo de atividade física seja feita, somada ao seu baixo custo e facilidade, fica fácil entender porque o número de praticantes cresce a cada ano, e aí começam as tragédias... Segundo estudo realizado pelos pesquisadores Cook, Brinker & Poche, 1990, entre 50 e 70% das pessoas envolvidas em corrida apresentam algum tipo de lesão dentro de 1 ano de prática! “Nossa, os números são grandes mesmo, porém, vi que esses dados são de 1990! Faz tempo, heim?! Hoje, com tecnologia e informação, a coisa deve ser diferente!” Ledo engano, querido leitor! De fato estes dados são velhos e já têm 27 anos, porém, eles continuam assustadoramente atuais! Cerca de 70% dos corredores, até hoje, ganham uma ou mais lesões dentro de um ano de prática de corrida! Querem saber os motivos disto? 4. POR QUE TANTAS PESSOAS SE LESIONAM PRATICANDO CORRIDA? Se tirarmos algumas infelicidades que podem ocorrer durante a prática da corrida, como uma queda ou uma entorse de tornozelo por pisar em um buraco na via, ou mesmo um ataque de cachorro (sim, eles são mais frequentes do que você imagina), o motivo de tantas lesões é praticamente um só: FALTA DE ORIENTAÇÃO! Por se tratar de um movimento muito simples e básico, todo mundo se sente um entendedor de corrida e sai treinando a si mesmo ou seguindo as dicas ignorantes e totalmente amadoras de sites, blogueiros,musas fitness, amigos e revistas, sem ter a menor noção sobra a qualidade da informação. Resultado: provavelmente vão entrar para a estatística dos lesionados. Bom, mas afinal, o que exatamente está por trás dessa chamada “falta de orientação”? São quatro fatores, divididos em dois grupos: 22 Fatores intrínsecos (diretamente associados à corrida): - Volume de treino; - Intensidade de treino. Fatores extrínsecos (não diretamente associados ao movimento, mas correlatos): - Calçado (que será discutido no capítulo 4 desta obra); - Tipo de piso (este tópico não será abordado). 4.1. VOLUME DE TREINAMENTO O volume de treinamento, neste contexto, tem a ver com a quantidade de treinos que você faz na semana e a duração destes. Caso ele seja mal planejado, o que é absurdamente comum, ele abrirá espaço a lesões, respondendo, sozinho, por 50 a 75% delas, logo, é o fator mais importante deste capítulo. Uma evidência do excesso de volume, não difícil de encontrar, são as fraturas por stress: exercícios intensos, realizados por longos períodos, provocam degeneração dos tecidos, causando as chamadas lesões por overuse (excesso de uso), o que pode causar desde uma osteoartrose, até uma fratura por stress (elas não acontecem de uma vez, feito um forte trauma em um acidente de carro, mas sim aos poucos, trazendo fissuras cada vez maiores e muito doloridas nos ossos dos membros inferiores, sendo difíceis de serem tratadas). O volume de treino de alguns corredores chega a ser tão exagerado, mas tão exagerado, que hoje em dia conseguimos até encontrar alguns casos de rabdomiólise, que seria o maior grau de fadiga muscular existente, causando rompimento de músculos, extravasando seu conteúdo para a circulação, sobrecarregando assustadoramente os rins, que podem entrar em colapso e levar à morte! Tendo isto em vista, quanto, então, posso correr?! Quem se lesiona não é quem tem um volume muito grande de corrida, mas sim, quem incrementa errada e exageradamente o volume de uma hora para outra, sem respeitar as adaptações de supercompensação do organismo. Em outras palavras, não é porque um corredor percorre mil quilômetros por semana que ele irá se machucar, mas sim porque numa semana ele corria 30km e na outra passou a 40km, 50km na outra, e assim por diante. Ao que tudo indica, a partir de um determinado incremento de volume no programa de treinamento, nossa capacidade de supercompensação (de fortalecer nossas estruturas corporais) é desrespeitada, causando uma lesão. 23 Segundo o que temos na literatura, a maneira mais segura de incrementar volume de corrida é aumentar em até 10% a quilometragem de treino a cada microciclo, que dura, em média, 10 a 15 dias. Sendo assim, se no seu programa atual você percorre 100km, poderá aumentar para, no máximo, 110km depois de uns 15 dias, a menos, é claro, que queira se lesionar. E digo isto justamente para provocar, uma vez que trabalhar com corredores é algo que exige pulso firme do treinador, pois eles são bastante teimosos, não têm paciência e normalmente não respeitam o volume do programa. Um dos motivos disto é o vício químico que a corrida gera, além, é claro, da relação afetiva com o correr. Sendo assim, há várias estratégias para contornar o problema e também para planejar o volume de forma adequada. Antes de encerrarmos, acho válida uma pergunta: como sei o volume inicial de treinamento? Primeiramente, precisamos fazer uma anamnese com o cliente a fim de determinar como será o início. A prescrição pela frequência cardíaca é uma boa estratégia, porém, é característica clássica de quem só sabe trabalhar com fisiologia, ignorando a biomecânica. Mais uma vez, as chances de lesão no longo prazo são consideráveis, sendo assim, fatores biomecânicos devem ser levados em consideração, a fim de reduzir a sobrecarga excessiva ao máximo no início do programa. 4.2. INTENSIDADE DE TREINAMENTO A ideia por trás da discussão de intensidade é a de tentar minimizar o tanto de impacto que você dará ao seu aparelho locomotor. Ao contrário do volume, que discutimos de uma só vez, ela deve ser analisada sob diversos aspectos, a saber, geometria de colocação de pé, velocidade e fadiga. Vejamos, a seguir, cada um deles: 4.2.1. GEOMETRIA DE COLOCAÇÃO DE PÉ A maioria esmagadora das pessoas, e digo esmagadora mesmo, ataca o solo com o calcanhar. Isto significa que, ao colocar o pé no chão, a primeira coisa que encostamos é a parte de trás deles. Sendo assim, resolveram avaliar em laboratório o que muda quando 24 pisamos primeiro com calcanhar ou com o pé chapado (reto) ou com as pontas dos pés e, surpreendentemente, viram que há grandes diferenças entre os ataques. Quando corremos nas pontas dos pés, o pico passivo (aquele primeiro impacto que mostrei no gráfico do item um deste capítulo) desaparece, ou seja, aquela grande sobrecarga que levávamos é neutralizada. A explicação disto é a seguinte: quando entramos de calcanhar, quem amortece o impacto por você é o joelho e o quadril, porém, se chego primeiro com as pontas dos pés, além destas articulações, eu acrescento também a do tornozelo, colocando as panturrilhas, que possuem uma vantagem anatômica de braço de alavanca e de tamanho de área muscular, em ação. Quer dizer então que a nossa salvação é correr nas pontas dos pés?! Não, amigo leitor, pois infelizmente esta estratégia não serve e pode trazer belíssimas lesões! E deixo isto claro desde já, haja vista que tempos atrás essa informação se popularizou e muitos treinadores e entusiastas de corrida (sites, blogs, revistas, etc.) a divulgaram, recomendando que as pessoas só corressem assim, o que é um grande erro, mesmo porque, o que você espera quando leigos começam a recomendar coisas das quais não dominam e não receberam formação própria? ... Pois é... A musculatura do tríceps sural, popularmente chamada de panturrilha, já possui uma função importantíssima que é a de nos propulsionar na corrida, empurrando-nos para frente, sendo assim, sua carga de trabalho não é nada pequena. Quando corremos nas pontas dos pés, acrescentamos a participação delas também para amortecer impacto, o que irá sobrecarregá-la e poderá lhe trazer, no curto prazo, bastante dor muscular tardia, ao passo que, no longo prazo, tendinite calcanear, frouxidão ligamentar, lesões na articulação do tornozelo e na própria panturrilha e fraturas por stress nos ossos do pé. Sendo assim, tenha em mente que correr nas pontas dos pés só serve para curtos intervalos de tempo, de alguns segundos, por exemplo, em tiros de HIIT, provas de velocidade, contra-ataques de futebol, etc., pois não há outra solução que não esta, uma vez que só assim conseguimos grandes acelerações (um dos motivos é que a panturrilha passa a acumular e restituir energia rapidamente, quando recebe impacto, o que incrementa a propulsão). Contudo, não faça dessa prática um estilo de vida, algo constante, como correr 40 minutos num parque, pois a sobrecarga articular será muito grande e certamente irá lhe trazer lesões no longo prazo. Além disso, há ainda outro aspecto muito importante: nossa geometria de colocação de pé, nas mais variadas atividades do dia-a-dia, é automatizada, ou seja, em nenhum 25 momento você fica pensando e calculando o que vai fazer: simplesmente chega e faz. Por curiosidade, isto é consolidado por volta dos sete anos de idade, criando um programa motor todo organizado em seu cérebro. Sendo assim, a ideia de mudar a geometria de colocação dos pés, para reduzir a questão do impacto, é interessante, porém, não tem serventia, pois acaba trazendo um problema novo muito mais grave. 4.2.2. VELOCIDADE Quanto maior for a velocidade de corrida, maior será o impacto que levaremosa cada pisada, sendo assim, as pessoas só poderão incrementá-la ao longo dos treinos se estiverem preparadas, sendo que quem determina isso é o treinador, uma vez que é ele quem sabe do tempo de supercompensação das estruturas e do planejamento dos ciclos de treino. O grande problema aqui, mais uma vez, é a má influência que os opinadores e as grandes mídias exercem na cabeça das pessoas, haja vista que treinamentos como HIIT, por exemplo, que utilizam movimentos explosivos, foram popularizados anos atrás, incentivando a prática de muitas pessoas, mesmo porque, ele de fato dá bons resultados na perda de gordura. O grande problema é que seu corpo precisa estar muito bem preparado para receber as sobrecargas avassaladoras que esse tipo de treinamento impõe, o que não é a realidade da maioria esmagadora das pessoas. Pior ainda se forem obesas, uma vez que a sobrecarga será ainda maior, seja pelo elevado peso corporal, seja pela velocidade. 4.2.3. FADIGA Fadiga é a incapacidade em manter produção de tensão. Como o melhor amortecedor do nosso corpo é o músculo, quando este se encontra em fadiga ele não consegue contrair, fazendo com que os impactos que recebemos sejam direcionados a outras estruturas do corpo, que não estão preparadas para isso, como ossos e articulações. Sendo assim, depois de um tempo de corrida, quando você já está bem cansado, a sobrecarga que você recebe em seu aparelho locomotor, que em tese seria a mesma, na verdade, aumenta, ou seja, o ideal é que você pare o treino um pouco antes disso, a fim de reduzir as chances de lesão no longo prazo. O grande problema, mais uma vez, é o aluno teimoso, que quer realizar aquele esforço final próximo ao término do treino, fato muito comum em nossa sociedade, uma vez 26 que vivemos a cultura do “no pain, no gain”, onde todo o esforço físico é valorizado e recompensado no futuro: “Só os fracos desistem. Só os fracos ficam pelo caminho, blablablá”! O que gostaria de chamar a atenção de vocês é para não confundir falta de inteligência com corpo mole, desinteresse e falta de motivação. Seja responsável e respeite seus limites! Só para encerrarmos, além de planejar bem o treino, a fim de evitar fazê-lo sob efeitos da fadiga, há um recurso ergogênico, chamado creatina, que segundo evidências ajuda o organismo a se recuperar do esforço, de modo que seu uso pode evitar situações de fadiga, ou pelo menos retardá-la, porém, tenha em mente que os efeitos são melhores para exercícios de alta intensidade, o que não é a realidade da maioria das pessoas. 5. COMO AUMENTAMOS A VELOCIDADE DE CORRIDA? A velocidade com a qual corremos e andamos é regulada por dois fatores: comprimento e frequência de passada. O primeiro deles tem relação com a distância obtida entre um passo e outro, sendo o fator que inicialmente alteramos quando queremos aumentar a velocidade. A frequência, por sua vez, diz respeito a quantos passos você dá num determinado intervalo de tempo, que pode ser de 1 segundo, por exemplo. Normalmente, temos um comprimento de passada “oficial”, que utilizamos no dia-a- dia e que tem relação com nossas características antropométricas (altura, tamanho dos membros, etc.). Quando queremos aumentar a velocidade, os passos ficam cada vez maiores, até atingirem um limite máximo que nosso organismo é capaz de suportar, mais uma vez, limitado ao nosso tamanho. Depois de explorar esse primeiro aspecto, é chegada a vez de aumentar a frequência, dando cada vez mais passos, num intervalo de tempo menor. Agora que vocês já sabem a teoria, vamos ver o que ocorre na prática: sujeitos bons em comprimento de passada recorrem menos à frequência, o que é muito bom, pois cada vez que colocamos o pé no chão, perdemos aceleração e gastamos mais energia para manter a velocidade, aumentando a fadiga. A título de curiosidade, velocistas que participam de provas como a de 100m, têm, em média, comprimentos de passada em torno de 2 a 2,6 metros, com frequências de 5Hz, ou seja, de 5 passos por segundo! Sendo assim, quer dizer que para corrermos mais rápido, 27 devemos mexer nesses fatores citados? Ocorre que o comprimento de passada, assim como a geometria de colocação de pé, que vimos no último artigo, são características próprias de nosso corpo, sendo muitíssimo difícil de serem modificadas, pois são naturalmente orientadas. Quando tentamos interferir, perdemos muito do caráter autônomo, deixando o movimento muito mais custoso e cansativo. Sendo assim, apesar de ser uma péssima estratégia de intervenção para quem quer correr melhor e mais rápido, acabamos descobrindo, por acaso, uma forma de nos auxiliar na perda de peso: correr abaixo ou acima de nossa velocidade normal/padrão. Conforme mencionei no início deste capítulo, a primeira coisa que mexemos na corrida é o comprimento de passada, portanto, caso reduzamos a distância entre os passos, tornando-os mais curtos do que o habitual, o ato de correr ficará muito mais cansativo, gastando energia desnecessariamente, o que é ótimo para perda de peso. Também é possível fazer o mesmo ao utilizar passadas maiores, porém, isto demandaria um aumento de velocidade, o que não é nada bom para quem tem está acima do peso, haja vista que, conforme visto no começo deste capítulo, quanto mais rápido nos deslocamos, maior é a sobrecarga em nosso aparelho locomotor. Por fim, antes de encerrarmos, para não dizer que não há nada que possamos alterar a fim de aumentarmos nossa velocidade, foi descoberto que correr ouvindo música incrementa o nosso comprimento de passada, de forma natural, sem que notemos! Interessante, não?! O mais curioso é que isto não depende de nenhum estilo musical em especial, sendo o da preferência da pessoa o mais indicado. Ainda bem, né?! Já pensou se a recomendação fosse ouvir Justin Bieber? Restart? Xuxa?! Iria preferir correr menos... 6. QUAIS MÚSCULOS DEVEMOS FORTALECER PARA MELHORAR O DESEMPENHO NA CORRIDA? Quando analisamos a biomecânica da corrida, percebemos a participação de alguns grupos musculares em especial, a saber: - Quadríceps: o reto femoral, um dos seus integrantes, atua flexionando a perna quando a retiramos do solo. Quanto mais habilidosa for a pessoa na corrida, mais ela faz essa flexão, uma vez que isto reduz a inércia de movimento, gastando menos energia na corrida. Além disso, momentos antes de colocarmos o pé no chão, nossos músculos são pré- ativados, a fim de se prepararem para aguentar a sobrecarga do impacto com o solo. 28 - Isquiotibiais (posteriores de coxa): no começo do movimento da corrida, temos ação estabilizadora deles, para controlar a extensão do quadril. Por fim, e agora vem a atuação mais importante deles, logo que colocamos os pés no chão, eles atuam brecando o movimento de extensão do joelho e de flexão de quadril, a fim de proteger nossas estruturas. Sendo assim, ter posteriores de coxa fortalecidos é importantíssimo para proteger suas articulações, não sendo difícil encontrar alguém que se lesionou por negligenciar esta parte do treinamento. - Glúteo máximo: tem importância de acúmulo de energia e de pré-ativação, protegendo nossas estruturas contra a flexão do quadril. - Adutores (músculos da parte interna das coxas): na corrida, eles evitam movimentos excessivos da articulação coxofemoral, garantindo que eles aconteçam apenas no eixo de movimento que queremos, protegendo-nos, assim, contra perda de estabilidade. - Glúteo médio: é um importante músculo abdutor, que, quando ativado na corrida, “segura” o fêmur no lugar, evitando que façamos um valgo dinâmico, movimento bastante nocivo à articulação do joelho. O grande problema que ocorre neste contexto é que a nossa patela (ossinho redondo do joelho) fica raspando a cartilagem do fêmur, o que,no longo prazo, é uma das piores coisas que lhe pode acontecer, uma vez que se trata de um tecido que não regenera, sendo as lesões muito dolorosas e irreversíveis. Para fechar, este problema é ainda mais grave em mulheres, uma vez que, por conta do ângulo diferenciado que elas possuem no quadril, por conta do parto, esse valgo dinâmico que citei é acentuado, acontecendo naturalmente de forma exacerbada. - Tríceps sural (panturrilha): conforme citado várias vezes ao longo do capítulo, atua bastante durante a propulsão do movimento, absorvendo impacto e, agora uma novidade, estabilizando a articulação do tornozelo quando estamos com o pé no ar. - Tibial anterior (músculo da 29 parte da frente da sua canela): você provavelmente não sabia o nome desse músculo, porém, já o sentiu ardendo ou latejando após exagerar na corrida, dentro de um contexto que é popularmente conhecido como canelite, que nada mais é do que um sinal de que seu músculo não está preparado para a sobrecarga que você está impondo a ele. E eu diria mais: se ele não está preparado, outras estruturas suas provavelmente também não estão, sendo assim, seu treino deve ser repensado, a menos, é claro, que você esteja atrás de lesões... A participação deste músculo é muitíssimo importante em dois momentos, sendo o primeiro na hora de por o pé no chão, uma vez que ele regula a entrada do seu pé, a fim de fazê-la da forma mais suave possível; o segundo, durante toda a fase aérea, mantendo a estabilidade da articulação do tornozelo, junto do tríceps sural. Sendo assim, agora que conhecemos todos esses músculos, é chegado o momento de fortalecê-los, existindo várias estratégias possíveis, sendo uma das melhores a musculação. Porém, não basta treinar pernas de qualquer maneira, uma vez que cada um desses músculos precisa ser trabalhado dentro das particularidades da corrida, ou seja, seu programa deve respeitar as especificidades dela, de modo a transferir seus ganhos, melhorando seu desempenho e, principalmente, protegendo-lhe de lesões quando for correr. 7. TREINANDO POTÊNCIA PARA MELHORAR O DESENPENHO NA CORRIDA Agora que já discutimos praticamente tudo sobre corrida, chegou o momento de entrarmos num tópico de nível mais elevado, cuja importância fica restrita a quem já treina há algum tempo, ou seja, aos corredores experientes, uma vez que iniciantes não estão preparados para a sobrecarga aqui gerada e devem se preocupar com coisas muito mais simples antes. A ideia de treinarmos potência está relacionada com a questão da economia de movimento, que diz respeito à capacidade de manter o exercício numa determinada intensidade ao menor custo energético possível, o que nos permite prolongar o tempo da atividade ou mesmo realizá-la de forma mais rápida. Sendo assim, para realizarmos este tipo de programa, precisamos impor muita carga excêntrica ao músculo, “ensinando-o” a recebê-la e a armazená-la, porém, de forma que ele consiga restituí-la rapidamente, pois se não o fizer, ela acaba sendo dissipada. 30 Nos grandes centros de treinamento do mundo, que possuem alta tecnologia, um treino desses pode ser realizado numa esteira de overspeed, que nada mais é do que uma esteira de altíssima velocidade, onde o sujeito é fixado por cabos suspensos, a fim de protegê-lo quando não aguentar mais correr: neste caso, basta erguer as pernas, respirar um pouco e baixá-las quando se sentir preparado novamente. Observe a imagem abaixo. A ideia por trás do overspeed é a de criar velocidades altíssimas, gerando grandes impactos, obrigando os músculos a lidarem com eles, exercitando mecanismos de acúmulo e de restituição de energia. Porém, como para a maioria esmagadora do público fica totalmente inviável ter acesso a algo desse nível, a ideia seria utilizarmos estratégias alternativas, como, por exemplo, a da corrida em descidas/ladeiras, pois é uma forma de simular o overspeed, uma vez que o declive aumenta bastante o impacto que recebemos, elevando a carga excêntrica. Além disso, como temos de ser rápidos, caso contrário corremos o risco de cair, a energia acumulada acaba sendo rapidamente reposta, preservando a essência do treinamento de potência. Segundo trabalho dos pesquisadores Ebben et al., 2008, o grau de declinação ideal (caso você tenha acesso a uma esteira que faça declinação) para essa prática esportiva é de 5,8°, fato que aumenta nossa velocidade máxima em 7,09% e a aceleração, em 6,54%. Como disse no início deste tópico, essa abordagem é mais indicada a pessoas avançadas, pois estas já têm um nível de treinamento considerável, contando com estruturas corporais fortalecidas para lidarem com tanta sobrecarga. Além disso, é importante ter em mente que um treino com grandes cargas excêntricas causam o maior recrutamento muscular possível, rendendo dores absurdas no pós-treino. Sendo assim, uma abordagem dessas deve ser muito bem pensada e planejada dentro da periodização do treinamento, pois a sobrecarga é gigantesca e um bom período de descanso pode se fazer necessário. O mesmo vale para a duração e intensidade do 31 treino, portanto, pratique essas atividades apenas sob orientação de um treinador capacitado. Apenas para fecharmos, já que falamos de corrida em descida, e a corrida na subida? Ela tem algum benefício também? Sim, mas não dentro do treinamento de potência, já que os efeitos dela são totalmente opostos: a carga excêntrica é baixíssima e o tempo de contato com o solo é muito alto, o que faz dissipar energia. Que pena, heim, amigo leitor?! Que pena nada! É justamente devido a essas características que a corrida na subida pode ser interessante: por conta da carga excêntrica reduzida e por grande solicitação da panturrilha, as sobrecargas articulares acabam sendo diminuídas, o que faz dessa uma interessante estratégia contra elevados impactos, sobretudo em quem não está preparado. Além disso, como o ciclo de acúmulo e restituição de energia é quebrado, acabamos gastando muito mais energia do que o normal, o que torna esta prática interessante para perda de gordura corporal! 8. CORRER DE CANELEIRAS NOS PÉS VAI ME DEIXAR MAIS RÁPIDO? Resolvi colocar esta pergunta neste capítulo pois sempre tem algum louco querendo inovar na academia... Quem já ouviu falar do Goku, do famoso desenho japonês Dragon Ball, deve se lembrar de uma famigerada cena onde ele, quando morto, estava recebendo um treinamento especial com caneleiras, que pesavam algumas toneladas, nos punhos e nos tornozelos. Acredito que vem daí o fetiche de muitas pessoas quererem treinar socos, chutes e corrida com caneleiras, o que é um erro bastante ingênuo e explico o motivo: quando você usa uma sobrecarga, por exemplo, no seu tornozelo para fazer esteira, você acaba mudando totalmente o padrão de movimento, ferindo um princípio básico do treinamento que é o da especificidade. Em outras palavras, de maneira bem grosseira, é como se você estivesse estudando alemão para aprender japonês, ou seja, fazendo coisas que não guardam muita relação entre sim, ferindo a questão da transferência de aprendizado entre áreas correlatas. Por curiosidade, isso vale também para o soco 32 com caneleiras e elásticos, pois, conforme verificado no laboratório de biomecânica da Universidade de São Paulo, a sincronia de ativação muscular muda em relação ao soco normal, prejudicando a especificidade da tarefa e a transferência do aprendizado. 9. CURIOSIDADES Antes de encerrarmos, gostaria de trazer algumas curiosidades interessantes: - O ser humano mais rápido do mundo é o jamaicano Usain Bolt. Ele é detentor de diversos recordes incríveis, sendo o mais interessante o de ter percorrido 100 metros em 9,58 segundos.Para tanto, ele chegou a alcançar velocidades de aproximadamente 45km/h. Outra marca famosa foi a de superar os 200 metros em 19,19 segundos. - No reino animal, o prêmio de mais rápido do mundo foi vencido pela Sara, um guepardo (espécie de felino). Em 2009, ela bateu o recorde mundial de velocidade, tendo percorrido 100 metros em 6,13 segundos! Como se não bastasse, em 2012 ela superou seu próprio recorde, percorrendo a mesma distância em meros 5,97 segundos! Os guepardos são animais incríveis, capazes de correrem em altas velocidades, chegando a alcançar 112km/h, porém, pagam um alto preço: em um tiro de 100m, chegam a gastar incríveis 500kcal, o que é um bocado perigoso, pois se eles falharem nas tentativas de caça, chegam a correr risco de sobrevivência, pelo elevado gasto energético investido e perdido. - O avestruz também é capaz de realizar façanhas muito interessantes, chegando a bater 60km/h, porém, de forma sustentada, ao contrário do guepardo. Um dos motivos disto deriva da forma corporal dele, com centro de gravidade alto, patas bastante longas, grande comprimento de passada e elevada capacidade de acumular e restituir energia, fatos que o tornam muito rápido e econômico! - Vocês certamente já devem ter assistido a uma competição de atletismo paralímpico, onde os atletas, com diferentes graus de amputação, correm com próteses. A título de curiosidade, elas são feitas de fibra de carbono, que é um material que tem uma elevada capacidade de restituição de energia, muito maior que a de nossos músculos e tendões, o que, em tese, acaba construindo um cenário bem parecido com o caso do avestruz, só que não tão rápido, obviamente. É justamente por causa disso que esses indivíduos não podem participar de provas de atletismo tradicionais, com corredores com as pernas íntegras, sem amputação, uma vez que a competição ficaria desleal, pois a prótese traria uma vantagem, por ser 30% mais eficiente que o corpo humano na restituição de energia. 33 10. CONCLUSÃO Ao longo deste capítulo, discutimos diversos aspectos interessantes do universo da corrida. Primeiramente, vimos que ela gera uma sobrecarga elevada em nosso aparelho locomotor, que é velocidade dependente, sendo assim, para que a pratiquemos devemos estar preparados, caso contrário é lesão na certa. E por falar em lesão, segundo as estatísticas que vimos, cerca de 70% dos corredores se lesiona em menos de um ano de prática da atividade, fato facilmente justificado pela falta de instrução. O maior vilão deste contexto é o aumento exagerado do volume de corrida, que responde, sozinho, por algo entre 50 e 75% das lesões. Outra característica diz respeito aos erros de intensidade de treino, que guardam relação com a velocidade utilizada e o desrespeito à fadiga muscular. Continuando, vimos como a velocidade é aumentada na prática, por conta dos fatores comprimento e frequência de passada. Além disso, também discuti em detalhes todos os grupamentos musculares envolvidos na corrida, explicando a função de cada um, sugerindo, ao final, a utilização de estratégias de fortalecimento, como a musculação. Para fechar, tivemos uma conversa abarcando o treinamento de potência para indivíduos experientes, pois esta é uma excelente forma de aumentar a velocidade de corrida, assim como sua duração. 11. BIBLIOGRAFIA - Bruno Gualano; Fernanda Michelone Acquesta; Carlos Ugrinowitsch; Valmor Tricoli; Júlio Cerca Serrão; Antonio Herbert Lancha Junior. Effects of creatine supplementation on strength and muscle hypertrophy: current concepts. Rev Bras Med. Esporte vol.16 no.3 Niterói May/June 2010 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-86922010000300013 - Cavanagh PR, Lafortune MA. Ground reaction forces in distance running. J Biomech. 1980;13(5):397- 406. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/7400169 - CAVANAGH, P.R.; McCLAY, I.S.; LAKE, M.J. Muscle activity in running. In: Biomechanics of distance running. Human Kinetics Books, 1990. - CHEN, T. C.; NOSAKA, K.; TU, J. H. Changes in running economy following downhill running. J. Sports Sci., Philadelphia, v. 25, n 1, p. 55-63, 2007. - Ebben WP. The optimal downhill slope for acute overspeed running. Int J Sports Physiol Perform. 2008 Mar;3(1):88-93. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19193956 - Egermann M, Brocai D, Lill CA, Schmitt H. Analysis of injuries in long-distance triathletes. Int J Sports Med. 2003 May;24(4):271-6. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12784169 34 - Gottschall JS, Kram R. Ground reaction forces during downhill and uphill running. 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Epub 2007 May 1. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17473005 - Van Mechelen W. Running injuries. A review of the epidemiological literature. Sports Med. 1992 Nov;14(5):320-35. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/1439399 35 CAPÍTULO III – A BIOMECÂNICA DO SALTO No presente capítulo, iremos estudar a biomecânica do salto, movimento fundamental cuja finalidade pode se encerrar tanto em si mesma, feito casos no atletismo, quanto fora, sendo um meio que integra ações mais complexas, sobretudo no ambiente esportivo, por exemplo, em modalidades como basquete e vôlei. 1. O SALTO E A SOBRECARGA Uma das maiores dificuldades no estudo dos saltos é que eles são muito variados, pois estão atrelados a toda sorte de movimentos culturalmente orientados, sendo assim, o caso do atletismo se mostra muito interessante para fins didáticos, uma vez que é bem estereotipado, fornecendo, por isso, uma análise que pode servir de base para diversas outras modalidades esportivas. Quando investigamos o salto, através de uma plataforma de força, percebemos que ele possui uma fase passiva com sobrecarga altíssima, representada na parte “e” do gráfico abaixo, que acontece em míseros0,009 segundos! Sendo assim, ocorre que levamos um impacto, em média, de 6 vezes o nosso peso corporal em apenas 0,009 segundos, o que é muito mais rápido e intenso do que qualquer situação vista até agora nesta obra, levando-se em conta as discussões dos capítulos 1 e 2, sobre marcha e corrida, respectivamente. Portanto, pode-se dizer que se trata de uma fase onde nos encontramos vulneráveis, haja vista que não há espaço para nenhum tipo de alteração de movimento por nossa parte, pois quando nossos mecanorreceptores leem impacto e ativam uma cadeia de 36 resposta, demoramos entre 50 e 70 milissegundos para reagir, ou seja, é impossível neste caso. Com isto, nossa única saída é a da pré-ativação muscular, que veremos mais adiante. Já que estamos falando de elevados impactos, vejamos mais alguns números: o salto em altura gera, em média, 11 PC (peso corporal) de sobrecarga em nosso aparelho locomotor, sendo o maior valor visto até agora nesta obra, porém, muito inferior à modalidade do salto triplo, capaz de chegar a impressionantes 22,3 PC! Como o nome sugere, ele é dividido em três partes: o HOP, que representa o primeiro salto e gera sobrecargas em torno de 12,4 a 14,4PC; o STEP, o segundo, ficando entre 14,1 e 22,3 PC; por fim, o JUMP, que seria o terceiro, com grandezas de 12,1 a 15,7 PC. A título de curiosidade, estes valores foram citados dentro destes intervalos uma vez que variam de indivíduo para indivíduo, por conta de estratégias e estilos próprios de executar os três saltos. O maior desafio de um atleta desta modalidade é que cada salto deve ser feito de forma “seca”, fletindo o joelho o mínimo possível, de modo a reduzir ao máximo o tempo de contato com o solo, a fim de não dissipar a energia acumulada e restituí-la rapidamente. Com estas informações em mãos, agora o leitor já é capaz de entender o que saudosos atletas de elite brasileiros, como João do Pulo, Adhemar e Nelson Prudêncio, eram capazes de executar neste esporte, recebendo o equivalente a 22 vezes o seu peso corporal, por 0,009 segundos, sem flexionar o joelho! Bom, agora que discutimos a sobrecarga no salto como fim, vejamos o outro lado da moeda, quando ele é utilizado como meio. Em primeiro lugar, conforme exposto no início deste tópico, o salto cuja finalidade se encerra em si mesmo é mais fácil de ser analisado, uma vez que é bem estereotipado. Por outro lado, quando ele é parte de algum movimento mais complexo de uma modalidade esportiva, enfrentamos alguns problemas de análise, sendo o principal a dificuldade de reproduzir uma situação de jogo em laboratório, tendo de simular 37 adequadamente o ambiente, com o agravante de o salto e a aterrissagem precisarem ocorrer exatamente na plataforma de força. Se superarmos, ao menos em partes, estas dificuldades, conseguiremos obter alguns valores bastante aproximados da realidade, como os que listarei a seguir: - Bandeja do basquetebol: 9PC (McClay, 1994); - Handebol: aproximadamente 9PC, após salto com arremesso; - Vôlei: os dados obtidos na investigação são discutíveis, porém, há a sugestão de que os valores de impacto giram em torno de 9PC; - Drop-jump: 3PC; - Corrida com saltos seguidos: média de 5PC, independente da perna utilizada; - Pliometria: 3,5PC a 20cm, 4,2PC a 40cm, 5,4PC a 60cm e 6,4PC a 80cm (Brandina, 2000); - Polichinelo: 3PC sem fadiga e 3,5PC em fadiga, corroborando o que já foi discutido anteriormente no capítulo da corrida, em relação ao fato de que um músculo em fadiga tem a capacidade de absorver impacto reduzida. - Ginástica olímpica: salto mortal com flexão de joelho na aterrissagem gera 2PC e com as pernas estendidas, 14PC. Para encerrarmos este tópico, faltou discutir um assunto importante, ainda não mencionado nesta obra, que seriam as forças médio-laterais. Para situar o leitor, geramos, normalmente, 0,05PC de sobrecarga em situações cotidianas, como na marcha; em momentos de corrida, onde obtemos sobrecargas mais bruscas, os valores sobem para 0,2PC; por fim, e agora em relação ao salto, a média é de assustador 1PC, fato bastante preocupante, uma vez que não há muito que fazer para evitar isto, sendo a carga imposta as nossas articulações do tornozelo. A melhor estratégia para tentar minimizar o impacto deste cenário diz respeito à utilização de treinamento de força, para fortalecer as estruturas envolvidas, e também de preparações que propiciem ganhos em propriocepção, como o treinamento funcional, por exemplo. 2. REDUZINDO A SOBRECARGA NO SALTO – O QUE FUNCIONA 38 Existem quatro dimensões que podemos explorar, no contexto dos saltos, a fim de reduzir a sobrecarga gerada. Vejamos quais são: 2.1. DESACELERAÇÃO Inicialmente, cogitou-se que uma técnica de movimento apurada fosse capaz de reduzir a sobrecarga. De fato, isto é observado, porém, não exatamente pela forma em si, mas sim por características como flexão de joelho e de quadril e queda em antepé. Em outras palavras, o que reduz a sobrecarga não é exatamente a técnica, mas sim os mecanismos utilizados descritos que acabam por desacelerar o movimento. Tanto é verdade que, quando comparamos o salto simples com joelho livre Vs. imobilizado, com uma tala, por exemplo, percebemos uma diferença enorme na sobrecarga, uma vez que ela é dobrada e obtida num intervalo de tempo duas vezes menor. Estes valores ficam ainda mais assustadores quando pensamos no caso do mortal da ginástica olímpica, citado anteriormente, onde percebemos que geramos apenas 2PC com os joelhos livres e 14 PC com ambos imobilizados, sendo que estes valores só não são maiores por conta da presença do tablado. E por que faz tanta diferença flexionar os joelhos? A força gerada depende da massa vezes a aceleração, sendo assim, como a primeira grandeza não varia, a forma que nos resta para reduzir a sobrecarga é desacelerar o movimento, através da flexão dos segmentos. 2.2. FORÇA Para conseguir desacelerar o movimento, de forma segura, necessitamos de um pressuposto que é ter força muscular, haja vista que quem diminui a velocidade do movimento não é o joelho, mas sim o quadríceps. Sendo assim, necessariamente, o músculo deve estar devidamente preparado e fortalecido, caso contrário, além de não conseguir desacelerar o movimento, ainda irá abrir espaço para lesões. 2.3. SINCRONIA Sincronia absoluta entre nossos membros inferiores no momento da queda nós não iremos conseguir, haja vista a manifestação de dominância lateral que interfere neste 39 sistema, contudo, quanto mais próxima do ideal ela for, ou seja, quanto menos assimétrica for a colocação dos pés no solo, melhor será para reduzirmos a sobrecarga. Avaliando isto em laboratório, percebemos que a falta de sincronia gera uma sobrecarga muito grande em uma única perna, poupando a outra. Em outras palavras, por conta do delay de aterrissagem simultânea, sacrificamos um membro, por utilizar apenas um “amortecedor” ao invés de dois. 2.4. PRÉ-ATIVAÇÃO Um trabalho muito simples, realizado com o auxílio de um alçapão que abria de surpresa, fazendo com que o voluntário caísse de uma pequena altura numa plataforma de força, mostrou que, quando estamos preparados para a queda, geramos 3,6PC de sobrecarga, porém, quando ela acontece de forma inesperada, os valores sobem para 5,1PC! Ocorre que, quando sabemos que iremos cair, acabamos nos preparando antes que o choque aconteça, pré-ativando os músculos. Conforme dito no início deste capítulo, como o pico passivo se dá em apenas 0,009s, a única forma de nos protegermos é nos preparando antes. Posto isto, chegamos a um ponto delicado deste item: como melhorar a pré-ativação? A verdade é que não há como impor uma pré-programação
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