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livro - cap. 5 globalização

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Livro 
 
GLOBALIZAÇÃO E INOVAÇÃO 
LOCALIZADA: EXPERIÊNCIAS DE 
SISTEMAS LOCAIS NO MERCOSUL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Globalização e espacialidade:
o novo papel do local
Sarita Albagli
1. INTRODUÇÃO
Qual o papel do local, diante do processo de globalização hoje em curso? Esta
é a questão básica à qual este trabalho se dirige, buscando identificar: que novos
aspectos práticos e teóricos têm sido levantados ao seu entorno; que traços de
continuidade e de descontinuidade podem ser observados a seu respeito; quais os
principais enfoques e interpretações atualmente existentes para abordá-la.
Distinguem-se dois principais grupos de opiniões com relação a esse tema,
ainda que reconhecendo que tais pontos de vista representam extremos de um
conjunto mais diverso de percepções. Para alguns, a globalização representa o
fim da geografia, ou a anulação do espaço, expressa pela “desterritorialização”
das atividades humanas, bem como a “despersonalização” do lugar enquanto
singularidade. Já outros visualizam uma reafirmação da dimensão espacial, bem
como uma revalorização ou uma “reinvenção” do local, à medida que se acentua
a importância conferida à diferenciação concreta entre os lugares. Um terceiro
ponto de vista, contemplando aspectos de ambas as visões, identifica a permanência
de “alteridade” em nível do local, embora sob a influência da força universalizante
da circulação do capital.
O trabalho discute o papel do local no atual contexto de mudanças globais, a
partir de uma resenha da literatura recente sobre o tema, enfocando
especificamente três pontos: 1º) o local enquanto conceito; 2º) as questões
geradas pelo processo de globalização, do ponto de vista do local, em múltiplas
dimensões: a econômica, a política e a sociocultural; 3º) o local em modelos
alternativos de desenvolvimento.
Assume-se como ponto de vista central a ser explorado, ao longo do trabalho,
a importância da espacialidade das relações sócio-político-econômicas
contemporâneas. Não se trata, entretanto, de reificar ou fetichizar o espaço,
tratando-o como ente dotado de autonomia, desprovido de um conteúdo real e
independente da intervenção e do conflito dos atores sociais. Trata-se de
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reconhecer a existência de uma dialética socioespacial, em que se entrelaçam as
dimensões vertical e horizontal das relações sociais, ou, em outras palavras, em
que se combinam esses dois conjuntos de processos – o social e o espacial –,
considerando que as práticas sociais adquirem contornos particulares em áreas
geográficas específicas (Urry, 1988).
Trata-se, então, de atentar para a polimorfia do espaço e para o fato de que os
fenômenos sociais definem-se também a partir da relação com seu meio de
referência, do mesmo modo em que se articulam nas diferentes escalas. A
espacialidade é, portanto, aqui compreendida como o “espaço socialmente
produzido”, referindo-se não ao espaço em si, mas ao uso que dele se faz (Soja,
1993; Santos, 1994).
2. LOCAL: UM CONCEITO MULTIFACÉTICO
Local, enquanto conceito e enquanto realidade empírica, é uma noção
relacional, remetendo aos seguintes principais aspectos: a) tamanho/dimensão,
associando-se ao conceito de escala1 ; b) diferenciação/especificidade; c) grau
de autonomia; d) nível de análise e de complexidade, os quais vêm sendo postos
em cheque no momento atual. Situado ante o global, local pode referir-se a uma
dada localidade (cidade, bairro, rua), região ou nação, constituindo, em qualquer
dos casos, um “subespaço” ou um subconjunto espacial, e envolvendo algum modo
de delimitação ou recorte territorial, o que se expressa em termos econômicos,
políticos e culturais.
Global, por oposição, diz respeito à inexistência de limites internos, enquanto
internacional e multinacional têm como referência os espaços nacionais, seja,
no primeiro caso, correspondendo a relações entre nações, seja, no segundo caso,
a acontecimentos ou atividades ocorridas em mais de uma nação.
Usualmente, local tem sido identificado com a idéia de lugar, termo que se
reveste de uma variedade de significados, conforme Harvey (1993:4) chama a
atenção:
1 De um ponto de vista cartográfico estrito, escala é “uma fração que indica a relação entre as medidas
do real e aquelas da sua representação gráfica” (Castro, 1995:117). Em uma acepção geográfica mais
ampla, trata-se de um “termo polissêmico”, que significa “tanto a fração de divisão de uma superfície
representada, como também um indicador do tamanho do espaço considerado, neste caso uma
classificação das ordens de grandeza...” (Castro, 1995:119).
Globalização e espacialidade: o novo papel do local
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“Há todo tipo de palavras, tais como meio, localidade, localização, local,
vizinhança, região, território e outros, que se referem às qualidades genéricas
do lugar. Há outros termos como cidade, vilarejo, megalópolis e estado, que
designam tipos particulares de lugares. Há ainda outros, como lar,
comunidade, nação e paisagem, que possuem conotações tão fortes de lugar
que seria difícil falar sobre um sem o outro. ‘Lugar’ tem também um leque
extraordinário de significados metafóricos.”
Dentro de uma acepção geográfica estrita, lugar pode ser definido como “uma
porção do espaço na qual as pessoas habitam conjuntamente” (Agnew e Ducan,
1989), implicando, portanto, aí a idéia de co-presença. “É o espaço passível de ser
sentido, pensado, apropriado e vivido através do corpo”, sugere Carlos (1996:20).
Para Giddens (1991:26), lugar “é melhor conceitualizado por meio da idéia de
localidade, que se refere ao cenário físico da atividade social como situado
geograficamente”. Contrapõe-se aqui à idéia de “não-lugar” (Augé, 1994), que
corresponde aos lugares de passagem, de não fixação, ao espaço abstrato como
as vias informatizadas.
Lugar, entretanto, não deve ser compreendido apenas como o espaço onde se
realizam as práticas diárias; mas também como aquele no qual se situam as
transformações e a reprodução das relações sociais de longo prazo, bem como a
construção física e material da vida em sociedade. Nele, realiza-se o cotidiano, o
momento, o fugidio; mas também a história, o permanente, o fixo, correspondendo
ao identitário, ao relacional e ao histórico, no âmbito da tríade habitante-identidade-
lugar (Agnew, 1987; Carlos, 1996).
O conceito de lugar pode assim ser visto a partir da complementaridade de três
dimensões, conforme Agnew & Ducan (1989):
a) dentro de uma ótica mais econômica, enquanto localização de atividades
econômicas e sociais operantes em uma escala mais ampla;
b) de uma perspectiva microsociológica, como espaço rotineiro de interação
social;
c) de um ponto de vista antropológico e cultural, correspondendo a um sentido
de lugar, mediante a identificação do sujeito com o espaço habitado.
Local tem também sido amplamente associado à idéia de região. Sobre o
conceito de região, desenvolveram-se três grandes linhas interpretativas, a partir
da década de 1970 (Corrêa, 1993). A primeira, apoiada na teoria marxista, analisa
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a região principalmente a partir das relações de produção, entendendo a região
como “a organização espacial dos processos sociais associados ao modo de
produção” capitalista (idem) e partindo do suposto de que existe uma regionalização
da divisão social do trabalho, do processo de acumulação capitalista, da reprodução
da força de trabalho e dos processos políticos e ideológicos (como representativos
dessa linha, citam-se J.L.Coraggio, D.Massey, N.Smith, David Harvey, Alain Lipietz
e John Urry).
A segunda considera que a região é definida como “um conjunto específico de
relações culturais entre um grupo e lugares particulares”, uma “apropriação
simbólica de uma porção do espaço por um determinado grupo”, um “elemento
constitutivo de suaidentidade” (representativos dessa abordagem seriam
J.L.Piveteau, Y.Tuan, Paul Claval, D.Ley e A.Frémont).
Por fim, a terceira percebe a região como “um meio para interações sociais”,
enfatizando as relações de dominação e poder como constitutivas da diferenciação
entre regiões (representantes dessa corrente seriam Alain Pred, N.Thrift, D.Gregory
e Claude Raffestin).
Em todas essas abordagens, que na verdade não são excludentes, mas
complementares, a região é não apenas realidade empírica, mas também
representação social.
Dessas diferentes interpretações sobre o lugar e a região, derivam distintas
abordagens sobre as razões que determinam a diferenciação local. Uma perspectiva
mais clássica ou tradicional encontra elementos explicativos para essas diferenças
principalmente na estrutura interna das diferentes áreas geográficas, em suas
próprias características físicas e humanas, tratando-as, portanto, como uma questão
de dotação inicial ou natural. Outra abordagem analisa a vantagem comparativa
de umas regiões sobre outras como sendo o produto da sua inserção em uma
estrutura mais ampla ou, em outros termos, como sendo resultado da sua colocação
na divisão espacial e internacional do trabalho, condição essa gestada
artificialmente. Uma terceira visão indica que o local é moldado a partir da
combinação de condições e forças internas e externas, devendo ser compreendido
como parte de uma totalidade espacial (Benko, 1996; Carlos, 1996).
O aprofundamento do processo de globalização e as transformações que lhe
estão subjacentes, no campo da economia, da ciência e tecnologia, da cultura, da
política e dos padrões societários de modo geral, têm tido importantes repercussões
sobre a esfera do local, bem como sobre seu papel no cenário mundial, conforme
se discutirá adiante.
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3. O LOCAL SOB A GLOBALIZAÇÃO
A globalização corresponde a um alongamento das relações entre o local/
presente e o distante/ausente, por meio das redes, que estabelecem interações e
conexões que perpassam o conjunto do planeta. Para Giddens (1991:32), então:
“A globalização pode assim ser definida como a intensificação das
relações sociais em escala mundial que ligam localidades distantes de tal
maneira que acontecimentos locais são modelados por eventos ocorrendo a
milhas de distância e vice-versa. Este é um processo dialético porque tais
acontecimentos locais podem se deslocar numa direção anversa às relações
muito distanciadas que os modelam. A transformação local é tanto uma
parte da globalização quanto a extensão lateral das conexões sociais através
do tempo e do espaço.”
No cenário globalizado, o local implica não apenas circunstâncias de co-presença,
mas também envolve conexões entre pontos distantes, estabelecendo-se diferenças
entre o que Santos (1994) chama de “espaço banal” (“o espaço de todos, todo o
espaço”) e as redes (“parte do espaço e o espaço de alguns”). O autor ressalta,
entretanto, que “são todavia os mesmos lugares, os mesmos pontos, mas contendo
simultaneamente funcionalizações diferentes, quiçá divergentes ou opostas”
(Santos, 1994:17).
Enquanto as sociedades pré-modernas possuíam, em sua maioria, uma
dimensão localizada, havendo plena coincidência entre o espaço (e o lugar) e o
tempo, a modernidade engendrou uma mudança radical nessa relação, processando
um verdadeiro “desencaixe” tempo-espaço.
Giddens (1991) destaca dois fatores como sendo particularmente relevantes
nessa passagem. Um fator refere-se à uniformização da medição do tempo, por
meio da invenção e difusão do uso do relógio mecânico, a partir de fins do século
XVIII. Até então, a medida do tempo vinculava-se a uma dada referência espacial:
“‘quando’ era quase, universalmente, ou conectado a ‘onde’ ou identificado por
ocorrências naturais regulares” (Giddens, 1991:26).
Um outro fator diz respeito à “monetização” da sociedade, por meio da
universalização do dinheiro como meio de troca. “O dinheiro é um meio de
distanciamento tempo-espaço. O dinheiro possibilita a realização de transações
entre agentes amplamente separados no tempo e no espaço”, ressalta Giddens
Globalização e espacialidade: o novo papel do local
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(1991:32). O dinheiro proporciona simultaneamente a instantaneidade das
transações comerciais e o adiamento da consecução do processo de troca. Em
sua forma contemporânea, o dinheiro transforma-se progressivamente em pura
informação, tornando-se independente de seu suporte físico e de sua referência
material.
O papel que o dinheiro desempenha nas sociedades modernas corresponde,
em última instância, à mercantilização do conjunto das relações sociais, onde o
próprio espaço é transformado em mercadoria, o que, ao final, constitui uma das
bases do fenômeno de globalização. “Quando se fala em Mundo, está se falando,
sobretudo, em Mercado que hoje, ao contrário de ontem, atravessa tudo, inclusive
a consciência das pessoas”, observa Santos (1994:18). O mercado é, por sua vez,
controlado pelo grande capital.
A globalização associa-se hoje, por sua vez, a um amplo conjunto de
transformações, que configuram a passagem para um novo paradigma tecno-
econômico. Esse novo padrão tecnológico e produtivo é centrado nas modernas
tecnologias de informação e comunicação, que “anulam o espaço através do
tempo” (Harvey, 1993), revolucionando as relações espaço-temporais e fazendo
com que a informação passe a ser “o verdadeiro instrumento de união entre as
diversas partes de um território” (Santos, 1994:17).
Essas mudanças fazem-se acompanhar da emergência de “novas formas
espaciais” e de uma “nova lógica espacial”, onde o “espaço dos fluxos” tende a
sobrepor-se ao “espaço dos lugares” (Castells, 1989). Por outro lado, a partir do
potencial integrativo do novo padrão tecnológico, o local redefine-se, ganhando
em densidade comunicacional, informacional e técnica no âmbito das redes
informacionais que se estabelecem em escala planetária.
Sobre essa nova realidade, as opiniões dividem-se. Para alguns, o local vem
tornando-se “fantasmagórico”, desprovido de um significado próprio e fortemente
condicionado por influências externas. Para outros, no entanto, o local constitui
suporte e condição para relações globais: é nele que a globalização se expressa
concretamente e assume especificidades.
Essas questões são a seguir discutidas através da sua expressão em três grandes
níveis ou dimensões: o sociocultural, o político e o econômico.
Globalização e espacialidade: o novo papel do local
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3.1 – Sociocultural
O impacto da globalização sobre as culturas locais2 tem sido visto sob dois
grandes ângulos.
Por um lado, a globalização é percebida como associando-se ao aprofundamento
da tendência à hegemonia da cosmovisão ocidental/“americanizante”, assentada
na racionalidade tecnológica e na penetração de valores de mercado em todos os
espaços e em todos os campos da vida social. Estaria assim promovendo o declínio
das identidades sob as forças da estandardização, a desconstrução do local enquanto
singularidade, bem como a descaracterização ou perda de autenticidade das culturas
locais, frente à sua cada vez maior permeabilidade às influências externas.
Dessa ótica, as redes de comunicação, atuando como cadeias de fluxos contínuos
de informação e de imagens, contribuem para descolar o indivíduo de seu ambiente
imediato, vinculando-o a outros espaços de referência, que não mais o local
enquanto continente de memória coletiva. O caráter crescentemente urbano da
vida social acentua a tendência ao estabelecimento de padrões comuns entre as
diferentes localidades. “O urbano não designa mais a cidade nem a vida na cidade,
mas passa a designar a sociedade que constitui uma realidade que engloba e
transcende a cidade enquanto lugar, ligando pontos isolados do planeta que se
constitui no mundial em processo de realização”, observa Carlos (1996:56).Sob uma perspectiva distinta, acredita-se que a globalização não significa o fim
de toda identidade territorial estável, mas que, ao contrário, cada sociedade ou
grupo social é capaz de preservar e desenvolver seu próprio quadro de
representações, expressando uma identidade ao mesmo tempo espacial e
comunitária em torno da localidade. A dimensão cultural atua aqui justamente
como “um fio invisível que vincula os indivíduos ao espaço” (Sénécal, 1992),
marcando uma certa idéia de diferença ou de distinção entre comunidades.
Maffesoli (1984:54) chama a atenção para o fato de que esse poder de
diferenciação e conservação do local expressa-se mesmo nas grandes cidades
cosmopolitas, como Paris, Nova Iorque e Londres, onde é marcante a presença
2 Cultura local é aqui entendida como a cultura particular de um grupo que, a partir de relações
cotidianas em espaços geográficos relativamente pequenos e delimitados, estabelece códigos comuns e
sistemas próprios de representação (Featherstone, 1993). Wallerstein (1991:184) observa, entretanto,
que “cultura é por definição particularista. Cultura é o conjunto de valores ou práticas de uma parte que
é menor que o todo.”, embora tendo como referência alguns critérios presumivelmente universais ou
universalistas. Para Featherstone (1993), as noções de cultura global e cultura local são necessariamente
relacionais.
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de “uma constelação de entidades regionais ou étnicas” que perpetuam
cotidianamente práticas e costumes característicos e tradicionais, resistentes ao
processo de unificação e de padronização promovido pela mundialização de uma
civilização dominante. Segundo o autor, “essa resistência tradicional que engendra
a solidariedade deve-se, sobretudo, à pregnância de uma memória espacial. (...) É
nesse sentido que podemos falar de ‘encarnação’ da socialidade que necessita de
um solo para se enraizar.” (idem).
Desse ponto de vista, acredita-se que, ainda que paradoxalmente, a globalização
tem provocado menos a homogeneidade ou a uniformidade, e mais, ao inverso, o
aumento da diferenciação e da complexidade cultural (Wallerstein, 1991). “As
identidades ligadas ao lugar tornaram-se mais importantes em um mundo onde
diminuem as barreiras espaciais para a troca, o movimento e a comunicação”,
observa Harvey (1993:4).
Dessa perspectiva ainda, o desenvolvimento das redes de comunicações vem
permitindo que se amplie a consciência sobre a diversidade cultural existente no
mundo, por meio do contato com o variado leque de culturas locais, obscurecidas
pelo projeto ocidental universalista e modernizante. Ou seja, a consciência de que
“nossa história é gerada em relação a outras espacialmente distintas, temporalidades
coexistentes” (Featherstone, 1993:170).
3.2 – Político
Em linhas gerais, o sistema político comporta duas dimensões: os conflitos e
alianças entre grupos socialmente distintos e a competição e cooperação entre
grupos espacialmente diferenciados (Castro, 1992).
As escalas territoriais, por sua vez, do local ao mundial, conferem especificidade
às práticas políticas que sobre elas intervêm, expressando distintos níveis de interesse
e solidariedade, do mesmo modo que tais escalas e práticas encontram-se, cada
vez mais, mutuamente referenciadas e imbricadas.
Historicamente, as estruturas de poder, para se exercer de maneira plena e
eficaz, têm recorrido a partições de toda ordem, especialmente partições de caráter
territorial. “O exercício do poder implica a manipulação constante da oposição
continuidade versus descontinuidade”, observa Raffestin (1993:169); ao passo
que Harvey (1993:21) argumenta que essa é uma estratégia típica do modo de
produção capitalista: “A produção e reprodução de diferenciações do poder é
central para as operações de qualquer economia capitalista.”.
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“O termo nação é usualmente aplicado para um grupo de população, ou um povo, com certas
características unificadoras. (...) O conceito de estado-nação expressa identidade entre um povo e seu
espaço geográfico soberano.” (Smith, 1990: 5).
Já na Antigüidade Clássica, o conceito de região veio expressar novas relações
de autonomia e subordinação entre poderes locais e um poder central (geralmente
uma cidade central, como no caso de Roma, no Império Romano). As unidades
regionais então configuradas definiram recortes territoriais que iriam projetar-se
na delimitação dos feudos medievais e que, mais tarde, iriam refletir-se na malha
político-administrativa dos Estados modernos (Gomes, 1995).
A constituição de espaços nacionais, a partir da formação dos Estados-Nações3 ,
há cerca de 300 anos, ocorreu geralmente às custas da hegemonia de um setor ou
grupo local/regional (no sentido subnacional) sobre os demais e da incorporação
de sistemas locais de poder, até então independentes, por macrounidades político-
territoriais formadas em torno desses Estados-Nações. No processo de construção
dos Estados-Nações, fizeram-se necessários novos arranjos político-jurídicos e
novas formas de organização territorial, vinculando o centro ou local dominante às
demais áreas ou regiões, antes autônomas e independentes, que foram então
incorporadas ao espaço nacional.
Originaram-se daí dois tipos principais de relações nacional-local. De um lado,
aquelas experiências em que a unidade política e econômica conferida pelo Estado
Nacional representou maior dinamismo para as economias locais pré-existentes,
que já dispunham de uma tradição mercantil e manufatureira. De outro, aqueles
casos em que um Estado dirigista e centralizador estabeleceu-se sobre um conjunto
de sistemas locais predominantemente rurais e pouco estruturados. Enquanto, no
primeiro caso, tendeu-se para um federalismo descentralizado, no segundo caso o
poder central impôs-se sobre as especificidades locais, embora assentando-se,
em tese, sobre a noção de diversidade intra-nacional (Benko, 1996).
A esse respeito Agnew (1987:391) observa que “sob condições de desigualdade
econômica e política entre lugares, uma hegemonia só pode ser mantida através
de políticas com conseqüências geográficas e políticas orientadas para o local que
favoreçam aquelas populações e lugares que dão suporte a essa hegemonia”.
Recentemente, entretanto, a globalização vem colocando em cheque o papel
dos Estados-Nações, enquanto unidades políticas soberanas e autárquicas e
enquanto atores centrais no jogo de forças que movem o cenário mundial, ao
mesmo tempo em que se estabelecem novas conexões entre o local e o mundial.
Globalização e espacialidade: o novo papel do local
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O paradigma tecno-econômico emergente, centrado nas modernas tecnologias
da informação e comunicação, desempenha um papel decisivo para que isso se
realize, tal como assinalado por Castells (1989:349), para quem “os fluxos do poder
geram o poder dos fluxos, cuja realidade material impõe-se como um fenômeno
natural que não pode ser controlado ou previsto, apenas aceito e administrado”.
Ao que acrescenta que: “Quanto mais as organizações dependem dos fluxos e
das redes, menos elas são influenciadas pelos contextos sociais associados aos
lugares de sua localização” (idem). Trata-se, em última análise, da fragilização
dos mecanismos de controle social, político e econômico de base territorial, em
proveito da concentração de poder pelas corporações transnacionais e instituições
financeiras, que conformam uma teia institucional coercitiva no plano global.
Mas a nova dialética global-local não parece prescindir da intervenção dos
Estados-Nações. Estes, ao contrário, oferecem condições para que tal dialética
se reproduza, do mesmo modo que dela se valem para sua própria projeção no
cenário globalizado, tal como assinalado por Benko (1996:65):
“só poderá haver aí certo tipo de ‘regiões que ganham’ (ou antes, certa
maneira de ganhar, para uma região)no quadro de certo tipo de Estado
nacional ou confederado, e esses Estados só ‘ganharão’ na competição
econômica internacional se souberem suscitar esse tipo de ‘regiões que
ganham’.”
Nesse contexto, os instrumentos de política, de planejamento e de coordenação
de ações, de caráter estatal, adquirem importância renovada, à medida que o
Estado é compelido a assumir o desafio de atender e de viabilizar, simultaneamente,
interesses existentes nos planos global, nacional e local.
As relações entre o espaço local e o espaço global – ou entre o espaço banal
e as redes – são, por sua vez, permeadas de conflitos, o segundo buscando impôr
sua hegemonia sobre o primeiro. O local está sendo percebido como um espaço
político privilegiado de resistência, principalmente em relação aos interesses do
grande capital, estruturando-se novos movimentos de revalorização local, de
conteúdos variados, como contrapartida de forças sociais que se vêem
marginalizadas pela dinâmica globalizante. Tais movimentos migram
freqüentemente da esfera cultural para a arena política, exaltando uma “democracia
do cotidiano” (Di Meo, 1992) e promovendo a emergência de um “novo
regionalismo”, que pode vir a atuar como um substituto para uma “ideologia
territorial” inexistente ao nível nacional (Ossenbrügge, 1989).
Globalização e espacialidade: o novo papel do local
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Nesse contexto, ganham novo fôlego manifestações de caráter nacionalista,
étnico e fundamentalista/religioso. Essas manifestações, ao contrário dos
nacionalismos europeus típicos do século XIX, que expressaram a luta pela
constituição de espaços nacionais unificados, assumem hoje um conteúdo separatista
e autonomista em relação aos Estados existentes. Tais movimentos, ao mesmo
tempo em que constituindo expressões de afirmação de culturas locais frente às
forças da uniformização, têm-se pautado fortemente pela intolerância e a
excludência. Castells (1989:350) encontra explicação para este fato, acreditando
que:
“A globalização dos fluxos de poder e a tribalização das comunidades locais
são parte de um mesmo processo fundamental de restruturação histórica: a
crescente dissociação entre o desenvolvimento tecno-econômico e os mecanismos
correspondentes de controle social de tal desenvolvimento”.
A esse mesmo respeito, Harvey (1993:15) sugere que, alternativamente, deva-
se promover uma nova síntese entre o moderno e o tradicional, bem como entre o
global e o local, opinando que:
“Não podemos retornar, não podemos rejeitar o mundo da sociabilidade que foi
alcançado pela interligação de todas as pessoas em uma economia global; devemos,
de algum modo, construir sobre esse alcance e procurar transformá-lo em uma
experiência não alienante”.
3.3 – Econômico
A economia global constitui-se hoje de um conjunto de economias regionais
especializadas, que atuam na forma de um entrelace planetário de relações
produtivas, financeiras e mercantis, no qual cada parte atua, de maneira distinta,
na reprodução do sistema mundial, consubstanciando uma divisão socioespacial
do trabalho.
As transformações econômicas e tecnológicas operadas a partir da década de
70 motivaram a configuração de uma “nova matriz de relações espaciais e
acumulação de capital”, estabelecendo novos padrões locacionais no âmbito da
reprodução capitalista. O desenvolvimento dos meios de comunicação e transporte
viabilizou maior mobilidade geográfica de capitais, ampliando a liberdade de escolha
de sua localização. “Isto permite aos capitalistas tirar mais (e não menos) vantagem
das pequenas diferenças entre os lugares em termos de qualidade, quantidade e
custos dos recursos”, observa Harvey (1993:7).
Globalização e espacialidade: o novo papel do local
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Do mesmo modo, a economia mundial torna-se mais sensível às diferenças
nos custos de produção, nos gostos de consumo e nas vantagens comparativas
locais, acirrando a concorrência entre os lugares. “A globalização avança através
não só da incorporação extensiva de novos espaços, como, sobretudo, pela valorização
seletiva das diferenças.”, assinala Becker (1991:14). A valorização e diferenciação
espacial é condicionada, em grande medida, por diferentes capacidades de oferecer
competitividade aos empreendimentos e rentabilidade aos investimentos, traduzindo
ao final diferentes vantagens locacionais e expressando distintos níveis de
produtividade geográfica ou espacial. “A produção na economia informacional
torna-se organizada no espaço dos fluxos, mas a reprodução social continua a ser
específica localmente”, argumenta Castells (1989:351).
Essa hierarquização do espaço global é hoje, por sua vez, fortemente
determinada pela capacidade dos lugares de absorver novas tecnologias, bem
como pela sua maior ou menor disponibilidade de infra-estrutura e de mão-de-
obra adequadas à localização dos segmentos econômicos intensivos em
conhecimento. Do ponto de vista econômico, o que hoje, portanto, diferencia
fundamentalmente os territórios não são seus atributos físicos ou inanimados, mas
o seu conteúdo imaterial, particularmente a sua base de informações e de
conhecimentos, refletindo em grande medida desiguais disponibilidades espaciais
de recursos humanos e de mão-de-obra qualificada.
Em linhas gerais, identificam-se quatro padrões de comportamento local, diante
da globalização e das transformações tecno-econômicas que a acompanham
(Benko, 1993): a) os que detêm meios inovadores adequados para capitalizarem
positivamente para si as repercussões do atual processo de globalização; b) os
que se mostram suficientemente dinâmicos para tirar proveito das novas
oportunidades, mas encontram limites e resistências internas para avançar sua
posição nesse cenário; (c) os que se mostram desestruturados e fragilizados perante
às injunções e interesses externos; d) por fim, aqueles que não possuem qualquer
dinâmica própria.
Os fatores de ordem técnica, organizacional e jurídico-normativa que definem
essas condições não são, entretanto, imutáveis; eles variam ao longo do tempo.
Do mesmo modo, os empreendimentos econômicos e produtivos – e os capitais –
migram em busca de novas vantagens locacionais, atendendo a suas necessidades
de reprodução. Os locais tornam-se, assim, mais densos e complexos, mas também
mais mutáveis, modificando-se mais rapidamente a sua organização interna, bem
como o papel que desempenham no cenário mundial.
Globalização e espacialidade: o novo papel do local
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A mobilidade de capitais e de empreendimentos, capitaneada pela re-localização
dos segmentos econômicos de alta tecnologia, repercute na projeção de novas
áreas e regiões e no declínio de outras, geralmente aquelas de industrialização
baseada no antigo modelo fordista de produção em massa, que mais fortemente
sofreram as repercussões da crise mundial processada nas décadas de 1970 e
1980. “As tecnologias de comunicação avançada encorajam o aparecimento de
novas atividades de produção especializada, as quais freqüentemente agrupam-se
no espaço geográfico”, assinalam Storper e Scott (1989). No regime da produção
flexível, um novo conjunto de regiões industriais centrais ganha projeção,
caracterizando um processo de re-aglomeração da produção, enquanto algumas
das áreas mais antigas são remodeladas e seletivamente re-industrializadas,
estabelecendo-se assim uma dinâmica de “desintegração” e de “restruturação”
ou “reconstrução” espacial.
Projetam-se, nesse contexto, as cidades mundiais ou globais, investidas de
funções supralocais e estreitamente conectadas à rede de empresas transnacionais,
constituindo-se assim em centros geográficos de poder na rede urbana internacional
e no sistema econômico mundial. Nas cidades mundiais, as grandes empresas
industriais, financeiras e comerciais encontram um espaço privilegiado de
“ancoragem” física. “Segundo o conceito de ‘cidade global’, a hierarquização do
sistema urbano internacional se explica pela distribuiçãodesigual das funções
supralocais de comando em relação aos processos de produção e valorização do
capital”, observa Benko (1996:71). Essas cidades mundiais estabelecem conexões
e funções mais de âmbito nacional e internacional, do que local ou regional.
No caso específico do mercado de capitais, crescentemente transnacionalizado
desde a década de 70, estrutura-se uma rede mundial hierarquizada de centros
financeiros, que se tornam cada vez mais independentes de suas economias
nacionais, colocando em questão a importância da localização e da concentração
geográfica desses mercados.
O’Brien (1992) sugere que essa questão pode ser olhada sob dois grandes
ângulos. Por um lado, o fato de que as regras do mercado financeiro estarem
tornando-se cada vez mais independentes de arcabouços geográficos ou de
territórios jurisdicionais específicos amplia consideravelmente a possibilidade de
escolha da localização geográfica desses mercados, desde que garantida uma
infra-estrutura de informação e computação adequada. A possibilidade de rápida
comunicação, por meio das redes telemáticas, dispensaria, em princípio, a existência
de centros financeiros.
Globalização e espacialidade: o novo papel do local
194
Por outro lado, o próprio desenvolvimento das comunicações tem motivado a
ampliação e o fortalecimento desses centros, que se beneficiam das economias
de escala obtidas mediante a concentração espacial de mercados, conectando-se
e comercializando, a partir deles, com o conjunto do planeta. Este é o caso de
Londres, que abriga mercados de commodities, de metais preciosos, de capitais e
de moeda corrente, além do maior mercado de seguros do mundo. Ademais, a
proximidade espacial entre as bolsas de valores e as empresas cujas ações são
negociadas no mercado de capitais, a concentração espacial de expertise e o
contato pessoal no processo de negociação são fatores ainda valorizados. A
localização dos centros financeiros é, por sua vez, objeto de fortes disputas de
interesses, especialmente entre cidades, mais do que entre países.
A nova lógica espacial do paradigma tecno-econômico emergente assenta-se
portanto sobre três principais tendências: 1a a concentração e a centralização das
decisões de caráter estratégico; 2a a descentralização do gerenciamento
organizacional, 3a as inter-relações espaciais possibilitadas pelos fluxos
informacionais. Esses fluxos são, por sua vez, definidos pela lógica hierárquica
das estruturas de poder e pelos limites colocados pela infra-estrutura de informação
e comunicação disponíveis (Castells, 1989).
4. O LOCAL NOS MODELOS DE DESENVOLVIMENTO:
COMPETITIVIDADE X SUSTENTABILIDADE
Dentre a diversidade de trajetórias possíveis, do ponto de vista da evolução
futura do cenário mundial, dois principais modelos estão hoje em pauta, cada qual
reservando distintos papéis para a esfera do local. Trata-se, na verdade, de uma
tipificação de duas trajetórias extremas. A realidade concreta dos fatos é
naturalmente muito mais complexa, tendendo a comportar elementos, muitas vezes
conflituosos ou antagônicos, de ambos os modelos, ainda que devendo expressar,
no conjunto, o predomínio de um.
Uma dessas vertentes, que é hoje a dominante, fundamenta-se no ideário
(neo)liberal da inserção competitiva, enquanto padrão de desenvolvimento
nacional/regional/local e enquanto estratégia de posicionamento vantajoso dessas
distintas unidades político-territoriais ante à globalização. Essa tendência representa
a continuidade do modelo atual, constituindo condição e resultado do acirramento
da competição intercapitalista, bem como do aprofundamento das desigualdades
socioespaciais.
A outra trajetória, emergente, baseia-se no avanço da tese do
desenvolvimento sustentável, que se projeta a partir das evidências sobre os
Globalização e espacialidade: o novo papel do local
195
limites socioambientais dos padrões atuais de produção e consumo, diante da crise
de modelos que, durante mais de meio século, apresentaram-se como alternativa
à via capitalista dominante. Ainda que sem configurar, necessariamente, uma
ruptura radical com relação aos padrões societários vigentes, a sustentabilidade
sócio-política-ambiental dos estilos de desenvolvimento adotados vem colocando-
se em cada vez maior evidência enquanto modo de superação da atual crise
planetária.
Na vertente da inserção competitiva, o local constitui peça-chave para a
reprodução do sistema econômico, que, se hoje exige ser globalizado, também
necessita de ancoragens físicas para os empreendimentos produtivos, ao mesmo
tempo em que requer uma fronteira em constante movimento que abrigue os
capitais volatilizados, bem como que atenda às contínuas transformações nas
condições de reprodução do capital.
A reafirmação do local responde, nesse caso, a novas demandas de eficiência
e de eficácia do sistema produtivo global, viabilizando, por meio das condições
criadas pelas novas tecnologias de informação e comunicação:
a) a fixidez e a flexibilidade exigidas pelo novo paradigma técnico-econômico;
b) a diversificação socioespacial (em termos de mercados de consumidores,
de contingentes de mão-de-obra, de infra-estrutura, de aparatos institucionais e
de regimes normativos), enquanto parte integrante da uniformização imposta pelo
mercado globalizado;
c) a descentralização gestionária, instrumental à concentração promovida por
uma economia crescentemente oligopolizada.
A produção da diferença espacial consiste aqui, no entanto, em mero produto
da lógica desigual da dinâmica econômico-financeira, bem como do aprofundamento
da divisão geográfica do trabalho. Diferenciação é sinônimo, nesse caso, de
competição e de desigualdade, onde o importante é oferecer melhores condições
para atrair e reter novos investimentos, o que, freqüentemente, expressa-se por
meio do antagonismo e da exclusão de uns em relação a outros, produzindo-se, ao
final, ganhadores, de um lado, e perdedores, de outro. O moderno sobrepõe-se ao
tradicional, quando muito transformando-o em objeto de interesse mercantil e
especulativo.
Globalização e espacialidade: o novo papel do local
196
O Estado-Nação intervém aqui de modo subordinado, ainda que cumprindo um
papel essencial, servindo como correia de transmissão de interesses entre o global
e o local e oferecendo condições materiais, jurídico-normativas e de outra natureza
à produção da sociedade espacialmente globalizada.
Na vertente sustentabilista, ao contrário, o local atua como elemento de
transformação sócio-político-econômica, representando o locus privilegiado para
novas formas de solidariedade e parceria entre os atores, em que a competição
cede espaço à cooperação.
O local representa, nesse contexto, uma fronteira experimental para o
exercício de novas práticas (Becker, 1997) e para o estabelecimento de redes
sociais fundadas em novas territorialidades4 , frente às exigências colocadas
por problemas de âmbito global, cujo enfrentamento depende em grande medida
de intervenções que se realizem em nível do local. O local constitui-se assim em
espaço de articulação – ou de síntese – entre o moderno e o tradicional, sinalizando
a possibilidade de gestarem-se, a partir das sinergias produzidas por essas interações,
soluções inovadoras para muitos dos problemas típicos da sociedade
contemporânea.
Nesse cenário, o Estado-Nação, ainda que tendo seu papel modificado diante
do processo de globalização, tem suas responsabilidades ampliadas no tocante ao
desenvolvimento e à implementação de políticas nacionais orientadas para
promover uma intervenção coordenada nos planos global, nacional e regional/
local.
Em ambos os modelos, ou cenários, o desenvolvimento local ganha nova
dimensão, representando por si só uma inovação frente às práticas anteriores e
uma variável determinante para os projetos em questão.
4 O conceito de territorialidade “visa justamente a englobar o conjunto de formassociais e das relações
com a exterioridade, tendo em conta o meio.” (Sénécal, 1992). Na perspectiva de Raffestin (1993:158),
a territorialidade “reflete a multidimensionalidade do ‘vivivo’ territorial. (...) Os homens ‘vivem’, ao
mesmo tempo, o processo territorial e o produto territorial por intermédio de um sistema de relações
existenciais e/ou produtivistas.” E acrescenta: “todas são relações de poder”.
Globalização e espacialidade: o novo papel do local
197
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