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AULA 1 GLOBALIZAÇÃO, INDÚSTRIA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: ABORDAGENS SISTÊMICAS DE SUPPLY, VALUE CHAINS E NETWORKS Prof. Alceli Ribeiro Alves 2 TEMA 1 – GEOGRAFIA: A CIÊNCIA QUE ESTUDA O ESPAÇO GEOGRÁFICO Nesta aula, trataremos do papel dos paradigmas na ciência e na vida dos cidadãos e discutiremos acerca dos conceitos de efeito paradigma e das consequências da paralisia de paradigma. Além disso, trataremos de apresentar e discutir acerca da perspectiva geográfica e, em particular, da perspectiva da Geografia Econômica. Por fim, iremos elaborar um breve argumento acerca daquilo que acreditamos que seja o caminho para uma renovação e uma inovação dentro da Geografia Econômica, estabelecendo interseções analíticas e técnicas com diferentes áreas do conhecimento. Boa aula! 1.1 Compreendendo o mundo a partir de uma perspectiva Cabe ressaltar que toda e qualquer análise científica sempre é pautada por um conhecimento prévio; um repertório teórico, conceitual e metodológico; um olhar ou perspectiva que se adota e aplica. Tal análise não ocorre sem critérios, competências ou, no mínimo, com algumas ferramentas essenciais para se compreender e explicar os fenômenos. Sem dúvida, é correto admitir também que a escolha de dado referencial ou perspectiva acaba influenciando no tipo de análise e percepção que se pode ter acerca de uma mesma informação factual. Afinal, um determinado fenômeno ou realidade pode ser interpretado e analisado segundo diferentes pontos de vista. Uma vez construída uma compreensão ou percepção acerca de um fato, pode ser difícil também que se consiga realizar outra leitura ou análise segundo novos olhares ou perspectivas. É isso que a Figura 1 nos ajuda a demonstrar. A imagem mostra uma taça ou dois rostos de perfil na cor negra, de acordo com a perspectiva que se queira escolher ou adotar para realizar a interpretação perceptual. 3 Figura 1 – Interpretações perceptuais alternativas da mesma informação factual básica Crédito: Peter Hermes Furian/Shutterstock. Uma vez construída uma compreensão ou percepção acerca de um fato, pode ser difícil também que se consiga realizar outra leitura ou análise segundo novos olhares ou perspectivas. É isso que a Figura 1 nos ajuda a demonstrar. A imagem mostra um vaso na cor branca ou duas faces de cor preta, de acordo com a perspectiva que se queira escolher ou adotar para realizar a interpretação perceptual. Para Alves (2015, p. 83), a Geografia Econômica se preocupa em: Analisar, compreender e explicar a organização espacial das atividades econômicas em determinados sistemas econômicos à luz da Geografia e de seus conceitos e técnicas. O Geógrafo economista se preocupa com a localização dos vários elementos dos sistemas econômicos, como eles estão conectados no espaço, como eles o produzem e transformam, e quais são os impactos sócio-espaciais dos processos econômicos. Graduados em Geografia têm bastante familiaridade com este objeto e com as ferramentas utilizadas pela Geografia. Mas, percepção espacial é uma atividade que precisa ser desenvolvida por todos os indivíduos, independentemente do referencial ou perspectiva que se queira escolher e adotar. Reconhecer a importância da dimensão espacial em nossas vidas é algo que muitas vezes pode passar despercebido no cotidiano dos cidadãos ou mesmo em pesquisas e análises realizadas na perspectiva de outras áreas do conhecimento. 4 Admitimos que nossa perspectiva talvez não seja a única, ou mais adequada, para a análise de todos os fenômenos que ocorrem como resultado da interação entre sociedade e natureza, mas, sem dúvida, trata-se de um olhar ou perspectiva que oferece diversos insights para lançar luz na busca de repostas para as questões da atualidade. 1.2 A ciência que estuda o espaço geográfico Por isso, e ainda em caráter introdutório, é importante saber que a Geografia estuda, dentre outras coisas, a relação das sociedades com o meio em que vivem; as transformações produzidas nas paisagens pela ação de indivíduos, empresas, governos, instituições etc., com o objetivo de satisfazerem suas necessidades, produzirem riqueza ou planejarem estratégias para estimular o desenvolvimento. É o que a Figura 2 implicitamente demonstra. A imagem mostra uma das Avenidas mais movimentadas da Cidade de Curitiba, a Avenida Visconde de Guarapuava. Ela conecta o centro da cidade a diversos bairros ou localidades da capital paranaense. Ao longo da Avenida, e também nas vias paralelas, há diversos empreendimentos, como condomínios residenciais, empresas do setor de serviços, instituições de ensino etc. Figura 2 – O espaço geográfico em transformação Crédito: Alf Ribeiro/Shutterstock. Sem dúvida, um exemplo que revela transformações no espaço geográfico, ou ainda na paisagem, que decorrem da necessidade que indivíduos, empresas, governos têm de interferirem no meio para satisfazerem suas necessidades (ex: 5 de moradia), produzirem riqueza, gerarem oportunidades de trabalho, emprego e renda. A Geografia passou por diversas transformações, apropriando-se de conceitos, teorias e métodos que foram gradativamente compondo o repertório da ciência geográfica, auxiliando-a na compreensão de seu objeto de estudo, o espaço geográfico. Desde sua institucionalização e sistematização enquanto ciência, a Geografia foi influenciada por diversos paradigmas. Numa fase mais incipiente de institucionalização, a Geografia era uma ciência predominantemente descritiva, que enfatizava as particularidades dos lugares, os costumes de seus habitantes, o tipo de vegetação característico da região etc. Em outro momento, a Geografia deparou-se com um novo paradigma, que rompeu com a simples descrição dos lugares, para dar espaço ao raciocínio dedutivo, lógico-matemático, baseado na construção de leis gerais. Já em outro paradigma emergiram temas mais relacionados aos problemas sociais, às desigualdades sociais e às contradições do capitalismo. 1.3 A interseção entre Geografia e as demais áreas do conhecimento É importante destacar que nossa análise se baseia também, e significativamente, em conceitos, teorias e métodos provenientes de diversas outras áreas do conhecimento, destacando-se a Economia, a Administração, e a área de Negócios. Isso ficará evidente na medida em que apresentarmos a influência de diferentes paradigmas na Geografia ao longo de seu processo de transformação e também nas discussões que iremos promover nas próximas aulas. Nesse sentido, já destacamos que a noção de sistemas, supply chains, value chains, além de outras que analisaremos no contexto da Globalização, da indústria, do comércio internacional e do desenvolvimento sustentável, não se limitam à perspectiva geográfica. Pelo contrário, muitas dessas noções e perspectivas têm origem na Economia, na Sociologia Econômica e na vasta literatura disponível nas áreas de Negócios e Administração. 6 TEMA 2 – PARADIGMA, EFEITO PARADIGMA E PARALISIA DE PARADIGMA 2.1 Conceito de Paradigma Toda ciência é influenciada por paradigmas. Certos paradigmas permanecessem por muitos anos, determinando não apenas o tipo de ciência que se faz, mas também influenciando na percepção que os indivíduos ou sociedades têm e constroem, em todos os lugares, acerca dos eventos e transformações que impactam em suas vidas cotidianas. O conceito de paradigma é do cientista americano Thomas Kuhn, que o define da seguinte forma: “considero paradigmas as realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência” (Kuhn, 1987, p.13). Segundo Kuhn (1987, p. 44), em sua obra-prima intitulada “A estrutura das revoluçõescientíficas”, publicada pela primeira vez em 1962, Os paradigmas adquirem seu status porque são mais bem-sucedidos que seus competidores na resolução de alguns problemas que o grupo de cientistas reconhece como graves. Contudo, ser bem-sucedido não significa nem ser totalmente bem-sucedido com um único problema, nem notavelmente bem-sucedido com um grande número. De início, o sucesso de um paradigma [...] é, em grande parte, uma promessa de sucesso que pode ser descoberta em exemplos selecionados e ainda incompletos. Para Kuhn (1987, p. 44), a ciência normal consiste na atualização dessa promessa, “atualização que se obtém ampliando-se o conhecimento daqueles fatos que o paradigma apresenta como particularmente relevantes, aumentando- se a correlação entre esses fatos e as predições do paradigma e articulando-se ainda mais o próprio paradigma”. Um paradigma se torna amplamente difundido e aceito quando suas teorias, conceitos e métodos oferecem respostas adequadas aos problemas da humanidade, e da própria ciência. Existem paradigmas adequados para solucionar problemas específicos. Contudo, na medida em que a realidade muda, os problemas também mudam, e novas questões precisam ser respondidas. É aqui que o paradigma pode, ou não, tornar-se incapaz de fornecer respostas adequadas e com o mesmo rigor científico ao longo de períodos relativamente amplos. 7 2.2 Efeito paradigma Nesse processo, todos nós somos acometidos pelo efeito paradigma. O efeito paradigma significa a repercussão do paradigma em nosso pensamento e em nossa forma de agir diante dos problemas e situações que se apresentam em nosso cotidiano. Quando se entende que tal paradigma pode nos auxiliar na busca de respostas para as questões que nos desafiam, então seguimos ou escolhemos tal paradigma e o consideramos como adequado ou correto. Porém, se dado paradigma não se adequa ao modo de pensar e agir de determinados indivíduos, tais indivíduos podem resistir às mudanças. A mudança de paradigma é um processo que não deve passar despercebido pelo olhar do pesquisador, do cidadão, do intelectual, das instituições, dos governos, empresas etc. Na mudança de paradigma, é necessário refletir criteriosamente acerca daquilo que se pretende reconhecer, incorporar e adaptar em relação ao novo. 2.3 Paralisia de paradigma Há que se perceber o momento em que o paradigma se torna inadequado, e reconhecer a necessidade de utilização de outro paradigma. Essa tarefa precisa ser realizada para evitar que a ciência, e também os indivíduos, não fiquem estacionados em um determinado paradigma, ou seja, na mesma forma de pensar e agir, na chamada paralisia de paradigma. Empresas, governos, lugares e instituições também são influenciados por paradigmas e precisam tomar decisões e fazer escolhas que, baseadas em tais paradigmas, podem e certamente irão afetar outras empresas, governos, instituições etc. Os cidadãos não têm uma tarefa trivial, eles precisam fazer escolhas difíceis e importantes em contextos de mudança de paradigma. Nem sempre o indivíduo está propenso à mudança, ele pode vir a rejeitar uma ideia, uma inovação ou simplesmente ignorar um alerta, uma oportunidade. Diversas ciências e escolas de pensamento também podem sofrer de paralisia de paradigma. Determinadas pessoas, apesar de se depararem com um fato novo, um processo de mudança, a presença do novo paradigma, não querem 8 mudar. A parábola que envolve um homem, uma mulher, um carro e um porco nos faz refletir sobre essa questão (Figura 3). Empresas e negócios muitas vezes também não mudam, não inovam, não enxergam as oportunidades nas mudanças e, consequentemente, correm o risco de ter de encerrar suas atividades, decretando falência. Figura 3 – A parábola do homem, da mulher, do carro e do porco Crédito: christian_b/Shutterstock. Em suma, mudar de paradigma não deve ser visto como uma péssima ideia ou escolha a se fazer. A mudança pode indicar, de fato, o surgimento de janelas de oportunidades. A análise conduzida aqui também sofre a influência de certos paradigmas, e isso ficará evidente para o leitor em alguns momentos. TEMA 3 – PARADIGMAS EM GEOGRAFIA: REVOLUÇÃO QUANTITATIVA 3.1 Revolução quantitativa ou evolução teórica? Neste tema, nosso foco consistirá em tratar de um paradigma bem peculiar que influenciou a geografia em meados do século XX, o paradigma quantitativo- pragmático, que emergiu da revolução quantitativa. Revolução quantitativa, alguns diriam, é um termo inadequado para se referir a essa mudança e adoção do novo paradigma. Para Barnes (2001, p. 552), por exemplo, tanto o substantivo (revolução) como o adjetivo (quantitativa) estão errados porque a geografia tinha sido quantitativa desde o tempo de sua institucionalização formal como uma disciplina no século XIX. Além disso, argumenta o autor, que o que houve foi uma evolução na utilização das técnicas utilizadas, técnicas essas baseadas em teorias até então 9 não difundidas e aplicadas em geografia. Daí o porquê considera essa mudança de paradigma como uma “evolução teórica”, mais do que uma revolução quantitativa, denominando-a de teoria da primeira onda ou first-wave theory (Barnes, 2001, p. 552). Qualquer que seja a perspectiva ou terminologia utilizada é importante notar que foi por volta de 1950 que a revolução quantitativa muda a maneira como a geografia, e, sobretudo, a geografia econômica passou a estudar o espaço geográfico e fazer uso de dados e estatísticas. Estamos nos referindo ao paradigma pragmático, da geografia quantitativa, ou ainda da geografia teorética. Para Barnes (2011), essa revolução se inicia entre os geógrafos economistas anglo-americanos a partir de meados de 1950. Essa nova geografia, resultado da revolução, poderia ser definida pela “aplicação sistemática de formas científicas de teorização e rigorosas técnicas estatísticas de análise e descrição (Barnes, 2001, p. 39)”. Antes da revolução quantitativa, a geografia econômica estava preocupada em descrever, catalogar e delinear a economia de lugares e paisagens únicas. Mas esse paradigma caracterizado pela descrição exaustiva das paisagens e lugares foi deixado de lado, substituído por uma nova geografia, voltado para explicar cientificamente e provar (e teorizar) de maneira abstrata os fenômenos e as relações econômicas espaciais. A geografia econômica, nesse novo paradigma, não poderia mais ser considerada simplesmente como “uma memorização dos principais portos, principais vias navegáveis e principais produtos, mas sim uma ciência, uma ciência espacial” (Barnes, 2011, p. 39). Consequentemente, a geografia se aproximou da economia, da matemática e da estatística, por meio dos diálogos e interseções conceituais e metodológicas com as teorias de Johann Von Thünen, Walter Christaller e Alfred Weber. A revolução quantitativa revela uma primeira movimentação da geografia, e em particular, da geografia econômica, no sentido de aproximar-se de outras ciências ditas exatas ou duras. Nessa primeira aproximação, a geografia econômica fez uso de modelos matemáticos, figuras geométricas, análises estatísticas e de conceitos, teorias e métodos da economia. É nesse contexto que há um resgate das teorias de Johann Von Thünen, Walter Christaller e Alfred Weber. 10 3.2 Surfando em diferentes paradigmas: a obra de David Harvey O geógrafo britânico David Harvey é um desses raros intelectuais que foram capazes de influenciar (e de ser influenciado) pelas diversas vertentes teóricas e paradigmas da ciência. Ele publicou livros e artigos científicos na perspectiva de diferentes paradigmas analisados no âmbito da geografia, e talvez seja um dos poucos geógrafos, assim como Milton Santos, Pierre George e Yves Lacoste, que se tornaram influentes não apenas dentroda Geografia, mas também fora dela. Vários trabalhos podem ser citados no contexto de transição da geografia pragmática para a geografia crítica. Aqui, chamamos a atenção para três trabalhos publicados por David Harvey: Explanation in Geography (1969), Revolutionary and counter revolutionary theory in Geography and the problem of ghetto formation (1972) e Social Justice and the city (1973). Explanation in Geography (1969) é uma obra situada ainda no paradigma da geografia quantitativa. Harvey certamente sofreu a influência da geografia pragmática ou da chamada nova geografia e Explanation in Geography é uma dessas obras que revela essa fase pragmática na produção intelectual do geógrafo britânico. Já o artigo “Revolutionary and counter revolutionary theory in Geography and the problem of ghetto formation”, publicado por Harvey em 1972, na revista Antipode, revela uma ruptura do autor com o paradigma dos modelos matemáticos e a proposição de uma revolução dentro do pensamento geográfico, em direção à geografia crítica. No ano seguinte, em 1973, Harvey publica Social Justice and the city, obra que não apenas demonstra esse processo de transição no pensamento geográfico, como também representa o início da abordagem marxista dentro da geografia. Depois disso, Harvey passa a fazer uma leitura criteriosa da obra de Marx, abordando temas que variam desde o urbanismo e o capital financeiro até a teoria das crises econômicas. Conforme já indicamos, após a revolução quantitativa, outras correntes teóricas e paradigmas influenciaram a geografia, como a geografia crítica (sobretudo marxista), a cultural (vertente antropológica), biocêntrica (ambiental). vejamos um pouco sobre a perspectiva cultural em geografia, à luz do que ficou conhecido como a virada cultural, ou cultural turn, em geografia. 11 TEMA 4 – CULTURAL TURN E NEW ECONOMIC GEOGRAPHY 4.1 Cultural turn (virada cultural) e aproximação com a antropologia Segundo Pedrosa (2016, p. 32), “qualquer um que tenha se interessado minimamente pela história da Geografia Cultural pode perceber que este subcampo da Geografia surgiu estabelecendo um contato muito intenso com a antropologia”. Isso é natural, sobretudo se consideramos o objeto de estudo da geografia e a parte que concerne os usos, costumes, as leis das sociedades de modo geral etc. A natureza também está presente nesse contexto, mas é a sociedade e, sobretudo a cultura, que exercem maior peso nesse tipo de análise e paradigma. Afinal de contas, na perspectiva da geografia econômica, a cultura exerce um papel importante nas relações de consumo e de negociações internacionais. Para Johnston et al. (2000, p. 143), a virada cultural destaca como a geografia humana na década de 1990 “testemunhou uma série de tentativas de abordar a negligência dos processos culturais aparentes nas abordagens político- econômicas da década de 1980”. Na década de 1980, a teoria crítica, e principalmente marxista, era um paradigma muito influente em várias ciências humanas e sociais, inclusive na geografia. Assim, na década de 1990 a geografia passou a ver o avanço da perspectiva cultural em suas análises e publicações. O método etnográfico, que tem suas raízes na antropologia, passou a ser novamente utilizado em geografia e ofereceu a esta uma oportunidade, uma chance para mudar, inovar. E a geografia mudou! A cultura estimulou um novo debate, propôs um paradigma novo. Linda McDowell é uma representante deste novo paradigma no contexto anglo- americano. Paul Claval, ganhador do prêmio Vautrin Lud, em 1996, também é outro intelectual importante na Geografia francesa e mundial quando se considera esse paradigma. 4.2 New Economic Geography: reaproximação com a Economia Também no fim do século XX e início do século XXI, a geografia econômica foi novamente influenciada por vertentes ou paradigmas pragmáticos, sobretudo característicos da chamada New Economic Geography. Paul Krugman é um dos 12 nomes mais citados quando se consideram as contribuições provenientes da Economia. Krugman (1991) argumenta que a geografia econômica se afastou dos modelos matemáticos após o declínio do paradigma quantitativo ou pragmático. Muitos geógrafos economistas foram parar em outros departamentos ou, ainda, permaneceram isolados em seus respectivos departamentos. Nesse sentido, o autor propõe o resgate dos modelos em estudos de geografia, e maior proximidade da geografia com a economia. Em seu livro Geography and Trade, elabora modelos relacionadas ao comércio internacional e à localização/ concentração das atividades manufatureiras. O geógrafo Ron Martin é outro nome a ser destacado, seus trabalhos e pesquisas geralmente tratam de temas como desenvolvimento econômico regional, geografia dos sistemas financeiros, geografia econômica evolucionária etc. TEMA 5 – PERSPECTIVAS DA GEOGRAFIA ECONÔMICA PARA O SÉCULO XXI 5.1 Yes, we are in business! Aproximação com as áreas de administração, negócios, relações internacionais e comércio exterior Em 2018, foi publicado um artigo na revista Environment and Planning A: Economy and Space que se tratava de um relatório demonstrando e discutindo a preocupação dos geógrafos com a saúde da geografia econômica como uma subdisciplina e geografia econômica no Reino Unido. O artigo possui o seguinte título: “Sustaining Economic Geography? Business and Management Schools and the UK’s Great Economic Geography Diaspora”. Segundo os autores do artigo (Al James, Neil Coe et al.), os últimos anos testemunharam uma notável migração de geógrafos economistas no Reino Unido, de Departamentos de Geografia para posições acadêmicas em escolas de administração e negócios e centros de pesquisa relacionados. Entre 2015 e 2017, o relatório examinou a escala e a importância dessa tendência, conforme documentado em novos dados de pesquisa e entrevistas geradas por meio de pesquisa realizada pelo Grupo de Pesquisa em Geografia Econômica da Sociedade Geográfica Real, juntamente com o Instituto de Geógrafos Britânicos. 13 Para James et al. (2018), isso levou, de um lado, a uma diminuição dos geógrafos economistas e no tamanho da geografia econômica em departamentos de geografia. E, por outro lado, aproximou esses profissionais e a geografia econômica de áreas que passaram a dialogar de maneira mais intensa e profícua com a geografia econômica, em particular, as áreas de administração e negócios. Essa migração ou movimento demonstra que a geografia continua desempenhando seu papel. Apesar de ser uma ciência com um objeto específico, qual seja, o espaço geográfico, continua exercendo a interdisciplinaridade e o diálogo com outras ciências e áreas do conhecimento. Se antes houve (e mesmo atualmente há) uma aproximação com a matemática, a economia e a estatística, pode-se dizer que hoje também existe outra aproximação importante com as áreas de Administração, negócios, logística e comércio exterior, além de outras áreas ou centros de pesquisa relacionados. 5.2 Geografia econômica no (e para o) século XXI Tendo observado e discutido as mudanças pelas quais passou a geografia econômica durante as últimas décadas, podemos traçar um repertório de temas e problemas que consideramos importantes. Sabemos que muitos outros temas e problemas serão ignorados aqui, e por isso já reconhecemos as limitações que estão presentes em nossa análise. De qualquer maneira, iremos expor alguns daqueles temas e questões que consideramos atuais e indispensáveis para uma geografia econômica que deverá ser conduzida nas próximas décadas. A geografia econômica do século XXI deve ter um olhar direcionado para as transformações que já mencionamos e iremos mencionar ao longo das próximas aulas, dialogando com outras ciências por meio da análise de temas, conceitos, questões e recortes espaciais e analíticosque são transversais também em outras ciências, como em questões que envolvem a sustentabilidade, o meio ambiente, a globalização, a competitividade internacional, as inovações tecnológicas, o mercado de trabalho e a terceirização etc. A geografia economia do século XXI precisa ser, como de fato é, uma ciência holística, que realiza análises abordando temas e questões transversais, interdisciplinares, sem perder a noção de que seu objeto de estudo é o espaço geográfico. Uma ciência multidimensional, que trata das relações econômicas no espaço e das transformações que decorrem dessas relações. 14 5.3 “Resumo da ópera” e novas reflexões Para finalizar, destacamos algumas questões e temas que foram tratados nesta aula. De maneira sucinta e introdutória, apresentamos nossa perspectiva nesta análise, a perspectiva geográfica e, em particular, a geografia econômica. Destacamos também o papel dos paradigmas na ciência e na vida dos cidadãos, e aproveitamos para discutir sobre os conceitos de efeito paradigma e das consequências da paralisia de paradigma. Da revolução quantitativa à virada cultural, passando pela nova geografia econômica e agora em business, resumimos algumas das principais transformações pelas quais a geografia passou entre meados do século passado e as últimas décadas. Por último, mas não menos importante, elaboramos um breve argumento acerca daquilo que acreditamos que seja o caminho para uma renovação e uma inovação dentro da geografia econômica, sem perder o chão no qual se pisa e que permite o estabelecimento de novas relações, o espaço geográfico. Saiba mais Assista ao vídeo “O que é Geografia” para entender um pouco mais sobre o olhar geográfico acerca dos fenômenos que envolvem a interação da sociedade e natureza. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=5Qwg8Y0SDDY>. Acesso em: 9 out. 2018. Para ampliar seus conhecimentos sobre a noção de paradigma e de como a ciência evolui por meio de revoluções, leia o livro de Thomas Kuhn, intitulado A estrutura das revoluções científicas. Para saber mais sobre essa primeira aproximação da Geografia Econômica com as ciências exatas e sobre as teorias de Johann Von Thünen, Walter Christaller e Alfred Weber, sugerimos a leitura do primeiro capítulo do livro: ALVES, A. R. Geografia Econômica e Geografia Política. Curitiba: Intersaberes, 2015. Este livro pode ser encontrado no seu AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem), na Biblioteca Virtual Pearson. A Royal Geographical Society (RGS), juntamente com o Institute of British Geographers (IBG), é uma sociedade erudita e profissional do Reino Unido para a Geografia. Essas sociedades promovem a Geografia e apoiam os geógrafos no Reino Unido e em todo o mundo. Para conhecer um pouco mais sobre a RGS, acesse o site da Sociedade. Disponível em: <https://www.rgs.org/about/>. Acesso em: 9 out. 2018. 15 REFERÊNCIAS ALVES, A. R. Geografia econômica e geografia política. Curitiba: InterSaberes, 2015. BARNES, T. J. Retheorizing economic geography: from the quantitative revolution to the ‘cultural turn’. Annals of the Association of American Geographers, v. 91, n. 3, p. 546–565, 2001. _____. The Quantitative Revolution and Economic Geography. In: Leyshon, A., Lee, R., McDowell, L., and Sunley, P. (Ed.). The SAGE Handbook of Economic Geography. Sage: London, 2011. DICKEN, P.; LLOYD, P. E. Location in space: theoretical perspectives in Economic Geography. 3. ed. New York: Harper and Row, 1990. HARVEY, D. Explanation in Geography. London: Edward Arnold, 1969. _____. Revolutionary and counter revolutionary theory in Geography and the problem of ghetto formation. Antipode, v. 4, n.2, p.1-13, 1972. _____. Social Justice and the City. Revised edition. University of Georgia Press, 1973. _____. Condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1992. JAMES, A.; BRADSHAW, M.; COE, N.; FAULCONBRIDGE, J. Sustaining Economic Geography? Business and Management Schools and the UK’s Great Economic Geography Diaspora. Environment and Planning A: Economy and Space. 2018. Disponível em: <https://doi.org/10.1177/0308518X18764120>. Acesso em: 9 out. 2018. JOHNSTON, R. J.; GREGORY, D.; PRATT, G. e WATTS, M. The Dictionary of Human Geography. 4. ed. Oxford: Blackwell, 2000. KRUGMAN, P. Geography and Trade. Cambridge, MA: MIT Press, 1991. KUHN, T. S. A estrutura das revoluções cientificas. São Paulo: Perspectiva, 1987. PEDROSA, B. V. O Império da representação: a virada cultural e a geografia. Espaço e Cultura, v. 1, n. 39, p. 31-58, 2016. https://doi.org/10.1177%2F0308518X18764120 AULA 2 GLOBALIZAÇÃO, INDÚSTRIA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: ABORDAGENS SISTÊMICAS DE SUPPLY, VALUE CHAINS E NETWORKS Prof. Alceli Ribeiro Alves 2 CONVERSA INICIAL Existem diferentes maneiras para se tentar compreender o que é a globalização, quais suas principais características e elementos que compõem esse processo. Na atualidade, diversos eventos e transformações têm sido atribuídos ao chamado fenômeno da globalização. As interações entre países chamam a atenção para questões que variam desde as tecnologias que aproximam pessoas até problemas que resultam do desenvolvimento geográfico desigual. Conforme veremos, a globalização é um processo que pode ser abordado segundo perspectivas distintas, não é um fenômeno unânime e produz opiniões divergentes. É, sem dúvida, um processo que oferece oportunidades, mas que também impõe desafios e problemas, propõe novas questões. Destacaremos aqui quatro pontos de vista que consideramos importantes para a análise do processo de globalização. Estabeleceremos para essa análise a seguinte organização. No primeiro tema, analisaremos a globalização como um objeto que é estudado por diversas ciências e que cabe aos geógrafos o seu papel na análise deste tema, que é intrinsecamente geográfico. Para essa análise, nossa referência será o trabalho de Peter Dicken, geógrafo economista britânico. No segundo tema, nosso foco consistirá em apresentar a tese de que a globalização pode ser definida como fábula e também como uma fábrica de perversidades. Aqui nos fundamentaremos no trabalho de Milton Santos, um dos maiores nomes da geografia brasileira. Caberá a Raphael Kaplinsky, professor emérito do Instituto de Estudos sobre o Desenvolvimento (IDS), defender, no terceiro tema, a tese de que a globalização é um processo que oferece oportunidades, dependendo, obviamente, do tipo de inserção na economia mundial. Por último, analisaremos dois argumentos antagônicos: um que apresenta a globalização como um fenômeno em que a fluidez das relações prevalece e o mundo é plano, e outro que afirma que o espaço contém rugosidades, que determinam se, e como, a globalização se insere na dinâmica local e regional. 3 TEMA 1 – A GLOBALIZAÇÃO COMO UM BARCO PERDIDO 1.1 Globalização como tema que permite a definição ou delimitação de inúmeros objetos de estudo O primeiro ponto de vista apresenta a globalização como um tema que permite a definição ou delimitação de inúmeros objetos de estudo. Tema e objetos que podem ser estudados por diversas ciências, sob diferentes perspectivas. Nesse contexto, cabe aos geógrafos a sua função social na tentativa de explicar esse fenômeno e fornecer respostas para as questões ou soluções para os problemas decorrentes desse fenômeno. Ou seja, cabe aos geógrafos o seu papel na análise de um tema que é, por natureza, geográfico. Esse ponto de vista pode ser bem representado pelas ideias de Peter Dicken, geógrafo economista britânico, que publicou em 2004 o artigo intitulado “Geographers and globalization: (yet) another missed boat?” No citado artigo, Dicken elabora um argumento sob o ponto de vista dos geógrafos, sobretudo dos geógrafos economistas,criticando-os pelo fato de não estarem focados em problemas ou questões geográficas que afloram e são emergentes em outras ciências, e que, de certa forma, são ignorados pelos geógrafos. Para dar embasamento a seu argumento, Dicken analisou diversos livros e outras publicações tratando do tema da globalização. Decepcionado com o resultado, Dicken (2004, p. 6) argumentou que, A evidência mostra de maneira inequívoca que os geógrafos estão, na verdade, e na melhor das hipóteses, na periferia dessas discussões e debates sobre a globalização. A Geografia é aquela criança pequena no recreio da escola e que sempre fica de fora quando as crianças maiores estão escolhendo times ou equipes. Ninguém parece querer nos escolher. Então nós temos um caso sério de "geógrafos ausentes" em nossas mãos. A Figura 1, a seguir, mostra a participação de geógrafos nesse debate e sua presença em citações contidas em livros e outras publicações. 4 Figura 1 – Os geógrafos e a globalização Fonte: Dicken, 2004, p. 7. De acordo com esse autor, o termo globalização é intrinsecamente geográfico, assim como os seus próprios processos. No entanto, segundo o autor, (Dicken, 2004, p. 5), “mais uma vez, parece que os geógrafos e a geografia, como disciplina, não estão centralmente envolvidos no que são claramente ‘grandes questões’ de fato”. Nesse contexto, o autor considera que a globalização poderia ser outro tema ignorado pela geografia e pelos geógrafos, outro barco perdido pela geografia. 5 1.2 Globalização: uma arena interdisciplinar de interesse da geografia As ideias de Glasmeier e Conroy (citados por Dicken, 2004, p. 6) dão sustentação a esse argumento de que a globalização é uma arena interdisciplinar, mas de que deve ser de enorme interesse da geografia. Para os autores, a geografia econômica deve estar no centro de todas as discussões sobre a globalização ... Apesar dessa conexão natural, poucos geógrafos estão presentes nos debates globais de alto perfil que examinam questões-chave na atual onda da globalização. Tornou-se, como padrão, um terreno trilhado por analistas espaciais, tais como economistas e advogados. Para Dicken (2004, p. 20), a geografia deve estabelecer um diálogo produtivo com diversas disciplinas, dentro e fora da geografia, a qual deve também “responder aos desafios, mas também às oportunidades da globalização”. Vimos na aula 1 que a geografia tem feito isso, aproximando-se de áreas que tratam não apenas de temas como a globalização, mas também de outros que possuem interseções analíticas com a geografia, a economia, a administração e os negócios. TEMA 2 – A GLOBALIZAÇÃO COMO FÁBULA E COMO FÁBRICA DE PERVERSIDADES 2.1 A Globalização como fábula Discutiremos agora sobre o argumento que afirma que a globalização pode ser entendida como uma fábula. Milton Santos, geógrafo brasileiro, bacharel em direito, influente em diversas áreas dentro e fora da geografia, é o autor que traz essa perspectiva acerca do processo de globalização. Para Santos (2000, p.18), “a globalização como fábula constrói como verdade um certo número de fantasias”. Perceba que a publicação de Milton Santos, de 2000, é bem anterior à de Peter Dicken, que é de 2004, demonstrando que parcela dos geógrafos brasileiros já estava bastante atenta aos acontecimentos envolvendo tal processo. Para Santos (2000, p.18), a globalização como fábula é um mundo tal como nos fazem crer. Argumenta-se, nesse contexto, que vivemos numa aldeia global, onde há uma “difusão instantânea de notícias que realmente informa as pessoas”. 6 Ficamos sabendo de tudo em poucos segundos, independentemente do lugar onde estamos. O autor considera que, com base nesse mito, e também do encurtamento das distâncias, difunde-se a noção de tempo e espaço contraídos. Trataremos dessa questão na aula 3, quando tratarmos do conceito compressão espaço- tempo. Para Santos (2000, p. 19), a globalização como fábula pode ser definida como se o mundo se houvesse tornado, para todos, ao alcance da mão. Um mercado avassalador dito global é apresentado como capaz de homogeneizar o planeta quando, na verdade, as diferenças locais são aprofundadas. Há uma busca de uniformidade, ao serviço dos atores hegemônicos, mas o mundo se torna menos unido, tornando mais distante o sonho de uma cidadania verdadeiramente universal. Enquanto isso, o culto ao consumo é estimulado. Num contexto de fábula, todos os dias, e pelos mais variados motivos, diversas pessoas ao redor do mundo buscam novas oportunidades, viajam, conhecem lugares diferentes, estabelecem conexões com diferentes pessoas e localidades, gozam dos benefícios que o mundo globalizado pode lhes proporcionar. Ainda nesse contexto, as empresas exercem a livre concorrência, competem até por mercados localizados em lugares e países distantes e procuram estar presentes em diferentes localidades em busca de vantagens competitivas, incentivos fiscais, mercados consumidores etc. Nessa perspectiva, o mundo é plano, não contém rugosidades, todos podem participar. Os governos também participam, planejam estratégias e desenvolvem ações para atrair investimentos, indústrias, emprego e renda. 2.2 A Globalização como fábrica de perversidades Outra forma de abordarmos esse tema é a luz da noção de globalização como fábrica de perversidades. Nessa perspectiva, é possível abordarmos a globalização segundo diferentes facetas e contextos. Por exemplo, nem todos os indivíduos na superfície terrestre podem migrar, ou seja, nem todos legalmente têm acesso, e de forma equitativa, para se deslocar no espaço geográfico (Figura 2). 7 Figura 2 – Desembarque de barco clandestino no porto de Lampedusa, na Itália, em 2011 Fonte: Photofilippo66/Shutterstock. Para Santos (2000, p. 19-20), “para a grande maior parte da humanidade a globalização está se impondo como um fábrica de perversidades”. Segundo o renomado geógrafo brasileiro, a globalização como fábrica de perversidades se revela na medida em que o desemprego crescente torna-se crônico. A pobreza aumenta e as classes médias perdem em qualidade de vida. O salário médio tende a baixar. A fome e o desabrigo se generalizam em todos os continentes. Novas enfermidades como a AIDS se instalam e velhas doenças, supostamente extirpadas, fazem seu retorno triunfal. A mortalidade infantil permanece, a despeito dos progressos médicos e da informação. Alastram-se e aprofundam-se males espirituais e morais, como os egoísmos, os cinismos, a corrupção. A perversidade sistêmica que está na raiz dessa evolução negativa da humanidade tem relação com a adesão desenfreada aos comportamentos competitivos que atualmente caracterizam as ações hegemônicas. Todas essas mazelas são direta ou indiretamente imputáveis ao presente processo de globalização. Para determinadas situações, a globalização não se revela como um processo benéfico para todos. Ele é um processo perverso, cujas soluções para os mais variados problemas não podem ser encontradas no global, pois são problemas, desafios e oportunidades que são absorvidos de maneira distinta pelos lugares. E os lugares são, por natureza, socialmente, economicamente e geograficamente distintos. 8 Saiba mais: Para conhecer um pouco mais sobre a obra de Milton Santos e suas ideias, assista ao documentário “Por uma outra Globalização”, e “O mundo global visto do lado de cá” disponíveis em: MILTON Santos por uma nova globalização. Navegante Net, 3 set. 2011. Disponível em: < http://www.canalibase.org.br/o-mundo-global-visto-do-lado-de- ca/>. Acesso em: 6 out. 2018. O MUNDO global visto do lado de cá. Crabastos, 6 jun. 2011. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=-UUB5DW_mnM>. Acesso em: 6 out. 2018. TEMA 3 – A GLOBALIZAÇÃO COMO UM PROCESSO QUE OFERECE OPORTUNIDADES 3.1 Ascontribuições de Raphael Kaplinsky Trataremos agora de apresentar a globalização como um processo que oferece oportunidades, perspectiva essa defendida por Raphael Kaplinsky, professor e pesquisador, um dos autores mais importantes no que concerne à análise do processo de globalização econômica, sobretudo na perspectiva da Global Value Chains. As pesquisas desenvolvidas por Kaplinsky junto ao Institute of Development Studies (IDS) influenciaram pesquisadores de diversas áreas e países, sobretudo no contexto anglo-americano. Saiba mais Para conhecer um pouco mais sobre a obra de Raphael Kaplinsky e seu campo de pesquisa na perspectiva da globalização econômica, acesse o link a seguir e assista a uma de suas entrevistas como Professor de Desenvolvimento Internacional, pela Universidade Aberta do Reino Unido. RAPHAEL Kaplinsky. Duke University Global Value Chains Center, 16 mar. 2015. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=wtXWMCSb2TE>. Acesso em: 2 set 2018. 3.2 The theory of rent, de David Ricardo A perspectiva de Kaplinsky está diretamente relacionada a análises que têm como foco o papel das firmas e multinacionais na economia mundial. 9 Kaplinsky reconhece que países e regiões se inserem num contexto de transformações e de inserção na economia mundial no processo de Globalização. Mas nem todos se inserem da mesma forma e com o mesmo nível de tecnologia, know how e capacidade para concorrer em mercados internacionais extremamente competitivos. Para Kaplinsky (2005, p. 53-54), “os benefícios da Globalização podem ser obtidos segundo a Lei do aluguel ou da teoria da renda da terra, mais conhecida no original como Theory of Rent”, do economista político David Ricardo. Segundo essa teoria, a escassez oferece as bases para rendas elevadas e sustentáveis, pois dada a capacidade dos produtores de fornecer bens e serviços que os clientes desejam, os rendimentos podem ser elevados e sustentáveis se os produtores forem capazes de se proteger da concorrência, construindo e/ou tirando proveito das barreiras à entrada de competidores. Por outro lado, os produtores incapazes de se esconder dessas barreiras estão sujeitos à intensa competição e redução dos rendimentos. Embora essas barreiras incluam maior eficiência em processos e desenvolvimento de produtos, há um terreno mais amplo de barreiras para à entrada de competidores. De maneira sucinta, rent surge da escassez. Isso significa ter algo, “um recurso, uma capacidade, um conhecimento que os outros não possuem. Para ser duradouro, os aluguéis precisam ser protegidos por barreiras para a entrada de competidores” (Kalinsky, 2005, p. 62). Ao defender esse argumento, o autor oferece também uma estrutura analítica para guiar o posicionamento efetivo das empresas na economia global. Trata-se de uma estrutura analítica com bases schumpeterianas, cuja inovação gera o superávit empreendedor (Figura 3). Quem inova primeiro e transforma uma nova ideia em vantagem comercial obtém rendimentos elevados e muito acima dos demais competidores. 10 Figura 3 – Geração e dissipação do superávit empreendedor segundo a teoria Fonte: Kaplinsky, 1998, p. 11. Na perspectiva de Kaplinsky, há diversas oportunidades e ganhos a serem obtidos pelas firmas quando optam pela inserção e aprofundamento no processo de globalização, “mas isso dependerá da maneira pela qual os produtores se posicionam nos mercados globais” (Kaplinsky, 2005, p. 53). TEMA 4 – A FLUIDEZ DO ESPAÇO GEOGRÁFICO NO PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO 4.1 A permeabilidade dos territórios Considerando a dimensão econômica, um dos argumentos mais comuns presentes nessas discussões consiste em defender a ideia de que o Estado Nacional, quando inserido no processo de globalização, deve flexibilizar suas estruturas regulatórias e deixar que sua economia funcione segundo o princípio da mão invisível. Nesse tipo de argumento ou tese, defende-se que a globalização é um fenômeno que torna as fronteiras dos territórios nacionais mais permeáveis, e consequentemente favorece a fluidez das interações entre pessoas, empresas, tecnologias, instituições, etc., gerando oportunidades para todos os participantes. Com a globalização, as empresas tornam-se inovadoras, competitivas e podem abrir filiais em qualquer lugar do mundo. A tecnologia auxilia os indivíduos a conectarem-se com facilidade, aproxima-os, ainda que estejam separados por distâncias consideráveis. As instituições nacionais também se desenvolvem e aprendem no diálogo e interação com outras instituições estrangeiras. 11 4.2 – A tese de que o mundo é plano Nessas interações, o Estado Nacional pode sair fortalecido. A economia nacional cresce; seus mercados tornam-se atraentes para investidores estrangeiros. Há também a transferência e difusão de tecnologia; plantas industriais são instaladas em seus territórios, e as exportações podem contribuir significativamente para o upgrading industrial, crescimento econômico e desenvolvimento regional. Trata-se de um mundo onde a permeabilidade dos territórios, associada ao interesse e atuação de grandes capitais e empresas multinacionais, deixa o mundo ou o espaço geográfico cada vez mais dinâmico, propenso à inovação, fluído (Figura 4). Argumenta-se, nesse contexto, que “o mundo é plano” (Friedman, 2005). Segundo essa tese, as interações no espaço geográfico não encontram barreiras, limites ou fronteiras, e as relações entre lugares, pessoas, empresas, etc. ocorrem de maneira fluída no espaço geográfico. Os lugares supostamente tornam-se cada vez mais homogêneos, com características, elementos e estruturas semelhantes. Alguns diriam até que os costumes, hábitos e mesmo culturas constroem identidades que podem ser encontradas em qualquer outro lugar do mundo. TEMA 5 – AS RUGOSIDADES DO ESPAÇO GEOGRÁFICO NO PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO 5.1 O mundo não é tão plano assim! Paradoxalmente, outras teses irão defender a hipótese de que essa fluidez das relações não perpassa os territórios da mesma forma. Alguns territórios absorvem bem as mudanças ocasionadas pelo processo de globalização e as incorporam em suas estruturas regulatórias. Outros territórios, porém, podem resistir às mudanças causadas pelo processo de globalização e manifestar posições contrárias envolvendo determinadas questões de interesse nacional, local ou regional. Em suma, pessoas, empresas, tecnologias, instituições de todo o mundo se deparam com particularidades e diferenças que são encontradas nas leis, normas, costumes de outros países, lugares e culturas. 12 Sem dúvida, esses lugares, regiões e territórios possuem identidade, memória, história e territorialidades distintas. Ou seja, o mundo não é tão plano quanto se acreditava ser, pois a fluidez torna-se relativa na medida em que encontra obstáculos ou “rugosidades” no espaço geográfico (Santos, 1986). 5.2 A tese de que o espaço apresenta rugosidades As rugosidades indicam que os lugares têm formas, estruturas, particularidades que são herdadas do passado e exercem influência no processo de transformação das paisagens contemporâneas. Como diria Santos (1986, p.137), o espaço é matéria trabalhada por excelência. Nenhum dos objetos sociais tem tanto domínio sobre o homem, nem está presente de tal forma no cotidiano dos indivíduos. A casa, o lugar de trabalho, os pontos de encontro, os caminhos que unem entre si estes pontos, são elementos passivos que condicionam a atividade dos homens e comandam sua prática social. O espaço é, portanto, um testemunho, “ele testemunha um momento de um modo de produção pela memória do espaço construído, das coisas fixadas na paisagem criada” (Santos, 1986, p.138). Ou seja, o espaço revela a história das localidades, registra em determinado momento as formas e estruturas das cidades, marca a passagem oupermanência de determinado modo de produção em um lugar. O espaço é a prova cabal daquilo que foi e daquilo poderá ser a partir daquele momento em diante, considerando a estrutura preexistente. A inovação, os processos inovadores, as mudanças etc. não são simplesmente implementadas no espaço sem que se considerem as formas ou estruturas presentes no espaço. Conforme afirma Santos (1986, p.138), “o espaço é uma forma, uma forma durável, que não se desfaz paralelamente à mudança de processos; ao contrário, alguns processos se adaptam às formas preexistentes enquanto que outros criam novas formas para se inserir dentro delas”. Os modos de produção, segundo o autor, definem essas formas e estruturas no espaço, de acordo com os meios de produção empregados. A longevidade desses meios de produção é variável e só pode ser conhecida posteriormente. Alguns meios de produção permanecem por muitos anos 13 compondo as estruturas e formas, e podem permanecer compondo a paisagem passando por diferentes modos de produção ao longo dos séculos. Nesse contexto, o autor cita como exemplos as construções europeias volumosas ou não, da época da idade Média, tais como castelos catedrais, estradas, etc. Na Figura 4 há o exemplo da Ponte de Londres (London Bridge), que, acredita-se, foi construída em madeira durante o período de conquista e domínio dos romanos, depois fora destruída e reconstruída em pedra na Idade Média, e novamente destruída e reconstruída posteriormente com arcos de ferro, e mais uma vez destruída e reconstruída com aço e concreto estrutural, tendo sido reinaugurada pela Rainha Elizabeth II, em 1973. Figura 4 – Ponte de Londres no Rio Tâmisa, com a torre de Londres e o Gherkin Fonte: Dmitry Naumov/Shutterstock. No Brasil, há diversos exemplos de construções que marcam o processo de produção do espaço ao longo de um ou mais modos de produção. Tais construções estão presentes, por exemplo, na Bahia, no Rio de Janeiro e também em outras cidades que também fizeram parte do período colonial e passaram por diversos ciclos econômicos. Curitiba é uma dessas cidades (Figura 5). Desde o ouro em Paranaguá, passando pelo tropeirismo, a erva-mate, a madeira, o café, a soja, e mais recentemente o processo de industrialização, com a entrada de multinacionais no território paranaense, Curitiba foi dotada de diversos meios de produção. Por diversas regiões de Curitiba, sobretudo no Centro e no bairro Rebouças, ainda é possível observar resquícios de estruturas e formas do passado ainda presentes na paisagem da cidade. 14 Figura 5 – Centro histórico de Curitiba Fonte: Tupungato/Shutterstock. Saiba mais Para iniciar suas pesquisas sobre os ciclos econômicos no Brasil, assista a um breve vídeo que mostra os diversos processos pelos quais o Paraná e, em particular, Curitiba, passou até chegar ao processo de industrialização recente. MEMÓRIA paranaense na Band – Ciclos econômicos no Paraná n. 1. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Ae43NGcwU1U>. Acesso em: 6 out. 2018. A rugosidade é constituída pela organização (determinação) espacial que herdamos de tempos passados. Para Santos (1986, p. 139), quando um novo momento, momento do modo de produção, chega para substituir o que termina, ele encontra no mesmo lugar de sua determinação formas preexistentes às quais ele deve adaptar-se para poder determinar-se. [...] Os objetos geográficos aparecem em localizações, correspondendo aos objetivos da produção em um dado momento e, em seguida, por sua presença, eles influenciam os momentos subsequentes da produção. Essa organização do espaço é uma herança que nos é transmitida, herança essa que nos é revelada não apenas pela base geográfica sobre a qual as relações econômicas ocorreram, e pelos vestígios que acabaram deixando na paisagem, mas também pelas formas e estruturas que no presente e no futuro fornecerão as bases para se pensar e construir uma nova organização do espaço geográfico. 15 REFERÊNCIAS ALVES, A. R. Geografia econômica e geografia política. Curitiba: InterSaberes, 2015. AOYAMA, Y.; MURPHY, J.; HANSON, S. Key concepts in economic geography. London: Sage, 2011. CAMPOS, L. F. R. Supply chain: uma visão gerencial. Curitiba: InterSaberes, 2012. DICKEN, P. Global shift: transforming the global economy. 3. ed. New York: Guilford Press, 1998. _____. Geographers and ‘globalization’: yet another missed boat? Transactions of the Institute of British Geographers, v. 29, p. 5-26, 2004. DICKEN, P.; LLOYD, P. E. Location in space: theoretical perspectives in Economic Geography. 3. ed. New York: Harper and Row, 1990. FEENSTRA, R. C. Integration of trade and disintegration of production in the global economy. Journal of Economic Perspectives, v. 12, n. 4, p. 31-50, 1998. FRIEDMAN, T. L. O mundo é plano: uma breve história do século XXI. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005. GLASMEIER, A.; CONROY, M. Making global rules: globalization or neoliberalization? In: PECK, J.; YEUNG, H. W-C (Eds.). Remaking the global economy: economic geographical perspectives. London: Sage, 2003, p. 182-196. JOHNSTON, R. J. et al. The dictionary of human geography. 4. ed. Oxford: Blackwell, 2000. KAPLINSKY, R. Globalisation, industrialisation and sustainable growth: the pursuit of the nth rent, IDS Discussion paper 365, Brighton: Institute of Development Studies, University of Sussex. 1998. _____. Globalization, poverty and inequality: between a rock and a hard place. Cambridge: Polity Press, 2005. SANTOS, M. Por uma geografia nova. 3. ed. São Paulo: Hucitec, 1986. _____. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 2000. AULA 3 GLOBALIZAÇÃO, INDÚSTRIA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Prof. Alceli Ribeiro Alves 2 CONTEXTUALIZANDO Existem maneiras distintas para compreender o processo de globalização. Muitas delas se baseiam nas dimensões pelas quais esse processo se apresenta e pode ser analisado segundo a realidade vivida pelas pessoas, empresas, governos e instituições. Cada um desses agentes pode ter uma percepção distinta acerca de qual ou quais dimensões deve priorizar em suas análises, estratégias e ações. A seguir, vamos considerar algumas dessas dimensões que podem ser utilizadas para a análise do processo de Globalização, e discutir esse fenômeno considerando diferentes perspectivas, tais como: a Globalização como um processo de encolhimento do globo, como um processo de compressão espaço- tempo e como uma síndrome de processos materiais e resultados. TEMA 1 — DIMENSÕES DA GLOBALIZAÇÃO 1.1 Dimensão cultural A dimensão cultural da Globalização relaciona-se à dimensão econômica, uma vez que a cultura local desempenha papel importante em muitos negócios internacionais. Por essa razão, as empresas multinacionais precisam se adequar aos gostos e às demandas que fazem parte da cultura de diferentes países. O comportamento e a filosofia das empresas, os hábitos de consumo dos indivíduos, a adequação do produto para mercados e demandas específicas são fatores que também precisam ser levados em consideração quando empresas e países pretendem atuar em mercados internacionais. Vamos pegar como exemplo a atuação da famosa cadeia de restaurantes fast food McDonald’s. O McDonald’s adapta o cardápio de suas franquias segundo os costumes, os hábitos alimentares e a cultura dos lugares em que atua. No Brasil, onde se consome muita carne bovina, a rede tem em seu cardápio hambúrgueres com carne bovina e bacon. Já no McDonald’s Índia são comuns os hambúrgueres de ovo, carne de frango e com mais produtos de origem vegetal, haja vista que nesse país o gado é um animal sagrado e cultuado na religião hinduísta. 3 1.2 Dimensão social Pouco debatida, mas igualmenteimportante, é a dimensão social da Globalização. Milton Santos é um dos maiores nomes na Geografia brasileira que se preocupou em apresentar e discutir as contradições do capitalismo em tempos de Globalização. Na perspectiva deste e de outros autores que trabalham no paradigma marxista, os benefícios da Globalização não se difundem igualmente pelos territórios e regiões espalhadas pelo mundo. A difusão de tecnologias e a disponibilidade de produtos modernos e atraentes sempre tem origem em centros importantes da economia mundial, e somente após determinado período é que tais tecnologias e produtos chegam às periferias. Por isso, em países em desenvolvimento é comum encontrar na paisagem de pequenas, médias e grandes cidades a presença de elementos característicos da era contemporânea, mas também de outras eras, outros momentos na evolução da história do capitalismo, outras tecnologias. É o jogo dos contrários que se apresenta; as contradições são reveladas, o velho e o novo coexistem em determinados países e lugares, pobreza e riqueza se misturam na paisagem. Nessa perspectiva, nem todos ganham com a Globalização. A desigualdade se acentua em algumas regiões, a fome não desparece do mapa do mundo, e o desemprego aflige comunidades e lugares que estão na periferia dos processos globalizadores (Santos, 2000). Como exemplo, podemos facilmente encontrar nas regiões centrais das grandes capitais brasileiras representantes da riqueza e da pobreza, do luxo e abundância em contraste com a escassez, a fome e a miséria. Os bancos e o capital financeiro estão por toda a parte ofertando produtos e serviços para quem pode adquiri-los. Paradoxalmente, muitos não podem consumir tais produtos e têm sua participação limitada no processo de Globalização. A pobreza e a miséria também fazem parte da paisagem que é composta por centros financeiros, por edifícios luxuosos de bancos etc. Muitas vezes, esses edifícios não servem apenas para concentrar atividades financeiras e produtos (como poderíamos imaginar), eles servem também como abrigo para pessoas que ficam pedindo esmolas ou utilizam suas estruturas ou marquises para poder passar a noite. 4 1.3 Dimensão ambiental A dimensão ambiental da Globalização pode se confundir com uma consciência ambiental global. Hoje, qualquer ação ou tomada de decisão realizada por um país ou uma empresa, quando o tema envolve questões ou problemas ambientais, pode gerar implicações não apenas no contexto local ou nacional, mas também global. Por exemplo, em 1º de junho de 2017, um anúncio feito pelo então presidente dos Estados Unidos Donald Trump repercutiu mal entre os países signatários do Acordo de Paris, tratado no âmbito do United Nations Framework Convention on Climate Change (UNFCCC). No referido acordo, iniciado em 2015, cerca de 190 países aprovaram reduzir emissões de gases de efeito estufa (GEE), minimizar o aquecimento global e apoiar países em desenvolvimento a fazerem o mesmo dentro de suas possibilidades, no contexto do desenvolvimento sustentável. A campanha de Trump para as eleições presidenciais nos EUA também teve início em 2015 e, desde aquela ocasião, Trump já prometia a seus potenciais eleitores que iria rever os termos do acordo ou mesmo retirar o país desse compromisso junto às Nações Unidas. A decisão gerou manifestações em todo o mundo, sobretudo por parte de ambientalistas, como vemos na figura 1. Assim, em 2017, Donald Trump anunciou que os Estados Unidos iriam se retirar do Acordo de Paris. Dentre as alegações do presidente para tomar tal decisão estava a justificativa de que o acordo seria prejudicial para a economia americana, para a geração de empregos no país e para o desempenho das indústrias nacionais, sobretudo aquelas que estão direta ou indiretamente vinculadas à indústria do carvão. 5 Figura 1 — Democratas e ativistas ambientais israelenses protestam contra Trump na frente da embaixada dos EUA em Tel Aviv, Israel, maio 2017 Fonte: AVIVI AHARON/SHUTTERSTOCK Como se sabe, o carvão foi uma das principais fontes de energia utilizadas desde as primeiras revoluções industriais, e os Estados Unidos ainda fazem uso desse tipo de recurso, contando com o lobby das empresas ligadas ao setor carbonífero. E essa decisão, em certo grau, vai de encontro às políticas atuais de desenvolvimento sustentável. A busca por fontes limpas de energia, tais como a energia eólica e a solar (fotovoltaica); a manufatura sustentável, com o uso de materiais recicláveis e reutilizáveis; e a consciência da necessidade de as economias se basearem cada vez mais em baixos índices de carbono, poluição e destruição da natureza revelam que a decisão adotada por Trump foi na contramão das iniciativas realizadas por parcelas importantes da sociedade organizada e das estratégias e ações que estão sendo conduzidas por alguns países e empresas em todo o mundo em prol do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável. Basta consultarmos as estratégias e ações desenvolvidas no âmbito das Nações Unidas que logo percebemos que tais decisões não são consideradas de maneira isolada e localizada, pois fazem parte de um amplo contexto, o contexto global. A propósito, a dimensão ambiental também está presente em diversos objetivos estabelecidos na Agenda 2030, que trata do desenvolvimento sustentável. 6 Saiba mais Para conhecer mais sobre o Acordo de Paris, acesse as páginas oficiais das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas e do Ministério do Meio Ambiente do Brasil, disponíveis, respectivamente, em: • <https://unfccc.int/process-and-meetings/the-paris-agreement/what-is-the- paris-agreement>; • <http://www.mma.gov.br/clima/convencao-das-nacoes-unidas/acordo-de- paris>. 1.4. A dimensão jurídico-política e o território no processo de Globalização Por último, outra questão que consideramos importante trata do papel do território no processo de Globalização. O conceito de território nos permite analisar a Globalização considerando outra dimensão importante, a político- jurídica, que envolve os territórios, os Estados-Nações, as instituições etc. A dimensão jurídico-política coloca o território como um ente capaz de regular ou flexibilizar a difusão dos processos globalizadores em diferentes lugares. Considerando três vertentes distintas, Haesbaert e Limonad (2007) nos apresentam o território como um conceito importante para entendermos a Globalização e sua difusão no espaço geográfico, como vemos no quadro 1. 7 Quadro 1 — Abordagens conceituais de território em três vertentes básicas Fonte: Haesbaert; Limonad, 2007. Agora que já conseguimos estabelecer uma visão geral acerca da influência que os paradigmas exercem na ciência e identificamos algumas das principais dimensões analisadas no âmbito da globalização, vamos buscar compreender outras concepções e perspectivas acerca da Globalização. Além daquelas perspectivas que já estudamos, podemos mencionar outras que nos ajudam a compreender o que é a Globalização, quais são seus elementos estruturantes e que resultados esse processo gera em diferentes escalas e contextos. Antes disso, porém, vamos analisar outra dimensão da Globalização que não foi considerada até então, a dimensão econômica. TEMA 2 — DIMENSÃO ECONÔMICA DA GLOBALIZAÇÃO 2.1 Globalização que integra as diferentes partes de um sistema de produção A dimensão econômica tende a ser a mais privilegiada em estudos que tratam do processo de Globalização, por isso vamos tratar desse tema de maneira 8 separada. Por meio dessa dimensão é possível considerar a análise da produção, da distribuição, da comercialização e do consumo de mercadorias realizados em escala global. Logicamente, outros nós das redes de produção, como o design, o descarte final de resíduos e a reciclagem, também fazemparte dessa dinâmica, mas tendem a se concentrar geograficamente em certas localidades. O design, por exemplo, não necessariamente é realizado na mesma localidade onde ocorre a produção. Tal atividade pode se limitar a localidades específicas e estratégicas, comumente situada onde se encontram as sedes das empresas. O descarte final de resíduos e a reciclagem estão fortemente relacionados aos locais de consumo, mas isso não significa que esses nós das redes de produção são menos importantes. Qualquer ação realizada nesse nó pode gerar implicações tanto na escala local como em contextos socioespaciais e econômicos mais amplos. Todas essas questões podem ser abordadas por meio das perspectivas da Supply Chains, Value Chains e Networks. 2.2 Globalização que envolve a fragmentação da produção e a integração dos países por meio do comércio internacional A dimensão econômica da Globalização pode ser percebida também pela inserção de empresas e indústrias na economia mundial, em atividades que envolvem a produção ou comercialização de mercadorias em escala global. A Globalização da produção corresponde à fragmentação da produção, processo que cria oportunidades para que países possam se inserir no processo com a função de produzir mercadorias. Nesse contexto, a produção realizada pode atender a demanda local ou nacional, mas também é capaz de atender a demanda de países estrangeiros. Para que isso aconteça, o comércio internacional deve auxiliar países e indústrias no processo de integração entre pontos de produção e mercados consumidores. Essa é a perspectiva considerada por Feenstra (1998) na publicação que trata da desintegração da produção e da integração de países por meio do comércio internacional, como veremos na Figura 2. Para Alves (2015), a ideia de desintegração da produção se refere à divisão da produção entre diferentes países, indústrias e regiões ao redor do mundo; enquanto isso, a integração de vários países por meio do comércio internacional 9 é uma consequência da primeira mudança e envolve a conexão das diferentes unidades produtivas, por meio dos mercados de importação e exportação. Figura 2 — Fragmentação da produção e integração de países e indústrias por meio do comércio internacional Fonte: GOLDEN SIKORKA/SHUTTERSTOCK TEMA 3 — GLOBALIZAÇÃO COMO UM PROCESSO DE ENCOLHIMENTO DO GLOBO Compressão espaço-tempo é um conceito discutido por diversos autores para tratar do impacto do desenvolvimento das tecnologias em nosso cotidiano. No contexto da Globalização econômica e das mudanças globais, a compressão espaço-tempo é caracterizada pelo desenvolvimento das tecnologias que exercem influência na produção internacional, nos sistemas de transporte e de comunicação, e que superam as fricções do espaço e do tempo. Em seu livro intitulado Global Shift, Peter Dicken, geógrafo economista britânico, considera que as tecnologias de transporte e de comunicação desempenham dois papéis distintos, porém complementares e intimamente relacionados. Para Dicken (1998), os sistemas de transporte são os meios pelos quais materiais, produtos e outras entidades tangíveis (inclusive pessoas) são transferidos de um lugar para outro. Já os sistemas de comunicação são os meios pelos quais a informação é transmitida de um lugar para outro na forma de ideias, instruções, imagens e assim por diante. 10 Ainda de acordo com o autor, antes da invenção da eletricidade, a informação poderia se mover apenas na mesma velocidade e sobre a mesma distância, permitidas pelos sistemas de transporte. O surgimento da eletricidade muda essa realidade, e os dois sistemas inevitavelmente precisam ser tratados de maneira distinta, porém relacionada. Para ele, “o desenvolvimento em ambos os sistemas transformou nosso mundo, permitindo uma mobilidade de materiais e produtos sem precedentes, bem como a globalização dos mercados” (Dicken, 1998). Para ilustrar essas transformações, Dicken elabora uma imagem (figura 3) que demonstra o efeito das mudanças nas tecnologias de transporte na distância real, fenômeno que ficou conhecido como o encolhimento ou a compressão do globo. Figura 3 — Encolhimento global: o efeito das mudanças nas tecnologias de transporte na distância real 11 A figura desenvolvida por Dicken é baseada no livro de John McHale, O futuro do futuro, publicado em 1969. É interessante notar que McHale é um autor que defende em seu livro a ideia de que a essência de se tentar entender o que será de nós e das coisas no futuro não deve se basear em técnicas de previsibilidade, mas sim de planejamento no longo prazo. O futuro irá corresponder, de fato, às escolhas que são feitas agora no presente. Em outras palavras, a preocupação primordial de McHale é convencer seus leitores de que as sociedades não podem mais se dar ao luxo de não perceber o fato de que o futuro é um produto direto do presente. TEMA 4 — GLOBALIZAÇÃO COMO UM PROCESSO DE COMPRESSÃO ESPAÇO-TEMPO No livro A condição pós-moderna, David Harvey, outro geógrafo britânico, também discute a ideia de encolhimento do mundo por meio do desenvolvimento das tecnologias de comunicação e transportes. Nessa obra, porém, Harvey utiliza o conceito de compressão espaço-tempo ou compressão tempo-espaço. Harvey (1990) se refere a esse conceito afirmando que eu pretendo sinalizar por esse termo processos que revolucionam as qualidades objetivas do espaço e do tempo que somos forçados a alterar, às vezes de maneira radical, como representamos o mundo para nós mesmos. Eu uso a palavra compressão porque um argumento forte pode ser feito de que a história do capitalismo tem sido caracterizada pela aceleração no ritmo da vida enquanto supera as barreiras espaciais que o mundo às vezes parece colapsar para dentro de nós. Apesar de não fazer referência ao trabalho de McHale, Harvey trata do mesmo argumento discutido por ele e também por Dicken (1998, 2011), qual seja, o do impacto gerado em nossas vidas, nas atividades realizadas por instituições, empresas, governos, entre outros, pelo desenvolvimento das tecnologias de comunicação e transportes. Nas palavras do próprio autor, “o tempo gasto para atravessar o espaço e a forma como comumente representamos esse fato para nós mesmos são indicadores úteis do tipo de fenômeno que tenho em mente” (Harvey, 1990). Observe que a Figura 4, apresentada na obra de Harvey (1990), é praticamente a mesma da obra de Dicken (2011). Numa versão mais relacionada à evolução nas tecnologias de comunicação, Harvey faz referência a uma das 12 maiores empresas de telefonia do mundo, a Alcatel (figura 5), dando a ideia de que hoje o mundo se tornou pequeno e pode caber na palma da mão. Figura 4 — O encolhimento do mapa do mundo por meio de inovações nos transportes que aniquilam o espaço ao longo do tempo Crédito: VECTORLIGHT/SHUTTERSTOCK 13 Figura 5 — Um anúncio de 1987 da Alcatel enfatiza uma imagem popular do globo encolhendo Fonte: Harvey,1992. TEMA 5 — GLOBALIZAÇÃO COMO SÍNDROME DE PROCESSOS MATERIAIS E RESULTADOS A Globalização como uma síndrome de processos materiais e resultados é uma perspectiva defendida por Dicken (2004). A abordagem adotada por esse autor está situada no contexto e na dimensão da Globalização econômica. Para o citado autor, A globalização, de fato, é uma síndrome de processos materiais e resultados que se manifesta de maneira muito desigual no tempo e no espaço. Não é nem um estado final inevitável, onipresente e homogeneizador, nem é unidirecional e irreversível. Certamente não é determinista [...] Grande parte da literatura sobre globalização, em geral, trabalha no pressuposto implícito de que o "Global" determina o "local". Felizmente, a concepção de escala do geógrafo é consideravelmente mais sofisticada do que isso, mesmo queos debates sobre o significado de escala tenham por vezes tendido para o arcano e o esotérico. 14 Segundo essa perspectiva, a Globalização pode ser entendida como um alongamento e aprofundamento das relações sociais e institucionais através do tempo e do espaço. Além disso, o autor esclarece que os processos de Globalização oriundos ou intensificados por meio da evolução nas tecnologias que favorecem a compressão do tempo-espaço, nos forçam a repensar o que se entende por espacialidade e escala geográfica. Para ele, duas perspectivas tornaram-se especialmente relevantes nos debates entre os geógrafos, ambas perspectivas baseadas na suposição de que as escalas geográficas são socialmente construídas. Uma perspectiva entende a Globalização como sendo um processo que envolve uma crescente multiplicação de escalas (ex.: local, regional, macrorregional, global), que se sobrepõem de maneiras cada vez mais complexas. Globalização, nesse sentido, não se trata de uma escala (ex.: o global) se tornando mais importante que outras, mas, sim, de mudanças nas relações entre diferentes escalas geográficas. Essa corresponde a uma visão territorial de escala geográfica. Alternativamente, outra perspectiva vê a escala geográfica em termos topológicos e relacionais, em vez de termos territoriais. Aqui, não se ignora a ideia de que as rugosidades existem nos territórios. Tampouco se admite que o Estado- Nação perdeu sua soberania. Mas admite-se, sim, que as fronteiras e os limites territoriais são relativamente mais permeáveis, permitindo que haja fluidez das relações no espaço geográfico. Daí o porquê de as relações terem papel de maior destaque, em vez de rígidas estruturas regulatórias e territórios absolutamente impermeáveis. É com base nesse contexto que Dicken (2004) considera que nós temos uma situação muito complexa, “em que redes topologicamente definidas (por exemplo, as Corporações Transnacionais) tanto interrompem, como são interrompidos por limites político-territoriais”. Ou seja, as estruturas regulatórias dos Estados Nacionais e a jurisdição desses Estados se mantêm, pois “continuam sendo fundamentais para a organização e funcionamento da política econômica global e suas partes constituintes” (Dicken, 2004). 15 5.1 Estrutura heurística para análise da globalização econômica-geográfica Dicken (2004) procura fornecer, também, uma perspectiva estrutural acerca dos processos materiais que envolvem a globalização, bem como dos resultados que são produzidos pelas interações entre escalas, agentes, redes etc. Nas relações que podem ser observadas, o poder encontra-se distribuído de maneira bastante desigual, seja na simples comparação entre as diferentes escalas ou quando se considera o poder que se encontra concentrado ou diluído entre os diferentes agentes, instituições etc. Embora muito útil para se tentar compreender os processos que envolvem a Globalização e os resultados que tal processo gera, Dicken admite que é uma tarefa quase impossível tentar capturar e representar a multidimensionalidade do mundo considerando apenas duas dimensões (figura 6). 16 Figura 6 — Estrutura heurística para análise da globalização econômica- geográfica Fonte: Dicken, 2004. Apesar das limitações, encontramos em tal estrutura uma forma bastante didática para compreendermos a globalização como processo que conecta agentes, redes e instituições, e como gerador de resultados que se manifestam em diferentes escalas. 17 REFERÊNCIAS ALVES, A. R. Geografia econômica e geografia política. Curitiba: InterSaberes, 2015. DICKEN, P.; LLOYD, P. E. Location in space: theoretical perspectives in Economic Geography. 3. ed. New York: Harper and Row, 1990. DICKEN, P. Global Shift: transforming the global economy. 3. ed. New York: Guilford Press, 1998. _____. Geographers and ‘globalization’: yet another missed boat? Transactions of the Institute of British Geographers, 29, p. 5-26, 2004. _____. Global Shift: mapping the changing contours of the world economy. 6. ed. New York: Guilford Press, 2011. FEENSTRA, R. C. Integration of trade and disintegration of production in the global economy. Journal of Economic Perspectives, v. 12, n.4, p.31-50, 1998. HAESBAERT, R.; LIMONAD, E. O território em tempos de globalização. etc..., espaço, tempo e crítica, Revista Eletrônica de Ciências Sociais Aplicadas e outras coisas, v. 1, n. 2(4), 2007. Disponível em: <http://www.unifal-mg.edu.br/geres/files/territorio%20globaliza%C3%A7ao.pdf>. Acesso em: 16 set. 2018. HARVEY, D. The condition of postmodernity. Oxford: Blackwell, 1990. HARVEY, D. Condição pós-moderna. São Paulo: Edições Loyola, 1992. McHALE, J. The future of the future. New York: George Braziller, 1969. SANTOS, M. Por uma outra Globalização: do pensamento único à consciência universal. 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 2000. http://www.unifal-mg.edu.br/geres/files/territorio%20globaliza%C3%A7ao.pdf AULA 4 GLOBALIZAÇÃO, INDÚSTRIA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Prof. Alceli Ribeiro Alves 2 CONTEXTUALIZANDO Nesta aula, abordaremos outra perspectiva interessante acerca da Globalização, defendida pelo jornalista americano Thomas Friedman. Friedman divide a Globalização em três períodos, chamados de Globalização 1.0, 2.0 e 3.0. Em seguida, trataremos do conceito de indústria, suas características e as principais inovações resultantes das revoluções industriais, desde a primeira revolução até as inovações mais recentes. Por último, discutiremos as transformações ocasionadas pela quinta revolução industrial e seus impactos no mercado de trabalho e na sociedade de modo geral. TEMA 1 — GLOBALIZAÇÃO 1.0, 2.0 E 3.0 1.1 Globalização 1.0 Para Friedman (2005), a Globalização passou por três grandes períodos. O primeiro é bastante longo e se estendeu de 1492 até cerca de 1800. Esse período teve início quando o navegador italiano Cristóvão Colombo saiu da Espanha com o objetivo de chegar à Índia, partindo de uma hipótese pouco provável na sua época, a de que o mundo era redondo, e que se ele navegasse para oeste, saindo da Espanha, chegaria ao destino estabelecido em seu objetivo. De fato, as viagens desse explorador e navegante italiano permitiram que um novo período de expansão, colonização e conquista de territórios ocorresse no Novo Mundo. Segundo Friedman (2005), o mundo que parecia grande e desconhecido, “reduziu de tamanho, de grande para médio e envolveu países e músculos, é o período da Globalização 1.0”. Aqui, o autor admite que questões importantes foram levantadas no contexto da Globalização 1.0, sobretudo no âmbito do país. Saiba mais Para conhecer um pouco mais sobre esse primeiro período da Globalização e, em particular, sobre a conquista da América e a expansão do Velho para o Novo Mundo, assista ao filme 1492: a conquista do paraíso, com o ator francês Gérard Depardieu. 3 1.2 Globalização 2.0 Para Friedman, o período da Globalização 2.0 vai de 1800 ao ano 2000. Nesse período, o mundo passa a sofrer outra redução de tamanho, de médio para pequeno. Na perspectiva do autor, houve apenas uma breve interrupção nesse período, que envolveu a primeira e a segunda guerras mundiais. Se, na Globalização 1.0, os países foram os principais agentes de mudança; na Globalização 2.0, Friedman defende que foram as empresas multinacionais que tiveram esse papel. “As multinacionais se expandiram em busca de mercados e mão de obra, movimento encabeçado pelas sociedades por ações inglesas e holandesas e a Revolução Industrial” (Friedman, 2005). Nesse mesmo contexto e período, o autor trata da ideia de inovação nos sistemas de transporte e comunicação, temas amplamente debatidos na Geografia Econômica e Industrial e que serão debatidas também nas seções seguintes desta aula. Nas palavras de Friedman (2005),
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