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0 0 - Globalização e Desenvolvimento

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AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GLOBALIZAÇÃO, INDÚSTRIA E 
DESENVOLVIMENTO 
SUSTENTÁVEL: ABORDAGENS 
SISTÊMICAS DE SUPPLY, VALUE 
CHAINS E NETWORKS 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Alceli Ribeiro Alves 
 
 
 
2 
TEMA 1 – GEOGRAFIA: A CIÊNCIA QUE ESTUDA O ESPAÇO GEOGRÁFICO 
 Nesta aula, trataremos do papel dos paradigmas na ciência e na vida dos 
cidadãos e discutiremos acerca dos conceitos de efeito paradigma e das 
consequências da paralisia de paradigma. Além disso, trataremos de apresentar 
e discutir acerca da perspectiva geográfica e, em particular, da perspectiva da 
Geografia Econômica. Por fim, iremos elaborar um breve argumento acerca 
daquilo que acreditamos que seja o caminho para uma renovação e uma inovação 
dentro da Geografia Econômica, estabelecendo interseções analíticas e técnicas 
com diferentes áreas do conhecimento. Boa aula! 
1.1 Compreendendo o mundo a partir de uma perspectiva 
Cabe ressaltar que toda e qualquer análise científica sempre é pautada por 
um conhecimento prévio; um repertório teórico, conceitual e metodológico; um 
olhar ou perspectiva que se adota e aplica. Tal análise não ocorre sem critérios, 
competências ou, no mínimo, com algumas ferramentas essenciais para se 
compreender e explicar os fenômenos. 
Sem dúvida, é correto admitir também que a escolha de dado referencial 
ou perspectiva acaba influenciando no tipo de análise e percepção que se pode 
ter acerca de uma mesma informação factual. Afinal, um determinado fenômeno 
ou realidade pode ser interpretado e analisado segundo diferentes pontos de vista. 
Uma vez construída uma compreensão ou percepção acerca de um fato, 
pode ser difícil também que se consiga realizar outra leitura ou análise segundo 
novos olhares ou perspectivas. É isso que a Figura 1 nos ajuda a demonstrar. A 
imagem mostra uma taça ou dois rostos de perfil na cor negra, de acordo com a 
perspectiva que se queira escolher ou adotar para realizar a interpretação 
perceptual. 
 
 
3 
Figura 1 – Interpretações perceptuais alternativas da mesma informação factual 
básica 
 
Crédito: Peter Hermes Furian/Shutterstock. 
Uma vez construída uma compreensão ou percepção acerca de um fato, 
pode ser difícil também que se consiga realizar outra leitura ou análise segundo 
novos olhares ou perspectivas. É isso que a Figura 1 nos ajuda a demonstrar. A 
imagem mostra um vaso na cor branca ou duas faces de cor preta, de acordo com 
a perspectiva que se queira escolher ou adotar para realizar a interpretação 
perceptual. 
 Para Alves (2015, p. 83), a Geografia Econômica se preocupa em: 
Analisar, compreender e explicar a organização espacial das atividades 
econômicas em determinados sistemas econômicos à luz da Geografia 
e de seus conceitos e técnicas. O Geógrafo economista se preocupa 
com a localização dos vários elementos dos sistemas econômicos, como 
eles estão conectados no espaço, como eles o produzem e transformam, 
e quais são os impactos sócio-espaciais dos processos econômicos. 
Graduados em Geografia têm bastante familiaridade com este objeto e com 
as ferramentas utilizadas pela Geografia. Mas, percepção espacial é uma 
atividade que precisa ser desenvolvida por todos os indivíduos, 
independentemente do referencial ou perspectiva que se queira escolher e adotar. 
Reconhecer a importância da dimensão espacial em nossas vidas é algo 
que muitas vezes pode passar despercebido no cotidiano dos cidadãos ou mesmo 
em pesquisas e análises realizadas na perspectiva de outras áreas do 
conhecimento. 
 
 
4 
Admitimos que nossa perspectiva talvez não seja a única, ou mais 
adequada, para a análise de todos os fenômenos que ocorrem como resultado da 
interação entre sociedade e natureza, mas, sem dúvida, trata-se de um olhar ou 
perspectiva que oferece diversos insights para lançar luz na busca de repostas 
para as questões da atualidade. 
1.2 A ciência que estuda o espaço geográfico 
Por isso, e ainda em caráter introdutório, é importante saber que a 
Geografia estuda, dentre outras coisas, a relação das sociedades com o meio em 
que vivem; as transformações produzidas nas paisagens pela ação de indivíduos, 
empresas, governos, instituições etc., com o objetivo de satisfazerem suas 
necessidades, produzirem riqueza ou planejarem estratégias para estimular o 
desenvolvimento. 
É o que a Figura 2 implicitamente demonstra. A imagem mostra uma das 
Avenidas mais movimentadas da Cidade de Curitiba, a Avenida Visconde de 
Guarapuava. Ela conecta o centro da cidade a diversos bairros ou localidades da 
capital paranaense. Ao longo da Avenida, e também nas vias paralelas, há 
diversos empreendimentos, como condomínios residenciais, empresas do setor 
de serviços, instituições de ensino etc. 
Figura 2 – O espaço geográfico em transformação 
 
Crédito: Alf Ribeiro/Shutterstock. 
Sem dúvida, um exemplo que revela transformações no espaço geográfico, 
ou ainda na paisagem, que decorrem da necessidade que indivíduos, empresas, 
governos têm de interferirem no meio para satisfazerem suas necessidades (ex: 
 
 
5 
de moradia), produzirem riqueza, gerarem oportunidades de trabalho, emprego e 
renda. 
A Geografia passou por diversas transformações, apropriando-se de 
conceitos, teorias e métodos que foram gradativamente compondo o repertório da 
ciência geográfica, auxiliando-a na compreensão de seu objeto de estudo, o 
espaço geográfico. 
Desde sua institucionalização e sistematização enquanto ciência, a 
Geografia foi influenciada por diversos paradigmas. Numa fase mais incipiente de 
institucionalização, a Geografia era uma ciência predominantemente descritiva, 
que enfatizava as particularidades dos lugares, os costumes de seus habitantes, 
o tipo de vegetação característico da região etc. 
Em outro momento, a Geografia deparou-se com um novo paradigma, que 
rompeu com a simples descrição dos lugares, para dar espaço ao raciocínio 
dedutivo, lógico-matemático, baseado na construção de leis gerais. Já em outro 
paradigma emergiram temas mais relacionados aos problemas sociais, às 
desigualdades sociais e às contradições do capitalismo. 
1.3 A interseção entre Geografia e as demais áreas do conhecimento 
É importante destacar que nossa análise se baseia também, e 
significativamente, em conceitos, teorias e métodos provenientes de diversas 
outras áreas do conhecimento, destacando-se a Economia, a Administração, e a 
área de Negócios. 
Isso ficará evidente na medida em que apresentarmos a influência de 
diferentes paradigmas na Geografia ao longo de seu processo de transformação 
e também nas discussões que iremos promover nas próximas aulas. 
Nesse sentido, já destacamos que a noção de sistemas, supply chains, 
value chains, além de outras que analisaremos no contexto da Globalização, da 
indústria, do comércio internacional e do desenvolvimento sustentável, não se 
limitam à perspectiva geográfica. Pelo contrário, muitas dessas noções e 
perspectivas têm origem na Economia, na Sociologia Econômica e na vasta 
literatura disponível nas áreas de Negócios e Administração. 
 
 
 
6 
TEMA 2 – PARADIGMA, EFEITO PARADIGMA E PARALISIA DE PARADIGMA 
2.1 Conceito de Paradigma 
Toda ciência é influenciada por paradigmas. Certos paradigmas 
permanecessem por muitos anos, determinando não apenas o tipo de ciência que 
se faz, mas também influenciando na percepção que os indivíduos ou sociedades 
têm e constroem, em todos os lugares, acerca dos eventos e transformações que 
impactam em suas vidas cotidianas. 
O conceito de paradigma é do cientista americano Thomas Kuhn, que o 
define da seguinte forma: “considero paradigmas as realizações científicas 
universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e 
soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência” (Kuhn, 
1987, p.13). 
Segundo Kuhn (1987, p. 44), em sua obra-prima intitulada “A estrutura das 
revoluçõescientíficas”, publicada pela primeira vez em 1962, 
Os paradigmas adquirem seu status porque são mais bem-sucedidos 
que seus competidores na resolução de alguns problemas que o grupo 
de cientistas reconhece como graves. Contudo, ser bem-sucedido não 
significa nem ser totalmente bem-sucedido com um único problema, nem 
notavelmente bem-sucedido com um grande número. De início, o 
sucesso de um paradigma [...] é, em grande parte, uma promessa de 
sucesso que pode ser descoberta em exemplos selecionados e ainda 
incompletos. 
Para Kuhn (1987, p. 44), a ciência normal consiste na atualização dessa 
promessa, “atualização que se obtém ampliando-se o conhecimento daqueles 
fatos que o paradigma apresenta como particularmente relevantes, aumentando-
se a correlação entre esses fatos e as predições do paradigma e articulando-se 
ainda mais o próprio paradigma”. 
Um paradigma se torna amplamente difundido e aceito quando suas 
teorias, conceitos e métodos oferecem respostas adequadas aos problemas da 
humanidade, e da própria ciência. Existem paradigmas adequados para 
solucionar problemas específicos. 
Contudo, na medida em que a realidade muda, os problemas também 
mudam, e novas questões precisam ser respondidas. É aqui que o paradigma 
pode, ou não, tornar-se incapaz de fornecer respostas adequadas e com o mesmo 
rigor científico ao longo de períodos relativamente amplos. 
 
 
7 
2.2 Efeito paradigma 
Nesse processo, todos nós somos acometidos pelo efeito paradigma. O 
efeito paradigma significa a repercussão do paradigma em nosso pensamento e 
em nossa forma de agir diante dos problemas e situações que se apresentam em 
nosso cotidiano. 
Quando se entende que tal paradigma pode nos auxiliar na busca de 
respostas para as questões que nos desafiam, então seguimos ou escolhemos tal 
paradigma e o consideramos como adequado ou correto. Porém, se dado 
paradigma não se adequa ao modo de pensar e agir de determinados indivíduos, 
tais indivíduos podem resistir às mudanças. 
A mudança de paradigma é um processo que não deve passar 
despercebido pelo olhar do pesquisador, do cidadão, do intelectual, das 
instituições, dos governos, empresas etc. Na mudança de paradigma, é 
necessário refletir criteriosamente acerca daquilo que se pretende reconhecer, 
incorporar e adaptar em relação ao novo. 
2.3 Paralisia de paradigma 
Há que se perceber o momento em que o paradigma se torna inadequado, 
e reconhecer a necessidade de utilização de outro paradigma. Essa tarefa precisa 
ser realizada para evitar que a ciência, e também os indivíduos, não fiquem 
estacionados em um determinado paradigma, ou seja, na mesma forma de pensar 
e agir, na chamada paralisia de paradigma. 
Empresas, governos, lugares e instituições também são influenciados por 
paradigmas e precisam tomar decisões e fazer escolhas que, baseadas em tais 
paradigmas, podem e certamente irão afetar outras empresas, governos, 
instituições etc. 
Os cidadãos não têm uma tarefa trivial, eles precisam fazer escolhas 
difíceis e importantes em contextos de mudança de paradigma. Nem sempre o 
indivíduo está propenso à mudança, ele pode vir a rejeitar uma ideia, uma 
inovação ou simplesmente ignorar um alerta, uma oportunidade. 
Diversas ciências e escolas de pensamento também podem sofrer de 
paralisia de paradigma. Determinadas pessoas, apesar de se depararem com um 
fato novo, um processo de mudança, a presença do novo paradigma, não querem 
 
 
8 
mudar. A parábola que envolve um homem, uma mulher, um carro e um porco nos 
faz refletir sobre essa questão (Figura 3). 
Empresas e negócios muitas vezes também não mudam, não inovam, não 
enxergam as oportunidades nas mudanças e, consequentemente, correm o risco 
de ter de encerrar suas atividades, decretando falência. 
Figura 3 – A parábola do homem, da mulher, do carro e do porco 
 
Crédito: christian_b/Shutterstock. 
Em suma, mudar de paradigma não deve ser visto como uma péssima ideia 
ou escolha a se fazer. A mudança pode indicar, de fato, o surgimento de janelas 
de oportunidades. A análise conduzida aqui também sofre a influência de certos 
paradigmas, e isso ficará evidente para o leitor em alguns momentos. 
TEMA 3 – PARADIGMAS EM GEOGRAFIA: REVOLUÇÃO QUANTITATIVA 
3.1 Revolução quantitativa ou evolução teórica? 
Neste tema, nosso foco consistirá em tratar de um paradigma bem peculiar 
que influenciou a geografia em meados do século XX, o paradigma quantitativo-
pragmático, que emergiu da revolução quantitativa. 
Revolução quantitativa, alguns diriam, é um termo inadequado para se 
referir a essa mudança e adoção do novo paradigma. Para Barnes (2001, p. 552), 
por exemplo, tanto o substantivo (revolução) como o adjetivo (quantitativa) estão 
errados porque a geografia tinha sido quantitativa desde o tempo de sua 
institucionalização formal como uma disciplina no século XIX. 
Além disso, argumenta o autor, que o que houve foi uma evolução na 
utilização das técnicas utilizadas, técnicas essas baseadas em teorias até então 
 
 
9 
não difundidas e aplicadas em geografia. Daí o porquê considera essa mudança 
de paradigma como uma “evolução teórica”, mais do que uma revolução 
quantitativa, denominando-a de teoria da primeira onda ou first-wave theory 
(Barnes, 2001, p. 552). 
Qualquer que seja a perspectiva ou terminologia utilizada é importante 
notar que foi por volta de 1950 que a revolução quantitativa muda a maneira como 
a geografia, e, sobretudo, a geografia econômica passou a estudar o espaço 
geográfico e fazer uso de dados e estatísticas. Estamos nos referindo ao 
paradigma pragmático, da geografia quantitativa, ou ainda da geografia teorética. 
Para Barnes (2011), essa revolução se inicia entre os geógrafos 
economistas anglo-americanos a partir de meados de 1950. Essa nova geografia, 
resultado da revolução, poderia ser definida pela “aplicação sistemática de formas 
científicas de teorização e rigorosas técnicas estatísticas de análise e descrição 
(Barnes, 2001, p. 39)”. 
Antes da revolução quantitativa, a geografia econômica estava preocupada 
em descrever, catalogar e delinear a economia de lugares e paisagens únicas. 
Mas esse paradigma caracterizado pela descrição exaustiva das paisagens e 
lugares foi deixado de lado, substituído por uma nova geografia, voltado para 
explicar cientificamente e provar (e teorizar) de maneira abstrata os fenômenos e 
as relações econômicas espaciais. 
A geografia econômica, nesse novo paradigma, não poderia mais ser 
considerada simplesmente como “uma memorização dos principais portos, 
principais vias navegáveis e principais produtos, mas sim uma ciência, uma 
ciência espacial” (Barnes, 2011, p. 39). 
Consequentemente, a geografia se aproximou da economia, da 
matemática e da estatística, por meio dos diálogos e interseções conceituais e 
metodológicas com as teorias de Johann Von Thünen, Walter Christaller e Alfred 
Weber. 
A revolução quantitativa revela uma primeira movimentação da geografia, 
e em particular, da geografia econômica, no sentido de aproximar-se de outras 
ciências ditas exatas ou duras. 
Nessa primeira aproximação, a geografia econômica fez uso de modelos 
matemáticos, figuras geométricas, análises estatísticas e de conceitos, teorias e 
métodos da economia. É nesse contexto que há um resgate das teorias de Johann 
Von Thünen, Walter Christaller e Alfred Weber. 
 
 
10 
3.2 Surfando em diferentes paradigmas: a obra de David Harvey 
O geógrafo britânico David Harvey é um desses raros intelectuais que 
foram capazes de influenciar (e de ser influenciado) pelas diversas vertentes 
teóricas e paradigmas da ciência. Ele publicou livros e artigos científicos na 
perspectiva de diferentes paradigmas analisados no âmbito da geografia, e talvez 
seja um dos poucos geógrafos, assim como Milton Santos, Pierre George e Yves 
Lacoste, que se tornaram influentes não apenas dentroda Geografia, mas 
também fora dela. 
Vários trabalhos podem ser citados no contexto de transição da geografia 
pragmática para a geografia crítica. Aqui, chamamos a atenção para três trabalhos 
publicados por David Harvey: Explanation in Geography (1969), Revolutionary and 
counter revolutionary theory in Geography and the problem of ghetto formation 
(1972) e Social Justice and the city (1973). 
Explanation in Geography (1969) é uma obra situada ainda no paradigma 
da geografia quantitativa. Harvey certamente sofreu a influência da geografia 
pragmática ou da chamada nova geografia e Explanation in Geography é uma 
dessas obras que revela essa fase pragmática na produção intelectual do 
geógrafo britânico. 
Já o artigo “Revolutionary and counter revolutionary theory in Geography 
and the problem of ghetto formation”, publicado por Harvey em 1972, na revista 
Antipode, revela uma ruptura do autor com o paradigma dos modelos matemáticos 
e a proposição de uma revolução dentro do pensamento geográfico, em direção 
à geografia crítica. 
No ano seguinte, em 1973, Harvey publica Social Justice and the city, obra 
que não apenas demonstra esse processo de transição no pensamento 
geográfico, como também representa o início da abordagem marxista dentro da 
geografia. Depois disso, Harvey passa a fazer uma leitura criteriosa da obra de 
Marx, abordando temas que variam desde o urbanismo e o capital financeiro até 
a teoria das crises econômicas. 
Conforme já indicamos, após a revolução quantitativa, outras correntes 
teóricas e paradigmas influenciaram a geografia, como a geografia crítica 
(sobretudo marxista), a cultural (vertente antropológica), biocêntrica (ambiental). 
vejamos um pouco sobre a perspectiva cultural em geografia, à luz do que ficou 
conhecido como a virada cultural, ou cultural turn, em geografia. 
 
 
11 
TEMA 4 – CULTURAL TURN E NEW ECONOMIC GEOGRAPHY 
4.1 Cultural turn (virada cultural) e aproximação com a antropologia 
Segundo Pedrosa (2016, p. 32), “qualquer um que tenha se interessado 
minimamente pela história da Geografia Cultural pode perceber que este 
subcampo da Geografia surgiu estabelecendo um contato muito intenso com a 
antropologia”. 
Isso é natural, sobretudo se consideramos o objeto de estudo da geografia 
e a parte que concerne os usos, costumes, as leis das sociedades de modo geral 
etc. A natureza também está presente nesse contexto, mas é a sociedade e, 
sobretudo a cultura, que exercem maior peso nesse tipo de análise e paradigma. 
Afinal de contas, na perspectiva da geografia econômica, a cultura exerce um 
papel importante nas relações de consumo e de negociações internacionais. 
Para Johnston et al. (2000, p. 143), a virada cultural destaca como a 
geografia humana na década de 1990 “testemunhou uma série de tentativas de 
abordar a negligência dos processos culturais aparentes nas abordagens político-
econômicas da década de 1980”. Na década de 1980, a teoria crítica, e 
principalmente marxista, era um paradigma muito influente em várias ciências 
humanas e sociais, inclusive na geografia. 
Assim, na década de 1990 a geografia passou a ver o avanço da 
perspectiva cultural em suas análises e publicações. O método etnográfico, que 
tem suas raízes na antropologia, passou a ser novamente utilizado em geografia 
e ofereceu a esta uma oportunidade, uma chance para mudar, inovar. E a 
geografia mudou! 
A cultura estimulou um novo debate, propôs um paradigma novo. Linda 
McDowell é uma representante deste novo paradigma no contexto anglo-
americano. Paul Claval, ganhador do prêmio Vautrin Lud, em 1996, também é 
outro intelectual importante na Geografia francesa e mundial quando se considera 
esse paradigma. 
4.2 New Economic Geography: reaproximação com a Economia 
Também no fim do século XX e início do século XXI, a geografia econômica 
foi novamente influenciada por vertentes ou paradigmas pragmáticos, sobretudo 
característicos da chamada New Economic Geography. Paul Krugman é um dos 
 
 
12 
nomes mais citados quando se consideram as contribuições provenientes da 
Economia. 
Krugman (1991) argumenta que a geografia econômica se afastou dos 
modelos matemáticos após o declínio do paradigma quantitativo ou pragmático. 
Muitos geógrafos economistas foram parar em outros departamentos ou, ainda, 
permaneceram isolados em seus respectivos departamentos. Nesse sentido, o 
autor propõe o resgate dos modelos em estudos de geografia, e maior 
proximidade da geografia com a economia. Em seu livro Geography and Trade, 
elabora modelos relacionadas ao comércio internacional e à localização/ 
concentração das atividades manufatureiras. 
O geógrafo Ron Martin é outro nome a ser destacado, seus trabalhos e 
pesquisas geralmente tratam de temas como desenvolvimento econômico 
regional, geografia dos sistemas financeiros, geografia econômica evolucionária 
etc. 
TEMA 5 – PERSPECTIVAS DA GEOGRAFIA ECONÔMICA PARA O SÉCULO XXI 
5.1 Yes, we are in business! Aproximação com as áreas de administração, 
negócios, relações internacionais e comércio exterior 
Em 2018, foi publicado um artigo na revista Environment and Planning A: 
Economy and Space que se tratava de um relatório demonstrando e discutindo a 
preocupação dos geógrafos com a saúde da geografia econômica como uma 
subdisciplina e geografia econômica no Reino Unido. O artigo possui o seguinte 
título: “Sustaining Economic Geography? Business and Management Schools and 
the UK’s Great Economic Geography Diaspora”. 
Segundo os autores do artigo (Al James, Neil Coe et al.), os últimos anos 
testemunharam uma notável migração de geógrafos economistas no Reino Unido, 
de Departamentos de Geografia para posições acadêmicas em escolas de 
administração e negócios e centros de pesquisa relacionados. 
Entre 2015 e 2017, o relatório examinou a escala e a importância dessa 
tendência, conforme documentado em novos dados de pesquisa e entrevistas 
geradas por meio de pesquisa realizada pelo Grupo de Pesquisa em Geografia 
Econômica da Sociedade Geográfica Real, juntamente com o Instituto de 
Geógrafos Britânicos. 
 
 
13 
Para James et al. (2018), isso levou, de um lado, a uma diminuição dos 
geógrafos economistas e no tamanho da geografia econômica em departamentos 
de geografia. E, por outro lado, aproximou esses profissionais e a geografia 
econômica de áreas que passaram a dialogar de maneira mais intensa e profícua 
com a geografia econômica, em particular, as áreas de administração e negócios. 
Essa migração ou movimento demonstra que a geografia continua 
desempenhando seu papel. Apesar de ser uma ciência com um objeto específico, 
qual seja, o espaço geográfico, continua exercendo a interdisciplinaridade e o 
diálogo com outras ciências e áreas do conhecimento. Se antes houve (e mesmo 
atualmente há) uma aproximação com a matemática, a economia e a estatística, 
pode-se dizer que hoje também existe outra aproximação importante com as 
áreas de Administração, negócios, logística e comércio exterior, além de outras 
áreas ou centros de pesquisa relacionados. 
5.2 Geografia econômica no (e para o) século XXI 
Tendo observado e discutido as mudanças pelas quais passou a geografia 
econômica durante as últimas décadas, podemos traçar um repertório de temas e 
problemas que consideramos importantes. Sabemos que muitos outros temas e 
problemas serão ignorados aqui, e por isso já reconhecemos as limitações que 
estão presentes em nossa análise. De qualquer maneira, iremos expor alguns 
daqueles temas e questões que consideramos atuais e indispensáveis para uma 
geografia econômica que deverá ser conduzida nas próximas décadas. 
A geografia econômica do século XXI deve ter um olhar direcionado para 
as transformações que já mencionamos e iremos mencionar ao longo das 
próximas aulas, dialogando com outras ciências por meio da análise de temas, 
conceitos, questões e recortes espaciais e analíticosque são transversais 
também em outras ciências, como em questões que envolvem a sustentabilidade, 
o meio ambiente, a globalização, a competitividade internacional, as inovações 
tecnológicas, o mercado de trabalho e a terceirização etc. 
A geografia economia do século XXI precisa ser, como de fato é, uma 
ciência holística, que realiza análises abordando temas e questões transversais, 
interdisciplinares, sem perder a noção de que seu objeto de estudo é o espaço 
geográfico. Uma ciência multidimensional, que trata das relações econômicas no 
espaço e das transformações que decorrem dessas relações. 
 
 
 
14 
5.3 “Resumo da ópera” e novas reflexões 
Para finalizar, destacamos algumas questões e temas que foram tratados 
nesta aula. De maneira sucinta e introdutória, apresentamos nossa perspectiva 
nesta análise, a perspectiva geográfica e, em particular, a geografia econômica. 
Destacamos também o papel dos paradigmas na ciência e na vida dos cidadãos, 
e aproveitamos para discutir sobre os conceitos de efeito paradigma e das 
consequências da paralisia de paradigma. 
Da revolução quantitativa à virada cultural, passando pela nova geografia 
econômica e agora em business, resumimos algumas das principais 
transformações pelas quais a geografia passou entre meados do século passado 
e as últimas décadas. 
Por último, mas não menos importante, elaboramos um breve argumento 
acerca daquilo que acreditamos que seja o caminho para uma renovação e uma 
inovação dentro da geografia econômica, sem perder o chão no qual se pisa e 
que permite o estabelecimento de novas relações, o espaço geográfico. 
Saiba mais 
Assista ao vídeo “O que é Geografia” para entender um pouco mais sobre 
o olhar geográfico acerca dos fenômenos que envolvem a interação da sociedade 
e natureza. Disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=5Qwg8Y0SDDY>. Acesso em: 9 out. 2018. 
Para ampliar seus conhecimentos sobre a noção de paradigma e de como 
a ciência evolui por meio de revoluções, leia o livro de Thomas Kuhn, intitulado A 
estrutura das revoluções científicas. 
Para saber mais sobre essa primeira aproximação da Geografia Econômica 
com as ciências exatas e sobre as teorias de Johann Von Thünen, Walter 
Christaller e Alfred Weber, sugerimos a leitura do primeiro capítulo do livro: 
ALVES, A. R. Geografia Econômica e Geografia Política. Curitiba: Intersaberes, 
2015. Este livro pode ser encontrado no seu AVA (Ambiente Virtual de 
Aprendizagem), na Biblioteca Virtual Pearson. 
A Royal Geographical Society (RGS), juntamente com o Institute of British 
Geographers (IBG), é uma sociedade erudita e profissional do Reino Unido para 
a Geografia. Essas sociedades promovem a Geografia e apoiam os geógrafos no 
Reino Unido e em todo o mundo. Para conhecer um pouco mais sobre a RGS, 
acesse o site da Sociedade. Disponível em: <https://www.rgs.org/about/>. Acesso 
em: 9 out. 2018. 
 
 
15 
REFERÊNCIAS 
ALVES, A. R. Geografia econômica e geografia política. Curitiba: InterSaberes, 
2015. 
BARNES, T. J. Retheorizing economic geography: from the quantitative revolution 
to the ‘cultural turn’. Annals of the Association of American Geographers, v. 
91, n. 3, p. 546–565, 2001. 
_____. The Quantitative Revolution and Economic Geography. In: Leyshon, A., 
Lee, R., McDowell, L., and Sunley, P. (Ed.). The SAGE Handbook of Economic 
Geography. Sage: London, 2011. 
DICKEN, P.; LLOYD, P. E. Location in space: theoretical perspectives in 
Economic Geography. 3. ed. New York: Harper and Row, 1990. 
HARVEY, D. Explanation in Geography. London: Edward Arnold, 1969. 
_____. Revolutionary and counter revolutionary theory in Geography and the 
problem of ghetto formation. Antipode, v. 4, n.2, p.1-13, 1972. 
_____. Social Justice and the City. Revised edition. University of Georgia Press, 
1973. 
_____. Condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1992. 
JAMES, A.; BRADSHAW, M.; COE, N.; FAULCONBRIDGE, J. Sustaining 
Economic Geography? Business and Management Schools and the UK’s Great 
Economic Geography Diaspora. Environment and Planning A: Economy and 
Space. 2018. Disponível em: <https://doi.org/10.1177/0308518X18764120>. 
Acesso em: 9 out. 2018. 
JOHNSTON, R. J.; GREGORY, D.; PRATT, G. e WATTS, M. The Dictionary of 
Human Geography. 4. ed. Oxford: Blackwell, 2000. 
KRUGMAN, P. Geography and Trade. Cambridge, MA: MIT Press, 1991. 
KUHN, T. S. A estrutura das revoluções cientificas. São Paulo: Perspectiva, 
1987. 
PEDROSA, B. V. O Império da representação: a virada cultural e a geografia. 
Espaço e Cultura, v. 1, n. 39, p. 31-58, 2016. 
 
https://doi.org/10.1177%2F0308518X18764120
 
 
AULA 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GLOBALIZAÇÃO, INDÚSTRIA E 
DESENVOLVIMENTO 
SUSTENTÁVEL: ABORDAGENS 
SISTÊMICAS DE SUPPLY, VALUE 
CHAINS E NETWORKS 
 
 
 
 
 
 
Prof. Alceli Ribeiro Alves 
 
 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Existem diferentes maneiras para se tentar compreender o que é a 
globalização, quais suas principais características e elementos que compõem 
esse processo. Na atualidade, diversos eventos e transformações têm sido 
atribuídos ao chamado fenômeno da globalização. As interações entre países 
chamam a atenção para questões que variam desde as tecnologias que 
aproximam pessoas até problemas que resultam do desenvolvimento geográfico 
desigual. 
Conforme veremos, a globalização é um processo que pode ser abordado 
segundo perspectivas distintas, não é um fenômeno unânime e produz opiniões 
divergentes. É, sem dúvida, um processo que oferece oportunidades, mas que 
também impõe desafios e problemas, propõe novas questões. Destacaremos aqui 
quatro pontos de vista que consideramos importantes para a análise do processo 
de globalização. 
Estabeleceremos para essa análise a seguinte organização. No primeiro 
tema, analisaremos a globalização como um objeto que é estudado por diversas 
ciências e que cabe aos geógrafos o seu papel na análise deste tema, que é 
intrinsecamente geográfico. Para essa análise, nossa referência será o trabalho 
de Peter Dicken, geógrafo economista britânico. 
No segundo tema, nosso foco consistirá em apresentar a tese de que a 
globalização pode ser definida como fábula e também como uma fábrica de 
perversidades. Aqui nos fundamentaremos no trabalho de Milton Santos, um dos 
maiores nomes da geografia brasileira. Caberá a Raphael Kaplinsky, professor 
emérito do Instituto de Estudos sobre o Desenvolvimento (IDS), defender, no 
terceiro tema, a tese de que a globalização é um processo que oferece 
oportunidades, dependendo, obviamente, do tipo de inserção na economia 
mundial. 
Por último, analisaremos dois argumentos antagônicos: um que apresenta 
a globalização como um fenômeno em que a fluidez das relações prevalece e o 
mundo é plano, e outro que afirma que o espaço contém rugosidades, que 
determinam se, e como, a globalização se insere na dinâmica local e regional. 
 
 
 
3 
TEMA 1 – A GLOBALIZAÇÃO COMO UM BARCO PERDIDO 
1.1 Globalização como tema que permite a definição ou delimitação de 
inúmeros objetos de estudo 
O primeiro ponto de vista apresenta a globalização como um tema que 
permite a definição ou delimitação de inúmeros objetos de estudo. Tema e objetos 
que podem ser estudados por diversas ciências, sob diferentes perspectivas. 
Nesse contexto, cabe aos geógrafos a sua função social na tentativa de explicar 
esse fenômeno e fornecer respostas para as questões ou soluções para os 
problemas decorrentes desse fenômeno. 
Ou seja, cabe aos geógrafos o seu papel na análise de um tema que é, por 
natureza, geográfico. Esse ponto de vista pode ser bem representado pelas ideias 
de Peter Dicken, geógrafo economista britânico, que publicou em 2004 o artigo 
intitulado “Geographers and globalization: (yet) another missed boat?” 
No citado artigo, Dicken elabora um argumento sob o ponto de vista dos 
geógrafos, sobretudo dos geógrafos economistas,criticando-os pelo fato de não 
estarem focados em problemas ou questões geográficas que afloram e são 
emergentes em outras ciências, e que, de certa forma, são ignorados pelos 
geógrafos. 
Para dar embasamento a seu argumento, Dicken analisou diversos livros e 
outras publicações tratando do tema da globalização. Decepcionado com o 
resultado, Dicken (2004, p. 6) argumentou que, 
A evidência mostra de maneira inequívoca que os geógrafos estão, na 
verdade, e na melhor das hipóteses, na periferia dessas discussões e 
debates sobre a globalização. A Geografia é aquela criança pequena no 
recreio da escola e que sempre fica de fora quando as crianças maiores 
estão escolhendo times ou equipes. Ninguém parece querer nos 
escolher. Então nós temos um caso sério de "geógrafos ausentes" em 
nossas mãos. 
A Figura 1, a seguir, mostra a participação de geógrafos nesse debate e 
sua presença em citações contidas em livros e outras publicações. 
 
 
 
 
 
 
 
4 
Figura 1 – Os geógrafos e a globalização 
Fonte: Dicken, 2004, p. 7. 
De acordo com esse autor, o termo globalização é intrinsecamente 
geográfico, assim como os seus próprios processos. No entanto, segundo o autor, 
(Dicken, 2004, p. 5), “mais uma vez, parece que os geógrafos e a geografia, como 
disciplina, não estão centralmente envolvidos no que são claramente ‘grandes 
questões’ de fato”. Nesse contexto, o autor considera que a globalização poderia 
ser outro tema ignorado pela geografia e pelos geógrafos, outro barco perdido 
pela geografia. 
 
 
 
 
 
 
 
5 
1.2 Globalização: uma arena interdisciplinar de interesse da geografia 
As ideias de Glasmeier e Conroy (citados por Dicken, 2004, p. 6) dão 
sustentação a esse argumento de que a globalização é uma arena interdisciplinar, 
mas de que deve ser de enorme interesse da geografia. Para os autores, 
a geografia econômica deve estar no centro de todas as discussões 
sobre a globalização ... Apesar dessa conexão natural, poucos 
geógrafos estão presentes nos debates globais de alto perfil que 
examinam questões-chave na atual onda da globalização. Tornou-se, 
como padrão, um terreno trilhado por analistas espaciais, tais como 
economistas e advogados. 
Para Dicken (2004, p. 20), a geografia deve estabelecer um diálogo 
produtivo com diversas disciplinas, dentro e fora da geografia, a qual deve também 
“responder aos desafios, mas também às oportunidades da globalização”. Vimos 
na aula 1 que a geografia tem feito isso, aproximando-se de áreas que tratam não 
apenas de temas como a globalização, mas também de outros que possuem 
interseções analíticas com a geografia, a economia, a administração e os 
negócios. 
TEMA 2 – A GLOBALIZAÇÃO COMO FÁBULA E COMO FÁBRICA DE 
PERVERSIDADES 
2.1 A Globalização como fábula 
Discutiremos agora sobre o argumento que afirma que a globalização pode 
ser entendida como uma fábula. Milton Santos, geógrafo brasileiro, bacharel em 
direito, influente em diversas áreas dentro e fora da geografia, é o autor que traz 
essa perspectiva acerca do processo de globalização. 
Para Santos (2000, p.18), “a globalização como fábula constrói como 
verdade um certo número de fantasias”. Perceba que a publicação de Milton 
Santos, de 2000, é bem anterior à de Peter Dicken, que é de 2004, demonstrando 
que parcela dos geógrafos brasileiros já estava bastante atenta aos 
acontecimentos envolvendo tal processo. 
Para Santos (2000, p.18), a globalização como fábula é um mundo tal como 
nos fazem crer. Argumenta-se, nesse contexto, que vivemos numa aldeia global, 
onde há uma “difusão instantânea de notícias que realmente informa as pessoas”. 
 
 
6 
Ficamos sabendo de tudo em poucos segundos, independentemente do lugar 
onde estamos. 
O autor considera que, com base nesse mito, e também do encurtamento 
das distâncias, difunde-se a noção de tempo e espaço contraídos. Trataremos 
dessa questão na aula 3, quando tratarmos do conceito compressão espaço-
tempo. Para Santos (2000, p. 19), a globalização como fábula pode ser definida 
como 
se o mundo se houvesse tornado, para todos, ao alcance da mão. Um 
mercado avassalador dito global é apresentado como capaz de 
homogeneizar o planeta quando, na verdade, as diferenças locais são 
aprofundadas. Há uma busca de uniformidade, ao serviço dos atores 
hegemônicos, mas o mundo se torna menos unido, tornando mais 
distante o sonho de uma cidadania verdadeiramente universal. Enquanto 
isso, o culto ao consumo é estimulado. 
Num contexto de fábula, todos os dias, e pelos mais variados motivos, 
diversas pessoas ao redor do mundo buscam novas oportunidades, viajam, 
conhecem lugares diferentes, estabelecem conexões com diferentes pessoas e 
localidades, gozam dos benefícios que o mundo globalizado pode lhes 
proporcionar. 
Ainda nesse contexto, as empresas exercem a livre concorrência, 
competem até por mercados localizados em lugares e países distantes e 
procuram estar presentes em diferentes localidades em busca de vantagens 
competitivas, incentivos fiscais, mercados consumidores etc. Nessa perspectiva, 
o mundo é plano, não contém rugosidades, todos podem participar. Os governos 
também participam, planejam estratégias e desenvolvem ações para atrair 
investimentos, indústrias, emprego e renda. 
2.2 A Globalização como fábrica de perversidades 
Outra forma de abordarmos esse tema é a luz da noção de globalização 
como fábrica de perversidades. Nessa perspectiva, é possível abordarmos a 
globalização segundo diferentes facetas e contextos. Por exemplo, nem todos os 
indivíduos na superfície terrestre podem migrar, ou seja, nem todos legalmente 
têm acesso, e de forma equitativa, para se deslocar no espaço geográfico (Figura 
2). 
 
 
7 
Figura 2 – Desembarque de barco clandestino no porto de Lampedusa, na Itália, 
em 2011 
 
Fonte: Photofilippo66/Shutterstock. 
Para Santos (2000, p. 19-20), “para a grande maior parte da humanidade a 
globalização está se impondo como um fábrica de perversidades”. Segundo o 
renomado geógrafo brasileiro, a globalização como fábrica de perversidades se 
revela na medida em que 
o desemprego crescente torna-se crônico. A pobreza aumenta e as 
classes médias perdem em qualidade de vida. O salário médio tende a 
baixar. A fome e o desabrigo se generalizam em todos os continentes. 
Novas enfermidades como a AIDS se instalam e velhas doenças, 
supostamente extirpadas, fazem seu retorno triunfal. A mortalidade 
infantil permanece, a despeito dos progressos médicos e da informação. 
Alastram-se e aprofundam-se males espirituais e morais, como os 
egoísmos, os cinismos, a corrupção. A perversidade sistêmica que está 
na raiz dessa evolução negativa da humanidade tem relação com a 
adesão desenfreada aos comportamentos competitivos que atualmente 
caracterizam as ações hegemônicas. Todas essas mazelas são direta 
ou indiretamente imputáveis ao presente processo de globalização. 
Para determinadas situações, a globalização não se revela como um 
processo benéfico para todos. Ele é um processo perverso, cujas soluções para 
os mais variados problemas não podem ser encontradas no global, pois são 
problemas, desafios e oportunidades que são absorvidos de maneira distinta 
pelos lugares. E os lugares são, por natureza, socialmente, economicamente e 
geograficamente distintos. 
 
 
 
8 
Saiba mais: 
Para conhecer um pouco mais sobre a obra de Milton Santos e suas ideias, 
assista ao documentário “Por uma outra Globalização”, e “O mundo global visto 
do lado de cá” disponíveis em: 
MILTON Santos por uma nova globalização. Navegante Net, 3 set. 2011. 
Disponível em: < http://www.canalibase.org.br/o-mundo-global-visto-do-lado-de-
ca/>. Acesso em: 6 out. 2018. 
O MUNDO global visto do lado de cá. Crabastos, 6 jun. 2011. Disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=-UUB5DW_mnM>. Acesso em: 6 out. 2018. 
TEMA 3 – A GLOBALIZAÇÃO COMO UM PROCESSO QUE OFERECE 
OPORTUNIDADES 
3.1 Ascontribuições de Raphael Kaplinsky 
Trataremos agora de apresentar a globalização como um processo que 
oferece oportunidades, perspectiva essa defendida por Raphael Kaplinsky, 
professor e pesquisador, um dos autores mais importantes no que concerne à 
análise do processo de globalização econômica, sobretudo na perspectiva da 
Global Value Chains. As pesquisas desenvolvidas por Kaplinsky junto ao Institute 
of Development Studies (IDS) influenciaram pesquisadores de diversas áreas e 
países, sobretudo no contexto anglo-americano. 
Saiba mais 
Para conhecer um pouco mais sobre a obra de Raphael Kaplinsky e seu 
campo de pesquisa na perspectiva da globalização econômica, acesse o link a 
seguir e assista a uma de suas entrevistas como Professor de Desenvolvimento 
Internacional, pela Universidade Aberta do Reino Unido. 
RAPHAEL Kaplinsky. Duke University Global Value Chains Center, 16 mar. 
2015. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=wtXWMCSb2TE>. 
Acesso em: 2 set 2018. 
3.2 The theory of rent, de David Ricardo 
A perspectiva de Kaplinsky está diretamente relacionada a análises que 
têm como foco o papel das firmas e multinacionais na economia mundial. 
 
 
9 
Kaplinsky reconhece que países e regiões se inserem num contexto de 
transformações e de inserção na economia mundial no processo de Globalização. 
Mas nem todos se inserem da mesma forma e com o mesmo nível de tecnologia, 
know how e capacidade para concorrer em mercados internacionais 
extremamente competitivos. 
Para Kaplinsky (2005, p. 53-54), “os benefícios da Globalização podem ser 
obtidos segundo a Lei do aluguel ou da teoria da renda da terra, mais conhecida 
no original como Theory of Rent”, do economista político David Ricardo. Segundo 
essa teoria, a escassez oferece as bases para rendas elevadas e sustentáveis, 
pois 
dada a capacidade dos produtores de fornecer bens e serviços que os 
clientes desejam, os rendimentos podem ser elevados e sustentáveis se 
os produtores forem capazes de se proteger da concorrência, 
construindo e/ou tirando proveito das barreiras à entrada de 
competidores. Por outro lado, os produtores incapazes de se esconder 
dessas barreiras estão sujeitos à intensa competição e redução dos 
rendimentos. Embora essas barreiras incluam maior eficiência em 
processos e desenvolvimento de produtos, há um terreno mais amplo de 
barreiras para à entrada de competidores. 
De maneira sucinta, rent surge da escassez. Isso significa ter algo, “um 
recurso, uma capacidade, um conhecimento que os outros não possuem. Para 
ser duradouro, os aluguéis precisam ser protegidos por barreiras para a entrada 
de competidores” (Kalinsky, 2005, p. 62). 
Ao defender esse argumento, o autor oferece também uma estrutura 
analítica para guiar o posicionamento efetivo das empresas na economia global. 
Trata-se de uma estrutura analítica com bases schumpeterianas, cuja inovação 
gera o superávit empreendedor (Figura 3). Quem inova primeiro e transforma uma 
nova ideia em vantagem comercial obtém rendimentos elevados e muito acima 
dos demais competidores. 
 
 
 
10 
Figura 3 – Geração e dissipação do superávit empreendedor segundo a teoria 
 
Fonte: Kaplinsky, 1998, p. 11. 
Na perspectiva de Kaplinsky, há diversas oportunidades e ganhos a serem 
obtidos pelas firmas quando optam pela inserção e aprofundamento no processo 
de globalização, “mas isso dependerá da maneira pela qual os produtores se 
posicionam nos mercados globais” (Kaplinsky, 2005, p. 53). 
TEMA 4 – A FLUIDEZ DO ESPAÇO GEOGRÁFICO NO PROCESSO DE 
GLOBALIZAÇÃO 
4.1 A permeabilidade dos territórios 
Considerando a dimensão econômica, um dos argumentos mais comuns 
presentes nessas discussões consiste em defender a ideia de que o Estado 
Nacional, quando inserido no processo de globalização, deve flexibilizar suas 
estruturas regulatórias e deixar que sua economia funcione segundo o princípio 
da mão invisível. 
Nesse tipo de argumento ou tese, defende-se que a globalização é um 
fenômeno que torna as fronteiras dos territórios nacionais mais permeáveis, e 
consequentemente favorece a fluidez das interações entre pessoas, empresas, 
tecnologias, instituições, etc., gerando oportunidades para todos os participantes. 
Com a globalização, as empresas tornam-se inovadoras, competitivas e 
podem abrir filiais em qualquer lugar do mundo. A tecnologia auxilia os indivíduos 
a conectarem-se com facilidade, aproxima-os, ainda que estejam separados por 
distâncias consideráveis. As instituições nacionais também se desenvolvem e 
aprendem no diálogo e interação com outras instituições estrangeiras. 
 
 
 
11 
4.2 – A tese de que o mundo é plano 
Nessas interações, o Estado Nacional pode sair fortalecido. A economia 
nacional cresce; seus mercados tornam-se atraentes para investidores 
estrangeiros. Há também a transferência e difusão de tecnologia; plantas 
industriais são instaladas em seus territórios, e as exportações podem contribuir 
significativamente para o upgrading industrial, crescimento econômico e 
desenvolvimento regional. 
Trata-se de um mundo onde a permeabilidade dos territórios, associada ao 
interesse e atuação de grandes capitais e empresas multinacionais, deixa o 
mundo ou o espaço geográfico cada vez mais dinâmico, propenso à inovação, 
fluído (Figura 4). Argumenta-se, nesse contexto, que “o mundo é plano” 
(Friedman, 2005). 
Segundo essa tese, as interações no espaço geográfico não encontram 
barreiras, limites ou fronteiras, e as relações entre lugares, pessoas, empresas, 
etc. ocorrem de maneira fluída no espaço geográfico. Os lugares supostamente 
tornam-se cada vez mais homogêneos, com características, elementos e 
estruturas semelhantes. Alguns diriam até que os costumes, hábitos e mesmo 
culturas constroem identidades que podem ser encontradas em qualquer outro 
lugar do mundo. 
TEMA 5 – AS RUGOSIDADES DO ESPAÇO GEOGRÁFICO NO PROCESSO DE 
GLOBALIZAÇÃO 
5.1 O mundo não é tão plano assim! 
Paradoxalmente, outras teses irão defender a hipótese de que essa fluidez 
das relações não perpassa os territórios da mesma forma. Alguns territórios 
absorvem bem as mudanças ocasionadas pelo processo de globalização e as 
incorporam em suas estruturas regulatórias. 
Outros territórios, porém, podem resistir às mudanças causadas pelo 
processo de globalização e manifestar posições contrárias envolvendo 
determinadas questões de interesse nacional, local ou regional. Em suma, 
pessoas, empresas, tecnologias, instituições de todo o mundo se deparam com 
particularidades e diferenças que são encontradas nas leis, normas, costumes de 
outros países, lugares e culturas. 
 
 
12 
Sem dúvida, esses lugares, regiões e territórios possuem identidade, 
memória, história e territorialidades distintas. Ou seja, o mundo não é tão plano 
quanto se acreditava ser, pois a fluidez torna-se relativa na medida em que 
encontra obstáculos ou “rugosidades” no espaço geográfico (Santos, 1986). 
5.2 A tese de que o espaço apresenta rugosidades 
As rugosidades indicam que os lugares têm formas, estruturas, 
particularidades que são herdadas do passado e exercem influência no processo 
de transformação das paisagens contemporâneas. Como diria Santos (1986, 
p.137), 
o espaço é matéria trabalhada por excelência. Nenhum dos objetos 
sociais tem tanto domínio sobre o homem, nem está presente de tal 
forma no cotidiano dos indivíduos. A casa, o lugar de trabalho, os pontos 
de encontro, os caminhos que unem entre si estes pontos, são 
elementos passivos que condicionam a atividade dos homens e 
comandam sua prática social. 
O espaço é, portanto, um testemunho, “ele testemunha um momento de 
um modo de produção pela memória do espaço construído, das coisas fixadas na 
paisagem criada” (Santos, 1986, p.138). Ou seja, o espaço revela a história das 
localidades, registra em determinado momento as formas e estruturas das 
cidades, marca a passagem oupermanência de determinado modo de produção 
em um lugar. 
O espaço é a prova cabal daquilo que foi e daquilo poderá ser a partir 
daquele momento em diante, considerando a estrutura preexistente. A inovação, 
os processos inovadores, as mudanças etc. não são simplesmente 
implementadas no espaço sem que se considerem as formas ou estruturas 
presentes no espaço. 
Conforme afirma Santos (1986, p.138), “o espaço é uma forma, uma forma 
durável, que não se desfaz paralelamente à mudança de processos; ao contrário, 
alguns processos se adaptam às formas preexistentes enquanto que outros criam 
novas formas para se inserir dentro delas”. 
Os modos de produção, segundo o autor, definem essas formas e 
estruturas no espaço, de acordo com os meios de produção empregados. A 
longevidade desses meios de produção é variável e só pode ser conhecida 
posteriormente. Alguns meios de produção permanecem por muitos anos 
 
 
13 
compondo as estruturas e formas, e podem permanecer compondo a paisagem 
passando por diferentes modos de produção ao longo dos séculos. 
Nesse contexto, o autor cita como exemplos as construções europeias 
volumosas ou não, da época da idade Média, tais como castelos catedrais, 
estradas, etc. Na Figura 4 há o exemplo da Ponte de Londres (London Bridge), 
que, acredita-se, foi construída em madeira durante o período de conquista e 
domínio dos romanos, depois fora destruída e reconstruída em pedra na Idade 
Média, e novamente destruída e reconstruída posteriormente com arcos de ferro, 
e mais uma vez destruída e reconstruída com aço e concreto estrutural, tendo sido 
reinaugurada pela Rainha Elizabeth II, em 1973. 
Figura 4 – Ponte de Londres no Rio Tâmisa, com a torre de Londres e o Gherkin 
 
Fonte: Dmitry Naumov/Shutterstock. 
No Brasil, há diversos exemplos de construções que marcam o processo 
de produção do espaço ao longo de um ou mais modos de produção. Tais 
construções estão presentes, por exemplo, na Bahia, no Rio de Janeiro e também 
em outras cidades que também fizeram parte do período colonial e passaram por 
diversos ciclos econômicos. Curitiba é uma dessas cidades (Figura 5). 
Desde o ouro em Paranaguá, passando pelo tropeirismo, a erva-mate, a 
madeira, o café, a soja, e mais recentemente o processo de industrialização, com 
a entrada de multinacionais no território paranaense, Curitiba foi dotada de 
diversos meios de produção. Por diversas regiões de Curitiba, sobretudo no 
Centro e no bairro Rebouças, ainda é possível observar resquícios de estruturas 
e formas do passado ainda presentes na paisagem da cidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
Figura 5 – Centro histórico de Curitiba 
 
Fonte: Tupungato/Shutterstock. 
Saiba mais 
Para iniciar suas pesquisas sobre os ciclos econômicos no Brasil, assista a 
um breve vídeo que mostra os diversos processos pelos quais o Paraná e, em 
particular, Curitiba, passou até chegar ao processo de industrialização recente. 
MEMÓRIA paranaense na Band – Ciclos econômicos no Paraná n. 1. Disponível 
em: <https://www.youtube.com/watch?v=Ae43NGcwU1U>. Acesso em: 6 out. 
2018. 
 A rugosidade é constituída pela organização (determinação) espacial que 
herdamos de tempos passados. Para Santos (1986, p. 139), 
quando um novo momento, momento do modo de produção, chega para 
substituir o que termina, ele encontra no mesmo lugar de sua 
determinação formas preexistentes às quais ele deve adaptar-se para 
poder determinar-se. [...] Os objetos geográficos aparecem em 
localizações, correspondendo aos objetivos da produção em um dado 
momento e, em seguida, por sua presença, eles influenciam os 
momentos subsequentes da produção. 
Essa organização do espaço é uma herança que nos é transmitida, herança 
essa que nos é revelada não apenas pela base geográfica sobre a qual as 
relações econômicas ocorreram, e pelos vestígios que acabaram deixando na 
paisagem, mas também pelas formas e estruturas que no presente e no futuro 
fornecerão as bases para se pensar e construir uma nova organização do espaço 
geográfico. 
 
 
 
 
15 
REFERÊNCIAS 
ALVES, A. R. Geografia econômica e geografia política. Curitiba: InterSaberes, 
2015. 
AOYAMA, Y.; MURPHY, J.; HANSON, S. Key concepts in economic 
geography. London: Sage, 2011. 
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2012. 
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Guilford Press, 1998. 
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of the Institute of British Geographers, v. 29, p. 5-26, 2004. 
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Economic Geography. 3. ed. New York: Harper and Row, 1990. 
FEENSTRA, R. C. Integration of trade and disintegration of production in the global 
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FRIEDMAN, T. L. O mundo é plano: uma breve história do século XXI. Rio de 
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GLASMEIER, A.; CONROY, M. Making global rules: globalization or 
neoliberalization? In: PECK, J.; YEUNG, H. W-C (Eds.). Remaking the global 
economy: economic geographical perspectives. London: Sage, 2003, p. 182-196. 
JOHNSTON, R. J. et al. The dictionary of human geography. 4. ed. Oxford: 
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KAPLINSKY, R. Globalisation, industrialisation and sustainable growth: the pursuit 
of the nth rent, IDS Discussion paper 365, Brighton: Institute of Development 
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_____. Globalization, poverty and inequality: between a rock and a hard place. 
Cambridge: Polity Press, 2005. 
SANTOS, M. Por uma geografia nova. 3. ed. São Paulo: Hucitec, 1986. 
_____. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência 
universal. 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 2000. 
AULA 3 
GLOBALIZAÇÃO, INDÚSTRIA E 
DESENVOLVIMENTO 
SUSTENTÁVEL 
Prof. Alceli Ribeiro Alves 
 
 
2 
CONTEXTUALIZANDO 
Existem maneiras distintas para compreender o processo de globalização. 
Muitas delas se baseiam nas dimensões pelas quais esse processo se apresenta 
e pode ser analisado segundo a realidade vivida pelas pessoas, empresas, 
governos e instituições. Cada um desses agentes pode ter uma percepção distinta 
acerca de qual ou quais dimensões deve priorizar em suas análises, estratégias 
e ações. 
A seguir, vamos considerar algumas dessas dimensões que podem ser 
utilizadas para a análise do processo de Globalização, e discutir esse fenômeno 
considerando diferentes perspectivas, tais como: a Globalização como um 
processo de encolhimento do globo, como um processo de compressão espaço-
tempo e como uma síndrome de processos materiais e resultados. 
TEMA 1 — DIMENSÕES DA GLOBALIZAÇÃO 
1.1 Dimensão cultural 
A dimensão cultural da Globalização relaciona-se à dimensão econômica, 
uma vez que a cultura local desempenha papel importante em muitos negócios 
internacionais. Por essa razão, as empresas multinacionais precisam se adequar 
aos gostos e às demandas que fazem parte da cultura de diferentes países. 
O comportamento e a filosofia das empresas, os hábitos de consumo dos 
indivíduos, a adequação do produto para mercados e demandas específicas são 
fatores que também precisam ser levados em consideração quando empresas e 
países pretendem atuar em mercados internacionais. 
Vamos pegar como exemplo a atuação da famosa cadeia de restaurantes 
fast food McDonald’s. O McDonald’s adapta o cardápio de suas franquias segundo 
os costumes, os hábitos alimentares e a cultura dos lugares em que atua. No 
Brasil, onde se consome muita carne bovina, a rede tem em seu cardápio 
hambúrgueres com carne bovina e bacon. Já no McDonald’s Índia são comuns os 
hambúrgueres de ovo, carne de frango e com mais produtos de origem vegetal, 
haja vista que nesse país o gado é um animal sagrado e cultuado na religião 
hinduísta. 
 
 
 
3 
1.2 Dimensão social 
Pouco debatida, mas igualmenteimportante, é a dimensão social da 
Globalização. Milton Santos é um dos maiores nomes na Geografia brasileira que 
se preocupou em apresentar e discutir as contradições do capitalismo em tempos 
de Globalização. 
Na perspectiva deste e de outros autores que trabalham no paradigma 
marxista, os benefícios da Globalização não se difundem igualmente pelos 
territórios e regiões espalhadas pelo mundo. A difusão de tecnologias e a 
disponibilidade de produtos modernos e atraentes sempre tem origem em centros 
importantes da economia mundial, e somente após determinado período é que 
tais tecnologias e produtos chegam às periferias. 
Por isso, em países em desenvolvimento é comum encontrar na paisagem 
de pequenas, médias e grandes cidades a presença de elementos característicos 
da era contemporânea, mas também de outras eras, outros momentos na 
evolução da história do capitalismo, outras tecnologias. É o jogo dos contrários 
que se apresenta; as contradições são reveladas, o velho e o novo coexistem em 
determinados países e lugares, pobreza e riqueza se misturam na paisagem. 
Nessa perspectiva, nem todos ganham com a Globalização. A 
desigualdade se acentua em algumas regiões, a fome não desparece do mapa do 
mundo, e o desemprego aflige comunidades e lugares que estão na periferia dos 
processos globalizadores (Santos, 2000). Como exemplo, podemos facilmente 
encontrar nas regiões centrais das grandes capitais brasileiras representantes da 
riqueza e da pobreza, do luxo e abundância em contraste com a escassez, a fome 
e a miséria. 
Os bancos e o capital financeiro estão por toda a parte ofertando produtos 
e serviços para quem pode adquiri-los. Paradoxalmente, muitos não podem 
consumir tais produtos e têm sua participação limitada no processo de 
Globalização. A pobreza e a miséria também fazem parte da paisagem que é 
composta por centros financeiros, por edifícios luxuosos de bancos etc. Muitas 
vezes, esses edifícios não servem apenas para concentrar atividades financeiras 
e produtos (como poderíamos imaginar), eles servem também como abrigo para 
pessoas que ficam pedindo esmolas ou utilizam suas estruturas ou marquises 
para poder passar a noite. 
 
 
 
4 
1.3 Dimensão ambiental 
A dimensão ambiental da Globalização pode se confundir com uma 
consciência ambiental global. Hoje, qualquer ação ou tomada de decisão 
realizada por um país ou uma empresa, quando o tema envolve questões ou 
problemas ambientais, pode gerar implicações não apenas no contexto local ou 
nacional, mas também global. 
Por exemplo, em 1º de junho de 2017, um anúncio feito pelo então 
presidente dos Estados Unidos Donald Trump repercutiu mal entre os países 
signatários do Acordo de Paris, tratado no âmbito do United Nations Framework 
Convention on Climate Change (UNFCCC). 
No referido acordo, iniciado em 2015, cerca de 190 países aprovaram 
reduzir emissões de gases de efeito estufa (GEE), minimizar o aquecimento global 
e apoiar países em desenvolvimento a fazerem o mesmo dentro de suas 
possibilidades, no contexto do desenvolvimento sustentável. 
A campanha de Trump para as eleições presidenciais nos EUA também 
teve início em 2015 e, desde aquela ocasião, Trump já prometia a seus potenciais 
eleitores que iria rever os termos do acordo ou mesmo retirar o país desse 
compromisso junto às Nações Unidas. A decisão gerou manifestações em todo o 
mundo, sobretudo por parte de ambientalistas, como vemos na figura 1. 
Assim, em 2017, Donald Trump anunciou que os Estados Unidos iriam se 
retirar do Acordo de Paris. Dentre as alegações do presidente para tomar tal 
decisão estava a justificativa de que o acordo seria prejudicial para a economia 
americana, para a geração de empregos no país e para o desempenho das 
indústrias nacionais, sobretudo aquelas que estão direta ou indiretamente 
vinculadas à indústria do carvão. 
 
 
 
5 
Figura 1 — Democratas e ativistas ambientais israelenses protestam contra 
Trump na frente da embaixada dos EUA em Tel Aviv, Israel, maio 2017 
 
Fonte: AVIVI AHARON/SHUTTERSTOCK 
Como se sabe, o carvão foi uma das principais fontes de energia utilizadas 
desde as primeiras revoluções industriais, e os Estados Unidos ainda fazem uso 
desse tipo de recurso, contando com o lobby das empresas ligadas ao setor 
carbonífero. E essa decisão, em certo grau, vai de encontro às políticas atuais de 
desenvolvimento sustentável. 
A busca por fontes limpas de energia, tais como a energia eólica e a solar 
(fotovoltaica); a manufatura sustentável, com o uso de materiais recicláveis e 
reutilizáveis; e a consciência da necessidade de as economias se basearem cada 
vez mais em baixos índices de carbono, poluição e destruição da natureza 
revelam que a decisão adotada por Trump foi na contramão das iniciativas 
realizadas por parcelas importantes da sociedade organizada e das estratégias e 
ações que estão sendo conduzidas por alguns países e empresas em todo o 
mundo em prol do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável. 
Basta consultarmos as estratégias e ações desenvolvidas no âmbito das 
Nações Unidas que logo percebemos que tais decisões não são consideradas de 
maneira isolada e localizada, pois fazem parte de um amplo contexto, o contexto 
global. A propósito, a dimensão ambiental também está presente em diversos 
objetivos estabelecidos na Agenda 2030, que trata do desenvolvimento 
sustentável. 
 
 
 
6 
Saiba mais 
Para conhecer mais sobre o Acordo de Paris, acesse as páginas oficiais 
das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas e do Ministério do Meio Ambiente 
do Brasil, disponíveis, respectivamente, em: 
• <https://unfccc.int/process-and-meetings/the-paris-agreement/what-is-the-
paris-agreement>; 
• <http://www.mma.gov.br/clima/convencao-das-nacoes-unidas/acordo-de-
paris>. 
1.4. A dimensão jurídico-política e o território no processo de Globalização 
Por último, outra questão que consideramos importante trata do papel do 
território no processo de Globalização. O conceito de território nos permite 
analisar a Globalização considerando outra dimensão importante, a político-
jurídica, que envolve os territórios, os Estados-Nações, as instituições etc. 
A dimensão jurídico-política coloca o território como um ente capaz de 
regular ou flexibilizar a difusão dos processos globalizadores em diferentes 
lugares. Considerando três vertentes distintas, Haesbaert e Limonad (2007) nos 
apresentam o território como um conceito importante para entendermos a 
Globalização e sua difusão no espaço geográfico, como vemos no quadro 1. 
 
 
 
7 
Quadro 1 — Abordagens conceituais de território em três vertentes básicas 
 
Fonte: Haesbaert; Limonad, 2007. 
Agora que já conseguimos estabelecer uma visão geral acerca da 
influência que os paradigmas exercem na ciência e identificamos algumas das 
principais dimensões analisadas no âmbito da globalização, vamos buscar 
compreender outras concepções e perspectivas acerca da Globalização. Além 
daquelas perspectivas que já estudamos, podemos mencionar outras que nos 
ajudam a compreender o que é a Globalização, quais são seus elementos 
estruturantes e que resultados esse processo gera em diferentes escalas e 
contextos. Antes disso, porém, vamos analisar outra dimensão da Globalização 
que não foi considerada até então, a dimensão econômica. 
TEMA 2 — DIMENSÃO ECONÔMICA DA GLOBALIZAÇÃO 
2.1 Globalização que integra as diferentes partes de um sistema de 
produção 
A dimensão econômica tende a ser a mais privilegiada em estudos que 
tratam do processo de Globalização, por isso vamos tratar desse tema de maneira 
 
 
8 
separada. Por meio dessa dimensão é possível considerar a análise da produção, 
da distribuição, da comercialização e do consumo de mercadorias realizados em 
escala global. Logicamente, outros nós das redes de produção, como o design, o 
descarte final de resíduos e a reciclagem, também fazemparte dessa dinâmica, 
mas tendem a se concentrar geograficamente em certas localidades. 
O design, por exemplo, não necessariamente é realizado na mesma 
localidade onde ocorre a produção. Tal atividade pode se limitar a localidades 
específicas e estratégicas, comumente situada onde se encontram as sedes das 
empresas. O descarte final de resíduos e a reciclagem estão fortemente 
relacionados aos locais de consumo, mas isso não significa que esses nós das 
redes de produção são menos importantes. 
Qualquer ação realizada nesse nó pode gerar implicações tanto na escala 
local como em contextos socioespaciais e econômicos mais amplos. Todas essas 
questões podem ser abordadas por meio das perspectivas da Supply Chains, 
Value Chains e Networks. 
2.2 Globalização que envolve a fragmentação da produção e a integração 
dos países por meio do comércio internacional 
A dimensão econômica da Globalização pode ser percebida também pela 
inserção de empresas e indústrias na economia mundial, em atividades que 
envolvem a produção ou comercialização de mercadorias em escala global. A 
Globalização da produção corresponde à fragmentação da produção, processo 
que cria oportunidades para que países possam se inserir no processo com a 
função de produzir mercadorias. 
Nesse contexto, a produção realizada pode atender a demanda local ou 
nacional, mas também é capaz de atender a demanda de países estrangeiros. 
Para que isso aconteça, o comércio internacional deve auxiliar países e indústrias 
no processo de integração entre pontos de produção e mercados consumidores. 
Essa é a perspectiva considerada por Feenstra (1998) na publicação que trata da 
desintegração da produção e da integração de países por meio do comércio 
internacional, como veremos na Figura 2. 
Para Alves (2015), a ideia de desintegração da produção se refere à divisão 
da produção entre diferentes países, indústrias e regiões ao redor do mundo; 
enquanto isso, a integração de vários países por meio do comércio internacional 
 
 
9 
é uma consequência da primeira mudança e envolve a conexão das diferentes 
unidades produtivas, por meio dos mercados de importação e exportação. 
Figura 2 — Fragmentação da produção e integração de países e indústrias por 
meio do comércio internacional 
 
Fonte: GOLDEN SIKORKA/SHUTTERSTOCK 
TEMA 3 — GLOBALIZAÇÃO COMO UM PROCESSO DE ENCOLHIMENTO DO 
GLOBO 
Compressão espaço-tempo é um conceito discutido por diversos autores 
para tratar do impacto do desenvolvimento das tecnologias em nosso cotidiano. 
No contexto da Globalização econômica e das mudanças globais, a compressão 
espaço-tempo é caracterizada pelo desenvolvimento das tecnologias que 
exercem influência na produção internacional, nos sistemas de transporte e de 
comunicação, e que superam as fricções do espaço e do tempo. 
Em seu livro intitulado Global Shift, Peter Dicken, geógrafo economista 
britânico, considera que as tecnologias de transporte e de comunicação 
desempenham dois papéis distintos, porém complementares e intimamente 
relacionados. Para Dicken (1998), 
os sistemas de transporte são os meios pelos quais materiais, produtos 
e outras entidades tangíveis (inclusive pessoas) são transferidos de um 
lugar para outro. Já os sistemas de comunicação são os meios pelos 
quais a informação é transmitida de um lugar para outro na forma de 
ideias, instruções, imagens e assim por diante. 
 
 
10 
Ainda de acordo com o autor, antes da invenção da eletricidade, a 
informação poderia se mover apenas na mesma velocidade e sobre a mesma 
distância, permitidas pelos sistemas de transporte. O surgimento da eletricidade 
muda essa realidade, e os dois sistemas inevitavelmente precisam ser tratados 
de maneira distinta, porém relacionada. 
Para ele, “o desenvolvimento em ambos os sistemas transformou nosso 
mundo, permitindo uma mobilidade de materiais e produtos sem precedentes, 
bem como a globalização dos mercados” (Dicken, 1998). Para ilustrar essas 
transformações, Dicken elabora uma imagem (figura 3) que demonstra o efeito 
das mudanças nas tecnologias de transporte na distância real, fenômeno que 
ficou conhecido como o encolhimento ou a compressão do globo. 
Figura 3 — Encolhimento global: o efeito das mudanças nas tecnologias de 
transporte na distância real 
 
 
 
11 
A figura desenvolvida por Dicken é baseada no livro de John McHale, O 
futuro do futuro, publicado em 1969. É interessante notar que McHale é um autor 
que defende em seu livro a ideia de que a essência de se tentar entender o que 
será de nós e das coisas no futuro não deve se basear em técnicas de 
previsibilidade, mas sim de planejamento no longo prazo. 
O futuro irá corresponder, de fato, às escolhas que são feitas agora no 
presente. Em outras palavras, a preocupação primordial de McHale é convencer 
seus leitores de que as sociedades não podem mais se dar ao luxo de não 
perceber o fato de que o futuro é um produto direto do presente. 
TEMA 4 — GLOBALIZAÇÃO COMO UM PROCESSO DE COMPRESSÃO 
ESPAÇO-TEMPO 
No livro A condição pós-moderna, David Harvey, outro geógrafo britânico, 
também discute a ideia de encolhimento do mundo por meio do desenvolvimento 
das tecnologias de comunicação e transportes. Nessa obra, porém, Harvey utiliza 
o conceito de compressão espaço-tempo ou compressão tempo-espaço. 
Harvey (1990) se refere a esse conceito afirmando que 
eu pretendo sinalizar por esse termo processos que revolucionam as 
qualidades objetivas do espaço e do tempo que somos forçados a 
alterar, às vezes de maneira radical, como representamos o mundo para 
nós mesmos. Eu uso a palavra compressão porque um argumento forte 
pode ser feito de que a história do capitalismo tem sido caracterizada 
pela aceleração no ritmo da vida enquanto supera as barreiras espaciais 
que o mundo às vezes parece colapsar para dentro de nós. 
Apesar de não fazer referência ao trabalho de McHale, Harvey trata do 
mesmo argumento discutido por ele e também por Dicken (1998, 2011), qual seja, 
o do impacto gerado em nossas vidas, nas atividades realizadas por instituições, 
empresas, governos, entre outros, pelo desenvolvimento das tecnologias de 
comunicação e transportes. Nas palavras do próprio autor, “o tempo gasto para 
atravessar o espaço e a forma como comumente representamos esse fato para 
nós mesmos são indicadores úteis do tipo de fenômeno que tenho em mente” 
(Harvey, 1990). 
Observe que a Figura 4, apresentada na obra de Harvey (1990), é 
praticamente a mesma da obra de Dicken (2011). Numa versão mais relacionada 
à evolução nas tecnologias de comunicação, Harvey faz referência a uma das 
 
 
12 
maiores empresas de telefonia do mundo, a Alcatel (figura 5), dando a ideia de 
que hoje o mundo se tornou pequeno e pode caber na palma da mão. 
Figura 4 — O encolhimento do mapa do mundo por meio de inovações nos 
transportes que aniquilam o espaço ao longo do tempo 
 
Crédito: VECTORLIGHT/SHUTTERSTOCK 
 
 
 
 
13 
Figura 5 — Um anúncio de 1987 da Alcatel enfatiza uma imagem popular do globo 
encolhendo 
 
Fonte: Harvey,1992. 
 
TEMA 5 — GLOBALIZAÇÃO COMO SÍNDROME DE PROCESSOS MATERIAIS E 
RESULTADOS 
A Globalização como uma síndrome de processos materiais e resultados é 
uma perspectiva defendida por Dicken (2004). A abordagem adotada por esse 
autor está situada no contexto e na dimensão da Globalização econômica. Para o 
citado autor, 
A globalização, de fato, é uma síndrome de processos materiais e 
resultados que se manifesta de maneira muito desigual no tempo e no 
espaço. Não é nem um estado final inevitável, onipresente e 
homogeneizador, nem é unidirecional e irreversível. Certamente não é 
determinista [...] Grande parte da literatura sobre globalização, em geral, 
trabalha no pressuposto implícito de que o "Global" determina o "local". 
Felizmente, a concepção de escala do geógrafo é consideravelmente 
mais sofisticada do que isso, mesmo queos debates sobre o significado 
de escala tenham por vezes tendido para o arcano e o esotérico. 
 
 
14 
Segundo essa perspectiva, a Globalização pode ser entendida como um 
alongamento e aprofundamento das relações sociais e institucionais através do 
tempo e do espaço. Além disso, o autor esclarece que os processos de 
Globalização oriundos ou intensificados por meio da evolução nas tecnologias que 
favorecem a compressão do tempo-espaço, nos forçam a repensar o que se 
entende por espacialidade e escala geográfica. Para ele, duas perspectivas 
tornaram-se especialmente relevantes nos debates entre os geógrafos, ambas 
perspectivas baseadas na suposição de que as escalas geográficas são 
socialmente construídas. 
Uma perspectiva entende a Globalização como sendo um processo que 
envolve uma crescente multiplicação de escalas (ex.: local, regional, 
macrorregional, global), que se sobrepõem de maneiras cada vez mais 
complexas. Globalização, nesse sentido, não se trata de uma escala (ex.: o global) 
se tornando mais importante que outras, mas, sim, de mudanças nas relações 
entre diferentes escalas geográficas. Essa corresponde a uma visão territorial de 
escala geográfica. 
Alternativamente, outra perspectiva vê a escala geográfica em termos 
topológicos e relacionais, em vez de termos territoriais. Aqui, não se ignora a ideia 
de que as rugosidades existem nos territórios. Tampouco se admite que o Estado-
Nação perdeu sua soberania. Mas admite-se, sim, que as fronteiras e os limites 
territoriais são relativamente mais permeáveis, permitindo que haja fluidez das 
relações no espaço geográfico. Daí o porquê de as relações terem papel de maior 
destaque, em vez de rígidas estruturas regulatórias e territórios absolutamente 
impermeáveis. 
É com base nesse contexto que Dicken (2004) considera que nós temos 
uma situação muito complexa, “em que redes topologicamente definidas (por 
exemplo, as Corporações Transnacionais) tanto interrompem, como são 
interrompidos por limites político-territoriais”. Ou seja, as estruturas regulatórias 
dos Estados Nacionais e a jurisdição desses Estados se mantêm, pois “continuam 
sendo fundamentais para a organização e funcionamento da política econômica 
global e suas partes constituintes” (Dicken, 2004). 
 
 
 
 
15 
5.1 Estrutura heurística para análise da globalização econômica-geográfica 
Dicken (2004) procura fornecer, também, uma perspectiva estrutural 
acerca dos processos materiais que envolvem a globalização, bem como dos 
resultados que são produzidos pelas interações entre escalas, agentes, redes etc. 
Nas relações que podem ser observadas, o poder encontra-se distribuído de 
maneira bastante desigual, seja na simples comparação entre as diferentes 
escalas ou quando se considera o poder que se encontra concentrado ou diluído 
entre os diferentes agentes, instituições etc. 
Embora muito útil para se tentar compreender os processos que envolvem 
a Globalização e os resultados que tal processo gera, Dicken admite que é uma 
tarefa quase impossível tentar capturar e representar a multidimensionalidade do 
mundo considerando apenas duas dimensões (figura 6). 
 
 
 
16 
Figura 6 — Estrutura heurística para análise da globalização econômica-
geográfica 
 
 
Fonte: Dicken, 2004. 
 
Apesar das limitações, encontramos em tal estrutura uma forma bastante 
didática para compreendermos a globalização como processo que conecta 
agentes, redes e instituições, e como gerador de resultados que se manifestam 
em diferentes escalas. 
 
 
 
17 
REFERÊNCIAS 
ALVES, A. R. Geografia econômica e geografia política. Curitiba: InterSaberes, 
2015. 
DICKEN, P.; LLOYD, P. E. Location in space: theoretical perspectives in 
Economic Geography. 3. ed. New York: Harper and Row, 1990. 
DICKEN, P. Global Shift: transforming the global economy. 3. ed. New York: 
Guilford Press, 1998. 
_____. Geographers and ‘globalization’: yet another missed boat? Transactions 
of the Institute of British Geographers, 29, p. 5-26, 2004. 
_____. Global Shift: mapping the changing contours of the world economy. 6. ed. 
New York: Guilford Press, 2011. 
FEENSTRA, R. C. Integration of trade and disintegration of production in the global 
economy. Journal of Economic Perspectives, v. 12, n.4, p.31-50, 1998. 
HAESBAERT, R.; LIMONAD, E. O território em tempos de globalização. etc..., 
espaço, tempo e crítica, Revista Eletrônica de Ciências Sociais Aplicadas e 
outras coisas, v. 1, n. 2(4), 2007. Disponível em: 
<http://www.unifal-mg.edu.br/geres/files/territorio%20globaliza%C3%A7ao.pdf>. 
Acesso em: 16 set. 2018. 
HARVEY, D. The condition of postmodernity. Oxford: Blackwell, 1990. 
HARVEY, D. Condição pós-moderna. São Paulo: Edições Loyola, 1992. 
McHALE, J. The future of the future. New York: George Braziller, 1969. 
SANTOS, M. Por uma outra Globalização: do pensamento único à consciência 
universal. 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 2000. 
http://www.unifal-mg.edu.br/geres/files/territorio%20globaliza%C3%A7ao.pdf
AULA 4 
GLOBALIZAÇÃO, INDÚSTRIA E 
DESENVOLVIMENTO 
SUSTENTÁVEL 
Prof. Alceli Ribeiro Alves 
 
 
2 
 
CONTEXTUALIZANDO 
Nesta aula, abordaremos outra perspectiva interessante acerca da 
Globalização, defendida pelo jornalista americano Thomas Friedman. Friedman 
divide a Globalização em três períodos, chamados de Globalização 1.0, 2.0 e 3.0. 
Em seguida, trataremos do conceito de indústria, suas características e as 
principais inovações resultantes das revoluções industriais, desde a primeira 
revolução até as inovações mais recentes. Por último, discutiremos as 
transformações ocasionadas pela quinta revolução industrial e seus impactos no 
mercado de trabalho e na sociedade de modo geral. 
TEMA 1 — GLOBALIZAÇÃO 1.0, 2.0 E 3.0 
1.1 Globalização 1.0 
Para Friedman (2005), a Globalização passou por três grandes períodos. 
O primeiro é bastante longo e se estendeu de 1492 até cerca de 1800. Esse 
período teve início quando o navegador italiano Cristóvão Colombo saiu da 
Espanha com o objetivo de chegar à Índia, partindo de uma hipótese pouco 
provável na sua época, a de que o mundo era redondo, e que se ele navegasse 
para oeste, saindo da Espanha, chegaria ao destino estabelecido em seu objetivo. 
De fato, as viagens desse explorador e navegante italiano permitiram que 
um novo período de expansão, colonização e conquista de territórios ocorresse 
no Novo Mundo. Segundo Friedman (2005), o mundo que parecia grande e 
desconhecido, “reduziu de tamanho, de grande para médio e envolveu países e 
músculos, é o período da Globalização 1.0”. Aqui, o autor admite que questões 
importantes foram levantadas no contexto da Globalização 1.0, sobretudo no 
âmbito do país. 
Saiba mais 
Para conhecer um pouco mais sobre esse primeiro período da Globalização 
e, em particular, sobre a conquista da América e a expansão do Velho para o Novo 
Mundo, assista ao filme 1492: a conquista do paraíso, com o ator francês Gérard 
Depardieu. 
 
 
3 
1.2 Globalização 2.0 
Para Friedman, o período da Globalização 2.0 vai de 1800 ao ano 2000. 
Nesse período, o mundo passa a sofrer outra redução de tamanho, de médio para 
pequeno. Na perspectiva do autor, houve apenas uma breve interrupção nesse 
período, que envolveu a primeira e a segunda guerras mundiais. Se, na 
Globalização 1.0, os países foram os principais agentes de mudança; na 
Globalização 2.0, Friedman defende que foram as empresas multinacionais que 
tiveram esse papel. “As multinacionais se expandiram em busca de mercados e 
mão de obra, movimento encabeçado pelas sociedades por ações inglesas e 
holandesas e a Revolução Industrial” (Friedman, 2005). 
Nesse mesmo contexto e período, o autor trata da ideia de inovação nos 
sistemas de transporte e comunicação, temas amplamente debatidos na 
Geografia Econômica e Industrial e que serão debatidas também nas seções 
seguintes desta aula. Nas palavras de Friedman (2005),

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