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Políticas públicas e legislação educacional Financiamento da educação no Brasil Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Murilo Angeli Dias dos Santos Revisão Textual: Profa. Ms. Selma Aparecida Cesarin 5 Un id ad e Financiamento da educação no Brasil Nesta Unidade, abordaremos o tema Financiamento da Educação no Brasil. Trataremos dos artigos da Lei da Constituição Federal e das Diretrizes e Bases da Educação, que tratam das responsabilidades dos entes federativos e mecanismos de financiamento da educação brasileira. O objetivo é analisar os mecanismos de financiamento educacional voltados para o cumprimento dos preceitos de democratização da educação. Serão detalhadas as responsabilidades dos entes federativos e seus sistemas de ensino na educação brasileira. Também serão vistos os percentuais mínimos por lei de gastos na educação, os impostos que incidem estes percentuais mínimos e, fundamentalmente, o principal mecanismo de redistribuição de recursos para a educação, o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – FUNDEB. Não se esqueça de acessar o link dos materiais complementares, no qual encontrará o conteúdo e as atividades propostas para esta Unidade. Nesta Unidade, discutiremos os mecanismos de financiamento educacional voltados para o cumprimento dos preceitos de democratização da educação. A Constituição Federal tratou dos percentuais mínimos de gastos dos entes federativos em educação, detalhando o que são gastos com educação e o que não são e as responsabilidades de municípios, estados, Distrito Federal e união em seus respectivos sistemas de ensino. Em 2006, também foi criado o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – Fundeb, principal mecanismo contábil de financiamento da educação brasileira. Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos: • Material Teórico de Autoria • Organização da educação • Sistema de ensino • Financiamento da educação • FUNDEB • Fechamento Fonte: T hinkstock/G etty Im ages 6 Unidade: Financiamento da educação no Brasil Para iniciarmos esta Unidade, convido você a refletir acerca do Financiamento da Educação Brasileira. Leia o artigo a seguir que trata do aumento de recursos para a educação: Especialistas pedem mais dinheiro para educação com melhor gestão dos recursos Da Agência Senado Além de elevar o volume de recursos destinados à educação, é igualmente importante melhorar a gestão desses recursos. Essa foi uma das conclusões dos especialistas convidados para a audiência pública promovida pela comissão temporária criada para propor soluções ao financiamento da educação no Brasil. Priorizar agenda de formação e carreira do professor e envolver os pais no processo educacional foram algumas das outras sugestões dos participantes. Antônio Jacinto Matias, vice-presidente da Fundação Itaú Social, relaciona os bons resultados das notas escolares com a melhoria de renda do aluno no futuro e a redução das desigualdades. Ele defendeu mais articulação entre as secretarias municipais e estaduais de educação com o governo federal e setores da sociedade para a elaboração de políticas para a área. Uma das propostas é aumentar o investimento na educação integral. – Nós precisamos ampliar tempos, espaços e conteúdos de aprendizagem dentro e fora da escola, porque são fatores fundamentais na oferta de uma educação de qualidade com equidade – disse. Financiamento Na contabilidade dos recursos disponíveis em longo prazo para a educação, o especialista em finanças públicas, Raul Velloso, apontou os gastos com funcionalismo, previdência e assistência social, que consomem boa parte do orçamento no país. Com a carga tributária que também sufoca a economia, o especialista fala em insustentabilidade das contas públicas e prevê muita dificuldade para se investir mais em educação se não houver grandes reformas. Nelson Cardoso do Amaral, representante da Associação Nacional de Pesquisa em Financiamento da Educação (Fineduca), também considera a dinâmica populacional, a distribuição de renda e o crescimento econômico como essenciais no volume de recursos aplicados na área com possibilidade de introduzir o “capital cultural”, que beneficia também a família dos alunos. – É necessário que seja dado esse salto financeiro para que a gente possa exigir da educação brasileira uma competitividade – disse. Contextualização 7 Marta Teresa da Silva Arretche, professora da Faculdade de Ciência Política da USP, lembrou que a geração de novas fontes de recursos com tributação, caso de impostos e taxações como a CPMF, requer antes aumento na credibilidade da educação pública. A professora citou como exemplo a melhoria gradual no desempenho dos alunos da rede municipal de ensino, que concentra o maior número de estudantes de baixa renda. – Para além da questão do financiamento, que é importante e estratégica, é necessário entendermos melhor quais são os mecanismos que estão produzindo o fracasso ou o bom resultado escolar – afirmou. • Fonte: <http://noticias.r7.com/educacao/noticias/especialistas-pedem-mais-dinheiro- para-educacao-com-melhor-gestao-dos-recursos-20140424.html>. O artigo acima trata do tema “mais dinheiro para educação com melhor gestão dos recursos”. O aumento de recursos na educação é garantia de melhor qualidade no ensino? Justifique sua resposta. 8 Unidade: Financiamento da educação no Brasil Material Teórico de Autoria Nesta Unidade, trataremos do tema financiamento da educação. Iniciaremos com as responsabilidades dos entes federativos e a constituição dos sistemas de ensino e suas obrigações por lei. Em seguida, trataremos dos recursos previstos na Constituição e na LDB, os percentuais mínimos de recursos para a educação e o que deve ser investido por municípios, estados, Distrito Federal e União. Também apresentaremos o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – FUNDEB, que tem por objetivo realizar a redistribuição dos recursos provenientes de impostos e contribuições para a educação, visando a garantir padrão de qualidade na educação básica. É unânime para todos os setores da sociedade brasileira a necessidade urgente de melhorar os padrões de qualidade do ensino brasileiro por meio do aumento dos recursos financeiros para a educação e, principalmente, uma melhor gestão dos recursos humanos e financeiros, buscando eficiência e eficácia dos sistemas de ensino. Organização da educação A educação brasileira é organizada em sistemas de ensino mantidos pela União, estados, Distrito Federal e municípios. Esta organização da educação brasileira apresenta a responsabilidade de cada ente federativo para com a educação. Segundo o Art. 211 da Constituição Federal (CF), a União (governo federal) deverá organizar seu sistema de ensino, que contará com instituições de ensino públicas federais, tais como Universidades Federais e Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. Também cabe à União a função “redistributiva e supletiva” com os demais sistemas de ensino (municipal, estadual e do Distrito Federal), buscando garantir “padrão mínimo de qualidade” na educação. Esta ação pode ocorrer por meio de assistência técnica e apoio com recursos tecnológicos e humanos em projetos de cada sistema de ensino, como formação continuada de professores, ou mesmo recursos financeiros, para a construção de escolas ou centros de formação de professores, entre outras ações. A União também tem obrigações legais quanto aos demais sistemas de ensino para garantir a democratização das oportunidades educacionais previstas pela própria CF. Ficam sob as responsabilidades dos municípiosos níveis educacionais da educação infantil (creches e pré-escolas) até o ensino fundamental. Já os Estados e o Distrito Federal são responsáveis também pelo ensino fundamental e exclusivamente pelo ensino médio. Destaque- se a atuação concomitante no ensino fundamental entre estados e municípios, podendo ocorrer, 9 em alguns casos, o não compromisso na garantia da qualidade neste nível de ensino, tendo em vista que é de responsabilidade tanto de um sistema como de outro. Por exemplo, quem deverá ser cobrado ou responsabilizado por falta de vaga no ensino fundamental, o estado, o município, ou ambos? No entanto, a própria CF prevê que União, estados, Distrito Federal e municípios deverão ter estratégias de colaboração entre os sistemas com o propósito de garantir o ensino obrigatório por lei (da pré-escola até o ensino médio). A LDB também detalha a organização da educação nacional em seus artigos 8º a 13, apresentando os papéis da União, estados, Distrito Federal e municípios. É responsabilidade da União coordenar a política nacional de educação, por meio de leis, normas, formulações, implementações e avaliações de ações e políticas públicas educacionais, respeitando e articulando com os demais níveis e sistemas de ensino. Ou seja, cabe ao governo federal emitir leis, normas e pareceres para o funcionamento da educação brasileira, além de apoiar financeira e tecnicamente estados, municípios e o Distrito Federal em seus sistemas de ensino. Os Art. 9º, 10 e 11 da LDB definem as responsabilidades de cada ente federativo: UNIÃO Elaborar Plano Nacional de Educação (PNE). Cuidar das instituições federais de ensino. Apoiar os sistemas de ensino dos estados, Distrito Federal e municípios. Propor diretrizes curriculares para a educação básica (educação infantil, ensino fundamental e médio). Pesquisar e divulgar informações sobre a educação brasileira e no mundo. Realizar avaliações do rendimento escolar da educação básica e superior. Cuidar do ensino superior e das suas IES. Conheça o principal órgão federal de coletar, analisar e disseminar informações sobre a educação, disponível em: <http://www.inep.gov.br/>. Pesquise informações educacionais do seu estado e município no DataEscolaBrasil em: <http://www.dataescolabrasil.inep.gov.br/dataEscolaBrasil/>. 10 Unidade: Financiamento da educação no Brasil Um órgão federal normativo da educação brasileira é o Conselho Nacional de Educação – CNE. Conheça um pouco da atuação do CNE e veja seus últimos decretos em:<http://mecsrv125.mec.gov.br/index.php?option=com_ content&view=article&id=12449&Itemid=754>. Estados e municípios organizados em sistemas de ensino também possuem suas responsabilidades: ESTADOS Cuidar das instituições públicas do seu sistema de ensino. Colaborar na oferta do ensino fundamental, em parceria com os municípios. Elaborar Plano Estadual de Educação. Baixar normas para o seu sistema de ensino. Ofertar o ensino fundamental e, com prioridade, o ensino médio. Ofertar transporte escolar aos alunos da rede estadual de ensino. MUNICÍPIOS Cuidar das instituições públicas do seu sistema de ensino. Elaborar Plano Estadual de Educação. Baixar normas para o seu sistema de ensino. Ofertar prioritariamente educação infantil e ensino fundamental. Ofertar transporte escolar dos alunos da rede municipal de ensino. Cada estado, Distrito Federal e municípios também possuem seus Conselhos de Educação para regulamentar seus sistemas de ensino. Destaca-se que os municípios podem, quando estiverem plenamente atendidos a educação infantil e o ensino fundamental e com % de recursos investidos na educação acima do previsto pela CF, atuar em outros níveis de ensino, como o ensino profissionalizante e o ensino superior. Para alguns especialistas, o investimento municipal em outros níveis de ensino pode acarretar um não compromisso com o que é de sua obrigação constitucional, tirando o foco do seu sistema de ensino. Outros apontam que a atuação em outros níveis possibilita ação direta nas necessidades e anseios que afligem o município, por exemplo, a formação profissional em determinada área para atender as empresas locais e fomentar o desenvolvimento local. Pequenos municípios com poucos recursos financeiros e humanos podem optar por 11 compartilhar suas responsabilidades no sistema de ensino com o governo estadual, compondo um único sistema. Algumas redes têm a experiência de compartilhar a mesma escola física com os dois sistemas, ou seja, o ensino fundamental fica com o município e o ensino médio com o estado, dentro da mesma escola, com equipes diferentes. Para o Distrito Federal serão aplicadas as competências referentes aos estados e municípios, tendo em vista que ele deve ofertar o ensino básico completo, do infantil ao médio. O Art. 12 da LDB estabelece normas comuns aos estabelecimentos de ensino que devem ser de conhecimento de todos os profissionais da educação e comunidade escolar. ESTABELECIMENTOS DE ENSINO Elaborar e divulgar para a comunidade escolar seu projeto pedagógico. Administrar seus recursos humanos, materiais e financeiros. Cumprir os dias letivos e horas aula estabelecidos por lei. Cuidar do plano de trabalho de cada professor. Ofertar recuperação aos alunos com baixo rendimento. Integrar família, comunidade e sociedade com a escola. Informar pais ou responsáveis sobre a frequência e desempenho dos alunos. Notificar o Conselho Tutelar e demais órgãos competentes sobre a frequência esperada dos alunos. Destaca-se a necessidade de a escola elaborar e, principalmente, divulgar para a comunidade escolar, pais, responsáveis, alunos, professores e sociedade civil a sua proposta pedagógica. Esta ação faz parte da autonomia da instituição educacional e democratização da educação. O Art. 13 da LDB estabelece as responsabilidades dos professores, que também devem ser de conhecimento destes profissionais e demais envolvidos na instituição educacional. PROFESSORES Elaborar e/ou conhecer o projeto pedagógico da escola. Cumprir plano de trabalho docente, conforme proposto no projeto pedagógico da escola. Cuidar da aprendizagem dos alunos e organizar estratégias de recuperação para alunos com baixo rendimento. Lecionar nos dias e horas estabelecidos por lei e participar dos períodos para planejamento de aulas, avaliações e formação continuada. Colaborar com a integração da família, da comunidade e da sociedade com a escola. O professor tem a obrigação, por lei, de apoiar a elaboração e conhecer plenamente o projeto pedagógico da escola na qual irá atuar. No entanto, a realidade educacional brasileira, com baixos salários, e a necessidade de o professor atuar em diferentes escolas para aumentar a 12 Unidade: Financiamento da educação no Brasil renda se tornam empecilhos a esta norma. Sistema de ensino Os artigos 14 a 18 da LDB estabelecem normas para os sistemas de ensino de cada ente federativo. É regra comum para todos os sistemas de ensino a promoção da gestão democrática do ensino, buscando maior participação dos docentes, demais profissionais da educação e comunidade, na elaboração do projeto pedagógico da escola e participação em seus conselhos deliberativos e consultivos. Leio o artigo Concepções sobre a democratização na Escola Pública: Um estudo de caso que traz reflexão sobre questões relacionadas à democratização numa Escola Pública Estadual do Paraná, bem como as possibilidades de ampliação da cidadania e da participação da comunidade escolar, disponível em: <http://www. escoladegoverno.pr.gov.br/arquivos/File/artigos/educacao/concepcoes_sobre_ democ_na_esc_publ.pdf>. Os sistemas de ensino federal, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios possuem as seguintes responsabilidades: SISTEMAS DE ENSINO Federal Estadoe do Distrito Federal Municípios Instituições de ensino federais. Instituições de ensino estaduais e do Distrito Federal. Instituições de educação básica wmunicipal. Instituições de ensino superior privadas. Instituições de ensino superior municipais. Instituições de educação infantil privadas. Órgãos federais de educação. Instituições de ensino fundamental e médio privadas. Órgãos municipais de educação. Órgãos estaduais e do Distrito Federal de educação. Destacam-se as responsabilidades dos sistemas de ensino estadual e do Distrito Federal em cuidarem das escolas de ensino fundamental e médio criadas e mantidas pela iniciativa privada. Os municípios são responsáveis pelas escolas de educação infantil da iniciativa privada. O Distrito Federal também cuida das escolas de educação infantil da iniciativa privada. O sistema federal regula a atuação das IES privadas. As IES estaduais são mantidas e organizadas pelos sistemas estaduais de ensino e não pelo sistema federal de ensino. Um exemplo desta autonomia é a não adesão da USP, UNICAMP e UNESP do Estado de São Paulo no sistema de avaliação do ensino superior proposto pelo governo federal. 13 Já as IES públicas municipais são regidas pelos sistemas estaduais de ensino e não pelos sistemas municipais. O Art. 78 da LDB ordena o papel dos sistemas de ensino em relação à oferta de educação escolar às comunidades indígenas, bilíngue e intercultural. Esta ação deve ser em parceria com o órgão federal que atua com esta população, como a FUNAI. São objetivos da educação intercultural para as comunidades indígenas resgatar e valorizar sua história, língua e identidade étnico-cultural, além de possibilitar acesso às informações e conhecimentos da sociedade moderna. Recentemente, as comunidades quilombolas vêm ganhando o mesmo direito de preservar suas tradições culturais. Financiamento da educação O financiamento da educação é tema necessário para a garantia da universalização e qualidade na educação básica obrigatória brasileira e demais níveis de ensino que necessitam ser universalizados, como a educação profissional e o ensino superior. A própria CF estabelece percentuais mínimos de aplicação de recursos em educação: UNIÃO ESTADOS, O DISTRITO FEDERAL E OS MUNICÍPIOS 18% 25% Estados e municípios podem investir maior valor no seu sistema de ensino; para tal, devem aprovar no seu Legislativo o percentual que será investido. Alguns municípios e estados já adotam o percentual de 30% de investimento na educação. O Art. 203 da CF garante que os recursos públicos serão destinados às escolas públicas. No entanto, podem ser dirigidos às escolas sem fins lucrativos que sejam comunitárias, confessionais ou filantrópicas por meio de bolsas para o ensino fundamental e médio para alunos com baixa renda, quando não atendido por falta de vagas na rede pública de ensino. Este tema é bastante polêmico para os estudiosos e pesquisadores que defendem “recursos públicos somente para escolas públicas”, pois consideram que o recurso público não pode ser destinado às instituições privadas, pois foge do controle do Estado e acaba desobrigando os sistemas de ensino na universalização e obrigatoriedade da educação básica, previstos em lei. Também existe a opinião de que a oferta de bolsas possibilita aumento na oferta de vagas para os alunos de baixa renda, permitindo maior atendimento do sistema de ensino. O governo federal utiliza o sistema de bolsas no ensino superior por meio do programa denominado PROUNI, ampliando o atendimento neste nível de ensino. 14 Unidade: Financiamento da educação no Brasil A LDB, em seu Art. 68, descreve a origem dos recursos públicos destinados à educação como provenientes de impostos e transferências, como, por exemplo, os fundos de participação municipais e estaduais, salário educação, contribuições sociais e receita de incentivos fiscais. Conheça os recursos federais que são transferidos para o seu município no Portal da Transparência: • <http://www.portaltransparencia.gov.br/>; • <http://www.portaltransparencia.gov.br/faleConosco/perguntas-tema- despesa-transferencia.asp>. O Art. 70 da LDB detalha as despesas que devem ser consideradas “manutenção e desenvolvimento do ensino”, como o pagamento ao professor e demais profissionais da educação, construção e manutenção de escolas, pesquisas em educação para uso do sistema de ensino, concessão de bolsas de estudos em instituições particulares (conforme lei), material escolar e transporte escolar. O Art. 71 enumera o que não constitui despesa de “manutenção e desenvolvimento do ensino” e fica fora dos percentuais mínimos previstos em lei, tais como pesquisas não vinculadas à rede de ensino, aporte de recursos para instituições não educacionais, programas de saúde e assistencial e obras de infraestrutura no entorno da escola. Importante considerar que programas suplementares de alimentação e assistência à saúde para estudantes deverão ser financiados com recursos provenientes de contribuições sociais e outros recursos orçamentários dos entes federativos. Antes desta definição, alguns municípios e estados incorporavam como despesas de educação recursos das pastas de cultura e esportes e atendimento à saúde do aluno; obras de melhoria da calçada ou da rua em torno da escola também entravam neste computo. A prestação de contas de recursos públicos destinados à educação pelos entes federativos são acompanhadas e monitoradas pelos órgãos fiscalizadores, tais como o Tribunal de Contas da União e Tribunais de Contas estaduais ou municipais e Ministério Público e, em caso de desacordo com a CF, responsabilizados diretamente os gestores públicos. Destaca-se, segundo o Art. 74 da LDB, que os sistemas de ensino estabelecerão o custo-aluno para garantir ensino de qualidade. O custo mínimo por aluno será calculado pela União ao final de cada ano. Este artigo da LDB fundamenta o nosso próximo tópico, que é o FUNDEB. FUNDEB O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – FUNDEB, principal instrumento de redistribuição de recursos para a educação, foi regulamentado pela Lei 11.494 de 2007. 15 Veja a Lei do FUNDEB na integra em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ ato2007-2010/2007/lei/l11494.htm>. O FUNDEB substituiu o FUNDEF, que tinha como foco somente o investimento no Ensino Fundamental. Já com o FUNDEB, os demais níveis, tipos e modalidades da Educação Básica foram contemplados, evitando distorção no investimento educacional, que antes era somente no ensino fundamental, atendendo agora a educação básica como um todo. O FUNDEB tem por objetivo redistribuir recursos para a “manutenção e desenvolvimento da educação básica”, conforme determina a Constituição Federal e visa, ainda, a valorizar docentes e demais trabalhadores da educação por meio de remuneração adequada à sua função profissional e nível de formação. As fontes de receita dos fundos estaduais do FUNDEB são compostas por 20% das seguintes receitas: • Fundo de Participação dos Estados (FPE); • Fundo de Participação dos Municípios (FPM); • Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS); • Imposto sobre Produtos Industrializados de Exportações (IPIexp); • Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doações (ITCMD); • Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA); • Imposto Territorial Rural (ITR). Entenda o FUNDEB: Fundos estaduais do FUNDEB Distribuição de recursos por aluno da educação básica para municípios, estados e distrito federal 20% de impostos: FPE; FPM; ICMS; IPlexp; ITCMD; IPVA; ITR + aporte de recursos da União O governo federal complementará os recursos do FUNDEB quando o valor médio por aluno não alcançar o mínimo definidonacionalmente pela Comissão Intergovernamental de Financiamento para a Educação Básica de Qualidade. A Comissão Intergovernamental de Financiamento para a Educação Básica de Qualidade, que determina os valores anuais de repasse para cada nível e etapa da educação básica, é composta por representantes de MEC, representante das secretarias estadual de educação e representante de secretários municipais de educação. 16 Unidade: Financiamento da educação no Brasil Sobre a distribuição dos recursos entre estados e municípios, será feita por meio da quantidade de alunos matriculados nas redes de ensino. Para a redistribuição, serão consideradas exclusivamente as matrículas presenciais efetivas, conforme o Senso Escolar computado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP, do governo federal. Recentemente, o INEP passou a obrigar estados, municípios e Distrito Federal a informar, via sistema de informação, a matrícula individual, por aluno. Antes, os entes federativos informavam somente a quantidade de matrículas do seu sistema de ensino. Com esta média, diminuiu informações distorcidas de quantidades de alunos para aumentar os recursos do FUNDEB. As etapas, modalidade e tipos de estabelecimentos de ensino da educação básica que recebem recursos dos FUNDEB são: NÍVEIS E MODALIDADES TIPOS DE ESTABELECIMENTOS Creche e Pré-escola Tempo integral e parcial Anos iniciais do Ensino Fundamental Urbano, do Campo e Tempo integral Anos finais do Ensino Fundamental Ensino Médio Urbano, do Campo e Tempo integral Ensino Médio Integrado à educação profissional Educação Especial Educação indígena e quilombola Educação de Jovens e Adultos Educação de Jovens e Adultos de nível médio Integrada à educação profissional Para cada tipo e nível, é calculado pela Comissão Intergovernamental de Financiamento para a Educação Básica de Qualidade um valor diferente por aluno, levando em consideração os custos reais das diferentes etapas, modalidades e tipos de estabelecimento de ensino da educação básica. Por exemplo, o ensino fundamental de tempo integral deve receber mais recursos do que o ensino fundamental de tempo parcial. Ou o ensino médio integrado ao ensino profissionalizante deve receber mais recursos do que o ensino médio urbano. Anualmente, a Comissão Intergovernamental de Financiamento para a Educação Básica de Qualidade aprova ponderações de recursos para cada etapa, modalidade e tipo de estabelecimento de ensino da educação básica para o FUNDEB. Veja a ponderação aprovada pela Resolução Nº 1, de 24 de julho de 2014, do Conselho, para o exercício de 2015 em: <https://www.fnde.gov.br/fndelegis/action/UrlPublicasAction. php?acao=abrirAtoPublico&sgl_tipo=RES&num_ato=00000001&seq_ato=000&vlr_ ano=2014&sgl_orgao=MEC>. 17 Pesquise no site do FNDE os recursos destinados a cada nível, tipo e modalidade de ensino do seu estado, disponível em: <http://www.fnde.gov.br/financiamento/fundeb/fundeb-consultas>. Você avalia que o recurso previsto para cada nível de ensino pelos Fundos assegura qualidade no ensino? Importante destacar que, segundo o Art. 22, pelo menos 60% dos recursos do FUNDEB devem ser para pagamento dos professores, demonstrando o esforço em melhorar as condições docentes e que a lei promulga anualmente o piso salarial nacional profissional do profissional de educação. Leia a matéria do ministro da educação que promulgou o piso nacional dos professores para o ano letivo de 2015, disponível em: <http://g1.globo.com/ educacao/noticia/2015/01/piso-salarial-de-professores-tera-aumento-de-1301-e- ira-r-191778.html>. Os Fundos devem ser acompanhados e tendo seu controle social feito por conselhos federal, estaduais e municipais, instituídos especificamente para este fim, além da sociedade civil organizada. Fechamento Esta Unidade tratou do tema financiamento da educação. Importante destacar as responsabilidades da União, estados, Distrito Federal e municípios em sistemas de ensino e na aplicação de recursos financeiros mínimos da arrecadação provenientes de impostos e repasses para a manutenção do ensino, garantindo padrão mínimo de qualidade do ensino básico obrigatório pela Constituição Federal. Também foi apresentado o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – FUNDEB, substituindo o antigo FUNDEF, ampliando a abrangência de recursos para toda a educação básica (da educação infantil até o ensino médio), em seus diferentes tipos de estabelecimentos, etapas e modalidades de ensino. O FUNDEB é considerado, hoje, um importante mecanismo contábil de redistribuição de recursos para a educação brasileira, garantindo equidade entre os entes federativos. No entanto, o desafio é enorme para melhorar a qualidade da educação ofertada para a população brasileira. Uma ação é aumentar os percentuais do PIB investido na educação nacional para diminuir o gargalo de qualidade existente nos diversos sistemas de ensino, os níveis de ensino e entre as escolas públicas e privadas. Além dos recursos financeiros, cabe ressaltar a necessária eficiência da gestão dos sistemas de ensino, garantindo eficiência e eficácia dos sistemas para alcançar os padrões mínimos do ensino ofertado e valorização dos profissionais da educação. 18 Unidade: Financiamento da educação no Brasil Material Complementar Legislação citada: • BRASIL. Congresso Nacional. Constituição da Republica Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/constituicao.htm>. • ______. Lei n. 9394, de 20/12/1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. • ______. Lei 11.494, de 20 de junho de 2007.Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – FUNDEB. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11494.htm>. Livros complementares da biblioteca virtual no ambiente da Blackboard: • CARVALHO, José Sérgio Fonseca de. Reflexões sobre Educação, Formação e Esfera Pública. Penso, 2013; • CASTRO, Claudio de Moura. Os Tortuosos Caminhos da Educação Brasileira: Pontos de Vista Impopulares. Penso, 2013; • COLOMBO, Sonia Simões, CARDIM, Paulo A. Gomes e colaboradores. Nos Bastidores da Educação Brasileira: A gestão Vista por Dentro. ArtMed, 2011; • MOLL, Jaqueline. Caminhos da Educação Integral no Brasil: Direito a Outros Tempos e Espaços Educativos. Penso, 2012; • NOVAES, Valério; COUTINHO, Diva; SILVA, Cileda de Queiroz e. Estatística para Educação Profissional. Atlas, 2009. VitalBook file. 19 Referências Bibliografia Básica: BUCCI, M. P. D. Políticas públicas: reflexões sobre o conceito jurídico. São Paulo: Saraiva, 2006. PINTO, D. B. B.; CINTRA, R. S. (Orgs). Direito e educação: reflexões críticas para uma perspectiva interdisciplinar. São Paulo: Saraiva, 2013. ROSÁRIO, M. J. A.; ARAÚJO, R. M. de L. Políticas públicas educacionais. 2. Ed. Campinas: Alínea, 2011. Bibliografia Complementar BITTAR, Carla Bianca. Educação e Direitos Humanos no Brasil. São Paulo: Saraiva, 2014. HORA, T. L.; SANTOS, T. F. A. M. (org.). Políticas Educativas e Gestão Educacional. Campinas: Editora Alínea, 2014. OLIVEIRA, Romualdo Portela; ADRIÃO, Thereza. Gestão Financiamento e Direito à Educação: análise da LDB e da Constituição Federal. São Paulo: Xamã, 2001. OLIVEIRA, Romualdo Portela; ADRIÃO, Thereza. Organização do ensino no Brasil: níveis e modalidades na Constituição Federal e na LDB. v 2. São Paulo: Xamã, 2002. SARAIVA, Enrique; FERRAREZI, Elisabete (org.). Políticas Públicas. Coletânea. Volumes 1 e 2 . Brasília: ENAP, 2006. 20 Unidade:Financiamento da educação no Brasil Anotações