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A TREATISE ON MONEY - THE PURE THEORY OF MONEY John Maynard Keynes, 1930. Tradução: Everton Sotto Tibiriçá Rosa Capítulo 15 A CIRCULAÇÃO INDUSTRIAL E A CIRCULAÇÃO FINANCEIRA I. INDÚSTRIA E FINANÇAS DISTINGUIDAS E DEFINIDAS Nós devemos nos voltar neste momento para a análise dos fatores que tendem a trazer mudanças no valor do dinheiro e ao seu modo de operação. Para este propósito será necessário fazer mais uma classificação, em certa medida, sobre a nossa divisão da quantidade total de moeda (no capítulo 3) em depósitos de renda, depósitos de negócios e depósitos de poupança - isto é, a divisão entre os depósitos usados para os propósitos da indústria, os quais devemos denominar de circulação industrial, e aqueles utilizados para os propósitos de finanças, os quais devemos denominar de circulação financeira. Por indústria nós nos referimos às atividades de manutenção do processo normal do produto corrente, distribuição, troca e pagamento das rendas dos fatores de produção por suas várias obrigações desempenhadas desde o início da produção até a satisfação final do consumidor. Por finanças, de outro lado, nós nos referimos à atividade de reter e trocar títulos existentes de riqueza (outros que as trocas resultantes da especialização da indústria), incluindo bolsa de valores e transações nos mercados monetários, especulação e o processo de transporte das poupanças correntes e dos lucros para as mãos dos empresários. Cada um destes dois ramos de atividades utiliza certa parcela do estoque total de dinheiro. De modo geral, a indústria requer a utilização dos depósitos de renda e parte dos depósitos de negócios, que nós iremos denominar de depósitos de negócios A; enquanto as finanças requerem a utilização de depósitos de poupança e o que restou dos depósitos de negócios, que nós iremos denominar de depósitos de negócios B. Assim a soma dos dois primeiros é a circulação industrial e a soma dos dois últimos é a circulação financeira. Desde que nós devemos argumentar que a variabilidade absoluta dos depósitos de negócios B é, como regra, apenas uma pequena proporção da quantidade total de dinheiro, isto sendo consequência da sua elevada velocidade de circulação, mudanças nos depósitos de caixa [cash deposits] (i.e. depósitos de renda mais depósitos de negócios) são geralmente uma boa aproximação das mudanças da circulação industrial; e, similarmente, mudanças nos depósitos de poupança das mudanças da circulação financeira - o que felizmente nos traz para a classe de depósitos cuja magnitude nós temos moderadamente boas indicações estatísticas. II. FATORES DETERMINANTES DO VOLUME DA CIRCULAÇÃO INDUSTRIAL Desde que M1V1 = E, a quantidade de dinheiro M1 requerida para os propósitos de depósitos de renda depende parcialmente de E, o volume de renda, e parcialmente de V1, a velocidade de circulação dos depósitos de renda; e desde que E = W1O, E depende de W1 , a taxa monetária de eficiência dos ganhos, e O, o volume de produto. A causa que determina a variabilidade de V1 nós deveremos considerar em detalhes no volume 2, capítulo 24. Com relação as depósitos de negócios A, é evidente, em primeiro lugar, que o parte do seu volume tende a se mover da mesma forma que os depósitos de renda. Os depósitos de renda estão constantemente fluindo para os depósitos de negócios através das aquisições de produtos e fluindo para fora deles através do pagamento de salários. Aquela parte dos depósitos de negócios que representa o faturamento das vendas aos consumidores e a remuneração dos fatores de produção devem, portanto, ter a mesma proporção em relação aos depósitos de renda, assim como a velocidade dos últimos (V1) deve ter para os primeiros (V2), desta forma eles flutuam juntos enquanto a relação entre as velocidades não se altera. Em segundo lugar, os preços dos produtos inacabados (i.e. do working capital) em condições de equilíbrio irão refletir os preços dos bens acabados. Ademais, os custos de produção e, portanto os preços, dos bens de capital fixo irão, em equilíbrio, também se mover com a taxa monetária da eficiência dos ganhos da mesma forma como os preços dos outros bens. Além disto, a relação entre o volume destas transações e o volume de produto será bem similar aos depósitos de renda. Assim, parte da quantidade de depósitos de negócios requeridos entre os empresários para a troca de bens inacabados e de bens de capital fixos recentemente acabados irão tender, nestas condições, a variar na mesma proporção dos depósitos de negócios. Mas permanece algumas razões de porque a quantidade de depósitos de negócios A pode variar de forma diferente dos depósitos de renda, sendo: (a) a importância comparativa entre diferentes artigos para depósitos de renda e depósitos de negócios varia respectivamente de forma considerável - i.e. eles são diferentemente "ponderados"; assim as mudanças nos preços relativos estão sujeitas a perturbar a relação entre as duas classes de depósitos. Pela mesma razão a relação pode ser perturbada por uma mudança no caráter da produção. (b) Uma suposição de estabilidade na razão entre as velocidades dos depósitos de renda e dos depósitos de negócios A não é confiável. O último não está preso a uma medida de estabilidade, como está o primeiro, pela regularidade nas datas de pagamentos que geralmente caracterizam os desembolsos de salários e ordenados. A evidência, a qual devemos considerar no capítulo 24, indica que V2, a velocidade de circulação dos depósitos de negócios como um todo, é altamente variável. Entretanto está variabilidade se deve frequentemente, na maior parte, não a mudanças nas velocidades dos depósitos de negócios A e dos depósitos de negócios B, mas a mudanças na proporção da distribuição dos depósitos de negócios totais entre A e B, mesmo assim não pode haver dúvidas de que há flutuações de curto prazo de alguma magnitude na velocidade de circulação dos depósitos de negócios que se devem à variações na quantidade de sacrifício na retenção de saldos, assim como a outras causas. Assim, quando os negócios estão ativos e o custo de empréstimos é elevado, as empresas tenderão a economizar a quantidade de depósitos de negócios A que elas mantêm. Além disso, quando a renda real está caindo por conta de um declínio no emprego, o público deve agir por algum tempo de forma a manter o seu padrão de vida através da redução dos seus depósitos de renda, aumentando assim a velocidade V1 em um momento em que V2 deve provavelmente estar declinando; assim com exceção de mudanças devidas à desconfiança na moeda, as quais podem, como nós sabemos, ser catastróficas, eu tendo a opinar que as flutuações de curto prazo de V1 são inconsideráveis 1 . Em qualquer caso, V1 e V2 devem apresentar tendências diferentes ao longo dos períodos, devido a mudanças progressivas nos hábitos de negócios ou no caráter de produção. (c) Terceiro, os depósitos de negócios A e o seu nível de preço devem ser influenciados pela emergência de lucros ou prejuízos, os quais, em algumas 1 A variabilidade das velocidades de circulação é uma matéria que nós devemos retornar em detalhes no capítulo 24. circunstâncias, podem afetar o nível de preços e os requerimentos para a circulação monetária modificando a proporção, caso modifique, no volume de depósitos de renda. Todavia, os requerimentos para a circulação monetária serão menos afetados por uma mudança de aumento de preços por este motivo do que por uma mudança equivalente provocada pela elevação da taxa de eficiência dos ganhos. Este é particularmente o casode quando os lucros estão emergindo devido à elevação nos preços dos insumos que ainda não foram transferidos para o consumo de bens finais. Nós podemos convenientemente denominar este estado de coisas como especulação de commodity, que se refere ao movimento de preços dos bens em processo de produção e que ainda não se refletiram no poder de compra do dinheiro. Flutuações nos preços dos insumos, para as quais o índice de preços das matérias-primas do atacado pode servir como representação razoável, podem ser mantidas por expectativas sobre quais preços poderão ser obtidos na revenda destes bens em uma data subsequente seja nesta ou em uma forma mais acabada. Assim por algum tempo, a extensão do que será determinado pela duração dos processos produtivos e pelo custo de carregamento dos estoques, a elevação no nível [de preços] do atacado pode ser sustentada sem um aumento correspondente no nível de consumo. Segue-se que uma elevação especulativa no nível [de preços] do atacado, não acompanhada por uma elevação no nível do consumo, é particularmente improvável de ser revertida por uma escassez na quantidade de moeda. Além disso, existe uma defasagem temporal adicional entre a elevação de preços e a demanda por moeda, na qual as cotações dos preços correntes refletem os preços nos quais os contratos para realização futura estão sendo definidos no presente momento; é por isso que até a data da realização dos contratos os preços mais elevados não demandarão elevação nos depósitos de negócios. Se, na verdade, o movimento especulativo não é sustentado no seu devido curso por uma elevação no nível de consumo, então ele é improvável de sobreviver por muito tempo. Neste caso as expectativas [sobre o que o movimento especulativo está baseado] serão desapontadas. Não obstante, o tempo que decorre antes da reação pode ser bastante substancial; e durante este intervalo o movimento do nível do atacado e de parte dos depósitos de negócios relacionados a transações com insumos serão parcialmente divorciadas dos depósitos de renda e do nível de consumo. Por variadas razões as mudanças no volume da circulação industrial como um todo não corresponderão de forma acurada às mudanças no volume dos depósitos de renda. Não obstante, o principal volume da circulação industrial - que é também influenciado em alguma extensão por mudanças no caráter da produção, nos hábitos do público e do mundo de negócios, e no sacrifício envolvido em manter os recursos na forma de dinheiro - irá variar com E, a renda monetária agregada, i.e. com o volume e o custo de produção do produto corrente. III. FATORES DETERMINANTES DO VOLUME DA CIRCULAÇÃO FINANCEIRA A quantidade de dinheiro exigida para o propósito financeiro, que nós devemos denominar de circulação financeira, é, entretanto, determinada por um conjunto diferente de considerações. Neste caso, também, a quantidade de depósitos de negócios B exigidos para atender negócios financeiros depende - com exceção de possíveis variações na velocidade destes depósitos - do volume de negociação X o valor médio dos instrumentos negociados. Mas o volume de negociação dos instrumentos financeiros, i.e. a atividade dos negócios financeiros, não é apenas altamente variável como não tem conexão próxima com o volume de produto, seja bens de capital ou bens de consumo; o produto corrente de capital fixo é pequeno quando comparado com o estoque de riqueza, que representa no contexto presente o que nós iremos denominar de volume de securities (excluindo deste as obrigações líquidas em dinheiro); e a atividade pela qual estas securities são passadas de uma mão a outra não depende da taxa com que elas são adicionadas. Assim na bolsa de valores moderna da comunidade o volume de negócios de capital fixo correntemente produzido é apenas uma pequena proporção do volume total de negócios com securities. O preço das securities existentes não depende de perto ao longo de curtos períodos do custo de produção ou do preço do novo capital fixo. As securities existentes em sua maioria consistem em propriedades que não podem ser reproduzidas rapidamente, de recursos naturais que não podem ser reproduzidos de forma alguma, e do valor capitalizado de uma renda futura antecipada pela posse de vantagens particulares de quase-monopólios de um tipo ou de outro. O boom de investimento nos Estados Unidos em 1929 foi um bom exemplo do enorme aumento do preço das securities como um todo que não foi acompanhado por nenhum aumento no preço do produto corrente do novo capital fixo. Além disso, o valor das duas categorias de riqueza negociadas, denominadas de capital de empréstimo [loan capital] (ex. bonds) e capital real [real capital] (ex. ações), irão com frequência se mover em direções opostas, de forma a se compensarem parcialmente. O fato do volume de negócios financeiro variar independentemente do volume de negócios industriais não é, entretanto, de muita importância prática como poderia ser de se esperar. A velocidade dos depósitos de negócios B é tão elevada - como resultado de grande desenvolvimento de mecanismos que economizam dinheiro através da compensação da bolsa de valores e similares - que a quantidade absoluta de variações no volume de dinheiro empregado não pode ser normalmente muito grande. A principal variação na demanda total por dinheiro para propósitos financeiros surge, contudo, de forma bastante diferente, pelo volume dos depósitos de poupança. A existência de depósitos de poupança é uma indicação de que existem pessoas que preferem manter seus recursos na forma de direitos sobre dinheiro de uma característica líquida realizável de forma imediata. De outro lado, existe outra classe de pessoas que toma emprestado dos bancos para financiar a aquisição de securities em volume superior aos seus próprios recursos. Os depósitos de poupança se dividem em duas categorias. Eles incluem, como regra, um nível substancial e estável de depósitos de poupança que são mantidos porque o detentor tem uma visão adversa sobre valor monetário esperado das securities, por uma ou outra das razões pessoais enumeradas no capítulo 3; existem proprietários de riqueza, é possível afirmar, que preferem permanentemente deter depósitos de poupança a securities. Assim, a quantidade deste tipo de depósito de poupança é provavelmente de mudança muito lenta, qualquer mudança rápida no total de depósitos de poupança é indicador de que existem mudanças na categoria secundária. Vamos denominar estas duas categorias de depósitos de poupança A e B respectivamente. A segunda categoria de depósitos de poupança compreende o que, em linguagem emprestada da bolsa de valores, nós iremos denominar de posição 'bear' - incluindo, contudo, como bears nçao apenas aqules que vendem securities no 'short', i.e. que vendem securities que eles não possuem, mas também aqueles que normalmente seriam detentores de securities mas preferem no momento reter direitos líquidos em dinheiro na forma de depósitos de poupança. Um 'bear', pode-se dizer, é alguém que prefere no momento evitar securities e a emprestar dinheiro, e correspondentemente um 'bull' é alguém que prefere ter securities e a tomar emprestado - o primeiro antecipa que as securities irão perder valor e o último que elas irão subir. Quando o sentimento bull está em elevação, haverá uma tendência à queda dos depósitos de poupança. A quantidade desta queda dependerá de quão completamente o aumento do preço das securities em relação às taxas de juros de curto prazo contrabalança o sentimento otimista [bullishness]. Existirá um nível de preços das securites no qual a opinião média compensao sentimento otimista, de tal forma que o volume de depósitos de poupança fica inalterado. E se o preço das securities for ainda mais alto do que isso, então o volume de depósitos de poupança irá se elevar. Mas (com exceção de variações compensatórias nos requerimentos da circulação industrial) o volume de depósitos de poupança apenas pode ser mantido ou elevado em virtude de um aumento do sentimento 'bull', caso o sistema bancário diretamente estimule a elevação dos preços das securities pela compra de securities ou se ele tomar vantagem do fato de que diferenças de opinião existem entre diferentes setores do público tal que, se um setor é tentado pelo crédito fácil a tomar emprestado para o propósito de aquisição de securities de forma especulativa, o preço das securities pode se elevar ao nível no qual outro setor do público irá preferir depósitos de poupança. Assim, o nível de preços das securities é, como nós vimos no capítulo 10, o resultado do grau de otimismo e do comportamento do sistema bancário. Segue-se que uma queda anormal nos depósitos de poupança, acompanhada por um aumento nos preços das securities, provavelmente irá indicar um consenso de opinião em favor das securities contra dinheiro devido ao sentimento otimista que é insuficiente para compensar a elevação nos preços das securities; enquanto uma elevação anormal nas mesmas circunstâncias possa indicar uma diferença de opinião a respeito das expectativas sobre as securities, a parte dada pelos 'bulls' que estão comprando securities e tomando dinheiro emprestado através do sistema bancário da parte dos 'bears'; o que parece existir em larga escala - para dar um exemplo - nos Estados Unidos em 1928 e 1929. Assim, durante o boom de Wall Street de 1929 a atenção foi corretamente concentrada nos aumentos e diminuições no volume de 'broker's loans'; um aumento significava que a subida do preço das securities teria ido além do ponto no qual teria sido suficiente para compensar o sentimento otimista médio, no sentido de que isso levou a um aumento na posição 'bear'. Em modernas condições, tanto na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, a posição 'bear' total pode, é claro, exceder em muito a quantidade de depósitos de poupança B, desde que investidores profissionais tenham outros, e geralmente mais lucrativos, meios de emprestar fundos de 'bears' contra direitos líquidos em dinheiro a passar pelo sistema bancário, ex. por comprar títulos do tesouro e por empréstimos diretos ao mercado monetário e à bolsa de valores; e pode-se acrescentar a estas as transações de 'bears' que venderam o que não possuiam, o que diretamente se contrapõe às transações de 'bulls' que "carregam" o que eles compraram. Contudo, as flutuações nos depósitos de poupança B - incluindo nestas flutuações os depósitos das empresas industriais que estão carregando mais ou menos dinheiro para insumos e mão de obra [working capital] do que o usual por conta da desconfiança ou confiança nas expectativas, e também os depósitos de instituições que compraram isso para tomar vantagem da atividade 'bull' para levantar fundos para vender securities, novas ou velhas, à frente de suas necessidades reais - são capazes de serem importantes. Assim, as flutuações nos depósitos de poupança B são provavelmente o elemento mais importante de variabilidade na demanda por dinheiro devido ao [motivo] financeiro. A quantidade total da circulação financeira depende, portanto, parcialmente da atividade de transações mas principalmente da magnitude da posição 'bear' - ambas sendo provavelmente um fenômeno mais de mudanças rápidas dos preços do que de nível absolutamente alto ou baixo. Agora, enquanto a tendência dos depósitos de poupança (M3) para aumentar ou diminuir é uma indicação do aumento ou diminuição da posição 'bear', existem ao todo quatro possíveis tipos de mercados especulativos: (i) O mercado 'bull' com consenso de opinião, i.e. os preços das securities estão subindo mas de forma insuficiente de modo que M3 está caindo, e os 'bears' estão fechando suas posições em um mercado em elevação. (ii) O mercado 'bull' com divisão de opinião, i.e. os preços das securities estão subindo mais do que suficiente tal que o M3 está subindo, e os 'bears' estão aumentando suas posições em um mercado em elevação. (iii) O mercado 'bear' com divisão de opinião, i.e. os preços das securities estão caindo mais do que suficiente tal que M3 está caindo, e os 'bears' estão fechando suas posições em um mercado em queda. (iv) O mercado 'bear' com consenso de opinião, i.e. os preços das securities estão caindo de forma insuficiente tal que o M3 está subindo, e os 'bears' estão aumentando suas posições em uma mercado em queda. Um aumento nos depósitos de poupança, não compensados por aumento dos ativos dos bancos em quantidade equivalente a este aumento, irá diminuir a quantidade de dinheiro disponível para a circulação industrial, isto segue que, falhando a ação compensatória do sistema bancário, especulações do tipo (i) e do tipo (iii) têm o mesmo efeito sobre a indústria como um aumento da oferta de dinheiro, enquanto as do tipo (ii) e do tipo (iv) tem o mesmo efeito de uma redução da oferta de dinheiro. De outro lado, quando os preços das securities estão em elevação, é provável - em geral, mas não necessariamente - um estímulo para a elevação de P', o nível de preço do novo investimento, e quando o preço das securities está em queda, o caso oposto é provável. Assim especulações do tipo (i) tendem a reduzir o poder de compra do dinheiro em ambos os casos, desde que através de um aumento na oferta de dinheiro para a circulação industrial permite-se o aumento do investimento, e por um aumento de P' aumenta-se a atratividade do investimento. De forma similar, especulações do tipo (iv) tendem a elevar o poder de compra do dinheiro em ambos os casos. Porém as especulações do tipo (ii) e (iii) empurram em diferentes posições; o tipo (ii), por exemplo, aumenta a atratividade do novo investimento, mas ao mesmo tempo diminui, mantendo outras coisas iguais, a oferta de dinheiro para a circulação industrial. Nós concluimos, portanto, que mudanças na situação financeira são capazes de causar mudanças no valor do dinheiro de duas maneiras. Elas têm o efeito de alterar a quantidade de dinheiro disponível para a circulação industrial; e elas podem ter o efeito de alterar a atratividade do investimento. Assim, a menos que o primeiro efeito seja compensado por uma mudança na quantidade total de dinheiro e o último por uma mudança nos termos de empréstimos, uma instabilidade no nível de preços do produto corrente irá acontecer. A dificuldade é de que os dois possíveis efeitos de uma dada situação financeira não necessariamente vão levar à mesma direção. Talvez, entretanto, nós possamos estar habilitados neste ponto (em antecipação dos tópicos que pertencem mais propriamente ao volume 2) ressaltar que o dever do banco central é o de se empenhar para administrar a situação monetária, bem como preservar o nível de preços estável para o produto corrente. O dilema frente a isto - para pegar o tipo (ii) como ilustração - é como se segue. Se o banco eleva o volume de moeda bancária para evitar qualquer risco de que a circulação financeira roube recursos da circulação industrial, ele irá encorajar a continuação do mercado 'bull', com a probabilidade de elevar o valor de P' que conduzirá a um sobreinvestimento; enquanto se ele se recusar a aumentar o volume de moeda bancária, ele pode diminuir a quantidade de dinheiro disponível para a indústria, ou então elevar a taxa de juros incidente sobre o que está disponível, o que teráuma tendência deflacionária imediata. A solução se baseia - tão logo se preocupe com a estabilidade do poder de compra - em deixar que a indústria e as finanças tenham tanto dinheiro quanto desejam, mas a uma taxa de juros que em seu efeito sobre a taxa do novo investimento (relativamente a poupar) compense exatamente o efeito do sentimento otimista. Diagnosticar precisamente a posição a cada estágio e alcançar a compensação exata pode algumas vezes estar, entretanto, acima da inteligência do homem. Além disso, pode ocorrrer na prática que a taxa de juros é elevada o bastante para evitar o futuro sobreinvestimento como resultado da redução do produto presente abaixo do ótimo - assim eu penso que isto pode ocorrer apenas através de previsões imprecisas, ou por dificuldades em se modificar de um tipo de produto para outro. Neste evento algum distúrbio sobre a estabilidade por ser inevitável. Assim, não existe maneira, com exceção do que algumas vezes é tentado na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, através de um processo de sucesso dúbio, que se trata de discriminar os termos de empréstimos (tanto na taxa cobrada ou por racionar a quantidade emprestada) entre os tomadores industriais e financeiros. Se os termos dos empréstimos para ambas as categorias de tomadores têm que ser quase idênticos, então, dadas previsões inacuradas de certos compradores de securities, pode fazer com que a taxa de juros seja elevada o suficiente para evitar a expectativa de sobreinvestimento, sendo calculada para produzir desemprego no presente. Nós somos deixados, portanto, com uma conclusão ampla de que a estabilidade do poder de compra e do produto exige que o total de depósitos deva ser permitido a se elevar e a se reduzir pari passu com qualquer mudança no volume de depósitos de poupança; mas os termos de empréstimos devem ser ajustados - na extensão que é praticamente possível - de forma a compensar o efeito do sentimento otimista ou pessimista nos mercados financeiros na taxa do novo investimento. No longo prazo o valor das securities é inteiramente derivado do valor dos bens de consumo. Isto depende da expectativa de como o valor de uma quantidade líquida de bens de consumo a qual as securities, diretamente ou indiretamente, irão render, modificadas por referência ao risco e à incerteza destas expectativas, multiplicadas pelo número de anos de compra correspondente à taza de juros corrente para o capital da maturidade em questão; e onde os produtos representados por estas securities são capazes de serem reproduzidos, o valor antecipado dos bens de consumo resultantes dos bens de capital será influenciado pelo custo de produção dos bens de capital em questão, desde que isso afeta a oferta esperada destes bens. Mas no curtíssimo prazo, isso depende da opinião em grande parte não controlada por nenhum fator monetário corrente. Um elevado valor para as securities não é imediatamente associado a fatores monetários da forma como um aumento similar dos preços dos bens de consumo correntemente seria associado a uma escassez de renda suficiente para adquirí-los. Nós vimos que a quantidade de depósitos de negócios B exigidos para a transação dos negócios financeiros depende pelo menos da atividade dos mercados como do valor médio dos instrumentos negociados, e assim com relação à sua elevadíssima velocidade de circulação, qualquer aumento [nestes depósitos] é facilmente abastecido sem muito efeito na oferta de dinheiro para outros propósitos; com o resultado de que não podemos nos basear nisto para confirmação. Neste sentido, a opinião tem uma influência dominante sobre a posição para um grau que não se aplica no caso da quantidade de moeda exigida para atender uma dada conta de salários. Se todos concordam que as securities estão valendo mais, e se todo mundo é um 'bull' no sentido de preferir securities a um preço em elevação a aumentar seus depósitos de poupança, não existe limite para a elevação de preços das securities e nenhuma limitação efetiva surgirá por falta de dinheiro. Entretanto, tão logo os preços das securities tenham se elevado o suficiente, em relação à taxa de juros de curto prazo, para ocasionar uma diferença de opinião com relação às expectativas, a posição 'bear' irá se desenvolver, e algumas pessoas irão começar a elevar seus depósitos de poupança seja a partir de suas poupanças correntes ou de seus lucros correntes ou pela venda de securities previamente possuídas. Assim, na medida em que a opinião predominante venha parecer não razoável para as pessoas mais inseguras, a 'outra visão' começará a se desenvolver, com o resultado de um aumento na posição 'bear' - o que traz um fator monetário, um fator que é corretivo apenas em um mercado 'bull' - como descrito acima. Finalmente, se o valor das securities existentes de um tipo que é capaz de ser reproduzida vier a diferir do custo de produção corrente, isso irá, por estimular ou retardar novo investimento, trazer novos fatores monetários da maneira a ser elaborada nos capítulos seguintes. Eu deveria dizer, portanto, que a autoridade monetária não tem preocupação direta com o nível do valor das securities existentes, como determinadas pela opinião, mas ela tem uma preocupação indireta importante se o nível do valor das securities existentes é calculado para estimular o novo investimento acima da poupança, ou o contrário. Por exemplo, um boom no valor da terra ou a revalorização do capital de um monopólio, inteiramente dissociados de qualquer estímulo excessivo ao novo investimento, não deveria desviar a autoridade da moeda de manter os termos de empréstimos e a oferta total de dinheiro a um nível tal que permita, após satisfazer a circulação financeira, a quantidade ótima para a circulação industrial (tão logo esta seja compatível com a preservação do equilíbrio externo já que nosso sistema não é fechado). O principal critério para interferência em um mercado financeiro 'bull' ou 'bear' deveria ser, isso pode ser dito, sobre as prováveis reações da situação financeira sobre o equilíbrio esperado entre poupança e o novo investimento.
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