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6 FACULDADE SANTA MARCELINA Curso de Letras O PRECONCEITO LINGUÍSTICO NA SALA DE AULA por Mônica Camargo Batista Barbosa Muriaé 2016 7 FACULDADE SANTA MARCELINA Curso de Letras O PRECONCEITO LINGUÍSTICO NA SALA DE AULA por Mônica Camargo Batista Barbosa Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de licenciatura em Letras pela Faculdade Santa Marcelina. Orientador: Prof. Msc. Emerson Lopes Cruz Muriaé 2016 8 FACULDADE SANTA MARCELINA Curso de Letras TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO TÍTULO: O PRECONCEITO LINGUÍSTICO NA SALA DE AULA ACADÊMICA: Mônica Camargo Batista Barbosa ORIENTADOR: Prof. Msc. Emerson Lopes Cruz AVALIAÇÃO: _____________________________________________ _____________________________________________ DATA: _____/_____/_____ Muriaé 2016 9 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus em primeiro lugar, que iluminou o meu caminho durante esta caminhada e permitiu que este sonho se tornasse realidade. Agradeço de maneira especial ao meu esposo Winston. Obrigada pеlа paciência. incentivo, pelas renuncias e principalmente pelo seu amor. Esta vitória também é sua. Agradeço aos meus pais João Batista e Maria da Glória, meus irmãos Kelly, Larissa e João Marcos, que me estimularam durante todo o tempo e torceram para a concretização dos meus projetos. À minha sogra Luzia. Obrigada pelo carinho, incentivo e por sempre se alegrar com minhas realizações. Ao meu orientador Emerson, pela paciência, dedicação e ensinamentos que possibilitaram que eu realizasse este trabalho. A esta faculdade e a todos оs docentes dо curso de Letras, qυе foram tão importantes na minha vida acadêmica e me proporcionaram as condições necessárias para que eu alcançasse meus objetivos. Às minhas amigas e companheiras de curso, pelo incentivo е apoio constantes. Enfim, agradeço a todos que contribuíram para a realização deste trabalho, seja de forma direta ou indireta, fica registrado aqui, o meu muito obrigado! 10 [...] de todos os conjuntos de superstições infundadas que compõem a cultura brasileira, nenhum é tão resistente, parece, quanto o das ideias preconcebidas que impregnam nosso imaginário a respeito de línguas em geral e, mais especificamente, da língua que falamos (BAGNO 2003, p. 15). 11 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................. 06 1- VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS......................................................................08 2- O PRECONCEITO LINGUÍSTICO E O PAPEL DA ESCOLA.................... 13 2.1- A mitologia do preconceito linguístico..................................................14 2.2 – O papel da escola............................................................................ .......16 3- METODOLOGIA............................................................................................19 4- RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................20 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................ ANEXO............................................................................................................. 12 INTRODUÇÂO O presente trabalho compõe um dos requisitos curriculares necessários para a conclusão da graduação no curso de Letras da Faculdade Santa Marcelina. Com o objetivo de verificar a incidência do preconceito linguístico na sala de aula, este trabalho foi desenvolvido através de pesquisa bibliográfica, para embasamento teórico e uma pesquisa de campo com docentes da rede particular de ensino da cidade de Muriaé, Minas Gerais. Apesar da Língua Portuguesa não ter surgido no Brasil, pois foi implantada no continente Sul- americano pela colonização portuguesa, este é o maior país falante desta língua no mundo. Entretanto, a língua portuguesa utilizada no Brasil não é uniforme, uma de suas características é possuir uma imensa pluralidade linguística, tendo em vista suas diversas regiões e respectivas diferenças nas questões de uso. Conforme Rodrigues e Figueiredo (2007, p. 17), “[...] não existe uma norma única, mas sim uma pluralidade de normas, normas distintas segundo os níveis sociolinguísticos e as circunstâncias da comunicação”. É um fato recorrente no contexto escolar, o ensino da Língua Portuguesa enfocar somente a reprodução do “português correto”, apresentando a norma padrão como a única variedade adequada. Esta atitude despreza as demais variedades, gerando o preconceito linguístico. Bagno (1999, p.40), faz a seguinte observação: O preconceito linguístico se baseia na crença de que existe [...] uma única língua Portuguesa digna deste nome e que seria a língua ensinada nas escolas, explicada nas gramáticas e catalogada nos dicionários. Qualquer manifestação linguística que escape desse triângulo escola-gramática-dicionário é considerada, sob a ótica do preconceito linguístico, “errada, feia, estropiada, rudimentar, deficiente”. 13 O preconceito linguístico ocorre com frequência nas salas de aula. Não é raro acontecer correções rígidas e abordagem inadequada do aluno falante de uma variedade linguística que difere da maioria da turma ou do professor. Tais correções podem influenciar diretamente no desenvolvimento cognitivo e desempenho do aluno na disciplina de Língua Portuguesa. Tendo como título “O preconceito linguístico dentro da sala de aula”, este Trabalho de Conclusão de Curso está estruturado em dois capítulos, uma pesquisa de campo qualitativa, sua análise, metodologia e conclusão. O primeiro capítulo trata do tema “Variação linguística” e segundo “O preconceito linguístico e o papel da escola”. O principal objetivo deste trabalho é analisar as possíveis ocorrências do preconceito na atividade docente e refletir sobre o tema do preconceito linguístico, que ainda precisa ser superado no ensino de Língua Portuguesa no Brasil. A problematização desta pesquisa é: Os professores da rede de ensino particular de Muriaé manifestam-se contrários ou favoráveis a abordagem e a valorização da variedade linguística em sala de aula? Com que frequência, numa escala de 0 a 5, ocorre o preconceito linguístico nestas escolas? Espera-se, através desta pesquisa, contribuir no combate ao preconceito linguístico e conscientizar, especialmente aos educadores que ainda não despertaram para esta realidade, sobre a importância de valorizar e respeitar todas as variedades linguísticas. De acordo com os PCN’S de Língua Portuguesa, as variedades linguísticas são fenômenos sociais inerentes à língua e podem ser utilizadas de acordo com as situações comunicativas e seus interlocutores. “A questão não é falar certo ou errado, mas saber qual forma de fala utilizar, considerando as características do contexto de comunicação, ou seja, saber adequar o registro às diferentes situações comunicativas.(...) É saber, portanto, quais variedades e registros da língua oral são pertinentes em função da intenção comunicativa, do contexto e dos interlocutores a quem o texto se dirige”. (PCN, 1997, p. 31) 14 1. VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS A linguagem é a principal característica que nos distingue dos demais seres vivos. Ela está diretamente ligada à nossa capacidade de expressar sentimentos, opiniões, conhecimentos e nos incluir na convivência social. Ela permite ao ser humano estabelecer contato com o outro e promove a interação. A língua é uma das manifestações que possibilitam esta comunicação. Sendo um conjunto organizado de elementos e símbolos, que podem se manifestar de forma oral, escrita ou gestual, a língua surge em sociedade e é desenvolvida por todos os grupos humanos. “E toda a nossa vida em sociedade supõe um problema de intercâmbio e comunicação que se realiza fundamentalmente pela língua, o meio mais comum de que dispomos para tal” (Infante, 1995, p.17). Entre os fatores relacionados à língua destacam-se os níveis da fala, que são essencialmente dois: o nível de formalidade e o de informalidade. O padrão formal limita-se às normas gramaticais de um modo geral e está ligado à escrita. O padrão informal, em muitas situações, é caracterizado por uma visão preconceituosa que o representa como uma posição de menor prestígio. Uma pessoa que fala ou escreve fora dos padrões de formalidade é considerada ‘inculta’ e não raras vezes é estigmatizada como ‘ignorante’. Esta é uma das razões pela qual o padrão formal da língua passou a exercer uma total soberania em relação ao padrão informal, tornando-se sinônimo de cultura e ascensão social. [...] as variedades faladas pelos grupos de maior poder político e econômico passam a ser vistas como variedades mais bonitas e até mais corretas. Mas essas variedades, que ganham prestígio porque não faladas por grupos de maior poder, nada têm de intrinsecamente superior às demais. O prestígio que adquirem é mero resultado de fatores políticos e econômicos. O dialeto (ou variedade regional) falado em uma região pobre pode vir a ser considerado um dialeto “ruim”, enquanto o dialeto falado em uma região rica e poderosa passa a ser visto como um “bom” dialeto. (BORTONI, Ricardo 2004, p.34) 15 Estes elementos citados acima são estudados pela Sociolinguística, que é uma das subáreas da Linguística. Apesar de ser uma definição excessivamente simplificadora, podemos afirmar que ela estuda a língua utilizada dentro das comunidades de fala. Seu principal campo de pesquisa é o estudo da relação entre língua e sociedade, tendo como objeto de trabalho a variedade linguística. Para isto, leva em conta a origem, idade, sexo, escolaridade, aspecto financeiro, entre outros fatores. Seu foco não é demonstrar os desníveis sociais, mas ressaltar que o homem, um ser sociável, é capaz de compreender e de se fazer compreender em um processo de interação. A sociolinguística teve início em meados do século XX, quando William Bright (1966) e Joshua Fishman (1972), passaram a incorporar os aspectos sociais em suas descrições linguísticas. Entretanto, é importante ressaltar que o estabelecimento da Sociolinguística em 1964 foi antecedido por vários linguistas, que já desenvolviam pesquisas de articulação da linguagem com aspectos culturais e de ordem social, entre eles Antoine Meillet (1866-1936), Mikhail Bakhtin (1895-1975) e membros do Círculo Linguístico de Praga. No início do século XX, o aspecto social da língua teve grande relevância no trabalho do linguista Ferdinand de Saussure, que caracterizava a língua como um produto social da faculdade da linguagem. Estes estudiosos já levavam em conta o contexto sociocultural e a comunidade de fala em suas pesquisas linguísticas. De acordo com William Bright (apud Preti 2000, p.16), a diversidade linguística se encontra relacionada aos vários fatores definidos socialmente. Em princípio são três: a dimensão do emissor, a do receptor e a da situação ou contexto. Ele foi um dos pioneiros na definição da diversidade linguística como o foco principal de estudo da Sociolinguística e sua proposta para a sociolinguística é “demonstrar a covariação sistemática das variações linguística e social. Ou seja, relacionar as variações linguísticas observáveis em uma comunidade às diferenciações existentes na estrutura social desta mesma sociedade” (Bright, 1974, p.34). William Labov, deu continuidade aos estudos de William Bright, e descreveu a heterogeneidade linguística, pois, segundo ele, todo fato linguístico está relacionado a um fato social, e a língua sofre implicações de ordem 16 fisiológica e psicológica. Este linguista americano ficou conhecido por ser o representante da teoria da variação linguística. Ele analisou em suas pesquisas as variações contidas na fala, especialmente a influência mútua do urbano e o rural. O autor expõe que o falar rural, muitas vezes ridicularizado, sofre influência em contato com o urbano, ocasionando mudança no seu contexto natural. De acordo com Christian Baylon (2000, p.26) a sociolinguística, que anteriormente preocupava-se basicamente em descrever as diversas variedades dentro de uma sociedade, nos dias atuais engloba praticamente tudo o que diz respeito ao estudo da linguagem em seu contexto sociocultural. Sob esta perspectiva não há como deixar de considerar a etnografia da comunicação como uma subdisciplina da sociolinguística. A primeira constatação no estudo de uma comunidade linguística é a existência da variação. Nenhuma língua se apresenta como uma entidade homogênea. A sociolinguística denomina esses diferentes modos de falar de ‘variedades linguísticas’, as quais considera uma qualidade constitutiva do fenômeno linguístico. As variações ressaltadas na língua podem ser relacionadas a vários fatores e podem ser descritas a partir de dois parâmetros fundamentais: a variação geográfica (diatópica) e a variação social (diastrática). No capítulo ‘Sociolinguística’ do livro ‘Introdução à linguística: domínios e fronteiras’ (Mussalim, 2001, p.34) temos uma visão clara destas variações. Segundo os autores desta obra, a variação diatópica é evidenciada entre falantes de origens geográficas distintas. Por isto, está relacionada às diferenças linguísticas distribuídas no espaço físico. São os chamados dialetos, que são marcas determinantes indicativas de regiões diferentes. Por exemplo, entre os falantes brasileiros procedentes de estados diferentes é possível perceber de maneira clara as diferenças fonéticas e gramaticais. Os sotaques também fazem parte desta modalidade, porém estão ligados às características orais da língua. Por outro lado, a variação diastrática está relacionada com a identidade do falante e a organização sociocultural da comunidade de fala. Esta expressão vem do prefixo grego "dia " que significa "através de" e o radical latino "estrato" que significa "camada". Estas variações ocorrem de uma camada social para outra, ou seja, as diferenças entre os estratos socioculturais (nível culto, nível popular, língua padrão). Alguns fatores relacionados às variações de natureza social são a classe social, idade e sexo. Podemos destacar as gírias de 17 diferentes faixas etárias, a linguagem coloquial e os jargões pertencentes a determinadas classes profissionais. É importante destacar que a língua padrão também é uma variedade social. As variações estilísticas ou registros são aquelas relacionadas ao contexto. Os falantes diversificam sua fala, usando estilos diferentes, de acordo com as ocorrências interacionais.Para Monteiro (2000, p. 71): “O ambiente e a ocasião em que a linguagem é usada, acarretará algumas consequências. Em palestras acadêmicas e ocasiões cerimoniosas, por exemplo, é provável que o falante selecione uma linguagem mais formal do que em festinhas infantis ou almoços em família”. De acordo com Roberto Gomes Camacho, esta acomodação linguística “decorre de uma seleção dentre o conjunto de formas que constitui o saber linguístico individual, de um modo mais ou menos consciente” (Camacho, 1978, p.17). A evolução da língua é composta pelas variações e mudanças que ocorrem nos vários subsistemas constitutivos de uma língua (fonético, morfológico, fonológico, sintático, léxico e semântico). Estas variações comprovam o dinamismo da linguagem, que sofre alterações ao longo do tempo. Muitas destas mudanças ocorrem de maneira quase imperceptível para os falantes contemporâneos de determinada língua. Faraco (1991, p.14) descreve esta realidade ao afirmar que “a língua escrita é normalmente mais conservadora que a língua falada e o contraste entre as duas pode levar-nos a perceber fenômenos inovadores em expansão na fala e que não entram na escrita”. Entretanto, apesar das alterações da linguagem escrita passarem por um processo mais longo do que na fala, estas transformações são frequentes e necessárias. As mudanças diacrônicas na ortografia, muitas vezes, tornam algumas palavras quase incompreensíveis. Este fragmento do texto de Carlos Drummond de Andrade comprova este fato: “antigamente, as moças chamavam- se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio". Comparando este texto à atualidade percebemos que nele existem certas expressões que já se encontram em desuso, tais como: mademoiselles, prendadas, janotas, pé-de-alferes, balaio. Este é um vocabulário possivelmente incompreensível para alguns falantes da língua atual. 18 Enfim, para a sociolinguística, a variedade linguística é um pressuposto essencial, que norteia e auxilia a observação, a descrição e a interpretação do comportamento linguístico. Os falantes, geralmente, dão continuidade à linguagem que aprenderam em sua educação e convivência. Tais variações são produtos de sua história e de seu presente. É importante ressaltar que não existem variedades linguísticas inferiores. Ainda na obra citada acima ‘Introdução à linguística: domínios e fronteiras’ encontramos respaldo para esta afirmação: Toda língua é adequada à comunidade que a utiliza, é um sistema completo que permite a um povo exprimir o mundo físico e simbólico em que vive. É absolutamente impróprio dizer que há línguas pobres em vocabulários. Não existem também sistemas gramaticais imperfeitos. [...] Assim como não existem línguas “inferiores”, não existem variedades linguísticas “inferiores”. (Mussalim, Fernanda (Org.); Bentes, Anna Christina (Org.), 2001, p.34) Portanto, é necessário identificar e combater todos os preconceitos relacionados às variações linguísticas em qualquer nível em que ocorram. Marcos Bagno, um renomado doutor em filologia, linguista e escritor brasileiro, em várias de suas obras, expõe de maneira clara essa realidade. Tomemos como exemplo este fragmento do livro ‘Nada na língua é por acaso – por uma pedagogia da variação linguística’: A grande maioria das pessoas acha muito mais confortável e tranquilizador pensar na língua como algo que já terminou de se construir, como uma ponte firme e sólida, por onde a gente pode caminhar sem medo de cair e de se afogar na correnteza vertiginosa que corre lá embaixo. Mas essa ponte não é feita de concreto, é feita de abstrato... O real estado da língua é o das águas de um rio, que nunca param de correr e de se agitar, que sobem e descem conforme o regime das chuvas, sujeitas a se precipitar por cachoeiras, a se estreitar entre as montanhas e a se alargar pelas planícies... (Bagno, 2007, p.36) 19 2. O PRECONCEITO LINGUÍSTICO E O PAPEL DA ESCOLA Afinal, o que é preconceito linguístico? Esta é uma questão ainda desconhecida por muitos. O termo preconceito linguístico é comum entre estudiosos e leitores da sociolinguística. Entretanto, não é amplamente divulgado e esclarecido como deveria em nossa sociedade, pois este tipo de preconceito é uma realidade presente em nosso dia a dia e atinge direta ou indiretamente a maioria das pessoas. Para compreendermos melhor o significado de preconceito linguístico é relevante iniciarmos pelo sentido de preconceito de uma maneira geral. As definições do dicionário Michaelis são bastante esclarecedoras: sm (pre+conceito) 1 Conceito ou opinião formados antes de ter os conhecimentos adequados. 2 Opinião ou sentimento desfavorável, concebido antecipadamente ou independente de experiência ou razão. 3 Superstição que obriga a certos atos ou impede que eles se pratiquem. 4 Social. Atitude emocionalmente condicionada, baseada em crença, opinião ou generalização, determinando simpatia ou antipatia para com indivíduos ou grupos. Baseado nos estudos da sociolinguística, podemos afirmar que o preconceito linguístico está diretamente ligado ao preconceito social, pois é uma discriminação sem fundamento que atinge falantes, geralmente de classes menos favorecidas, que por motivos sociais, históricos ou culturais não se utilizam da norma padrão da língua. De acordo com o linguista Marcos Bagno (1999, p. 9), o preconceito linguístico está ligado, em boa medida, à confusão que foi criada ao longo da história, entre língua e gramática normativa. Ele enfatiza que a gramática descreve a norma culta, que é uma parcela da totalidade da língua, porém ela não é a língua. Essa confusão, que precisa ser 20 desfeita urgentemente, está na base da ideologia geradora do preconceito linguístico. Nenhuma língua se apresenta como uma entidade homogênea. As línguas variam, e essas variações, que estão relacionadas a vários fatores, podem ser apresentadas a partir de dois parâmetros essenciais: a variação geográfica e a social. Todas as pessoas, inclusive aquelas com algum tipo de deficiência, necessitam comunicar-se e adotam sistemas compatíveis para que isso ocorra. Por exemplo, as pessoas portadoras de deficiência auditiva utilizam a linguagem de sinais. Da mesma forma, cada grupo social ou geográfico emprega um vocabulário específico, com suas idiossincrasias, manifestando sua cultura e história. O falante nativo de uma língua é inteiramente competente em sua fala. Desde o seu nascimento possui formas internalizadas de linguagem. Ainda que não entenda nada de gramática, ele é capaz de produzir enunciados gramaticalmente corretos, ou seja, de acordo com as regras de funcionamento de uma língua. Mário Perini, em seu livro ‘Sofrendo a gramática’, nos fala desse conhecimento implícito que cada falante possui: /.../ qualquer falante de português possui um conhecimento implícito altamente elaborado da língua, muito embora não seja capaz de explicitar esse conhecimento. E veremos que esse conhecimento não é fruto de instrução recebida na escola, mas foi adquirido de maneira tão natural e espontânea quanto a nossa habilidade de andar. Mesmo pessoas que nunca estudaram gramática chegam a um conhecimento implícito perfeitamente adequado da língua. São como pessoas que não conhecem a anatomia e a fisiologia das pernas, mas que andam, dançam,nadam e pedalam sem problemas (Perini, 1997, p.13). O Brasil, um país de dimensões colossais, apresenta uma enorme variedade na modalidade oral da língua. Este fato pode ser evidenciado através dos diferentes sotaques encontrados em cada região do país. Compreender a essência dessas variações e respeitá-las é o primeiro passo para combater o preconceito linguístico. Infelizmente, a intolerância e preconceito diante das variações linguísticas é recorrente em nosso país. Ainda ocorre a divisão dos falantes em dois grupos: aqueles que falam o português de maneira ‘correta’ e os que falam ‘errado’. Bagno, nos alerta sobre a importância de a sociedade 21 combater esse tipo de preconceito tanto quanto os outros preconceitos são combatidos e colocados em evidência: Se queremos construir uma sociedade tolerante, que valorize a diversidade, uma sociedade em que as diferenças de sexo, de cor de pele, de opção religiosa, de idade, de condições físicas, de orientação sexual não sejam usadas como fator de discriminação e perseguição, temos que exigir também que as diferenças nos comportamentos linguísticos sejam respeitadas e valorizadas. (Bagno 2009, p.28) 2.1. A Mitologia do preconceito linguístico Bagno (2009 p.13) em seu livro ‘Preconceito linguístico – o que é, como se faz’, alerta para o papel da mídia, que através dos meios de comunicação, na pretensão de ensinar o que é ‘certo’ e ‘errado’, contribui diariamente para a disseminação do preconceito linguístico. O autor também critica os instrumentos tradicionais de ensino da língua, isto é, a gramática normativa e os livros didáticos. Segundo Bagno, esses instrumentos, quando mal aplicados, tornam- se geradores de preconceito. Ele fala da importância de rompermos com a ‘mitologia do preconceito linguístico’, que são um conjunto de estereótipos enraizados na mentalidade dos brasileiros. Abaixo estão descritos, de maneira resumida, oito mitos destacados pelo autor: ‘A língua portuguesa apresenta uma unidade surpreendente’ - Ao contrário do que é afirmado através desse mito, o português falado no Brasil é bem diversificado. A norma linguística é muitas vezes imposta pela escola como se fosse realmente comum a todos os falantes brasileiros, porém no Brasil ocorre um verdadeiro abismo linguístico entre os falantes da linguagem padrão e não padrão, que são a maioria da população. Algumas das causas desse abismo são as diferenças sociais e culturais. ‘Brasileiro não sabe português / Só em Portugal se fala bem português’ - Segundo o autor, estas afirmações refletem o complexo de inferioridade ainda existente por termos sido colônia de um país mais antigo e mais ‘civilizado’. Para combater esse mito é importante que haja a compreensão de que as necessidades linguísticas de cada país são diferentes e atendem as suas próprias realidades. O português falado no Brasil já se distanciou, e muito, do português falado em Portugal, as diferenças são tão grandes que muitas vezes 22 acontecem dificuldades de compreensão. A semelhança entre a língua utilizada pelos dois países ocorre na língua escrita formal, porque a ortografia é praticamente a mesma. ‘Português é muito difícil’ - Uma das causas desta afirmação parecer tão real para tantos falantes da língua portuguesa é o fato de acontecer uma cobrança indevida, por parte do ensino tradicional, de uma norma gramatical que não corresponde à realidade da língua falada no Brasil. Somos obrigados a decorar normas e regras que não utilizamos nas situações comunicacionais a que estamos expostos. O brasileiro sabe português, e como falante nativo é capaz empregar com naturalidade as regras básicas de funcionamento de sua língua. ‘As pessoas sem instrução falam tudo errado’ - Neste caso, o preconceito linguístico é decorrente de um preconceito social. Geralmente as pessoas vítimas desse preconceito pertencem às classes sociais menos privilegiadas, que não têm acesso à educação formal. São discriminadas porque falam de maneira distinta da língua que é ensinada na escola. ‘O lugar onde melhor se fala português no Brasil é o Maranhão’ - Bagno esclarece que esta afirmação não tem nenhum fundamento científico. Uma possível causa do surgimento desse mito é o fato de nesta localidade ainda se preservar com regularidade o uso do pronome tu, seguido das formas verbais clássicas, o que não é comum no resto do país. Essa particularidade, de um único aspecto da linguagem literária, coincide com o português falado em Portugal. O português falado no Maranhão não é superior, nem inferior ao português falado no resto do país, é apenas mais uma variação linguística. ‘O certo é falar assim porque se escreve assim’ - É necessário a ortografia oficial de uma língua, entretanto obrigar os falantes a pronunciarem as palavras da mesma forma é negar a existência das variações linguísticas e tentar criar uma língua falada ‘artificial’. ‘É preciso saber gramática para falar e escrever bem’ - Mário Perini (1997 p.50) em sua obra ‘Sofrendo a gramática’ afirma que não existe nenhuma evidência favorável a esta afirmação: “não existe um grão de evidência em favor disso; toda evidência disponível é em contrário”. Se este mito, que parece verídico para muitos, fosse condizente, poderíamos afirmar que todos os 23 gramáticos seriam grandes escritores, e os bons escritores seriam especialistas em gramática. ‘O domínio da norma culta é um instrumento de ascensão social’ - Esse mito, da mesma forma que o primeiro descrito acima, tem uma relação direta com as questões sociais. O domínio da norma culta não irá resolver instantaneamente os problemas de um indivíduo carente, a educação é apenas uma das áreas que necessitam de assistência assim como a moradia, alimentação e saúde. 2.2 O papel da escola No livro ‘Nós cheguemu na escola, e agora? Sociolinguística na sala de aula’ (Bortoni-Ricardo, Stella Maris, 2005 p.15. 24), encontramos a afirmação de que há pelo menos duas consequências desastrosas no ensino da língua culta à grande parcela da população, que tem como língua materna variedades populares da língua. A primeira consequência apontada é a de que não são respeitados os antecedentes culturais e linguísticos do educando, o que contribui para desenvolver nele um sentimento de insegurança. E a outra consequência é que também não lhe é ensinada de forma eficiente a língua padrão. A autora ressalta que a escola não pode ignorar as diferenças sociolinguísticas. É preciso que os professores conscientizem os alunos de que existem mais de uma maneira de dizer alguma coisa, e que essas formas alternativas servem a propósitos comunicativos distintos, e são recebidas de maneira diferente pela sociedade. É enfatizado que a maioria da população brasileira não tem acesso à força padronizadora da língua escrita. A precariedade da instrução escolar, o analfabetismo e a crise educacional no país impedem o acesso à língua padrão real, efetivamente usada pelas classes favorecidas. Muitos alunos, ao serem inseridos no ambiente escolar, são prontamente atingidos pelo preconceito em relação as variedades linguísticas. Ao iniciarem o processo de aprendizagem da norma padrão da língua, e perceberem as divergências em relação à própria linguagem utilizada, acabam por considerar ‘errado’ tudo que haviam aprendido de maneira natural. Tal fato ocorre por não terem uma orientação adequada a respeito das diversas formas de utilização da linguagem, que variam de acordo com a situação comunicativa. O professor tem 24 um papel essencialna formação do aluno, e é seu dever ensinar a norma padrão, porém sem desfavorecer e rotular como ‘erros de português’ as variedades linguísticas trazidas pelos discentes. De acordo com os Parâmetros curriculares nacionais (PCNs,1997, p. 26), abranger a diversificação da fala é indispensável para o ensino de qualquer língua. Enfrentar o problema do preconceito linguístico difundido na sociedade deve ser parte do objetivo educacional da escola. O conhecimento e aceitação dessas variedades influencia diretamente no desenvolvimento linguístico do aluno. O documento do MEC adverte que a língua está em constante mudança e apresenta diversas variedades. A variedade padrão, também conhecida como norma culta, deve ser usada em ambientes formais, acadêmicos e na escrita. Enquanto as outras variedades podem ser utilizadas em ambientes não formais. O que precisa ser considerado não é o que é ‘certo’ ou ‘errado’. O importante é que o falante saiba adequar-se as diversas situações comunicativas. [...] No ensino-aprendizagem de diferentes padrões de fala e escrita, o que se almeja não é levar os alunos a falar certo, mas permitir-lhes a escolha da forma de fala a utilizar, considerando as características e condições do contexto de produção, ou seja, é saber adequar os recursos expressivos, a variedade de língua e o estilo às diferentes situações comunicativas: saber coordenar satisfatoriamente o que fala ou escreve e como fazê- lo; saber que modo de expressão é pertinente em função de sua intenção enunciativa - dado o contexto e os interlocutores a quem o texto se dirige. A questão não é de erro, mas de adequação às circunstâncias de uso, de utilização adequada da linguagem. (Parâmetros curriculares nacionais, 1998, p.29) Combater o preconceito linguístico não significa de forma alguma diminuir o valor da gramática e do ensino da norma culta da língua. Se as regras não existissem, provavelmente viveríamos um verdadeiro caos linguístico e nossa língua portuguesa estaria condenada ao esquecimento. A gramática é essencial para a manutenção do idioma. O que a sociolinguística propõe é que sejam consideradas as duas modalidades do idioma: a oral e escrita, a linguagem coloquial e a linguagem culta. 25 3. METODOLOGIA O presente trabalho foi desenvolvido em duas etapas, estudo bibliográfico e pesquisa qualitativa, que teve como instrumento um questionário com questões de múltipla escolha. Antes de sua concretização foi realizado um estudo teórico de autores renomados, os quais são citados ao longo deste trabalho, atuantes nas áreas relacionadas à sociolinguística, variedades e preconceito linguístico. A pesquisa bibliográfica realizou-se com a finalidade de embasar teoricamente a pesquisa. Podemos afirmar, de acordo com Goldenberg (2009), que a teoria “é um conjunto de princípios e definições que servem para dar organização lógica e aspectos selecionados da própria realidade empírica”. Uma das principais fontes de inspiração para este trabalho foi o livro Preconceito Linguístico, de Marcos Bagno. Os sujeitos da pesquisa de campo foram dez docentes, cujos nomes não serão divulgados, de três escolas da rede particular de ensino, dentre as quatro dessa modalidade localizadas na cidade de Muriaé, Minas Gerais. Esta análise teve participação somente de professores de Língua Portuguesa, que lecionam no Ensino Fundamental e Ensino Médio. Para realização deste estudo foi aplicada uma pesquisa qualitativa. A opinião dos docentes foi analisada através da aplicação de questionários, relacionados a opiniões contra abordar ou valorizar a variedade linguística em sala de aula. O questionário aplicado na pesquisa é composto por doze afirmações, com escala de zero a cinco, a qual os docentes foram orientados a selecionar, em cada afirmativa, a opção mais adequada à sua realidade em sala de aula. 26 RESULTADOS E DISCUSSÃO Diante da análise dos questionários aplicados foi possível analisar a postura dos docentes, de acordo com suas opiniões, contrárias ou favoráveis, em relação a abordagem e valorização da variedade linguística em sala de aula. Conforme já foi mencionado, o questionário, instrumento de análise da presente pesquisa, contêm doze afirmativas de múltipla escolha, fundamentadas em uma escala de zero a cinco, entre as quais os professores optaram, individualmente, de acordo com a frequência em que ocorrem tais situações em sua prática docente. Para termos uma visão ampla do tema abordado na pesquisa analisaremos cada afirmativa e a opção escolhida pela maioria dos docentes. 1ª Afirmativa: Corrijo meus alunos quando cometem erros, mostrando-os a forma padrão de se pronunciar determinada palavra. Dentre os dez docentes analisados, 78% manifestaram que corrigem seus alunos quando “erram” a pronúncia de alguma palavra. A princípio, espera-se que um professor de Língua Portuguesa oriente seus alunos quanto ao uso da norma padrão da língua. Entretanto, essa correção não deve ser constrangedora para os alunos e nem ocorrer de forma que desvalorize as demais variedades linguísticas. 2ª Afirmativa: Trabalho com personagens, como por exemplo o Chico Bento de Maurício de Souza, com o intuito de exemplificar e incentivar a tolerância entre os alunos em relação às variações da língua. 27 Ao analisar esta afirmativa constatou-se que 70% dos discentes valorizam as variedades linguísticas. Ficou comprovado que a maioria utiliza personagens de tirinhas como Chico Bento, entre outros, em suas aulas. Esta atitude incentiva a tolerância entre os alunos em relação as suas características culturais, sociais e regionais. 3ª Afirmativa: Considero normal algum aluno meu deixar de frequentar a escola por sentir-se inferior em relação aos outros pelo fato de usar alguma variação da língua diferente do padrão. Em relação a esta afirmativa, concluiu-se que 20% dos docentes avaliados consideram normal o fato de algum aluno deixar de frequentar a escola por sentir-se inferior aos demais, como consequência da utilização de uma variedade diferente da norma padrão. É importante observarmos que esta opinião é contrária ao papel da escola, que deve promover a inclusão e garantir o direito a educação para todos. O número obtido na análise dessa afirmativa, apesar ser a opinião da minoria dos professores, ainda é alarmante, pois o ideal é que a preocupação com a evasão escolar seja unanimidade, especialmente por parte dos educadores. 4ª Afirmativa: Promovo debates acerca das distintas formas de comunicação dos indivíduos em distintos momentos e contextos sociais. O assunto sobre variações linguísticas e o contexto social no uso da linguagem é debatido com frequência com os alunos por 76% dos docentes. A promoção destes debates é essencial para conscientizar os alunos de que a norma padrão não é a única forma “correta” de linguagem. O discurso pode e deve ser alterado de acordo com os interlocutores e a situação comunicacional. 5ª Afirmativa: Participo de eventos palestras e/ou seminários acerca da variação linguística e preconceito linguístico. A participação em seminários em eventos e/ou seminários é importante para a conscientização dos docentes, e, consequentemente dos alunos, em 28 relação as variedades linguísticas e os preconceitos decorrentes da falta de informação. Apenas 56% dos professores revelaram participar de tais eventos. Quase a metade, quer seja por falta de oportunidade ou falta de interesse, não participam de eventos relacionados aotema da pesquisa. Este resultado estabelece um dado alarmante, tendo em vista a necessidade de formação dos educadores para seja evitado toda forma de preconceito linguístico e haja uma transmissão desses conhecimentos para os alunos de uma forma eficaz. 6ª Afirmativa: O preconceito linguístico e a variação devem ser abordados de forma interdisciplinar. O resultado das respostas em relação a esta afirmativa revela que 74% dos docentes acreditam que o que os temas relacionados a variedade e ao preconceito linguístico devem ser abordados de forma interdisciplinar. Apesar do tema estar mais relacionado a disciplina de Língua Portuguesa, combater o preconceito linguístico e orientar sobre as variedades não é função exclusiva do docente dessa área, mas deve ser o papel de todo educador, 7ª Afirmativa: Quando participo da escolha de livros didáticos, opto por edições que não abordem discussões sobre variedades linguísticas. 24% Na análise dessa afirmativa comprova-se que apenas 24% dos docentes optam por edições livros didáticos que não abordam discussões sobre variedades linguísticas. A escolha de livros didáticos que abordem assuntos relacionados a este tema é essencial na formação dos alunos, pois a partir da abordagem e discussões relacionadas ao assunto o preconceito será combatido de forma mais eficaz. 8ª Afirmativa: Procuro ressaltar a supremacia da norma padrão sobre as outras variedades. Dentre os docentes analisados 42% ainda acreditam e destacam a superioridade da norma padrão de língua. De acordo com os estudos de sociolinguística apresentado nos primeiros capítulos deste trabalho podemos 29 afirmar que os alunos devem ser orientados sobre a importância da aprendizagem da norma padrão da língua. Contudo, colocá-la como superior as demais variedades é uma atitude que estimula o preconceito linguístico. 9ª Afirmativa: O aluno deve apresentar os trabalhos orais seguindo a norma padrão. Nas respostas dadas a esta afirmativa constatou-se que 82% dos professores manifestaram intolerância ao uso de variedades linguísticas na apresentação de trabalhos orais, sendo exigido a norma padrão. Esta exigência de padronização da linguagem em trabalhos orais pode ser considerada um indicador de que ainda há muita intolerância em relação às outras variedades. O uso adequado da norma padrão da língua deve ser avaliado nos trabalhos escritos. Dessa forma, os alunos que utilizam outras variedades na fala não serão constrangidos em sala de aula. 10ª Afirmativa: A escola deve ensinar exclusivamente a norma padrão. De acordo com 44% dos docentes analisados, a função da escola é ensinar exclusivamente a norma padrão. Respeitar as variedades de cada aluno, de acordo com o seu contexto sociocultural, não exclui a escola, e, consequentemente o docente de Língua Portuguesa de sua função de ensinar a norma padrão da língua. As outras variedades devem ser respeitadas e não ensinadas, pois não fazem parte da grade curricular. 11ª Afirmativa: Vejo as variações linguísticas como desvios da norma padrão. Ao concordarem com esta afirmativa, 38% dos docentes demonstraram ainda ter preconceito em relação as outras variedades. Considerá-las como desvio da norma padrão da língua ressalta a superioridade de uma variedade em relação a outra e estimula o preconceito. 12ª Afirmativa: Vejo as variações linguísticas como fenômenos que enriquecem a língua. 30 Dentre os dez docentes avaliados 84% consideram as variedades linguísticas como fenômenos enriquecedores da língua. Este aumento de percentual é positivo, pois demonstra avanço no combate ao preconceito linguístico e aceitação das outras variedades. 31 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nas considerações finais deste trabalho, é valido ressaltar, que através dos estudos e pesquisas realizadas, tivemos a oportunidade de reconhecer a importância da abordagem e valorização das variedades linguísticas em sala de aula. Foram apresentados os fatores e a mitologia que envolvem o preconceito linguístico em relação às variedades que não pertencem a norma padrão da língua. Através da análise da pesquisa de campo realizada foi possível constatar que já está ocorrendo um grande avanço nesta área. Pois, a maioria dos docentes entrevistados se mostraram favoráveis a abordagem do tema em sua prática docente. Entretanto, é preciso reconhecer, que apesar da maioria dos docentes serem favoráveis a valorização das variedades ainda há um longo caminho a ser percorrido no combate ao preconceito. Pode-se comprovar na análise da pesquisa que o preconceito linguístico ainda ocorre nas salas de aula. Enfim, o presente trabalho aponta para a importância da reflexão e abordagem do tema relacionado as variações linguísticas. Destacamos que o papel do professor é conscientizar os alunos, mostrando que as variedades existem e devem ser respeitadas. Portanto, não deve existir nenhum tipo de preconceito, seja ele racial, social ou linguístico. Vejamos o que diz o PCN de Língua Portuguesa: O problema do preconceito disseminado na sociedade em relação às falas dialetais deve ser enfrentado, na escola, como parte do objetivo educacional mais amplo de educação para o respeito à diferença. Para isso, e também para poder ensinar Língua Portuguesa, a escola precisa livrar-se de alguns mitos: o de que existe uma única forma “certa” de falar [...] além de desvalorizar a forma de falar do aluno, tratando sua comunidade como se fosse formada por incapazes, denota desconhecimento de que a escrita de uma língua não corresponde inteiramente a nenhum de seus dialetos, por mais prestígio que um deles tenha em um dado momento histórico.” (PCN, 1997, p. 31) 32 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRIGHT, W. As dimensões da Sociolinguística. In: FONSECA, M.S. & NEVES, M.F. (orgs.) Sociolinguística. Rio de Janeiro. Eldorado:1974.p.34 CAMACHO, R. A variação Linguística. In: Subsídios à proposta curricular de língua portuguesa para o segundo grau. São Paulo, CENP, Secretaria do estado da educação, v. IV, 1978, p.17. DUARTE, Vânia Maria Do Nascimento. "Variações Linguísticas"; Brasil Escola. Disponível em <http://www.brasilescola.com/gramatica/variacoes- linguisticas.htm>. Acesso em 21 de novembro de 2015. BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo: Parábola editorial: 2007, p.36 Referência: MUSSALIM, Fernanda (Org.); BENTES, Anna Christina (Org.). Introdução à linguística: domínios e fronteiras, v.2. 1. ed. São Paulo: Cortez, 2001. BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico: o que é, como se faz. São. Paulo: edições Loyola, 1999. BAGNO, Marcos. PERINI, Mário A. Sofrendo a gramática, 1ª Ed. São Paulo: Editora Ática, 1997 p.13. (BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. "Parâmetros curriculares nacionais". Brasília: MEC/SEF, 1998. Fragmentos, p. 28, 29 e 31.) 33 BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Nós cheguemu na escola, e agora? Sociolinguística na sala de aula. São Paulo: Parábola Editorial, 2005. (DICIONÁRIO Michaelis. São Paulo: Melhoramentos, 2009. Disponível em: <http://www.uol.com.br/michaelis > Acesso em:10 jan. 2016.)
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