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TCC - O preconceito linguístico na sala de aula

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6 
 
 
FACULDADE SANTA MARCELINA 
Curso de Letras 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O PRECONCEITO LINGUÍSTICO NA SALA DE AULA 
por 
Mônica Camargo Batista Barbosa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Muriaé 
2016 
7 
 
FACULDADE SANTA MARCELINA 
Curso de Letras 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O PRECONCEITO LINGUÍSTICO NA SALA DE AULA 
por 
Mônica Camargo Batista Barbosa 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado como requisito parcial para 
obtenção do título de licenciatura em 
Letras pela Faculdade Santa Marcelina. 
Orientador: Prof. Msc. Emerson Lopes 
Cruz 
 
 
 
 
 
Muriaé 
2016 
8 
 
FACULDADE SANTA MARCELINA 
Curso de Letras 
 
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO 
 
 
 
 
TÍTULO: O PRECONCEITO LINGUÍSTICO NA SALA DE AULA 
 
 
ACADÊMICA: Mônica Camargo Batista Barbosa 
 
ORIENTADOR: Prof. Msc. Emerson Lopes Cruz 
 
 
AVALIAÇÃO: _____________________________________________ 
_____________________________________________ 
 
DATA: _____/_____/_____ 
 
 
 
 
 
 
Muriaé 
2016 
9 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço a Deus em primeiro lugar, que iluminou o meu caminho durante esta 
caminhada e permitiu que este sonho se tornasse realidade. 
 
Agradeço de maneira especial ao meu esposo Winston. Obrigada pеlа 
paciência. incentivo, pelas renuncias e principalmente pelo seu amor. Esta vitória 
também é sua. 
 
Agradeço aos meus pais João Batista e Maria da Glória, meus irmãos Kelly, 
Larissa e João Marcos, que me estimularam durante todo o tempo e torceram 
para a concretização dos meus projetos. 
 
À minha sogra Luzia. Obrigada pelo carinho, incentivo e por sempre se alegrar 
com minhas realizações. 
 
Ao meu orientador Emerson, pela paciência, dedicação e ensinamentos que 
possibilitaram que eu realizasse este trabalho. 
 
A esta faculdade e a todos оs docentes dо curso de Letras, qυе foram tão 
importantes na minha vida acadêmica e me proporcionaram as condições 
necessárias para que eu alcançasse meus objetivos. 
 
Às minhas amigas e companheiras de curso, pelo incentivo е apoio constantes. 
 
Enfim, agradeço a todos que contribuíram para a realização deste trabalho, seja 
de forma direta ou indireta, fica registrado aqui, o meu muito obrigado! 
 
 
 
 
10 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
[...] de todos os conjuntos de superstições infundadas que compõem a cultura 
brasileira, nenhum é tão resistente, parece, quanto o das ideias preconcebidas 
que impregnam nosso imaginário a respeito de línguas em geral e, mais 
especificamente, da língua que falamos (BAGNO 2003, p. 15). 
11 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 06 
1- VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS......................................................................08 
2- O PRECONCEITO LINGUÍSTICO E O PAPEL DA ESCOLA.................... 13 
2.1- A mitologia do preconceito linguístico..................................................14 
2.2 – O papel da escola............................................................................ .......16 
3- METODOLOGIA............................................................................................19 
4- RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................20 
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................ 
ANEXO............................................................................................................. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÂO 
 
O presente trabalho compõe um dos requisitos curriculares necessários 
para a conclusão da graduação no curso de Letras da Faculdade Santa 
Marcelina. Com o objetivo de verificar a incidência do preconceito linguístico na 
sala de aula, este trabalho foi desenvolvido através de pesquisa bibliográfica, 
para embasamento teórico e uma pesquisa de campo com docentes da rede 
particular de ensino da cidade de Muriaé, Minas Gerais. 
Apesar da Língua Portuguesa não ter surgido no Brasil, pois foi 
implantada no continente Sul- americano pela colonização portuguesa, este é o 
maior país falante desta língua no mundo. Entretanto, a língua portuguesa 
utilizada no Brasil não é uniforme, uma de suas características é possuir uma 
imensa pluralidade linguística, tendo em vista suas diversas regiões e 
respectivas diferenças nas questões de uso. Conforme Rodrigues e Figueiredo 
(2007, p. 17), “[...] não existe uma norma única, mas sim uma pluralidade de 
normas, normas distintas segundo os níveis sociolinguísticos e as circunstâncias 
da comunicação”. 
É um fato recorrente no contexto escolar, o ensino da Língua Portuguesa 
enfocar somente a reprodução do “português correto”, apresentando a norma 
padrão como a única variedade adequada. Esta atitude despreza as demais 
variedades, gerando o preconceito linguístico. Bagno (1999, p.40), faz a seguinte 
observação: 
 
O preconceito linguístico se baseia na crença de que existe [...] 
uma única língua Portuguesa digna deste nome e que seria a 
língua ensinada nas escolas, explicada nas gramáticas e 
catalogada nos dicionários. Qualquer manifestação linguística 
que escape desse triângulo escola-gramática-dicionário é 
considerada, sob a ótica do preconceito linguístico, “errada, feia, 
estropiada, rudimentar, deficiente”. 
 
 
13 
 
O preconceito linguístico ocorre com frequência nas salas de aula. Não é 
raro acontecer correções rígidas e abordagem inadequada do aluno falante de 
uma variedade linguística que difere da maioria da turma ou do professor. Tais 
correções podem influenciar diretamente no desenvolvimento cognitivo e 
desempenho do aluno na disciplina de Língua Portuguesa. 
Tendo como título “O preconceito linguístico dentro da sala de aula”, este 
Trabalho de Conclusão de Curso está estruturado em dois capítulos, uma 
pesquisa de campo qualitativa, sua análise, metodologia e conclusão. O primeiro 
capítulo trata do tema “Variação linguística” e segundo “O preconceito linguístico 
e o papel da escola”. O principal objetivo deste trabalho é analisar as possíveis 
ocorrências do preconceito na atividade docente e refletir sobre o tema do 
preconceito linguístico, que ainda precisa ser superado no ensino de Língua 
Portuguesa no Brasil. A problematização desta pesquisa é: Os professores da 
rede de ensino particular de Muriaé manifestam-se contrários ou favoráveis a 
abordagem e a valorização da variedade linguística em sala de aula? Com que 
frequência, numa escala de 0 a 5, ocorre o preconceito linguístico nestas 
escolas? 
Espera-se, através desta pesquisa, contribuir no combate ao preconceito 
linguístico e conscientizar, especialmente aos educadores que ainda não 
despertaram para esta realidade, sobre a importância de valorizar e respeitar 
todas as variedades linguísticas. De acordo com os PCN’S de Língua 
Portuguesa, as variedades linguísticas são fenômenos sociais inerentes à língua 
e podem ser utilizadas de acordo com as situações comunicativas e seus 
interlocutores. 
 
“A questão não é falar certo ou errado, mas saber qual forma de 
fala utilizar, considerando as características do contexto de 
comunicação, ou seja, saber adequar o registro às diferentes 
situações comunicativas.(...) É saber, portanto, quais 
variedades e registros da língua oral são pertinentes em função 
da intenção comunicativa, do contexto e dos interlocutores a 
quem o texto se dirige”. (PCN, 1997, p. 31) 
 
 
 
 
 
 
14 
 
 
 
 
1. VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS 
 
 A linguagem é a principal característica que nos distingue dos demais 
seres vivos. Ela está diretamente ligada à nossa capacidade de expressar 
sentimentos, opiniões, conhecimentos e nos incluir na convivência social. Ela 
permite ao ser humano estabelecer contato com o outro e promove a interação. 
A língua é uma das manifestações que possibilitam esta comunicação. Sendo 
um conjunto organizado de elementos e símbolos, que podem se manifestar de 
forma oral, escrita ou gestual, a língua surge em sociedade e é desenvolvida por 
todos os grupos humanos. “E toda a nossa vida em sociedade supõe um 
problema de intercâmbio e comunicação que se realiza fundamentalmente pela 
língua, o meio mais comum de que dispomos para tal” (Infante, 1995, p.17). 
Entre os fatores relacionados à língua destacam-se os níveis da fala, que 
são essencialmente dois: o nível de formalidade e o de informalidade. O padrão 
formal limita-se às normas gramaticais de um modo geral e está ligado à escrita. 
O padrão informal, em muitas situações, é caracterizado por uma visão 
preconceituosa que o representa como uma posição de menor prestígio. Uma 
pessoa que fala ou escreve fora dos padrões de formalidade é considerada 
‘inculta’ e não raras vezes é estigmatizada como ‘ignorante’. Esta é uma das 
razões pela qual o padrão formal da língua passou a exercer uma total soberania 
em relação ao padrão informal, tornando-se sinônimo de cultura e ascensão 
social. 
 
 
[...] as variedades faladas pelos grupos de maior poder político 
e econômico passam a ser vistas como variedades mais bonitas 
e até mais corretas. Mas essas variedades, que ganham 
prestígio porque não faladas por grupos de maior poder, nada 
têm de intrinsecamente superior às demais. O prestígio que 
adquirem é mero resultado de fatores políticos e econômicos. O 
dialeto (ou variedade regional) falado em uma região pobre pode 
vir a ser considerado um dialeto “ruim”, enquanto o dialeto falado 
em uma região rica e poderosa passa a ser visto como um “bom” 
dialeto. (BORTONI, Ricardo 2004, p.34) 
 
15 
 
 
Estes elementos citados acima são estudados pela Sociolinguística, que 
é uma das subáreas da Linguística. Apesar de ser uma definição 
excessivamente simplificadora, podemos afirmar que ela estuda a língua 
utilizada dentro das comunidades de fala. Seu principal campo de pesquisa é o 
estudo da relação entre língua e sociedade, tendo como objeto de trabalho a 
variedade linguística. Para isto, leva em conta a origem, idade, sexo, 
escolaridade, aspecto financeiro, entre outros fatores. Seu foco não é 
demonstrar os desníveis sociais, mas ressaltar que o homem, um ser sociável, 
é capaz de compreender e de se fazer compreender em um processo de 
interação. 
A sociolinguística teve início em meados do século XX, quando William 
Bright (1966) e Joshua Fishman (1972), passaram a incorporar os aspectos 
sociais em suas descrições linguísticas. Entretanto, é importante ressaltar que o 
estabelecimento da Sociolinguística em 1964 foi antecedido por vários linguistas, 
que já desenvolviam pesquisas de articulação da linguagem com aspectos 
culturais e de ordem social, entre eles Antoine Meillet (1866-1936), Mikhail 
Bakhtin (1895-1975) e membros do Círculo Linguístico de Praga. No início do 
século XX, o aspecto social da língua teve grande relevância no trabalho do 
linguista Ferdinand de Saussure, que caracterizava a língua como um produto 
social da faculdade da linguagem. Estes estudiosos já levavam em conta o 
contexto sociocultural e a comunidade de fala em suas pesquisas linguísticas. 
De acordo com William Bright (apud Preti 2000, p.16), a diversidade linguística 
se encontra relacionada aos vários fatores definidos socialmente. Em princípio 
são três: a dimensão do emissor, a do receptor e a da situação ou contexto. Ele 
foi um dos pioneiros na definição da diversidade linguística como o foco principal 
de estudo da Sociolinguística e sua proposta para a sociolinguística é 
“demonstrar a covariação sistemática das variações linguística e social. Ou seja, 
relacionar as variações linguísticas observáveis em uma comunidade às 
diferenciações existentes na estrutura social desta mesma sociedade” (Bright, 
1974, p.34). 
 William Labov, deu continuidade aos estudos de William Bright, e 
descreveu a heterogeneidade linguística, pois, segundo ele, todo fato linguístico 
está relacionado a um fato social, e a língua sofre implicações de ordem 
16 
 
fisiológica e psicológica. Este linguista americano ficou conhecido por ser o 
representante da teoria da variação linguística. Ele analisou em suas pesquisas 
as variações contidas na fala, especialmente a influência mútua do urbano e o 
rural. O autor expõe que o falar rural, muitas vezes ridicularizado, sofre influência 
em contato com o urbano, ocasionando mudança no seu contexto natural. De 
acordo com Christian Baylon (2000, p.26) a sociolinguística, que anteriormente 
preocupava-se basicamente em descrever as diversas variedades dentro de 
uma sociedade, nos dias atuais engloba praticamente tudo o que diz respeito ao 
estudo da linguagem em seu contexto sociocultural. Sob esta perspectiva não 
há como deixar de considerar a etnografia da comunicação como uma 
subdisciplina da sociolinguística. 
 A primeira constatação no estudo de uma comunidade linguística é a 
existência da variação. Nenhuma língua se apresenta como uma entidade 
homogênea. A sociolinguística denomina esses diferentes modos de falar de 
‘variedades linguísticas’, as quais considera uma qualidade constitutiva do 
fenômeno linguístico. As variações ressaltadas na língua podem ser 
relacionadas a vários fatores e podem ser descritas a partir de dois parâmetros 
fundamentais: a variação geográfica (diatópica) e a variação social (diastrática). 
No capítulo ‘Sociolinguística’ do livro ‘Introdução à linguística: domínios e 
fronteiras’ (Mussalim, 2001, p.34) temos uma visão clara destas variações. 
Segundo os autores desta obra, a variação diatópica é evidenciada entre falantes 
de origens geográficas distintas. Por isto, está relacionada às diferenças 
linguísticas distribuídas no espaço físico. São os chamados dialetos, que são 
marcas determinantes indicativas de regiões diferentes. Por exemplo, entre os 
falantes brasileiros procedentes de estados diferentes é possível perceber de 
maneira clara as diferenças fonéticas e gramaticais. Os sotaques também fazem 
parte desta modalidade, porém estão ligados às características orais da língua. 
Por outro lado, a variação diastrática está relacionada com a identidade do 
falante e a organização sociocultural da comunidade de fala. Esta expressão 
vem do prefixo grego "dia " que significa "através de" e o radical latino "estrato" 
que significa "camada". Estas variações ocorrem de uma camada social para 
outra, ou seja, as diferenças entre os estratos socioculturais (nível culto, nível 
popular, língua padrão). Alguns fatores relacionados às variações de natureza 
social são a classe social, idade e sexo. Podemos destacar as gírias de 
17 
 
diferentes faixas etárias, a linguagem coloquial e os jargões pertencentes a 
determinadas classes profissionais. É importante destacar que a língua padrão 
também é uma variedade social. 
As variações estilísticas ou registros são aquelas relacionadas ao 
contexto. Os falantes diversificam sua fala, usando estilos diferentes, de acordo 
com as ocorrências interacionais.Para Monteiro (2000, p. 71): “O ambiente e a 
ocasião em que a linguagem é usada, acarretará algumas consequências. Em 
palestras acadêmicas e ocasiões cerimoniosas, por exemplo, é provável que o 
falante selecione uma linguagem mais formal do que em festinhas infantis ou 
almoços em família”. De acordo com Roberto Gomes Camacho, esta 
acomodação linguística “decorre de uma seleção dentre o conjunto de formas 
que constitui o saber linguístico individual, de um modo mais ou menos 
consciente” (Camacho, 1978, p.17). 
 A evolução da língua é composta pelas variações e mudanças que 
ocorrem nos vários subsistemas constitutivos de uma língua (fonético, 
morfológico, fonológico, sintático, léxico e semântico). Estas variações 
comprovam o dinamismo da linguagem, que sofre alterações ao longo do tempo. 
Muitas destas mudanças ocorrem de maneira quase imperceptível para os 
falantes contemporâneos de determinada língua. Faraco (1991, p.14) descreve 
esta realidade ao afirmar que “a língua escrita é normalmente mais conservadora 
que a língua falada e o contraste entre as duas pode levar-nos a perceber 
fenômenos inovadores em expansão na fala e que não entram na escrita”. 
Entretanto, apesar das alterações da linguagem escrita passarem por um 
processo mais longo do que na fala, estas transformações são frequentes e 
necessárias. As mudanças diacrônicas na ortografia, muitas vezes, tornam 
algumas palavras quase incompreensíveis. Este fragmento do texto de Carlos 
Drummond de Andrade comprova este fato: “antigamente, as moças chamavam-
se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: 
completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo sendo rapagões, 
faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo 
do balaio". Comparando este texto à atualidade percebemos que nele existem 
certas expressões que já se encontram em desuso, tais como: mademoiselles, 
prendadas, janotas, pé-de-alferes, balaio. Este é um vocabulário possivelmente 
incompreensível para alguns falantes da língua atual. 
18 
 
 Enfim, para a sociolinguística, a variedade linguística é um pressuposto 
essencial, que norteia e auxilia a observação, a descrição e a interpretação do 
comportamento linguístico. Os falantes, geralmente, dão continuidade à 
linguagem que aprenderam em sua educação e convivência. Tais variações são 
produtos de sua história e de seu presente. É importante ressaltar que não 
existem variedades linguísticas inferiores. Ainda na obra citada acima 
‘Introdução à linguística: domínios e fronteiras’ encontramos respaldo para esta 
afirmação: 
 
Toda língua é adequada à comunidade que a utiliza, é um 
sistema completo que permite a um povo exprimir o mundo físico 
e simbólico em que vive. É absolutamente impróprio dizer que 
há línguas pobres em vocabulários. Não existem também 
sistemas gramaticais imperfeitos. [...] Assim como não existem 
línguas “inferiores”, não existem variedades linguísticas 
“inferiores”. (Mussalim, Fernanda (Org.); Bentes, Anna Christina 
(Org.), 2001, p.34) 
 
 Portanto, é necessário identificar e combater todos os preconceitos 
relacionados às variações linguísticas em qualquer nível em que ocorram. 
Marcos Bagno, um renomado doutor em filologia, linguista e escritor brasileiro, 
em várias de suas obras, expõe de maneira clara essa realidade. Tomemos 
como exemplo este fragmento do livro ‘Nada na língua é por acaso – por uma 
pedagogia da variação linguística’: 
 
A grande maioria das pessoas acha muito mais confortável e 
tranquilizador pensar na língua como algo que já terminou de se 
construir, como uma ponte firme e sólida, por onde a gente pode 
caminhar sem medo de cair e de se afogar na correnteza 
vertiginosa que corre lá embaixo. Mas essa ponte não é feita de 
concreto, é feita de abstrato... O real estado da língua é o das 
águas de um rio, que nunca param de correr e de se agitar, que 
sobem e descem conforme o regime das chuvas, sujeitas a se 
precipitar por cachoeiras, a se estreitar entre as montanhas e a 
se alargar pelas planícies... (Bagno, 2007, p.36) 
 
 
 
 
 
19 
 
 
 
 
2. O PRECONCEITO LINGUÍSTICO E O PAPEL DA ESCOLA 
 
 Afinal, o que é preconceito linguístico? Esta é uma questão ainda 
desconhecida por muitos. O termo preconceito linguístico é comum entre 
estudiosos e leitores da sociolinguística. Entretanto, não é amplamente 
divulgado e esclarecido como deveria em nossa sociedade, pois este tipo de 
preconceito é uma realidade presente em nosso dia a dia e atinge direta ou 
indiretamente a maioria das pessoas. Para compreendermos melhor o 
significado de preconceito linguístico é relevante iniciarmos pelo sentido de 
preconceito de uma maneira geral. As definições do dicionário Michaelis são 
bastante esclarecedoras: 
 
sm (pre+conceito) 
1 Conceito ou opinião formados antes de ter os conhecimentos 
adequados. 
2 Opinião ou sentimento desfavorável, concebido 
antecipadamente ou independente de experiência ou razão. 
3 Superstição que obriga a certos atos ou impede que eles se 
pratiquem. 
4 Social. Atitude emocionalmente condicionada, baseada em 
crença, opinião ou generalização, determinando simpatia ou 
antipatia para com indivíduos ou grupos. 
 
 
 Baseado nos estudos da sociolinguística, podemos afirmar que o 
preconceito linguístico está diretamente ligado ao preconceito social, pois é uma 
discriminação sem fundamento que atinge falantes, geralmente de classes 
menos favorecidas, que por motivos sociais, históricos ou culturais não se 
utilizam da norma padrão da língua. De acordo com o linguista Marcos Bagno 
(1999, p. 9), o preconceito linguístico está ligado, em boa medida, à confusão 
que foi criada ao longo da história, entre língua e gramática normativa. Ele 
enfatiza que a gramática descreve a norma culta, que é uma parcela da 
totalidade da língua, porém ela não é a língua. Essa confusão, que precisa ser 
20 
 
desfeita urgentemente, está na base da ideologia geradora do preconceito 
linguístico. 
Nenhuma língua se apresenta como uma entidade homogênea. As 
línguas variam, e essas variações, que estão relacionadas a vários fatores, 
podem ser apresentadas a partir de dois parâmetros essenciais: a variação 
geográfica e a social. Todas as pessoas, inclusive aquelas com algum tipo de 
deficiência, necessitam comunicar-se e adotam sistemas compatíveis para que 
isso ocorra. Por exemplo, as pessoas portadoras de deficiência auditiva utilizam 
a linguagem de sinais. Da mesma forma, cada grupo social ou geográfico 
emprega um vocabulário específico, com suas idiossincrasias, manifestando sua 
cultura e história. O falante nativo de uma língua é inteiramente competente em 
sua fala. Desde o seu nascimento possui formas internalizadas de linguagem. 
Ainda que não entenda nada de gramática, ele é capaz de produzir enunciados 
gramaticalmente corretos, ou seja, de acordo com as regras de funcionamento 
de uma língua. Mário Perini, em seu livro ‘Sofrendo a gramática’, nos fala desse 
conhecimento implícito que cada falante possui: 
 
 /.../ qualquer falante de português possui um conhecimento 
implícito altamente elaborado da língua, muito embora não seja 
capaz de explicitar esse conhecimento. E veremos que esse 
conhecimento não é fruto de instrução recebida na escola, mas 
foi adquirido de maneira tão natural e espontânea quanto a 
nossa habilidade de andar. Mesmo pessoas que nunca 
estudaram gramática chegam a um conhecimento implícito 
perfeitamente adequado da língua. São como pessoas que não 
conhecem a anatomia e a fisiologia das pernas, mas que andam, 
dançam,nadam e pedalam sem problemas (Perini, 1997, p.13). 
 
 
O Brasil, um país de dimensões colossais, apresenta uma enorme 
variedade na modalidade oral da língua. Este fato pode ser evidenciado através 
dos diferentes sotaques encontrados em cada região do país. Compreender a 
essência dessas variações e respeitá-las é o primeiro passo para combater o 
preconceito linguístico. Infelizmente, a intolerância e preconceito diante das 
variações linguísticas é recorrente em nosso país. Ainda ocorre a divisão dos 
falantes em dois grupos: aqueles que falam o português de maneira ‘correta’ e 
os que falam ‘errado’. Bagno, nos alerta sobre a importância de a sociedade 
21 
 
combater esse tipo de preconceito tanto quanto os outros preconceitos são 
combatidos e colocados em evidência: 
 
 Se queremos construir uma sociedade tolerante, que valorize a 
diversidade, uma sociedade em que as diferenças de sexo, de 
cor de pele, de opção religiosa, de idade, de condições físicas, 
de orientação sexual não sejam usadas como fator de 
discriminação e perseguição, temos que exigir também que as 
diferenças nos comportamentos linguísticos sejam respeitadas 
e valorizadas. (Bagno 2009, p.28) 
 
2.1. A Mitologia do preconceito linguístico 
 
Bagno (2009 p.13) em seu livro ‘Preconceito linguístico – o que é, como 
se faz’, alerta para o papel da mídia, que através dos meios de comunicação, na 
pretensão de ensinar o que é ‘certo’ e ‘errado’, contribui diariamente para a 
disseminação do preconceito linguístico. O autor também critica os instrumentos 
tradicionais de ensino da língua, isto é, a gramática normativa e os livros 
didáticos. Segundo Bagno, esses instrumentos, quando mal aplicados, tornam-
se geradores de preconceito. Ele fala da importância de rompermos com a 
‘mitologia do preconceito linguístico’, que são um conjunto de estereótipos 
enraizados na mentalidade dos brasileiros. Abaixo estão descritos, de maneira 
resumida, oito mitos destacados pelo autor: 
 ‘A língua portuguesa apresenta uma unidade surpreendente’ - Ao 
contrário do que é afirmado através desse mito, o português falado no Brasil é 
bem diversificado. A norma linguística é muitas vezes imposta pela escola como 
se fosse realmente comum a todos os falantes brasileiros, porém no Brasil ocorre 
um verdadeiro abismo linguístico entre os falantes da linguagem padrão e não 
padrão, que são a maioria da população. Algumas das causas desse abismo são 
as diferenças sociais e culturais. 
‘Brasileiro não sabe português / Só em Portugal se fala bem português’ - 
Segundo o autor, estas afirmações refletem o complexo de inferioridade ainda 
existente por termos sido colônia de um país mais antigo e mais ‘civilizado’. Para 
combater esse mito é importante que haja a compreensão de que as 
necessidades linguísticas de cada país são diferentes e atendem as suas 
próprias realidades. O português falado no Brasil já se distanciou, e muito, do 
português falado em Portugal, as diferenças são tão grandes que muitas vezes 
22 
 
acontecem dificuldades de compreensão. A semelhança entre a língua utilizada 
pelos dois países ocorre na língua escrita formal, porque a ortografia é 
praticamente a mesma. 
 ‘Português é muito difícil’ - Uma das causas desta afirmação parecer tão 
real para tantos falantes da língua portuguesa é o fato de acontecer uma 
cobrança indevida, por parte do ensino tradicional, de uma norma gramatical que 
não corresponde à realidade da língua falada no Brasil. Somos obrigados a 
decorar normas e regras que não utilizamos nas situações comunicacionais a 
que estamos expostos. O brasileiro sabe português, e como falante nativo é 
capaz empregar com naturalidade as regras básicas de funcionamento de sua 
língua. 
‘As pessoas sem instrução falam tudo errado’ - Neste caso, o preconceito 
linguístico é decorrente de um preconceito social. Geralmente as pessoas 
vítimas desse preconceito pertencem às classes sociais menos privilegiadas, 
que não têm acesso à educação formal. São discriminadas porque falam de 
maneira distinta da língua que é ensinada na escola. 
 ‘O lugar onde melhor se fala português no Brasil é o Maranhão’ - Bagno 
esclarece que esta afirmação não tem nenhum fundamento científico. Uma 
possível causa do surgimento desse mito é o fato de nesta localidade ainda se 
preservar com regularidade o uso do pronome tu, seguido das formas verbais 
clássicas, o que não é comum no resto do país. Essa particularidade, de um 
único aspecto da linguagem literária, coincide com o português falado em 
Portugal. O português falado no Maranhão não é superior, nem inferior ao 
português falado no resto do país, é apenas mais uma variação linguística. 
‘O certo é falar assim porque se escreve assim’ - É necessário a ortografia 
oficial de uma língua, entretanto obrigar os falantes a pronunciarem as palavras 
da mesma forma é negar a existência das variações linguísticas e tentar criar 
uma língua falada ‘artificial’. 
 ‘É preciso saber gramática para falar e escrever bem’ - Mário Perini (1997 
p.50) em sua obra ‘Sofrendo a gramática’ afirma que não existe nenhuma 
evidência favorável a esta afirmação: “não existe um grão de evidência em favor 
disso; toda evidência disponível é em contrário”. Se este mito, que parece 
verídico para muitos, fosse condizente, poderíamos afirmar que todos os 
23 
 
gramáticos seriam grandes escritores, e os bons escritores seriam especialistas 
em gramática. 
‘O domínio da norma culta é um instrumento de ascensão social’ - Esse 
mito, da mesma forma que o primeiro descrito acima, tem uma relação direta 
com as questões sociais. O domínio da norma culta não irá resolver 
instantaneamente os problemas de um indivíduo carente, a educação é apenas 
uma das áreas que necessitam de assistência assim como a moradia, 
alimentação e saúde. 
 
2.2 O papel da escola 
 
No livro ‘Nós cheguemu na escola, e agora? Sociolinguística na sala de 
aula’ (Bortoni-Ricardo, Stella Maris, 2005 p.15. 24), encontramos a afirmação de 
que há pelo menos duas consequências desastrosas no ensino da língua culta 
à grande parcela da população, que tem como língua materna variedades 
populares da língua. A primeira consequência apontada é a de que não são 
respeitados os antecedentes culturais e linguísticos do educando, o que contribui 
para desenvolver nele um sentimento de insegurança. E a outra consequência é 
que também não lhe é ensinada de forma eficiente a língua padrão. A autora 
ressalta que a escola não pode ignorar as diferenças sociolinguísticas. É preciso 
que os professores conscientizem os alunos de que existem mais de uma 
maneira de dizer alguma coisa, e que essas formas alternativas servem a 
propósitos comunicativos distintos, e são recebidas de maneira diferente pela 
sociedade. É enfatizado que a maioria da população brasileira não tem acesso 
à força padronizadora da língua escrita. A precariedade da instrução escolar, o 
analfabetismo e a crise educacional no país impedem o acesso à língua padrão 
real, efetivamente usada pelas classes favorecidas. 
Muitos alunos, ao serem inseridos no ambiente escolar, são prontamente 
atingidos pelo preconceito em relação as variedades linguísticas. Ao iniciarem o 
processo de aprendizagem da norma padrão da língua, e perceberem as 
divergências em relação à própria linguagem utilizada, acabam por considerar 
‘errado’ tudo que haviam aprendido de maneira natural. Tal fato ocorre por não 
terem uma orientação adequada a respeito das diversas formas de utilização da 
linguagem, que variam de acordo com a situação comunicativa. O professor tem 
24 
 
um papel essencialna formação do aluno, e é seu dever ensinar a norma padrão, 
porém sem desfavorecer e rotular como ‘erros de português’ as variedades 
linguísticas trazidas pelos discentes. 
De acordo com os Parâmetros curriculares nacionais (PCNs,1997, p. 26), 
abranger a diversificação da fala é indispensável para o ensino de qualquer 
língua. Enfrentar o problema do preconceito linguístico difundido na sociedade 
deve ser parte do objetivo educacional da escola. O conhecimento e aceitação 
dessas variedades influencia diretamente no desenvolvimento linguístico do 
aluno. O documento do MEC adverte que a língua está em constante mudança 
e apresenta diversas variedades. A variedade padrão, também conhecida como 
norma culta, deve ser usada em ambientes formais, acadêmicos e na escrita. 
Enquanto as outras variedades podem ser utilizadas em ambientes não formais. 
O que precisa ser considerado não é o que é ‘certo’ ou ‘errado’. O importante é 
que o falante saiba adequar-se as diversas situações comunicativas. 
 
[...] No ensino-aprendizagem de diferentes padrões de fala e 
escrita, o que se almeja não é levar os alunos a falar certo, mas 
permitir-lhes a escolha da forma de fala a utilizar, considerando 
as características e condições do contexto de produção, ou seja, 
é saber adequar os recursos expressivos, a variedade de língua 
e o estilo às diferentes situações comunicativas: saber 
coordenar satisfatoriamente o que fala ou escreve e como fazê-
lo; saber que modo de expressão é pertinente em função de sua 
intenção enunciativa - dado o contexto e os interlocutores a 
quem o texto se dirige. A questão não é de erro, mas de 
adequação às circunstâncias de uso, de utilização adequada da 
linguagem. 
(Parâmetros curriculares nacionais, 1998, p.29) 
 
 
Combater o preconceito linguístico não significa de forma alguma diminuir 
o valor da gramática e do ensino da norma culta da língua. Se as regras não 
existissem, provavelmente viveríamos um verdadeiro caos linguístico e nossa 
língua portuguesa estaria condenada ao esquecimento. A gramática é essencial 
para a manutenção do idioma. O que a sociolinguística propõe é que sejam 
consideradas as duas modalidades do idioma: a oral e escrita, a linguagem 
coloquial e a linguagem culta. 
 
 
25 
 
 
 
 
 
 
3. METODOLOGIA 
 
O presente trabalho foi desenvolvido em duas etapas, estudo bibliográfico 
e pesquisa qualitativa, que teve como instrumento um questionário com 
questões de múltipla escolha. Antes de sua concretização foi realizado um 
estudo teórico de autores renomados, os quais são citados ao longo deste 
trabalho, atuantes nas áreas relacionadas à sociolinguística, variedades e 
preconceito linguístico. 
A pesquisa bibliográfica realizou-se com a finalidade de embasar 
teoricamente a pesquisa. Podemos afirmar, de acordo com Goldenberg (2009), 
que a teoria “é um conjunto de princípios e definições que servem para dar 
organização lógica e aspectos selecionados da própria realidade empírica”. Uma 
das principais fontes de inspiração para este trabalho foi o livro Preconceito 
Linguístico, de Marcos Bagno. 
Os sujeitos da pesquisa de campo foram dez docentes, cujos nomes não 
serão divulgados, de três escolas da rede particular de ensino, dentre as quatro 
dessa modalidade localizadas na cidade de Muriaé, Minas Gerais. Esta análise 
teve participação somente de professores de Língua Portuguesa, que lecionam 
no Ensino Fundamental e Ensino Médio. 
 Para realização deste estudo foi aplicada uma pesquisa qualitativa. A 
opinião dos docentes foi analisada através da aplicação de questionários, 
relacionados a opiniões contra abordar ou valorizar a variedade linguística em 
sala de aula. O questionário aplicado na pesquisa é composto por doze 
afirmações, com escala de zero a cinco, a qual os docentes foram orientados a 
selecionar, em cada afirmativa, a opção mais adequada à sua realidade em sala 
de aula. 
 
26 
 
 
 
 
 
 
RESULTADOS E DISCUSSÃO 
 
Diante da análise dos questionários aplicados foi possível analisar a 
postura dos docentes, de acordo com suas opiniões, contrárias ou favoráveis, 
em relação a abordagem e valorização da variedade linguística em sala de aula. 
Conforme já foi mencionado, o questionário, instrumento de análise da 
presente pesquisa, contêm doze afirmativas de múltipla escolha, fundamentadas 
em uma escala de zero a cinco, entre as quais os professores optaram, 
individualmente, de acordo com a frequência em que ocorrem tais situações em 
sua prática docente. 
Para termos uma visão ampla do tema abordado na pesquisa 
analisaremos cada afirmativa e a opção escolhida pela maioria dos docentes. 
 
1ª Afirmativa: Corrijo meus alunos quando cometem erros, mostrando-os a 
forma padrão de se pronunciar determinada palavra. 
 
Dentre os dez docentes analisados, 78% manifestaram que corrigem seus 
alunos quando “erram” a pronúncia de alguma palavra. A princípio, espera-se 
que um professor de Língua Portuguesa oriente seus alunos quanto ao uso da 
norma padrão da língua. Entretanto, essa correção não deve ser constrangedora 
para os alunos e nem ocorrer de forma que desvalorize as demais variedades 
linguísticas. 
 
2ª Afirmativa: Trabalho com personagens, como por exemplo o Chico Bento de 
Maurício de Souza, com o intuito de exemplificar e incentivar a tolerância entre 
os alunos em relação às variações da língua. 
 
27 
 
Ao analisar esta afirmativa constatou-se que 70% dos discentes valorizam 
as variedades linguísticas. Ficou comprovado que a maioria utiliza personagens 
de tirinhas como Chico Bento, entre outros, em suas aulas. Esta atitude incentiva 
a tolerância entre os alunos em relação as suas características culturais, sociais 
e regionais. 
 
3ª Afirmativa: Considero normal algum aluno meu deixar de frequentar a escola 
por sentir-se inferior em relação aos outros pelo fato de usar alguma variação da 
língua diferente do padrão. 
 
Em relação a esta afirmativa, concluiu-se que 20% dos docentes 
avaliados consideram normal o fato de algum aluno deixar de frequentar a escola 
por sentir-se inferior aos demais, como consequência da utilização de uma 
variedade diferente da norma padrão. É importante observarmos que esta 
opinião é contrária ao papel da escola, que deve promover a inclusão e garantir 
o direito a educação para todos. O número obtido na análise dessa afirmativa, 
apesar ser a opinião da minoria dos professores, ainda é alarmante, pois o ideal 
é que a preocupação com a evasão escolar seja unanimidade, especialmente 
por parte dos educadores. 
 
4ª Afirmativa: Promovo debates acerca das distintas formas de comunicação 
dos indivíduos em distintos momentos e contextos sociais. 
 
O assunto sobre variações linguísticas e o contexto social no uso da 
linguagem é debatido com frequência com os alunos por 76% dos docentes. A 
promoção destes debates é essencial para conscientizar os alunos de que a 
norma padrão não é a única forma “correta” de linguagem. O discurso pode e 
deve ser alterado de acordo com os interlocutores e a situação comunicacional. 
 
5ª Afirmativa: Participo de eventos palestras e/ou seminários acerca da 
variação linguística e preconceito linguístico. 
 
 A participação em seminários em eventos e/ou seminários é importante 
para a conscientização dos docentes, e, consequentemente dos alunos, em 
28 
 
relação as variedades linguísticas e os preconceitos decorrentes da falta de 
informação. Apenas 56% dos professores revelaram participar de tais eventos. 
Quase a metade, quer seja por falta de oportunidade ou falta de interesse, não 
participam de eventos relacionados aotema da pesquisa. Este resultado 
estabelece um dado alarmante, tendo em vista a necessidade de formação dos 
educadores para seja evitado toda forma de preconceito linguístico e haja uma 
transmissão desses conhecimentos para os alunos de uma forma eficaz. 
 
6ª Afirmativa: O preconceito linguístico e a variação devem ser abordados de 
forma interdisciplinar. 
 
 O resultado das respostas em relação a esta afirmativa revela que 74% 
dos docentes acreditam que o que os temas relacionados a variedade e ao 
preconceito linguístico devem ser abordados de forma interdisciplinar. Apesar do 
tema estar mais relacionado a disciplina de Língua Portuguesa, combater o 
preconceito linguístico e orientar sobre as variedades não é função exclusiva do 
docente dessa área, mas deve ser o papel de todo educador, 
 
7ª Afirmativa: Quando participo da escolha de livros didáticos, opto por edições 
que não abordem discussões sobre variedades linguísticas. 24% 
 
 Na análise dessa afirmativa comprova-se que apenas 24% dos docentes 
optam por edições livros didáticos que não abordam discussões sobre 
variedades linguísticas. A escolha de livros didáticos que abordem assuntos 
relacionados a este tema é essencial na formação dos alunos, pois a partir da 
abordagem e discussões relacionadas ao assunto o preconceito será combatido 
de forma mais eficaz. 
 
8ª Afirmativa: Procuro ressaltar a supremacia da norma padrão sobre as outras 
variedades. 
 
Dentre os docentes analisados 42% ainda acreditam e destacam a 
superioridade da norma padrão de língua. De acordo com os estudos de 
sociolinguística apresentado nos primeiros capítulos deste trabalho podemos 
29 
 
afirmar que os alunos devem ser orientados sobre a importância da 
aprendizagem da norma padrão da língua. Contudo, colocá-la como superior as 
demais variedades é uma atitude que estimula o preconceito linguístico. 
 
9ª Afirmativa: O aluno deve apresentar os trabalhos orais seguindo a norma 
padrão. 
 
 Nas respostas dadas a esta afirmativa constatou-se que 82% dos 
professores manifestaram intolerância ao uso de variedades linguísticas na 
apresentação de trabalhos orais, sendo exigido a norma padrão. Esta exigência 
de padronização da linguagem em trabalhos orais pode ser considerada um 
indicador de que ainda há muita intolerância em relação às outras variedades. O 
uso adequado da norma padrão da língua deve ser avaliado nos trabalhos 
escritos. Dessa forma, os alunos que utilizam outras variedades na fala não 
serão constrangidos em sala de aula. 
 
10ª Afirmativa: A escola deve ensinar exclusivamente a norma padrão. 
 
 De acordo com 44% dos docentes analisados, a função da escola é 
ensinar exclusivamente a norma padrão. Respeitar as variedades de cada aluno, 
de acordo com o seu contexto sociocultural, não exclui a escola, e, 
consequentemente o docente de Língua Portuguesa de sua função de ensinar a 
norma padrão da língua. As outras variedades devem ser respeitadas e não 
ensinadas, pois não fazem parte da grade curricular. 
 
11ª Afirmativa: Vejo as variações linguísticas como desvios da norma padrão. 
 
 Ao concordarem com esta afirmativa, 38% dos docentes demonstraram 
ainda ter preconceito em relação as outras variedades. Considerá-las como 
desvio da norma padrão da língua ressalta a superioridade de uma variedade 
em relação a outra e estimula o preconceito. 
 
12ª Afirmativa: Vejo as variações linguísticas como fenômenos que enriquecem 
a língua. 
30 
 
 
 Dentre os dez docentes avaliados 84% consideram as variedades 
linguísticas como fenômenos enriquecedores da língua. Este aumento de 
percentual é positivo, pois demonstra avanço no combate ao preconceito 
linguístico e aceitação das outras variedades. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 Nas considerações finais deste trabalho, é valido ressaltar, que através 
dos estudos e pesquisas realizadas, tivemos a oportunidade de reconhecer a 
importância da abordagem e valorização das variedades linguísticas em sala de 
aula. Foram apresentados os fatores e a mitologia que envolvem o preconceito 
linguístico em relação às variedades que não pertencem a norma padrão da 
língua. Através da análise da pesquisa de campo realizada foi possível constatar 
que já está ocorrendo um grande avanço nesta área. Pois, a maioria dos 
docentes entrevistados se mostraram favoráveis a abordagem do tema em sua 
prática docente. 
Entretanto, é preciso reconhecer, que apesar da maioria dos docentes 
serem favoráveis a valorização das variedades ainda há um longo caminho a ser 
percorrido no combate ao preconceito. Pode-se comprovar na análise da 
pesquisa que o preconceito linguístico ainda ocorre nas salas de aula. 
 Enfim, o presente trabalho aponta para a importância da reflexão e 
abordagem do tema relacionado as variações linguísticas. Destacamos que o 
papel do professor é conscientizar os alunos, mostrando que as variedades 
existem e devem ser respeitadas. Portanto, não deve existir nenhum tipo de 
preconceito, seja ele racial, social ou linguístico. Vejamos o que diz o PCN de 
Língua Portuguesa: 
 
O problema do preconceito disseminado na sociedade em 
relação às falas dialetais deve ser enfrentado, na escola, como 
parte do objetivo educacional mais amplo de educação para o 
respeito à diferença. Para isso, e também para poder ensinar 
Língua Portuguesa, a escola precisa livrar-se de alguns mitos: 
o de que existe uma única forma “certa” de falar [...] além de 
desvalorizar a forma de falar do aluno, tratando sua comunidade 
como se fosse formada por incapazes, denota 
desconhecimento de que a escrita de uma língua não 
corresponde inteiramente a nenhum de seus dialetos, por mais 
prestígio que um deles tenha em um dado momento histórico.” 
(PCN, 1997, p. 31) 
 
 
32 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
BRIGHT, W. As dimensões da Sociolinguística. In: FONSECA, M.S. & 
NEVES, M.F. (orgs.) Sociolinguística. Rio de Janeiro. Eldorado:1974.p.34 
 
CAMACHO, R. A variação Linguística. In: Subsídios à proposta curricular de 
língua portuguesa para o segundo grau. São Paulo, CENP, Secretaria do 
estado da educação, v. IV, 1978, p.17. 
 
DUARTE, Vânia Maria Do Nascimento. "Variações Linguísticas"; Brasil 
Escola. Disponível em <http://www.brasilescola.com/gramatica/variacoes-
linguisticas.htm>. Acesso em 21 de novembro de 2015. 
 
BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da 
variação linguística. São Paulo: Parábola editorial: 2007, p.36 
 
Referência: MUSSALIM, Fernanda (Org.); BENTES, Anna Christina (Org.). 
Introdução à linguística: domínios e fronteiras, v.2. 1. ed. São Paulo: Cortez, 
2001. 
 
BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico: o que é, como se faz. São. Paulo: 
edições Loyola, 1999. BAGNO, Marcos. 
 
PERINI, Mário A. Sofrendo a gramática, 1ª Ed. São Paulo: Editora Ática, 1997 
p.13. 
 
(BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. "Parâmetros curriculares 
nacionais". Brasília: MEC/SEF, 1998. Fragmentos, p. 28, 29 e 31.) 
 
33 
 
BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Nós cheguemu na escola, e agora? 
Sociolinguística na sala de aula. São Paulo: Parábola Editorial, 2005. 
 
(DICIONÁRIO Michaelis. São Paulo: Melhoramentos, 2009. Disponível em: 
<http://www.uol.com.br/michaelis > Acesso em:10 jan. 2016.)

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