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análise funcional da dependencia de drogas

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Análise funcional das dependências de drogas
Chapter · January 2001
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Animal models of drug dependence View project
INCT-ECCE: Relational Learning and Symbolic Functioning: Basic and Applied Research (2009-2016) View project
Maria thereza araujo Silva
University of São Paulo
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Fabio Leyser Gonçalves
São Paulo State University
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Miriam Garcia-Mijares
University of São Paulo
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-# 
—Capítulo 45 
Análise funcional das dependências de 
drogas 
Maria Teresa Araujo Silva* 
Luiz Guilherme Gomes Cardim Guerra* 
Fábio Leyser Gonçalves 
Miriam Garcia-Mijares** 
USP 
A dependência, como uso compulsivo de drogas, é analisada sob o prisma da análise funcional do comportamento. Isla 
abordagem comportamental, a adicção e a dependência geram um comportamento inadequado ou lesivo, mas que obedece 
às mesmas leis que governam outros comportamentos. São considerados como fatores críticos na génese da dependência: 
a aprendizagem que emerge da relação entre o indivíduo e seu ambiente, os fatores genéticos e ontogenéticos que 
contribuem para a vulnerabilidade, e os fatores neurofarmacológicos que determinam a tolerância ou a sensibilização. 
Palavras-chave: dependência de drogas - valor reforçador - sensibilização - tolerância - vulnerabilidade 
Drug addiction is discussed under a behavioral functional analysis perspective. In a behavioral analysis, abuse and addiction 
may lead to inadequate or nocive behavior. However, such behavior follows the same principies that contrai other kinds of 
behavior. Criticai factors in producing dependence come from learning relations that emerbe from the interaction between 
individual and environment, from genetic and ontogenetic factors contributing to vulnerability, and from neuropharmacological 
factors determining tolerance and sensitization. 
Key-words: drug addiction - reinforcing value - sensibilization - tolerance - vulnerability 
A dependência, como uso compulsivo de drogas, é matéria de discussão entre 
diferentes visões que explicariam o comportamento de procura e de consumo de certas 
substâncias de abuso. Segundo o modelo moral, a dependência seria explicada por uma 
suposta falta de força de vontade ou fraqueza de caráter, segundo um julgamento que se 
faz da moral do indivíduo, com categorizações como, por exemplo, fraco/forte, preguiçoso/ 
esforçado, correto/imoral. Esse foi o modelo dominante até sobretudo meados do século 
passado, quando começaram a adquirir maior importância as considerações de verdade 
supostamente mais neutras da ciência. No modelo moral, o problema da drogadicção é 
matéria da religião (drogadictos como pecadores) e da justiça (como criminosos), e ainda 
hoje ele assume papel importante nas inferências causais internas e de apelo subjètivo 
para a adicção. 
Já o modelo da dependência como doença, considera o comportamento do indivíduo 
dependente como desviante em relação ao comportamento normal, na medida que o aspecto 
Apoio financeiro:'CNPq "FAPESP 
422 Maria Teresa A . Silva, Lutz Quilhcrmc Q. C. Çuerra, Fábio Leyser Qonçalves s Mír iam Qarcia-Mijares 
compulsivo implicaria uma falta de controle voluntário do drogadicto e levaria à 
autodestruição do organismo. Um indivíduo saudável, por sua vez, mesmo se exposto a 
uma droga de potencial adictivo, exibiria atividades voltadas para a busca de seu prazer e 
segurança. 
Segundo Brown (1985) e Edwards (1996), a compulsão, junto com a autodestruição 
e prejuízo de uma ampla gama de relações sociais, levou a que os alcoolistas, na última 
metade do século passado, fossem comumente internados por longo período em asilos, 
como se fazia com psicóticos. Longe de significar um paralelo entre doença e instituição 
asilar, esse fato de interesse histórico apenas mostra que as categorias de doença mental, 
segundo a prática médica, já se mostravam bastante inclusivas, abrangentes, para diversos 
comportamentos hoje considerados distintos. Essa característica inclusiva também se 
faz notar atualmente na consideração do comportamento do dependente como síndrome 
com diversas etiologias possíveis, segundo classificação diagnostica de manuais de 
distúrbios mentais. Segundo McKim (2000) e Barrett e Witkin (1986), um dos problemas 
do modelo de dependência como doença é que, para drogas de propriedades tão distintas 
como opióides e estimulantes, o modelo deveria elucidar um mecanismo comum de adicção, 
explicar que tipo de doença é a dependência, e explicar como uma doença é capaz de 
fazer com que um indivíduo auto-administre uma droga, ou mais de uma droga, com 
propriedades bastante distintas. Se por um lado, o modelo avança a questão ao aproximar 
a dependência (uso compulsivo) do âmbito científico (agora uma matéria médica), por 
outro, não explica a natureza, o mecanismo que leva à compulsão pela droga (o DSM-IV 
e o CID-10, por exemplo, categorizam os diferentes transtornos mentais segundo uma 
descrição de sua sintomatologia, ao invés de se basearem na etiologia dos variados 
transtornos). 
Buscando fornecer uma explicação do mecanismo da drogadicção, o modelo da 
dependência física (antes falamos do modelo moral e do modelo como doença) trata a 
dependência como função da síndrome de abstinência que comumente acomete aqueles 
que abusam do uso de drogas. A síndrome de abstinência se refere a respostas fisiológicas 
de grande magnitude, sentidas como desagradáveis, que surgem com a retirada da droga. 
Uma doença tornaria a pessoa vulnerável à síndrome de abstinência, e para livrar-se das 
sensações desagradáveis da síndrome, a droga seria novamente auto-administrada. Seria 
a fuga dos sintomas de abstinência ou do que a sinaliza (como por exemplo, a fuga do 
medo da abstinência) que explicaria a adicção, no modelo da dependência física. No 
entanto, percebeu-se que algumas drogas, como a cocaína e a maconha, não produziam 
sintomas clínicos que pudessem caracterizar uma síndrome de abstinência específica e 
no entanto apresentavam padrões de uso abusivo. Afim de aumentara abrangência desse 
modelo, foi desenvolvido o conceito de dependência psicológica; no entanto, segundo 
McKim (2000), como explicação da drogadicção, o conceito apresenta um sério problema: 
é circular. Dizemos que uma pessoa apresenta dependência psicológica porque observamos 
a frequência em que faz uso de droga e, ao mesmo tempo, não observamos sintomas de 
abstinência, portanto não podemos utilizar essa observação do comportamento como 
explicação para o próprio comportamento. 
Alguns fatores levaram a um enfraquecimento do modelo de dependência física, 
indicando que a aversão à abstinência não seria, só ela, um determinante suficiente para 
explicar a adicção. Nesse sentido, 1) como vimos anteriormente, há drogas de elevado 
poder adictivo que não produzem comumente a síndrome de abstinência, e 2) drogas que 
normalmente geram fortes sintomas de abstinência, como a heroína, podem deixar de ser 
Sobre Comportamento c Cognição 423 
consumidas com relativamente poucos sintomas de abstinência quando se abandona o 
ambiente em que houve a adicção - por exemplo, um grande número de militares norte-
americanos tornaram-se adictos durante sua permanência no Vietnã, mas a volta ao seu 
domicílio atenuou os efeitos de abstinência. 
O modelo comportamental trata a dependênciacomo determinada pela aprendizagem 
que surge das relações entre o indivíduo e seu ambiente. Na abordagem comportamental, 
diferente dos modelos de doença, não se concebe a adicção e a dependência como uma 
patologia, pois os comportamentos associados ao consumo de drogas seguem os mesmos 
princípios gerais dos comportamentos ditos normais—e o termo patológico refere-se a uma 
suposta doença, ou seja, a um desvio do estado normal. O comportamento do drogadicto 
obedece às mesmas leis do comportamento "normal" de todos os animais, leis de controle 
se aplicam a comportamentos "normais" em indivíduos "sadios". São os eventos ambientais 
que determinam o comportamento, e não a consciência ou o autocontrole; assim, aqui não 
tem sentido a consideração sobre a falta de controle voluntário do drogadicto sobre seu 
comportamento compulsivo, ou de características morais de sua personalidade. Na abordagem 
comportamental, a adicção e a dependência geram um comportamento inadequado e lesivo, 
mas não desviante. Esta abordagem traz a vantagem de buscar oferecer explicações para o 
fenómeno da dependência baseadas numa etiologia que se pretende conhecer e controlar, 
ao se observarem padrões de resposta para situações particulares, e interferir sobre as 
contingências envolvidas. 
Uma das primeiras consequências do estabelecimento do paradigma comportamental 
como uma ferramenta útil para compreender o uso abusivo de drogas é justamente colocar 
ofenômeno da auto-administração de drogas como um comportamento decorrente da relação 
de um organismo com seu ambiente e, portanto, passível de uma análise funcional. Para 
tanto, é necessário termos claro que qualquer substância nada mais é do que um evento 
ambiental, ou seja, um estímulo. Como tal é capaz de exercer qualquer função que um 
estímulo potencialmente poderia exercer. 
Nesse modelo, a elevada auto-administração poderia ser explicada por funções 
de estímulo exercidas pela droga ou pelo que a ela foi pareado, além do efeito de reforço 
(positivo ou negativo) direto por outros estímulos presentes no ambiente daquele determinado 
indivíduo (este último tópico, embora deva ser levado em conta no contexto clínico, é 
bastante extenso, fugindo, portanto, do objetivo deste trabalho). No modelo comportamental, 
uma droga poderia (1) ter função de estímulo reforçador (como no exemplo anterior com 
opióides), que seria por sua vez responsável pela geração da função discriminativa de 
outros estímulos que alterassem a probabilidade de auto-administração da droga; (2) a 
droga poderia ter função de estímulo discriminativo para diferentes probabilidades de 
obtenção de outro reforçador; (3) terfunção induzida por esquema de reforço (comportamento 
adjunto); ou (4) a droga poderia ser responsável pela criação e manutenção da função 
eliciadora de outros estímulos. Na verdade, todas essas funções exerceriam controle em 
conjunto sobre o comportamento compulsivo do drogadicto (compulsivo como significando 
elevada frequência de respostas), e o consumo abusivo teria a probabilidade aumentada 
em função do reforçador "droga", do contexto em que ocorre a auto-administração, e de 
respostas eliciadas por estímulos pareados com a droga (como, por exemplo, respostas 
compensatórias do efeito incondicionado da droga), ou de respostas eliciadas pela retirada 
da droga. 
Citando a função reforçadora, ela pode envolver reforço positivo ou negativo - nesse 
último caso, a auto-administração seria reforçada pela retirada do estímulo aversivo "sintomas 
" S í ' V l 1 ' Quilherme Q. C. Queria, Fábio Leyser Qonçalves s Mír iam Qartia-Mijarei 
de abstinência". Os efeitos induzidos pelas drogas reforçam o comportamento de consumi-
las, e também os elos comportamentais que levam a uma maior probabilidade de consumo. 
A função discriminativa pode ser a de, por exemplo, sinalizar que, sob efeito de 
cocaína, eu conseguirei varar uma noite e estudar toda a matéria de um prova, e então 
conseguirei tirar uma boa nota. A alternativa a essa situação é não utilizar a cocaína e 
dormir durante o estudo, tendo como consequência final uma nota ruim na prova. Há 
portanto o desenvolvimento de um repertório vinculado ao abuso da substância. Esse 
abuso de cocaína poderia, por sua vez, gerar insónia, e assim eu poderia ingerir álcool 
para dormir mais facilmente. Assim, a depender da vida que eu leve, posso abusar das 
duas drogas, em função das consequências que elas sinalizam. 
Posso fumar tabaco excessivamente em função do ritmo de trabalho (comportamento 
adjunto), além de fumar para baixar a ansiedade provocada pela visão do chefe ou pela voz 
de um concorrente no trabalho, ou para aumentar o relaxamento num momento de descanso 
ou de alívio. E posso ter sensações fisiológicas eliciadas (comportamento respondente) 
cada vez que ouço alguém falar de cigarro (nome pareado com o objeto). A situação vai se 
tornando mais complexa, efica difícil sustentar que uma doença (ou várias doenças) possa 
explicar todos os comportamentos, incluindo aqueles comportamentos não citados, de busca 
pela droga. 
Um outro fator que deve ser levado em conta em uma análise funcional é a ocorrência 
de outros reforçadores no ambiente do indivíduo. Comumente encontramos indivíduos que 
desenvolvem um padrão de uso adictivo por possuírem poucas fontes de reforçadores 
alternativas à droga. De fato, o modelo comportamental se mostra incompleto quando não 
leva em conta o qué se convencionou chamar de escolha, ou seja, a distribuição das 
variadas respostas de um indivíduo em função dos estímulos reforçadores presentes em 
seu ambiente. De uma maneira simplificada, podemos dizer que, segundo um princípio 
conhecido por Lei da Igualação, um organismo emite uma taxa maior de respostas para 
um estímulo com maior valor reforçador do que para um de menor valor (para uma revisão, 
ver Garcia-Mijares e Silva, 1999). Assim, se existem poucas fontes de reforçadores no 
ambiente de um indivíduo, é bastante provável que a presença de um reforçador de valor 
alto (como de fato são muitas drogas de abuso) controle a maior parte das respostas 
daquele organismo. Assim, a intervenção clínica precisa ir além do estabelecimento de 
uma meta (diminuir a frequência de consumo de uma substância), devendo estabelecer 
um ambiente rico em fontes de reforçadores que não estejam relacionados, ou até mesmo 
sejam incompatíveis, com o abuso de drogas (Petry, 2000). 
Igualmente importante na intervenção clínica é sopesar os fatores que tornam o 
indivíduo mais propenso a desenvolver a adicção a drogas. Sobre esses fatores nos detemos 
a seguir. 
Fatores de vulnerabi l idade à dependência de drogas 
Passamos a discutir um aspecto específico da dependência: a susceptibilidade 
individual aos efeitos reforçadores da droga. A vulnerabilidade diferencial à dependência é 
um fato que o senso comum pode atestar: há diferenças individuais na propensão a criar 
uma relação de dependência com drogas psicoativas. O álcool é um caso emblemático. 
Todos, ou quase todos, experimentamos alguma vez na vida uma bebida alcoólica. Todos, 
ou quase todos, somos dados ao uso "recreativo" do álcool. E no entanto, nem todos 
somos dependentes do álcool. Também temos o exemplo de pessoas que usam cocaína 
Sobre Comportamento e Cognição 425 
ou heroína por anos a fio somente em fins de semana, podendo ou não depois se tornarem 
usuários diários; já, outras pessoas relatam que ficaram dependentes na primeira dose, 
como se fora um amor à primeira vista. A seguir são analisados alguns fatores biológicos 
e ambientais que tornam as pessoas mais vulneráveis à dependência de drogas. 
Nem sempre é admitido explicitamente que a droga que gera dependência é um 
reforçador. Isto é, dentre várias atividades possíveis, a relação com a droga torna-se cada 
vez mais forte devido aos efeitos positivos que produziu no passado, como acabamos de 
ver. Negaresse poder reforçador é se ludibriar. Diferentemente do alimento ou da água, a 
droga é um reforçador que não afeta a sobrevivência, mas é peculiar porque atua diretamente 
sobre o substrato central de reforço que foi selecionado por contingências de sobrevivência 
- o mesmo mecanismo que tornou o organismo sensível ao reforço por alimento ou água. 
Por isso, concentrar-nos-emos agora nos fatores que afeta m o poder reforçador 
de drogas de abuso e que, por decorrência, afetam a vulnerabilidade à dependência. Mais 
do que buscar correlações entre risco e fatores como idade ou sexo, selecionamos 
pesquisas que controlam fatores de risco independentes, relevantes e consolidados do 
ponto de vista científico. O modelo mais utilizado nessas pesquisas é o consumo "voluntário" 
de determinada droga. Chamado de auto-administração é uma forma de conhecer o valor 
reforçador de uma droga, verificando quanto o animal trabalha para obter ou evitar essa 
droga. 
Primeiramente, é preciso deixar assinalado que o reforço tem uma codificação 
neural conhecida como "circuito do reforço" que, simplificadamente, se concentra na porção 
mesolímbica do cérebro mediada por dopamina. Por exemplo, o esvaziamento de dopamina 
nessa região faz diminuir o consumo de alimento em animais (Roberts e Koob, 1982); 
manipulações experimentais que aumentam a transmissão dopaminérgica nessa estrutura 
facilitam a auto-administração de estimulantes (Wise e Rompre, 1989); ratos predispostos 
a consumir anfetamina têm taxa de renovação de dopamina mais rápida no accumbens 
(Piazza, Maccari, Deminiére, Le Moal, Mormède e Simon, 1989); e a maior parte das 
drogas de abuso ativam o sistema dopaminérgico (Wise e Rompre, 1989, Gonçalves e 
Silva, 1999, Koob, 2000). Ora, se há uma mediação bioquímica que sinaliza a consequência 
do comportamento, é de se esperar que ela tenha origem genética. De fato, usando a 
estratégia de auto-administração, demonstrou-se por exemplo que cepas de camundongos 
geneticamente idênticas exceto pela densidade de certo receptor de serotonina apresentam 
nível diferente de auto-administração de álcool (George, 1994). Observou-se também que 
o valor reforçador de álcool, opiáceos e cocaína em ratos e camundongos é equivalente 
para as três classes de substâncias, e é definido pela constituição genética: alto para 
ratos da cepa LEW e camundongos C57BL/6J, baixo para ratos F344 e camundongos 
DBA/2J (George, 1994). Importante é que parece haver uma relação não apenas entre 
genótipo e valor reforçador de uma determinada droga, mas entre genótipo e auto-
administração de drogas de diferentes classes: álcool, opiáceos e cocaína. Ou seja, 
parece haver uma relação genérica e não específica entre genótipo e valor reforçador de 
drogas. 
As diferenças genéticas observadas em modelos animais sugerem a existência 
de diferentes graus de risco biológico em diferentes populações humanas. É de se supor, 
portanto, que a constituição genética do indivíduo poderá ser um fator de vulnerabilidade 
na aquisição de uma dependência. Porém, sobre esta constituição não há, pelo menos 
até o momento, intervenção viável. É sobre os fatores ambientais que podemos atuar, eé 
sobre esses fatores e sua interação com a dotação genética que nos concentraremos. 
426 Maria Teresa A . Silva, Luiz Quilherme Q. C. Queira, Fábio Leyser Qonçalves S Mír iam Qarcia-Mijares 
Há fatores ambientais que aumentam o valor reforçador da droga - aqueles que a 
tornam mais desejável. Podem aumentar esse valor por amenizar um estado subjetivo 
desagradável, como acontece quando a pessoa se automedica. Tomemos por exemplo a 
relação entre ansiedade e álcool. Ratos identificados como "ansiosos" no teste do labirinto 
elevado mostram maior preferência e consumo de álcool comparados a ratos "não-ansiosos" 
(Spanagel, 1995). A mesma relação é observada em um estudo clínico que comparou o 
uso voluntário de diazepam por pacientes ansiosos e seus controles (Chutuape, 1995). 
Muitos outros estados subjetivos certamente servem de base para que a droga atue como 
reforço negativo - um reforço pelo avesso, quando a consequência da droga não é o que 
ela traz, mas o que ela afasta. Dentre esses, é importante notar o estado que a abstinência 
de uma droga pode gerar no dependente: o alívio dos sintomas desagradáveis faz da droga 
um reforçador ainda mais poderoso. 
Mas há também condições que aumentam o valor reforçador da droga por aumentar 
a consequência positiva que por si ela já produz. Como já foi dito, talvez a mais importante 
dessas condições seja a carência de reforçadores alternativos à droga na vida do indivíduo. 
Um dado básico de comportamento é que a escolha de determinada atividade depende 
das outras atividades possíveis na situação. Quando um animal tem a opção de escolher 
entre duas respostas, coloca mais empenho naquela que oferece o maior reforço. Ou 
seja, quanto mais os reforçadores são parcos ou negativos, mais o comportamento se 
desloca para outras alternativas. É a já mencionada Lei da Igualação, que explica porque 
falta de escola, falta de amor, pobreza, falta de oportunidades de trabalho, e outras carências 
são conhecidos fatores de risco na dependência: O laboratório coloca essa variável sob 
controle experimental, mostrando por exemplo que a privação de alimento faci.lita a auto-
administração de cocaína, e que esse efeito perdura por meses após o retorno à alimentação 
normal. Inversamente, a adição de sacarina à comida insossa retarda a aquisição da auto-
administração, e a disponibilidade de sacarina no ambiente reduza auto-administração de 
fenciclidina (pó-de-anjo) (Carroll, 1994). Em dependentes humanos, a disponibilidade 
concorrente de reforço monetário reduza auto-administração de heroína (Comer, Collins, 
Wilson, Donovan, Foltine Fischman, 1998). 
É da interação desses fatores ambientais com fatores orgânicos que resulta a 
variação na sensibilidade individual a estímulos reforçadores, sejam eles positivos ou 
aversivos. Quais seriam os indivíduos mais sensíveis, e por que razões? Supõe-se que a 
interação passe pelos mesmos mecanismos dopaminérgicos que acompanham o reforço. 
Por exemplo, a reação a estímulos gustativos palatáveis e a sensibilidade ao reforço têm 
em comum a capacidade de ativar o sistema dopaminérgico mesolímbico. Ora, ratos que 
apreciam o gosto doce da sacarina são também os que têm maior tendência a auto-
administrar morfina (Gosnell, Lane, Bell e Krahn, 1995). Seria um dos indícios de que a 
atividade dopaminérgica no sistema mesolímbico pode ser determinante na predisposição 
à dependência. 
Assim como a sensibilidade a estímulos palatáveis, a sensibilidade a estímulos 
novos é importante. Tem relação com o conjunto de comportamentos condensados no 
rótulo de sensation-seeking ou busca de sensações em seres humanos, e que é 
correlacionado com o gosto pela experiência da droga. Os chamados sensation-seekers 
seriam pessoas mais sensíveis ao reforço, ou seja, teriam limiar mais baixo para o valor 
reforçador dos estímulos. Em animais, a resposta ao novo foi bastante estudada: a atividade 
locomotora de ratos em um ambiente novo é um modelo de interesse pelo ambiente, de 
curiosidade pelo novo, seja em função do medo ou da necessidade. Quanto maior for essa 
atividade, maior será a susceptibilidade do animal aos efeitos estimulantes da anfetamina, 
Sobre Comporlamenlo c Cognição 427 
e à aquisição de auto-administração dessa droga (Piazza, Deminiére, Le Moal e Simon, 
1989) O contrário também ocorre: ratos selecionados geneticamente por alta sensibilidade 
ao reforço por cocaína são também os que mais mostram seus efeitos estimulantes motores 
(Schechter, 1992). Mas não é só a maior reatividade a estímulos novos que se relaciona 
com maior susceptibilidade aos efeitos da droga. Ratos submetidos à estimulação dolorosa 
de pinçamento de cauda também são mais afetados por anfetamina, tantodo ponto de 
vista de seus efeitos motores como do ponto de vista de "desejar" a droga, consumindo-a 
voluntariamente em maior quantidade (Piazza eLe Moal, 1998). Um dos efeitos do estresse 
de pinçamento é o aumento de liberação de dopamina no accumbens, região mediadora 
dos efeitos reforçadores da anfetamina (Piazza, Deminiére, Le Moal e Simon, 1990). Supõe-
se que o aumento de valor reforçador da anfetamina pelo estresse seja devido a uma 
interação do fator farmacológico com o fator ambiental, ambos atuando no sistema 
dopaminérgico. Outras situações aversivas-apl icação de choque elétrico imprevisível, 
observação do sofrimento do animal que levou choque, estresse pré-natal, agressão social 
- têm o mesmo efeito (Deminiére, Piazza e Guegan, 1992, Ramsey e Van Ree, 1993, 
Goeders e Guerin, 1991). O caráter aversivo da situação torna a droga mais reforçadora, 
em um processo semelhante ao que se chamaria, em outro contexto, de "gratificação". 
Chega-se assim a um aparente paradoxo: tanto a estimulação positiva do novo, da sensação 
excitante, como a estimulação aversiva do doloroso, causam ambas um aumento do 
poder reforçador da droga e, por consequência, aumentam a vulnerabilidade à dependência. 
O paradoxo se desfaz quando se analisam esses dados à luz da teoria de Selye, 
o pesquisador que concebeu o conceito de estresse. Essa reação global do organismo 
tentando preservar a homeostase "ocorre em resposta a um contínuo de estimulação, que 
vai de um extremo positivo a um extremo negativo; no ponto neutro o sistema neuroendócrino 
mantém seu nível basal. Selye dá o exemplo da tristeza da mãe do soldado que recebe a 
notícia da morte do filho e sua alegria, mais tarde, ao saber que era engano, mostrando 
que "os resultados específicos dos dois eventos, tristeza e alegria, são completamente 
diferentes, na verdade opostos, mas seu efeito es t ressor-a demanda não específica de 
reajustamento a uma nova situação - pode ser o mesmo" (Selye, 1974, p.29). O hormônio 
típico da resposta a estímulos estressores é a corticosterona. Ora, verificou-se que a 
corticosterona se encontra elevada naqueles ratos referidos acima, que respondem a 
estímulos novos com alta locomoção (Piazza e cols.,1989), bem como naqueles que são 
submetidos a diversas situações de dor física ou psicológica e que acabam consumindo 
maior quantidade de drogas. Mais ainda, o bloqueio farmacológico da corticosterona 
bloqueia a auto-administração de cocaína (Piazza, Marinelli e Jodogne, 1994). Supõe-se, 
então, que a corticosterona seja um mediador do efeito reforçador das drogas, agindo em 
interação com a dopamina (Piazza e Le Moal, 1998). De fato, a concentração de DA no 
núcleo accumbensé mais elevada em animais que mostram maior atividade e maior auto-
administração de drogas (Rougé-Ponte Piazza.Kharouby, Le Moal e Simon, 1993), enquanto 
que a resposta locomotora a injeções centrais de cocaina e morfina é eliminada quando 
se elimina a corticosierona pela remoção das adrenais (Marinelli, Piazza, Deroche, Maccari, 
Le Moal e Simon, 1994). 
Há portanto uma correlação entre auto-administração de drogas e resposta a 
estímulos ambientais, atividade motora, ativação do eixo hipófise-adrenal, e atividade 
dopaminérgica no accumbens. O estresse libera corticosterona, qué sensibiliza o mecanismo 
de reforço mediado pela dopamina, aumentando o valor reforçador da droga e portanto a 
vulnerabilidade à auto-administração. 
428 Maria Teresa A . Silva, Luiz Quilherme Q. C . Querra, Fábio Leyser C/onçalves & Mír iam Qarcia-Mijares 
A flexibilidade do valor reforçador da droga nos leva de volta à importância do 
contexto de reforçadores que atuam no mundo da pessoa. Do ponto de vista psicológico 
a lei da igualação nos diz que o comportamento é função do reforço consequente a ele' 
mas não função absoluta. O equilíbrio na distribuição do comportamento pode ser rompido 
pela escassez de outros reforçadores que concorrem com a droga, ou pela amplificação 
do valor da droga por fatores como os discutidos acima. Quanto mais a balança pende 
para o lado da droga, mais débil se torna o poder dos outros estímulos, e mais difícil fica 
restabelecer o equilíbrio (Heyman, 1996). 
Chega-se assim à conclusão de que o poder reforçador da droga é muito maior 
quando ela preenche um vazio ou amortece um pesar. A vulnerabilidade a seus efeitos 
corrosivos é tanto menor quanto maior for a oportunidade de viver em um ambiente de 
muitas contingências positivas e poucas aversivas. Não se trata de uma utopia, mas de 
um mundo em que microambientes podem ser pensados com vistas a mudar o equilíbrio 
entre tipos de reforçadores, de forma que o excesso de punição e a escassez de alternativas 
reforçadoras não se aliem para aumentar o risco de dependência. 
Finalmente, é imprescindível mencionar a importância da experiência passada 
com a droga na predisposição a sua administração. A exposição anterior à droga leva à 
sensibilização, fenómeno em que seus efeitos se tornam mais acentuados. A sensibilização 
é o reverso da tolerância, e ocorre com frequência com drogas de abuso. Ao magnificar 
seu efeitos, a sensibilização aumenta o valor reforçador da droga e predispõe à sua 
administração (Piazza e cols., 1989). Para ela nos voltamos agora, analisando seu papel 
em um modelo de dependência de drogas. 
Tolerância e sensibi l ização: um modelo de dependência de drogas . 
O estudo dos efeitos de drogas administradas ou auto-administradas repetidamente 
é relevante na área aplicada, pois o comportamento de abuso de drogas diz respeito ao 
uso repetido das mesmas. Falar que uma pessoa é dependente de uma droga supõe que 
o consumo da substância é crónico em vez de agudo. Nas palavras de Robinson (1993): 
"A maior parte do que se sabe sobre o efeito das drogas de abuso vem de estudos nos 
quais animais (ou tecido biológico) são expostos à droga apenas uma vez. Se as pessoas 
tomassem uma droga apenas uma vez, não encontraríamos o enorme problema de abuso de 
drogas. Infelizmente, dada a oportunidade, algumas pessoas, como também alguns animais, têm 
a tendência de auto-administrar certas drogas repetida e compulsivamente, levando à dependência 
e ao abuso. É esse uso repetido e compulsivo de drogas que origina o problema de abuso. 
Portanto, é importante entender as mudanças que acontecem quando as drogas psicoativas são 
administradas repetidamente" (p.373). 
Quando uma dose de droga é administrada repetidamente e seu efeito diminui 
com cada administração, ou quando a dose necessária para produzir o mesmo efeito deve 
ser aumentada em administrações subsequentes, diz-se que o indivíduo desenvolveu 
tolerância à droga (Figura 1). A tolerância é um fenómeno bem conhecido na 
psicofarmacologia e foi descrito para um amplo grupo de substâncias como álcool, 
alucinógenos, barbitúricos, cafeína, canabinóides, estimulantes e opióides (McKim, 2000). 
Usa-se o termo "tolerância condicionada" quando o condicionamento, operante ou 
respondente, modula o desenvolvimento e expressão da tolerância. Um exemplo clássico, 
é o trabalho de Chen (1968), no qual ratos só desenvolviam tolerância ao álcool se a 
administração da droga fosse associada ao contexto ambiental do teste comportamental. 
Sobre Comportamento e Cognição 429 
A tolerância a uma droga pode se generalizar para outras drogas, especialmente em 
relação à outras drogas de uma mesma classe. Esse fenómeno é conhecido como 
"tolerância cruzada". 
Outro fenómeno resultante da administração repetida de uma droga, porém menos 
conhecido, é a sensibilização, também chamada de tolerância reversa. A sensibilização, 
ao contrário da tolerância, caracteriza-se por um aumento progressivo na magnitude da 
resposta em função da administração repetida de uma mesma dose de droga (Figura 1). 
Igualmente se fala de sensibilização quando a dose de droga, para produzir o mesmo 
efeito, deve ser diminuída em administraçõessubsequentes. Deforma similar ao que se 
observa na tolerância, a sensibilização pode ser modulada por processos de aprendizagem, 
caso no qual se fala de "sensibilização condicionada". E pode ser generalizada para outras 
drogas, isto é, mostrar "sensibilização cruzada". Por outro lado, se a tolerância tende a 
desaparecer na medida que a droga não é mais administrada, a sensibilização é bem 
resistente a desaparecer com a suspensão da droga e inclusive pode persistir 
indefinidamente (Robinson, 1993). 
11 
1 1 1 1 ( 
Sensibilização 
j\ 
X, Tolerância 
1 
1 fe. Tempo 
Figura 1. Tolerância e sensibil ização quando uma mesma dose de droga é administrada repetidamente. 
No exemplo, as primeiras administrações da droga têm o efeito de aumentar a resposta; à medida que a 
d roga cont inua s e n d o admin is t rada , o o rgan ismo pode desenvo l ve r to lerânc ia ( l inha c inza) ou 
sensibilização (linha preta). A linha pontilhada indica o momento em que a droga começou a ser administrada. 
Ainda que o fenómeno de sensibilização seja frequentemente observado com 
estimulantes como anfetamina, cocaína, metilfenidato, fencamfamina e feniletilamina 
(Aizenstein, Segal, e Kuczenski, 1990; Akiyama, Kanzaki, Tsuchida, e Ujike, 1994; Kalivas, 
1995; Karler, Calder, e Bedingfield, 1994; Wolf, 1998), sabe-se que outras drogas de 
abuso produzem sensibilização do organismo a seus efeitos estimulantes (ver Wise e 
Bozarth, (1987), para uma revisão dos dados que indicam que drogas de várias classes, 
incluindo opióides, barbitúricos, álcool, etc. possuem propriedades estimulantes em certas 
doses). Por exemplo, doses baixas de morfina aumentam a atividade locomotora, e quando 
essa droga é administrada repetida e intermitentemente, seu efeito sobre esse 
comportamento aumenta; tal efeito pode persistir até 8 meses após a retirada da droga 
(Babbini, Gaiardi, e Bartoletti, 1975; Shuster, Webster, e Yu, 1975; Vanderschuren cols.., 
1997) . Também existe evidência de que o etanol, administrado intermitente e repetidamente 
em doses baixas, gera sensibilização a seus efeitos estimulantes (Lessov e Phillips, 
1998) . Outras drogas que não são estimulantes clássicos, mas que têm propriedades 
estimulantes, também podem produzir sensibilização, como por exemplo o êcstase 
(metilenedioximetanfetamina), a cafeína e a nicotina (Kita, Okamoto, e Nakashima, 1992; 
Meliska, Landrum, e Landrum, 1990; Robinson, 1993). 
430 Maria Teresa A . Silva, Luiz Quilhermc Q. C. Queira, Fábio Leyser Qonçalves s Mír iam Qarcia-Mijares 
A tolerância e sensibilização são definidas operacionalmente como o deslocamento 
da curva dose-resposta resultante do tratamento crónico com uma droga, sendo que a 
tolerância seria observada pelo deslocamento à direita da curva e a sensibilização pelo 
deslocamento à esquerda da curva (Figura 2) (Goudie e Emmett-Oglesby, 1989) As 
definições de tolerância e sensibilização até agora aqui consideradas são as frequentemente 
usadas na literatura. Tais definições supõem que a tolerância ou a sensibilização só podem 
ser induzidas por tratamento farmacológico; entretanto, é comum encontrar na literatura 
termos como "tolerância ou sensibilização simulada" ou "pseudo-tolerância/sensibilização", 
quando o deslocamento da curva dose-resposta é o resultado de procedimentos não 
farmacológicos tais como manipulação de privação, do ambiente, stress, etc. Como 
apontam Blackman (1989) e Goudie (1989), a distinção entre tolerância ou sensibilização 
"verdadeira" e "simulada" é difícil de ser sustentada, em parte porque até agora não se 
provou que os mecanismos que as induzem sejam diferentes, em parte porque essa 
denominação sugere que as causas farmacológicas da tolerância/sensibilização sejam 
mais importantes do que as não farmacológicas. 
90 
80 
70 
60 
x 5° 
^ 40 
30 
20 
10 
0 
0,1 0,3 1 3 10 30 
mg/kg 
Figura 2. Tolerância e sensibilização quando diferentes doses de droga são administradas repetidamente. 
A linha contínua preta representa a curva dose-resposta do efeito agudo da droga. A tolerância é 
definida como o desvio para a direita da curva dose-resposta (linha pontilhada). A sensibilização está 
representada como o desvio da curva dose-resposta para a esquerda (linha continua cinza). 
Nesta discussão será usada a definição de tolerância usada por Goudie (1989): 
"...considera-se que se desenvolveu tolerância quando qualquer efeito da droga sobre o 
comportamento é reduzido em magnitude, independentemente de se a tolerância foi induzida por 
fatores farmacológicos ou não farmacológicos" (p.612) 
Da mesma forma, a sensibilização será definida como o aumento em magnitude 
de qualquer efeito da droga sobre o comportamento, sem considerar se esse aumento foi 
induzido por fatores farmacológicos ou não farmacológicos. 
Outro ponto relativamente confuso no estudo da tolerância e da sensibilização é 
precisamente a identificação dos determinantes de um ou outro fenómeno: se uma droga 
é administrada repetidamente, o que determina que se desenvolva tolerância em vez de 
sensibilização ou vice-versa? O fato de que a tolerância ou a sensibilização são observadas 
em alguns dos efeitos da droga e não em todos [por exemplo, a náusea produzida pela 
morfina é reduzida após varias administrações da droga, porém a constrição da pupila 
resultante da administração dessa droga não mostra tolerância (McKim, 2000)], tem levado 
alguns autores a sugerir que o desenvolvimento de tolerância ou sensibilização depende 
Sobre C o m p o r t a m e n t o e Cogn ição 431 
do tipo de efeito que se esteja medindo (McKim, 2000). Por exemplo, Eichler, Antelman, 
e Black (1980) observaram que, com a administração crónica de anfetamina, o 
comportamento estereotipado de cheirar mostrava sensibilização, enquanto que o de lamber 
mostrava tolerância. Porém, já foi observado que um mesmo efeito da droga pode sofrer, 
ou tolerância ou sensibilização, dependendo principalmente do regime de administração 
da droga, como foi demonstrado por Martin-lverson e Burger (1995), que administraram 
cocaína a animais sob dois regimes diferentes: intermitente (injeções i.p.) e contínuo 
(infusões i.v. por mini-bombas). Observaram então que nos animais em regime de 
administração contínua, a atividade locomotora sofria tolerância ao efeito da droga, enquanto 
que nos animais submetidos ao regime intermitente, a atividade locomotora sofria 
sensibilização. De fato, segundo Robinson (1993), uma das condições mais importantes 
para que a sensibilização seja desenvolvida é a de que a droga seja administrada 
intermitentemente. Um trabalho muito interessante foi desenvolvido por Wolgin (1995), 
que conseguiu sensibilização da hipofagia causada por anfetamina sob um regime de 
administração intermitente (36 injeções, uma a cada três dias) e posteriormente aboliu a 
sensibilização administrando a droga cronicamente. Portanto, pelo menos para alguns 
dos efeitos da droga, o regime de administração parece ser um dos determinantes principais 
no desenvolvimento de tolerância ou sensibilização. 
Alguns autores sugerem que o desenvolvimento de tolerância ou sensibilização é 
também dependente do esquema de aprendizagem a que está submetido o sujeito. Assim, 
em um experimento clássico da literatura, Schuster, Dockens e Woods (1966) treinaram 
ratos em dois esquemas de reforço, DRL e Fl, que eram alternados em cada sessão 
experimental. Posteriormente administraram anfetamina e observaram o efeito dessa droga 
sobre a execução nos esquemas. Inicialmente o efeito da anfetamina foi de aumentar a 
taxa de respostas em ambos os esquemas. Após administrações repetidas da droga, os 
sujeitos desenvolveram tolerância à droga no esquema DRL, mas não no Fl. 
Segundo os autores, esse fenómeno poderia estar associado à quantidade de 
reforço obtido, ou seja, o aumento inicial de resposta produzido pela anfetamina causariaperda de reforço no esquema de DRL, enquanto que esse aumento não afetaria a quantidade 
de reforço obtida no esquema de Fl. Dessa forma, se o efeito da droga sobre a resposta 
tem como consequência a perda de reforço, o sujeito desenvolverá tolerância a esse 
efeito. Essa predição é o que tem sido chamado de "hipótese da densidade de reforço" e 
várias pesquisas com estimulante e álcool, usando ratos e humano como sujeitos, têm 
mostrado resultados que apoiam a associação entre o desenvolvimento de tolerância e o 
efeito da droga sobre a quantidade de reforço obtido (Demellweek e Goudie, 1983; Kalant, 
1989) 1 . Contudo, resultados obtidos em experimentos mais recentes em sensibilização 
parecem mostrar limitações da generalidade dessa hipótese. Por exemplo, Balcells-Olivero, 
Richards, e Seiden (1997) obtiveram sensibilização no comportamento de pressão de 
barra quando administraram repetida e intermitentemente uma mesma dose de anfetamina 
a ratos treinados em um esquema de DRL 72-s. Similarmente, Lobarinas, Lau e Falk 
(1999) mostraram em diferentes procedimentos de administração intermitente de cocaína 
(aumento progressivo da dose e repetida administração da mesma dose) sensibilização 
da resposta em um esquema DRL 45-s. Portanto, ainda que o esquema de reforço seja 
um fator importante no desenvolvimento da tolerância, o regime de administração da droga 
parece ser um dos principais fatores no desenvolvimento de tolerância ou sensibilização. 
Por outro lado, seria interessante saber se, em esquemas aonde o efeito da droga seja de 
1 Uma revisão exaustiva da lileralura om relação ao pape! do condicionamento operante no desenvolvimento de tolerância pode ser encontrada em Wolgin (1989). 
432 M a r i a Teresa A . Silva, Luiz Quilhermc Q . C . Q u e r i a , Fabio Leyser Qonçalves i M í r i a m Qarcia-Mijares 
aumentara quantidade de reforço obtida, o organismo desenvolveria sensibilização 
esse efeito. Infelizmente não existem experimentos que testem essa possibilidade 
Mudanças no sistema nervoso central associadas a tolerância e sensibilização 
Várias mudanças acontecem no sistema nervoso em decorrência do uso repetido 
de drogas. De especial interesse para a presente análise são aquelas do sistema 
dopaminérgico mesolímbico, já que, como foi mencionado, esse sistema acha-se associado 
ao reforço (Bozarth, 1991; Lippa, Antelman, Fisher, eCanfield, 1973; Schultz, 1997; Wise 
e Rompre, 1989). Também, como já foi mencionado, a maioria das drogas auto-
administradas (opióides, estimulantes, álcool, canabinóides) aumentam a transmissão 
sináptica de dopamina no VTA e no núcleo accumbens (Hyman e Nestler, 1993). A 
administração repetida de uma droga, quando intermitente, causa mudanças a longo prazo 
na síntese de proteínas nos corpos celulares, e consequentemente, nos terminais pré-
sinápticos dopaminérgicos dessas áreas (Pierce e Kalivas, 1997). Mudanças na liberação 
do neurotransmissor causam também mudanças nos terminais pós-sinápticos, como por 
exemplo aumento de receptores de DA. A demonstração de que inibidores de síntese de 
proteínas impedem o desenvolvimento de sensibilização apoiam a hipótese de que o efeito 
a longo prazo da administração repetida da droga está relacionado à síntese proteica 
celular (Robinson, 1993). Por outro lado, quando a droga é administrada cronicamente, 
também são observadas mudanças na expressão gênica das células, o que provavelmente 
está associado à diminuição do número ou sensibilidade de receptores dopaminérgico. 
Contudo, tal como aponta Kalant (1989), as pesquisas que visam estudar as mudanças 
neurais associadas, seja à sensibilização, seja à tolerância apresentam vários problemas 
como: a) a maioria dos procedimentos estudam células únicas ou preparações subcelulares 
que precisam de altas concentrações de droga para produzir efeito, doses que no organismo 
inteiro seriam tóxicas; b) a maioria das pesquisas são correlacionais e não funcionais, 
assim fica impossível saber se as mudanças observadas são mecanismos ou manifestações 
da tolerância/sensibilização, ou simples coincidência; c) o terceiro, e quiçá maior problema, 
é que existem muitas inconsistências nos resultados, o que impede de se tirarem 
conclusões confiáveis. Contudo, parece existir bastante consenso em que tanto a tolerância 
como a sensibil ização estão associadas a mudanças no sistema dopaminérgico 
mesolímbico. 
Tolerância e sensibilização condicionada 
Como já foi explicitado em parágrafos anteriores, o termo tolerância/sensibilização 
condicionada alude à diminuição/aumento do efeito de uma droga sobre o comportamento 
quando essa diminuição/aumento é mediada por processos de condicionamento. 
Tal como apontam Badianni, Camp, e Robinson (1997), as evidências obtidas em 
quase 30 anos de pesquisa em relação às mudanças no sistema nervoso resultantes da 
administração repetida de estimulantes poderia levara pensar que a resposta psicomotora 
a tais drogas é apenas consequência dos seus efeitos neurofarmacológicos em substratos 
nervosos específicos, e a conceber a tolerância/sensibilização como resultado de 
adaptações desses substratos neurais resultantes de sua contínua ativação. Porém, a 
farmacologia comportamental tem demonstrado que o comportamento resultante da 
Sobre Comportamento e C o g n i ç ã o 433 
administração de drogas é função da interação entre o efeito da droga sobre o sistema 
nervoso e o meio ambiente. 
Pavlov foi o primeiro a colocar que a administração de uma droga envolvia sempre 
um processo de condicionamento clássico (Siegel, 1979). Posteriormente, Siegel (1975) 
elaborou um modelo de tolerância baseado nos princípios do condicionamento clássico, 
em que o estimulo incondicionado (US) seria o efeito químico da droga e o estimulo 
condicionado (CS) seria o procedimento ou estímulos ambientais sob os quais a droga é 
administrada. Nesse modelo, a resposta incondicionada (UR) seria a resposta ao efeito 
químico da droga e a resposta condicionada (CR) seria uma resposta ao ambiente que foi 
associado à administração da droga. Essa resposta usualmente é oposta à UR. Esse tipo 
de CR tem sido denominada "resposta condicionada compensatória ao efeito da droga". 
Por exemplo, se a UR à droga é aumento de batidas cardíacas (taquicardia), a CR é 
diminuição de batidas cardíacas (bradicardia). Na Figura 3 pode ser observada uma ilustração 
do modelo. Na Figura 3a, é apresentada a curva dose-resposta do efeito de uma droga 
qualquer, quando administrada pela primeira vez; tais respostas são respostas 
incondicionadas à droga. Quando a droga é administrada repetidamente no mesmo 
ambiente, tal administração não é apenas seguida da UR à droga, mas também da CR 
compensatória. Como consequência, o efeito líquido da droga é diminuição do efeito da 
droga (Figura 3b). Segundo Siegel (1979), isso acontece porque a UR é de alguma forma 
atenuada pela CR. Após muitas exposições à droga, a CR está muito mais forte e o efeito 
líquido da droga resulta marcadamente diminuído: é quando o sujeito está altamente 
tolerante à droga (Figura 3c). Nota-se também na mesma figura que o efeito liquido da 
droga é bifásico, ou seja, existe um pequeno efeito da droga na direção da UR, mas é 
seguida de um maior efeito oposto. Siegel (Í979) afirma que esse padrão é característico 
de sujeitos com história longa de administração de opiáceos. 
Figura 3. Modelo de tolerância condicionada segundo 
Siegel (1979). A resposta incondicionada à droga 
(DRUG UCR) é representada como um aumento da 
linha de base de uma resposta arbitrária (mudança +) 
e a resposta condicionada compensatória (DRUG CR), 
como uma diminuição da linha de base (mudança -). O 
efeito liquido da droga (área escura) é o resultado da 
in te ração ent re essas duas respos tas opostas , 
(extraído de Siegel, 1979). 
laria Teresa A . Silva, Luiz Quiihcrme Q. C . Q u e i r a , Fábio Leyser Qonçalves& Mír iam Qarcia-Mijares 
. , D R U G U C R 
- < O R W G C R 
T I M E 
Posteriormente Siegel mudou a definição da UR dentro do modelo, considerando 
como UR as respostas fisiológicas incondicionadas de compensação ao efeito da droga 
(Larson e Siegel, 1998). Ou seja, a administração da maioria das drogas teria pelo menos 
dois efeitos incondicionados no organismo: um seria o efeito direto e outro a reação de 
compensação do organismo a esse efeito. Por exemplo, a administração de estimulantes 
como anfetamina ou cocaína têm como efeito o aumento de dopamina na fenda sináptica 
que é seguido tipicamente de mecanismos compensatórios ativados por retroalimentação 
negativa que "tentam" diminuir a quantidade de dopamina na fenda. Essa resposta 
compensatór ia do organismo seria a UR que ficaria condicionada após várias 
administrações da droga. Dessa forma, a CR não seria oposta, mas similar a UR 
compensatória consequente do efeito da droga. 
A tolerância condicionada tem uma estreita relação com os sintomas de 
abstinência consequentes à retirada da droga. Como já foi colocado, o uso prolongado de 
drogas psicoativas causa mudanças de médio e longo prazo no organismo. Tais mudanças 
são respostas compensatórias à presença constante da droga no corpo. No caso de 
desenvolvimento de tolerância, essas mudanças encontram-se associadas aos sintomas 
de retirada da droga e, de fato, é porque essas mudanças aconteceram que o sujeito 
apresenta sintomas de abstinência. Assim, em sujeitos tolerantes, a ausência de droga 
no corpo se caracteriza pela manifestação de sintomas de abstinência. Contudo, mesmo 
que o sujeito não seja mais biologicamente tolerante à droga, como por exemplo, em 
casos de abstinência muito prolongada, os sintomas de abstinência podem aparecer 
quando o sujeito é exposto ao mesmo ambiente em que habitualmente se auto-administrava 
a droga, já que, como foi explicado, as respostas compensatórias à droga são 
condicionadas ao ambiente. Na figura 3b e 3c, observa-se que o efeito líquido da droga é 
diminuído pela CR compensatória, mas também que a CR é diminuída pelo efeito direto 
da droga. Na ausência da droga, a CR se expressaria em toda sua magnitude, o que se 
traduziria na aparição de sintomas de abstinência. 
A tolerância condicionada foi amplamente demonstrada em animais e humanos 
[uma revisão pode ser encontrada em Siegel (1989)]. A sensibilização condicionada, por 
outro lado, não tem sido tão amplamente pesquisada, mas existem evidências que indicam 
que o grau de sensibilização é aumentado quando dicas ambientais são associadas à 
administração da droga. Por exemplo, em um experimento que envolveu medidas 
comportamentais e neurofisiológicas (DA extracelular no estriado), Lienau e Kuschinsky 
(1997) observaram que, quando a administração de anfetamina ou cocaína era pareada 
com um ambiente novo e um som, a sensibilização obtida era significativamente maior do 
que quando não se fazia tal pareamento, e que os níveis de DA extracelular estavam 
correlacionados com o grau de sensibilização dos animais tratados com anfetamina. Ou 
seja, encontrou-se maior sensibilização na situação de administração pareada que também 
estava associada a uma maior quantidade de DA extracelular. Resultados semelhantes 
com nicotina foram relatados por Reid, Ho e Berger (1998). 
Seguindo o modelo do Siegel para a tolerância, parece que, na sensibilização, é 
o efeito primário da droga (UR) que é condicionado após a sua associação com o ambiente. 
O porquê das URs compensatórias serem condicionadas, no caso da tolerância, e as 
URs do efeito primário da droga, na sensibilização, é uma questão importante a ser resolvida 
e seguramente associada às mudanças no SNC que acompanham esses fenómenos. 
Sobre Comportamento c Cognição 435 
Papel da tolerância e sensibilização no abuso de drogas 
Schenk e Davidson (1998) sugeriram que tanto a tolerância como a sensibilização 
são fenómenos que estariam associados à manutenção da auto-administração de drogas. 
Na Figura 4 é ilustrado um modelo de abuso de drogas elaborado por nós que integra a 
proposta desses autores com o modelo de dependência de drogas da análise experimental 
do comportamento. 
Na Figura 4, a primeira administração da droga é seguida de efeitos que aumentam 
a probabil idade de que esse comportamento se repita. Dessa forma a droga é 
funcionalmente conceituada como reforçador positivo. Inicialmente o consumo repetido da 
droga é intermitente, o que causaria mudanças de curto e longo prazo no sistema 
dopaminérgico mesolímbico e em outros sistemas de neurotransmissão relacionados com 
o reforço (como por exemplo o glutamatérgico). Tais mudanças redundariam em um aumento 
de sensibilidade desses sistemas ao efeito da mesma droga ou de drogas similares. Se o 
efeito focalizado é a eficácia da droga como estímulo reforçador, o resultado seria um 
aumento do valor reforçador dessa droga. Estudos de laboratório mostram que a exposição 
intermitente a uma determinada droga facilita a aquisição do comportamento de auto-
administração da mesma, ou seja, o sujeito é sensibilizado aos efeitos reforçadores da 
droga. Por exemplo, Horger, Shelton, e Schenk (1990) injetaram 10 mg/kg de cocaína em 
um grupo de ratos, e salina em outro grupo, por 12 dias consecutivos, sob um regime 
intermitente de administração. Posteriormente, os animais foram treinados em uma caixa 
de Skinner de duas barras, sendo que em uma delas operava um esquema CRF em que 
uma infusão de cocaína (0,225 e 0,45 mg/kg) era contingente à resposta. A pressão da 
outra barra não tinha consequência programada. As respostas foram medidas em ambas 
as barras. Os animais não pré-expostos (salina) não mostraram preferência significativa 
pela barra associada à infusão de cocaína; em contraste, os animais pré-expostos à 
droga mostraram preferência pela barra associada e uma taxa de respostas superior à do 
grupo não pré-exposto. Foi descartada a possibilidade de que o aumento da taxa na barra 
associada fosse devido a um efeito geral de ativação motora, dado que a frequência de 
respostas na barra não associada à droga manteve-se baixa e relativamente estável ao 
longo dos dias de teste. Os autores sugerem que a pré-exposição à cocaína aumentou 
sua eficácia reforçadora sobre o comportamento; em outras palavras, o comportamento foi 
sensibilizado ao efeito reforçador da droga. 
Como mostra a Figura 4, o aumento na eficácia reforçadora da droga teria como 
consequência o aumento na frequência da auto-administração da droga, até o ponto em 
que essa auto-administração seria muito frequente (quase crónico). Com esse uso da 
droga, aconteceriam novas mudanças no sistema nervoso associadas ao aparecimento 
de tolerância. À medida que a tolerância vai se desenvolvendo, os sintomas de abstinência 
vão aparecendo nos momentos em que a droga não está presente no organismo do sujeito. 
Os sintomas de abstinência agiriam como estímulos aversivos que a auto-administração 
da droga eliminaria, sendo portanto um comportamento de fuga. Com o tempo, o sujeito 
evitaria a aparição desses sintomas consumindo a droga constantemente ou antes que 
seu efeito se dissipasse, exibindo portanto um comportamento de esquiva. Em ambos os 
casos, seja fuga ou esquiva, a droga adquire valor como reforçador negativo. Na medida 
em que o consumo é crónico, a tolerância aumenta, o que explicaria a escalada na dose 
de droga frequentemente observado em pessoas dependentes (McKim, 2000). É importante 
notar que o valor da droga como reforçador positivo é diminuído com o aparecimento da 
436 Maria feicsa A . Silva, Luiz Quilhermc Q. C. Queira, Fábio leyser Qonçalves s Mír iam Qarcia-Mijares 
tolerância, porém essa diminuição estaria balanceada pelo aumento do seu valor reforçador 
negativo. A dificuldade em extinguir o comportamento de auto-administração de drogas e 
sua alta frequência em relaçãoa outros comportamentos, características típicas de sujeitos 
dependentes, permite inferir que o valor da droga como reforçador negativo é muito poderoso, 
quiçá maior do que como reforçador positivo. 
1a.Auto-adm inisttação 
(R+) 
Fiequência de A uto-adm Tiistração 
fjhtem itente) 
Mudanças SNC Longo Prazo 
Sensibilização I +) Valor reforçador da droga 
(R-) 
Fiequência de A utD-adm inisrjação 
piônix)) 
Mudanças SNC Médio Prazo 
Tolerância I ~> Valor reforçador da droga 
Sintomas de Abstinência 
Figura 4 Modelo de abuso de drogas. O modelo integra a proposta de Schenk & Davidson (1998) 
em relação ao papel da tolerância e sensibilização no abuso de drogas com o modelo da análise do 
comportamento Flechas com V representam aumento, flechas com "-" diminuição. A direção das 
flechas indica sucessão de eventos. Uma flecha acompanhada de R+ ou R- indica reforço positivo 
ou negativo, respectivamente. 
No modelo apresentado, ainda que não ilustrado, também é considerado o caso 
de reincidência do consumo de droga depois que o sujeito passou por um tratamento de 
desintoxicação ou por períodos prolongados sem a droga e em que os sintomas de 
abstinência desapareceram. Tanto a tolerância condicionada como a sensibilização 
condicionada são importantes nesses casos, embora seu papel seja um pouco menos 
claro A re-exposição ao ambiente em que a droga era consumida evoca sintomas de 
abstinência associados a essa droga, o que levaria o sujeito a auto-administrar a droga 
para aliviar tais sintomas (Siegel, 1979). Porém, dado que as mudanças fisiológicas 
associadas à tolerância foram revertidas, o valor da droga como reforço positivo nao vai 
estar diminuído. Em vez disso, é provável que esteja aumentado, já que a diferença do que 
se observa com a tolerância é que o organismo pode ficar sensibilizado durante anos 
após o último consumo da droga (Robinson, 1993; Schenk e Partridge, 1997) Dessa 
forma a primeira administração de uma droga após períodos sem consumo e reforçada 
Sobre Comportamento c Cognição 437 
poderosamente, já que a droga age tanto como reforçador positivo como negativo. Várias 
pesquisas mostram que de fato apenas uma administração da droga pode instalar o 
comportamento de auto-administração, fenómeno que tem sido denominado de "priming" 
(de Wit, 1996),e o que é mais, experiência com drogas da mesma classe pode promover 
o consumo de novas drogas. Por exemplo, (Horger, Wellman, Morien, Davies, e cols.., 
1991) obtiveram resultados que indicam que a pré-exposição a estimulantes como a cafeína 
sensibiliza animais ao efeito reforçador da cocaína. Um estudo anterior feito por Woolverton, 
Cervo, e Johanson (1984) já havia mostrado que a auto-administração de baixas doses de 
metanfetamina em macacos é adquirida apenas quando foram dadas administrações prévias 
não contingentes da droga. Há ainda vários outros estudos na mesma linha que mostram 
resultados similares, seja com cocaína, seja com outros estimulantes. (Schenk e Davidson, 
1998; Schenk e Partridge, 1997; Valadez e Schenk, 1994). Em seres humanos, uma 
pesquisa retrospectiva com crianças hiperativas com história de medicação com 
metilfenidato mostrou que essas crianças apresentam maior tendência a auto-administrar 
cocaína quando adultas (Davidson, Lambert, Hartsough e Shenck, in press c.p. Schenk e 
Davidson, 1998). 
Em conclusão, o modelo aqui apresentado é uma tentativa de integrar de forma 
coerente os dados provenientes das neurociências e da análise experimental do 
comportamento em relação ao abuso de drogas, enfatizando o aparecimento de 
sensibilização e tolerância como mudanças relativamente permanentes no sistema nervoso 
central, decorrentes do consumo repetido de drogas. É claro que o modelo ainda é 
incompleto, já que não abrange totalmente alguns aspectos do abuso de drogas, como 
por exemplo os fatores sociais e emocionais associados a esse comportamento. Isso se 
deve em parte à dificuldade de identificar e medir de forma confiável o efeito desses fatores 
no comportamento de abuso de drogas. 
R E F E R Ê N C I A S 
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442 Maria Teresa A . Silva, Luiz Quilhermc Q. C. Queria, Fábio Leyser Q, onçatves s Míriam Qarcia-Mijares 
Capítulo 46 
O repertório do terapeuta sob ótica do 
supervisor e da prática clínica 
Rachel Rodrigues Kerbauy 
IPUSP 
Considero que o repertório do terapeuta é formado pelo estudo, observação clinica, reflexão e análise da sua prática clinica, 
discussão com colegas e palestras sobre os temas relevantes para seu trabalho. No caso do terapeuta comportamental é 
necessário salientar a observação da cultura e as mudanças rápidas das contingências sociais que influenciaram a formação de 
regras e a liberação de consequências para o cliente. Essa rede intrincada de eventos ambientais e ações constróem a pessoa que 
atua como clinico e faz a diferença encontrada entre os profissionais. Ao supervisor cabe analisar se o terapeuta têm habilidade 
para avaliar os problemas comportamentais do cliente e especialmente se os apresenta de uma maneira empática. O supervisor 
fica atento a interação terapeuta-cliente, e manifesta-se claramente diante do comportamento adaptativos ou mal adaptados. 
Olhará especialmente as reações emocionais do terapeuta-supervisando diante dos comportamentos emitidos pelo cliente na 
sessão e fora dela. Esse ponto é primordial na análise, pois esclarece os problemas pessoais do terapeuta que podem estar 
interferindo nas escolhas terapêuticas. O repertório terapêutico em formação dá condições para avaliação da clareza dos motivos 
do cliente, para estar em terapia. Com essa análise o supervisor avalia e ensina o controle discriminativo existente na interação 
terapeuta-cliente e investiga a mudança de temas, a sequência e conteúdo dessa mudança de temas, a sequência e conteúdo 
dessa mudança, se existem padrões de comportamentos semelhantes em várias situações. A perspicácia e a sensibilidade do 
terapeuta fundamentada em conhecimentos de psicologia é que faz a diferença entre "auxiliar a resolver problemas" e ser 
terapeuta que investe na melhora de vida, resolução de problemas e... felicidade. O terapeuta auxilia o cliente à melhorar a 
qualidade do repertório, que é observado pelos outros e reconhecer seus sentimentos. O repertório do terapeuta de observar, 
escutar as experiências do cliente, verbalizar experiências emocionais, pensamentos e validá-las em função das condições 
existentes esclarece a respeito de padrões do cliente. Concomitantemente promove uma análise reflexiva e busca de alternativas, 
ensaiando comportamentos para lidar com os problemas cotidianos, pela apurada descrição das contingências da situação. O 
terapeuta comportamental é assim um agente de mudança que constrói sua prática clinica, através dos anos, casos atendidos, 
reflexão sobre eles, estudo e pelo desenvolvimento de um repertório pessoal de coragem para desvendar o mundo que vivemos, 
e, inspirar o cliente a como fazer para mudar o seu ou aceitá-lo, se imprescindível. Provavelmente é esse desempenho que 
distingue profissionais na prática clínica: o terapeuta capaz de descrever contingências de reforçamento ou punitivas, de tornar 
o cliente capaz de construir suas próprias regras e aprender como e quando alterá-las, conhecendo-se, lembrando-se de que só há 
a vida da pessoa e nela períodos críticos, determinados biologicamente e pelo ambiente. 
Palavras-chave: Terapeuta; Supervisor; Terapeuta-cliente. 
A therapisfs repertoire depends upon years of study, clinicai practice observation, a reflexive attitude and the self-analysis of 
clinicai practice. The behavior therapist is supposed to highlight the cultural aspeets and the dynamic social contingencies that 
have influenced rule forming behaviors and the delivery of consequences to the clienfs behavior. This complex interaction 
between environamental events and actions are responsible for the diversity found among therapists. The supervisor should 
analyse how skilled the therapist is to be empathic to the clint and to perform an appropriate conceptualization of the case. The 
client-therapist interaction should be carefully scrutinized, in search for adaptative or problem behaviors, as well as the 
emotional reactions presented by the therapist, inside and outside sessions, towards the clionfsaúde reports. This specific point 
would reveal the negative interference exerted upon the client by any personnal problem of the therapist, which wonld affect 
clinicai judgement. A solid lherapeutic behavior may allow the understanding of the clienfs motives to look for Professional care. 
By tha means of such analysis, the supervisor will teach the therapist how to identify the discriminative control that operates 
in the lherapeutic relationship and how to analyse the whole process based upon the sequential analysis of the themes 
discussed along sessions. behavioral patterns presented in several contexls, etc. Being sensitive to such subtle events, 
supported by srilirl knuwledye makes the diferença between a helping professionai and anottier one who does something else, 
who strongly invesls in better living standards, problem solving strategies and the search lor happiness. A

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