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GEOMETRIA DO DESIGN Geometria do design Estudos sobre proporção e composição Kimberly Elam tradução C laudio Marcondes COSACNAIFY Sumário 5 Introdução Proporção no homem e na natureza 6 Proporções e preferências cognitivas 8 Proporção e natureza 12 Proporções do corpo humano na escultura clássica 14 Proporções do corpo humano no desenho clássico 18 Proporções faciais Proporções na arquitetura 20 Proporções arquitetõnicas 22 Traçados reguladores de Le Corbusier Seção áurea 24 Construção do retângulo áureo 27 Proporções áureas 29 Seção áurea e sequência de Fibonacci , 30 Triângulo e elipse áureos 32 Retângulos áureos dinâmicos Retângulos de raiz 34 Construção do retângulo de raiz 2 36 Norma DI N de formatos proporcionais de papel 37 Retângulos dinâmicos de raiz 2 38 Retângulo de raiz 3 40 Retângulo de raiz 4 41 Retângulo de raiz 5 42 Comparação dos retângulos de r,iiz 43 Análises visuais do design 44 Cartaz "Folies-Bergére" 46 Cartaz "Job" 48 Cartaz "Bauhaus Ausstellung" 50 Cartaz para o jornal L'lntransigeant 54 Cartaz "East Coast by L.N.E.R." 56 Cadeira Barcelona 58 Chaise Longue 60 Cadeira Brno 62 Cartaz " Negerkunst" 64 Cartaz "Wagon-Bar" 66 Cartaz "Konstruktivisten" 68 Cartaz "Der Berufsphotograph" 70 Cadeira Plywood 72 Cartaz "Konkrete Kunst" 76 Capela do Instituto de Tecnologia de Illinois 78 Cartaz "Beethoven" 81 Cartaz "Musica Viva" (1957) 82 Cartaz "Musica Viva" (1958) 84 Cadeira Tulipa 86 Cartaz "Vormgevers" 88 Cartaz "Fürstenberg Porzellan" 90 Cartaz "Majakovskij" 92 Processador de alimentos Braun 94 Cafeteira Aromaste, Braun 96 Chaleira li Conico 98 Novo Fusca 701 Epílogo 102 Agradecimentos 103 Créditos de ilustrações 104 Bibliografia selecionada 105 Índice remissivo 106 Sobre a autora Introdução nada aborrece tanto o juízo sadio quanto uma pin- "A geometria é a linguagem do homem. Mas .:,o deter- tw,J realizada sem conhecimento técnico, ainda que k•1l<1 com cuidado e diligência. Ora, o único motivo pelo qual os pintores desse tipo não se dão conta de ,◄•11~ próprios erros é o fato de não terem aprendido 1 geometria, sem a qual ninguém pode ser, ou setor- n11r, um verdadeiro artista; mas a responsabilidade por to deve ser atribuída ~os seus mestres. eles próprios norantes dessa arte." Albrecht Dürer, Unterweísung der Messing [Instrução para medição]. 1525 minar as distâncias respectivas dos objetos, ele inven- tou ritmos, ritmos sensíveis ao olho, nítidos nas suas relações. E esses ritmos estão no nascimento de com- portamentos humanos. Ressoam no homem por uma Fl,talidade orgânica, a mesma fatalidade que faz com que as crianças. os velhos. os selvagens, os letrados tracem a seção áurea." Le Corbusier, Por uma arquitetura, 1923 [ed bras. 1998] 1 r<'lo que é possível aperfeiçoar uma arte sobretu- " as proporções dos elementos formais e de seus JJc a partir de uma base matemática de pensamento." espaços intermediários quase sempre estão relacio- M,,x Bill, extraido de um texto de 1949, republicado nadas a determinadas progressões numéricas logica- 11111 Typographic Communications Today, 1989 mente dedutíveis." "'1ultas vezes. como profissional do design e como edu- <,■dora, vi excelentes ideias conceituais acabarem pre- fuo1cadas durante o processo de realização. em grande parte devido a uma falta de entendimento, por parte do d1slgner. dos princípios visuais da composição geomé- trl< ., Tais princípios incluem uma compreensão dos sis- t,rnas clássicos de proporções, como a seção áurea li os retângu los de raiz, assim como dos conceitos de nzao e proporção e das relações entre as formas e os trn~,1dos reguladores. Este livro se propõe a explicar. 11111 termos visuais, os princípios da composição geo- mMr1ca e também a analisar. em conformidade com 1111•, princípios, um conjunto abrangente de cartazes. lb).,tos e edifícios. A seleção dessas obras teve como critério o fato de '"'""' passado pela prova do tempo e de serem con- tlaarndas, em muitos aspectos. exemplos clássicos de à11•,111n. Elas são apresentadas em ordem cronológica Josef Müller-Brockmann, The Graphic Artist and His De- sign Probfems [O artista gráfico e seus problemas de design]. 1968 e guardam vínculos com o estilo e a tecnologia das épocas em que foram produzidas, mas também com a intemporalidade do design clássico. Apesar das dife- renças que marcam tais épocas e da diversidade formal das obras, de pequenas obras gráficas bidimensionais a estruturas arquitetônicas, nota-se uma extraordinária similaridade em sua concepção e ordenamento, a qual se deve ao uso deliberado da geometria. Este Geometria do design não pretende usar a geometria como critério de avaliação estética, mas an- tes pôr em evidência aquelas relações visuais que se baseiam em atributos essenciais tanto da vida, como a proporção e os padrões de crescimento, quanto da matemática. Seu propósito é esclarecer o processo projetual e oferecer coerência ao desenho por meio de estruturas visuais. Com tal entendimento. o artis- ta ou o designer poderá encontrar, por conta própria, mérito e valor para si mesmo e suas obras. Kimberly Elam Ringling School of Art and Design Primavera de 2001 5 6 Proporções e pref~rências cognitivas Ao longo de toda a história, no contexto tanto do am- biente humano corno do mundo natural, ji'l se com- provou uma evidente preferência cognitiva dos seres humanos pelas proporções baseadas na seção áurea. Alguns dos mais antigos indícios do emprego de um retãngulo áureo - ou seja, aquele no qual há uma pro- porção de 1: 1,61B entre os lados - estão na estrutura de Stonehenge, erguida entre 2450 e 1600 aC Outros indí- cios documentados encontram-se em textos e na arte e arquitetura dos antigos gregos. no século V aC. Mais tarde, artistas e arquitetos renascentistas também es- tudaram, documentaram e empregaram as proporções derivadas da seção áurea em extraordinárias obras de escultura, pintura e arquitetura. E. além das obras feitas pelo homem, as proporções da seção áurea podem ser observadas no mundo natural. tanto nas proporções do corpo humano como nos padrões de crescimento de muitas plantas. animais e insetos. Intrigado pela seção áurea, o psicólogo alemão Gustav Fechner estudou, no final do século XIX, o modo Tabela da preferência por retângulos conforme a proporção razão: largura/comp, retângulo mais selecionado retãngulo menos seleclonado '% Fechner % Lalo % Fechner % Lalo 1:1 3,0 11,7 27,8 22,5 5:6 0,2 1,0 19,7 16,6 4:5 2,0 1,3 9,4 9.1 3 :4 2,5 9 ,5 2,5 9.1 7:10 7,7 5,6 1,2 2,5 2:J 20,6 11,0 º·" 0,6 5:8 35,0 30,3 o.o o.o 13:23 20,0 6 .3 0 .8 0,6 1:2 7.5 8,0 2,5 12,5 2:5 1.5 15.3 35.7 26.6 Totais: 100,0 100.0 100.0 100,1 [) ~ .. ·, .. . . .'-'i ·. t :-1-.: ··· .. ·:z -: .. : .. ,:·.,. ·:.~ :: . . · Jf.! :/: ._ ·: 1: 1 quadrado 5:6 4:5 quadrado proporção á1.1rea quadrado duplo --;, 'i,: :·. 3:4 7:10 como as pessoas reagiam às qualidades estéticas espe- cíficas do retângulo áureo. A curiosidade de Fechner foi despertada pelos indícios existentes de uma predileção estética arquetipica e transcultural pelas proporções da seção áurea. Fechner restringiu seu experimento ao mundo hu- mano e começou tomando as medidas de milhares de objetos retangulares, tais como livros, caixas, edifí- cios, caixas de fósforo, jornais etc. E descobriu que a razão média dos retángulos estava próxima· daquela Gráfico comparativo das preferências por retângulos Grâfico de Fechner, 1876 e Gráfico de Lalo, 1908 ■ 50% 45% 40" ! 35% l 30% 25% 20% ! conhecida como seção áurea. ou seja, 1: 1,618, e que a maioria das pessoas preferia os retângulos que exibiam proporções semelhantes a essa. Os experi- mentos exaustivos mas informais de Fechner acaba- ram sendo repetidos. com maior rigor cientifico. pelo francês Charles Lalo em 1908. e mais tarde por ou- tros pesquisadores, que obtiveram resultados nota- velmente simi lares. 1 ./, . "'-- / / '\. "'- / / '\. > l / / '\. "' •• 15% / / '\._ "'- ---10% 5% 0 % ............__ l :1 quadrado 5:6 .,,,,.,.- - 4:5 3:4 1 7:10 5:8 13:23 seção áurea 2:3 5:8 seção âurea 13:23 1:2 ---- 1:2 quadrado duplo quadrado duplo ..... 2:5 :i," 2:5 7 8 Proporção e natureza "O poder do segmento áureo de criar harmonia advém de sua capacidade singular de unir as diferentes par- tes de um todo, de tal forma que cada uma continua mantendo sua identidade, ao mesmo tempo que se integra ao padrão maior de um todo único." Gyõrgy Doczi, O poder dos limites: harmonias e propor- ções na natureza, arte e arquitetura, 1986 [ed. bras. 1990] A predileção pela seção áurea não se restringe ao sen- so estético dos seres humanos; ela também faz parte Archítectoníca nobílís Padrão de crescimento em espiral. das notáveis relações entre as proporções nos padrões de crescimento de seres vivos como plantas e animais. As formas com perfil em espiral das conchas re- velam um padrão cumulativo de crescimento, o qual foi objeto de vários estudos c ientíficos e artísticos. Os padrões de crescimento das conchas são espirais logarítmicas de proporções áureas, refletindo o que ficou conhecido como a teoria de um padrão de cres- cimento perfeito. No livro The Curves of Life [ As cur- vas da vida]. Theodore Andrea Cook descreve esses Náutllo ~ \l '\ \~ _/' Espiral áurea Diagrama de construção de um retângulo áureo e da espiral resultante. Corte transversal do Nautilus pompi/ius mostrando o padrão de crescimento em espiral. Políníces duplicatus Padrão de crescimento em espiral. padrões de crescimento como "os processos essen- ciais da vida". Em cada etapa de crescimento, assi- nalada por uma espiral, a nova espiral é muito próxi- ma da proporção de um quadrado áureo maior que o anterior. Os padrões de crescimento das conchas do náutilo e de outros moluscos nunca exibem propor- ções áureas exatas. Em vez disso, o que se constata nas proporções dos padrões de crescimento biológico é a tentativa, nunca alcançada, de chegar a propor- ções áureas exatas nas espirais. Comparação do crescimento em espiral de uma concha e a proporção áurea Padrão pentagonal O pentágono e o ppntagrama têm proporções áureas, pois a razão dos lados dos triángulos em um pentagrama é 1:1,618. As mesmas relações presentes no pentágono/ pentdgrarna silo encontradas nas bolachas-da-praia e nos flocos de neve. O pentágono e o pentagrama (um pentágono re- gular estrelado) também exibem proporções áureas e podem ser encontrados em muitas criaturas vivas, como a bolacha-da-praia. As divisões internas de um pentágono criam um pentagrama, no qual a razão en- tr.e duas linhas quaisquer tem a proporção de 1:1,618. '\ !\ ' t ! \~\ 1 \ 1 \ ' \ ,. 9 10 A pinha e o girassol apresentam padrões de cresci- mento em espiral muito semelhantes. As sementes dos dois crescem ao longo de duas espirnis que se intersectam e irradiam em direções opostas, e cada semente pertence a ambos os conjuntos de espirais. O exame das espirais da pinha revela que 8 delas se movem em sentido horário e outras 13 em sentido anti-horário, aproximando-se bastante das propor- ções da seção áurea. A mesma proximidade com a seção áurea ocorre no caso das espirais do girassol: há 21 espirais em sentido horário e 34 em sentido anti-horário. Os números 8 e 13, constatados nas espirais da~ pinhas, e 21 e 34, nas dos girassóis, são bem conht- cidos dos matemáticos. Eles são pares adjacentes na série matemática conhecida como sequência de F1• bonacci. Nesta, cada número é obtido pela soma dos dois anteriores: O, 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55 ... A razão entre dois termos sucessivos na série tende no limite a 1:1,618, ou seja, à proporção áurea. Padrões de crescimento em espiral dos girassóis Tal como ocorre nas pinhas, cada semente no girassol pertence a ambos os conjuntos de espirais: 21 espirais irradiam em sentido horário, e 34_em sentido anti-horário. A proporção de 21:34 é 1:1,619 - muito próxima de 1:1,618, a • proporção áurea. Padrões de crescimento em espiral das pinhas Cada semente na pinha pertence a ambos os conjuntos de espirais: 8 delas irradiam em sent ido horário e 13, em sentido anti-horário. A proporção de 8:13 é 1:1,625 - também muito próxima de ll,618, a proporção áurea. \ Muitos peixes também exibem medidas relaciona- das com a seção áurea. A superposição de três dia- gramas de construção com a proporção áurea ao cor- po de urna truta arco-íris mostra as relações entre o olho e a nadadeira caudal nos retângulos e quadrados dourados recíprocos. Além disso. as nadadeiras indi· viduais exibem proporções áureas. O peixe-anjo-azul enquadra-se exatamente em um retângulo áureo, e sua boca e guelras estão no ponto áureo reciproco da altura do corpo. retângulo áureo Análise da seção áurea em uma truta O corpo de uma truta enquadra-se em três retângulos áureos. O olho é bissectado pelo lado de um retângulo áureo reciproco, e outro retângulo deste tipo define ~ nadadeira caudal. Análise da seção áurea em um peixe-anjo-azul Todo o corpo do peixe se enquadra em um retàngulo áureo. A boca e a guelra estão no retângulo áureo recíproco. Talvez parte do nosso fascínio pelo ambiente natu- ral e por seres vivos como conchas, flores e peixes seja devido à nossa predileção subconsciente pelas pro- porções, formas e padrões associados à seção áurea. retãngulo áureo 11 12 Proporções do corpo humano na escultura clássica Assim como muitas p lantas e animais compartilham as proporções áureas. o mesmo se dá com os seres humanos. Talvez outro motivo para a predileção cog- nitiva pelas proporções áureas seja o fato de que o rosto e o corpo humanos exibem as mesmas rel.ições proporcionais matemáticas constatadas em todos os seres vivos. Algumas das mais antigas investigações sobre pro- porções anatômicas e arquitetónicas são encontradas Proporções áureas na escultura grega O Doríforo (o portador de lança) à esquerda. O Zeus do Cabo Artemísion à direitil. Cada retângulo áureo é representado por um retângulo com uma linha diagonal tracejada. Múltiplos retângulos áureos partilham a mesma diagonal tracejada. As proporções das duas figuras são quase idênticas. nos tratados de um arquiteto e estudioso latino do primeiro século dC, Marcus Vitruvius Pollio. Vítrúvio, como é mais conhecido, recomendava que a arquite- tura dos templos fosse baseada nas proporções ideais de um corpo humano em que todas as partes estão em perfeita harmonia. Ao descrever tal ideal, ele expl i- cava que a altura de um homem bem-proporcionado é equivalente ao comprimento de seus braços aber- tos. A altura do corpo e o comprimento dos braços \ i- e ,:arpo, ao p ~: ,o qut ~s m os cujo centro c01nc1de com o umbigo. da ao r1e10 "ª virilha e (a direita) pela bgo, estendidos criam um quadrado. enquanto as mZ!us e os pés tocam um circulo cujo centro e o umbigo. Nes- se esquema, a forma humana é d1v1dida ao meio na vinlr a e pela seção áurea no umbigo. As estatuas do Dbríforo e de Zeus sào ambas dos anos 1400 ac. Em- bora realizadas por escultores diferentes muito tem- po ,ntes dos estudos de V1truv10, ambas coincidem claramente com as proporções por ele recomendadas. ll  1 Z•us analisado segundo o cânone de Vitrúvio \1"1 quadrado encerra o corpo, ao passo que as mãos 9cam um círculo cujo cent ro coincide com o umbigo. figura é dividida ao meio na virilha e (à direita) pela ttÇfto ,iurea no umbigo. estendidos criam um quadrado, enquanto as mãos e os pés tocam um círculo cujo centro é o umbigo. Nes- se esquema, a forma humana é divid ida ao meio na virilha e pela seção áurea no umbigo. As estátuas do Doríforo e de Zeus são ambas dos anos 1400 aC. Em- bora realizadas por escultores diferentes muito tem- po antes dos estudos de Vitrúvio, ambas coincidem claramente com as proporções por ele recomendadas. 13 14 Proporções do corpo humano no desenho clássico O cânone vitruviano foi adotado por artistas renas- centistas como Leonardo da Vinci e Albrecht Dürer, no final do século XV e inicio do XVI. Tanto Da Vinci como Dürer se dedicaram ao estudo dos sistemas de proporções da anatomia humana. Os experimentos de ! \ Homem Inscrito num círculo, Albrecht Dürer, após 1521 .. Dürer com vários desses sistemas podem ser vistos em sua obra Vier Bücher von menschlicher Proportion [Quatro livros sobre a proporção humana], de 1528. Já Leonardo da Vinci fez as ilustrações para o livro De divina proportione [ Sobre a divina proporç5o] ---------- Homem vítruviano, Leonardo da Vinci, 1485-90 \ 1 rio matemático Luca Pacíoli. Individualmente, 111hos de Da Vinci e de Dürer se conformam u11te ao sistema de V it rúv io. Além disso, quan- p.uamos esses desenhos com a ajuda de so- l~ r,,,5 transparentes, constatamos que ambos !IS proporções vitruvianas e são, na verdade, ld(mticos. A única d iferença significativa está IUJo , ,'ntro •como umbigo. 1 ••t,\ <l1v,dida ao • ~ltllt1,1 e pela •. Á 15 16 O cânone vitruviano aplicado ao Homem vltruvíano, de Leonardo da Vinci Um q uadrado encerra o corpo, ao passo que as mãos e os pés tocam um círculo cujo centro coincide com o umbigo. A f igura está d iv id ida ao meio na virilha e pela seção áurea no umbigo. / 17 Comparação das proporções de OClrer <•m vermelho) e Da Vinci (em preto) As proporções de ambos os art istas são quase idênticas. --- 17 18 Proporções faciais O cânone de Vitrúvio abrange as proporções do ros- to e do corpo humano. O posicionamento dos traços faciais revela as proporções c lássicas usadas na es- cultura greco-romana. Embora tanto Leonardo da Vinci como Albrecht Dürer tenham empregado o cânone vitruviano de proporções anatômicas, notam-se diferenças sig- nificativas nas proporções faciais. O sistema de Da Vinci para o rosto reproduz o de Vitrúvio e linhas Comparação de proporções faciais e seção áurea Detalhe da cabeça do Doríforo (esquerda). Detalhe da cabeça do Zeus do Cabo Artemision (direita). Quando aplicamos às cabeças das estátuas o cânone vitruviano, notamos que as proporções silo quase idênticas. Estudos das proporções faciais por Dürer, e. 1526·27 Quatro cabeças construídas, desenho publicado em Das Skizzenbuch von Albrecht Dürer [O caderno de rascunhos de Albrecht Dürer], 1905 ' I de construção suaves podem ser vistas em seu de· senha original. Dürer, no entanto, recorre a proporções faciais cla- ramente diferentes. No Homem inscrito num círculo, as proporções são caracterizadas pelos traços con- centrados na parte inferior do rosto e pe la testa mais ampla, o que possivelmente revela urna predileção es- tética comum à época. O rosto é dividido ao meio por uma linha no topo das sobrancelhas, com os olhos, , ", , I O diagrama mostra que um único retângulo áureo rege o comprimento e a largura da cabeça. Esse retângulo subdivide-se a seguir em retângulos áureos menores que definem a posição dos outros elementos faciais. de- :la- 1/0, :>n- 3is es- ,or )S, 11 n c1r1z e a boca debaixo dela; além disso, o pesco- " é encurtado. Essas mesmas proporções reapare- .. m com frequência nos desenhos de Vier Bücher von P,,•nschlicher Proportion, de 1528. Dürer também ex- 11101,1 outros tipos de proporções faciais no desenho Q11,1tro cabeças construidas, no qual introduz linhas Obliquas no grid de base a fim de obter variações. Os seres humanos, ta l como as outras criaturas, ra- r1mt>nte exibem proporções faciais ou corporais que Comparação de proporções faciais em desenhos de Oa Vinci e Dürer 0etalhes das cabeças de Homem vitruviano, de Da Vinci (tsquerda), e Homem inscrito num círculo, de Dürer (direita). No desenho de Da Vinci, as proporções faciais •• adequam ao cânone vitruviano, ao contrário do que ocorre na cabeça desenhada por Dürer. refletem perfeitamente a seção áurea, exceto nas con- cepções artisticas manifestadas em desenhos, pintu- ras e esculturas. O emprego da proporção áurea pe- los artistas, sobretudo pelos gregos antigos, era uma tentativa de idealizar e sistematizar a representação da figura humana. , ' I " , 19 20 Proporções arquitetônicas Além de registrar as proporções da anatomia huma· na, Vitrúvio também era arquiteto e catalogou as proporções arquitetônicas mais harmoniosas. Se- gundo ele, a arquitetura dos templos deveria se ba- sear no corpo humano bem-proporcionado, aquele no qual há perfeita harmonia entre todas as par- tes. Atribui-se a ele a introdução do conceito de módulo, do mesmo modo que as proporções hu- manas se expressavam de acordo com um módu- lo definido pela medida da cabeça ou do pé. Esse Desenho do Partenon, Atenas, e. 447-432 ac, e relação arquitetônica com a seção áurea Aná lise das proporções áureas segundo o diagrama de construção da seção áurea. ' \ Análise da harmonia áurea conceito viria a adquirir muita importância na his- tória da arquitetura. O templo do Partenon, em Atenas, é um exemplo do sistema de proporções usado pelos gregos an- tigos. Um exame sumário revela que a fachada do edifício é contida em um retângulo áureo subdivi· dido. o quadrado do retângulo recíproco principal fornece a altura do frontão, e o retângulo menor do diagrama determina o posicionamento do friso e da arq ui trave. ,- seção acima do óculo. a janela circular central, que intercep- a, foi propositalmente empregada na arquitetura 11•, Igrejas góticas. Em Por uma arquitetura, Le Cor- ltu~"•r cita o papel do quadrado e do círculo nas pro- tOr~ óes da fachada da catedral de Notre-Dame, em tam as principais linhas de força verticais da catedral. A porta central tam bém tem uma proporção áurea. como se pode ver no diagrama de construção. A pro- porção do óculo é 1/4 do diâmetro do círculo inscrito li',uh O retângulo em torno da fachada da catedral no quadrado maior. l•rr1 ., proporção áurea. O quadrado desse retângulo 1'9o encerra a parte principal da fachada, e o retân- áureo recíproco inclui as duas torres. Os traçados ••~ul,,dores são as d iagonais que se encontram logo om11nraçào das proporções ~ 6cul" está na proporção de 1 , 1m rc-lação ao grande 11 uln d,J fachada. retângulo áureo recíproco 21 22 Traçados reguladores de Le Corbusier "Do nascimento fatal da arquitetura. A obrigaç5o da ordem. O traçado regulador é uma garantia contra o arbitrário. Proporciona a satisfação do espírito. O traçado regulador é um meio; não é uma receita. Sua escolha e suas modalidades de expressão fazem parte integrante da criação arquitetural." Le Corbusier, Por uma arquitetura, 1923 Redesenhada a partir de uma lápide de mármore descoberta em 1882, a Fachada do Arsenal do Pireu. Le Corbusier, Por uma arquitetura, 1923 Le Corbusier cita os traços reguladores das divisões simples, que determinam a proporção entre a a ltura e a largura e orientam o posicionamento e a medida das portas. A fachada enquadra-se em um retângulo áureo, com a posição e a altura da porta principal correspondendo a essa proporção. O interesse de Le Corbusier pe la aplicação da geo- metria e da matemática está registrado em Por uma arquitetura. Nesse livro, ele discute a necessidade dos traçados reguladores como um meio de criar ordem e beleza na arquitetura, e também responde à crítica de que "com seus traçados reguladores, vocês ma- tarão a imaginação e entronizarão a receita". Ao que ele retruca: "Mas o passado nos legou provas, docu- mentos iconográficos, estelas, lajes, pedras gravadas, pergaminhos. manuscritos. impressos ... [ ... ] I I , I ~eo- 1ma dos lem :ica ma- 1ue icu- Jas, Pera construir bem e para repetir seus esforços, ern ., solidez e a utilidade da obra, ele [o homem , passado] tomou medidas, admitiu um módu- regulou seu trabalho, introduziu a ordem. ( ... ] •••' medir, tomou seu passo, seu pé, seu cotove- uu seu dedo. Impondo a ordem com seu pé ou seu braço, criou um módulo que regula toda a 1111 ,1, e esta obra está em sua escala, em sua con- itnl<-ncia, em seu bem-estar, em sua medida. Está • isca/a humana." Le Corbusier considera o traçado regulador "um dos momentos da inspiração, é uma das operações capitais da arquitetura". Mais tarde, em 1950 publicou Le Modu- lor: essai sur une mesure harmonique à /'échelle humaine applicable universellement à /'architecture et à la méca- nique [O Modular: ensaio sobre uma medida harmônica em escala humana de aplicação universal na arquitetura e na mecânica]. O Modulor apresenta o seu sistema de proporções baseado na matemática da seção áurea e nas proporções do corpo humano. ----------------------- - ~ Corbusier, 1916. Uma Villa, em 11m11 arquitetura, 1923 tr,a) O desenho de Le Corbusier tlt~ a série de traçados reguladores lor,,rn usados no projeto do edifício . • nhns vermelhas sobrepostas ao 4,11,ho mostr,im o retângulo áureo e as l9011.11s de construção. 1, lo dos traçados reguladores de Orliusier com os dois diagramas ~n•trução do retângulo áureo. 60~ f 30• --~ } __________ ____ _____ _ I ' , J ' I , I 23 24 Construção do retângulo áureo O retângulo áureo é uma razão da "proporção divi- na". Esta é derivadil dil divisiio de uma linha em dois segmentos, tais que a razão entre o segmento todo AB e sua parte mais longa AC é igual à razão entre AC e a parte menor CB. E tal razão é de aproximada- mente 1,61803 para 1, também expressa como 1 ~Is. 2 Seção áurea, método de construção com quadrado 1. Comece com um quadrado. 2. Trace uma diagonal desde o ponto mediano A em um dos lados até o vértice oposto B. Essa diagonal torna-se o raio de um arco de circunferência que intercepta o ponto C no prolongamento da linha inferior do quadrado. O retângulo menor e o quadrado se tornam um retângulo áureo. 3. Ao dividir-se o retângulo áureo, obtém-se um retângulo áureo menor, denominado recíproco. Resta uma área quadrada depois da subdivisão, também chamada de gnômon. 4. O processo de subdivisão pode continuar indefinidamente, gerando retângulos e quadrados proporcionais cada vez menores. .. A proporção divina: A AB = AC AC CB I I J I I I e B retãngulc áureo I I J ' ' ' \ \ \ B A e gn6mon (quadrado~ ,,, ' \ \ , ,,, 1Cil:tângulo áureo r•c~roco ' \ ' \ ' \ L✓r,, ' \ ' \ ' \ I I 1 l retângulo áureo é único porque, ao ser dividido. o .. u retângu lo reciproco é um retângulo proporcional IT\l•no r, e a área remanescente após a divisão é um l&Jadrado. Os quadrados proporcionais decrescentes Iodem gerar uma espiral quando se usa um raio com ~ mesmo comprimento dos lados do quadrado. m um diagrama de subdivisões da t Quadrados do diagrama da subdivis~o •~ l•ç~o áurea mantêm entre eles a , .. 1,çao áurea. ◄ - - - --~ 2S 26 Retângulo áureo, método de construção com triângulo 1. Comece com um triângulo reto cujos lados estejam na proporção 1:2. Trace um arco a partir de D, usando DA como raio, e intersecte a hipotenusa. 2. Trace outro arco ao longo da hipotenusa a partir de C, usando CE como raio para intersectar a linha de base. 3. Do ponto B, onde o arco intersecta a linha de base, trace uma linha vertical que toca a hipotenusa. 4. Esse método resulta em proporções áureas ao definir o comprimento de AB e BC, que são os lados do retângulo. A d ivisão do triângulo proporciona a criação dos lados de um retiingulo com proporção áurea, pois a razão entre AB e BC é de 1:1,618. D A e B B e ---- ----+-----------, -. l J Proporções áureas A, divisões e proporção do método de construção com triãngulo geram os lados de um retângulo áureo. Além disso. o método pode resultar em uma série de 1 lrculos ou quadrados que mantêm entre si a propor- ~lo áurea, como se vê nos exemplos abaixo. retângulo áureo + A + AB + ABC + ABCD + ABCDE + ABCDEF + quadrado B : e = D: E = F : G: AB =BC+ CD BC= CD+ DE CD= DE+ EF etc. retângulo áureo AB ABC ABCD ABCDE ABCDEF ABCDEFG 27 D E ~ G F 28 Proporções áureas em círculos e quadrados O método de construçao de seções áureas por meio do triángulo também produz uma série de círculos o u quadrados áureos. .. I > 4 Seção áurea e sequência de Fibonacci A~ propriedades específicas da seção áurea têm es- treita relação com a série de números denominada se- quência de Fibonacci, assim chamada em homenagem ao seu descobridor, o matemático Leonardo de Pisa ( 1170-1250), conhecido como Fibonacci, e que também foi o introdutor dos algarismos arábicos na Europa cer- ca de o itocentos anos atrás. Essa sequência de núme· ros -1. 1, 2, 3. 5, 8, 13, 21, 34 - é calculada somando-se Sequência numérica de Fibonaccl ,. 1, 2 , 3, 5, B, 1+1 =21 1+2=3, 2+3=5, os dois números antecessores para se obter o seguinte. Por exemplo, 1 + 1 = 2, 1 + 2 = 3, 2 + 3 = 5 etc. A pro- porção entre qualquer par de números na sequência é muito próxima da proporção áurea. Os primeiros pares da série vão progressivamente se aproximando da seção áurea, e, depois do 15• numero, a divisão de qualquer número pelo subsequente tende a 0,618, e a divisão por qualquer número anterior tende a 1,618. 13, 21 , 34, 55, 89, ate. 3+5=8, 5+8=13, 8+13=21, 13+21=34, 21+34=55 34+55=89 2/1 = 2,0000 3/ 2 1,5000 5/3 1,66666 8/5 = 1,60000 1318 1.6250 0 21/13 1,61538 3 4/ 21 1.61904 55/34 = 1,61764 B9; 5s 1.61818 144/ 8 9 = 1,61797 233/ 144 1,61805 377/23 3 1,61802 610/ 377 1,618 0 3 seção áurea 29 30 Triângulo e elipse áureos O triângulo áureo é um triângu lo isósceles, ou seja, com dois lados iguais, também conhecido como triân- gulo "sublime", pois tem propriedades estéticas simi- lares às do retângulo áureo - e é o triângulo preferi- do pela maioria das pessoas. Facilmente construído a partir de um pentágono, tem ângulos de 36° no vér- tice e de 72º na base. Essa construção pode ainda dar origem a outro triângulo áureo, conectando-se o ân- gulo da base do triângulo maior ao vértice do pentá- gon o no lado oposto. A interligação dos vértices com Construção do triângulo áureo a partir do pentágono Comece com um pentágono. Conecte os ângulos na base ao vértice do pentágono, o que resulta em um triângulo áureo com ângulos de 72º na base e de 36º no vértice. Construção de triângulo áureo secundário a partir do pentágono A construção do pentágono também resulta em triângulos âureos secundá- rio s. Basta conectar um ângulo da base a um dos vértices do lado oposto. Construção de triângulo áureo a partir do decágono Comece com um decágono, ou seja, um po lígono com dez lados. Conecte quaisquer dois vértices adjacentes ao centro para obter um t riângulo áureo. as diagonais resulta em um pentagrama. O decágono, um polígono com dez lados, também resulta numa série de triângulos áureos quando o seu ponto cen- tral é conectado a quaisquer dois vértices adjacentes. Também se comprovou que a elipse áurea tem qua- lidades estét icas similares às do retângulo e do triân- gulo áureos. Tal como no retângulo, nela se constata a mesma proporção de 1:1,618 entre os seus dois eixos, o principal e o secundário. t Elipse áurea inscrita em retângulo áureo Triângulo áureo inscrito em elipse áurea, Inscrita em retângulo áureo í I Proporções áureas do pentagrama A estrela de c inco pontas criada a partir das diagonais de um pentágono regular • um pentagrama, cuja parte central é outro pent ágono etc. A progressão de pentágonos cada vez menores é conhecida como lira de Pitágoras, devido • sua relação com a seção áurea. Criação de espiral áurea a partir do lrlãngulo áureo Um triângulo áureo pode ser dividido em Alma série de triângulos áureos menores :aiuando se traça um novo ângulo de 36º • partir de um ângulo da base. Para se l!rl~r a espiral, usa-se o comprimento dos .. dos dos t r iângulos das subdivisões tomo raio de um círc ulo. --- - --- ' ..i. / ~~,, ~ --', ""-¾., ' ' ' ' ,,: 31 ( \ 32 Retângulos áureos dinâmicos Todos os retângulos se dividem em duas categorias: os retângulos estáticos, com razões de frações de nú- meros racionais (como l/2, 2/3, 3/3, 3/4 etc), e os retângulos dinâmicos, com razões de frações de nú- meros irracionais (como fi, -13, Js, ~ da seção áurea retângulos dinâmicos produzem, ao se dividirem, uma interminável quantidade de subdivisões e razões de superfície harmoniosas em termos v isuais, pois suas razões derivam de números irracionais. O processo de divisão de um retângulo dinâmico etc.). Quando divididos, os retângulos estáticos não em uma série de subdivisões harmônicas é muito sim- resultam numa série de superfícies proporcionais vi- pies. Diagonais são traçadas entre vértices opostos e sualmente atraentes. As subdivisões são previsíveis e então uma rede de linhas paralelas e perpendiculares não apresentam muitas variações. Por outro lado, os é construída a partir dos lados e das diagonais. Retângulos áureos dinâmicos Esses d iagramas, extraídos de The Geometry of Art and Life [A geometria da arte e da vida]. de Matila Ghyka, ilustram vários exemplos de subdivisões harmônicas de retângulos áureos dinâmicos. Os pequenos retângulos em vermelho (esquerda) mostram a construç~o dos rettingu los áureos. Os retângulos nas cores cinza e vermelho (coluna intermediária) mostram a construç~o dos retllngulos áureos em vermelho, com as subdivisões harmônicas em linhas cinzentas. Jâ os retângulos com linhas pretas (direita) indicam apenas as subdivisões. I E[] ' - [Z[J - ' 33 [E] ' ' ' 34 Construção do retãngulo de raiz 2 Os retângulos de raiz 2 exibem a propriedade espe- cial de serem infinitamente divisíveis em retângulos proporcionais menores. Isso significa que. quando se divide ao meio um retângulo de raiz 2, resultam dois retângulos menores também de raiz 2; e, quando é Construção do retângulo de raiz 2, método do quadrado 1. Comece com um quadrado. 2. Trace uma diagonal no interior do quadrado. Use a diagonal como raio de um arco q ue intersecta a linha da base do quadrado. Complete o retangulo em torno da nova f igura. Este é um retàngulo de raiz 2. , , Subdivisão de raiz 2 1. O retângulo de raiz 2 pode ser dividido em retângulos similares menores. Dividindo-se o retângulo com a ajuda de uma diagonal, obtém-se dois retângulos menores. Subdividindo cada um destes, obtêm-se sucessivamente retângulos menores de raiz 2. 2. Esse processo pode ser repetido sem cessar, gerando uma série infinita de retângulos de raiz 2. , , , , , , , , , • / , , , , • dividido em quatro, resultam quatro retângulos meno· res de raiz 2 etc. Cabe notar ainda que as proporções do retângulo de raiz 2 são bem p ró ximas da seção áurea: as dos retângulos de raiz 2 são 1:1.41, contra 1:1,618 da seção áurea. , , , , , , ' ' ' ' , \ ,,\.-, , , , ' ' \ 1 fi. 1 \ ' ' , .fi~ , , II ' ' ' 1 , , , , \ ' ' \ \ ' .fi , , , , , \ , ' , , ' , ' , ' , , ' , ' retângulo .fi mtãngulo li I l Construção do retângulo de raiz 2, método do circulo 1. Outra maneira de se construir um retângulo de raiz 2 começa com o traçado de um círculo. Em seguida, inscreve-se um quadrado no circulo. 2. Prolongue os dois lados opostos do quadrado de modo que tangenciem o circulo. O retângulo obtido é de raiz 2. Espiral decrescente de raiz 2 Pode-se construir uma espiral decrescente de rai z 2 traçando-se e conectando-se as diagonais nos retângulos recíprocos de raiz 2. Relações proporcionais de raiz 2 A subdivisão contínua de um retângulo de raiz 2 resulta em retângulos similares proporcionalmen- te menores. ' ' JS 36 Norma DIN de formatos proporcionais de papel Os retângulos de raiz 2, como se viu, têm a proprie- dade de se subdividirem sem cessar em retângulos proporcionalmente menores. Por esse motivo, servem de base para a norma DIN - Deutsche Industrie Nor- men (normas industriais alemãs), um critério para a definição de formatos de papel. E também regem as proporções de muitos dos cartazes examinados nes- te livro. Uma dobra inicial no meio da folha resulta em duas meias-folhas, ou fólios. Dobrando-se quatro A2 Al A4 A3 AS 1 Al A2 vezes a folha original, obtêm-se quatro folhas meno- res ou oito páginas impressas etc. Esse sistema não só é eficiente, corno também otimiza o uso do papel. As cidades europeias nas quais é tradicional o uso de cartazes dispõem de áreas públicas próprias para eles com essa proporção. Além da vantagem prática de evitar o desperdício no uso das folhas de papel, o retângulo de raiz 2 se aproxima das propriedades es- téticas da seção áurea. A3 t A4 AS I I Retângulos dinâmicos de raíz 2 r>o mesmo modo que os retângulos áureos, os re- tltingulos de raiz 2 são conhecidos como retângulos dinâmicos, pois, como aqueles, produzem uma varie- dade de subdivisões e combinações harmônicas que 1empre guardam as proporções do retângulo orig inal. Divisões harmônicas dos r•tângulos de raiz 2 (•squerda) Divisão de l,lm retângulo de raiz 2 tm 16 retângulos menores ele raiz 2. (direita) Divisão de um ,.tllngulo de raiz 2 em A colunas e ângulos 1d1acentes. (esquerda) Divisão de 1,1m retângulo de raiz 2 em 9 ret5ngulos menores de raiz 2. (direita) Divisão de um retângulo de raiz 2 em 1 retângulos menores de raiz 2 e 3 quadrados. (esquerda) Divisão de um ,.!ângulo de raiz 2 em 5 retângulos menores de raiz 2 e 2 quadrados. (direita) Divisão de 2 l'tlllngulos de raiz 2. O processo de divisão harmônica requer o traçado de diagonais e, depois, o traçado de uma rede de li - nhas paralelas e perpendiculares aos lados e às diago- nais. Os retângulos de raiz 2 sempre vão se subdividir em um número equivalente de retângulos recíprocos. quadr o 1 1 37 38 Retângulo de raiz 3 Assim como o retângulo d e raiz 2 pode ser dividido em outros retângulos similares, o mesmo se dá com os retângulos de raiz 3, raiz 4 e raiz 5 . Esses retângulos O retângulo de raiz 3 tem a propriedade de per- mitir a construção de um prisma hexagonal regular, Esse hexágono é encontrado também na forma dos podem ser d ivididos tanto na vertical como na horizon- crista is de neve. d os favos de mel e em muitas outras tal. O de raiz 3 pode ser subdividido em 3 retângulos estruturas do mundo natural. verticais de raiz 3; e est es, por sua vez, em 3 retângulos horizontais de raiz 3 etc. Construção de raiz 3 1. Comece com um retângulo de raiz 2. 2. Trace uma diagonal no interior do retângulo de raiz 2. Use a diagonal como raio de um arco de c ircunferência que intersecta o prolongamento da linha na base do retângulo de raiz 2. Complete o retângulo em t orno da figura. Este é um ret~ngulo de raiz 3. Subdivisão de raiz 3 O retângulo de raiz 3 pode ser d ividido em retângulos similares menores. Divida o retângulo em três retângulos menores. Divida de novo cada um destes em retângulos de raiz 3 ainda menores. Esse processo pode ser repetido sem cessar, criando-se assim uma série infinita de retângulos de raiz 3. ,' / / / " ' \ ' ' ' ,.. ' ' \ ' ' 1 Construção de hexágono É possível construir um hexágono a partir de um ret ângulo de raiz 3. Para tanto, gira-se o retângulo em torno de seu eixo central de modo que os vértices se encontrem. 39 ~o Retângulo de raiz 4 Construção de raiz 4 1. Comece com um retângulo de raiz 3. 2. Trace uma d iagonal no interior do retângulo de raiz 3. Use a diagonal corno raio de um arco de circunferência que intersecta o prolongamento da linha da base do ratãngulo. Complete o retângulo em torno da figura. Este é um retângulo de raiz 4. Divisão de raiz 4 O retângulo de raiz 4 pode ser dividido em retângulos similares menores. Divida o retângulo em 4 retângulos menores. Em seguida, subdivida cada um destes em retângulos de raiz 4 ainda menores. Esse processo pode ser repetido sem cessar, criando-se assim uma série infinita de retángulos de raiz 4 . ✓ ✓ , , , , , , , , , ✓ , , , , , ,'T \ ' , , , , , , , \ 1 1 \ 1 1 'J,r-1- 1 ' 1 1 \ 1 1 1 1 Retângulo de raiz 5 Construção de raiz S 1. Comece com um retângulo de raiz 4. 2. Trace uma diagonal no interior do· retângulo de raiz 4. Use a diagonal como raio de um arco de circunferência que Intersecta o prolongamento da linha na base do retângulo de raiz 4. Complete o retângulo em torno da figura. Este é um retângulo de raiz 5. Divisão de raiz S O retângulo de raiz 5 pode ser dividido tm retângu los similares menores. Divida o retângulo em 5 retângulos menores. Em 1eguida, subdivida cada um destes em retângulos de raiz 5 ainda menores. Esse 11rocesso pode ser repetido sem cessar, criando-se assim uma série infinita de retângulos de raiz 5. Raiz S, método de construção com quadrado Outra maneira de construir um ret ângulo de raiz 5 parte de um quadrado. Um 1emiclrculo é traçado a partir do ponto central da linha de base do quadrado. Em H guida, prolonga-se o q uadrado de modo 1 Incluir os arcos em ambos os lados. Os pequenos retângu los em ambos os lados do quadrado são retângulos áureos, • cada um deles, juntamente com o ~uadrado orig inal, forma outro retângulo ,u,eo. Os dois ret ângulos áureos e o ~uadrado formam um retângulo de raiz 5. " .. .. - • - - - .... ---,, .... ___ ... \ _,, .. + ·\•' ------'------"----''------ 41 Comparação dos retângulos de raiz ,42 ' ' ' ' } , , ' ' ' ' ' ' ' ' J-+r 'J-1-+t ' Análises visuais do design Não há melhor maneira de iniciar esta análise de exemplos clássicos do design gráfico, ilustração, arquitetura e design industrial do que recorrendo a uma intro- dução escrita por Le Corbusier. Em seu livro Le Modulor, ele fala de uma revelação que teve durante sua juven- tude em Paris. "Um dia. sob a lamparina a óleo em seu quartinho parisiense. alguns cartões-pos- tais com obras de arte estavam espalhados sobre a mesa. Seu olho deteve-se em uma imagem do Capitólio de Michelangelo, em Roma. Ele virou outro cartão, dei- xan_do-o com o verso para cima, e intuitivamente um de seus ângulos (um ângulo reto) cobriu a fachada do Capitólio. De repente, ele ficou impressionado de novo com !Jma verdade corriqueira: o ângulo reto rege a composição; os lieux (/ieux de /'angle droit, "localizações do ângulo reto") ordenam toda a composição. Para ele isso foi uma revelação, uma certeza. O mesmo teste funcionou com uma pintura de Cézanne. Mas ele desconfiou de seu próprio veredicto, dizendo a si mesmo que a composição de urna obra de arte é ordenada por regras: tais regras podem ser métodos conscientes, apropriados e sutis, ou podem ser regras corriqueiras, apli- cadas desatentamente. Elas também podem estar implícitas no instinto criativo do artista, como manifestação de uma harmonia intuitiva, o que sem dúvida era o caso de Cézanne. Já Michelangelo era de outra natureza, mais propenso a seguir planos conscientes, preconcebidos e deliberados. Foi um livro que lhe trouxe a certeza: algumas páginas da Historie de l'Architecture [História da arquitetura], de Auguste Choisy, que falavam do tracé regulateur (tra- çado regulador). Então havia coisas como traçados reguladores que determinavam a composição? Em 1918 decidiu dedicar-se seriamente à pintura. Os dois quadros iniciais foram compostos a esmo. Já no terceiro, cm 1919, tentou preencher a tela de maneira ordenada. O resultado mostrou-se quase satisfatório. Então veio a quarta pintura, uma réplica meJhorada da terceira, devido ao plano categórico que a unificava, continha e lhe dava uma estrutura. Depois houve a série de pinturas feitas em 1920 (expostas na Galerie Druet, em 1921), todas rigorosamente baseadas na geometria. Dois recursos matemáticos foram usados nesses quadros: a posição do ângulo reto e a razão áurea." Essa percepção de Le Corbusier é valiosa para todos os artistas, designers e arqui- tetos. A compreensão dos princípios organizativos geométricos permite atribuir a uma obra criativa um sentido de coesão compositiva, o qual por sua vez confere a todos os elementos um senso de adequação visual. Por meio do exame de ca- racterísticas geométricas, esquemas e proporções, pode-se entender melhor as intenções e o raciocínio dos designers e arquitetos. Essa análise esclarece o pro- cesso de criação e proporciona uma explicação raciona l para muitas das decisões tomadas em tais obras, seja o ordenamento geométrico intuitivo ou proposital, aplicado com rigidez ou adotado de maneira casual. 43 44 cartaz "Folies-Bergere", Jules Chéret, 1877 o cartaz "Folies-Bergere", de Jules Chéret (1836-1932), é uma obra fascinante e repleta de dinamismo que cap- tura o movimento de um grupo de dançarinos. À pri- meira vista, parece ser uma composição espontãnea e desprovida de ordenamento geométrico, mas um exa- me mais detido revela uma estrutura visual cuidadosa. As posições dos membros dos dançarinos correspon- dem a um pentágono inscrito em um circulo. As divisões internas do pentágono criam um penta- grama que, por sua vez, delimita um outro pentágono menor e proporcional. A razão dos lados dos triângu- los no interior de um pentagrama é 1 :1,618, a razão áu- rea. O centro exato do cartaz é um ponto pivotante no quadril da dançarina, e as pernas estendidas dos seus companheiros criam um triângulo invertido. a ponta su- perior do pentagrama que a enquadra. Os membros e os ombros de todas as figuras são dispostos com exa- tidão em conformidade com a geometria da estrutura. \. Analise ordenação das três ras estão 1mplicitos 11.11da um pentagrama e, f M outro pentágono, o n ,. r ") r onto otante localizado no ~ mesmo a figura menor parte infertor partlc1pa , e utura na Medida que st.a cabeça toca o o~ entdgono 1ba1xo) O triàngulo Jmado pelas pernas dos çarinos e um triângulo o o pentagrama As subd1v1sões do pentagono criam urna estrela interna de cinco pontas cu10 centro e outro pentágono. A seção áurea esta presente ali: nos triângulos, a raz.-!o entre os dois lados iguais, B e C. e a base A é 1 1,57q ou se ~. a raz/io aurea 45 \ Análise Na ordenação das três figuras estão implícitos primeiro um círculo, depois um pentágono, em seguida um pentagrama e, por fim, outro pentágono, com o centro no ponto pivotante localizado no quadril da dançarina. Até mesmo a figura menor na parte inferior participa dessa estrutura. na medida em que sua cabeca toca o circulo e o pentágono. (embaixo) O triângulo formado pelas pernas dos dancarinos é um triângulo áureo. O pentagrama As subdivisões do pentágono criam uma estrela interna de cinco pontas cujo centro é outro pentágono. A seção áurea está presente ali: nos triãngulos. a razão entre os dois lados iguais. B e C, e a base A é 1: 1,678, ou seja, a razão áurea. B c o -45 46 Cartaz "Job", Jules Chêret, 1889 Um mestre da impressão, o parisiense Chéret é consi- ele foi assíduo frequentador dos principais museus derado um dos responsáveis por elevar ao patamar de de arte da Europa, onde estudava atentamente as forma artística a técnica conhecida como cromolito- obras dos grandes pintores. grafia. Seu domínio dessa técnica foi a consequência Muitos dos cartazes de Chéret alcançaram êxito de uma aprendizagem iniciada aos 13 anos de idade. imediato, devido ao belo jogo de cores e às mara- Em termos de educação formal no campo da arte e vilhosas figuras que os ilustravam. Ele aproveita- do desenho, Chéret fez apenas um curso na École va ao máximo os recursos da cromolitografia, as- Nationale de Dessin. onde provavelmente tomou con- sim como os princípios da composição, usando-os tato com a geometria e os princípios da composição. para conferir unidade a esta e muitas outras de Apesar das limitações de sua formação acadêmica, suas obras. Análise Um círculo cujo centro coincide com o ponto central do cartaz determina o posicionament o da figura leminina e do título "Job", .,. diagonal entre o canto .uperior direito e o inferior IUQuerdo organiza o J>Os1cionamento da cabeça1 fjo olho e da mão. Já a 11>utra diagonal passa pelo IDmbro e define o limite ido quadril. O pentagrama e a proporção do cartaz Nota-se que as proporções do formato do cartaz se baseiam no esquema conhecido como ·'página pentagonal" . A base do cartaz coincide com o lado inferior do pentágono e sua altura estende-se até tocar o circulo. Cartaz "Bauhaus Ausstellung", Fritz Schleifer, 1922 Fritz Schleifer (1903-77) celebra os princípios do cinco formas retangulares e depuradas graças à construtivismo em seu cartaz de 1922 para a Bauhaus eliminação das finas linhas horizontais e verticais. Ausstellung (Exposição Bauhaus). Seguindo os ideais A largura do menor retângulo. que representa a construtivistas da época, o rosto humano e a tipo- boca, é o módulo de medida para a largura dos grafia são apresentados de maneira abstrata, com as outros retângulos. formas geométricas simplificadas que caracterizam A tipografia, concebida para ser compatível com a era das máquinas. os elementos retangulares do rosto, ecoa as rígidas O rosto geométrico, concebido por Oskar Schlem- formas angulares. Em seu desenho, os tipos são si- mer como parte de um selo da Bauhaus, é submeti- milares àqueles originalmente concebidos por Theo do a uma simplificação ainda maior e abreviado em van Doesburg em 1920. Selo da Bauhaus, Oskar Schlemmer, 1922 BRUHRU5 RU55TELLUnCi WElmAR 15.RUCi 5EPT 1923 f Design dos tipos Baseada em um quadrado de 5 por 5 unidades, a estrutura dos tipos permite que os caracteres mais largos, M e W, ocupem o quadrado todo, com c~da traço e contraforma ocupando uma unidade. Os caracteres mais estreitos ocupam uma porção do quadrado com S por 4 unidades, com cada traço ocupando urna unidade, e as contraformas ampliadas até duas unidades O B e o R são exceções. na medida em que mais meia unidade é reservada para as formas originalmente arredondadas, assim corno para marcar as diferenças entre o R e o A e entre o B e o numera1·s. Análise O olho está alinhado com $ o eixo vertical central. Os outros elementos faciais sao dispostos em relações assimétricas com esse eixo. A t ipologia f ica alinhada, no alto e embaixo, ao retângulo que representa o pescoço. Proporções entre as larguras dos retângulos (considerando-se a largura a menor d imensão dos retângulos) ~m cebeça, na_r~ QU&IXO pescoço olho .. ,, ,. ,, 'é :, ~ .. ,, ,. ,, 'é :, 1 "' N ';::- " ,, ,. 'D ê :, " -g ,, "é :, • UHSG em 49 50 Cartaz para o jornal L'lntransigeant, Ã. M. Cassandre, 1925 "O módulo expresso mntemJt1camente serve apenas para confirmar uma percepção espontânea. A razão áurea só define a proporção ideal previamente 1ntu1da pelo artista; trata-se antes de um meio de verificação do que um sistema (ela estaria condenadil [se fosse] mais um sistema)." Diário, Adolphe Mouron (A. M. Cassandre), 1960 Concebido em 1925 por Adolphe Mouron (1901-6B) - que se tornaria mais conhecido sob o pseudônimo de A. M. Cassandre - para o jornal parisiense L 'Jntransigeant , o cartaz é ao mesmo tempo um triunfo conceituai e um exemplo de construção geométrica. Um triunfo por traduzir a figura de uma cabeça feminina no símbolo visual de Marianne, a personificação da França. Cassandre teve formação artística acadêmica e es- tudou pintura em diversos ateliês de Paris. Na verdade, dot'>u o pseudõnimo de Cassandre com a intenção u~ar o nome verdadeiro em seus quadros. Con- logo ficou fascinado pelas artes gráficas. nelas lumbrando mais possibilidades de uma vigorosa ex- erimentação do que na pintura Outros aspectos que dtra1am eram ~ 1de1a de comunicação de massa e a pratica artística desvinculada das trad1c1onais e , renhas distinções de classe.Devido a seus 1nteres- s e estudos no campo da pintura. Cassandre acabou Analise rmato do cartaz está ordenado segundo um unto de modulos de 6 por 8 unidades, proporoonan- 4 camr• 1s v1c Jnis quadr;-1os. •dos os e!&m(.f'ltvs uam-se a esse gr,d em termos de posição e parçêo C, orific10 do ou, Iu0 fico na ,t rserç. o ,es campos v1suaIs, assim como o centro da boca. anto do L est~ no centro e .atv do car ,z. queix) profundamente 1nfluenc1ado pelo cubismo. Em urna entrevista de 1926, ele assim descreveu e ,e movi· menta: " ... sua lógica implacável e o esforço do artis- ta para construir geometricamente a obra trazem à luz o aspecto eterno, o aspecto impessoal, para além de' toda contingência e complexidade 1nd1v1duais". Ele reconhecia que sua própria obra era "essenc,almente geométnca e monumental" e que os elementos de construção geometrica eram perceptíveis em quase da figura encaixa-se num desses campos, ass,m como o poste de telegrafo. O ângulo de 45º do pescoço estende-se de um vértice a outro de um quadrado que abrange quatro campos visuais. Os fios do telégrafo saem do centro do ouvido em ângulos sucessivos de 15º, formando dois ângulos de 45º acima e embaixo da n d honzof'tal ,:-entra· 51 e >r ts- !e. adotou o pseudônimo de Cassandre com a intenção profundamente influenciado pelo cubismo. Em uma entrevista de 1926, ele assim descreveu esse movi- mento:" ... sua lógica implacável e o esforço do artis- ta para construir geometricamente a obra trazem à luz o aspecto eterno, o aspecto impessoal, para além de toda contingência e complexidade individuais". Ele reconhecia que sua própria obra era "essencialmente geométrica e monumental" e que os elementos de construção geométrica eram perceptíveis em quase de usar o nome verdadeiro em seus quadros. Con- tudo, logo ficou fascinado pelas artes gráficas, nelas vislumbrando mais possibilidades de uma vigorosa ex- perimentação do que na pintura. Outros aspectos que o at raiam eram a ideia de comunicação de massa e uma prática artística desvinculada das tradicionais e ferrenhas distinções de classe.Devido a seus interes· ses e estudos no campo da pintura, Cassandre acabou Análise O formato do cartaz está ordenado segundo um conjunto de módulos de 6 por 8 unidades, proporcionan- do 48 campos visuais quadrados. Todos os elementos adequam-se a esse grid em termos de posição e proporção. O orifício do ouvido fica na intersecção desses campos visuais. assim como o centro da boca. O canto do L está no centro exato do cartaz. O queixo da figura encaixa-se num desses campos. assim como o poste de telégrafo. O ângulo de 45º do pescoço estende-se de um vértice a outro de um quadrado que abrange quatro campos visuais. Os fios do telégrafo saem do centro do ouvido em ângulos sucessivos de 15º, formando dois ãngulos de -45º acima e embaixo da linha horizontal central. 51 52 todos os seus cartazes. Cassandre tinha plena cons- ciência da força visual do circulo e o empregou deli- beradamente neste cartaz e em vários outros com o objetivo de dirigir e concentrar o olhar do observador. Além da pintura cubista, a obra de Cassandre foi influenciada pelo 5ach Plakat (cartaz-objeto), um movimento de artes gráficas que procurou se afas- tar da tendência expressiva e ornamenta l do passado ressaltando sobretudo a objetividade e a função. Tal filosofia refletiu-se na Bauhaus da década de 1920 e deixou repetidas marcas nos cartazes que Cassandre desenhou ao longo de sua carreira. Neste cartaz, o ti- tulo do jornal é abreviado para L'lntrans no cabeçalho que se sobrepõe a um símbolo mais poderoso, a figura de Marianne, a voz da França. Ângulos e raiz de 2 O formato do cartaz é um retângulo de raiz 2. O olho da figura é bissectado pela diagonal do retângulo de raiz 2, indicada por uma linha tracejada. Essa diagonal também bissecta o centro do cartaz no canto inferior esquerdo do L. A linhu de base do título L '/ntrans coincide com uma diagonal de 45º originada no centro do cartuz. Os f ios telegráficos estào dispostos em ângulos sucessivos de 15°, gerando o módulo de 45º que se repete nos ângulos do nariz e do pescoço. z Razões dos diãmetros dos círculos = 4 circulos da boca = circulo externo da orelha drculo da cabeça círculo da boca círculo da boca = 21/2 círculos pequenos da orelha circulo Interno da orelha = círculo do olho círculo interno da orelha = e:frculos dos isoladores no posta círculo interno da orelha = circulo do lóbulo da orelha ,roporções do círculo 11:h c(rculos da boca e da parte mais externa da orelha ltm o diâmetro de um módulo. Os círculos menores do •lno da parte interna e do lóbulo da orelha e dos IOladores no poste têm o d iàrnetro equivalente a 2/5 de \lm campo visual. O circulo maior, da cabeça, tem o il~mctro de 4 campos visuais. Os círculos da cabeça est ão dispostos de tal modo que os pontos centrais estão alinhados segundo diagonais de 45º. Os círculos dos isoladores estilo todos alinhados em diagonais com ângulos sucessivos de aproximadamente 15º. Três desses incrementes result am no módulo de 45º. 53 54 Cartaz "East Coast by L.N.E.R", Tom Purvis, 1925 Criado em 1925 pelo artista inglês Tom Purvis (1888- 1959), o cartaz "East Coast by L.N.E.R." é um convi- te para que o espectador viaje, nas férias de verão, pela ferrovia London Northeast. Mais de 25 anos antes. dois ilustradores que assinavam suas obras como "Beggarstaffs'' introduziram a abordagem então radical de simplificar suas composições mar- cantes com áreas de cores chapadas delimitando silhuetas gráficas. Os cartazes de Purvis usam uma técnica similar de simplificação e jogo de espaço, cor e padronagem . O guarda-sol em forma de elipse é o elemento visual mais incisivo e atraente do cartaz, não só em função de sua cor vibrante, mas também devido ao formato e ao posicionamento na d iagonal. O laranja vivo estabelece um contraste complementar com o azul do céu e do mar. A elipse tem um formato que se aproxima daquele do círculo. e este atrai mais a atençi!io do que qualquer .ra forma geométrica. Já a diagonal e a direção mais nt2 ern termos visuais devido à sua 111stab1l1da· t movimento 1mplic-1tos. A dramática forma elípt1- r pete-se por duas vezes: na estrutura mterna do da ~oi e na terminação preta do suporte. da$ as formas são meras sllhue as desenhadas n extrema concisão. As listras e o arranjo irregular lhe introdu?em variedade em meio às formas P ICaC''lS ,tura do cartaz torna-se evidente por meio de por 6 u, 1dilcl<>s A linha entre a praia e o J mar d1v1de o cartaz e a parte azul ocupa os 2/3 ~ 1 rnac em. O eixo menor da elipse no guarda-sol alaranIado passa pelo ponto central do cartaz e dá equ1 ibrio à co,noosição. As figuras foram dispostas a direita e a esquerda desse eixo, de novo reforçando o equilíbrio de cores e formas. 55 'o ai le 10 te lo le er outra forma geométrica. Já a diagonal é a direção mais intrigante em termos visuais devido à sua instabilida- de e movimento implícitos. A dramática forma elípti- ca repete-se por duas vezes: na estrutura interna do guarda-sol e na terminação preta do suporte. Todas as formas são meras silhuetas desenhadas com extrema concisão. As listras e o arranjo irregular da toalha introduzem variedade em meio às formas simplificadas. Análise A estrutura do cartaz torna-se evidente por meio de um grid de 6 por 6 unidades. A linha entre a p raia e o céu e o mar divide o cartaz e a parte azul ocupa os 2/3 superiores da imagem. O eixo menor da elipse no guarda-sol alaranjado passa pelo ponto central do cartaz e dá equilíbrio à composição. As figuras foram dispostas à direita e à esquerda desse eixo, de novo reforçando o equilíbrio de cores e formas. 55 56 Cadelra Barcelona, Mies van der Rohe, 1929 A cadeira Barcelona foi projetada para o Pavilhão da Alemanha na Exposição Universal de 1929. realizi,da na cidade de Barcelona. O pavilhão destacava-se de todos os outros pelo fato de não abrigar nenhuma exposição: o que se queria mostrar era o próprio edi- fício. Elegante, austero e combinando painéis de tra - vert ino e mármore. lâminas d e vidro furnê e colunas cromadas, o pavilhão estava mobiliado apenas com mesas, cadeiras e banquetas Barcelona. estas últi- mas forradas de couro branco. Tanto as banquetas Proporções da cadeira (direita) A vista lateral (acima, à direita) e a frontal (uo 18dO) revelam q u ll a cadeira se encaixa perfeitamente em um quadrado. As divisões do encosto são muito similares a retângulos de raiz 2. como as mesas exibiam a mesma estrutura em "x" da cadeira. Mies van der Rohe (1886-1969) projetou o edifício e a mobília, e ambos são considerados mar- cos do design e a maior realizai;;ao do período euro- peu do arquiteto. É difícil crer que uma peça tão contemporânea e c lássica tenha sido projetada e produzida há mais de setenta anos. A cadeira Barcelona é uma sinfo- nia de proporções meticulosas baseadas em um sim- ples quadrado. A altura. a largura e a profundidade da cadeira são 1dênt1cas. sei ~la se encaixa perfeita- mente num cubo. s retângulos de couro do assen- to e do encost fixados na armação de aço exibem ur1a propor o de retêngulo de raiz 2 Os mesmos retângulos oram concebidos de modo que, quando é necess · io refazer a tapeçélna. mantenham a forma despeito dos esforços e tensões dos procr d1men os de reforma. A construção em "x" das pernas form uma estrutura elegante que se tornou a marca reg s rada da cadeira ª + Proporções das curvas curva principal brangendo o encosto e s pernas dianteiras da ade1ra, é formada por m círcu o com o mesmo raio do quadrado, tendo corno r<>ntm o ponto A A curvatura do circulo orogu,al repete-se na parte dianteira do suporte do assento, com um c,rculo idêntico cujo centro é o ponto B Outro circulo, com metade do ra.o dos maiores, define as pernas traseiras e tem o centro no ponto e. S7 cadeira são idênticas, ou seja, e la se encaixa perfeita- mente num cubo. Os retãngulos de couro do assen- to e do encosto fixados na armação de aço exibem uma proporção de retângulo de raiz 2. Os mesmos retângulos foram concebidos de modo que, quando é necessário refazer a tapeçaria, mantenham a forma original a despeito dos esforços e tensões dos proce- dimentos de reforma. A construção em "x" das pernas forma uma estrutura e legante que se tornou a marca registrada da cadeira. A B e 57 Proporções das curvas A curva principal. abrangendo o encosto e as pernas dianteiras da cadeira, é formada por um círculo com o mesmo raio do quadrado. tendo como centro o ponto A. A curvatura do circulo original repete-se na parte dianteira do suporte do assento. com um círculo idêntico cujo centro é o ponto B. Outro círculo. com metade do raio dos maiores, define as pernas t raseiras e tem o centro no ponto C. 58 Chaise Longue, Le Corbusier, 1929 Os arquitetos formados na tradição acadêmica quase sempre levam em conta os princípios da proporção clássica e os aplicam tanto na arquitetura como na mo- bilia que projetam. Charles Êdouard Jeanneret (1887- 1965), mais conhecido como Le Corbusier, é um caso exemplar disso, e a sua atenção meticulosa aos de- talhes e proporções também está presente na Chaise Longue. Na década de 1920, Le Corbusier foi influencia- do por outros arquitetos, como Mies van der Rohe. que v inham desenhando móveis de aço tubular para seus edifícios. Por sua vez. tanto Le Corbusier como Mies se inspiraram nas formas geométricas das cadeiras de madeira vergada do austríaco Michael Thonet, adotan- do em suas criações formas igualmente despojadas. Em 1927, Le Corbusier começou a trabalhar com a ar- quiteta e designer Charlotte Perriand e com seu primo Pierre Jeanneret. Essa bem-sucedida colaboração resul- tou em vários projetos clássicos de móveis que levam o nome de Le Corbusier, entre os quais a Chaise Longue. A estrutura tubular cromada da cadeira é uma peça Predecessora da Chaise Longue Cadeira de balanço recliniivel Thonet, e. 1870 arqueada que se apoia num simp~ porte preto. Esse arco é um sistema elegan~,que desliza em am- bas as direções, permite infinjt-á'variedade de posições e mantém-se no lugar gra ás ao atrito e à força da gra- vidade. seja com a cabe ou os pés erguidos. Tal como a est rutura geométric do arco. o encosto para a cabe- cilindro que pode ser facilmente reposicionado. A e rutura em arco foi concebida de tal modo que podes r retirada do suporte e usada como uma cadeira de alanço. Análise As proporções da deira refletem as divisões harmônicas de um retàngulo áureo. eu comprimento é o diâmetro do circulo que define o arco sua estrutura. O suporte da cadeira tem relação direta co o quadrado na subdivisão harmônica. A análise da Chaise ongue se faz pela decomposição harmônica de um " 59 60 Cadeira Brno, Mies van der Rohe, 1929 Após o sucesso do Pavilhão alemão de Barcelona em balanço com estrutura de ferro tubular projetadas ain- 1929, Mies van der Rohe foi contratado para projetar da no século XIX e na célebre cadeira de bal,mço de a residência da família Tugendhat. que também lhe madeira vergada de Michael Thonet. No caso da MR, encomendou o design da mobília mais adequada ao a resistência dos tubos de aço permitiu a adoção de estilo decididamente modernista do edifício. uma estrutura em cantiléver e a simplificação radical Já em 7926 Mies havia desenvolvido com êxito uma de suas linhas. cadeira com braços em cantiléver, batizada de MR. Na O projeto da casa Tugendhat previa uma imensa época, a tecnologia para vergar tubos de aço era re- sala de jantar, com uma mesa com capacidade para cente e abriu um novo horizonte para desenhos ino- 24 pessoas. A cadeira MR foi destinada originalmen- vadores. O da cadeira MR baseou-se em cadeiras de te para essa mesa. m as se revelou inadequada pois Predecessoras da cadeira Brno (esquerda) Cadeira de balanço Thonet. e. 1860, e (direita) vista lateral da cadeira MR. projetada por Mies van der Rohe em 1926. os Rc dai co pe m, ro co va Ar Vi• :i V I' os braços não se encaixavam sob o tampo. Van der Rohe desenhou então as cadeiras Brno, assim chama- da por causa da cidade em que viviam os Tugendhat, com braços mais baixos e um formato compacto que permitia sua perfeita acomodação sob o tampo da mesa. As cadeiras originais tinham forração de cou- ro e foram produzidas versões tanto em aço tubular como em perfis chatos de aço, o que daria origem a variações estruturais. Análise Vista de cima, a cadeira encaixa-se exatamente em um quadrado (acima. à direita). Como se nota nas vistas frontal (direita) e l~teral (extrema direita), a cadeira coincide com um retângulo áureo. O ângulo das pernas dianteiras e o do encosto da cadeira (embaixo, à direita) sào simétricos, e os raios das curvas estão numa proporção de 1 : 3. , / , , / , . / , / \, t ,' l , ~ / , / l!, , \º,,' 1 1 / ___,__ __ .._-. ..,. ~ " 61 ~ - ----------=-=-- - 62 Cartaz "Negerkunst" , Max Bill, 1931 Divulgando uma exposição de pintura rupestre pré- histórica da África do Sul, a geometria e o despoja- mento veementes do cartaz "Negerkunst" , desenhado pelo suíço Max Bill (1908-94) em 1931, remontam ao desenvolvimento dos conceitos da arte concreta na década de 1930. Esse movimento propunha a cons- trução aritmética de elementos visuais depurados, e Bill adotou esse ideal de uma linguagem visual de ab- soluta clareza e apelo universal. A chave de toda a figura é a medida do diâmetro do circulo central. Este é idêntico à altura das partes superior e inferior: e a metade do diâmetro é a me- dida das áreas laterais da figura. A linha vertical que passa pelo centro do circulo torna-se o eixo para o alinhamento esquerdo da caixa de texto. Proporçõe s dos círculos maiores (direita) O s círcu los externos são duas vezes maiores do que o interno. Proporções de raiz 2 (extrema direita) O format o do cartaz baseia-se num retângulo de raiz 2, cuja decomposição harmônica se pode ver no diagrama. A linha vertical serve de eixo para o alinhamento do texto e o centro do circulo interno. Análise As propo rções do g rande O baseiam-se no círculo interno. Os lados esquerdo e d ireito medem metade do diâmetro do círculo interno, ao passo que os lados superior e inferior equivalem ao seu d iámetro. A diagonal de um canto a out ro passa pelo centro do círculo, assim como a linha vertical que determina a margem esquerda da caixa de texto. -= s ,t ~ ~ sonnlag moolag i ~--...... .-.. ...... .._ .... nachmittag ~-~ d~la=metro do crrculo " 63 ,. 64 Cartaz "Wagon-Bar", A. M. Cassandre, 1932 "Muitos .:acham que os meus cartazes são cut>istas. Eles O cartaz "Wê!gon-Bar" é um prodígio de inter-rela- tilrn rdzão no sentido de que o meu método é esscn- ções geométricas e tão impecável quanto o anterior cia lmcnte geométrico e monumental. A arquitetura, "L 'lntransigeant". Mais uma vez, Cassandre elege ele- que prefiro acima de tudo. me fez .:ibominar as idios- sincrasias deformantes ... Sempre fui mais sensível ás form,is do que às cores, ao modo como se organizam us coisas do que aos seus detalhes. ao espírito de geometria do que ao espírito de requinte .. ," Adolphe Mouron (A. M. Cassandre), La Revue de /'Union de /'Affiche Française, 1926 mentas representativos e os simplifica e estiliza em formas geométricas depuradas. A garrafa de soda, a taça e o copo, o pão, a garrafa de vinho e os canudos sào colocados sobre a imagem de uma roda de trem. O diâmetro da roda é usado como medida do seg- mento de trilho que enfatiza as frases "Restaurez-vous" e "A Peu de frai s". O centro do cartaz é visualmente IN [" realçado pelas pontas dos dois canudos dentro do Esse é um cartaz relativamente complexo em função copo. No sentido vertical, o cartaz é facilmente divisi- da quantidade de elementos que demandam simplifi- vel em trés retângulos. cação geométrica, das inter-relações estruturais e do A geomet ria das figuras desenhadas é aparente domínio organizativo. Todavia, a análise deixa claro que na curvatura das garrafas e da taça de vinho. Há um cada uma das decisões tomadas tem sua justificat iva. belo jogo de espaços, com o fundo b ranco do cartaz invadindo o sifão da garrafa de soda. Uma mudança similar do espaço ocorre entre o pão e o rótulo dv garrafa de vinho, e também entre a parte superior do copo e o contorno do envoltório da roda. Análise O posicionamento meticuloso e o controle de cada elemento são evidentes nos pontos centrais dos círculos que definem o bojo d.i taça de vinho e as curvas da garrafa de soda, pois ambos estão situados na diagonal traçada entre o canto superior esquerdo e o inferior direito. Do mesmo modo, o centro do circulo da garrafa de vinho e o centro da roda estão alinhados na mesma vertical. 65 ,, 66 Cartaz "Konstruktivisten", Jan Tschichold, 1937 "Nào sabemos por quê, mas podemos demonstrar que um ser humano acha os planos de proporções defini- das e intencionais mais agradáveis ou mais belos do que os de proporções acidentais." Jan Tschichold, A forma do livro: ensaios sobre tipo- grafia e estética do livro, 1975 [ed. bras. 2007] ser interpretados como indicação desse ocaso. Os construt ivistas defendiam a mecanização da arte e do design por meio do posicionamento matemático de elementos geométricos abstratos como a forma mais adequada de exprimir a cultura industrial. Neste cartaz, Tschichold orienta-se pelos ideais constru- tivistas de abstração geométrica, organização visual Este cartaz foi desenhado por Jan Tschichold (1902- matemática e tipografia assimétrica - tal como pre- 74) em 1929 para anunciar uma exposição de arte. gava em seu livro Die Neue Typographie [A nova ti- Como ele foi criado numa época em que já declinava pografia], publicado em 1928. o movimento construtivista, o círculo e a linha podem konstru ktivisten ~~Hliurg ""'"' - ,..,, ktl\Óir,Skf lielibk1 ...... Análise O diâmetro do círculo é usado como unidade de medida tanto para o formato do cartaz como para a d istribuição de seus elementos. O próprio círculo é um ponto focal, atraindo inexoravelmente o olhar. Ele também destaca o título da exposição, assim corno a relação dos artistas participantes. O pequeno círculo junto à linha de texto com as datas d e abertura e encerramento da mostra é um fator de pontuação visual na medida em que ecoa e contrasta em escala com o circulo principal. A lista dos participantes da exposição começa no ponto de intersecção da diagonal do próprio cartaz com a diagonal da seção retangular inferior. As d istâncias entre os textos e os elementos principais são módulos da distância entre a linha horizontal e a linha de base do termo konstruktivisten, que está cent ralizado no circulo. Proporções do cartaz O formato retangular estreito é uma página pentagonal e deriva de um pentágono inscrito num círculo. O lado superior do pentágono invertido coincide com a largura do retângulo e seu vértice inferior tangencia o lado inferior do retângulo. A linha horizontal no cartaz está situada de modo a conectar dois vértices do pentágono. .. Triângulo compositivo A tipografia forma um triângulo que serve para ancorá- la no formato do cartaz e acentua o interesse visual. ] ., ..... ., 67 68 Cartaz "Der Berufsphotograph", Jan Tschichold, 1938 Projetado em 1938 por Jan Tschichold, este cartaz destinava-se a uma exposição da obra de fotógrafos profissionais e desde então tornou-se um clássico por sua concepção e composição. Devido ao conteúdo da mostra. a imagem é figurativa. mas também abstra- ta pois a mulher é retratada em negativo fotográfico. Essa técnica dirige a atenção do espectador para os procedimentos fotográficos em vez de ressaltar as ca- racterísticas dessa mulher específica. O título principal, g1w1rbemus1um bas,1 ausslallun& er "der berufsphotograph", é impresso em íris, técnica em que as cores se mesclam quando tintas distintas (ama- relo. vermelho e azul) são adicionadas ao cilindro de impressão. Esse arco-íris t ipográfico é um raro desvio expressionista em relação ao formalismo que marca o resto da obra de Tschichold. Todavia, sua predileção pela tipografia assimétrica e funcional é evidente na d isposição das texturas e elementos tipográficos me- ticulosamente alinhados e interconectados. uine arbeitta --- seín fflze■a - .... - •.• - - \t,,a •-• ~ • 4 H ....... n a· e o o o a e- Análise Relações do retângulo de raiz 2 Um diagrama de construção de raiz 2 foi sobreposto ao cartaz. O canto do retângulo recíproco e as diagonais bissectam o olho da mulher na foto. linha central A foto em negativo está exatamente à direita do centro do cartaz em formato retangular de raiz 2. O olho esquerdo da figura está cuidadosamente posicionado e a imagem foi recortada de modo a se tornar o nexo das diagonais que regem o posicionamento dos elementos. As medidas de largura e altura da imagem repetem-se nos elementos tipográficos à esquerda. ' J ·-li rufs hotogtqph ~-~- " 69 lri""m l&-CI 1-11 MIKIJI 18-12 1•-tl mt.~IM! ,. 70 Cadeira Plywood, Charles Eames, 1946 Embora contasse com bolsa integral para estudar ar- quitetura, Charles Eames (1907-78) abandonou a fa- culdade após dois anos na Universidade Washington, em St. Louis, cujo currículo se baseava no ensino tra- dicional das academias de belas-artes. Certamente algo nada animador para quem já demonstrava um ardoroso interesse pelo modernismo e pela obra de Frank Lloyd Wright. Porém, no decorrer de sua car- reira, Eames veio a apreciar os fundamentos de sua formação acadêmica, sobretudo os princípios clássi- cos de proporção. Cadeira Plywood Sua cadeira Plywood, de madeira compensada mol- dada, foi projetada para a Organic Furniture Competi- t ion (Concurso de Mobília Orgânica), patrocinada pelo Museu de Arte Moderna de Nova York em 1940. Eames e seu colaborador, o arquiteto Eero Saa ri nen, preten- diam fazer uma junção de formas orgânicas em um todo unificado. A peça resultante, com belas formas curvilíneas, cativou os jurados, assim como as inovado- ras técnicas de moldagem tridimensional da madeira e de fixação de compensado