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Análise do Soneto "O ciúme" de Bocage

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ 
DISCIPLINA: LIT. PORTUGUESA - POESIA 
DOCENTE: CÂNDIDO GUERRA 
 
 
 
 
 
 
ANÁLISE DO SONETO "O CIÚME" DE BOCAGE 
 
 
 
 
 
 
Abdiel Anselmo de Sousa 
Tatielly Pinho Farias 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA-CE/2015 
 
 
RESUMO 
 
 
 
Neste breve artigo, analisamos de maneira sucinta um soneto do arcádico 
Manuel Du Bocage. Todo o sentimento posto em sua obra o faz ir contra o movimento 
da época e contra a calmaria imposta pelo padrão do arcadismo. Seu lado romântico se 
sobressai a partir das infelicidades que ocorrem em sua vida e acabam por refletir-se em 
sua obra. O pessimismo, a ironia, a fugacidade e as paixões que lhe doíam na alma são 
frequentemente abordadas em seus sonetos. Neste a ser analisado não observamos um 
Bocage autobiográfico, embora o tema tenha relação com a sua vida. Além da análise 
biográfica e semântica, fizemos também uma reflexão acerca da métrica do soneto 
abordado. 
 
 
PALAVRAS-CHAVE 
 
Bocage. Soneto. Arcadismo.Romantismo.Literatura Portuguesa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Manuel Maria Barbosa du Bocage, êmulo de Camões, nasceu em Setúbal em 
1765 e foi um dos mais influentes poetas do século XVIII. Neto de um Almirante 
francês que viera organizar a nossa Marinha, filho do jurista José Luís Barbosa e de 
Mariana Lestoff du Bocage, cedo revelou a sua sensibilidade literária, que um ambiente 
familiar propício incentivou. À reflexão de sua obra, Bocage foi um homem 
temperamental e de muitos amores. Gertrudes é tida como o grande amor de sua vida. 
Mas ao voltar de uma viagem às Índias encontra-a casada com seu irmão. Além desta, 
sua obra está repleta de outras mulheres: Marília, Ritália, Márcia etc. 
O temperamento exaltado, a vida amorosa e boêmia de Bocage está refletida em 
toda sua obra. Assim, não é possível dissociar um do outro. Bocage teve uma vida 
intensa e a difundiu por meio de sua poesia. Seu egotismo - característica de quem é um 
inadaptado ao ambiente em viveu ou que foge de convenções – contribuiu para que 
essas confissões se realizassem. Mas também é conseqüência do período de transição 
em que viveu o escritor. Era um momento conturbado e em convulsão o qual sua obra 
espelha. Seus sonetos iniciais são característicos da estética arcádica e neles estão 
contidas suas temáticas pastorais e bucólicas, além de seu vocabulário alatinado e a 
presença da mitologia. Por outro lado temos o poeta pré-romântico que foge desse 
padrão. Bocage expõe seus sentimentos e sonhos, é intenso e liberta-se da teia da razão. 
Há ainda sonetos que mesclam as duas estéticas. 
A poesia de Bocage divide-se em duas partes. A primeira está relacionada à sua 
vida amorosa e cheia de paixões. Seus sonetos são odes às amadas e sem pessimismo. Já 
a segunda vai de encontro à primeira e nos apresenta um Bocage pré-romântico. Mostra 
um lado sombrio e pessimista do poeta, que traz à sua poesia o rancor sentido pelas 
amadas. Temas como traição, morte e ingratidão são recorrentes. Leiamos o soneto a ser 
analisado no artigo: 
 
Há um medonho abismo, onde baqueia 
A impulsos das paixões a humanidade; 
Impera ali terrível divindade, 
Que de torvos ministros se rodeia 
 
Rubro facho a Discórdia ali meneia, 
Quer a mil cenas de horror dá claridade; 
Com seus sócios, Traição, Mordacidade, 
Range os dentes a Inveja escura e feia. 
 
Vê-se a Morte cruel no punho alçando 
O ferro de sangüento ervado gume, 
E a toda a natureza ameaçando: 
 
Vê-se arder, fumegar sulfúreo lume... 
Que estrondo! Que pavor! Que abismo infando!... 
Mortais, não é o inferno, é o Ciúme! 
 
 
Após a leitura do soneto acima, identificamos este lado sombrio do poeta. 
Bocage faz menção a um inferno vivido por toda a humanidade e que pode ser o seu 
fim. Ao concluir o soneto, o eu-lírico nos esclarece do que fala, de fato. Não é do 
inferno, e sim do ciúme, sentimento devastador e presente na vida do poeta. Levando-se 
em conta o fato de que a lírica de Bocage tem muito de si mesmo, acreditamos que o 
soneto - embora não esteja em primeira pessoa - seja um desabafo de Bocage em razão 
dos relacionamentos conturbados que teve. Associamos, principalmente, à relação que 
teve com Gertrudes, já que a encontrou casada com seu próprio irmão. 
 . 
ELEMENTOS ESTILÍSTICOS 
 
Neste soneto Bocage mostra-se um profundo conhecedor do Ciúme ao dizer 
quão atormentador e devastador este sentimento pode ser. Faz menção ao inferno como 
forma de comparação e apresenta um vocabulário tétrico (morte, inferno, horror, 
traição, mordacidade, inveja), alusão à morte e uma valorização do sentimento, que 
exibem seu lado pré- romântico 
 Elementos neoclássicos também estão presentes, embora de forma mais sutil. 
Neste soneto podemos destacar a própria forma (soneto), o vocabulário alatinado 
(fumegar, sulfúreo, divindade) e as maiúsculas alegorizantes (personificação, 
divinização de elementos). 
A respeito dos recursos estilísticos, destacamos primeiramente a adjetivação 
(medonho, terrível, torvos, rubro, escura, feia, cruel) e a metonímia no verso 5 (Rubro 
facho a Discórdia ali meneia), no qual depreendemos o caráter vil e devastador de 
Rubro facho (ciúme). Nos versos 5 (Rubro facho e Discórdia ali meneia) e 8 (Range os 
dentes a Inveja escura e feia) tem-se anástrofe. A hipérbole no verso 6 (Que a mil cenas 
de horror dá claridade). Identificamos também dois exemplos de anáfora nos versos 9 e 
12, a partir da repetição do verbo vê-se e no verso 13, ao se repetir o advérbio que. E 
neste último há uma gradação crescente classificando o ciúme. Em seguida há a 
personificação nos versos 5 (Discórdia), 7 (Traição; Mordacidade), 8 (Inveja), 9 (Morte) 
e 14 (Ciúme). A última expressão da linguagem está no verso 14. É a apóstrofe 
“Mortais”, que Bocage usa ao encerrar o soneto. 
A métrica de Bocage é precisa e bem pensada. Suas rimas muitas vezes expõem 
tudo o que o poeta quer liberar. Neste soneto em questão, a rima é abba, abba, cdc, cdc e 
é grave, consoante e rica. Grave por que os versos terminam em palavra grave e não 
aguda (ex: humanidade/divindade). Consoante, pois rimam consoantes e vogais, e não 
apenas vogais. Observamos isso nos versos 9 e 11 (alçando/ameaçando). Por fim, a rima 
faz-se rica apenas em alguns versos (5 e 8; 9 e 13). A maioria do soneto possui rima 
pobre e externa (baqueia/rodeia; humanidade/divindade). Quanto ao ritmo, temos versos 
decassílabos heroicos e martelos. Ex: 
 Há / um/ me / do / nho a / bis / mo, on / de / ba / que / ia; 
A im / pul / sos / das / pai / xões / a hu / ma/ ni / da / de; 
Ran / ge os / den / tes / a In / ve / ja es / cu / ra e / fe / ia. 
 
 
 
PERSONIFICAÇÃO E DESMISTIFICAÇÃO 
 
Nesse poema o eu-lírico nos entrega as divindades mais perversas: a Discórdia, a 
Traição, a Mordacidade, a Inveja e, por fim, a Morte. Num mundo repleto de castigos e 
sentenças, os algozes conduzem seu réu a um regime de sofrimento e agonia advindas 
do próprio desejo do homem, da própria paixão. 
Na primeira estrofe, o cenário é o de um abismo medonho, abismo esse que 
levaria a humanidade a sua perdição, que a levaria, por forças divinas e perversas, a 
perecer sobre seus próprios impulsos. 
Na segunda estrofe, o cenário agora é sugerido pela metonímia da vermelhidão 
das chamas("Rubro facho") e pelo arco semântico de “a mil cenas de horror dá 
claridade”, a visão de um inferno vai emergindo aos poucos da ênfase no poder e na 
aparência do divino mitológico. 
Na terceira estrofe, a Morte ganha personificação, simbolizada por"ferro de 
sanguento ervado gume". Ela se ergue diante da natureza, da humanidade, e a ameaça. 
Na última estrofe, os elementos se misturam, os cenários vêm à tona e ganham 
forma, e o que antes era sugerido é desmistificado, o inferno aqui não é o dos cristãos 
nem o dos pagãos, mas sim o inferno interior causado por um sentimento: o Ciúme. 
Com este último verso, poema muda, ganha outra tonalidade: o intimismo, menos 
árcade mais romântico. O divino é visto como um elemento ratificador do sentimento, 
tudo aquilo que era exterior (as entidades divinas) se tornar interiores (os sentimentos), 
sendo assim o homem dá à força de seus domínios as emoções. 
 
IRONIA 
 
Um dos elementos mais sutis e importantes do texto é a ironia. Num simples uso 
dessa ferramenta, um texto que falava do poder das divindades sobre a humanidade se 
torna intimista: "Mortais, não é o inferno, é o ciúme!". O uso deste vocativo é irônico, 
pois joga com a expectativa do leitor, surpreende-o levando a tona as intenções do eu-
lírico de gerar um sentido dúbio entre os sentimentos e a "terrível divindade, que de 
torvos ministros se rodeia". 
 
ATMOSFERA TÉTRICA 
 
No poema as palavras são trabalhadas de forma que o sentimento do ciúme é 
tratado com intensidade, com violência, com terror e com o sombrio. A verdade 
revelada pela traição de suas paixões é de amedrontar, pois tais sentimentos podem 
levar a morte, o assassinato. 
 
FUGACIDADE 
 
Ao criar esse sentido dúbio entre a personificação e o sentimento, o eu-lírico 
"fingi" se absolver da culpa, das atitudes e dos pensamentos violentos que ele guardara. 
Provavelmente pouco importam esses pensamentos, o que de fato impera ali é a 
necessidade de esbravejar suas interioridades remexidas, seus sentimentos de conflito, 
torvosos. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Para concluir, esta breve análise trabalha alguns elementos do enorme leque de 
possibilidades disponíveis, os sonetos de Bocage nos possibilitam entender um processo 
de transição, uma mudança de pensamento de uma sociedade, por isso seus trabalhos 
são tão ricos, tendo ainda muito o que ser estudado. 
 
BIBLIOGRAFIA: 
 
BOCAGE, Manuel Du. Texto Integral- Sonetos. São Paulo: Martin Claret, 2013. 57p. 
(Coleção a Obra-prima de cada autor) 
 
MACAMBIRA, José Rebouças. Estrutura musical do verso e da prosa. São Paulo: 
livraria pioneira editora, 1984. 
 
MARIA, Helena. Os temas da poesia de Bocage. 2008. Lisboa, Portugal. em 
<http://auladeliteraturaportuguesa.blogspot.com.br/2008/07/os-temas-da-poesia-de-
bocage.html> Acesso em 20 abr. 2015. 
 
MOISES, Massaud. A literatura portuguesa através dos textos. 27 ed. São Paulo: 
Cultrix, 2000. 
 
MOISES, Massaud. A literatura portuguesa. 28 ed. São Paulo: Cultrix, 1995. 
 
SANTANA, Rafael. “Não te imito nos dons da Natureza”: Bocage, leitor de Camões. 
Literatura SCRIPTA, publicado no site SCRIPTA, v.17, 33, 2º Semestre. 2013. 
<http://periodicos.pucminas.br/index.php/scripta/article/view/7942>. Data de acesso: 
21/04/2015

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