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Noções de modernidade - Construtivismo Russo

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Noções de modernidade
O progresso e racionalidade
Pontifícia Universidade Católica
Departamento de Artes e Design - ART1420 
Prof(a). Bárbara Jane
Trabalho desenvolvido por 
Brenda Olivetto
Laurence Alves 
Turma da arte - 1AB
Introdução
A modernidade trouxe consigo uma série de mudanças nas dinâmicas sociais. O progresso e a racionalidade, pregados pelos pensadores modernistas, impactaram a sociedade da época e continuam nos impactando hoje. 
A industrialização e a urbanização mudaram a sociedade russa e foram essenciais para a constituição do Construtivismo Russo. Um movimento com cunho político e social, o Construtivismo incorporou a indústria e a racionalidade das máquinas em seu debate. Ele é fruto de uma sociedade que mudou com o progresso tecnológico e encontrou, nessa temática, uma via para propagar seus ideais. 
Da mesma maneira que o progresso tecnológico mudou a dinâmica com a qual a sociedade se relacionava durante a Primeira Revolução Industrial, ele continua mudando a sociedade atual com a Quarta Revolução Industrial. A era digital que vivemos vêm transformando a indústria, as profissões, os serviços e a maneira como nos relacionamos. 
A modernidade 
Uma das questões que trabalhamos na modernidade é o progresso e a racionalidade que permitem a constituição da vida moderna. Segundo Habermas, o projeto da modernidade equivalia ao esforço intelectual dos pensadores iluministas "para desenvolver a ciência objetiva, a moralidade e a lei universais e a arte autônoma nos termos da própria lógica interna destas". Ou seja, o homem moderno só seria livre a partir do domínio científico da natureza e de uma racionalidade, que ia de oposto a mentalidade irracional que a sociedade estava presa até então. 
Esse pensamento levou a busca pelo conhecimento e desenvolvimento tecnológico e a consequente industrialização. Por isso que o modernismo ficou conhecimento como uma "arte das cidades", uma vez que ele está diretamente relacionado ao crescimento urbano, a industrialização, a mecanização e aos levantes revolucionários. Além disso, vemos a racionalidade incorporada na máquina, na fábrica e no poder da tecnologia.
A industrialização, junto à consequente urbanização, são fatores importantes na constituição do homem moderno, pois este está imerso nas questões que esse progresso traz à sociedade. A mudança na sociedade fez com que as relações sociais mudassem e também o modo como se relaciona com a própria cidade, surgem, assim, novas dinâmicas sociais e novos problemas. 
Diante dessas questões, é de se esperar que o artista moderno visse necessidade de abordar essa temática em sua arte . A cidade, as máquinas, a urbanização e a industrialização são recorrentes na arte modernista. O campo artístico é o espaço encontrado por esses pensadores para debater as mudanças e as novas dinâmicas que o progresso e a racionalidade trouxeram a sociedade. 
A vanguarda 
Sendo um país predominantemente agrário e semifeudal, a Rússia era um país de economia atrasada e dependente da agricultura, pois 80% de sua economia estava concentrada no campo, com a produção de gêneros agrícolas. O processo de industrialização iniciara apenas nas últimas décadas do século XIX, produzindo, por outro lado, um proletariado for, organizado e combativo, que mantinha vínculos estreitos com os camponeses.
	
A concentração da terra em poucas mãos era colossal. Às vésperas da Revolução de Outubro, quando as ocupações se multiplicaram, a aristocracia rural detinha mais de 40% do solo, em que mais de 100 milhões de trabalhadores rurais viviam em extrema miséria e pobreza, sob uma forma de governo absolutista.
Em tais condições, em determinado momento as massas do campo e da cidade entraram na luta política e mergulharam em uma dinâmica revolucionária. Essa tendência passou a marcar todo o século XX, com órgãos de democracia de base, de combate e de frente única de massas, especialmente onde estava presente a classe trabalhadora.
Os sovietes ou conselhos de trabalhadores, órgãos de democracia direta baseada no proletariado, surgiram pela primeira vez na explosão revolucionária da Rússia em 1905. Porém, depois de alguns combates, foram esmagados pela repressão policial do tzar.
Passando doze anos, começaram manifestações, greves e atos de insubordinação militar. Tal virada para o ano de 1917 trouxe uma nova onda revolucionária em que, em apenas uma semana, levou à queda da velha monarquia de tzar e a implementação de um Governo Provisório, lado a lado com a volta dos sovietes.
O cenário de caos e instabilidade induziram a uma reorganização da sociedade em questão, em que as pessoas passariam a pensar e projetar essa forma de organização. Seu espaço e suas vidas deveriam ser reorganizadas de maneira racional e muito mais autônoma. A partir disso, surgiu um movimento artístico de vanguarda que via na arte muito mais o papel de criar, ligado ao desenvolvimento da ciência e ao surgimento de máquinas: o Construtivismo Russo.
Foi um movimento estético-político iniciado na Rússia no início do século XX após a Revolução Soviética, tendo forte influência na arquitetura e na arte ocidental. Nele, a arte deveria se inspirar nas novas perspectivas abertas pela máquina e pela industrialização, servindo a objetivos sociais e à construção de um mundo socialista.
Teve profunda influência na arte e no design moderno, se caracterizando, de forma bem genérica, pela utilização constante de elementos geométricos, cores primárias, fotomontagem e tipografia sem serifa.
O movimento foi impulsionado por Vladimir Tatlin, primeiro teórico do Construtivismo Russo e um dos mais importantes artistas russos, que passou a trabalhar usando a arte como instrumento de educação para o povo, a partir do triunfo da Revolução Russa (1917).
Acreditava que a arte deveria refletir o novo mundo industrial e adaptar formas, materiais e técnicas da tecnologia moderna, se empenhando na construção de objetos úteis, que serviriam para o povo e seu cotidiano. Deixariam de ter apenas uma função visual, passando a ser funcionais: uma cadeira é igual a uma escultura, e uma escultura deve ser funcional como uma cadeira.
O Monumento da 3ª Internacional (1919), por exemplo, pretendia representar os novos tempos e a dinâmica social, tentando integrar arte e técnica. Utilizando materiais industrializados empregados no uso cotidiano, como ferro, vidro e madeira, seria a arte a serviço do bem comunitário e representa o imaginário do construtivismo.
Até o surgimento do construtivismo, nenhum movimento tinha colocado tão explicitamente a função social da arte como uma questão política. Nele, havia a convicção de que o artista podia contribuir com a socialização da arte, a tornando instrumento de transformação social, participando da reconstrução do modo de vida e da “revolucionarização” da consciência do povo; e suprir as necessidades materiais e intelectuais da sociedade, relacionando-se diretamente com a produção de máquinas. Ou seja, os construtivistas acreditavam na criação de um novo mundo onde o artista devia ocupar o seu lugar junto do cientista e do engenheiro, e que a arte devia ser feita de forma a servir o povo e a ser funcional. Surgiu com a necessidade de que os artistas deveriam servir as massas e compreender as necessidades do proletariado.
A industrialização e a urbanização mudou a sociedade russa e sua dinâmica com o surgimento do proletariado. A partir desse momento, a modernidade começa a ser percebida e o homem moderno russo se encontra imerso nas questões que a industrialização trouxe. O artista moderno russo vive a necessidade de incorporar essas questões em suas técnicas, estética e temática.
O construtivismo russo busca, em sua arte, tratar essas questões e a revolução do proletariado que emerge com elas; e entende a industrialização como um fenômeno que é intrínsecoao homem moderno russo.
O fenômeno contemporâneo
O progresso e a racionalidade continuam mudando a sociedade. Em meados do século XX, vimos a Terceira Revolução Industrial trazer a tecnologia à indústria, com a eletrônica e as telecomunicações. O progresso tecnológico é intrínseco a nossa sociedade atual e, o século XXI, é responsável por um desenvolvimento científico jamais visto antes. Isso hoje se encontra com força no fenômeno que está sendo chamado de Quarta Revolução Industrial. 
A Quarta Revolução Industrial, ou também Indústria 4.0, é baseada no amplo desenvolvimento das tecnologias digitais, físicas e biológicas. Esses avanços tem gerado uma tendências entre as indústrias: a automatização total das fábricas. A automatização é produto de sistemas ciberfísicos, que permitem a incorporação de ações até então feita por homens pelas máquinas. Esse movimento tem como intenção a criação de fábricas inteligentes, capazes de se autogerenciar e permitir um sistema mais eficiente e descentralizado. 
Essa revolução é possível graças a um conjunto de tecnologias como a robótica, inteligência artificial, realidade aumentada, big data, nanotecnologia, impressão 3D, biologia sintética e a internet das coisas, que permite a conexão de pessoas e objetos digitais inteligentes através da nuvem.
É importante salientar que as mudanças tecnológicas que estamos vendo hoje na indústria não são apenas um resultado da Revolução Tecnológica, mas sim uma nova fase que entramos. O professor alemão Klaus Schwab, diretor executivo do Fórum Econômico Mundial afirma: "a Quarta Revolução Industrial não é definida por um conjunto de tecnologias emergentes em si mesmas, mas a transição em direção a novos sistemas que foram construídos sobre a infraestrutura da revolução digital (anterior)". 
Essa nova fase traz um impacto direto a nossa sociedade, uma vez que ela não se restringe somente à mecanização [digital e inteligente] das fábricas. A Indústria 4.0 está modificando o proletariado, uma vez que a indústria e mercado cada vez mais inteligentes, computadorizados e robotizados geram a substituição da mão de obra humana. As fábricas estão ficando cada vez mais automatizadas e os serviços cada vez mais digitais. Estima-se que cerca de 5 milhões de vagas de trabalho podem acabar nos 15 países mais industrializados do mundo. Essa mudança significativa no proletariado assusta, porém essa nova fase não acabará somente com diversas profissões, novas profissões que ainda não conhecemos surgirão. A sociedade deverá se adequar às novas demandas e as necessidades da era hiperconectada. 
A Quarta Revolução Industrial está mudando a maneira que nossa sociedade se relaciona, a conectividade extremamente presente em nosso cotidiano tem feito as interações sociais serem cada vez mais digitais e os serviços estão se tornando menos dependentes da mediação humana. A digitalização transformou a dinâmica social, industrial e profissional da atualidade, não conseguimos mais pensar em um mundo sem computadores e suas ramificações. 
O pensamento modernista de progresso e racionalidade são presentes até hoje com o hiperdesenvolvimento que estamos observando em todas as faces da sociedade contemporânea. Esse progresso, com a Indústria 4.0, está criando uma nova dinâmica industrial que atinge diretamente o proletariado e resultando em uma necessidade de novas dinâmicas profissionais. O homem moderno, hoje, vê a tecnologia como mais um componente das suas relações, ela não só intermedia as interações mas ela é mais um sujeito para se relacionar. 
	
Conclusão
Tendo em vista os aspectos apresentados nesta análise, é possível observar o caminho percorrido desde o início da industrialização, com a introdução da racionalidade e da tecnologia à indústria, até a modernidade encontrada atualmente.
O progresso e a racionalidade, pregados pelos modernos, estão sempre presentes no desenvolvimento da raça humana. Há quem pense que o desenvolvimento científico impacte somente seu campo, porém o avanço industrial e/ou tecnológico sempre afetará a sociedade em que ele está ocorrendo. Nós somos seres de relações, sejam elas interpessoais, com a cidade em que vivemos ou com as coisas e tudo nos afeta e afetam nossas relações. 
O desenvolvimento industrial mudou tanto a sociedade russa pós Revolução Soviética quanto a nossa sociedade atual com a Quarta Revolução Industrial. A dinâmica social mudou na Rússia e isso gerou a necessidade dos artistas russos modernos de expressarem essas mudanças em sua arte, surgindo assim o Construtivismo Russo. 
Já hoje, vemos a Indústria 4.0 mudando, mais uma vez, as relações sociais. A nova era digital e ciberfísica, trouxe uma sociedade mais dependente dos aparatos digitais e também colocou em risco o proletariado. Essa nova fase de desenvolvimento científico está causando uma transformação no pensamento do homem moderno, assim como observamos durante o progresso industrial russo. Novas relações estão surgindo, uma necessidade de um proletariado diferenciado, com novas profissões e preparado para o mercado "do futuro". 
Em ambos os momentos, vemos o pensamento da sociedade se alterando diantes tamanhos avanços. A era industrial e tecnológica, causados pelo progresso e a racionalidade, se refletem no homem e em suas questões sociais, políticas e psicológicas. 
Bibliografia
https://www.catalogodasartes.com.br/Detalhar_Link_Historia_Arte.asp?idHistoriaArte=628
http://valiteratura.blogspot.com.br/2011/12/vladimir-tatlin-e-o-construtivismo.html
http://arethusa.fflch.usp.br/node/109
http://www.bbc.com/portuguese/geral-37658309
http://www.esquerdadiario.com.br/O-que-era-a-Russia-antes-da-Revolucao-Russa
http://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/2016/10/o-que-e-a-4a-revolucao-industrial-e-como-ela-deve-afetar-nossas-vidas.html