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Sobral/2016 João José Saraiva da Fonseca Sonia Henrique Pereira da Fonseca INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Todos os direitos reservados. Nenhuma parte do conteúdo deste livro poderá ser utilizada sem autorização do autor. Sumário 1 2 Palavra do Professor-autor ................................................................................... 09 Sobre os autores ..................................................................................................... 11 Ambientação ........................................................................................................... 13 Trocando ideias com os autores ........................................................................... 15 Problematizando ................................................................................................... 17 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: PRINCÍPIOS E CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA Características fundamentais da Educação a Distância ......................................................24 Conceitos de Educação a Distância ............................................................................................24 A EAD: quebrando paradigmas ...................................................................................................26 A contribuição da educação a distância na formação dos profissionais do século XXI ............................................................................................................................................................28 Quais as principais vantagens da utilização da educação a distância na formação de profissionais? .......................................................................................................................................30 Será que a educação a distância só tem vantagens? ..........................................................30 INTERNET: O APRENDIZADO SOCIALMENTE DISTRIBUÍDO Um breve histórico da Internet .....................................................................................................40 Recomendações que os estudantes deverão compreender ao navegar na inter- net ............................................................................................................................................................44 TUTOR E O SEU PAPEL NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Introdução ............................................................................................................................................48 Interação e tutoria: o que tem a ver? .........................................................................................49 Tutor: “os olhos, ouvidos e a boca” do sistema EaD............................................................50 Introdução à Educação a Distância6 Leitura Obrigatória...........................................................................................50 Revisando............................................................................................................54 Autoavaliação....................................................................................................58 Bibliografia.........................................................................................................60 Bibliografia Web...............................................................................................63 O tutor e a prática da tutoria....................................................................................................51 Alguns desafios a enfrentar....................................................................................................54 O tutor e o encontro presencial...................................................................................................58 Introdução à Educação a Distância 7 Palavra do Professor Olá estudantes, A Sociedade do Conhecimento tem como finalidade o domínio do conheci- mento necessário para processar a informação, suporte da organização econômi- ca, política e social, apresenta-se como uma sociedade da aprendizagem, chamada também de uma sociedade cognitiva. Nela, o conceito de educação formal limitada a um período de tempo, deu lugar ao conceito de aprendizagem ao longo de toda a vida, em que a autoformação e a educação a distância se apresentam com um crescente potencial. Diante disso, um novo paradigma está surgindo na educação, portanto frente às novas tecnologias o papel do professor será outro. Com as novas tecnologias po- de-se desenvolver um conjunto de atividades com interesse didático-pedagógico. Ao conceituar a sociedade contemporânea percebe-se que cada vez mais ela está alicerçada nas novas tecnologias da informação e da comunicação. Neste sen- tido, determina uma tomada de consciência de incluir nos currículos dos cursos de ensino superior as habilidades e competências para lidar com as novas tecnologias. A influência das novas tecnologias faz-se sentir em todos os aspectos da vida priva- da e pública, modificando o modo de viver, de trabalhar, de organizar de represen- tar a realidade e de educar. A utilização das novas tecnologias da informação e comunicação tem poten- cializado as propostas pedagógicas oferecidas pelos cursos a distância, disponibi- lizando recursos instrucionais de elevada qualidade e criando as condições para a criação de comunidades virtuais de aprendizagem permanente. Os professores precisam estar profissionalmente qualificados na atualidade, isso implica na assimilação das tecnologias. Um curso de Licenciatura, por exemplo, sendo responsável pela preparação de profissionais para a docência, deve oferecer essa formação, aliando a teoria à prática reflexiva. Os autores! Introdução à Educação a Distância 9 Sobre o Autor Colaboradores João José Saraiva da Fonseca é Pós-Doutor em Educação pela Universidade de Aveiro em Portugal, Doutor em Educação pela Univer- sidade Federal do Rio Grande do Norte (2008), Mestre em Ciências da Educação pela Universidade Católica Portuguesa - Lisboa (1999) (valida- do no Brasil pela Universidade Federal do Ceará), Especialista em Educa- ção Multicultural pela Universidade Católica Portuguesa - Lisboa (1994). Graduou-se em Ensino de Matemática e Ciências pela Escola Superior de Educação de Lisboa (validado no Brasil pela Universidade Estadual do Ceará). É pesquisador na área da produção de conteúdo para educação a distância. Atualmente desempenha a função de Pró-Diretor de Inovação Pedagógica das Faculdades INTA - Sobral CE. Sonia Maria Henrique Pereira da Fonseca, mestranda em Ciên- cias da Educação pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecno- logias-ULHT. Especialista em Ciências da Educação. Especialista em Edu- cação a Distância. Graduação em Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará-UECE. Evaneide Dourado Martins, especialista em Planejamento e Avaliação e Gestão Escolar, (2015) e Educação a Distância (2012) pelas Faculdades INTA. Graduada em Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade Regional do Cariri (2005). Atualmente é Autora Roteirista Multimídia de material didático da Pró-Diretoria Pedagógica de Novas Tecnologias em Educação e Educação a Distância das Faculdades INTA. Tem experiência na área de educação, com ênfase em Educação a Distância e na área administrativa e atua também como professora do INTAEAD. aAMBIENTAÇÃO À DISCIPLINAEste ícone indica que você deverá ler o texto para ter uma visão panorâmica sobre o conteúdo da disciplina. Introdução à Educação a Distância 11 Vamos refletir um pouco... Afinal o que é tecnologia da informação e comunicação e para que serve? Quando falamos em tecnologia pensamos em equipamentos eletrônicos, quando pensamos em informação estamos falando de dados que são decodificados e transformados em informação. Portanto, Tecnologia da Informação(TI) utiliza o computador para transmitir informações, e Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC’s) que podem ser entendidas como um conjunto de recursos tecnológicos para facilitar a comunicação com objetivo de transmitir a informação e são utilizadas em diversas áreas, como: na indústria, no comércio, no meio publicitário e na educação. Elas servem para processar e armazenar informação com o objetivo de disponibilizá-la com rapidez na sociedade. As Tecnologias da Informação são uma nova forma de linguagem, estão em todo lugar e influenciam de forma direta e indiretamente a vida social. Portanto, as escolas são convocadas a acatar de modo aceitável as mudanças e exigências da modernidade. O objetivo desta disciplina é mostrar como as rápidas e permanentes transformações nas concepções de ciência, associadas ao desenvolvimento e utilização das tecnologias, resultam em novos e difíceis desafios à educação e a seus profissionais, revelando a necessidade de sua formação continuada ao longo da vida. O estudante, enquanto sujeito ativo da aprendizagem deve aprender a levantar ideias, experimentar, aplicar conhecimentos. O educador deverá possibilitar situações que motivem os estudantes a interagir entre si, trabalhar em grupo, com projetos, buscar informações, dialogar com especialistas e produzir novos conhecimentos, de maneira que desperte no estudante a curiosidade e o desejo pelo aprender. Sugerimos a obra Educação a Distância online, neste livro, os autores procuram definir uma nova agenda de pesquisa para a área da educação a distância online, sintetizando os temas, oportunidades, questões e desafios que envolvem atualmente a disciplina. Eles exploram aspectos da prática da educação a distância Introdução à Educação a Distância12 que foram em geral marginalizados, como temas ligados a economia, custos, justiça social, preconceito cultural, formação de professores e gestão e crescimento de comunidades de educandos. AWACKI-RICHTER, Olaf; ANDERSON, Terry. Educação a distância online: Construindo uma agenda de pesquisa. São Paulo: Artesanato Educacional, 2015. Introdução à Educação a Distância 13 tiTROCANDO IDEIAS COM OS AUTORES A intenção é que seja feita a leitura das obras indicadas pelos(as) professores(as) autores(as), numa tentativa de dialogar com os teóricos sobre o assunto. Introdução à Educação a Distância 15 Prezado estudante, Você é convidado a realizar a leitura de duas obras que lhe darão um embasamento sobre a Educação a Distância. A sociedade torna-se cada vez mais complexa e isso exige sujeitos competentes, éticos, abertos, criativos, inovadores e confiáveis. Quanto mais acesso, mais informações, visões, novidades e maior é a necessidade de mediação. O autor José Manuel Moran, em sua obra Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica, cuja leitura se recomenda, reforça a ideia de que a educação deve proporcionar as condições para se constituir enquanto espaço privilegiado para experimentar situações desafiadoras do presente e do futuro, reais, imaginário e aplicável. Promover o desenvolvimento integral do estudante na escola envolve a união do conteúdo escolar com a vivência em variados espaços de aprendizagem, para além da instituição escolar. A educação precisa encantar, entusiasmar o estudante permanentemente. Esse é um processo gradual, pois é difícil mudar padrões adquiridos na escola e na sociedade. MORAN, José Manuel; MASETTO, Marcos Tarciso; BEHRENS, Marilda Aparecida. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. São Paulo: Papirus, 2012. Propomos também a leitura do livro Educação a distância: um conceito a erradicar. Os autores abordam as estratégias pedagógicas inovadoras com auxílio de novas tecnologias e reflete com precisão as informações necessárias para ação docente dos professores da EAD, como as estratégias de interação, os princípios da docência, as diversas ferramentas nos ambientes virtuais de aprendizagem e sua tendência com as redes sociais, assim como a importância da avaliação e da formação dos professores e tutores. O livro é repleto de artigos apresentados que foram aprovados em instituições de pesquisas. FONSECA, João José Saraiva da. Educação a distância: um conceito a erradicar. Sobral: FUNDECT, 2015. Introdução à Educação a Distância16 GUIA DE ESTUDO Após a leitura das obras faça uma resenha crítica elencando diferenças e semelhanças entre as ideias dos respectivos autores e disponibilize na sala virtual. Introdução à Educação a Distância 17 PLPROBLEMATIZANDOÉ apresentada uma situação problema onde será feito um texto expondo uma solução para o problema abordado, articulando a teoria e a prática profissional. Introdução à Educação a Distância 19 GUIA DE ESTUDO Após a leitura do texto reflita sobre os questionamentos e faça seus comentários na sala virtual. Sabemos que, na atualidade, as novas tecnologias da informação e comunicação estão intimamente associadas com a realidade educacional, articulando o conhecimento teórico e a realidade prática, e que o indivíduo precisa aprender a aprender ao longo da vida em um mundo de inesgotáveis informações, reconhecendo a influência da tecnologia nas formas de desenvolvimento das aprendizagens e no potencial da sua capacidade de intervenção como cidadão na sociedade do conhecimento. Nesse contexto dinâmico, as novas tecnologias da informação e da comunicação vêm atuando na mediação do homem com o mundo e no âmbito da educação, também motivando mudanças significativas nas relações entre docentes e discentes, bem como nas maneiras de ensinar e aprender. As relações entre docentes e discentes estão se modificando, na medida em que a separação entre o ensinar e o aprender torna-se crescentemente mais tênue. Agora, aponte como o professor pode transformar a tecnologia em um instrumento facilitador no processo de ensino e aprendizagem, formando sujeitos críticos para o uso ético dos recursos tecnológicos. Será que saber utilizar a tecnologia é o mesmo que saber ensinar com ela? Quais procedimentos são esperados do professor? Como transformar informações em conhecimento? O que diferencia uma nova ou velha tecnologia? Como fazer da tecnologia digital uma ferramenta de mudança comportamental? Como atrair os estudantes para o espaço da escola diante da versatilidade do universo digital? O professor está preparado para lidar com estes recursos? ApAPRENDENDO A PENSARO estudante deverá analisar o tema da disciplina em estudo a partir das ideias organizadas pelos professores autores do material didático. Introdução à Educação a Distância 21 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: PRINCÍPIOS E CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA CONHECIMENTOS Compreender os conceitos básicos que articulam as potencialidades da Educação a Distância e a comunicação que geram possibilida- des de novas práticas educativas. HABILIDADES Identificar os princípios da educação a distância para contribuir com a formação de profissionais e produção de conteúdos. ATITUDES Interpretar o uso das tecnologias digitais da informação e da comunicação como elementos estruturantes dos processos sociais e educacionais. Introdução à Educação a Distância22 Características fundamentais da Educação a Distância A educação a distância dispõe hoje de diversificados suportes de transmissão de informação, que tornam possível a concretização das duas ideias básicas que lhe estão subjacentes: possibilitar acesso igualitário à educação e promover aos estudantes condições próximas às oferecidas na educação presencial. Tendo atenção em acompanhar as constantes transformações tecnológicas e didático/metodológicas, a evolução da terminologia foi acompanhada por um contínuo ajuste do conceito de educação a distância. O conceito atual de educaçãoa distância visa expressar a riqueza de instrumentos de mediação, que possibilitam uma aproximação crescente entre as condições oferecidas ao estudante no estudo a distância e no presencial. Neste momento propomos que estudem as bases conceituais e as abordagens teóricas da EAD, por um lado, de uma relação com a evolução tecnológica e por outro de um posicionamento em face à evolução das propostas de ensino e aprendizagem. Conceitos de Educação a Distância Neste tópico vamos abordar as bases conceituais e abordagens teóricas da EaD. Com ele procuramos que ao final do estudo compreendam a evolução da Educação a Distância, bem como a proposta pedagógica específica para a educação a distância. Propõe-se também que relacionem a evolução do processo social e das tecnologias e da educação a distancia ao processo histórico da EaD. Qual o conceito de Educação a Distância? Os teóricos tentam há décadas encontrar um conceito para a Educação a Distância. Esta tarefa não se tem revelado fácil e ainda hoje se discutem várias possibilidades. Ao falarmos de Educação a Distância, não podemos esquecer que, na sua essência, ela não deixa de ser uma modalidade de educação e tem o compromisso de proporcionar a transmissão, construção e reconstrução do conhecimento, com vista à formação de cidadãos competentes e conscientes de seu papel na sociedade, capazes de atuarem produtivamente e de forma comprometida em seus ambientes sociais e em suas atividades profissionais. A Educação a Distância, analisada de um ponto de vista elementar, pode ser definida como: modalidade de educação em que estudantes e professores estão Introdução à Educação a Distância 23 separados pela distância e algumas vezes pelo tempo (MOORE AND KEARSLEY, 1996). Em 1980, Keegan apresentou alguns elementos básicos que sustentariam uma definição de Educação a Distância: • Separação física entre professor e estudante, que a distingue do ensino presencial; • Separação do estudante de um grupo de aprendizado; • Utilização de várias tecnologias e mídias para distribuir o conteúdo do curso, unir o professor ao estudante e transmitir os conteúdos educativos; • Previsão de uma comunicação de “mão dupla”, em que o estudante se beneficia do diálogo e da possibilidade de iniciativas bilaterais; possibilidade de encontros ocasionais com propósitos didáticos e de socialização. A evolução do conceito de Educação a Distância seguiu em nível internacional, uma tendência de focalizar a atenção mais no processo de ensino e aprendizagem do que na tecnologia. Essa preocupação pode ser encontrada na legislação brasileira. De acordo com o Decreto nº. 2.494, de 10/02/1998, a Educação a Distância é “uma forma de ensino que possibilita a autoaprendizagem, com a mediação de recursos didáticos sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou combinados e veiculados pelos diversos meios de comunicação” (BRASIL, 1998). O Decreto nº. 5.622, de 20/12/05, que atualmente regulamenta a Educação a Distância no Brasil, caracteriza-a “como modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos” (BRASIL, 2005). Como tivemos a oportunidade de verificar, é grande a diversidade de conceitos que ao longo do tempo foram usados para a Educação a Distância. Apresentam-se algumas características comuns, num estudo de Landim (1997): • Separação professor-estudante; Introdução à Educação a Distância24 • Utilização de diferentes mídias (vídeo, material impresso, DVD e outros); • Preparação de materiais a serem disponibilizados aos estudantes; • Estímulo à construção pelo estudante do conhecimento a partir de suas práticas e reflexões; • Utilização de recursos técnicos de comunicação professor/estudante e estudante/estudante por meio de e-mail, rádio, TV, telefone, internet e outros; • Saber o que a Educação a Distância possibilita a você mais um elemento para ter sucesso em seu curso. A EAD: quebrando paradigmas A sociedade em que vivemos foi designada como sendo do conhecimento, caracteriza-se pelo dinamismo da informação, que transita a velocidades e quantidades crescentes em redes de comunicações globais. A utilização da informação e da comunicação foi acompanhada por inovações organizacionais, comerciais, sociais e jurídicas que alteraram o nosso modo de vida. Esse processo foi estimulado pelo desenvolvimento das novas tecnologias da informação e comunicação que invadem o nosso cotidiano socializando e difundindo novas concepções de mundo, novas ideias, crenças, valores e modelos de comportamento. Perante esse processo é urgente acelerar novas posturas individuais e coletivas que possibilitem a todos o acesso às condições mínimas para exercício consciente da cidadania. Qualquer profissional deve constantemente procurar atualizar suas competências técnicas, tecnológicas, sociais e culturais, em respeito aos princípios éticos que regem a sua conduta. Será o estudo a distância ajustado ao ensinar e aprender na sociedade do conhecimento? Quais as características da Sociedade do Conhecimento? Por que um profissional deve ter a preocupação da formação ao longo de toda a vida? A atualização deverá na Sociedade do Conhecimento constituir uma preocupação permanente. O volume de informação publicada nas diversas áreas do conhecimento está aumentando rapidamente. Por exemplo: da informação recebida pelos estudantes durante a sua escolarização, grande parte já está obsoleta no final. Introdução à Educação a Distância 25 Por outro lado assiste-se a outros desafios, envolvendo: • O aparecimento de novas descobertas na ciência; • O incremento do desenvolvimento e utilização generalizada de novas tecnologias; • A generalização da ideia de conhecimento enquanto base para o desenvolvimento econômico; • O incremento da globalização; • O aumento do nível acadêmico e informacional da população; • A mudança do conceito de trabalho baseado na força manual para o trabalho baseado no conhecimento. Quais os domínios da sua formação? A quê um profissional deverá atribuir mais atenção? O exercício de um profissional na Sociedade da Informação exige das instituições de formação inicial e permanente, um esforço de atualização dos conteúdos científicos e da prática docente, de modo que os seus egressos estejam em condições de prestar os melhores cuidados de saúde à população. A formação dos profissionais deverá atender às seguintes preocupações: • Centrar o atendimento no cliente, • Trabalhar em equipes interdisciplinares; • Fomentar a aplicação das melhores práticas; • Fomentar a utilização das tecnologias da informação e comunicação; • Trabalhar com incidência na resolução de problemas; • Promover atitudes proativas; • Promover o conhecimento da comunidade do ponto de vista social, econômico, psicológico, cultural e do meio em que vive; • Conhecer as novas tecnologias na perspectiva do utilizador e no quadro de uma ampla reflexão sobre as suas consequências individuais e sociais; • Alertar para a procura permanente de formação, especialmente utilizando as tecnologias da informação e comunicação e incluindo a educação a distância; • Promover o trabalho cooperativo e em equipe. Introdução à Educação a Distância26 A contribuição da educação a distância na formação dos profissionais do século XXI O avanço das tecnologias da informação e da comunicação vem modificando profundamente o nosso modo de vida, alterando as nossas formas de conviver e trabalhar, além de introduzir novos valores, hábitos e tiposde interação social, incluindo o aparecimento de novas formas de ensinar e aprender. A educação a distância destaca-se como uma modalidade com potencial no atendimento às crescentes necessidades de formação inicial e ao longo de toda a vida, impostas pelas permanentes mudanças sociais e tecnológicas. Além disso, ela possibilita atender a públicos alvos que pelas suas especificidades dificilmente teriam possibilidades de ser atendidos pela educação presencial. No início foi encarada como forma de superação de lacunas educacionais na qualificação profissional e aperfeiçoamento ou atualização de conhecimentos. Tem reconhecimento nas sociedades como uma forma de acesso à educação, se apresentando hoje como uma modalidade que potencia a formação flexível e ajustada às necessidades pessoais e profissionais, contribuindo para atender aos desafios colocados aos indivíduos. Hoje, porém, ela está sendo utilizada como complemento da educação presencial e é vista por muitos como uma modalidade de ensino alternativo que pode substituir parte do sistema do ensino presencial, possibilitando que, independentemente da presença física dos participantes no mesmo espaço geográfico, qualquer pessoa adquira o conhecimento sobre o assunto de seu interesse. Qual papel terá a educação a distância na promoção da universalização de uma educação de qualidade? Que mudanças deverão ocorrer na educação para que se promova a construção de “novos” cidadãos? Para atingir estes objetivos, as instituições de ensino tendem a abandonar uma postura que aprimora aptidões já definidas em cada indivíduo, passando a atribuir particular relevo aos fatores ambientais e sociais presentes e envolventes da educação. Os indivíduos assumem um papel central enquanto parceiros das instituições de ensino na construção de uma aprendizagem que promova o crescimento integral da sua pessoa, o desenvolvimento do seu papel crítico, exigente e consciente. Introdução à Educação a Distância 27 A Declaração Universal dos Direitos Humanos ao consagrar em 1948 o direito à educação aponta para a necessidade de garantir o desenvolvimento pleno dos indivíduos, através da igualdade de oportunidades no acesso à educação. Perante as alterações socioculturais e tecnológicas crescentes, se torna mais relevante a intervenção da educação na formação do indivíduo e do cidadão. Entretanto, os sistemas de ensino encontram dificuldades para corresponderem às exigências de universalização da educação não só ao nível da formação inicial, mas crescentemente ao longo de toda a vida e com a vida, essencial para enfrentar a obsolescência acelerada da tecnologia e do conhecimento. A educação deve garantir ao indivíduo, os instrumentos para a sua inserção participativa e transformadora na sociedade em que vive e possibilitar as condições de intervenção social crítica, dentro dos princípios de convivência democrática. Para passar de um paradigma centrado no ensino, para um paradigma centrado na aprendizagem, temos que refletir sobre a mudança da instrução para o auxílio ao aprendizado. Em vez da instrução do professor ao estudante, temos de estimular a descoberta e a construção do conhecimento. Temos de ofertar ricos ambientes de aprendizagem onde o estudante, livremente possa navegar e aprofundar seu conhecimento de acordo com o seu desejo e da utilidade que atribui ao conhecimento. Ele deverá também abandonar o ensino baseado no livro, para ser orientado para modelos de trabalho baseados na pesquisa, ou seja, busca orientada do conhecimento. O estudante de um curso a distância não só tem acesso à informação e à possibilidade de construir o conhecimento onde e quando desejar, como adquire competências de trabalho autônomo e colaborativo que possibilitarão a sua integração social e profissional. Qual a contribuição das instituições de ensino nesse processo de renovação da educação? A educação a distância tem ao longo dos tempos, tentado corresponder às exigências educacionais decorrentes das mudanças de ordem econômica e social. Tem ampliado a possibilidade de acesso à educação em condições igualitárias, representando uma oportunidade para todos os que encontram barreiras à educação formal ou profissional no ensino presencial, seja pela impossibilidade de se deslocar, Introdução à Educação a Distância28 pela distância geográfica ou pelas limitações financeiras ou temporais. Quais as principais vantagens da utilização da educação a distância na formação de profissionais? Abertura - Eliminação ou redução das barreiras de acesso aos cursos ou níveis de estudos; diversificação e ampliação da oferta de cursos; oportunidade de formação adaptada às exigências atuais, às pessoas que não puderam frequentar a educação tradicional. Flexibilidade - Ausência de rigidez quanto aos requisitos de espaço (onde estudar?), assistência às aulas e tempo (quando estudar?) e ritmo (em que velocidade aprender?); eficaz combinação de estudo e trabalho; permanência do estudante em seu ambiente profissional, cultural e familiar; formação fora do contexto da sala de aula. Economia - Redução de custos em relação aos sistemas presenciais de ensino, ao eliminar pequenos grupos, ao evitar gastos de locomoção de estudantes, ao evitar o abandono do local de trabalho para o tempo extra de formação, ao permitir a economia em escala. Eficácia - O estudante, centro do processo de aprendizagem e sujeito ativo de sua formação percebe o respeito ao seu ritmo de aprender; formação teórico-prática, relacionada à experiência do estudante, em contato imediato com a atividade profissional que se deseja melhorar; conteúdos instrucionais elaborados por especialistas e a utilização de recursos multimídia; comunicação bidirecional frequente, garantindo uma aprendizagem dinâmica e inovadora. Formação permanente e pessoal - Atendimento às demandas e às aspirações dos diversos grupos, por intermédio de atividades formativas ou não; estudante ativo: desenvolvimento da iniciativa, de atitudes, interesses, valores e hábitos educativos; capacitação para o trabalho e superação do nível cultural de cada estudante. Será que a educação a distância só tem vantagens? A educação a distância, apesar das forças que possui, apresenta também vulnerabilidades, muitas vezes resultado de experiências de qualidade duvidosa e outras, fruto da nossa tendência natural em resistir a quebrar o paradigma da Introdução à Educação a Distância 29 presencialidade de professores e estudantes. Ela necessita de um trabalho continuado de sensibilização, de divulgação e de credibilidade. Por outro lado, a aplicação das novas tecnologias da informação e comunicação levanta a questão do acesso à tecnologia e de sua utilização enquanto facilitadora do conhecimento. Ligada a este aspecto encontra-se a necessidade de um elevado investimento prévio ao lançamento de um curso a distância, ampliado quando se utilizam instrumentos tecnológicos de ponta, em constante evolução. A proposta do material didático dos cursos é de mediação, interação, promoção de diálogo, mas se não incluírem esses instrumentos, a educação a distância corre o risco de reforçar a exclusão linguística, social, cultural e tecnológica de uma parte da população já tradicionalmente afastada da educação de qualidade. A educação a distância enfrenta desafios aos quais urge dar resposta. Contudo o maior desafio cabe ao estudante em aceitar participar de um curso a distância e passar pela experiência. Apresentamos a seguir algumas das vulnerabilidades comumente apontadas à educação a distância. • Falta de motivação dos estudantes; • Altos índices de evasão dos cursos; • Custo elevado de implantação; • Dificuldade na interação estudante/estudante, estudante/instituição que promove o curso evice-versa; • Dependência exagerada da tecnologia; • Carência de pessoal especializado; • Resistências da estrutura tradicional do ensino; • Custos específicos da tecnologia; • Necessidade de conhecimento tecnológico por parte dos estudantes; • Resistência cultural de adaptação às novas propostas comunicacionais e educacionais; • Escassez de pesquisas para desenvolvimento de pedagogia específica; • Falta de segurança, sobretudo nas avaliações de aprendizagem. Introdução à Educação a Distância30 Mas afinal qual a diferença entre educação a distância e educação presencial? Imagine que você está numa sala de aula presencial. À sua volta estão os seus colegas. Na sua frente encontra-se o professor. Você escuta o professor e por vezes interage com os seus colegas. Quando sai da sala de aula vai para casa e tem que estudar sozinho. Quando se fala em educação a distância, afirma-se normalmente que não estão presentes ao seu lado os seus colegas e o professor. Contudo, essa visão não é completamente verdadeira. Você pode estar em sua casa e ter o seu professor em frente à tela do seu computador, bem como os seus colegas. Pode falar com eles, vê-los e trocar documentos. Mas mesmo que não tenha computador, você continua a ter na sua frente o professor dialogando com você através do material didático. Existem cursos de educação a distância que têm na sua proposta pedagógica a possibilidade de realização de momentos presenciais, onde você pode estar com os seus colegas. A participação do estudante nesses momentos presenciais é fundamental para a construção da sua aprendizagem e para o sucesso do curso. Os encontros presenciais cumprem várias finalidades: introdução e sistematização das unidades, socialização do trabalho realizado, debate e troca de experiências, esclarecimento de dúvidas, apresentação de sugestões e avaliação. O estudante deverá preparar a sua participação nos encontros presenciais cuidadosamente. Levar sempre os materiais do curso, registrar previamente as dúvidas, dificuldades e sugestões que desejar apresentar, respeitar cuidadosamente o cronograma previsto e participar ativamente. Durante o estudo deverá ter a possibilidade de contato permanente com um tutor/facilitador de aprendizagem que esclarecerá as suas dúvidas de caráter administrativo e de conteúdo. O tutor também terá o cuidado de estar atento ao acompanhamento do estudante durante o curso, intervindo, caso o estudante não estiver em dia com as atividades, tentando conhecer os eventuais problemas que ele tenha para frequentar o curso. Os Referenciais de Qualidade para a modalidade de educação superior a distância no Brasil, afirmam que: Não há um modelo único de educação à distância! Os programas podem apresentar diferentes desenhos e múltiplas combinações de linguagens Introdução à Educação a Distância 31 e recursos educacionais e tecnológicos. A natureza do curso e as reais condições do cotidiano e necessidades dos estudantes são os elementos que irão definir a melhor tecnologia e metodologia a ser utilizada, bem como a definição dos momentos presenciais necessários e obrigatórios, previstos em lei, estágios supervisionados, práticas em laboratórios de ensino, trabalhos de conclusão de curso, quando for o caso, tutorias presenciais nos polos descentralizados de apoio presencial e outras estratégias. Apesar da possibilidade de diferentes modos de organização, um ponto deve ser comum a todos aqueles que desenvolvem projetos nessa estratégia de educação: é a compreensão de EDUCAÇÃO como fundamento primeiro, antes de se pensar no modo de organização: A DISTÂNCIA (BRASIL, 2007, p.7). Na sala de aula presencial podemos dizer que você pode estar acompanhado fisicamente. Agora se pergunte: Quantas vezes você está na sala de aula e na realidade não está? Quantas vezes você deseja intervir e apresentar as suas opiniões e não consegue, porque o professor não permite e porque a sua timidez o impede? Quantas vezes o apresentar apressado dos conteúdos, para atender a um programa longo trabalhado em tempo curto, impede que você tenha a possibilidade de intervir, apresentar e debater as suas experiências e sensibilidades? Nessa modalidade de ensino, você, enquanto estudante, define o seu tempo. Intervém quando e quantas vezes desejar, pode apresentar as suas dúvidas e as experiências da realidade em que vive sem a limitação do tempo e sem condicionamentos de personalidade. Essa possibilidade aumenta, com a utilização das tecnologias da informação e da comunicação, formam-se comunidades de aprendizagem ligadas através da rede, em que cada um é emissor e receptor da informação e constrói na interação com esses dados o seu conhecimento. A possibilidade de interação permanente na sala de aula presencial nem sempre corresponde à qualidade das propostas pedagógicas e da educação. Se essa possibilidade não se torna efetiva, não traz benefícios acrescidos ao estudante, na educação a distância acontece o mesmo. As instituições que promovem cursos a distância têm hoje ferramentas tecnológicas e reflexão teórica suficientes para estruturarem cursos em que a interação constitua elemento fundamental para a aprendizagem do estudante. Contudo, não podemos esquecer que a utilização dessas ferramentas está condicionada pelo Introdução à Educação a Distância32 próprio estudante, a ser disponíveis, a saber operar e delas retirar uso produtivo em termos educacionais. De acordo com o que temos vindo a afirmar, as diferenças entre educação presencial e educação a distância situam-se no fato de a educação presencial obrigar a um contato direto entre educador e educando em um local estabelecido. A partir desse encontro ocorre o processo de ensino aprendizagem, o professor é o mediador num processo partilhado de construção do conhecimento, organizando os conteúdos, as estratégias de ensino e o ambiente favorável à aprendizagem. Na educação a distância, o contato entre o professor e estudante ocorre de modo indireto, através dos meios tecnológicos, a organização didática e pedagógica terá de ser planejada de modo que os estudantes assumam a construção autônoma do seu processo de aprendizagem sem a presença física do professor. Fazer um curso a distância tem várias peculiaridades, quando comparado com a presencialidade. A partir das diferentes realidades, há também mitos e preconceitos relativos à Educação a Distância que é preciso superar e há potencialidades e vantagens ainda pouco exploradas na maior parte dos cursos oferecidos. Você sabe qual a relação entre o desenvolvimento tecnológico e a evolução da educação a distância? Para explicar essa relação vamos falar sobre as origens da educação a distância. A educação a distância embora hoje seja por vezes considerada como “descoberta” da era da Internet, isso não é bem assim, embora a Internet seja uma ferramenta muito importante para a educação a distância nos nossos dias, existe todo um trabalho ao longo de pelo menos um século em termos de educação a distância. Mas podemos encontrar referências à educação a distância na Antiguidade. São Paulo, quando escrevia as suas epístolas, e Platão, as suas cartas, estavam utilizando os princípios do método de ensino que hoje chamamos de educação a distância. Dando um pulo no tempo e não tendo por pretensão colocar algo muito sistemático e rígido podemos dizer que a educação a distância surge no século XIX na Inglaterra, Alemanha e Suécia, usando a correspondência. Estes projetos de EaD estavam associados à necessidade de enquadrar as pessoas na sociedade industrial que estava se intensificando no caso da Inglaterra e da Alemanha e de ultrapassar distâncias geográficas e condições climáticas adversas na Suécia, país do norte da Europa sujeitoa condições climáticas adversas. Introdução à Educação a Distância 33 No dia 20 de março de 1728, foi publicado no jornal Gazeta de Boston (EUA), pelo professor de taquigrafia Caleb Phillips, o seguinte anúncio: “Qualquer pessoa que queira estudar taquigrafia pode ter várias lições enviadas à sua casa semanalmente, e estará sendo tão bem instruída quanto uma pessoa que mora em Boston”. Esse anúncio de jornal marcou o início do estudo a distância com as características básicas ainda hoje utilizadas. No caso do curso de taquigrafia do senhor Caleb, ele propunha utilizar como canal de comunicação o correio, para veicular o curso através de material didático impresso. Já no século XX, com o aparecimento do rádio, os projetos de educação a distância utilizando material impresso (designados de cursos de ensino por correspondência), tiveram a oportunidade de alargar o seu público alvo e de potencializar a sua dinâmica didática e pedagógica com os recursos que esse meio de comunicação possibilitou. O rádio possibilitou que, pela primeira vez, estudantes dispersos por uma ampla área geográfica debatessem as temáticas do curso com colegas e esclarecessem as suas dúvidas ao vivo com os professores. A generalização do uso do telefone e a crescente eficácia dos serviços postais permitiram uma maior interação entre a instituição que promove o curso e seus estudantes. Entretanto, o provérbio “mais vale uma imagem que mil palavras” torna-se referência quando a educação a distância tem acesso à veiculação de cursos através da televisão. A magia da imagem e a presença visual dos intervenientes no processo de ensino e aprendizagem dão à educação a distância a possibilidade de utilizar práticas didáticas e estratégias motivacionais que disponibilizam ao estudante condições únicas para construir o seu aprendizado. A partir dos anos 90, o aparecimento das tecnologias baseadas na digitalização da informação (CD-rom, computador, Internet), possibilitaram o aparecimento de novas linguagens e a criação de novas formas de diálogo e cooperação. As tecnologias de informação e de comunicação motivam novos hábitos de pensamento. Simultaneamente oportunizam novas perspectivas para o ensino e a pesquisa, bem como para a promoção e a divulgação do saber, elas rompem os conceitos tradicionais de tempo, de espaço e cultura quando compartilham informações, experiências e sentimentos com estudantes e professores de outras instituições de ensino em tempo real ou não. As novas tecnologias de informação e comunicação conduzem ao desenvolvimento de diferentes formas de ler, de interpretar e de se relacionar Introdução à Educação a Distância34 com o mundo. Estudantes e professores encaram o desafio de organizar novos esquemas de ação e de representação, desenvolver novas competências, atitudes e habilidades, pesquisar e experimentar novos processos de produzir conhecimento e de aprender. Nesse contexto, os modelos anteriores de educação a distância com os seus limitados recursos informativos e fracas possibilidades de interação são colocados perante novos desafios e possibilidades. A educação a distância vai constituir um amplo campo de pesquisa de novas práticas pedagógicas específicas para ensinar e aprender em ambientes mediados pela tecnologia e para a produção de conteúdos específicos que facilitem esse processo. Nesse sentido a interculturalidade terá grande relevância. Mas o que se entende por interculturalidade? A vida do homem na terra sempre foi marcada pela interculturalidade, no entanto, a relação do homem face à interculturalidade tem mudado ao longo dos séculos. Exemplos de posturas diferenciadas do homem face à interculturalidade encontramos ao longo da expansão da Europa na África, América e Oceania, no regime nazista e nos nossos dias no conflito israelense-árabe. A sociedade cognitiva atual transforma-se numa Paideia global que transforma qualquer espaço e tempo em oportunidade para permanentemente criar e aprender cooperativamente com o outro. Numa dicotomia constante entre o global e o local, o homem tem de construir um referencial cultural complexo e permanentemente ajustável, que lhe permita relacionar-se simultaneamente com o próximo e o longínquo, seja ele humano, informacional, cultural, etc.. A construção de uma visão integrada do posicionamento do sujeito face ao global e ao local, só será possível tendo como suporte os princípios democráticos da interação, diálogo e respeito mútuo. A educação do novo milênio busca esforços para enraizar os seres humanos numa visão holística do mundo, integrando o global e o local, o individual e o coletivo, a identidade e a diferença na persecução de um cidadão planetário capaz de traçar e redefinir permanentemente um projeto de vida e utopia. A utopia educativa na sociedade do conhecimento passa obrigatoriamente pelo protagonismo do combate às formas de injustiça não apenas socioeconômicas, mas também culturais ou simbólicas, num processo de coeducação coletiva e Introdução à Educação a Distância 35 dialógica, visando uma postura reivindicativa de uma cultura de respeito e valorização da diferença e de uma política social de igualdade, numa sociedade de pessoas e não do mercado. Quando falamos em educação a distância a questão intercultural aflora com particular pertinência. A educação a distância propõe-se ajustar a todos condições de acesso a uma educação de qualidade e simultaneamente terá de corresponder às expectativas de não excluir do processo de construção do conhecimento ninguém por questões interculturais. A educação a distância será o arauto de uma nova polis onde os cidadãos terão as habilidades, atitudes e conhecimentos necessários para atuar e interagir no âmbito de diferentes culturas, promotor da ecologia profunda, da unidade do gênero humano e da paz universal. Ela pode ser o vértice de um projeto educativo focalizado nas preocupações de quem é vitima de preconceitos e discriminações multiculturais e no respeito pelo ser humano, e fundado nos princípios expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos e nos Direitos e Garantias Fundamentais da Constituição Federal Brasileira. A utilização da educação a distância enquanto prática alternativa de educação, tem sido pressionada por exigências crescentes no domínio socioeconômico de mão de obra qualificada para o mercado de trabalho, às quais corresponderam políticas educacionais visando a universalização do ensino, especialmente em áreas do conhecimento e em áreas geográficas onde a educação presencial não atende às necessidades prementes da Sociedade da Informação. Essa modalidade de ensino é o processo de ensino-aprendizagem, mediado por tecnologias, no qual professores e estudantes estão separados espacial e/ou temporalmente. Apesar de não estarem juntos, de maneira presencial, eles podem estar interligados por tecnologias, tais como o livro, o rádio, a televisão, o vídeo, o CD-ROM, o telefone, o fax, a Internet e eventualmente outras tecnologias. A tecnologia tem constituído elemento estimulador e transformador das estratégias de educar a distância, aumentando as possibilidades de interação e contato entre os estudantes e entre a instituição que promove o curso e vice- versa permitindo, simultaneamente, desenvolver projetos cada vez mais adaptados às formas individuais de aprendizagem, nos quais se atribuiu mais progressiva autonomia ao estudante, colocando ao seu dispor um número crescente de recursos para a aprendizagem. Essas mudanças serão forçadas em parte por novas tecnologias, em parte Introdução à Educação a Distância36 pelas exigências de uma sociedade baseada no conhecimento na qual o aprendizado organizado precisa se tornar um processo vitalício, e em parte por novas teorias arespeito de como aprendem os seres humanos. Não podemos esquecer as palavras de dois teóricos conhecidos: McLuhan (1996) nos anos sessenta afirmou que “Haverá um dia e este já pode ser uma realidade, em que todos aprenderão muito mais e muito mais rapidamente em contato com o mundo exterior do que no recinto das instituições de ensino”. E por outro lado Peter Singer afirmou em (1995) que “As escolas e as universidades irão mudar de formas muito mais drástica do que têm mudado desde que assumiram sua presente forma há mais de 300 anos quando se reorganizaram em torno do livro impresso”. Estamos terminando nossa intervenção, deixando uma recomendação: “Trabalhe com entusiasmo. Nunca desanime. Acredite no seu sucesso. Fortaleça redes de cooperação com os seus companheiros de curso e orientadores de aprendizagem”. Introdução à Educação a Distância 37 2 INTERNET: O APRENDIZADO SOCIALMENTE DISTRIBUÍDO CONHECIMENTOS Compreender as novas formas de ensinar e aprender, o papel da escola e a importân- cia da postura do professor para a transformação do ambiente escolar na sociedade do Conhecimento e da Aprendizagem. Conhecer as concepções de currículo e sua redefinição diante das possibilidades de integração da escola com diferentes espaços de produção de conhecimento. HABILIDADES Identificar as implicações pedagógicas envolvidas no uso das diferentes tecnologias. Reconhecer as formas de ensinar com a utilização das novas tecnologias. ATITUDES Utilizar as tecnologias digitais da informação e comunicação como elementos estruturantes dos processos sociais e educacionais. Introdução à Educação a Distância38 Um breve histórico da Internet Você sabe quando a Internet “nasceu”? Foi no dia 12 de janeiro de 1983. Contudo, os estudos que conduziram o seu surgimento remontam ao início dos anos sessenta, quando começaram a organizar redes para a difusão de informação. O primeiro visionário da Internet foi o físico, matemático e psicólogo norte americano Joseph Licklider. A partir de 1962, ele começou a divulgar em memorandos a ideia de que uma rede universalizada de computadores criaria interações sociais complexas e melhoraria o trabalho humano (XEXEO, 2003). Nessa época, por causa da Guerra Fria, os Estados Unidos procuravam descobrir como manter uma rede de comunicação e um comando que resistisse a um ataque nuclear. Foi esse o impulso necessário para o desenvolvimento da rede mundial de comunicação que depois se chamaria Internet. Com a queda do muro de Berlim, em 1989, e o fim da Guerra Fria, a Internet, até então, mantida sob domínio militar, foi liberada para o uso civil e rapidamente tornou-se num poderoso veículo de comunicação e relacionamento entre pessoas e organizações. A Internet é uma rede mundial que interliga milhões de computadores. É uma rede de comunicação e de processamento de dados e informações, cujo suporte material é composta de redes de conexões digitais entre diversos computadores espalhados pelo mundo inteiro (PRETTO, 2003). Atualmente, essa grandiosa invenção cativa milhões de seres humanos desejosos de conhecimento, através da diversão ou de interação, independentemente das fronteiras e nacionalidades ou da cultura, condição socioeconômica, raça ou religião. Esse meio de comunicação abriu oportunidades diretamente associadas ao conjunto de transformações no modo de pensar e conviver da humanidade, possibilitando a cada sujeito poder navegar livremente de forma não sequencial, estabelecendo o caminho entre as distintas possibilidades existentes. Cada pessoa assume o risco de selecionar seus próprios percursos nessa aventura de navegar pelo desconhecido e de descobrir-se perdido ou defrontar- se com novas descobertas. Além de ter oportunizado a libertação da distribuição unidirecional e homogênea das informações, abrindo portas para a coprodução Introdução à Educação a Distância 39 do conhecimento e a sua difusão de modo nunca antes tentado (PRETTO, 2003). Possibilitando, dessa forma, um infinito espaço destinado a: • Troca de informações; • Atualização sobre temas de interesse; • Formação educacional; • Repositórios de informação; • Interação. Você pode concluir a partir do supracitado que a Internet apresenta um enorme potencial para a educação. Estudantes e professores caminham rumo à produção compartilhada do conhecimento. O professor assume o papel daquele que navega junto com os seus estudantes, apontando a exploração de novos caminhos sem a preocupação de ter passado por eles alguma vez, motivando, dessa forma, a resolução dos problemas ou o desenvolvimento de projetos que mobilizem suas expectativas, desejos e interesses. Mais do que ensinar, o professor concentra-se no “aprender fazendo”, na criação, gestão e regulação das situações de aprendizagem significativas ao grupo de cada estudante. Professores e estudantes são encarados como colaboradores do crescimento individual e coletivo. Eles selecionam as informações que lhes são mais pertinentes, as internalizam, as transformam e devolvem ao grupo, colaborando para o crescimento individual e coletivo. O desenvolvimento da Internet como ferramenta potencial na área da educação envolve quatro momentos: • Difusão de informação O uso de portais facilita o acesso à informação, aumenta a utilização de materiais educativos atuais e de melhor qualidade e oferece a vantagem econômica de entregar informação completa de forma oportuna. • Interação Os portais permitem interações simples (como correio eletrônico, conferências, etc.) que possibilitam a construção e o desenvolvimento de comunidades educacionais, tanto locais como regionais verticais ou horizontais. Essas interações criam as bases de uma plataforma de colaboração que conectam todos os atores, Introdução à Educação a Distância40 além das fronteiras físicas e incorpora uma dimensão pedagógica nova, capaz de gerar dinâmicas importantes de socialização e aprendizagem. • Transação Enfatiza a capacidade de comprar, vender, intercambiar direitos, vincular- se com o Sistema Financeiro e realiza milhares de transações diárias, exigidas pelo Sistema Educacional. Essas transações se vinculam com outros sistemas em rede, como é o caso do bancário, que potenciam os benefícios como por exemplo, famílias compram materiais por meio de catálogos eletrônicos e se beneficiam da redução de preços da compra de grandes volumes agregados de muitos estabelecimentos. Esse sistema permite o intercâmbio de conteúdos e serviços entre grupos de estabelecimentos, com o fim de obter benefícios econômicos. • Colaboração Agrega dimensões como a gestão colaborativa de projetos, aplicações e funcionalidades para a planificação e a pesquisa, possibilitando a estudantes e professores poderem trabalhar em rede, conjuntamente, sobre um tema comum (RADA, 2004). Contudo, a utilização da Internet na sala de aula implica alguns cuidados. A Internet é um ambiente propício à obtenção e troca de informação. Você poderá ver algumas características que justificam essa assertiva: • Oferece um número ilimitado de recursos informacionais; • Não apresenta uma organização precisa da informação; • Motiva o esforço de pesquisa; • Cada usuário determina o material que deseja apresentar; • O formato eletrônico dos dados possibilita a sua fácil disponibilização e obtenção; • Contêm informações atualizadas; • Obriga à seleção da informação supérflua; • Não tem por objetivo fundamental atender as necessidades individuais. O trabalho do professor em sala de aula pode ser beneficiado pela utilização da Internet, que pode trazer ganhos pedagógicos como: Introdução à Educação a Distância 41 • Acessibilidade a fontes diversas de assuntos para pesquisas; • Páginas educacionais específicaspara a pesquisa escolar; • Páginas para busca de softwares; • Comunicação e interação com outras escolas; • Estímulo para pesquisar a partir de temas previamente definidos ou a partir da curiosidade dos próprios estudantes; • Desenvolvimento de uma nova forma de comunicação e socialização; • Estímulo à leitura e a escrita; • Estímulo à curiosidade; • Estímulo ao raciocínio lógico; • Desenvolvimento da autonomia; • Aprendizado individualizado; • Troca de experiências entre professores/professores, aluno/aluno e professor/aluno (TAJRA, 2000). E quanto a você, quais os benefícios que a Internet pode trazer para o seu aprendizado? De acordo com Kalinke (2003), outros aspectos positivos da utilização da Internet na sala de aula podem ser destacados que, mesmo em diferentes caminhos o estudante pode aprender se comunicando de forma satisfatória entre eles. Seus trabalhos podem ser publicados e visualizados por todos da comunidade escolar. A Internet em ambientes educacionais tem-se tornado destaque, pois é um recurso ágil, dinâmico e atrativo. Possibilita os estudantes adentrarem a uma nova realidade tecnológica e social, permitindo uma interação com outras culturas. Introdução à Educação a Distância42 Quase todas as abordagens atualmente em uso que permitem a aprendizagem via Internet podem ser distribuídas em três categorias: • Aquelas que têm estrutura de um curso (seja de 20 minutos, 20 horas ou 20 semanas); • Aquelas que não têm estrutura de um curso, mas permitem. • Vários tipos de aprendizagem, como a operação via Internet de equipamentos científicos localizados em centros de pesquisa distantes; a ‘imersão’, via Internet 2, em ambientes de realidade virtual; a participação em ‘comunidades virtuais’ de aprendizagem e de prática; e tutoria avulsa; • Aquelas que contêm acervos em forma digital, como portais coletivos de periódicos científicos; bibliotecas, museus e arquivos virtuais; e repositórios de objetos de aprendizagem, também conhecidos como ‘conteúdos modulares’ (esses, quando de grandes dimensões, normalmente exigem uma ferramenta de diálogo na interface com o aprendiz para determinar o escopo e as características da informação desejada antes de indicar sugestões). Recomendações que os estudantes deverão compreender ao navegar na Internet. A Internet, além das potencialidades, também apresenta pelo menos dois desafios básicos. O primeiro passa exatamente pelo que parece ser uma das suas grandes vantagens: o excesso de informações. O professor deve estar atento, pois muitas dessas informações é “lixo” e repetida, para além do marketing e da informação ofensiva da moral. Segundo, o professor deve estar atento ao fato de muitos estudantes retirarem informação da Internet, sem avaliar o que estão pesquisando. É necessário que o professor discuta com seus estudantes que apesar da Internet constituir uma ferramenta privilegiada para a atualização de conhecimentos, não existe um controle de qualidade da informação divulgada. Por outro lado, é importante que os estudantes compreendam a necessidade de respeitar os direitos autorais do material disponível na Internet, prestando a atenção ao plágio e as normas de etiqueta elementares, tais como: • Não dizer para alguém nada que você não diria pessoalmente, face a face ou em auditório, perante o público; Introdução à Educação a Distância 43 • Não divulgar quaisquer informações ou dados pessoais; • Não escrever em mensagens com todas as letras maiúsculas, pois significará que está gritando; • Ser breve e conciso nas mensagens; • Evitar erros gramaticais; • Certificar-se de que o conteúdo é de fácil leitura e compreensão para o receptor; • Evite reenviar mensagens que recebeu por e-mail; • Confirme o endereço do receptor da mensagem; • Se desejar que a sua mensagem não seja de domínio público, seja explícito na referência ao fato de ela estar sujeita a copyright; • Não utilize ideias alheias como sendo suas, mesmo que o autor tenha liberado os direitos autorais; • Não divulgue propaganda pela rede, seja com fins particulares ou comerciais, pois pode acontecer que possa ser expulso da comunidade a que pertence; • Respeite a privacidade dos outros usuários da Internet. A Internet pode contribuir também para promover a interação entre a escola e o meio, possibilitando à escola quebrar o seu isolamento e oportunizar sua integração no mundo que a rodeia, aproximando-a da vida. Através desse meio de comunicação são disponibilizados inúmeros recursos que combinam publicações (páginas web, blog, webquest, twitter e redes sociais) e de interação (conferências entre duas ou mais pessoas localizadas em qualquer local do globo), que poderão não apenas ver, como também trocar arquivos, listas de discussões entre pessoas com interesses em determinada área do conhecimento, correio eletrônico em formato de texto, áudio e vídeo. No entanto, a partir desse conjunto de rede mundial a escola está em condições não só de recolher e disseminar informação, mas também de trabalhar colaborativamente com parceiros de todo o mundo e divulgar pesquisas e experiências feitas por professores e estudantes (KALINKE, 2003). Introdução à Educação a Distância44 Introdução à Educação a Distância 45 3 TUTOR E O SEU PAPEL NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CONHECIMENTOS Compreender os diferentes modos de utilizar a internet na educação e no ensino a distância. Entender o papel do tutor e suas dificuldades. HABILIDADES Identificar o papel do tutor e as dificuldades dos estudantes durante o curso de EAD. ATITUDES Assumir a postura necessária para o estudante de Educação a Distância utilizando estratégias de gestão de tempo e de informação para o estudo. Atuar em sala virtual de acordo com os princípios subjacentes ao projeto pedagógico, ajustando o horário de estudo a distância em função das necessidades do curso. Introdução à Educação a Distância46 Introdução A educação a distância vem se expandindo nos últimos anos. Um dos temas em constante debate trata-se do papel do tutor EAD, como sendo uma função determinante no processo de concretização de um modelo ideal de educação. O avanço tecnológico, permite através da Internet a oportunidade de estudantes dos mais variados níveis de instrução ter acesso a qualquer tipo de conhecimento sem exigir a presença de um professor para colaborar com o seu modo de estudar. Mas, a presença do tutor EAD, se mostra imprescindível na ação de colaborador para aprendizagem do estudante. Atualmente, a educação a distância no Brasil está ascendendo de forma acelerada e existe um educador por trás de todo o processo: o tutor EAD. Por que o tutor se distingue no papel pedagógico atribuído aos tutores a distância e presencial? Você já parou para pensar o que faz o tutor no ambiente virtual de EAD? Na educação a distância, o estudante e professor estão fisicamente afastados portanto, é preciso criar uma infraestrutura que permita a máxima interação possível entre os personagens do processo educativo. Ensinar a distância é diferente de ensinar presencialmente, a larga experiência do professor no ensino presencial não garante a ele sucesso no ensino a distância. O professor na função de tutor precisa desenvolver diferentes habilidades e táticas para ensinar a distância, porque o estudante precisa aprender a aprender a construir o seu conhecimento considerando sua autorresponsabilidade com o seu processo de aprendizagem. Nessa ocasião, entra em cena o professor-tutor – ou orientador pedagógico, orientador acadêmico, facilitador. O professor-tutor antes de trabalhar no ensino a distância deve ponderar os seguintes aspectos que são fundamentais: • A conjuntura de ensino – O espaço de aprendizagem segue a inovação da midiatizaçãoda tecnologia e da separação física entre os participantes. O tutor deve conhecer que essas transformações influencia a conjuntura do ensino; • Os estudantes – Têm uma expectativa diferente do ato de aprender dos estudantes na modalidade presencial. O tutor, deve estar atento às dificuldades sociais, psicológicas e técnicas que o estudante de EaD enfrenta; Introdução à Educação a Distância 47 • Os métodos – Os intervenientes do ensino a distância precisam distinguir que os procedimentos tradicionais do ensino presencial não podem prontamente ser adotados no contexto da EAD. Por isso, atenção para não reproduzi- los. Portanto, Maggio afirma, “o tutor pode mudar o sentido da proposta pedagógica pela qual foi concebido um projeto (...) (2001, p. 106),”. Mas é imperativo distinguir que sua intervenção pode melhorar a proposta. Interação e tutoria: o que tem a ver? As tecnologias da informação e da comunicação trouxeram a discussão sobre o que significa interação. Por falar nessa discussão, trazemos o exemplo de Belloni (1999, p. 58): [...] o conceito sociológico de interação – ação recíproca entre dois ou mais atores onde ocorre intersubjetividade, isto é, encontro de dois sujeitos (...) e a interatividade (...) com dois significados diferentes (...): de um lado a potencialidade técnica oferecida por determinado meio (...), e, de outro, a atividade humana, do usuário, de agir sobre a máquina, e de receber em troca uma ‘retroação’ da máquina sobre ele. Primo (2000) propõe interação como as relações e influências mútuas entre dois ou mais fatores entes, de modo que cada um altera o outro e a si próprio, bem como a relação existente entre eles. Em educação a distância é possível encontrar interações diversas como: interação estudante/conteúdo, professor/estudante, estudante/estudante e estudante/instituição. Vamos conversar um pouco sobre cada uma delas. Interação Estudante/Conteúdo - Ao lermos algum texto, interagimos com ele, refletimos e reestruturamos, ainda que mentalmente, as explicações dadas sobre determinados temas. Trata-se de uma forma crítica de realizar leituras, de dialogar com o texto. E isso é mais necessário ainda se o texto se presta a promover aprendizagens específicas. Do contrário, o estudante será apenas um receptador de conteúdos. Cada estudante precisa elaborar seu próprio conhecimento. Para que isto aconteça, uma das atitudes é pela inserção pessoal do estudante nas informações. Percebeu que estamos falando de uma troca entre estudante e conteúdo? Falamos então, da interação estudante/conteúdo. Esse tipo de interação possibilita alterações Introdução à Educação a Distância48 da compreensão do aprendiz, internalizações de aspectos que ele considera importantes, e, talvez, até mesmo, mudanças de perspectiva. E qual o papel do tutor? É o de facilitar a interação do estudante com o assunto apresentado para estudo. Interação Tutor/Estudante - A aprendizagem em EAD se caracteriza pela interação tutor/estudante onde ambos aprendem entre si, num clima de liberdade e pró-ação. É dado ao estudante total liberdade de tempo pela assincronicidade (que não se realiza ao mesmo tempo) do curso. Nesta ótica, o estudante é responsável também por seu aprendizado decorrente de seu comprometimento. Cabem ao tutor atitudes de cobrança, uma vez que o estudante, apesar de agente de sua aprendizagem, deverá atender aos compromissos assumidos em relação ao cronograma do curso. Interação Estudante/Estudante - Existe a relação de um estudante com os demais estudantes da turma, de pequenos grupos (quando há atividades grupais). As discussões entre eles são valiosas, pois se sentem mais a vontade para expressar suas ideias, podem trazer ricos relatos de suas vivências. Interação Instituição/Estudante - A instituição deve dar apoio ao estudante. Informações a serem dadas pela secretaria, ou pela área tecnológica, ou por responsáveis pelo atendimento em polos, entre outros, devem ser encaminhadas, ao estudante, de forma clara e com brevidade. Tutor: “os olhos, ouvidos e a boca” do sistema EaD O perfil do público norteia o projeto pedagógico, a elaboração dos conteúdos, e a atuação dos tutores. O que significa dizer que o tutor é os “olhos, ouvidos e a boca” do Sistema EaD? É que o tutor tem a função essencial de apoio ao estudante, que se desdobra num atendimento dentro de várias situações. Apesar de instituições que lidam com EAD designarem áreas para responderem sobre questões diversas (administrativas, tecnológicas, entre outras), na prática, os estudantes procuram, primeiramente, o tutor. Perguntam sobre notas de outros tutores; querem saber o que houve com a plataforma que estava “fora do ar”; solicitam informações de como fazer a carteira de estudante e muito mais. Por ter esse contato direto com o estudante, receberá observações e comentários em relação a várias dimensões do curso. Introdução à Educação a Distância 49 Para dar esse tipo de apoio ao estudante, o tutor precisa conhecer como funciona toda a estrutura de atendimento do curso, e poderá responder a solicitação ou encaminhá-lo aos profissionais responsáveis por esse acolhimento. As questões que não tenham diretamente a ver com a área de atuação do tutor deverão ser remetidas às esferas responsáveis para que os mesmos venham a passar, imediatamente, a informação ao estudante. Esse procedimento irá liberar o tutor para realizar as ações mais pertinentes à tutoria. Kearsley e Moore (2007) também falam que perceber as dificuldades que o estudante possa estar enfrentando, no decorrer da disciplina ou do curso, é outra forma de apoio. Eles dão um exemplo: Para refletir: O tutor tem percebido que o estudante Jorge sempre entrega os trabalhos no “apagar das luzes”. Ao consultar as tarefas enviadas, constata, outra vez, que o estudante ainda não mandou a atividade. Será que o aluno não sabe lidar com a tecnologia? Não consegue gerenciar o tempo? Está muito angustiado com o desempenho? Em situações como essa, o tutor precisa ter sensibilidade aguçada para reconhecer os “sintomas” e buscar superar os obstáculos junto ao estudante. Perceba que o tutor tomará conhecimento de muitas coisas que acontecem no decorrer do curso. Certamente, por exercer a atividade de tutor, passará muitas críticas e sugestões de melhorias. Então, veja que ele se torna uma fonte de informações preciosas. É por isso que o tutor pode ser considerado “os olhos e os ouvidos” do Sistema EaD. E sobre ser “a boca”? Bem, as informações que estão em suas mãos precisam ter uma destinação e, mais do que isso, uma consequência. Todo esse levantamento precisa ser apresentado aos responsáveis, conforme combinações prévias. O tutor e a prática da tutoria A atuação do tutor depende do tipo de sistema de tutoria elaborada pela instituição. Não há um modelo universal, mas é ponto pacífico que a tutoria é uma necessidade dos sistemas de EAD, porque o contato humano faz parte do processo Introdução à Educação a Distância50 ensino e aprendizagem. Quais as atribuições de um tutor? A maioria dos estudos indica que, ser mediador pedagógico entre o estudante e sua aprendizagem é a principal função do tutor. São características da mediação pedagógica: dialogar permanentemente de acordo com o que acontece no momento; trocar experiências; debater dúvidas, questões ou problemas; apresentar perguntas orientadoras; orientar nas carências e dificuldades técnicas ou de conhecimento quando o aprendiz não consegue encaminhá-las sozinhos; propor situações-problema e desafios; desencadear e incentivar reflexões (...); colaborar para estabelecer conexões entre o conhecimento adquirido e os novos conceitos; colocar o aprendiz frente a frente com questões éticas, sociais, profissionais (...); colaborar para desenvolver crítica com relaçãoà quantidade e a validade das informações obtidas; cooperar para que o aprendiz use e comande as novas tecnologias.(MASETTO, 2000, p. 144-145). Contudo, ele também precisa ser o animador, o facilitador desse processo. Quando pensamos no tutor como um mediador pedagógico, que estabelece uma relação empática com os estudantes, percebemos que ele os ajuda a construir significados de mundo. Isso significa que, esse mediador deverá apresentar base teórica consistente sobre concepções de aprendizagem; profundo conhecimento do conteúdo – como é o caso da Licenciatura em Educação Física a Distância; clareza da metodologia a ser utilizada e do sistema de avaliação a ser aplicado. O tutor é necessário, porque a distância entre o estudante e o educador provoca no estudante a sensação de solidão. Portanto, o tutor precisa estar atento aos obstáculos psicológicos, sociais e técnicos que os estudantes poderão enfrentar. As funções do tutor não são simples, não é mesmo? Então, vamos tentar sistematizar essa complexidade das principais atribuições da tutoria na descrição a seguir: • Promover um ambiente social amigável, essencial em processos de ensino- aprendizagem a distância; • Favorecer o intercâmbio entre os estudantes (interação estudante/ estudante); • Estar sempre “presente”; não “sumir” do ambiente virtual de aprendizagem é um compromisso sério e deve ser cumprido. Os estudantes se ressentem quando não encontram o seu tutor. Diante disso, geralmente, chamam a atenção do tutor, quando ficam extremamente desestimulados (interação Introdução à Educação a Distância 51 tutor/estudante); • Dar dicas de como o estudante poderá organizar seu tempo de estudo (planejamento de ações); estimular os estudantes a elaborarem um plano de estudo e de administração do tempo (interação tutor/estudante); • Auxiliar na resolução de dúvidas (interação estudante/conteúdo); • Dar suporte ao estudante via e-mail / fórum, ou pessoalmente e por telefone, no caso do tutor presencial (interação tutor/estudante); •Enviar rapidamente feedback / respostas ao estudante. Uma das grandes reclamações dos estudantes é quanto à demora de obter resposta às suas mensagens. Com isso, acabam por considerar essa atitude como falta de interesse do tutor (interação tutor/estudante); • Vincular os conteúdos e as atividades às práticas de vida dos estudantes de sua turma; • Encaminhar as dúvidas dos estudantes aos supervisores das disciplinas, quando for o caso; • Controlar o recebimento e a entrega de trabalhos; • Responsabilizar-se pela correção dos trabalhos dos estudantes; • Aplicar as avaliações e corrigi-las; • Interagir com os tutores presenciais, mediante orientações definidas; • Participar do fórum dos tutores. Perceba que, diante do papel que o tutor venha desempenhar, precisa desenvolver as seguintes competências, entre outras: • Apropriar-se de conhecimento teórico de sua prática; • Conhecer as bases da andragogia (aprendizagem de adultos); • Apresentar habilidades na escrita, pois o mundo da EAD se vale muito dessa forma de comunicação. Diante da falta de pistas visuais, é preciso saber empregar expressões para não gerar ruído na comunicação e consequentes conflitos. Isso também vale para as comunicações a distância, não escritas, como o atendimento por telefone, por exemplo; • Conhecer detalhadamente o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) do curso, porque receberá pedidos de socorro de estudantes quanto à “navegação” correta na plataforma Moodle; • Ter segurança do que diz e do que faz, certamente, os estudantes ficam bem mais confiantes quando sentem segurança em seu tutor. Essa segurança decorre do domínio que o tutor tem do conteúdo, da capacidade Introdução à Educação a Distância52 de promover condições para o estudante aprender e da experiência em atuar como tutor. Há água divisória dos papéis da tutoria a distância e presencial, portanto é certo que os tutores precisam atuar de modo integrado, porém, para que não exista uma sobreposição de papéis, e sim uma interseção, é necessário compreender o que cada um faz. Delimitar as ações do tutor a distância e do tutor presencial é tarefa que exige “quebrar a cabeça”, pois o estudante precisará ter muito claro, no seu dia a dia, a quem recorrer, a quem solicitar determinadas dificuldades ou dúvidas. O estudante pode desconhecer as ferramentas tecnológicas, ter dificuldades em lidar com as ferramentas do AVA e, até mesmo, com o próprio equipamento de informática. Outros, talvez não possuam os conhecimentos e as habilidades básicas para lidar com elaboração e envio de arquivos. Existem também aqueles que apresentam uma verdadeira “tecnofobia” (aversão das tecnologias). Por rejeitar os equipamentos tecnológicos e manter a proposta de lidar com essa resistência, sentem que vão “naufragar” nas “navegações”. Alguns desafios a enfrentar Ensinar a distância, com qualidade, utilizando mídias integradas, como no caso do Curso de Educação Física a Distância, é um processo complexo que exige muito do educador que atua nesse meio. Estamos aprendendo a “fazer” EAD, “fazendo”, enquanto a descobrimos e lidamos com ela. Diante disso, nos deparamos com alguns desafios, que veremos agora: • Os estudantes silenciosos Os estudantes silenciosos são mais comuns do que você possa imaginar, ficam somente observando as discussões, sem participar dos fóruns, o estudante silencioso pode ficar sem se comunicar por vários motivos, entre eles: • Temor de se expor; • Ainda não está adaptado às ferramentas, ou não consegue tirar o melhor Introdução à Educação a Distância 53 proveito delas; • Alguma dinâmica no processo do debate o está intimidando; • Não se sente pertencente ao grupo; • Está desmotivado; • Não está compreendendo o assunto em foco; • Encontra dificuldade para se expressar através da escrita; • Falta de comprometimento com a participação; • Passa por um momento da vida que o trabalho exige mais dele; • Enfrenta problemas na vida pessoal. Diante disso, o que o tutor pensa em fazer? Bem, como agente educador, deverá verificar, com muito tato, os motivos que estão por trás da baixa ou nenhuma participação. Após conhecer os motivos do estudante, buscar incentivá- lo a compartilhar seu conhecimento, suas opiniões, participando efetivamente das discussões. Pensar em alternativas que envolvam o estudante e o incluam na comunidade, o estudante precisa se sentir confortável e seguro para fazer parte do seu grupo. Precisamos perceber estes estudantes silenciosos, “ausentes”, e nos preocuparmos com eles, pois são os principais candidatos a abandonar o curso. Vamos a outro perfil. • Os estudantes que participam “em excesso”. Bem, agora enfrentamos uma situação totalmente oposta à anterior: temos alguns estudantes que intervêm em excesso. Quando a contribuição é efetiva, fica até difícil pedir que participem menos para não monopolizar os diálogos, não é mesmo? E não se assuste se descobrir que essas participações, embora promovam a reflexão e o aprendizado, têm o poder de intimidar outros estudantes, e deixá-los inibidos. E quando as mensagens pouco ou nada contribuem com o crescimento pessoal e dos demais colegas? Bem, o que fazer? Você poderá propor um “contrato” conjunto – um contrato pedagógico – com orientações sobre a maneira de se comunicar e com explicações do que é uma participação relevante. Mas esse contrato precisa ser aceito por todos; Introdução à Educação a Distância54 do contrário, poderá não haver um comprometimento com o que foi acordado. Porém, o tutor precisa levar em conta os estilos e ritmos de aprendizagem dos estudantes, tanto dos que apresentam interatividade, em “excesso”, quanto aos silenciosos. • Os estudantes ausentes desde o começo do curso Imagine a situação: o curso já começou há três semanas, mas Patrícia,
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