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Resumo Fundamentos Sociologia - AV1 - Edu.pdf

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Semana 1 
1 - O conhecimento como característica do ser humano 
O homem é o único animal que vive no mundo e pensa sobre o mundo em que vive. Ao pensar, ele formula 
explicações acerca da realidade e dos fenômenos que o cerca. Portanto, é no ato de pensar que o homem conhece a 
si e o mundo, manifestando isso através da linguagem. 
Logos: lógica, razão, palavra, estudo > pensamento, linguagem, conhecimento, discurso. 
Em resumo, logos significa palavra e estudo, ou seja, linguagem e pensamento ao mesmo tempo. 
É interessante observar que linguagem e pensamento são coisas indissociáveis, não se pode conceber 
uma sem a outra. 
O pensador fundamental da linguística Ferdinand de Saussure (1857 - 1913) escreveu que o pensamento 
seria amorfo se não existisse a língua. Isto é, falar e pensar, duas características essenciais do ser humano, são 
fenômenos que acontecem ao mesmo tempo. 
Tomemos, então as seguintes definições: 
- pensamento: capacidade de, ao articular acontecimentos, coisas e fatos, instaurar um sentido. 
- linguagem: capacidade de tornar esse sentido manifesto. 
Pode-se dizer, então, que as coisas não têm um sentido em si, os homens é que lhes dão sentido, através do 
pensamento e da palavra, que, sistematizados de alguma maneira, formam o CONHECIMENTO. 
 
2 - Formas de conhecimento 
A ciência é uma forma de conhecimento, não é? Mas será que sempre foi? É a única forma de 
conhecimento? Não, existem algumas formas de conhecer além da ciência. O homem sempre buscou expressar o 
conhecimento dos fenômenos da natureza e de si mesmo utilizando-se de outros tipos de linguagem que não a 
científica. 
 
2.1. O mito 
O mito é uma narrativa, uma fala, que contém em si diversas ideias. É uma mensagem cifrada, que não é 
entendida facilmente por quem não está dentro da cultura de que o mito faz parte. 
O mito não é objetivo, assim como não se situa no tempo, fala das origens, sem, no entanto, referir-se ao 
contexto histórico. Trata de tempos fabulosos. 
Os mitos dão forma e aparência explícita a uma realidade que as pessoas sentem intuitivamente. 
O mito de São Jorge, por exemplo, tão fortemente presente na cultura popular brasileira, pode ser entendido como a 
representação de um desejo coletivo da presença do guerreiro, do vencedor de demandas e dificuldades. No 
imaginário popular do Rio de Janeiro mistura-se o santo católico com a divindade africana Ogum, o guerreiro e 
lutador imbatível. 
O mito pode também transmitir, de geração a geração, uma espécie de conhecimento, muitas vezes sobre a 
origem do mundo, algumas sobre processos de cura, outras sobre interpretações de fenômenos da natureza e, 
ainda, sobre a sociedade e a relação entre os homens, através de histórias mitológicas. Quem não ouviu falar do mito 
do Cupido, que fala do enamoramento? 
 
2.2. Conhecimento religioso 
Esse tipo de conhecimento do mundo se dá a partir da separação entre a esfera do sagrado e do profano. 
As religiões também apresentam, de forma geral, uma narrativa sobrenatural para o mundo, porém, para aderir a 
uma religião, é condição fundamental crer ou ter fé nessa narrativa. Além disso, é uma parte essencial da crença 
religiosa a fé no fato de que essa narrativa sobrenatural pode proporcionar ao homem uma garantia de salvação, 
bem como prescrever maneiras ou técnicas de obter e conservar essa garantia, que são os ritos, os sacramentos e 
as orações. 
 
2.3. Conhecimento filosófico 
De modo geral, o conhecimento filosófico pode ser traduzido como amor à sabedoria, à busca do 
conhecimento. A filósofa Lizie Cristine da Cunha definiu o saber filosófico como aquele que trata de compreender a 
realidade, os problemas mais gerais do homem e sua presença no universo. Segundo a autora, a Filosofia interroga o 
próprio saber e transforma-o em problema. Por isso, é, sobretudo, especulativa, no sentido de que suas conclusões 
carecem de prova material da realidade. Mas, embora a concepção filosófica não ofereça soluções definitivas para 
numerosas questões formuladas pela mente, ela é traduzida em ideologia. E como tal influi diretamente na vida 
concreta do ser humano, orientando sua atividade prática e intelectual. 
 
2.4. Senso comum 
Retomando a ideia de que as coisas por si só não têm sentido, sendo este atribuído a elas pelos homens, 
tratemos agora do senso comum, que é algum sentido dado coletivamente às coisas vividas. Para se orientar no 
mundo, o ser humano assume como certas e seguras diversas coisas, situações e relações entre fatos, coisas e 
situações. Estabelece, assim, sistemas de discursos sobre o que tem vivido, isto é, sistemas de conhecimento. 
Nem sempre o senso comum representa a realidade. Às vezes, conceitos errôneos são formulados e adotados por 
coletividades. O pensador escocês David Hume (1711-1776), propôs um cuidado especial ao se tratar da 
causalidade, isto é, das relações de causa e efeito entre os eventos vivenciados. Adverte ele que o fato de um evento 
acontecer depois do outro não significa necessariamente que haja relação de causa e efeito entre eles. 
É o caso daquele cidadão fumante que, respeitoso pelas regras de convívio, não fuma em ambientes em que haja 
outras pessoas, como um ônibus. Ele costuma esperar seu ônibus sem acender um cigarro, pois logo o ônibus 
chegará, deixando, assim, o prazer de fumar para depois da viagem. Se o ônibus, porém, demora a chegar, a falta de 
nicotina em seu organismo o deixará em estado de ansiedade que o levará a acender um cigarro. Como já se terá 
passado algum tempo de espera, o ônibus provavelmente já estará próximo e, assim, nosso amigo será surpreendido 
antes de acabar o cigarro. Como em sua experiência diária, pouco depois de acender o cigarro, é surpreendido com 
a aparição do ônibus, poderia supor que o fato de acender o cigarro causa a chegada do ônibus. O fenômeno 
observado por várias pessoas poderia estabelecer uma crença comum na causalidade entre o ato de acender o 
cigarro e o ônibus chegar. Aí está um caso de armadilha que o senso comum pode conter. 
Algo simples como observar coisas como esta contribuiu muito para que a humanidade estabelecesse mais uma 
diferença fundamental entre formas de pensamento humano, entre o senso comum e a ciência. 
 
2.5. Ciência 
A ciência é uma forma de conhecimento, ou seja, é um tipo de sistematização de discursos (logos). Não é 
só o modo como são organizados os discursos, mas o próprio discurso científico é que tem características próprias. 
Ele se refere a algo bastante especificado. Não se faz ciência sobre a vida em geral ou o mundo em geral. Faz-se 
ciência quando se delimita aquilo que se quer estudar, o objeto de que se quer tratar. O objeto não é apenas 
delimitado, é construído, pois trata-se de algo ideal, de uma representação. 
Mesmo nas ciências em que o objeto parece bastante concreto, como a química, por exemplo, que lida com 
os elementos da natureza, o discurso é montado sobre uma abstração, uma representação. O discurso científico trata 
do ferro ou do manganês abstratamente, fala de suas propriedades, classifica-as, agrupa os elementos de acordo 
com suas propriedades. O químico diz, por exemplo, que o sódio, o lítio e o potássio têm propriedades semelhantes 
e, por este motivo, pode classificá-los em um mesmo compartimento de saber, em uma mesma unidade abstrata de 
conhecimento, em uma mesma coluna da tabela periódica. Esta delimitação é da ordem do discurso e não da 
experiência. 
Evidentemente, a delimitação é resultado da experiência humana na lida com os elementos da natureza. E, 
além disso, os resultados das sistematizações dos discursos podem ser verificados em condições experimentais, isto 
é, em laboratórios. O que se procura verificar é se o discurso que se fez é verdadeiro, ouseja, se o que se disse é 
condizente com a realidade. E isto que se disse tem o nome de hipótese, outra palavra grega, que significa: (hipo: 
sob, embaixo de) + thesis (tese, proposição, ato de por). Isto é, a hipótese é um discurso que está, na hierarquia do 
conhecimento, abaixo da tese. Esta só existe depois da verificação pela experiência. 
Na produção do conhecimento científico é necessário, também, que se aja com MÉTODO. 
Método grego methodos: meta (por, através de) + hodos (caminho). 
Método, assim, é o caminho que se deve trilhar para se obter determinado resultado desejado. No caso 
de que tratamos aqui, método científico é o caminho para se obter o CONHECIMENTO CIENTÍFICO. 
Por método, entendo as regras certas e fáceis, graças às quais todos os que as observam exatamente jamais 
tomarão como verdadeiro aquilo que é falso e chegarão, sem se cansar com esforços inúteis, ao conhecimento 
verdadeiro do que pretendem alcançar. (René Descartes, 2002. Discurso do método. Regras para a direção do 
espírito. São Paulo, Editora Martin Claret p. 81) 
 
A Ciência, recorrentemente, se defronta com raciocínios desse tipo, relacionado a falsas certezas. Demonstre 
as principais diferenças entre o pensamento científico e o senso comum e apresente, pelo menos, dois 
outros exemplos de convicções equivocadas decorrentes da utilização do senso comum e refutadas pela 
ciência. 
O senso comum é vulgar, não possui nenhum método de estudo ou conhecimento, uma vez que ele não vem de 
nenhum plano prévio, apenas surge espontaneamente no cotidiano. 
Já a ciência possui um conhecimento metódico, procura ser objetiva e não se basear no meio em que está inserida. 
A ciência é um saber sistemático na medida em que constitui um conjunto organizado de conhecimentos, um 
esforço para que as diversas teorias se articulem entre si e sejam coerentes. 
A lei da gravidade, elaborada por Isaac Newton, a Lei da conservação da massa, de Lavoisier, popularizada 
na expressão ‘na natureza nada se cria, tudo se transforma’ e a Teoria Heliocêntrica, preconizada por Nicolau 
Copérnico, evidenciam que características, próprias do pensamento científico? 
e) Generalidade e objetividade. 
 
Semana 2 
I- As assim chamadas Ciências Sociais 
Por Ciências Sociais entende-se o conjunto de saberes relativos às áreas da Antropologia, Sociologia e 
Ciência Política. Assim, o objeto de estudo das Ciências Sociais é a sociedade em suas dimensões sociológicas, 
antropológicas e políticas. 
As Ciências Sociais fazem parte do grupo de saberes intitulado Ciências Humanas, e apresentam métodos 
próprios de investigação dos fenômenos que analisam. Neste sentido, em geral, são postas em contraste com as 
Ciências Naturais e Exatas, já que essas podem ser avaliadas e quantificadas pelo método científico e na área social 
os métodos utilizados são outros. 
Isso acontece porque nas Ciências Sociais se trabalha muito com o discurso, com as ideias das pessoas. 
Então a quantificação da informação é possível - existem várias técnicas de análise do discurso que transformam as 
ideias em dados numéricos, mas de forma diferente das Ciências da Natureza e das Exatas. As Ciências Sociais 
também trabalham com pesquisas quantitativas e mesmo qualitativas que envolvem números. Mas esses números 
surgem de maneira diferente, muitas vezes subjetiva. 
As Ciências Sociais nos ajudam a "limpar a lente" para enxergarmos melhor as diferentes realidades com 
que convivemos. Elas têm como objeto de estudo tudo o que diz respeito às culturas humanas, sua história, suas 
realizações, seus modos de vida e seus comportamentos individuais e sociais. Elas ajudam a identificar e 
compreender os diferentes grupos sociais, contextualizando seus hábitos e costumes na estrutura de valores que 
rege cada um deles. 
II- As áreas constitutivas das ciências sociais: Sociologia, Antropologia e Ciência Política. 
A Sociologia estuda o homem e o universo sóciocultural, analisando as inter-relações entre os 
diversos fenômenos sociais. Neste campo de conhecimento, a vida social é analisada a partir de diferentes 
perspectivas teóricas, notadamente as que têm como base conceitual os estudos desenvolvidos por Émile Durkheim, 
Max Weber e Karl Marx. A partir dessas matrizes teóricas, estudam-se os fatos sociais, as ações sociais, as classes 
sociais, as relações sociais, as relações de trabalho, as relações econômicas, as instituições religiosas, os 
movimentos sociais etc. 
Na Antropologia privilegiam-se os aspectos culturais do comportamento de grupos e comunidades. 
Questões cruciais para o entendimento da vida em grupo, como alteridade, diversidade cultural, etnocentrismo, 
relativismo cultural são tratadas por essa ciência, que, em seus primórdios estudava povos e grupos geográfica e 
culturalmente distantes dos povos ocidentais. Ao longo de seu desenvolvimento, os antropólogos passaram a 
analisar grupos sociais relativamente próximos, buscando transformar o exótico, o distante, em familiar. 
Assim, em sua história, a Antropologia revelou estudos notáveis sobre sociedades indígenas e sociedades 
camponesas, identificando suas diferentes visões de mundo, sistemas de parentesco, formas de classificação, 
cosmologias, linguagens etc. Também desenvolveu uma série de estudos sobre grupos sociais urbanos, enfatizando 
a diferenciação entre seus indivíduos, com base em critérios de raça, cor, etnia, gênero, orientação sexual, 
nacionalidade, regionalidade, afiliação religiosa, ideologia política, sistemas de crenças e valores, estilos de vida etc. 
Na Ciência Política analisam-se as questões ligadas às instituições políticas. Conceitos de poder, 
autoridade, dominação, autoridade são estudados por essa ciência. Analisam-se também as diferenças entre povo, 
nação e governo, bem como o papel do Estado como instituição legitimamente reconhecia como a detentora do 
monopólio da dominação e do controle de determinado território. 
 
III- Comparação entre os enfoques das Ciências Naturais e das Ciências Sociais 
Ao contrário das Ciências Naturais, as Ciências Sociais lidam não apenas com o que se chama de realidade, 
com fatos exteriores aos homens, mas igualmente com as interpretações que são feitas sobre a realidade. 
Neste sentido, no que se refere ao objeto de estudo e, consequentemente, ao método de investigação, as ciências 
sociais diferem bastante das ciências naturais. Tal diferença, aliás, suscita intensos debates quanto à validade e o 
rigor científico do conhecimento produzido pelas ciências sociais. Os argumentos utilizados têm como princípio 
epistemológico a dificuldade de reconhecê-las como ‘verdadeiras ciências’, à medida que elas tratam com eventos 
complexos, de difícil determinação, uma vez que envolvem valores e significados socialmente dados. Outra questão 
reside no fato de estar o pesquisador social, de alguma forma, envolvido com os fenômenos que pretende investigar 
dificultando a objetividade e a neutralidade científica. 
É possível, percebermos, portanto, que as ciências sociais não podem ser enquadradas em ‘modelos’ de 
cientificidade de outras ciências, pois possuem uma racionalidade e especificidades próprias, relativas ao seu 
objeto de estudo. Nessa perspectiva, tal campo de saber não comporta métodos ou técnicas rígidas e rigorosas, 
nem fórmulas de aplicação imediata que garantam a obtenção de resultados objetivos e exatos. Assim, o que 
mais importa é a interpretação dos fenômenos, ou seja, não apenas os fatos por si só, mas a forma como se 
constituem esses fatos. O sujeito (o pesquisador) deve ser considerado no contexto no qual estes fatos ou 
fenômenos se apresentam, pois ele também faz parte do objeto que investiga. 
Assim, para que se possa interpretar, analisar, investigar nessa área do conhecimento, é necessário um 
suporte teórico que fundamente determinadas opções metodológicas,não podendo ser considerada apenas a 
aplicação de determinada técnica, pois isto não garante por si só a obtenção de resultados válidos. 
IV- A importância do estudo socioantropológico na compreensão da realidade. 
O conhecimento científico da vida social não se baseia apenas no fato, mas na concepção do fato e na 
relação entre a concepção e o fato. Por estudar a ação dos homens em sociedade, de seus símbolos, sua linguagem, 
seus valores e cultura, das aspirações que os animam e das alterações que sofrem, as Ciências Sociais constituem 
ferramenta importante para o desenvolvimento de compreensão crítico-reflexivo da realidade. 
Por essa razão, cada vez mais as Ciências Sociais são utilizadas em diversos campos da atividade humana. 
Campanhas publicitárias, campanhas eleitorais, elaboração de políticas públicas, até mesmo a programação de 
redes de rádio e televisão levam cada vez mais em conta resultados de investigações sócio-antropológicas, à medida 
que estas buscam entender as pessoas envolvidas em cada uma dessas atividades, suas crenças, valores e ideias. 
Com as mudanças cada vez mais rápidas e profundas dos padrões morais e culturais das sociedades 
contemporâneas, mais relevantes se tornam as análises que visam compreendê-las. Deslocamentos de pessoas e 
grupos motivados pelo processo de globalização da economia, que intensificou os fluxos migratórios em todo 
planeta, trocas culturais proporcionadas pelo estabelecimento de uma ‘sociedade em rede’, novos modelos de 
família e conjugalidade, novas configurações no campo religioso, entre outros, constituem temas de trabalhos de 
cientistas sociais contemporâneos. Esses trabalhos são utilizados frequentemente como fonte de reflexão por 
governos, sociedade civil e indivíduos que buscam desenvolver sua capacidade de compreensão dos 
acontecimentos e planejamento de ações com vistas à atuação na vida social. 
V- Problemas Sociais e Problemas sociológicos 
Sabemos que vários problemas que nos afetam individualmente são compartilhados por outros tantos 
indivíduos, constituindo-se, por assim dizer, problemas sociais. Entretanto, existe uma diferença entre problemas 
sociais e problemas sociológicos. 
O ‘problema social’ designa comumente algo que atinge um grupo, ou uma categoria de indivíduos, as 
drogas, por exemplo. Embora a classificação de um problema social possa ser subjetiva, afinal de contas, o que é um 
problema para nossa cultura pode não ser em outra. Em outras palavras, o problema social é uma situação que afeta 
um número significativo de pessoas e é julgada por estas ou por um número significativo de outras pessoas 
como uma fonte de dificuldade ou infelicidade e considerada suscetível de melhoria. 
Já os problemas sociológicos são o objeto de estudo da Sociologia enquanto ciência, a qual se 
debruça sobre esses para compreender suas características gerais. Como vimos anteriormente, a Sociologia estuda 
os fenômenos sociais, sendo eles percebidos como problemas sociais ou não, lançando mão de uma observação 
sistemática e pormenorizada das organizações e relações sociais. 
O problema sociológico é uma questão de conhecimento científico que se suscita e resolve no âmbito da 
sociologia. Ao contrário do que parece formular corretamente um problema destes constitui tarefa muito difícil, em 
regra só acessível a quem é especialista da ciência em causa e que seja dotado de uma imaginação viva e treinado 
na pesquisa. 
Em outras palavras, nem todas as questões suscitadas acerca das matérias de que se ocupam as ciências 
sociais constituem problemas científicos, mas podem ser problemas sociais. Só são problemas científicos as 
questões formuladas de tal modo que as respostas a elas confirmem, ampliem ou modifiquem o que se tinha por 
conhecido anteriormente. Isto significa dizer que apenas os cientistas estão em condições de enunciá-las e resolvê-
las; que a sua formulação como a sua solução pressupõem um esforço metódico de pesquisa. 
Podemos concluir, portanto, que todo problema social pode ser um problema sociológico, mas nem todo 
problema sociológico é um problema social. 
 
VI- O papel do indivíduo na sociedade 
A perspectiva socioantropológica aponta para uma relação dialógica entre indivíduo e sociedade. Não existem 
sociedades sem indivíduos e os indivíduos só se tornam verdadeiramente humanos por meio da socialização, 
processo pelo qual um indivíduo se torna um membro ativo da sociedade em que nasceu, isto é, comporta-se de 
acordo com determinados atributos pré-concebidos. 
O indivíduo, assim, desempenha na realidade um papel duplo em relação à cultura. Segundo Ralph Linton (O 
indivíduo, a cultura e a sociedade), em circunstâncias normais, quanto mais perfeito seu condicionamento e 
conseqüente integração na estrutura social, tanto mais efetiva sua contribuição para o funcionamento uniforme do 
todo e mais segura sua recompensa. 
Entretanto, as sociedades existem e funcionam num mundo em perpétua mudança. Como uma simples unidade 
no organismo social, o indivíduo perpetua o status quo. Como indivíduo, ajuda a transformá-lo quando há 
necessidade. Desde que nenhum ambiente se apresente completamente estacionário, nenhuma sociedade pode 
sobreviver sem o inventor ocasional e sem sua capacidade para encontrar soluções para novos problemas. 
 A Sociologia tem como objeto de estudo a sociedade, suas diferentes formas de organização e os 
processos que interligam os indivíduos em grupos e instituições 
 Antropologia 
o Privilegia os aspectos culturais da sociedade, 
o Costumes, crenças e valores morais dos diferentes grupos e comunidades 
o Sua abordagem é integrativa 
o Seu propósito é não “parcelar o homem”. 
 Ciência Política 
o Analisa as questões ligadas às instituições do poder, sua origem, manutenção, distribuição, 
transferência, ou perda 
 
 As Ciências Sociais estudam a ação dos homens em sociedade, seus símbolos, linguagem, valores, 
cultura, e aspirações 
 Relação Indivíduo Sociedade: A perspectiva socioantropológica aponta para uma relação dialógica entre 
indivíduo e sociedade. Não existem sociedades sem indivíduos e os indivíduos só se tornam 
verdadeiramente humanos por meio da socialização, processo pelo qual um indivíduo se torna um membro 
ativo da sociedade em que nasceu, isto é, comporta-se de acordo com determinados atributos preconcebidos 
 
 Ciência Natural baseada na cientificidade anterior e é mensurável. 
 Ciência humana cientificidade pela subjetivação – a história é o primeiro critério dessa subjetivação 
 
Semana 3 
1- O conceito de cultura 
O conceito de cultura é uma preocupação intensa atualmente em diversas áreas do pensamento humano, no 
entanto a Antropologia é a área por excelência de debate sobre esta questão. 
O primeiro antropólogo a sistematizar o conceito de cultura foi Edward Tylor que, em Primitive Culture, 
formulou a seguinte definição: ‘cultura é todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, 
costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem na condição de membro da 
sociedade’. 
Desde sempre os homens se preocuparam em entender por que outros homens possuíam hábitos 
alimentares, formas de se vestir, de formarem famílias, de acessarem o sagrado de maneiras diferentes das suas. A 
essa multiplicidade de formas de vida dá-se o nome de diversidade cultural. 
Contudo, foi a partir da descoberta do Novo Mundo, nos séculos XV e XVI, que os europeus se depararam 
com modos de vida completamente distintos dos seus, e passaram a elaborar mais intensamente interpretações 
sobre esses povos e seus costumes. É fundamental lembrarmos que o impacto e a estranheza se deram dos dois 
lados. Os grupos não europeus se espantavam com o ser diferente que chegava até eles desembarcando em suas 
praias e tomando posse de seu território. Existem relatos de povosque após a morte de um europeu em combate, 
colocavam seu corpo dentro de um rio e esperavam sua decomposição para ver se eram pessoas como eles. A 
diferença é que não temos contato com esses relatos dos povos não europeus para conhecermos a visão que eles 
tinham dos brancos. 
2- O olhar eurocêntrico sobre a cultura 
Mas de onde surge a preocupação com o tema da cultura? Vamos posicionar nosso olhar. Toda construção 
científica nasce na Europa. A reflexão teórico-científica sobre a humanidade se iniciou neste ambiente e nesta 
perspectiva. Logo, a noção de ser humano de referência para todas as Ciências Humanas e Sociais é a do homem 
europeu e da sociedade europeia. No entanto, a partir dos esforços de conquista de outros continentes, os europeus 
encontraram-se com ‘seres’ diferentes o suficiente para causarem estranhamento, mas ‘parecidos’ o suficiente para 
produzirem o seguinte incômodo: serão estes seres humanos? A relação com agrupamentos humanos de localidades 
até então desconhecidas como as que hoje denominamos África, América, Austrália, fizeram com que os europeus 
se questionassem sobre as características peculiares ao humano e as razões de tanta diferença entre os 
componentes de uma mesma espécie. 
O movimento pré-científico, que domina o campo da diversidade cultural até o século XVIII, é aquele que 
oscilava entre conceber o ‘diferente’ ora como humano ora como não humano, provido ou desprovido de alma, bom 
ou mal selvagem, etc. Na ótica do ‘mal selvagem’, estes humanos eram vistos como perigosos, mais próximos aos 
animais, brutos, imbuídos de uma sexualidade descontrolada, primitivos, com uma inteligência restrita, iludidos pela 
magia, enfim, seres limitados que precisavam ser civilizados pela cultura européia. Assim entramos no século XIX. 
Os antropólogos estudam culturas ‘exóticas’ buscando descrever seus hábitos, costumes e sua forma de ver 
o mundo (cosmovisão). No entanto, eles não iam ao campo; não eram os antropólogos que experimentavam 
diretamente o dia a dia dos grupos ‘selvagens’. 
Eram enviados viajantes, pessoas comuns que eram deslocados para essas tribos e ali ficavam por 
um certo tempo, registrando tudo que viam e ouviam, a fim de entregar este material aos antropólogos que aí 
sim analisavam estes relatos, desenvolvendo suas teorias sobre as diferentes culturas. Esta é a denominada 
antropologia de gabinete. 
 
3- A prática etnográfica 
Na segunda metade do século XIX esta ‘metodologia’ foi questionada, afinal, como falar sobre uma cultura 
que nunca se viu? Como descrever eventos que nunca se vivenciou? Assim cunhou-se a prática etnográfica que é a 
metodologia característica da antropologia até os dias de hoje: o próprio antropólogo vai ao campo, entra no 
grupo, vivencia esta cultura diferente, deixa-se fazer parte deste dia a dia, registra esta vivência, retorna para 
sua própria cultura e finaliza seu trabalho de escrita que é o registro final desta experiência. Segundo François 
Laplantine, em Aprender Antropologia, a prática etnográfica consiste em ‘impregnar-se dos temas de uma sociedade, 
de seus ideais, de suas angústias. O etnógrafo é aquele que deve ser capaz de viver nele mesmo a tendência 
principal da cultura que estuda’ 
No entanto, não é nada fácil vivenciar uma outra cultura diferente da nossa. Por quê? Não sentimos nossa 
cultura como uma construção específica de hábitos e costumes: pensamos que nossos hábitos e nossa forma de ver 
o mundo devem ser os mesmos para todos! Naturalizamos nossos costumes e achamos o do outro ‘diferente’. 
Diferente de quê? Qual é o padrão ‘normal’ segundo o qual analisamos o ‘diferente’? 
Geralmente estabelecemos a nossa cultura como o padrão, a norma. Assim tudo que é diferente é concebido como 
estranho, e mesmo errado. Tal postura é o que denominamos etnocentrismo. 
 
 
4- Etnocentrismo 
Segundo Everardo Rocha, em O que é Etnocentrismo, trata-se da ‘visão do mundo onde o nosso próprio 
grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, 
nossos modelos, nossas definições do que é a existência. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade 
de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade, etc‘. 
Esse autor nos alerta, ao analisar o etnocentrismo, para a questão do choque cultural. Como ele afirma, ‘de 
um lado conhecemos o "nosso" grupo, que come igual, veste igual, gosta de coisas parecidas, conhece problemas do 
mesmo tipo, acredita nos mesmos deuses, casa igual, mora no mesmo estilo, distribui o poder da mesma forma, 
empresta à vida significados em comum e procede, por muitas maneiras, semelhantemente. Aí então de repente, nos 
deparamos com um "outro", o grupo do "diferente" que, às vezes, nem sequer faz coisas como as nossas ou quando 
as faz é de forma tal que não reconhecemos como possíveis. E, mais grave ainda, este “outro” também sobrevive à 
sua maneira, gosta dela, também está no mundo e, ainda que diferente, também existe.’ 
Roberto da Matta, no texto ‘você tem cultura?’ demonstra que ‘essa é a experiência antropológica, buscar 
compreender a lógica da vida do outro. Antes de cogitar se aceitamos ou não esta outra forma de ver o mundo, a 
antropologia nos convida a compreendê-la, e verificar que ao seu jeito uma outra vida é vivida, segundo outros 
modelos de pensamento e de costumes. O fato de que o homem vê o mundo através de sua cultura tem como 
conseqüência a propensão em considerar o seu modo de vida como o mais correto e o mais natural. 
O conceito de cultura, ou, a cultura como conceito, então, permite uma perspectiva mais consciente de nós mesmos. 
Precisamente diz que não há homens sem cultura e permite comparar culturas e configurações culturais como 
entidades iguais, deixando de estabelecer hierarquias em que inevitavelmente existiriam sociedades superiores e 
inferiores’. 
 O etnocentrismo gera procedimentos preconceituosos e intolerantes, que não reconhecem o outro dentro dos 
limites que sua cultura estabelece 
5- Relativismo cultural 
É a postura, privilegiada pela Antropologia contemporânea, de buscar compreender a lógica da vida do 
outro. Ainda segundo Roberto da Matta, ‘antes de cogitar se aceitamos ou não esta outra forma de ver o mundo, a 
antropologia nos convida a compreendê-la, e verificar que ao seu jeito outra vida é vivida, segundo outros 
modelos de pensamento e de costumes (...) pois cada sociedade humana conhecida é um espelho onde nossa 
própria existência se reflete. 
 
(i) Identifique e explique que método antropológico foi utilizado pelo autor em sua pesquisa? 
O método antropológico utilizado por Boas foi a prática etnográfica, o trabalho de campo. Este método 
consiste na introdução dos antropólogos na sociedade “selvagem” que se pretende estudar, o que antes era 
observado de longe (pesquisa de gabinete). O objetivo da pesquisa de campo era investigar os costumes 
culturais daquela sociedade. Sua principal ferramenta era a coleta de dados. 
 
(ii) Elabore uma análise sobre relativismo cultural a partir das observações feitas por Franz Boas. 
Franz Boas, através do Relativismo Cultural, compreende que a sociedade dita “culta” deveria aprender com 
os “selvagens”. Assim, as sociedades culturalmente desconhecidas deveriam ser estudadas com alteridade, 
ou seja, compreender a visão do outro com uma valoração na diversidade cultural, e também sem uma visão 
etnocêntrica, pois que cada sociedade tem a sua particularidade. 
A noção de etnocentrismo em Antropologia busca: 
B) Expressar o processo de observação dos valores da própria cultura como se fossem únicos ou 
superiores. 
 Antropologia de gabinete: Técnicos iam ao campo colher dados de civilizações exóticas para os antropólogos 
analisarem e traçarem teorias. 
 Prática etnográfica: O próprio antropólogo vai ao campo, entrano grupo, vivencia a cultura diferente, faz-se 
parte dela e registra o seu dia a dia. Ao retornar para sua própria cultura, finaliza seus escritos e teorias. 
 
Semana 4 
1- Diversidade cultural e globalização 
Conforme estudado no capítulo anterior, em todas as sociedades humana percebemos a existência de 
diversos hábitos, costumes, linguagem, estilos de vida. Essa multiplicidade de formas de ver, sentir e se inserir 
no mundo denomina-se diversidade cultural. 
Como consequência das grandes transformações verificadas com a expansão do processo de globalização 
nas últimas décadas, o mundo tornou-se, cada vez mais, marcado pela diversidade cultural e a convivência de 
diferentes formas de agir, de padrões culturais, de estilos de vida. 
Esse processo, definido por Anthony Giddens como ‘a intensificação de relações sociais mundiais que unem 
localidades distantes de tal modo que os acontecimentos locais são condicionados 
por eventos que acontecem amuitas milhas de distância e vice-versa’, colocou em contato, principalmente através 
das tecnologias de mídia, povos e culturas distintas. 
Contudo, devemos notar que esse processo foi liderado pelos Estados Unidos da América, que impôs seu 
modelo de vida como o padrão a ser seguido pelos outros países, provocando movimentos contestatórios a esse 
domínio, denominados movimentos antiglobalização. Esses movimentos que buscam não apenas combater o 
domínio econômico e cultural norte-americano, mas também propor novas formas de organização do mundo, com 
base na valorização das diferenças étnicas e culturais entre os povos do planeta. 
2- Multiculturalismo 
É no quadro acima descrito que se impõe a ideia de multiculturalismo, que preconiza a interação entre as 
diferentes culturas, sem hierarquização de saberes e modos de vida. Desta forma, o multiculturalismo pressupõe 
uma visão positiva da diversidade cultural, privilegiando o reconhecimento, valorização e incorporação de 
identidades múltiplas nas formulações de políticas públicas e nas práticas cotidianas. 
Como apontado no capítulo 2 do livro didático, ‘a despeito dos desafios impostos pelo mundo globalizado, é 
preciso que reconheçamos a necessidade do convívio em uma sociedade cuja realidade é multicultural. Para tanto, 
devemos, mais do que respeitar, valorizar as diferenças próprias de cada indivíduo’.

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