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Resenha Uma Carta da Prisão

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
Pós-graduação em Políticas e Gestão em Segurança Pública 
Resenha do Caso de Harvard – Uma Carta da Prisão
Juliano Vidolin da Silva
Mat. 201804252832
Trabalho da disciplina de Modelos e Instituições de Segurança Pública
Tutor: Prof. Leonardo Mazzurana
Curitiba
2018
UMA CARTA DA PRISÃO
Eugene Soltes, Professor da Universidade de Harvard, apresentou um estudo de caso relacionado a empresa Computer Associates Inc., fundada em 1976 com uma gama de produtos para suprir as necessidades de computação dos negócios. Após 12 anos, Stephen Richards começou a fazer parte da empresa e impressionou seus gestores com sua competência. Com o crescimento da CA como firma, Richards foi promovido rapidamente, chegando a Líder Global de Vendas com salário e benefícios generosos. Os softwares que eram vendidos pela CA tinham licença de uso entre 3 a 10 anos e, durante esse período, eram fornecidos atualizações e suporte técnico. As taxas anuais aumentavam, mesmo que a licença fosse mais barata ano a ano, o que levava a pequenos contratos somar milhares de dólares. A cada trimestre, os gestores definiam as metas internas de vendas e, apesar dos desafios e pressões sofridas para atingir as metas trimestrais, a CA prosperou durante anos, ficando atrás somente da Microsoft e Oracle no total de vendas e ainda foi classificada como uma das empresas mais admiradas pela revista Fortune.
Em meados do ano 2000, a gestão da empresa começou a ter dificuldades em prever receitas e rendimentos de cada trimestre, assim como déficits inesperados. No ano seguinte, o New York Times publicou um artigo sugerindo que a CA utilizou em excesso práticas de contabilidade agressiva para aumentar os ganhos, entretanto, esse reporte financeiro não era algo incomum, várias evidências sugeriam o uso desse critério para influenciar o resultado do exercício e isso era uma prática difundida na empresa.
Apesar da CA reafirmar que seus procedimentos contábeis estavam corretos, chamou a atenção do Departamento de Justiça (DOJ) e da Securities and Exchange Commission (SEC) por não estar claro detalhes sobre os dados apresentados. Steven Woghin, conselheiro geral da firma, foi chamado para examinar as alegações dos órgãos competentes, visto que a documentação disponível não parecia apoiar as alegações contra a empresa. No ano de 2003, insatisfeito com as investigações, a CA contratou uma prestigiosa firma para realizar uma nova investigação mais agressiva. Nos primeiros três meses, os investigadores já conseguiram evidências suficientes para implicar o Diretor Financeiro da empresa. Embora os executivos da CA negassem qualquer envolvimento com datação retroativa, poderiam ser indiciados por sério delito caso provassem que estariam obstruindo as investigações, como foi comprovado no ano de 2004, após denúncia de improbidade ocorrida entre 1998 e 2001. Neste caso foram indiciados Richard e outros seis executivos da CA, onde um deles admitiu enganar os investigadores. 
O artigo Uma Carta da Prisão nos faz entender que somos mais flexíveis do que imaginamos quando se trata de ser ético. Uma pessoa pode responder de forma muito eficiente nos negócios em uma determinada cultura empresarial, porém pode vir também por um caminho errôneo em outra situação. Tratamos de um caso que podemos classificar de Crime de Colarinho Branco, pois são crimes tipicamente econômicos ou tributários, relacionados à utilização de informações privilegiadas, fraudes, questões relativas à corrupção e pessoas das quais não se espera o cometimento de crimes.
O conceito apresentado por Edwin H. Sutherland para “white collar crimes” baseava-se fundamentalmente nas características de seus autores e na finalidade do ato. Assim afirmava Sutherland (1983, p. 07):
Esse conceito não pretende ser definitivo, mas visa a chamar a atenção para crimes que não estão incluídos, de forma geral, no âmbito da criminologia. White collar crime pode ser definido aproximadamente como um crime cometido por uma pessoa de respeito e status social elevado no exercício de sua ocupação.
Segundo Hermann Mannheim (1984, p. 725), são quatro os elementos conceituais do white collar crime: a) é um crime; b) cometido por pessoas respeitáveis; c) com elevado status social; d) no exercício de sua profissão.
Podemos referir a um tipo de crime de difícil enquadramento em uma qualificação jurídica precisa, pois é cometido sem violência, em situações comerciais, com considerável ganho financeiro e se utilizam de métodos que dificultam muito a percepção e investigação do crime cometido. Caso este que Richard cometeu durante anos em um cargo de confiança da empresa, é o mesmo que vemos diariamente em nosso meio, nas empresas, na política, em uma licitação, sempre com o intuito de se enriquecer.
Em entrevista para a Revista Veja, Eugene Soltes, depois de conversar com vários executivos, disse que:
Nenhum dos executivos entrevistados apresentava algum arrependimento ou preocupação com o prejuízo por trás de suas ações. O criminoso de colarinho-branco não sente remorso porque não consegue personificar o indivíduo que está lesando. A vítima, em geral, está distante fisicamente, o que não ocorre em casos de assassinato ou roubo […] (SOLTES, 2017, p.17).
Este tipo de crime vai além do que um simples furto ou desvio de dinheiro, podemos exemplificar para entender a situação. Supomos que há uma fraude em um processo de licitação para construir escolas, logo um determinado valor significativo foi roubado e uma das escolas previstas não foi construída. Parece difícil associar a violência a este ato, mas, na prática, a inexistência desta escola pode ter afastado muitas pessoas de uma educação apropriada, aproximando-as de um estilo de vida violento e propenso a diversos tipos de atos ilícitos.
As consequências deste tipo de crime atingem muito mais do que a moral e os bons costumes. São crimes que atingem diretamente as necessidades básicas da sociedade, consomem a riqueza do nosso país. Acredito que uma punição maior irá coibir essas práticas, se faz necessário uma reavaliação em nossa leis com objetivo de julgar e punir severamente tais crimes, só assim poderemos alcançar os preceitos constitucionais de igualdade e liberdade, garantindo uma sociedade mais justa, pois temos a criminalidade no meio econômico como grande perigo à sociedade e sabemos que a impunidade é o maior incentivo a que essas práticas criminosas continuem.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
A raiz dos crimes de colarinho-branco. Disponível em: <http://www.madiamundomarketing.com.br/a-raiz-dos-crimes-de-colarinho-branco/>. Acesso em: 06 Agosto 2018.
BAUTZER, Sérgio. Crime do Colarinho Branco. Disponível em: <https://sergiozoghbi.jusbrasil.com.br/artigos/111908115/crime-do-colarinho-branco>. Acesso em: 06 Agosto 2018.
BOAS, Milena V. Análise doutrinária dos “Crimes do Colarinho Branco”. Disponível em: <https://millenavboas.jusbrasil.com.br/artigos/179793130/analise-doutrinaria-dos-crimes-do-colarinho-branco>. Acesso em: 06 Agosto 2018.
Direitos Brasil. O que são os famosos crimes de colarinho branco? Disponível em: <https://direitosbrasil.com/o-que-sao-os-famosos-crimes-de-colarinho-branco/>. Acesso em: 06 Agosto 2018.
MANNHEIM, Hermann. Criminologia comparada. Trad. J. F. Faria Costa e M. Costa
Andrade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 1984, v. 1 e 2.
SOLTES, E. Como nasce um corruptor. Revista Veja, São Paulo: Editora Abril, v. 50, n. 27, p. 17, jul. 2017. Edição 2537. Entrevista concedida a Pieter Zalis.
SUTHERLAND, Edwin H. White collar crime: the uncut version. Yale: Yale University
Press, 1983.

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