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C A D E R N O D E R E F E R Ê N C IA D E C O N T E Ú D O Estamos iniciando a disciplina Língua Brasileira de Sinais, e desde já é importante você saber que dominar uma língua não se restringe a conhecer palavras ou mesmo frases. O domínio de uma língua exige sua aquisição na totalidade, além da fluência; é também sobre isso que vamos conversar durante este estudo. Especificamente em relação à língua de sinais, não basta adquirir vocabulário em sinais, mesmo que ele seja amplo. A língua de sinais é produzida na modalidade visual-espacial, diferentemente das línguas majoritárias dos diferentes países, pois essas são produzidas na modalidade oral-auditiva. Além dessa diferença, a língua de sinais é a língua de uma comunidade culturalmente diferente dos ouvintes: a comunidade surda. Portanto, para aprendê-la de fato, é necessário, além da participação em um curso, o contato com a comunidade de surdos. O domínio da língua de sinais dependerá, também, do conhecimento da cultura surda. Assim, acredita-se que o curso de língua de sinais deva ser ministrado por um surdo capacitado para a função e por um profissional ouvinte com formação para ministrar os conteúdos teóricos sobre a língua. Entretanto, essa estrutura só é possível na modalidade presencial. Para este curso a distância, buscou-se garantir as condições mais próximas das desejáveis, anteriormente descritas. Cabe destacar que o cumprimento desta disciplina não elimina a importância de você realizar um curso de Libras presencial, no qual poderá interagir com o surdo e ter contato com a comunidade surda. Acredita-se que um estudo teórico acerca das línguas de sinais deva partir de uma base teórica sobre a história da educação dos surdos e sobre a importância da língua de sinais para a vida e para a escolaridade dos alunos com surdez. O estudo de tais aspectos justifica-se uma vez que eles evidenciam a relevância da língua de sinais para a pessoa surda e, consequentemente, para os futuros professores. O acesso ao dicionário digital de Libras propiciará a você a visualização da produção do sinal na tela do computador, garantindo, dessa maneira, o contato com as unidades mínimas que compõem a língua de sinais, como a configuração de mão, o movimento, a direção, o ponto de articulação e as expressões não-manuais, por exemplo. Além disso, o dicionário garantirá sua autonomia em recorrer ao repertório de sinais sempre que sentir necessidade. Cabe destacar que, no dicionário, os sinais são produzidos por surdos fluentes integrantes da comunidade surda. Assim, ao consultar o dicionário, você estará, mesmo que virtualmente, entrando em contato com a comunidade surda, condição essencial na aquisição da língua de sinais. APRESENTAÇÃO C A D E R N O D E R E F E R Ê N C IA D E C O N T E Ú D O ATENÇÃO! Para garantir um melhor aproveitamento, esta disciplina conta com três elementos básicos: Caderno de referência de conteúdo (conteúdos teóricos), Dicionário da Língua Brasileira de Sinais e o Caderno de atividades e interatividades. Você poderá encontrar o Dicionário da Língua Brasileira de Sinais no formato digital no site indicado. Disponível em: <www.acessobrasil.org.br>. Acesso em: 1 set. 2008. A língua de sinais é uma língua visual espacial, portanto, adquiri-la por meio da modalidade a distância não é o ideal. Dessa forma, é fundamental para a qualidade do curso que você tenha contato pessoalmente com a comunidade surda, pois isso garantirá maior qualidade ao processo. O contato com a comunidade surda pode favorecer a percepção e a vivência de alguns aspectos gramaticais da língua de sinais que ficam restritos quando demonstrados apenas virtualmente, além de um conhecimento mais aprofundado sobre o jeito surdo de viver e sua cultura. O Caderno de atividades e interatividades auxiliará você a exercitar as estruturas da língua de sinais. Vale destacar que a oferta de um curso de língua de sinais a distância é bastante inovadora no país. Para nós, é uma experiência inédita. Contamos, então, com sua efetiva participação durante a disciplina e na realização dos estudos teórico-práticos propostos. Para concluir, vale declarar que o contato com o mundo dos surdos é apaixonante. Particularmente, fui seduzida por esse universo e espero dividir com você, nesta disciplina, o meu modesto conhecimento sobre a educação dos surdos e a língua de sinais. Esperamos motivá-lo a prosseguir seus estudos sobre o fantástico mundo dos surdos, sobre a cultura surda e a língua de sinais. AULA PRESENCIAL Objetivos Conhecer as características da disciplina • Língua Brasileira de Sinais em cursos a distância. Compreender a importância do ensino da língua de sinais • para futuros professores. Discutir alguns aspectos fundamentais relacionados à • educação de surdos. Conhecer algumas características da gramática da Língua • Brasileira de Sinais (Libras). Conteúdos Programa da disciplina • Língua Brasileira de Sinais. Língua de sinais como um conteúdo fundamental dos • cursos de formação de professores. História da educação dos surdos e abordagens • educacionais. Elementos da gramática da Língua Brasileira de Sinais. • O tema desta aula de abertura da disciplina Introdução à Língua Brasileira de Sinais é bastante novo e interessante. Vamos discutir sobre a educação dos surdos e a língua de sinais. Para tanto, vamos apresentar alguns conceitos fundamentais relacionados à educação de surdos, à língua de sinais e sua gramática e à formação e atuação de intérpretes, importantes para a compreensão dos conteúdos apresentados nas quatro unidades do Caderno de referência de conteúdo. IN T R O D U Ç Ã O À D IS C IP L IN A Estudaremos, ainda, as características das principais abordagens educacionais e a interferência delas na educação dos alunos surdos ao longo da história. Vamos, também, discutir sobre a organização da educação inclusiva para surdos, considerando que ela deve ir além da simples inserção do aluno surdo na sala de aula de ouvintes. A organização da educação inclusiva deve buscar a garantia de um processo educacional de qualidade, o que significa, no caso dos surdos, a organização de uma educação bilíngue e bicultural. Além disso, apresentaremos a você a nossa proposta de trabalho nesta disciplina. Cabe destacar que a língua de sinais é uma língua visual-espacial e que a sua aquisição depende, e muito, do contato com usuários dessa língua. Portanto, oferecê-la na modalidade a distância, sem o contato pessoal com surdos usuários dessa língua, é um enorme desafio. Mesmo assim, estamos certos de que você irá adquirir, nesta disciplina, novos e importantes conhecimentos. IN T R O D U Ç Ã O À D IS C IP L IN A ESCOLARIZAÇÃO DOS SURDOS: MARCOS HISTÓRICOS E ABORDAGENS EDUCACIONAIS Objetivos Conhecer a história da educação dos surdos.• Compreender e identificar as abordagens educacionais e • suas repercussões na escolarização dos surdos. Compreender a importância da língua de sinais para a • educação dos surdos. Conteúdos Aspectos históricos da educação dos surdos.• Abordagens educacionais: oralismo, comunicação total e • bilinguismo. U N ID A D E 1 CRC • • • © Língua Brasileira de Sinais Claretiano – Batatais6 Cursos de Graduação UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Vamos iniciar a primeira unidade de estudo da disciplina Língua Brasileira de Sinais dando continuidade aos temas abordados na Aula Presencial. Um de nossos objetivos, nesta disciplina, é propiciar a você a compreensão sobre a função da língua de sinais na vida do sujeito surdo e, especificamente,na sua escolarização. Então, é preciso que, inicialmente, você conheça quem é o sujeito surdo, a história da educação dos surdos no Brasil e compreenda os princípios que fundamentam as abordagens educacionais que orientaram a educação desses alunos ao longo da história, que são: oralismo, comunicação total e bilinguismo. Antes de direcionar nosso estudo aos aspectos históricos da educação dos surdos, é importante destacar que as pesquisas sobre a Língua Brasileira de Sinais e a sua relação com a educação dos surdos vêm sendo realizadas com mais ênfase apenas nas últimas duas décadas no Brasil. Como consequência desses estudos e dos movimentos da comunidade surda, em 2002, a Língua Brasileira de Sinais foi reconhecida pela Lei nº. 10.436/02 (BRASIL, 2002) como a língua oficial das pessoas surdas no Brasil. Essa lei foi regulamentada em 2005 pelo Decreto 5.626/05 (BRASIL, 2005). Vale ressaltar que o status que a Libras conquistou na atualidade não ocorreu ao acaso, muito pelo contrário, foi resultado de muita luta da comunidade surda ao longo de uma história marcada pela opressão e pela imposição dos ouvintes. Essa é uma história muito interessante, e você conhecerá alguns de seus principais aspectos no tópico a seguir. 2 ASPECTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO DOS SURDOS Atualmente, a educação dos alunos surdos tem sido discutida na interface entre a educação inclusiva e a educação bilíngue e bicultural. Mas qual a relação desses conceitos com a educação dos surdos? Vamos compreender cada um deles. A inclusão1 escolar é um movimento que faz parte de um outro maior, denominado inclusão social, que tem sua origem nos questionamentos acerca das práticas discriminatórias e excludentes. Com base nos princípios da educação inclusiva, hoje preconiza-se o atendimento aos alunos surdos nos contextos comuns de ensino. Essa diretriz tem provocado inúmeros questionamentos acerca dos limites da escola em atender às necessidades educacionais dos alunos surdos, uma vez que ela é organizada por e para ouvintes. Perante essa realidade, a escola bilíngue e bicultural tem sido vista como aquela que pode garantir melhores condições para o aluno surdo. Você deve estar se perguntando: como é uma escola bilíngue e bicultural? ATENÇÃO! Seu cronograma de estudos já está pronto? Pegue lápis, caneta, cadernos de anotação, livros para consulta e tudo que possa ajudar você nesta caminhada. Lembre-se de anotar ou, então, grifar o que considerar mais importante nas leituras. Isso facilitará seus estudos para a avaliação final. (1) “Inclusão [...] não se resume na simples inserção de pessoas deficientes no mundo do qual têm sido geralmente privadas. Inclusão é um processo que reitera princípios democráticos de participação social plena. Neste sentido, a inclusão não se resume a uma ou algumas áreas da vida humana, como, por exemplo, saúde, lazer ou educação. Ela é uma luta, um movimento que tem por essência estar presente em todas as áreas da vida humana, inclusive a educacional. Inclusão se refere, portanto, a todos os esforços no sentido da garantia da participação máxima de qualquer cidadão em qualquer arena da sociedade em que viva, à qual ele tem direito, e sobre a qual ele tem deveres” (SANTOS, 2003, p. 64-65). Cursos de Graduação © Língua Brasileira de Sinais • • • CRC Batatais – Claretiano 7 UNIDADE 1 A escola bilíngue e bicultural deve prever mudanças na prática educativa e na sua organização para garantir, além do acesso à sala de aula, iguais oportunidades de apropriação do conhecimento. Em outras palavras, as instituições com essas características podem se reorganizar e garantir o acesso do aluno surdo em todos os seus níveis, o sucesso nos estudos e a interação plena com colegas surdos, ouvintes e professores. Enfim, nas escolas bilíngues e biculturais, os alunos surdos poderão encontrar condições para serem felizes e aprender. Uma das condições essenciais para que o aluno usufrua da escola plenamente é encontrar nesse ambiente a sua língua (a de sinais) como língua de instrução e de interação com seus pares, com os colegas ouvintes e com os professores. Essa condição, embora entendida hoje como ideal, não está disponível nos contextos de ensino. Ela apenas se encontra presente nos textos teóricos e legais mais atuais. Na prática, ainda são incipientes as escolas em que os alunos podem se comunicar com seus colegas e professores por meio da língua de sinais. A realidade, infelizmente, ainda é bem diferente para a maioria dos alunos surdos brasileiros. Na história da educação dos surdos, houve o predomínio do oralismo. Na década de 1980, surgiu a comunicação total e, no final da década de 1990, o bilinguismo. A seguir, você irá compreender cada uma dessas abordagens. Oralismo A escolarização da criança surda organizou-se, ao longo da história, em função dos fundamentos do oralismo. O oralismo é uma abordagem que visa à integração da criança surda na comunidade ouvinte, enfatizando a língua oral do país (GOLDFELD, 1997). O objetivo dessa abordagem é fazer a reabilitação da criança surda em direção à normalidade, negando, dessa maneira, a surdez e enfatizando, predominantemente, a aquisição da fala. Hoje, o oralismo é muito criticado. Vamos compreender o motivo. De acordo com Skliar (1999), o oralismo está fundamentado pela visão clínico- -terapêutica da surdez. Nessa perspectiva, a surdez é vista como deficiência, limite e déficit biológico e pode ser minimizada pelo desenvolvimento da função auditiva, que possibilitaria à criança o aprendizado da língua majoritária do país; no caso do Brasil, a língua portuguesa falada e a integração na comunidade ouvinte. Em outras palavras, o oralismo vê o surdo como um ouvinte com defeito e entende que a aquisição da oralidade representa a possibilidade de igualar os surdos aos ouvintes. É como se o surdo deixasse de ser surdo ao aprender a falar, já que é a ausência da fala o aspecto que o difere dos ouvintes. Daí a razão da ênfase na oralidade e nos caminhos terapêuticos que poderiam garantir o seu desenvolvimento. Ao longo da história, por influência do oralismo, os alunos surdos foram proibidos de utilizar os sinais nos contextos escolares e nos núcleos familiares. Sabe-se que os médicos, fundamentados no oralismo e na visão clínico-terapêutica, orientavam as famílias a proibir o uso dos sinais (estes deveriam ser evitados), bem como o contato com outros surdos. CRC • • • © Língua Brasileira de Sinais Claretiano – Batatais8 Cursos de Graduação UNIDADE 1 Além da proibição no uso dos sinais e na interação com seus pares, os surdos foram também orientados por programas de ensino oralistas, que negavam a surdez, enfatizavam o ensino da fala em detrimento do desenvolvimento linguístico, cognitivo, afetivo e intelectual e, ainda, entendiam os sinais como uma comunicação de segunda categoria que deveria ser duramente tolhida. Para que você compreenda melhor o significado desse quadro, convidamos você a imaginar a situação de uma criança surda que não ouve a voz humana vivendo com um grupo de familiares ouvintes que não se utilizam da língua de sinais e que buscam uma interação apenas por meio da oralidade. Essa é a situação da maioria dos surdos, pois 95% deles são filhos de ouvintes e não encontram no interior de seus lares interlocutores que utilizam a língua de sinais (LACERDA, 2000). E como fica, então, a educação fundamentada no oralismo? A educação inspirada no oralismo, consequentemente, realizou práticas pedagógicas reparadoras e corretivas da surdez, visando aproximar o surdo do modelo ouvinte e, assim, negando a surdez e a língua de sinais. Dessa forma, o professor de classes de surdos foi orientado pelas diretrizes curriculares oficiaisa ensinar o surdo a falar por meio de técnicas oralistas fundamentadas na visão clínico-terapêutica. Assim, o trabalho pedagógico destinava-se mais ao ensino da fala do que dos conteúdos curriculares. O oralismo encontrou na história da educação brasileira pontos para se fortalecer, como, por exemplo, nos ideais políticos e econômicos das décadas de 1950 e 1960 no Brasil. Os governos desse período preocuparam-se com o progresso do país; portanto, o combate ao analfabetismo era uma meta fortemente presente nas plataformas de gestão. A altíssima taxa de analfabetos brasileiros ameaçava, então, o desenvolvimento pretendido, exigindo a implementação de campanhas de alfabetização (GHIRALDELLI JR., 2001). Nesse contexto, se, para os ouvintes, interessava ensinar a ler e escrever, para o surdo, interessava ensinar a falar como requisito para a aprendizagem da leitura e da escrita, como possibilidade de melhoria e igualdade das condições de vida e como caminho para a convivência com os ouvintes. Outro argumento a favor do oralismo e que o protegeu das críticas nessa época foi que, mediante os altos índices de analfabetismo dos ouvintes, o analfabetismo do surdo não era visto como uma consequência dessa abordagem, mas, sim, como uma regra geral no país. Portanto, o oralismo representou o ideal tanto da área médica como também das políticas educacionais, resultando na sua hegemonia durante praticamente todo o século 20. Em relação às modalidades de ensino, cabe considerar que a classe especial e a sala de recursos como apoio à classe comum, todas orientadas pelo oralismo, foram as que prevaleceram no atendimento aos alunos surdos e que estiveram mais facilmente disponíveis. Isso não significa que não existiram outras modalidades, como a escola de surdos; entretanto, elas foram incipientes. Um exemplo é o Instituto Nacional de Educação de Surdos − INES, fundado em 1857 no Rio de Janeiro. INFORMAÇÃO: Consulte o site www.ines.gov. br para conhecer o INES, seu trabalho e serviços. Na página do INES, você pode acessar o Dicionário de Língua Brasileira de Sinais e a Revista Espaço, um dos mais importantes veículos de divulgação de pesquisas na área da surdez, da educação de surdos e da língua de sinais. Cursos de Graduação © Língua Brasileira de Sinais • • • CRC Batatais – Claretiano 9 UNIDADE 1 O INES, embora seja uma escola para surdos desde a sua fundação, apenas durante suas primeiras décadas de existência pôde desenvolver um trabalho educacional que valorizasse a língua de sinais. A partir de 1880, o INES sofreu a repercussão do Congresso de Milão2 e passou a se orientar unicamente pelo oralismo. É importante dizer que o INES é uma importante instituição no Brasil. Por responder diretamente ao governo federal, ao Ministério da Educação (MEC), tem influenciado as políticas nacionais e, assim, foi sempre pioneiro em se ajustar às diretrizes oficiais para a educação dos surdos, servindo de referência para os demais institutos e sistemas de ensino pelo Brasil afora (ROCHA, 1997). Além do INES, existiram outras escolas para surdos nos centros urbanos maiores, como o Instituto Santa Terezinha em São Paulo. Entretanto, cabe destacar, mais uma vez, que as escolas para surdos existiram em número reduzido, e o trabalho baseava-se predominantemente no oralismo. Portanto, tais modelos não correspondem à escola de surdos bilíngue que hoje é defendida por surdos e pesquisadores. Apenas na década de 1980, essas instituições começaram a se modificar no sentido de introduzirem a língua de sinais às suas práticas pedagógicas; inicialmente, com a comunicação total e, atualmente, com o bilinguismo (DORZIAT, 1995). Ainda em relação ao oralismo, essa abordagem consolidou-se no final do século 19, fortalecendo-se, como já apontamos, no século 20, e não foi questionada por quase um século, ou seja, de 1880 até aproximadamente 1980. Somente na década de 1980, essa abordagem começou a ser amplamente questionada em conseqüência de seus resultados insatisfatórios na educação do sujeito surdo. Alunos surdos, sujeitos de programas educacionais pautados no oralismo, apresentaram precários resultados acadêmicos e de desenvolvimento da oralidade. Estudos apontam que os surdos, mesmo depois de muitos anos de escolarização, não apresentam resultados acadêmicos satisfatórios e têm baixa escolaridade (LACERDA et al., 2006), ou, como aponta Zanata (2004), poucos alunos surdos usufruíram da escola comum de forma mais específica. É importante você compreender que, apesar de os estudos mostrarem os resultados insatisfatórios do oralismo, ele ainda permanece orientando parte das intervenções educacionais voltadas para alunos surdos. O oralismo sempre correspondeu à expectativa médica (SKLIAR, 2003), das famílias e dos profissionais (HOFFMEISTER, 1999), mesmo sofrendo restrições da comunidade surda. Apesar de os surdos se oporem ao oralismo, eles nunca participaram das discussões acerca da sua vida, uma vez que ela sempre foi discutida e decidida pelos ouvintes, desrespeitando o direito desses sujeitos de participar (SKLIAR, 1999). Os surdos, apesar da proibição do uso dos sinais, ocorrida no Congresso de Milão, insistiram em seu uso, utilizando-se dessa modalidade de comunicação nos contextos informais e nas comunidades surdas. Dessa maneira, fortaleceram-se politicamente e, como consequência, conquistaram a oficialização da Língua Brasileira de Sinais ocorrida (2) O Congresso de Milão foi um evento muito importante na educação dos surdos, pois ele divide um período em que o uso dos sinais era permitido, e um segundo em que ele foi oficialmente proibido nos contextos de ensino. Nesse congresso, decidiu-se pela proibição oficial da língua de sinais nos contextos de ensino. Entretanto, cabe informar que os surdos não tiveram voz no congresso. Essa decisão repercutiu em vários países, inclusive no Brasil. CRC • • • © Língua Brasileira de Sinais Claretiano – Batatais10 Cursos de Graduação UNIDADE 1 em 2002, com a Lei nº. 10.436 (BRASIL, 2002b). Em 22 de dezembro de 2005, a referida lei foi regulamentada pelo Decreto nº. 5.626/05. Para concluirmos essa parte de nossos estudos, vale destacar que os sinais estiveram presentes nas instituições de ensino viabilizando a comunicação entre os surdos e entre eles e os ouvintes. Assim, Lacerda (1998, p. 74) complementa dizendo que “[...] apesar da proibição dos oralistas, mesmo em plena vigência do oralismo, no uso de gestos e sinais, raramente se encontrava uma escola ou instituição para surdos que não tivesse desenvolvido, às margens do sistema, um modo próprio de comunicação através dos sinais”. Voltando à história da educação dos surdos, o objetivo maior do oralismo é ensinar o surdo a falar e isso não havia sido realizado satisfatoriamente. Essa abordagem começou a ser questionada nas décadas de 1970 e 1980 nos Estados Unidos e no Brasil, respectivamente, contribuindo para o surgimento de uma corrente: a comunicação total. A seguir, você irá conhecer os princípios da comunicação total. Comunicação total A comunicação total é uma filosofia de trabalho voltada ao atendimento e à educação de pessoas surdas. Diferentemente do oralismo, a comunicação total entende o surdo como uma pessoa, e não como alguém portador de uma patologia médica; e a surdez, como um fenômeno com significações sociais. A comunicação total, como o próprio nome indica, não exclui técnicas e recursos para estimulação auditiva; adaptação de aparelho de amplificação sonora individual; leitura labial; oralização; leitura e escrita. Pelo contrário, prega uma completa liberdade na prática de quaisquer estratégias que permitam o resgate de comunicação, seja por meio da oralidade, dos sinais, da soletraçãoou pela combinação desses modos (CICCONE, 1990). Com a influência da comunicação total, surgiram diversos sistemas de sinais que tinham como objetivo ensinar a língua majoritária. O sistema de sinais mais utilizado no Brasil foi o português sinalizado. Nesse ponto, cabe fazer algumas considerações. Se, por um lado, o surgimento da comunicação total pode ter representado um avanço ao priorizar a comunicação, por outro, reforçou a ênfase na língua majoritária. Para que isso fique mais claro, vale reforçar que, na comunicação total, embora seja contemplado o uso dos sinais, este ocorre na estrutura da língua portuguesa e não na estrutura da língua de sinais. Esse mecanismo é denominado de “português sinalizado”, ou seja, é a língua portuguesa produzida em sinais. Desse modo, permanece a ênfase na língua majoritária e na sua estrutura gramatical. O português sinalizado é muito utilizado por ouvintes, especialmente em função da falta de fluência na língua de sinais. O que acaba acontecendo, nesse caso, é o uso dos sinais, da língua de sinais, na estrutura da língua portuguesa, simultaneamente. Dessa maneira, o português sinalizado não garante melhorias significativas para a educação dos surdos. Pelo contrário, o surdo não compreende, muitas vezes, o que é comunicado por meio desse sistema, pois o resultado desse processo é o uso dos sinais em uma estrutura gramatical que ele desconhece, o que impede a construção do sentido daquilo que é produzido. INFORMAÇÃO: A lei reconheceu a Língua Brasileira de Sinais como meio oficial de comunicação e expressão e determinou o poder público e as empresas concessionárias de serviços públicos como formas institucionalizadas de apoiar seu uso e difusão. Além disso, determinou que os sistemas educacionais do país devem garantir nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, o ensino da Libras como componente curricular (BRASIL, 2002). Cursos de Graduação © Língua Brasileira de Sinais • • • CRC Batatais – Claretiano 11 UNIDADE 1 Voltando à comunicação total, vale lembrar que ela se expandiu no território nacional no final da década de 1980 e no início da década de 1990. Nesse período, o uso dos sinais fora admitido nas escolas, entretanto, com o objetivo de auxiliar na aquisição da língua falada e escrita (CAPOVILLA; CAPOVILLA, 2002). A comunicação total e o uso do português sinalizado foram criticados por vários pesquisadores (FERREIRA-BRITO et al., 1993) e pela própria comunidade surda em virtude do uso simultâneo de duas línguas diferentes, incompatíveis em organização e funcionamento e por apresentarem morfologia e sintaxe bem distintas. Os limites em relação ao uso simultâneo dos sinais e da língua majoritária (no caso do Brasil, a Língua Portuguesa) foram percebidos nos primeiros anos de surgimento da comunicação total. Dessa maneira, mesmo com a comunicação total (o uso dos sinais e dos demais recursos dessa comunicação), a aprendizagem da leitura e da escrita pela criança surda continuou limitada. Entretanto, destacamos um aspecto importante relacionado ao surgimento da comunicação total: favorecimento do contato do surdo com os sinais, antes proibido pelo oralismo. Essa liberação possibilitou aos surdos a apropriação da língua de sinais no contato com outros surdos fluentes, bem como sua divulgação em contextos escolares e não-escolares. A consciência acerca da descontinuidade entre a fala e os sinais e os resultados insatisfatórios da comunicação total fizeram surgir uma outra abordagem: o bilinguismo. Bilinguismo O bilinguismo tem sido considerado como a abordagem que pode propiciar ao surdo as condições, ainda não encontradas na escola, de que necessita para realizar seu potencial. Os estudos linguísticos3 a respeito da estrutura da língua de sinais, da sua gramática e complexidade, que desmitificaram a ideia de que os sinais não passavam de mímica e pantomima, contribuíram para o surgimento do bilinguismo. Vale ressaltar que a insatisfação dos surdos com a proibição da língua de sinais e a mobilização de diversas comunidades a favor do uso dessa língua favoreceram, também, o surgimento dessa abordagem. No Brasil, os estudos sobre a língua de sinais utilizada pelos surdos passaram a receber mais atenção a partir do final da década de 1980, com maior sistematização na década de 1990. Como exemplo desses estudos, temos os realizados por Ferreira Brito (1990, 1993 e 1995) e Felipe (1989). Tais estudos reconheceram essa língua como a primeira (L1) dos surdos no Brasil. Foi denominada, inicialmente, de Língua de Sinais Brasileira (LSB), seguindo o padrão internacional de identificação das línguas de sinais, mas nacionalmente ficou denominada como Língua Brasileira de Sinais (Libras), reconhecida oficialmente em 2002 (BRASIL, 2002b), regulamentada pelo Decreto nº. 5.626/05 (BRASIL, 2005). De acordo com os pressupostos do bilinguismo, a língua de sinais e a língua falada não podem ser produzidas simultaneamente; essa nova corrente de pensamento tem a intenção de levar o surdo, diferentemente da comunicação total e do oralismo ATENÇÃO! Os pilares da educação bilíngue para surdos defendem o direito e a necessidade de esses indivíduos adquirirem a língua de sinais como primeira língua no contato com surdos adultos usuários dessa língua (LODI, 2000) e a língua majoritária do país como segunda. A educação bilíngue, ou o bilinguismo, tem como objetivo educacional tornar presentes duas línguas no contexto escolar, no qual estão inseridos alunos surdos (LACERDA, 2006). Além da presença da língua de sinais, o currículo de uma escola bilíngue deve se orientar, também, pelas questões sociais, políticas e culturais da comunidade surda (KYLE, 1999). (3) Esses estudos foram realizados nos Estados Unidos nas décadas de 1960 e 1970 por vários pesquisadores, entre eles, Stokoe, Klima e Bellugi, Jordan e Battison, Hoemann, Frisberg, Woodward (QUADROS; KARNOPP, 2004). CRC • • • © Língua Brasileira de Sinais Claretiano – Batatais12 Cursos de Graduação UNIDADE 1 que objetivavam ensinar a língua falada, a se apropriar, inicialmente, da língua de sinais e depois a aprender a língua majoritária do país, na modalidade escrita (CAPOVILLA, 2002). Para Lacerda (1998, p. 77): O modelo de educação bilíngüe contrapõe-se ao modelo oralista porque considera o canal viso-gestual de fundamental importância para a aquisição de linguagem da pessoa surda. E contrapõe-se à comunicação total porque defende um espaço efetivo para a língua de sinais no trabalho educacional; por isso advoga que cada uma das línguas apresentadas ao surdo mantenha suas características próprias e que não se misture uma contra a outra. Os adeptos do bilinguismo concordam que a língua de sinais é a única que os surdos poderiam dominar plenamente e que supriria todas as suas necessidades de comunicação e cognitivas (DORZIAT et al., 1999), além de propiciar ao surdo atingir a terminalidade escolar equiparada à dos ouvintes (DIAS, 2004). Para os pesquisadores e profissionais adeptos do bilinguismo, ele pode garantir à criança surda o desenvolvimento linguístico e cognitivo semelhante ao observado em crianças ouvintes da mesma idade. Além disso, vêem o bilinguismo como um caminho mais adequado para os alunos surdos, pois reconhecem a língua de sinais como primeira língua (L1) desses indivíduos (BEHARES et al., 1993). Apesar do reconhecimento do bilinguismo como a abordagem que pode garantir melhores condições para o desenvolvimento da pessoa surda, é importante destacar que a sua implementação não é algo simples de se organizar, especialmente porque o bilinguismo relacionado ao surdo envolve línguas de modalidades diferentes:uma visual- -espacial e outra oral-auditiva. Além disso, Quadros (2005) sintetiza mais uma série de especificidades do bilinguismo quando relacionado aos surdos que têm dificultado a organização de contextos bilíngues para eles no Brasil. Algumas dessas especificidades estão apresentadas a seguir: 1) Surdos de pais ouvintes: os pais não conhecem a língua de sinais brasileira e, na maior parte dos casos, insistem em interagir com seus filhos apenas pela língua portuguesa oral. 2) O contexto de aquisição da língua de sinais: o contexto em que o surdo pode adquirir a língua de sinais é diferente daquele no qual os ouvintes adquirem a língua majoritária do país, ou seja, na interação com usuários dessa língua desde o nascimento. Os surdos têm adquirido a língua de sinais no Brasil muito tardiamente e depois de experiências malsucedidas de aquisição do português falado, pois as escolas e as famílias não oportunizam o encontro criança surda/adulto surdo sinalizador, o que é uma condição essencial para que a criança surda se aproprie da língua de sinais. 3) A língua portuguesa representa uma ameaça para os surdos: os surdos resistem em aprender a língua portuguesa pois, por muito tempo, eles foram impedidos de usar a língua de sinais por ela representar uma ameaça à aprendizagem da língua majoritária do país. Nesse contexto, a língua portuguesa foi concebida como a melhor, a língua oficial, a língua superior em detrimento da língua de sinais, vista como secundária e entendida como apenas um recurso a ser utilizado mediante o fracasso do surdo na aquisição da língua portuguesa. Como resposta a essa relação de poder, na qual ao surdo foi reservada uma posição de oprimido (pelo ouvinte na imposição de seus valores), hoje o surdo assume uma postura defensiva diante do Cursos de Graduação © Língua Brasileira de Sinais • • • CRC Batatais – Claretiano 13 UNIDADE 1 português. Nesse ponto, cabe considerar que será preciso muito diálogo entre surdos e ouvintes na tentativa de negociar o espaço das línguas, portuguesa e de sinais, na vida e na escolarização dos sujeitos surdos. 4) A idealização institucional e das políticas públicas de que os surdos devem aprender o português: apesar de a língua de sinais ser admitida nos espaços escolares, a língua portuguesa ainda continua sendo a mais importante, a língua de acesso ao conhecimento. A língua de sinais é utilizada apenas como um recurso, um instrumental, inclusive para justificar a organização da “inclusão” do aluno surdo nas classes de ouvintes, entretanto, isso, acaba por legitimar a exclusão. Os surdos querem aprender em língua de sinais: os surdos, principalmente os mais politizados, defendem que o ensino deveria se pautar na língua de sinais. Nesse modelo, os professores ou instrutores surdos ganham poder em relação aos professores ouvintes, mesmo em relação àqueles altamente qualificados em língua de sinais, pois eles reconhecem que o surdo é quem sabe mais a língua de sinais e que tem mais condição de ensinar as crianças surdas. Há nesse conflito, também, uma resistência do surdo e uma tentativa de ele se afirmar perante as imposições dos ouvintes. Sobre essa questão, podemos prever que há de haver, ainda, muita negociação ouvinte-surdo, buscando-se estabelecer um ponto de equilíbrio na relação de poder existente entre esses dois grupos, especificamente dos ouvintes sobre os surdos e entre língua de sinais/língua portuguesa e, dessa maneira, evoluir na consolidação do bilinguismo na educação dos surdos. Depois dessa exposição sobre o bilinguismo, você deve estar se perguntando: Como organizar uma educação bilíngue para surdos que atenda, ao mesmo tempo, às necessidades desses alunos como sujeitos visuais e usuários de uma língua visual-espacial, a língua de sinais, e aos pressupostos da educação inclusiva? Esse é o desafio que está posto a você, futuro professor. Inicialmente, é preciso estar consciente de que a organização dessas condições requer: Conscientização em relação ao estatuto linguístico da língua de sinais, 1) ou seja, reconhecê-la como uma língua que apresenta todos os níveis de análise. Reorganização significativa das escolas, envolvendo mudanças na organização, 2) nos espaços, nas formas de interação, na formação dos professores visando formar professores bilíngues, professores surdos e intérpretes de língua de sinais. Reconhecimento de que o contato da criança surda com adultos surdos 3) usuários da língua de sinais representa um diferencial significativo para o seu desenvolvimento. Nesse sentido, o professor deve orientar os familiares sobre essa questão, valorizar a presença do surdo adulto na escolarização da criança e criar condições para que o surdo adulto esteja presente nos espaços escolares, como um forte aliado do professor ouvinte. Reorganização do currículo com base em uma perspectiva visual-espacial 4) para garantir o acesso do aluno surdo a todos os conteúdos escolares na sua própria língua, a língua de sinais brasileira. Isso significa que é preciso inverter a lógica que orienta a organização da escola com base na perspectiva ouvinte e orientá-la com base na perspectiva surda. Assim, a diferença estará sendo reconhecida e será garantida a igualdade de condições de acesso ao conhecimento e à aprendizagem. CRC • • • © Língua Brasileira de Sinais Claretiano – Batatais14 Cursos de Graduação UNIDADE 1 Para terminar, cabe destacar a importância que o adulto surdo ganha perante a educação bilíngue. Como já foi dito, ele pode contribuir muito com o professor ouvinte na sala. Ele pode favorecer a aquisição da língua de sinais pelas crianças surdas e ensiná-la aos professores e familiares ouvintes. Além disso, pode atuar em situações pedagógicas, de ensino dos conteúdos escolares, sob a orientação dos professores ouvintes. A participação do surdo adulto fluente em língua de sinais em programas educacionais bilíngues voltados para crianças surdas foi valorizada por Dias e Pedroso (2000) e Dias, Caporali e Pedroso (2001). Tais pesquisadoras relataram os benefícios conquistados a partir da inserção de um surdo adulto em programa de atendimento bilíngue. O surdo pôde contribuir no ensino da língua portuguesa e na aquisição da língua de sinais, contando histórias em libras a crianças surdas, no ensino da língua de sinais a profissionais e familiares ouvintes e na análise de dados e elaboração de artigos científicos relacionados à implementação de programas bilíngues e ao ensino da língua portuguesa para surdos. De acordo com exposto nesta unidade, esperamos que você tenha compreendido os pilares que sustentam a abordagem bilíngue. Além disso, espera-se que esteja convencido de que a participação do adulto surdo fluente em língua de sinais é fundamental na organização da educação bilíngue e da própria educação inclusiva, tendo em vista a garantia do direito dos alunos surdos a uma educação de qualidade. Quando a criança surda tiver a chance de, no início do seu desenvolvimento, contar com pais dispostos a aprender a língua de sinais, com adultos surdos, com colegas surdos, quando ela narrar em sinais e tiver escuta em sinais, a dimensão do seu processo educacional será outra (SOUZA, 2000 apud QUADROS, 2005). O fato de passar a ter contato com a língua portuguesa, trazendo conceitos adquiridos na sua própria língua, possibilitará um processo muito mais significativo. A leitura e a escrita podem passar a ter outro significado social se as crianças surdas se apropriarem da leitura e da escrita de sinais; isso potencializará a aquisição da leitura e da escrita do português (QUADROS, 2005, p. 33). 3 SINTETIZANDO... Conforme estudamos, a história da educação dos surdos teve o oralismo como o caminho educacional predominante. Entretanto, ele não propiciou resultadossatisfatórios e representou um mecanismo de poder do ouvinte sobre o surdo ao legitimar o domínio de um grupo sobre o outro pela obrigatoriedade da aquisição da fala. Os resultados, então, insatisfatórios do oralismo fizeram surgir uma segunda abordagem: a comunicação total. Essa, embora contemplasse o uso dos sinais, não reconheceu a língua de sinais como língua. Assim, ela se estruturou com base no uso dos sinais segundo a língua majoritária. Esse uso simultâneo foi entendido como incompatível, e os resultados também não foram satisfatórios. Em conseqüência disso, surgiu uma terceira abordagem: o bilinguismo. Essa abordagem encontra-se em plena expansão. É aceita pela comunidade surda e pelos profissionais e pesquisadores que entendem a surdez como diferença, e não como deficiência. Cursos de Graduação © Língua Brasileira de Sinais • • • CRC Batatais – Claretiano 15 UNIDADE 1 Ainda há muito que se pesquisar sobre o bilinguismo. Contudo, os estudos realizados em outros países e no Brasil estão mostrando resultados muito satisfatórios no campo educacional e, também, em relação ao desenvolvimento afetivo, cognitivo, social, intelectual e linguístico, apontando que desconsiderar pode ser um caminho mais apropriado para a educação dos surdos. 4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BEHARES, L. E. Aquisición inicial del leguage por el nino sordo. Problemas metodológicos y aportes psicolingüísticos. Anais do IX Congresso da ALFA, v. 2, p. 513-535, 1993. BRASIL. Lei nº 10.436 de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, Casa Civil, 2002b. ______. Decreto Nº 5.626 de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002. Brasília: Presidência da República, Casa Civil, 2005. CAPOVILLA, F. C.; CAPOVILLA, A. G. S. 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