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102 • Revista Odonto • v. 17, n. 33, jan. jun. 2009, São Bernardo do Campo, SP, Universidade Metodista de São Paulo A importância da radiografia panorâmica no diagnóstico e no plano de tratamento ortodôntico na fase da dentadura mista REVISÃO DE LITERATURA A importância da radiografia panorâmica no diagnóstico e no plano de tratamento ortodôntico na fase da dentadura mista Importance of Panoramic Radiography in the Diagnosis and Orthodontic Treatment Planning of Mixed Dentition Phase Carla Flamia GARTNER* Fernanda Cavicchioli GOLDENBERG** * Cirurgiã-Dentista graduada pela Faculdade de Odontologia da Universidade Metodista de São Paulo. ** Professora Doutora Responsável pela Disciplina de Ortodontia Preventiva do Curso de Graduação da Faculdade de Odontologia da Universidade Metodista de São Paulo. dfgolden@sti.com.br RESUMO A radiografia panorâmica é uma técnica radiográfica caracterizada pela utilização de princípios tomográficos para englobar o complexo maxilo-mandibular, fornecendo um meio extenso para visualizar e analisar os dentes e as estruturas de suporte em um único filme radiográfico. A imagem panorâmica é especialmente importante em crianças na fase de troca de dentes, pois a avaliação da posição e do estágio de desenvolvimento intra-ósseo dos germes dos dentes permanentes permite a identificação dos desvios no padrão normal de erupção, que podem ocasionar desordens na oclusão. Grande parte dos casos de maloclusão tem sua origem na época de dentadura mista e a intervenção ortodôntica nessa fase aumenta as possibilidades de se direcionar o crescimento e de se guiar a oclusão, eliminando ou diminuindo a severidade dos problemas ortodônticos no futuro. Nesse contexto, o presente trabalho buscou mostrar a importância da radiografia panorâmica no diagnóstico e no plano de tratamento na fase da dentadura mista. A revisão da literatura referendou a importância da radiografia panorâmica na fase da dentadura mista, pois evidenciou que as anomalias de desenvolvimento dentário podem alterar a cronologia, a seqüência e o local de erupção dos dentes permanentes e podem determinar modificações no perímetro dos arcos dentários e conseqüentes transtornos na oclusão. A visualização dos fatores etiológicos locais das maloclusões na radiografia panorâmica auxilia o clínico geral, o odontopediatra e o ortodontista a obter um diagnóstico precoce para o planejamento de procedimentos ortodônticos preventivos, com o objetivo de manter a integridade da arcada dentária e o bom desenvolvimento da oclusão. Palavras-chave: Radiografia Panorâmica, Dentição Mista, Maloclusões. ABSTRACT Panoramic radiography is a radiographic technique that uses tomography principles to involve the maxillomandibular complex and to enable an extensive way to visualize and analyze teeth and supporting structures in a unique radiographic film. Panoramic image is very important in mixed dentition phase because the evaluation of permanent teeth buds position and intraosseuos development stage enables to identify deviations in normal pattern of eruption that causes occlusion disorder. The great number of malocclusion cases has beginning in mixed dentition phase and the orthodontic intervention in this period increases the possibilities to drive the growth and to conduct the occlusion, eliminating or decreasing the severity of future orthodontic problems. In this context, this paper shows the importance of panoramic radiography in the diagnosis and treatment planning of mixed dentition phase. Literature review was carried out and showed that panoramic radiography is very important in mixed dentition phase because becomes evident the dental development anomalies that can change the chronology, sequence and place of permanent teeth eruption, which determine dental arch perimeter changes and occlusion disorders. Local etiology factors of the malocclusion visualized in panoramic radiography help the general practitioner, the pedodontist and the orthodontist in obtaining the early diagnosis to plan preventive orthodontic procedures to aim dental arch integrity and occlusion good development. Keywords: Panoramic Radiography, Mixed Dentition, Malocclusion. Revista Odonto • v. 17, n. 33, jan. jun. 2009, São Bernardo do Campo, SP, Universidade Metodista de São Paulo• 103 GARTNER, C. F.; GOLDENBERG, F. C. INTRODUÇÃO A radiografia panorâmica se caracteriza pela possibilidade da visão global de todos os elemen- tos dentários da maxila e mandíbula, assim como de seus constituintes ósseos. Segundo FREITAS & TORRES8 (2000), princípios tomográficos ide- alizados a partir dos trabalhos de Panntero foram aplicados à técnica da radiografia panorâmica, dando origem a um novo tipo de exame radiográfico na odontologia, a pantomografia - denominação que se refere à contração das pala- vras panorâmica e tomografia. Com a evolução nos processos pantomográficos, novos aparelhos radiográficos com dinâmicas diferentes foram criados, surgindo também a ortopantomografia e a elipsopantomografia. Apesar das diferenças quanto ao princípio técnico de elaboração é co- mum generalizar o termo radiografia panorâmica ao método pantomográfico, uma vez que este método proporciona uma visualização panorâmica das estruturas em um único filme radiográfico. Além de ser uma técnica radiográfica que se realiza fora da cavidade bucal, e por isso, segundo ARAÚJO3 (1988), é a mais aceita por todos os grupos de crianças, a radiografia panorâmica tam- bém apresenta inúmeras vantagens quando com- paradas ao exame radiográfico intrabucal peria- pical, entre elas a possibilidade do exame dos arcos dentários em apenas uma única tomada radiográfica, a facilidade da execução da técnica e a baixa dose de radiação recebida pelo paciente. Entretanto, a radiografia panorâmica não substitui as técnicas radiográficas convencionais, uma vez que se apresenta com menor grau de deta- lhamento da imagem radiográfica3,5,7,8. A radiografia panorâmica permite examinar a parte média-inferior da face, em norma frontal e o uso rotineiro desta técnica radiográfica, por apresentar imagem extensa, revela um grande número de elementos, os quais muitas vezes não são detectados em radiografias periapicais. Por meio da imagem panorâmica se pode visualizar os grupos de dentes de ambas as dentições, em ambas os arcos, ao mesmo tempo em que se pode observar as cavidades nasais, articulações temporomandibulares, osso mandibular e maxilar, identificar certas lesões, verificar o posicio- namento intra-ósseo e o estágio de desenvolvi- mento dos germes dentários permanentes, calcu- lar o estágio de reabsorção radicular dos dentes decíduos e avaliar a relação entre o dente decíduo e o permanente correspondente3,5,7,8,9. Em ortodontia, de acordo com CECCHI5 (2003), a radiografia panorâmica na fase da denta- dura mista fornece um meio para visualizar o de- senvolvimento dos dentes e evidenciar as possíveis anomalias dentárias. Assim, este trabalho tem como objetivo mostrar a importância da radiografia pa- norâmica no diagnóstico e no plano de tratamento ortodôntico na fase da dentadura mista. REVISÃO DE LITERATURA 1. Dentadura Mista De acordo com ARAÚJO3 (1988), a radiogra- fia panorâmica é um exame complementar conside- rado de valor inestimável para auxiliar na determi- nação do diagnóstico na fase da dentadura mista, pois grande porcentagem dos casos de maloclusão tem sua origem neste período, que ocorre entre seis e doze anos de idade. A prevenção ou a inter- venção precoce numa maloclusão em desenvolvi- mento tem por objetivo manter a integridade da arcada dentária de forma a eliminar ou diminuir a severidade dos problemas ortodônticos futuros. 2. Supervisão de Espaço Segundo MOYERS17 (1991) a radiografia pa- norâmica permite evidenciar o padrão de erupção dos dentes permanentes. Eleafirma ser essencial que os dentes permanentes erupcionem em uma seqüência que favoreça a compensação de espaço nos arcos dentários, evitando o encurtamento do seu perímetro causado pela tendência que os molares permanentes têm de migrar para mesial. 104 • Revista Odonto • v. 17, n. 33, jan. jun. 2009, São Bernardo do Campo, SP, Universidade Metodista de São Paulo A importância da radiografia panorâmica no diagnóstico e no plano de tratamento ortodôntico na fase da dentadura mista Segundo VELLINI-FERREIRA24 (2004) a análise do modelo de estudo por meio do méto- do de Moyers possibilita prever o tamanho dos dentes canino permanente, primeiro e segundo premolares não-irrompidos, e permite verificar se esses dentes terão espaço adequado no arco dentário. Em associação à análise do modelo de estudo, se torna de grande valor que a supervi- são do espaço no arco dentário seja avaliada na radiografia panorâmica. Para tanto uma boa con- duta do profissional é sempre contar os dentes na radiografia panorâmica e se orientar quanto à seqüência, cronologia e local de erupção dos dentes permanentes, além de avaliar os aspectos relativos ao tamanho, forma e número dos ele- mentos dentários. 3. Perda Precoce de Dente Decíduo De acordo com PROFFIT & BENNETT19 (1967), a perda precoce de um dente decíduo quando não tratada em tempo oportuno pode determinar a diminuição de espaço no arco dentário reservado para erupção correta dos den- tes permanentes e pode ocasionar impactações de dentes, inclinações mesiais de molares e apinhamentos futuros. Os autores afirmam que a seqüência e a cronologia de erupção dos dentes permanentes devem ser analisadas na radiografia panorâmica, pois a perda precoce do dente decíduo afeta o ritmo de erupção de seu sucessor nos limites ditados pela formação radicular. 4. Diastema Conforme ARAÚJO3 (1988), existem vários fatores etiológicos que podem estar relacionados ao diastema patológico e que podem ser eviden- ciados na radiografia panorâmica, como por exemplo quando o diastema anterior é causado pelo mesiodens retido ou por agenesia dos incisi- vos. A identificação precoce desses fatores pato- lógicos na radiografia panorâmica possibilita ao profissional estabelecer uma estratégia adequada de tratamento preventivo das maloclusões. 5. Impactação de Canino Conforme STAHL & GRABOWSKI21 (2003) é freqüente a erupção ectópica dos cani- nos superiores na região labial quando o espaço disponível no arco é muito pequeno. Entretan- to, g rande par te dos caninos que ficam impactados está localizada no palato e, muitas vezes, está associada com excesso de espaço no arco dentário. Os autores afirmam que isto se deve ao fato de que certas anomalias dentárias podem indicar o risco do canino se tornar impactado, tais como, agenesia, deslocamento do germe dentário, giroversão ou inclinação dos incisivos e microdontia dos incisivos laterais. Essas são anomalias típicas de uma determina- ção genética de predisposição aos distúrbios de desenvolvimento da dentição, freqüentemente presentes em pacientes com potencial de deslo- camento do canino e que podem ser evidenci- adas na radiografia panorâmica. 7. Fatores Locais Para CECCHI5 (2003), o diagnóstico precoce das várias anomalias de desenvolvimento que aco- metem os dentes se reveste de grande significado clínico, pois elas são fatores intrínsecos das maloclusões. Essas alterações muitas vezes passam desapercebidas ao profissional até o momento do exame radiográfico panorâmico e se manifestam principalmente por anomalias de número, forma, tamanho e anomalias de erupção. Com relação às anomalias de desenvolvimento relacionadas ao processo de erupção na fase da dentadura mista, GUEDES-PINTO & OLIVEI- RA10 (2003) colocam que elas geralmente alteram a cronologia, a seqüência e o local de erupção dos dentes permanentes e determinam modificações no perímetro dos arcos dentários. Estas alterações são de maior ou menor severidade dependendo da época, dos dentes envolvidos e do período transcorrido para o diagnóstico. Revista Odonto • v. 17, n. 33, jan. jun. 2009, São Bernardo do Campo, SP, Universidade Metodista de São Paulo• 105 GARTNER, C. F.; GOLDENBERG, F. C. DISCUSSÃO As alterações dimensionais necessárias aos ar- cos dentários para acomodar os dentes permanen- tes no período da dentadura mista estão relaciona- das ao crescimento ântero-posterior, horizontal e vertical dos maxilares. Contudo, o desenvolvimento de uma oclusão normal também depende da manu- tenção do comprimento do arco dentário ditado pela irrupção dos dentes permanentes3,9,10,17,19,24. A avaliação radiográfica panorâmica da dentadura mista permite visualizar o desenvolvimento intra- ósseo dos germes dentários, bem como o processo de erupção dos dentes permanentes e o de esfoliação dos dentes decíduos, o que possibilita analisar se a erupção dos dentes permanentes ocor- rerá em local correto e em seqüência favorável à manutenção do comprimento do arco dentário. De acordo com PRADO & GUEDES-PINTO18 (2003), preferivelmente na maxila a irrupção do canino permanente deve ocorrer logo após a irrupção do segundo premolar. Na mandíbula, a irrupção do canino deve ocorrer simultaneamente à do primeiro premolar ou um pouco antes, como afirma MERCADANTE16 (2004). A perda prematura dos dentes decíduos é uma ocorrência infortunada que precisa ser avaliada minuciosamente pelo profissional e o conhecimen- to do uso do aparelho apropriado no tempo corre- to se torna um importante aspecto do plano de tratamento. Estudos sobre a erupção dos dentes, conforme TERLAJE & DONLY22 (2001), têm mostrado emergência dos caninos com ¾ da raiz formada e emergência dos premolares com ½ a ¾ de desenvolvimento da raiz. Portanto, a idade do dente é importante quando na avaliação do padrão de erupção e da cobertura óssea dos dentes suces- sores observados na radiografia panorâmica. Desta forma, se a perda precoce do dente decíduo ocor- rer após o permanente ter iniciado os movimentos ativos de erupção, MERCADANTE16 (2004) e PROFFIT & BENNETT19 (1967) afirmam que o dente definitivo irromperá precocemente. Porém, se o dente decíduo for perdido antes do início dos movimentos eruptivos é bem provável que o dente permanente atrase sua erupção e a manutenção do espaço por meio de dispositivo ortodôntico estáti- co seja necessária. De acordo com PROFFIT & BENNETT19 (1967), quando a perda é causada por trauma ou cárie a manutenção do espaço através da instala- ção de um dispositivo ortodôntico estático é o procedimento usual. Entretanto, nas situações em que a perda prematura do dente decíduo não é tratada em tempo de se evitar a inclinação mesial do molar ou quando a perda é causada por erup- ção ectópica de um dente permanente, podem indicar o potencial de apinhamento pela diminui- ção de espaço no arco dentário e a necessidade da instalação de um aparelho recuperador de espaço. A visualização na radiografia panorâmica da erupção ectópica de um dente permanente provo- cando a esfoliação de um dente decíduo aponta uma provável perda de espaço no arco dentário, a qual deve ser confirmada pela análise do modelo de estudo. Com relação à recuperação do espaço no arco dentário, ABRÃO & GUEDES-PINTO2 (2003b) indicam a instalação de aparelhos recuperadores de espaço nos casos em que a perda de espaço não é grande ou quando a inclinação dos molares para mesial não é severa. Sendo assim, em perdas de molares decíduos cuja discrepância nega- tiva não passa de 2 a 3 milímetros é possível distalizar o molar permanente para recuperar o espaço perdido e restabelecer a oclusão normal. FIGURA 1 - Radiografia panorâmica de criança com 7 anos e 11 meses, mostrando a perda prematura do primeiro molar decíduo superior no lado esquerdo. 106 • Revista Odonto • v. 17, n. 33, jan. jun. 2009, São Bernardo do Campo, SP,Universidade Metodista de São Paulo A importância da radiografia panorâmica no diagnóstico e no plano de tratamento ortodôntico na fase da dentadura mista Na época da dentadura mista é normal a pre- sença de diastemas entre os incisivos superiores com divergência entre os longos eixos, o que carac- teriza a fase do patinho feio de BROADBENT4 (1941). Esta situação pode ser evidenciada na radi- ografia panorâmica pela aproximação dos ápices radiculares dos incisivos em direção à linha medi- ana, devida à pressão que a coroa dos caninos não- irrompidos exerce na raiz dos incisivos laterais e pelo conseqüente afastamento das coroas dos inci- sivos em sentido oposto. Com a irrupção dos ca- ninos superiores, o diastema fisiológico tende a desaparecer2,3,11,12,20, não sendo uma boa prática ortodôntica a tentativa de alinhar os incisivos. Al- gumas vezes, os diastemas podem ser determina- dos por outros fatores, sendo necessária uma dis- tinção na radiografia panorâmica entre a fase do patinho feio e a ocorrência de certas anomalias dentárias. Segundo JANSON14(1998) a presença de mesiodens retido, agenesia ou microdontia dos incisivos laterais e discrepância entre a base óssea e tamanho do dente são os fatores etiológicos freqüentemente ligados aos diastemas patológicos que normalmente apresentam os longos eixos dos incisivos paralelos entre si. Segundo ABRÃO & GUEDES-PINTO2 (2003b), para o tratamento de diastemas patológi- cos em arcos dentários que não apresentam dis- crepância de modelo negativa, um dispositivo re- dutor de diastema colocado entre os dentes é suficiente para reduzir o diastema e normalizar a oclusão. Contudo, o diastema entre os incisivos superiores que é causado por supranumerário necessita primeiramente de intervenção cirúrgica e, em seguida, de redução mecânica. Anomalias dentárias também podem indicar o risco da retenção dos caninos no palato. Portanto, pacientes com predisposição para distúrbios de de- senvolvimento dentário necessitam ser cuidadosa- mente acompanhados, o que permite antecipar os riscos potenciais. No interesse do reconhecimento prematuro é de vital importância detectar na radio- grafia panorâmica, conforme STAHL & GRABOWSKI21 (2003), o potencial de deslocamen- to do canino, na forma de quaisquer assimetrias do desenvolvimento. Ademais, um caminho para predi- zer a possível impactação é a localização da extremi- dade incisal do canino permanente não-irrompido em relação à raiz do incisivo lateral completamente erupcionado, que pode ser evidenciada na radiogra- fia panorâmica da dentadura mista. Conforme os estudos de LINDAUER15 et al (1992), 78% dos caninos impactados ou destinados a se tornar impactados no palato têm a extremidade incisal em sobreposição ou mesial para a raiz e co- roa do incisivo lateral, o que corresponde às regiões II, III e IV na figura 3. Enquanto que 96% dos FIGURA 2 - Radiografia panorâmica de criança de 9 anos e 3 meses apresentando diastema entre os incisivos superiores, característico da fase do patinho feio de Broadbent. FIGURA 3. Adaptado de Lindauer15 et al. Revista Odonto • v. 17, n. 33, jan. jun. 2009, São Bernardo do Campo, SP, Universidade Metodista de São Paulo• 107 GARTNER, C. F.; GOLDENBERG, F. C. caninos permanentes que farão o processo normal de erupção aparecem na radiografia panorâmica com a extremidade incisal localizada distal à linha tangen- te que contorna a superfície distal da raiz e coroa do incisivo lateral, correspondendo à região I. Se o arco não apresentar apinhamento, o melhor prognóstico para resolução de uma impactação palatal do canino permanente é a extração do canino decíduo o mais breve depois do paciente completar os 10 anos de idade. O diagnóstico precoce, portanto, evita o tratamento cirúrgico-ortodôntico para alinhar o canino retido no palato e previne a reabsorção da raiz do inci- sivo adjacente ocasionada pela ponta incisal do canino que permaneceu não-irrompido. ABRÃO & GUEDES-PINTO1 (2003a) afir- mam que o diagnóstico em ortodontia preventiva é obtido por meio da análise dos dados forneci- dos pelos exames clínicos e pela documentação ortodôntica, em especial a radiografia panorâmica e o modelo de estudo. De acordo com CECCHI5 (2003), dentre os exames radiográficos mais soli- citados para formar a documentação ortodôntica, a radiografia panorâmica fornece o melhor meio para avaliação da formação dos germes dentários e identificação das anomalias de número, forma e tamanho dos dentes. Dentes supranumerários com freqüência cau- sam desvio no padrão normal de erupção, por bloquear ou retardar a erupção de outros dentes. A localização precoce dos dentes adicionais na radiografia panorâmica permite a intervenção profissional no tempo adequado, impedindo pro- blemas futuros para os pacientes. Os estágios de desenvolvimento radicular dos germes dentários permanentes precisam ser analisados na imagem panorâmica, pois COZZA et al6 (2002) e VAROLI & GUEDES-PINTO23 (2003) afirmam que a remoção cirúrgica dos dentes supranumerários deve ocorrer de forma a não romper a seqüência de erupção normal. As anomalias de número ligadas a anadontia têm como conseqüências freqüentes a formação de diastemas, inclinação dos eixos dos dentes e migração dos dentes vizinhos que modificam a forma e diminuem o comprimento do arco dentário. A imagem radiográfica panorâmica na dentadura mista auxilia o diagnóstico conforme MERCADANTE16 (2004) e VAROLI & GUEDES-PINTO23 (2003), pois permite ao pro- fissional diferenciar precocemente os dentes per- manentes não-irrompidos com atraso no processo de calcificação e retidos, daquelas situações de agenesias dos elementos. Assim como permite, segundo ITH-HANSEN & KJAER13 (2000), ava- liar a possibilidade da permanência in situ de den- tes decíduos posteriores em substituição aos den- tes permanentes ausentes. FIGURA 4 – Radiografia panorâmica de criança com 6 anos e 2 meses que apresenta agenesia do incisivo lateral permanente inferior esquerdo. A presença das anomalias de tamanho repre- sentadas pelo macrodente e pelo microdente modifica o comprimento do arco dentário, cau- sando um distúrbio no engrenamento com o arco antagonista. Tanto a microdontia quanto a macrodontia podem ser interpretadas na radio- grafia panorâmica e, quando necessário, CECCHI5 (2003) afirma que podem ser feitas medições baseadas na tabela de diâmetro mésio- distal dos dentes, em milímetros, proposta por Garn et al. As anomalias de forma estão intima- mente relacionadas às anomalias de tamanho. A mais comum das anomalias de forma encontrada é a conóide, cujo formato anatômico pode ser evidenciado na imagem panorâmica apresentan- do um tamanho menor. 108 • Revista Odonto • v. 17, n. 33, jan. jun. 2009, São Bernardo do Campo, SP, Universidade Metodista de São Paulo A importância da radiografia panorâmica no diagnóstico e no plano de tratamento ortodôntico na fase da dentadura mista Enfim, por se tratar de pacientes em fase de troca de dentes, a interpretação da radiografia panorâmica se torna um importante instrumento para acompanhar o exame clínico, pois fornece um aspecto geral dos dentes e estruturas de su- porte e evidencia os fatores locais das maloclusões. Conforme VELLINI-FERREIRA24 (2004), a avaliação na imagem radiográfica pano- râmica da dentadura mista feita pelo clínico geral, odontopediatra e ortodontista, deve ser um pro- cedimento de rotina para auxiliar no diagnóstico preciso e no planejamento do tratamento ortodôntico preventivo, com o objetivo de manter a integridade da arcada dentária e garantir um melhor desenvolvimento da oclusão. CONCLUSÕES 1. A radiografia panorâmica é um exame com- plementar importante na fase da dentadura mista, pois ela permite visualizar o desenvolvimento intra-ósseo dos germes dentários permanentes e identificar anomalias dentáriasde desenvolvimen- to, o que possibilita ao profissional analisar se a cronologia, a seqüência e o local de erupção dos dentes permanentes estão corretos ou se há des- vios no padrão normal. 2. A identificação dos fatores etiológicos lo- cais das maloclusões na radiografia panorâmica auxilia o clínico geral, o odontopediatra e o ortodontista na obtenção do diagnóstico precoce e no planejamento de procedimentos ortodônticos preventivos, com objetivo de manter a integridade da arcada dentária e o bom desen- volvimento da oclusão. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ABRÃO, J.; GUEDES-PINTO, A. C. Diagnóstico e planificação em ortodontia preventiva. In GUEDES-PINTO, A. C. Odontopediatria. 7 ed, São Paulo: Santos, 2003a. Cap. 42. 2. ABRÃO, J.; GUEDES-PINTO, A. C. Técnica ortodôntica. In GUEDES-PINTO, A. C. Odontopediatria. 7 ed, São Paulo: San- tos, 2003b. p. Cap. 43. 3. ARAÚJO, M. G. M. Ortodontia para clínicos. 4 ed, São Paulo: Santos,1988. Cap. 5. 4. BROADBENT, B. H. Ontogenic Development of occlusion. Angle Orthodont, v. 11, n. 4, p. 223-41, 1941. 5. CECCHI, P. 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