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,0 Sumário MÓDULO 1- Planejamento Educacional 1.1 Percurso Histórico 1.2 A Construção do Planejamento Educacional MÓDULO 2-. Projeto Político Pedagógico (PPP) 2.1 O Projeto Político Pedagógico como Inovação Emancipatória 2.2 Princípios Norteadores do Projeto Político Pedagógico 2.3 A Identidade da Escola 2.4 Currículo Escolar MÓDULO 3 - Metodologia de Trabalho para a Elaboração do Projeto Político Pedagógico 3.1 Planejamento Pedagógico na Perspectiva da Gestão Democrática 3.2 A Construção da Proposta Pedagógica MÓDULO 4 - Da Educação Tradicional às Novas Tecnologias Aplicadas à Educação: percurso histórico 4.1 A Mudança de Tempos, Espaços e Relações na Escola a Partir do uso de Tecnologias e da Inclusão Social MÓDULO 5 - Universidade, Políticas Públicas e Novas Tecnologias Aplicadas à Educação a Distância 5.1 Políticas Públicas Neoliberais e a Expansão da EAD 5.2 A EAD e as Políticas Públicas de Democratização e “Inclusão” Digital MÓDULO 6 - Alternativas e Estratégias das Instituições de Ensino Superior (IES) Frente às Transformações do Paradigma Educacional Contemporâneo 6.1 Alterações no Contexto Educacional em Função da Incorporação da Tecnologia 6.1.1 Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica 6.2 Perfil do Professor e as Exigências de Formação 6.2.1 Habilidades Docentes para o Uso das Novas Tecnologias 6.3 A Colaboração em uma Rede de Aprendizagem MÓDULO 1 – Planejamento Educacional MÁRCIA REGINA BARRELLI Disciplina: Construção de Projetos Pedagógicos e Tecnologias Aplicadas à Docência Módulo 1 – Planejamento Educacional– Faculdade Campos Elíseos (FCE) – São Paulo – 2016. Guia de Estudos – Módulo 1– Planejamento Educacional.1. Planejamento 2.Projeto Pedagógico 3.Gestão Democrática Orgs.: Adriana Alves Farias e Cláudia Regina Esteves Faculdade Campos Elíseos Conversa Inicial No primeiro módulo, discutiremos sobre planejamento educacional. Iniciaremos por uma conceituação de planejamento, planejamento educacional e breve histórico deste movimento no Brasil, refletindo sobre a questão do Estado como instituição que planeja. Finalizaremos com a reflexão de planejamento educacional participativo, apontando para a necessidade, a relevância, os limites e as possibilidades do planejamento e da participação no processo de tomada de decisões. Agora com a descrição de toda a trajetória, podemos iniciar a nossa jornada de estudos. Ótimo aprendizado! 1. Introdução ao conceito de Planejamento As circunstâncias nas quais vivemos e das quais fazemos parte no século XXI, entre desafios, conflitos, as tecnologias da comunicação, o tempo e o espaço digital, complexo de elementos que constituem nossa realidade, lugares, objetos, ações, palavras, significados, intencionalidades, movimentos, as relações (sociais, humanas, políticas, culturais, de poder), as divergências, a diversidade, estando o ser humano, ser racional, buscando processos de transformar suas ideias em realidade - nos coloca diante de uma necessidade: - Planejar ações mediante objetivos- organizar, conhecer, educar, separar, juntar, construir, ordenar, comparar, relacionar, qualificar, ampliar...divisar o futuro...nosso viver. E esta atividade surge desde o aparecimento do homem no universo, já que nós humanos dotados da capacidade de pensar, elaborar e reelaborar pensamos e organizamos a prática de uma ação, e, historicamente, desde o “homem das cavernas”, constatamos, por analogia, a atividade de planejar. O homem planejava sua ação de caça para alimentar-se, produzia e usava suas ferramentas, com pedras, madeiras, aproveitava o couro e a pele de suas caças para proteger-se do frio, e a descoberta do fogo, ampliou ainda mais seu poder de planejamento, ação, sobrevivência, criação, mudanças e transformação de ideia. Reflita sobre a afirmativa relacionando com a temática em estudo e desdobramentos - “Superando sua condição natural e criando um mundo cultural, o homem se torna senhor de seu destino, escolhe as alternativas que mais satisfação lhe proporcionem, renuncia a outras que lhe pareçam mais custosas, abre caminhos para atingir metas” FONSECA, NASCIMENTO, SILVA, J.M. (1995) Assim, podemos caracterizar o planejamento como uma atividade humana, pela qual são estabelecidos objetivos, metas, fins, a serem alcançados, com estratégias e métodos definidos, cuja principal característica é a flexibilidade, ou seja, possibilita, ação, reflexão, mudanças no percurso e novas tomadas de decisão. Planejamento é processo de busca de equilíbrio entre meios e fins, entre recursos e objetivos, visando ao melhor funcionamento de empresas, instituições, setores de trabalho, organizações grupais e outras atividades humanas. O ato de planejar é sempre processo de reflexão, de tomada de decisão sobre a ação; processo de previsão de necessidades e racionalização de emprego de meios (materiais) e recursos (humanos) disponíveis, visando à concretização de objetivos, em prazos determinados e etapas definidas, a partir dos resultados das avaliações (PADILHA,2001, p.30) Planejar é definir objetivos e escolher o melhor curso de ação para alcançá-los. O planejamento define onde se pretende chegar o que deve ser feito, quando, como e em que sequência. (CHIAVENATO, 1993, p 367) Segundo EVANGELISTA, o processo de evolução do planejamento, desde o seu surgimento até a atualidade, apresentou fases definidas que acompanhou a organização da História da humanidade, passando pelo período racionalista, antiguidade e idades média, moderna e contemporânea. Da revolução industrial, das guerras mundiais, da invenção da bomba atômica, a modernização das guerras, a corrida espacial, os avanços das tecnologias da informação e da comunicação. No entanto, verificamos que as concepções de planejamento recaem em uma abordagem tecnicista, que historicamente, desde a Antiguidade apontou o Estado como instituição, utilizando-se de estratégias de organização de ações em determinadas áreas para alcançar objetivos. Como cita SCAFF, em seu artigo, Coombs (1970, p.17) apontou que na constituição espartana, indícios de planificação da educação aparecem para adaptar aos objetivos militares, sociais e econômicos daquele modelo de sociedade. Também, Platão sugere um plano de educação apropriado à sociedade ateniense. E consequentemente, motivadas por ideologias próprias, as sociedades capitalistas, socialistas, os modelos socialdemocratas, socioliberais, liberais, neoliberais, vêm utilizando, de forma explícita, o planejamento ou a planificação, como uma intervenção sócio política econômica institucionalmente legalizada. É compreensível que além de ser uma questão técnica, o planejamento governamental, é uma questão política, relacionando-se assim com o exercício de poder, que sugere ou não, um instrumento que se transforme em ameaça à liberdade e à democracia. Esta reflexão, faremos na sequência deste módulo, quando discutiremos aspectos históricos do planejamento educacional no Brasil e planejamento educacional participativo. Síntese O principal elemento do planejamento: a racionalidade, que é também principal elemento distintivo da condição humana. Pensar antesde agir. Organizar a ação. Adequar meios a fins e valores. Estas expressões sintetizam o conceito de planejamento, considerando-o uma técnica, uma ferramenta para a ação, de natureza flexível, possibilitando alterações no percurso. Coloca-se esta questão dentro do que se convenciona chamar de visão instrumental do planejamento, destacando-se seu aspecto utilitário, a partir das necessidades, anseios, ideias, desejos e transformações, com a previsão de meios e recursos disponíveis para atingir os objetivos. 1.1.1- Planejamento: elementos, modalidades e procedimentos Vimos que o planejamento é uma ação pensada pelo homem que busca alterar, modificar e interagir nos múltiplos ambientes, para atingir determinados objetivos. Segundo, EVANGELISTA, o planejamento, muitas vezes é confundido com um plano, um programa, um projeto, sendo que a diferença percebemos na realização, nos resultados, na tomada de decisões, no acompanhamento e na avaliação. Existem diferentes conceitos e teorias sobre as formas de planejamento, plano, projeto e programa. Para clarearmos nosso debate, descrevemos alguns elementos do planejamento e na sequência uma breve conceituação que nos guiará na compreensão dos diferentes termos utilizados. Reflita sobre a afirmativa relacionando com a temática em estudo e desdobramentos - “O planejamento é um processo contínuo de conhecimento e análise da realidade escolar em suas condições concretas, busca de alternativas para soluções de problemas e de tomadas de decisões” LIBÂNEO,J.C.(2001) De acordo com a citação de EVANGELISTA em seu artigo, para Néreci “todo planejamento, para ser consequente, preciso ser unitário, flexível, exequível, realístico e claro”, constituindo-se de três fases: previsão, programação e avaliação. Em geral todo planejamento das atividades consta dos seguintes itens ou elementos: O que - O problema. O que se pretende fazer ou pesquisar? Por que – A justificativa. As razões, a relevância do plano ou projeto. Para que – Objetivos que se pretende alcançar. Para quem – Público a quem se destina o trabalho. Com quem – Recursos humanos. Com que – Recursos materiais e financeiros. Como – Metodologia explica os procedimentos adotados para o alcance dos objetivos. Quando – Período de realização. Onde – Local de realização. Quanto – Avaliação dos resultados. Quanto às definições de plano, projeto, programa, EVANGELISTA, em seu artigo esclareceu a diferenciação: Plano – é o documento, a materialização do planejamento, o registro da escrita dos elementos e objetivos a serem alcançados. Projeto – do latim projectu, significa lançar para frente uma ideia. O projeto é a menor unidade do planejamento, com fins, objetivos e metas a serem alcançados em função de uma necessidade, um problema. Programa – é um conjunto de projetos, de propostas operacionalizadas, desenvolvidos para o alcance de metas. Esclarecida a diferença entre os conceitos: planejamento, plano, projeto, programa, ainda podemos caracterizar e definir algumas modalidades de planejamentos/planos: Planejamento ou plano curricular – é a sistematização, no âmbito escolar, do currículo a ser desenvolvido a partir de referenciais definidos para o sistema em função dos objetivos e dos alunos que são atendidos. Planejamento ou plano escolar – é a sistematização de todo planejamento para a escola, englobando todos os elementos necessários. Planejamento ou plano de ensino – é a sistematização das atividades a serem desenvolvidas, elaborado pelo professor responsável, embasado no plano curricular. Planejamento ou plano de disciplina – é a sistematização e organização de atividades a serem desenvolvidas ao longo do bimestre, semestre, de uma determinada disciplina. Planejamento ou plano de unidade – é a sistematização dos elementos de uma disciplina, organizados por um determinado período ou por temas geradores. Planejamento ou plano de aula – é a sistematização das aulas e atividades a serem desenvolvidas em sala de aula, organizando o dia letivo, com objetivos, conteúdos, estratégias e avaliação. O planejamento se concretiza em planos e projetos, tanto da escola e do currículo quanto do ensino. Um plano ou um projeto é um esboço, um esquema que representa uma ideia, um objetivo, uma meta, uma sequência de ações que irão orientar a prática. A ação do planejar subordina-se à natureza da atividade realizada (LIBÂNEO, 2001, p.83). Síntese Reafirmamos o conceito de planejamento, considerando-o um instrumento para organização da ação escolar e educativa, de natureza participativa, flexível, possibilitando alterações no percurso. Fizemos, então, esclarecimentos sobre os conceitos planejamento, plano, programa, projeto, discutindo sobre os elementos constitutivos, e ainda descrevemos sobre as modalidades de planejamentos/planos (curricular, escolar, de ensino, de disciplina, de unidade, de aula). 1.2. Planejamento educacional no Brasil Como nos referimos no item anterior, sob uma dimensão técnica, o conceito de planejamento, nos remete à ideia de organização, otimização de recursos, intencionalidade e qualidade. De acordo com BAFFI, planejamento é: “o processo de busca de equilíbrio entre os meios e fins, entre recursos e objetivos, visando ao melhor funcionamento de empresas, instituições, setores de trabalho, organizações grupais e outras atividades humanas. Assim, o conceito de planejamento para a educação, foi se transformando num processo de estruturar objetivos, traçar metas, organizar conteúdos, a partir das necessidades da sociedade e do capital. Entende-se que a política educacional passa a conceber o planejamento como cumprimento das propostas, e metas, por exemplo, nos sistemas de ensino, determinando essa situação a política está respaldada pelos interesses das classes dominantes e a garantia do cumprimento de leis. De acordo com a citação de OLIVEIRA e CYPRIANO,(2014) em seu artigo: [...] uma forma especifica de intervenção do Estado em educação, que se relaciona, de diferentes maneiras, historicamente condicionadas, com as outras formas de intervenção do Estado em educação (legislação e publica), visando a implantação de uma determinada política educacional do Estado, estabelecida com a finalidade de levar o sistema educacional a cumprir funções que lhe são atribuídas enquanto instrumento deste mesmo Estado (HORTA,1987) Com a preocupação em relação às principais necessidades a serem alcançadas e qual o caminho a seguir para atingir estes objetivos, lança-se ao ato de planejar, e como instrumento mediador entre a política educacional, o planejamento assume suas funções seja na sociedade ou entre o poder e o saber. No Brasil, para compreendermos como se deu o planejamento educacional no século XX e no primeiro decênio do século XXI, é necessário entender a função social da educação, atrelada historicamente, ao desenvolvimento econômico e social, e aos movimentos de centralização e descentralização que condicionaram as formas de participação na ação de planejar a educação no país Reflita sobre a afirmativa relacionando com a temática em estudo e desdobramentos - “Sob esta ótica, o planejamento educacional encontra-se não subordinado à política, mas entendido como instrumento de poder...um meio pelo qual o Estado reforça sua intervenção na sociedade como um todo... ” OLIVEIRA, e CYPRIANO, A.M.C.C (2014).Podemos inferir que a preocupação com o sistema educacional e com uma política de educação estatal no Brasil, surge no final do Império e início da República, e até então a educação estava sob a intervenção e organização da Igreja. A educação destinada às minorias, onde as classes sociais mais privilegiadas, tinham acesso à educação/escolarização, tida como instrumento de ascensão social e de poder. Com a Revolução de 1930, o país, na era de Vargas, caracteriza-se pelo fortalecimento do poder estatal centralizado, permeado pela passagem de uma economia baseada na agricultura para industrialização. Foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública. O primeiro esboço de um plano de educação nacional, o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, em 1932, sinalizando a necessidade de organização de um sistema nacional de educação pública. Promulgada a Constituição Federal de 1934 houve a elaboração de um Plano Nacional de Educação, implantando a gratuidade e obrigatoriedade do ensino primário e, em 1937, com uma nova Constituição previu-se a introdução do ensino profissionalizante, para atender às novas necessidades da sociedade no que diz respeito ao desenvolvimento econômico. O período compreendido entre 1940 a 1950, percebemos o planejamento educacional organizado para promover o crescimento e reduzir a pobreza, e considerava o analfabetismo como responsável pela situação de subdesenvolvimento do país. Porém, alguns aspectos eram esquecidos, como por exemplo a educação como direito de todos, as formas de vinculação do financiamento da educação, a descentralização por meio da criação dos sistemas educacionais. A partir da década de 1960, surgem mais indícios e ações concretas de planejamento educacional no país, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases 4024/61 e da Lei da Lei de Diretrizes e Bases 5692/71, seguindo a lógica de que o planejamento educacional é concebido dentro de uma perspectiva centralizadora, racionalista e tecnocrata, prevalecendo a continuidade do Estado no controle das políticas educacionais e da organização curricular. Durante o período da Ditadura Militar (1964 a 1985), o planejamento da educação brasileira, predominantemente ligado ao controle do sistema autoritário, burocrático e centralizado, visando que a educação acompanhasse as mudanças econômicas e sociais do país, para atender as necessidades de mercado e aos interesses de determinados grupos econômicos. O fim da ditadura militar e o processo de abertura democrática, a promulgação da Constituição de 1988, apontou ao surgimento de diversos movimentos sociais, e no âmbito educacional, o espaço escolar, educativo, foi aberto para a participação social dentro da lógica de uma educação democrática e de qualidade para todos. Nos anos de 1990, embora a democratização da educação e da escola, sejam fortes e importantes processos para descentralização do planejamento da educação brasileira, no que se refere à participação, autonomia (pedagógica, administrativa e financeira), gestão democrática, organização curricular, como traz a Lei de Diretrizes e Bases da Educação nacional 9394/96, o Estado ainda aparece como organizador de uma política educacional, pautada na globalização, no neoliberalismo, segundo o que citam OLIVEIRA e CYPRIANO, (2014) em seu artigo, SAVIANI, aponta o planejamento educacional brasileiro, subordinado às condições internacionais, para a obtenção de recursos financeiros. Entre os anos 1990 até os dias atuais a descentralização, o financiamento, a avaliação e autonomia passam a fazer parte da realidade dos estados e municípios, no entanto, esta autonomia está ligada ao grau de dependência financeira e na gestão de políticas públicas desenvolvidas. Destacando que, no século XXI, o Estado brasileiro, aparece na esfera educacional, como aquele que planeja e avalia, sendo que esta avaliação assume papel de controle do que ocorre no sistema educativo. No entanto, nós educadores, precisamos estar atentos, questionando o exagero no enfoque técnico pedagógico do planejamento educacional, que visa elevar a produtividade do sistema educacional, buscando sua adequação à estrutura socioeconômica, sem novos ônus financeiros, não correspondendo a uma visão qualitativa, que considere as especificidades da área educacional e que permita a efetiva participação dos mais diversos segmentos da comunidade escolar nas decisões coletivas. Assim, com este breve histórico, nós lançamos ao debate do planejamento educacional participativo. 16 Síntese Na história da educação brasileira, o planejamento educacional, apresenta indícios a partir da década de 1930, apresentam-se elementos de planificação e sistematização da educação pelo poder estatal, considerando que anteriormente a este período cabia à Igreja a intervenção e organização da educação no país. Destaca-se ainda que o principal mote do planejamento educacional no Brasil é considerar A educação como instrumento de controle, de desenvolvimento econômico e social, voltado para os interesses da política vigente e das classes e grupos dominantes. Após iniciativas e medidas legais que evidenciaram o planejamento educacional no Brasil, a partir de 1988, verifica-se a lógica da descentralização e da gestão democrática por uma educação de qualidade para todos, apontando para o planejamento participativo. No entanto, a globalização e a política neoliberal, continuará influenciando diretamente no planejamento e organização do sistema educacional brasileiro 1.3. Planejamento Educacional Participativo Definimos e conceituamos planejamento e suas modalidades, discutiremos a seguir um dos principais valores na ação do planejamento: a participação dos envolvidos no processo. O planejamento participativo é, de fato, uma tendência no campo educacional, visto como um conjunto de propostas de ferramentas de intervenção na realidade. O planejamento participativo pretende ser mais do que uma ferramenta para a administração; parte da ideia que não basta uma ferramenta para “fazer bem as coisas” dentro de um paradigma instituído, mas é preciso desenvolver conceitos, modelos, técnicas, instrumentos para definir “as coisas certas” a fazer, não apenas para o crescimento e a sobrevivência da entidade planejada, mas para a construção da sociedade; neste sentido, inclui como sua tarefa contribuir para a construção de novos horizontes, entre os quais estão, necessariamente, valores que constituirão a sociedade. (GANDIN, 2001, p.87) 17 Com esta afirmação de GANDIN, podemos inferir que nas escolas, o planejamento participativo não se encerra por definir coletivamente a organização dos conteúdos, mas se refere principalmente à organização coletiva e sistematização dos resultados que pretender buscar, em relação aos seus alunos, às suas realidades sociais, e a partir disto a avaliação detalhada da prática educativa e docente, seja propositiva para práticas alternativas influentes na construção e transformação social. Segundo FONSECA, NASCIMENTO, SILVA, (1995) valorizar a participação é considerar importante o próprio processo de planejamento e não apenas o produto final, e quem inicia o processo de planejamento deve prever a participação dos envolvidos, e que muitas vezes não ocorre espontaneamente, exige esforço, dedicação, ações mobilizadoras, exercício de poder descentralizado, partilhado. Os gestores do plano precisam estar cientes que enfrentarão contradições, tensões e conflitos. Osparticipantes nas tomadas de decisões, por sua vez, cientes da manifestação individual e coletiva, de seu comprometimento e responsabilização. Podemos considerar que o planejamento participativo é um instrumento eficaz, no princípio da gestão democrática, na construção dos ideais coletivos da escola, no entanto, os líderes da gestão e os envolvidos devem estar atentos às formas que ocorrem a participação. A principal característica do que hoje se chama Planejamento Participativo não é o fato de nele se estimular a participação das pessoas. Isto existe em quase todos os processos de planejamento: não há condições de fazer algo na realidade atual sem, pelo menos, pedir às pessoas que tragam sugestões. Usa-se esta “participação” até para iludir e/ou cooptar. (GANDIN, 2001, p.82) Surge, então, a necessidade de esclarecer a questão dos âmbitos de participação. De acordo com, FONSECA, NASCIMENTO, SILVA, (1995) é importante a fixação de regras claras e democraticamente definidas que organizem os processos decisórios e as formas de execução e avaliação do 18 planejado, e para tanto, alguns mecanismos da própria instituição educacional– colegiados, conselhos de escola, grêmios, associações, equipes de trabalho, grupos de estudo de horário coletivo, reuniões pedagógicas -, podem favorecer a participação dos envolvidos no planejamento pensado coletivamente e para coletividade. Criar espaços para as diversas vozes, para o exercício da participação e da democracia, atingindo as relações que se dão cotidianamente em todos os âmbitos sociais, é reconhecer que cada pessoa, cada envolvido no processo de planejamento de um projeto político pedagógico, é um sujeito de direitos e deveres, com imensas potencialidades e corresponsáveis na tomada de decisões. Como VASCONCELLOS, (2106) cita Paulo Freire, “a boniteza não tem de estar tanto no produto, mas sobretudo no processo”. O texto que vai surgir talvez não tenha o mesmo brilho de um outro produzido por um pequeno grupo, todavia, manifesta a realidade do grupo naquele momento (podendo vir a ser aperfeiçoado nas próximas edições). O Projeto deve expressar de maneira simples (o que não significa dizer simplista) as opções, os compromissos, a visão de mundo e as tarefas assumidas pelo grupo; de pouco adianta um projeto com palavras “alusivas”, chavões, citações e mais citações, quando a comunidade sequer se lembra de sua existência. (VASCONCELLOS, 2006, p.25) Para VASCONCELLOS, (2006) a elaboração e o desenvolvimento dos Projetos Político Pedagógicos, na perspectiva do planejamento participativo tem duas grandes contribuições: 1- o rigor teórico metodológico (qualidade formal) e 2- a participação (qualidade política). Quanto à participação, nas instituições educativas, VASCONCELLOS, (2006) descreve ser frequente ouvir expressões de descontentamento relativo à falta de participação no projeto, e em suas indagações, considera que isto ocorre pois, há casos onde o educador sequer tem a oportunidade de participar da elaboração do projeto. Forma-se um pequeno grupo (alguns professores com a direção e coordenação pedagógica), que elabora o texto e leva para apreciação do coletivo, que, muitas vezes aprova sem questionar (para não “sobrar” tarefas e responsabilidades). Outra situação pode se dar mesmo quando o sujeito está presente nos vários momentos da construção, mas sem acreditar no processo, 19 não se envolve, não se sente pertencente, não questiona, ou seja, não participa efetivamente. Reflita sobre a afirmativa relacionando com a temática em estudo e desdobramentos. “A principal característica do que hoje se chama Planejamento Participativo não é o fato de nele se estimular a participação das pessoas. ... Usa-se esta “participação” até para iludir e/ou cooptar”. GANDIN, ( 2001). Assim, para que a participação, como um dos anseios mais fundamentais do humano: ser levado em conta, tomar parte, ser incluído, ser respeitado, tenha sentido, é necessária uma disposição em mudar realmente, os envolvidos precisam estar sensibilizados na decisão de fazer, de como e quando fazer, assumindo a condição de sujeito e não de objeto do processo de planejamento. A participação aumenta o grau de consciência política, de responsabilidade, reforça o controle sobre a autoridade, potencializando a legitimidade das intenções planejadas e realizadas. Seguindo a crença que o planejamento participativo é a ferramenta mais eficaz, dentro da lógica da gestão democrática, na construção de ideais coletivos em escolas e outros espaços educativos, GANDIN, D. e GANDIN, L., (2003) apresentam a proposta de três momentos distintos, porém integrados, na elaboração do plano/projeto: 1. a indicação de um horizonte ou referencial (definição de um ideal social e educacional, onde o coletivo quer chegar, ações voltadas numa mesma direção); 2. a construção de um diagnóstico que julgue a prática à luz do referencial (não deve ser confundido com um levantamento de problemas, mas sim das necessidades da escola e seus sujeitos); 3. programação das ações concretas (definidas as necessidades e a distância 20 entre o real e o ideal, pode-se elaborar a programação, ou seja, as ações concretas a serem realizadas). Concluímos, com a certeza que ação do planejamento participativo na elaboração dos planos/projetos das instituições educativas é uma tarefa complexa, mas necessária, já que buscamos uma educação balizada na construção e/ou transformação de uma sociedade de fato democrática, mais justa, mais humana, e que acolha e respeite as diferenças e a diversidade. Síntese O planejamento participativo é, de fato, uma tendência no campo educacional, visto como um conjunto de propostas de ferramentas de intervenção na realidade. O planejamento participativo não se encerra por definir coletivamente a organização dos conteúdos, mas se refere principalmente à organização coletiva e sistematização dos resultados que pretender buscar, em relação aos seus alunos, às suas realidades sociais, e a partir disto a avaliação detalhada da prática educativa e docente, seja propositiva para práticas alternativas influentes na construção e transformação social. 21 1.4. Considerações Finais Finalizando o Módulo 1, esperamos que você tenha compreendido as concepções em estudo do planejamento educacional, sua conceituação, elementos, modalidades e procedimentos, bem como um breve histórico da educação brasileira no que diz respeito às iniciativas e às ações concretas de planejamento educacional. Discutimos também sobre o planejamento participativo, suas contribuições, bem como sobre as dificuldades e desafios enfrentados para realizá-lo nos espaços educativos. No próximo Módulo, aprofundaremos a discussão sobre a temática projeto político pedagógico, utilizando elementos e aprendizados do Módulo1. Até lá! 22 MÓDULO 2 – Projeto Político Pedagógico MÁRCIA REGINA BARRELLI Disciplina: Construção de Projetos Pedagógicos e Tecnologias Aplicadas à Docência Módulo 2 – Projeto Político Pedagógico– Faculdade Campos Elíseos (FCE) – São Paulo – 2016. Guia de Estudos – Módulo 2– Projeto Político Pedagógico 1.Planejamento participativo 2.Projeto Pedagógico 3.Gestão Democrática Orgs.: Adriana Alves Farias e Cláudia Regina EstevesFaculdade Campos Elíseos 23 Conversa Inicial No segundo módulo, discutiremos sobre projeto político pedagógico e sua materialização expressa no cotidiano das unidades educacionais e espaços educativos, na perspectiva participativa, democrática, coletiva, emancipadora. Iniciaremos por uma revisão de conceitos referentes ao planejamento educacional, refletindo sobre as dimensões indissociáveis do instrumento projeto político pedagógico, as características de inovação reguladora e emancipatória. Finalizaremos revisitando as contribuições da LDBEN 9394/96 para o projeto político pedagógico. Agora com a descrição de toda a trajetória, podemos iniciar a nossa jornada de estudos. Ótimo aprendizado! 24 2. Revisando Conceitos No primeiro módulo aprendemos sobre as concepções e definições da ação de planejar, do planejamento educacional participativo, bem como sobre os elementos e modalidades do planejamento. Caracterizamos o planejamento como uma atividade humana, pela qual são estabelecidos objetivos, metas, fins, a serem alcançados, com estratégias e métodos definidos, cuja principal característica é a flexibilidade, ou seja, possibilita, ação, reflexão, mudanças no percurso e novas tomadas de decisão. Segundo PADILHA, planejamento é processo de busca de equilíbrio entre meios e fins, entre recursos e objetivos, visando ao melhor funcionamento de empresas, instituições, setores de trabalho, organizações grupais e outras atividades humanas. O ato de planejar é sempre processo de reflexão, de tomada de decisão sobre a ação; processo de previsão de necessidades e racionalização de emprego de meios (materiais) e recursos (humanos) disponíveis, visando à concretização de objetivos, em prazos determinados e etapas definidas, a partir dos resultados das avaliações. Reflita sobre a afirmativa relacionando com a temática em estudo e desdobramentos - “...a esse pano de fundo que proponho discutir o planejamento participativo com base na escola, tratando-o como instrumental teórico prático capaz de facilitar a convergência entre o refletir e agir no espaço escolar. Como ferramenta capaz de vitalizar experiências educativas e instituições e de respaldar a construção, com democracia, do projeto político pedagógico da escola. Nessa perspectiva, o planejamento participativo poderá constituir-se num instrumento pedagógico e político mudança. ” ( FALKEMBACH, in Veiga, 1996, p 131) 25 Refletimos também que, em contraposição aos modelos burocratizados de planejamento, que se sustentam na divisão de tarefas, na fragmentação da ação educativa e em concepções de caráter instrumental e técnico do planejamento, a gestão democrática da educação e o planejamento participativo implicam no fortalecimento da gestão e decisões coletivas, assumindo, assim, a função de mediador e articulador do trabalho coletivo na educação. Quanto às definições de plano, projeto, programa, EVANGELISTA, (2010) em seu artigo esclareceu a diferenciação: Plano – é o documento, a materialização do planejamento, o registro da escrita dos elementos e objetivos a serem alcançados. Projeto – do latim projectu, significa lançar para frente uma ideia. O projeto é a menor unidade do planejamento, com fins, objetivos e metas a serem alcançados em função de uma necessidade, um problema. Programa – é um conjunto de projetos, de propostas operacionalizadas, desenvolvidos para o alcance de metas. Esclarecidos estes conceitos e definida desde o módulo 1 qual concepção de planejamento educacional que iremos trilhar e compartilhar – perspectiva democrática, participativa e coletiva -, na sequência da discussão seguiremos com a caracterização do projeto político pedagógico e suas implicações. 26 Síntese Neste item revisamos os conceitos do módulo 1 referentes às definições de planejamento, plano, programa, projeto, ação. Reiteramos que a concepção que vamos seguir é a de planejamento educacional participativo democrático e coletivo, e assim poderemos aprofundar nossa discussão de projeto político pedagógico como instrumento de transformação e mudança nas unidades educacionais brasileiras. 2.1- Projeto Político Pedagógico – Conceito e Dimensões Projeto – do latim projectu, significa lançar para diante. Partindo do sentido etimológico do termo projeto, podemos dizer, que ao construirmos os projetos das unidades educacionais, planejamos o que temos intenção de fazer. Segundo VEIGA (1995, p.12), lançamo-nos para diante, com base no que temos, buscando o possível. É antever um futuro diferente do presente. Nas palavras de Gadotti e Vasconcellos: Todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um estado confortável para arriscar-se, atravessar um período de instabilidade e buscar uma nova estabilidade em função da promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o presente. Um projeto educativo pode ser tomado como promessa frente a determinadas rupturas. As promessas tornam visíveis os campos de ação possível, comprometendo seus atores e autores. (GADOTTI,1994) 27 O projeto político pedagógico é o plano global da instituição. Pode ser entendido como a sistematização, nunca definitiva, de um processo de planejamento participativo, que se aperfeiçoa e se objetiva na caminhada, que define claramente o tipo de ação educativa que se quer realizar, a partir de um posicionamento quanto á sua intencionalidade e de uma leitura da realidade. Trata-se de um importante caminho para a construção da identidade da instituição. É um instrumento teórico metodológico para transformação da realidade. (VASCONCELLOS, 2002) Podemos assim, nessa perspectiva, relembrar das reflexões do módulo 1, quando caracterizamos o ato de planejar como processo de ação reflexão ação sobre a realidade diagnosticada, então o projeto político pedagógico vai além de um simples agrupamento de planos de ensino e atividades diversas. Portanto, projeto não é um documento a ser construído e em seguida arquivado ou encaminhado às autoridades educacionais como prova do cumprimento de tarefas burocráticas. O projeto é processo vivido, é construído e vivenciado em todos os momentos, por todos os envolvidos como o processo educativo da unidade educacional. Para tanto, acredita-se, que o projeto político pedagógico deve se constituir na referência norteadora de todos os aspectos da ação educativa da unidade educacional. Por isso, sua elaboração requer, para ser expressão viva de um projeto coletivo, a participação de todos os que compõem a instituição, mapeando o diagnóstico do que a escola é hoje, e também apontando o que se pretende ser, com organização e sistematização, desencadeando mudanças na direção de uma formação educativa e cultural, de qualidade, para todas as crianças e jovens que frequentam a escola pública e popular. 28 Reflita sobre a afirmativa relacionando com a temática em estudo e desdobramentos - “A implementação de projeto político pedagógico é condição para que se afirme (ou se construa simultaneamente) a identidade da escola, como espaço pedagógico necessário à construção do conhecimento e da cidadania”. (BUSSMANN,. in VEIGA, 1995) Então, com esta ideia de participação, as dimensões do projeto políticopedagógico não se esgotam apenas no conceito da palavra projeto, mas ampliamos nosso debate para o entendimento e discussão destas dimensões (político pedagógica). Podemos elucidar e nos posicionar compreendendo que não se constrói um projeto sem objetivos, sem direção sem intenções; é uma ação orientada pela intencionalidade, tem um sentido explícito, de um compromisso coletivamente firmado ideologicamente, com práticas pedagógicas também escolhidas intencionalmente. Assim, entende-se que as dimensões política pedagógica do projeto são indissociáveis, caminham juntas, pois as escolhas não são neutras. No processo de compreensão das dimensões político e pedagógico do PPP, é preciso considerar dois outros aspectos: • A função social da educação e da escola – a educação numa sociedade cada vez mais excludente, definir a educação e a escola como um espaço de emancipação, de transformação; • A organicidade entre o PPP e os anseios e necessidades da comunidade escolar – o projeto deve propiciar todas a dimensões da vida escolar, não se reduzindo a uma somatória de planos ou sugestões copiadas, e esquecidos nas gavetas ou prateleiras, mas um documento vivo, elaborado, acompanhado, avaliado e repensado. 29 Assim, conforme o documento MEC Projeto Vivencial p.3 3 4“...é na ação pedagógica da escola que se torna possível a efetivação de práticas sociais emancipatórias, da formação de um sujeito social, crítico, solidário, compromissado, criativo, participativo. É nessa ação que se cumpre, se realiza, a intencionalidade orientadora do projeto construído. Compreender essa dialética entre político e pedagógico torna-se imprescindível para que o PPP não se torne um documento pleno de intenções e vazio de ações; de pouco adianta declarar que a finalidade da escola é forma um sujeito critico, criativo, participativo, ou anunciar sua vinculação às teorias críticas se, nas suas práticas pedagógicas cotidianas, perduram estruturas de poder autoritárias, currículos engessados, experiências culturais empobrecidas. ” As colocações até aqui feitas parecem ser suficientes para esclarecer que um projeto político pedagógico, “corretamente” elaborado não traz garantias para que a instituição educativa se transforme repentinamente, num passe de mágica, numa escola de melhor qualidade, mas traz aos seus participantes, a oportunidade de construírem coletivamente o seu caminhar conscientemente, interferindo nos limites e possibilidades, com propostas democráticas, significativas, pensando num processo educativo e de ensino aprendizagem de melhor qualidade, que promova a mudança e que portanto, esteja voltada para a maioria das pessoas. 30 Síntese Aprendemos que projeto, do latim projectu, significa lançar para diante. Projeto político pedagógico é o plano global da instituição, elaborado a partir da perspectiva democrática com a participação de toda a comunidade educativa, ação intencional, que visa a construção do conhecimento e da cidadania, bem como a expressão e efetivação de práticas sociais emancipatórias. 2.1.1- Inovação regulatória e inovação emancipatória Estudamos que o projeto político pedagógico é um instrumento da ação educativa que pode trazer mudanças, inovações, transformações. No entanto, estas mudanças, inovações, nem sempre, são emancipatórias. Inovação regulatória (ou técnica) caracteriza-se por ser mudança instituída formalmente, organizacional, descontextualizada, temporária e parcial, descomprometida com os sujeitos protagonistas envolvidos, desprezando as diferenças, as relações de conflito, de força. Nega a diversidade de interesses, pois é uma ação sem a participação de todos e não compartilham da mesma concepção de homem, de sociedade, de educação. Nesta perspectiva, regulatória, o projeto político pedagógico, pode ser uma novidade, uma inovação, assumido como um instrumento organizacional, quantitativo, de padronização, de controle burocrático, um conjunto de atividades que vão gerar um produto: um documento encadernado, pronto e acabado, elaborado, por tecnocratas, ou por um pequeno grupo da instituição, não coadunando com a concepção de projeto que estudamos e acreditamos: planejamento educacional participativo. 31 Segundo VEIGA, assumir a característica da inovação regulatória, é deixar de lado o processo de produção coletiva, integral, priorizando, por exemplo, inovar para melhorar parcialmente alguns resultados da aprendizagem, da aprendizagem, do laboratório, da biblioteca, voltando-se assim, para um currículo burocratizado, de controle, de cumprimento de metas e índices. Reflita sobre a afirmativa relacionando com a temática em estudo e desdobramentos – inovação regulatória e emancipatória “As ações na escola transformaram-se em procedimentos pulverizados e desconectados. O poder conjunto perde sua força e descaracteriza-se pela fragmentação. Não se discutem ideias, contradições, mas, ao contrário, foge-se dos debates numa preocupação contraditoriamente apasiguadora, visto que essa postura fortalece ou a hostilidade ou a indiferença. ” BUSSMANN, in VEIGA, (1995). Já a inovação emancipatória corresponde com as concepções que estudamos no módulo 1 e neste módulo. O projeto político pedagógico não é um fim em si mesmo, um documento encadernado na gaveta. Na perspectiva emancipatória a inovação e o PPP estão organicamente articulados, integrando-se fins e meios, pautados por processos de ruptura com as normas conservadoras já instituídas, cristalizadas. É de natureza democrática, coletiva, ético social e cognitivo instrumental, visando à eficácia dos processos formativos sob o olhar da ética, referenciada ao contexto social. Baseia-se em processos dialógicos e não impositivos, mobilizando todos os sujeitos envolvidos, protagonizando vozes antes silenciadas, valorizando os diversos tipos de saberes e necessidades, construindo assim a proposta pedagógica educativa significativa para a unidade educacional. 32 Síntese Esclarecemos sobre a inovação regulatória e emancipatória, como características que podem acompanhar o projeto político pedagógico. Diferenciando-as, resumidamente, a primeira está ligada à inovação técnica que o projeto político pedagógico pode representar, considerando este como um documento organizado, pronto e acabado sem a participação de seus atores. Já a segunda refere-se à inovação que o projeto político pedagógico pode oportunizar se for considerado como o plano integral da instituição, elaborado a partir da perspectiva democrática com a participação de todos os sujeitos envolvidos, bem como a expressão e efetivação de práticas sociais transformadoras 2.2. As contribuições da LDB 9394/96 para o PPP Conforme vimos no módulo 1, nos anos de 1990, a democratização da educação e da escola, consistiram em fortes e importantes processos para descentralização do planejamento da educação brasileira, no que se refere à participação, autonomia (pedagógica, administrativa e financeira), gestão democrática, organização curricular, como traz a Constituição de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96. A Constituição de 1998, ao incorporar a gestão democrática da educação como princípio em atendimento aos movimentos sociais intensos à época, garantiu novas formas de organização e administração dos sistemas de ensino, tendo como principal objetivo a universalização do ensino no país. Nosartigos 205 a 210, destinados à Educação, verificamos princípios de igualdade 33 de condições de acesso à educação, liberdade de aprender e ensinar, pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, gratuidade e gestão democrática do ensino público, o que consideramos um grande avanço, no processo de democratização na história do país e na história da educação brasileira, seja no aspecto político pedagógico e social, como no aspecto da gestão financeira. Podemos afirmar assim, que os debates e as reflexões constantes sobre a democratização da escola, e a promulgação da Constituição de 1998, oportunizaram a instituição do princípio da gestão democrática no ensino público, com enfoque na autonomia dos sistemas e instituições, bem como a criação de mecanismos para a participação de diversos segmentos da sociedade e das comunidades locais. Na sequência, como reflexo e produto do processo de democratização, a publicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN 9394/96), expressou a síntese dos debates e exigências sociais e legais dos sistemas de ensino e trouxe com a gestão escolar democrática o fortalecimento do processo pedagógico, como o caminho mais viável para a participação corresponsável de todos os sujeitos, autores e atores, nas decisões da organização coletiva dos projetos das escolas, com vistas à igualdade de condições, respeito ao pluralismo e às diferenças, aos resultados efetivos de qualidade e significativos à emancipação e transformação social. Mais especificamente, relacionado ao projeto político pedagógico, a LDBEN, concedeu às escolas e, consequentemente aos segmentos envolvidos, “progressivos graus de autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira”, “incumbência de elaborar e executar sua proposta pedagógica”, “incumbência de informar os pais e responsáveis sobre a frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre a execução de sua proposta pedagógica”, aos professores “incumbência em participar da elaboração da proposta pedagógica e do projeto pedagógico do estabelecimento de ensino e elaborar e cumprir plano de trabalho estabelecido”. 34 Reflita sobre a afirmativa relacionando com a temática em estudo e desdobramentos - “É preciso fazer um problema do óbvio, daquilo que se forma o cotidiano, como meio de ressaltar, de sentir o mundo mais vivamente e de poder voltar a encontrar o significado daquilo que nos rodeia”. (SACRISTAN, in Veiga 1995) Embora, temos presenciado os avanços e conquistas com processo de democratização balizado também pela promulgação de leis que favoreceram a gestão democrática da educação brasileira, vale ressaltar que a legislação por si só não garante a implantação e implementação de mudanças visando a gestão financeira, administrativa, política e pedagógica. Assim, como afirmam GANDIN e GANDIN (2003) [...] pensam muitos que a lei vai mudar a realidade e transformar escolas em instituições competentes...Pensar e colocar em práticas as inovações propostas pelas determinações legais, requer discussão e cautela. Segundo GANDIN e GANDIN, (2003) convém ressaltar algo muito positivo: o planejamento educacional, produzido na modalidade de projeto político pedagógico, é considerado como ferramenta para implementação de processos pedagógicos. No entanto, é necessária cautela para não incorremos na inovação regulatória, tomando a introdução das novidades da LDBEN 9394/96, legitimadora de um controle tecnicista e burocrático. Mas podemos, sim, com reflexão crítica, utilizar a ferramenta do projeto político pedagógico, como inovação emancipatória, visando o engajamento coletivo rumo às transformações significativas. Concluímos assim, que as considerações e discussões sobre a implantação da LDB, ressaltam que as legislações e prescrições oficiais não se incorporam à escola tal e qual foram pensadas e formuladas, mas são percebidas e interpretadas dentro de uma determinada ordem escolar existente, muitas vezes a partir de praticadas consolidadas, costumes 35 instalados e valores estabelecidos pela sociedade. Conforme MACHADO, que cita Rockwell (1995,p.14) em seu artigo, [...] não se trata simplesmente de que existam algumas práticas que correspondam a normas e outras que se desviam delas. Toda experiência escolar participa nesta dinâmica entre normas oficiais e a realidade cotidiana [...] O conjunto de praticas cotidianas resultantes deste processo é o que constitui o contexto formativo real tanto para professores como para alunos [...]. Síntese No Brasil partir de 1988, com a promulgação da Constituição verifica-se a lógica da descentralização e da gestão democrática. Em decorrência a LDBEN 9394/96, pautada em princípios democráticos, aponta por uma educação de qualidade para todos. Uma das novidades da LDB estudadas neste módulo foi a introdução do projeto político pedagógico, como ferramenta do planejamento educacional participativo, visando maior autonomia às unidades educacionais brasileiras. 36 2.4. Considerações Finais Finalizando o Módulo 2, esperamos que você tenha compreendido as concepções em estudo do projeto político pedagógico, sua conceituação, dimensões e características, bem como as contribuições da LDBEN 9394/96 para o projeto político pedagógico. No próximo Módulo, aprofundaremos a discussão sobre a metodologia de trabalho para a elaboração do projeto político pedagógico, referenciada a uma proposta concreta de planejamento e currículo, que vem sendo construída e vivenciada por coletivos humanos singulares, na perspectiva da gestão democrática, utilizando elementos e aprendizados do Módulo2. Até lá! 37 MÓDULO 3 – Metodologia de trabalho para a elaboração do Projeto Político Pedagógico MÁRCIA REGINA BARRELLI Disciplina: Construção de Projetos Pedagógicos e Tecnologias Aplicadas à Docência Módulo 3 – Metodologia de trabalho para a elaboração do Projeto Político Pedagógico– Faculdade Campos Elíseos (FCE) – São Paulo – 2016. Guia de Estudos – Módulo 3– Metodologia de trabalho para a elaboração do Projeto Político Pedagógico 1. Currículo 2. Projeto Pedagógico 3. Proposta Pedagógica Orgs.: Adriana Alves Farias e Cláudia Regina Esteves Faculdade Campos Elíseos 38 Conversa Inicial No terceiro módulo, discutiremos sobre a metodologia de trabalho para a elaboração do projeto político pedagógico das unidades educacionais e espaços educativos, na perspectiva participativa, democrática, coletiva, emancipadora. Para tanto, utilizaremos o conteúdo aprendido e refletido nos módulos 1 e 2, conceitos referentes ao planejamento educacional participativo, projeto político pedagógico. Durante o percurso do módulo 3 estudaremos os princípios norteadores do projeto político pedagógico, linhas de construção de proposta pedagógica, finalizando nossa reflexão sobre a identidade da escola expressa no currículo. Agora com a descrição de toda a trajetória, podemos iniciar a nossa jornada de estudos. Ótimo aprendizado! 39 3. Princípios norteadores do projeto político pedagógico No primeiro módulo aprendemos sobre as concepções e definições da açãode planejar, do planejamento educacional participativo, bem como sobre os elementos e modalidades do planejamento. Trilhamos o segundo módulo caracterizando o projeto político pedagógico como uma modalidade de planejamento, na perspectiva da gestão democrática, coletiva, como inovação emancipadora. Segundo Vasconcellos: Projeto político pedagógico é um instrumento teórico metodológico que visa ajudar enfrentar os desafios do cotidiano da escola, só que de forma refletida, consciente, sistematizada, orgânica e, o que é essencial, participativa. É uma metodologia de trabalho que possibilita ressignificar a ação de todos os agentes da instituição. (VASCONCELLOS, C.S. 2006, p.143) Esclarecidos estes conceitos e definida desde o módulo 1 qual concepção de planejamento educacional que iríamos trilhar e compartilhar – perspectiva democrática, participativa e coletiva -, seguiremos nossa discussão com a caracterização do projeto político pedagógico e suas implicações, relativos aos princípios norteadores. VEIGA (2002 p.16), cita Saviani, que define quais seriam estes princípios norteadores, que segundo este autor são “os arcabouços para a sua efetivação processual [...] proporcionam ambientes favoráveis ás discussões e debates.” São os princípios: ▪ Igualdade de condições para acesso e permanência na escola – o projeto político pedagógico, expresso na ação educativa, em seu conjunto, pode propiciar, democraticamente a igualdade de condições a todos os atores, ingressantes na escola pública, sujeitos de direitos de nela permanecerem; 40 ▪ Qualidade – aspecto que não privilegia minorias econômicas e sociais. Está associada ao princípio da igualdade, considerando que é do interesse da sociedade que seus cidadãos sejam educados, instruídos e formados, e que esta é a principal função da escola, administrá-la de modo eficiente e eficaz, o desafio do PPP é o de propiciar uma qualidade para todos. Quando assim administrada, a escola oferece condições para a permanência dos que nela ingressarem e o direito à aprendizagem. ▪ Gestão democrática – a gestão democrática constitui-se no princípio de discussão para participação ampla de autores e atores do projeto político pedagógico das unidades educacionais, abrangendo as dimensões pedagógica, administrativa e financeira, implicando no repensar da estrutura de poder da escola, da compreensão em profundidade dos problemas postos pela prática pedagógica, num compromisso e na construção coletiva. ▪ Liberdade- está associada ao princípio da autonomia, à capacidade da escola de delinear sua própria identidade, possibilitando as escolhas do projeto político pedagógico. Estas escolhas envolvem as dimensões políticas, administrativas e pedagógicas, evidenciando a escola que temos e a escola que queremos. A ideia de autonomia está ligada à concepção emancipadora da educação. ▪ Valorização do magistério – princípio central na discussão do PPP. Pois a formação continuada dos profissionais da escola, compromissada com construção do PPP, não deve limitar-se aos conteúdos curriculares, mas se estender à discussão da escola como um todo e suas relações com a sociedade. 41 Reflita sobre a afirmativa relacionando com princípios norteadores do projeto político pedagógico - “O planejamento dialógico é alternativa porque, com a ampliação da comunicação pelo diálogo coletivo e interativo desde a formulação das questões relacionadas, por exemplo, às questões orçamentárias, pedagógicas ou administrativas das escolas e das políticas públicas educacionais, vai acontecendo num processo de participação, de envolvimento [...] É essa a grande vantagem do planejamento dialógico, organizado, democraticamente sistematizado e voltado para o respeito à autonomia dos sujeitos partícipes do processo.” (PADILHA, P.R. 2002, p.26) Seguindo, podemos perceber que a construção do projeto político pedagógico, na perspectiva dos princípios norteadores acima arrolados – igualdade de condições de acesso e permanência, qualidade, gestão democrática, liberdade, valorização do magistério -, fundamentam-se nos mesmos princípios que balizam a escola pública e democrática, de qualidade. No documento, MEC Escola de gestores - projeto político pedagógico: dimensões conceituais – Projeto vivencial, o autor Gimeno Sacristan é citado, ao discutir um projeto de escola pública da modernidade, destacando, seus objetivos e finalidades (SACRISTAN, 2001,p.24): ▪ Fundamentação da democracia ▪ Estímulo ao desenvolvimento da personalidade do sujeito ▪ Difusão e incremento do conhecimento e da cultura em geral ▪ Inserção dos sujeitos no mundo ▪ Custódia, cuidado dos mais jovens Assim, podemos dizer que os princípios norteadores somados aos objetivos e finalidades apontadas por Sacristan, se relacionam e se condicionam, evidenciando inclusive nossas concepções de planejamento educacional participativo e projeto político pedagógico, pois expressam uma 42 crença numa educação democrática, que inclui sujeitos, que transforma, emancipa, através do cuidado, do desenvolvimento e difusão de conhecimento e de cultura, com liberdade, participação, autonomia. Trata-se de aprender para conhecer e transformar o mundo em que se vive. [...] aluno aprende apenas quando se torna sujeito de sua aprendizagem. E para ele tornar-se sujeito de sua aprendizagem ele precisa participar das decisões que dizem respeito ao projeto de escola que faz parte também do seu projeto de vida. Não há educação e aprendizagem sem sujeito da educação e da aprendizagem. A participação pertence à própria natureza do ato pedagógico. (GADOTTI, 2000, p.36) Síntese Neste item refletimos sobre os princípios norteadores do projeto político pedagógico. São eles: - igualdade de condições de acesso e permanência, qualidade, gestão democrática, liberdade, valorização do magistério. E também sobre os objetivos e finalidades da escola públicas propostos por Sacristan: fundamentação da democracia, estímulo ao desenvolvimento da personalidade do sujeito, difusão e incremento do conhecimento e da cultura em geral, inserção dos sujeitos no mundo e custódia, cuidado dos mais jovens. 43 3.1- Construção do Projeto Político Pedagógico Retomando o módulo 1, e, portanto, seguindo a crença que o planejamento participativo é a ferramenta mais eficaz, dentro da lógica da gestão democrática, na construção de ideais coletivos em escolas e outros espaços educativos, GANDIN, e GANDIN, (2003) L., apresentam a proposta de três momentos distintos, porém integrados, na elaboração do plano/projeto: 1. a indicação de um horizonte ou referencial (definição de um ideal social e educacional, onde o coletivo quer chegar, ações voltadas numa mesma direção); 2. a construção de um diagnóstico que julgue a prática à luz do referencial (não deve ser confundido com um levantamento de problemas, mas sim das necessidades da escola e seus sujeitos); 3. programação das ações concretas (definidas as necessidades e a distância entre o real e o ideal, pode- se elaborar a programação, ou seja, as ações concretas a serem realizadas). A adoção da metodologia condizente aos fins que se deseja alcançar é critério essencial para o êxito do projeto político pedagógico. A legitimidade e racionalidade do projeto político pedagógico vinculam-se à metodologia usada na sua construção. São variados os caminhos da elaboração e implementação do projeto político pedagógico da escola.Nós escolhemos trilhar nossos estudos no âmbito do planejamento dialógico/participativo, então princípio metodológico a formulação de perguntas e questionamentos para problematizar a realidade, como proposta de trabalho na elaboração do projeto. 44 3.1.1- Elementos do Projeto Político Pedagógico Acolhendo as propostas de GANDIN e GANDIN,(2003) quando inicia-se o processo de construção coletiva do projeto político pedagógico, indica-se um marco referencial – a escola que queremos -, e durante esta indicação o grupo de atores e autores o projeto da escola vão levantando o diagnóstico e as necessidades, definindo as ações para alcançar onde se quer chegar. E neste processo de construção e organização do trabalho pedagógico da escola, entendido, então, como o próprio projeto político pedagógico, apontam-se elementos básicos constitutivos, segundo VEIGA (2002, p.22): ▪ Finalidades da escola – há necessidade de se refletir sobre a ação educativa que a escola desenvolve com base nas finalidades e objetivos definidos no coletivo. As finalidades podem ser de cunho social, político, cultural, humanístico. ▪ Estrutura organizacional – compreende a estrutura administrativa e pedagógica. A estrutura administrativa refere-se a gestão de recursos humanos, físicos e financeiros. Equipamentos, prédio escolar, distribuição das dependências, todas as instalações físicas, caracterização local. A estrutura pedagógica envolve todos os aspectos que referem às ações educativa e do ensino aprendizagem. ▪ Currículo – é um importante elemento constitutivo do projeto político pedagógico, e implica, a interação entre os sujeitos do processo educativo, pressupondo a produção, a transmissão e assimilação de conhecimentos historicamente produzidos. Em uma determinada concepção o currículo, pode se referir à organização do conhecimento escolar, mas não é uma mera simplificação de rol de conteúdos. O 45 currículo não é um instrumento neutro, expressa uma ideologia, uma cultura, não pode ser separado do contexto social. No próximo item ▪ vamos discutir mais sobre a identidade da escola quando expressamos o currículo “escolhido” com o projeto político pedagógico, lembrando aqui, que balizamos nosso estudo de planejamento e de projeto político pedagógico na inovação emancipatória, então, portanto, o currículo definido terá papel fundamental para contestar, resistir e transformar. ▪ Tempo escolar – calendário escolar, horário escolar, são exemplos que levam à compartimentalização do tempo. É importante que os educadores percebam e criem novos espaços e tempos para conhecerem melhor seus estudantes como e o que estão aprendendo, quais as dificuldades e necessidades. Exemplos: espaços e projetos extra, além dos horários de aula já previstos. ▪ Processo de decisão – criação e previsão de mecanismos de participação de todos os envolvidos no processo educativo, avaliando e acompanhando, assim, o projeto político pedagógico. Exemplos destes mecanismos, como já vimos no módulo 1: colegiados, conselhos de escola, grêmios, associações, equipes de trabalho. ▪ Relações de trabalho – baseadas em princípios democráticos, assim também será a construção do projeto político pedagógico, com atitudes de participação coletiva e dialógica, de solidariedade, reciprocidade, de descentralização do poder, articulando práticas emancipatórias. ▪ Avaliação – a avaliação neste contexto, compreende as contradições e os conflitos. Envolve três momentos: a descrição e da problematização da realidade, a compreensão crítica desta realidade, e a proposta de ações coletivas, a serem constantemente avaliadas e retomadas, para um novo processo de tomadas de decisões. É o exercício: AÇÃO – REFLEXÃO - AÇÃO. 46 Síntese Aprendemos neste item - marco referencial - a escola que queremos -, e durante esta indicação o grupo de atores e autores o projeto da escola vão levantando o diagnóstico e as necessidades, definindo as ações para alcançar onde se quer chegar. Começamos a delinear uma estrutura de projeto político pedagógico ao conhecermos os elementos constitutivos do projeto, segundo VEIGA (2002, p.22): - finalidades da escola - estrutura organizacional - currículo - tempo escolar - processo de decisão - relações de trabalho - avaliação Reflita sobre as questões: O projeto político pedagógico é um modismo, um antídoto, ou uma ação necessária para uma educação de qualidade? Em que direção caminhar para provocar a construção coletiva de um projeto político pedagógico capaz de atender de um lado às necessidades dos alunos e de outro a escolha dos conteúdos e à mediação do saber? 47 É importante destacar no âmbito do planejamento dialógico/participativo é necessário explicitar as articulações entre os diversos tipos de planos (plano de trabalho docente, plano de curso, plano de disciplina, plano de aula, plano de ensino, plano curricular), conceitos que aprendemos do módulo 1, tendo como eixo norteador o projeto político pedagógico. Nessa mesma perspectiva as instâncias colegiadas (conselho de escola, conselhos de séries, ciclos ou classes, grêmio estudantil e associações de pais e mestres) também comportam seus respectivos planos de trabalho cujas metas e objetivos são frutos da análise da realidade escolar e do campo de atuação de cada segmento. Destacamos, mais uma vez, que o projeto político pedagógico deve ser a referência para a reflexão e ação de todas essas instâncias colegiadas. Não pretendemos aqui estudar e apresentar receitas e modelos de projetos, nem mesmo de esgotar o assunto sobre a metodologia de elaboração do projeto político pedagógico, mas acreditamos que durante nossa jornada de estudos durante os módulos 1, 2 e este em questão, fica evidente nossa preocupação em provocar reflexões no sentido da prática democrática, participativa, dialógica, coletiva na construção dos projetos das escolas públicas de qualidade. Apresentamos em seguida, de forma sucinta, como sugestão a ser discutida e refletida, uma proposta de organização, com componentes fundamentais de projeto político pedagógico baseada em PADILHA, 2003 p.90: 1. Identificação do projeto – nome do projeto, identificação geral da escola, período de duração do projeto (ano letivo, por exemplo), número de alunos, professores, funcionários, caracterização da escola, localização situação física da escola, recursos humanos e materiais, gestão da escola. 2. Histórico e justificativa – registrar as articulações entre os segmentos escolares, incluindo a síntese do marco referencial – diagnóstico, a escola que temos e a escola que queremos. 48 3. Objetivos gerais e específicos – o que se pretende alcançar em linhas gerais, ao sistema de ensino que a escola está ligada, e os específicos em cada plano de cada segmento e modalidades de plano. O desdobramento do objetivo em geral em específico traduz-se na definição da proposta curricular. 4. Metas – mais concretas que os objetivos, devem ser quantificadas e detalhadas (onde e quando vai ocorrer a ação). As metas devem ser enumeradas em consonância com as atividades que serão desenvolvidas durante a execução do projeto. 5. Desenvolvimento metodológico e Recursos – escolha de estratégias de ação e previsão da disponibilidade de recursos físicos, materiais, humanos e financeiros. 6. Cronograma- previsão da distribuição ordenadadas ações cronologicamente. 7. Avaliação- momentos de verificação da concretização parcial e total dos objetivos e metas, com previsão dos instrumentos de avaliação. 8. Conclusão- o projeto político pedagógico deverá oferecer elementos para discussão, elaboração e divulgação do Regimento Escolar ou Regimento Educacional, onde estará disposto todas as decisões dos segmentos participantes do processo educativo em relação à atribuições e competências administrativas e pedagógicas da escola. 49 Reflita sobre as questões: A escola por meio de seu projeto político pedagógico pode mobilizar forças para processos qualitativos. É nessa perspectiva que fazem sentido problematizações como - quais finalidades da escola? - que cidadãos queremos formar? - que sociedade queremos construir? - quais conhecimentos, quais escolhas curriculares? - como mobilizar e efetivar a participação do coletivo? - e a sistemática de avaliação e retomada do projeto? Sem dúvida, o processo de planejamento, de estruturar e organizar o projeto político pedagógico é complexo. Não é banalizando esta complexidade que resolveremos os grandes desafios colocados aos educadores. No entanto, como já falamos o projeto político pedagógico é uma potente ferramenta de transformação da realidade educacional, ou seja, é uma mediação que ajuda organizar e estabelecer o desejado e o vivido, diminuindo esta distância. Fechamos este item com a citação de Vasconcellos, para reflexão: “O grande potencial transformador do Planejamento Participativo está em articular os vários níveis de reflexão (para onde queremos ir, onde estamos e o que fazer para chegar lá) e em oferecer estes instrumentos de passagem do desejado - Marco Referencial – à Realidade: o Diagnóstico e a Programação.” (2006, p.49) 50 Síntese Apresentamos neste item uma sugestão de proposta de organização de projeto político pedagógico, segundo Padilha. São os componentes desta proposta: - identificação do projeto - histórico e justificativa - objetivos gerais e específicos ( proposta curricular ) - metas - desenvolvimento metodológico e recursos - cronograma - avaliação - conclusão 3. 2. A Identidade da Escola e o Currículo Estudamos que o projeto político pedagógico é um instrumento da ação educativa que pode trazer mudanças, inovações, transformações. No entanto, estas mudanças, inovações, nem sempre, são emancipatórias. Inovação regulatória (ou técnica) caracteriza-se por ser mudança instituída formalmente, organizacional, descontextualizada, temporária e parcial, descomprometida com os sujeitos protagonistas envolvidos, desprezando as diferenças, as relações de conflito, de força. Nega a diversidade de interesses, pois é uma ação sem a participação de todos e não compartilham da mesma concepção de homem, de sociedade, de educação. 51 Nesta perspectiva, regulatória, o projeto político pedagógico, pode ser uma novidade, uma inovação, assumido como um instrumento organizacional, quantitativo, de padronização, de controle burocrático, um conjunto de atividades que vão gerar um produto: um documento encadernado, pronto e acabado, elaborado, por tecnocratas, ou por um pequeno grupo da instituição, não coadunando com a concepção de projeto que estudamos e acreditamos: planejamento educacional participativo. Já a inovação emancipatória corresponde com as concepções que estudamos no módulo 1 e neste módulo. O projeto político pedagógico não é um fim em si mesmo, um documento encadernado na gaveta. Na perspectiva emancipatória a inovação e o PPP estão organicamente articulados, integrando-se fins e meios, pautados por processos de ruptura com as normas conservadoras já instituídas, cristalizadas. É de natureza democrática, coletiva, ético social e cognitivo instrumental, visando à eficácia dos processos formativos sob o olhar da ética, referenciada ao contexto social. Baseia-se em processos dialógicos e não impositivos, mobilizando todos os sujeitos envolvidos, protagonizando vozes antes silenciadas, valorizando os diversos tipos de saberes e necessidades, construindo assim a proposta pedagógica educativa significativa para a unidade educacional. Então, um projeto político pedagógico baseado em princípios democráticos, como inovação emancipatória, expressará uma identidade de escola através de sua proposta, coerente, cumprindo sua função social de propiciar a efetiva aprendizagem e desenvolvimento por parte de todos os alunos. 52 Reflita sobre a afirmativa relacionando com a temática em estudo e desdobramentos. “ A escola coloca-se como agenciadora do saber; no entanto, o processo de aquisição desse saber pode se dar tanto de maneira opressiva, tendo como centro a indisciplina do aluno suas possíveis limitações individuais e sociais como, também, centrar-se na concepção transformadora, dialógica e, neste caso, o aluno deixa de ser domesticado para assumir o importante papel de autor de sua história.” (RESENDE, in VEIGA, 2002 p. 73) Toda escola deve ter uma alma, uma identidade, uma qualidade que a faz ser única para todos que nela passam uma parte de suas vidas...Esse vínculo cognitivo e afetivo deve ser construído a partir das vivências propiciadas a toda a comunidade escolar. Já vimos e discutimos que o projeto político pedagógico, em construção coletiva, dialógica e participativa deve contribuir para criar ou fortalecer a identidade da escola. A comunidade escolar deve levantar: ▪ as características atuais da escola; ▪ suas limitações e possibilidades; ▪ os seus elementos identificadores; ▪ a imagem que se quer construir quanto a seu papel na comunidade em que está inserida. Ao delinear o horizonte, onde se quer chegar – o desejo, o coletivo da escola, elabora, entre outros elementos constitutivos do projeto político pedagógico, a Proposta Pedagógica, que vai englobar o conjunto de experiências e práticas pedagógicas educativas, que convencionaremos chamar de Currículo, salvo melhores ou diferentes definições, já que o conceito de currículo não é de simples formulação. Tomaz Tadeu da Silva, em sua obra Documentos de identidade – uma introdução às teorias do currículo -, percorre este árduo caminho de definição de currículo, e revela logo na introdução que “ 53 ...a questão central que serve de pano de fundo para qualquer teoria do currículo é a de saber qual conhecimento deve ser ensinado. De uma forma mais sintética questão central é: o quê? Para responder a essa questão as diferentes teorias podem recorrer a discussões sobre a natureza humana, sobre a natureza da aprendizagem ou sobre a natureza do conhecimento, da cultura e da sociedade...” (Silva, 1999, p.14). Entretanto, salientamos que a questão básica do currículo: o que os alunos devem saber? Qual o conhecimento deverá fazer parte do currículo? Percebemos então, o momento e os critérios das escolhas, que não serão neutros, e se relacionarão com as concepções e necessidades da sociedade e da comunidade, das relações de poder, das contradições, das tensões, dos conflitos, dos autores e atores do processo educativo, e todo o envolvimento na discussão e engajamento com projeto político pedagógico com vistas à emancipação. Vale ressaltar que nas discussões cotidianas, quando pensamos em currículo, não podemos pensar apenas em conhecimento, pois currículo
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