Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

Obras Literárias – UFPR 
AULA 01 
POEMAS ESCOLHIDOS DE GREGÓRIO DE MATOS 
(Seleção de José Miguel Wisnik) 
O PERÍODO BARROCO 
Século 17: o homem em conflito 
Nos séculos 15 e 16, a mentalidade mais liberal 
da filosofia pagã, proposta pelo Renascimento, que 
cultuava o corpo e o prazer, entrou em choque com os 
rígidos princípios cristãos da ascese, da penitência e da 
fuga dos prazeres da carne. 
Para combater o “paganismo” que estava 
invadindo seus domínios, a Igreja contrarreformista 
prega uma religião que incute o medo do castigo divino, 
a insegurança quanto à salvação eterna, o terror das 
torturas infernais, a imagem de um Deus cruel e 
vingativo. O homem da época se sente inseguro, 
temeroso, em dúvida. 
É então que, no século 17 surge, nas artes 
plásticas e na literatura, o movimento Barroco, 
intérprete dos anseios desse homem seiscentista, 
solicitado simultaneamente por ideais pagãos e cristãos 
em conflito. 
Cultismo e Conceptismo são as duas 
coordenadas fundamentais da literatura barroca das 
quais derivam sua temática e seus processos técnicos e 
expressivos. 
Dificilmente distinguíveis um do outro, o Cultismo 
se refere principalmente ao som e à forma do texto 
levando a fantasia a buscar sensações físicas e 
imagens. O Conceptismo se apoia sobretudo no 
significado da palavra, no jogo de vocábulos e de 
raciocínio, nas sutilezas e associações das ideias. 
A partir desses pressupostos temáticos e 
técnicos, temos como características principais do Estilo 
de Época Barroco: 
1. A tentativa de conciliar opostos, incorporando 
contrários como espírito e matéria, pecado e 
virtude; utilizando-se de uma linguagem rebuscada 
com emprego intenso de anáforas, anacolutos, 
antíteses e paradoxos. Exemplo: 
 
Ó caos confuso, labirinto horrendo, 
Onde não topo luz, nem fio amando, 
Lugar de glória, aonde estou penando, 
Casa da morte aonde estou vivendo! 
 
Ó voz sem distinção, Babel tremendo, 
Pesada fantasia, sono brando, 
Onde o mesmo, que toco, estou sonhando, 
Onde o próprio, que escuto, não entendo! 
 
Sempre és certeza, nunca desengano, 
E a ambas propensões, com igualdade 
No bem te não penetro, nem no dano. 
 
És ciúme martírio da vontade, 
Verdadeiro tormento para engano, 
E cega presunção para verdade. 
2. A religiosidade (sentimento do exílio e da brevidade 
da vida, desengano do mundo, terror do inferno, 
ânsias do céu): frustração, sentimento trágico da 
existência. Exemplo: 
Que és terra Homem, e em terra há de tornar-te, 
Te lembra hoje Deus por sua Igreja, 
De pó te faz espelho, em que se veja 
A vil matéria, de que quis formar-te. 
 
Lembra-te Deus, que és pó para humilhar-te, 
E como o teu baixel sempre fraqueja 
Nos mares da vaidade, onde peleja, 
Te põe à vista a terra onde salvar-te. 
 
Alerta, alerta pois, que o vento berra, 
E se assopra a vaidade, e incha o pano, 
Na proa a terra tens, amaina e ferra. 
 
Todo o lenho mortal, baixel humano 
Se busca a salvação, tome hoje terra, 
Que a terra é porto soberano. 
3. Heroísmo, gosto de cenas e descrições horripilantes; 
a linguagem é pomposa, exagerada, expressando 
gosto pela grandiosidade com emprego de 
hipérboles, metáforas, metonímias e elipses. 
Exemplo: 
Suspende o curso, oh Rio, retorcido, 
Tu, que vens a morrer, adonde eu morro, 
Enquanto contra amor me dá socorro, 
Algum divertimento, algum olvido. 
 
Não corras lisonjeiro, e divertido, 
 Obras Literárias – UFPR 
Quando em fogo de amor a ti recorro, 
E quando o mesmo incêndio, em que me torro, 
Teu vizinho cristal já tem vertido. 
 
Pois já meu pranto inunda teus escolhos, 
Não corras, não te alegres, não te rias, 
Nem prateies verdores, cinge abrolhos. 
 
Que não é bom, que tuas águas frias, 
Sendo o pranto chorado por meus olhos, 
Tenham que rir em minhas agonias. 
4. O sensorialismo: busca-se o efeito sugestivo de 
fortes impressões sensoriais (procurando 
impressionar a vista, o ouvido, o tato, o olfato, o 
palato) com emprego de aliterações, assonâncias e 
onomatopeias. Exemplo: 
Discreta, e formosíssima Maria, 
Enquanto estamos vendo claramente 
Na vossa ardente vista o sol ardente, 
E na rosada face a aurora fria: 
 
Enquanto pois produz, enquanto cria 
Essa esfera gentil, mina excelente 
No cabelo o metal mais reluzente, 
E na boca a mais fina pedraria: 
 
Gozai, gozai da flor da formosura, 
Antes que o frio da madura idade 
Tronco deixe despido, o que é verdura. 
 
Que passado o zênite da mocidade, 
Sem a noite encontrar da sepultura, 
É cada dia ocaso da beldade. 
 
 
O AUTOR 
Gregório de Matos Guerra foi o primeiro grande 
poeta brasileiro. Filho de família rica, nasceu na Bahia 
em 1636/1633 (?) e, depois dos primeiros estudos em 
Salvador, foi para Coimbra, Portugal, onde se formou 
em Direito aos 25 anos. Casou-se e ficou por lá até os 
45 anos, quando enviuvou e retornou ao Brasil. 
Boêmio e irreverente, passou anos cantando e 
improvisando versos líricos, eróticos e satíricos. 
Debochava de todos, principalmente das pessoas 
importantes. Depois de um exílio em Angola, na África, 
voltou e se estabeleceu em Pernambuco, onde morreu 
com aproximadamente 60 anos. 
Assim ele se apresentava: 
Eu sou aquele que os passados anos 
Cantei na minha lira maldizente 
Torpezas do Brasil, vícios e enganos. 
 
De que pode servir calar, quem cala, 
Nunca se há de falar, o que se sente? 
Sempre se há de sentir, o que se fala! 
 
Qual homem pode haver tão paciente, 
Que vendo o triste estado da Bahia, 
Não chore, não suspire e não lamente? 
 
A ignorância dos homens destas eras 
Sisudos faz ser uns, outros prudentes, 
Que a mudez canoniza bestas feras. 
 
Há bons, por não poder ser insolentes, 
Outros) há comedidos de medrosos, 
Não mordem outros não, por não ter dentes. 
 
Todos somos ruins, todos perversos, 
Só nos distingue o vício, e a virtude, 
De que uns são comensais, outros adversos. 
A OBRA 
Gregório de Matos teve sua poesia dividida pelos 
historiadores em três blocos temáticos: 
 a) Poesia religiosa e filosófica, em que atende aos 
apelos de ordem moral e religiosa da 
Contrarreforma. São textos em que manifesta os 
conflitos entre espírito e matéria, pecado e virtude, 
próprios da natureza humana e a consciência da 
brevidade da vida; são expressões do 
arrependimento por ter pecado, os pedidos de 
perdão e as promessas de se corrigir. Exemplo: 
BUSCANDO A CRISTO 
A vós correndo vou, braços sagrados, 
Nessa crua sacrossanta descobertos, 
Que para receber-me, estais abertos, 
E, por não castigar-me, estais cravados. 
 
A vós, divinos olhos, eclipsados 
De tanto sangue e lágrimas abertos, 
Pois, para perdoar-me, estais despertos, 
E, por não condenar-me, estais fechados. 
 
A vós, pregados pés, por não deixar-me, 
A vós, sangue vertido, para ungir-me, 
A vós, cabeça baixa, pra chamar-me. 
 
A vós, lado patente, quero unir-me, 
A vós, cravos preciosos, quero atar-me, 
 Obras Literárias – UFPR 
Para ficar unido, atado e firme. 
b) poesia lírica e amorosa, pela qual o poeta, com 
malícia, sensualismo e erotismo, pratica o lema 
pagão do “carpe diem”. Nessa poesia defende a 
necessidade de se gozar a vida intensamente 
enquanto é tempo. Observe, no poema a seguir, de 
um lado, o emprego de muitos dos recursos do 
estilo barroco; de outro, a contradição entre a 
Beleza e a perdição que ela provoca, entre a 
mulher que é um anjo, mas causa infelicidade: 
Não vira em minha vida a formosura, 
Ouvia falar nela cada dia, 
E ouvida me incitava, e memovia 
A querer ver tão bela arquitetura. 
 
Ontem a vi por minha desventura 
Na cara, no bom ar, na galhardia 
De uma mulher, que em Anjo se mentia, 
De um Sol, que se trajava em criatura: 
 
Matem-me, disse eu, vendo abrasar-me, 
Se esta a cousa não é, que encarecer-me 
Sabia o mundo, e tanto exagerar-me. 
 
Olhos meus, disse então por defender-me, 
Se a beleza heis de ver para matar-me, 
Antes, olhos, cegueis, do que eu perder-me. 
c) Poesia satírica, através da qual ele satiriza tudo e 
todos, debochando das pessoas, denunciando os 
desmandos dos poderosos e do clero e colocando 
diante do público as barbaridades sociais, 
religiosas e administrativas do Brasil Colônia. Por 
causa deste espírito crítico, irreverente e satírico, 
Gregório de Matos foi chamado de Boca do Inferno. 
Exemplo: 
Neste mundo é mais rico o que mais rapa: 
Quem mais limpo se faz tem mais carepa; 
Com sua língua, ao nobre o vil decepa: 
O velhaco maior sempre tem capa. 
 
Mostra o patife da nobreza o mapa: 
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa; 
Quem menos falar pode, mais increpa: 
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa. 
 
A flor baixa se inculca por tulipa; 
Bengala hoje na mão, ontem garlopa: 
Mais isento se mostra o que mais chupa. 
 
Para a tropa do trapo vazo a tripa, 
E mais não digo, porque a Musa topa 
Em apa, epa, ipa opa, upa. 
ESTUDO CRÍTICO 
Poesia satírica: social e política 
Gregório de Matos foi uma das primeiras vozes a 
se elevar contra os desmandos administrativos, a 
corrupção e a opressão dos governantes para cá 
enviados pela metrópole. Se os cronistas, com o louvor 
da terra, plantaram a semente do nativismo, Gregório de 
Matos, com suas sátiras foi o primeiro a mostrar que 
amar a terra natal é também denunciar os que a 
exploram e empobrecem. 
Seus poemas já revelam um tom de brasilidade, 
através dos contrastes que estabelece entre o 
misticismo e o erotismo, e na linguagem melancólica 
que ele utiliza: ele é o melhor exemplo do conflito entre 
a sujeição e a rebeldia que conviviam nas letras dos 
escritores coloniais. 
Gregório de Matos afastou-se mais da cultura 
europeia que alguns poetas românticos, simbolistas e 
parnasianos, surgidos dois séculos depois. Observe o 
humor, a malícia e a sagacidade nos seguintes 
exemplos a seguir da poesia satírica de Gregório de 
Matos. 
O poeta destila sua raiva e revolta contra a cidade 
e seus habitantes, que o rejeitaram, o levaram à prisão 
e o exilaram por um ano: 
DESPEDE-SE O POETA DA BAHIA, QUANDO FOI 
DEGREDADO PARA ANGOLA 
Adeus, praia; adeus, cidade, 
E agora me deverás, 
Velhaca, dar eu a Deus 
A quem devo ao demo dar. 
(...) 
 
E tu, cidade, és tão vil, 
Que o que em ti quiser campar, 
Não tem mais do que meter-se 
A magano, e campará. 
(...) 
Que os brasileiros são bestas 
E estarão a trabalhar 
Toda a vida por manterem 
Maganos de Portugal 
(...) 
No Brasil a fidalguia 
Do bom sangue nunca está, 
Nem no bom procedimento: 
Pois logo em que pode estar? 
 
Consiste em muito dinheiro, 
E consiste em o guardar, 
Cada um a guardar bem, 
Para ter que gastar mal. 
 Obras Literárias – UFPR 
O poeta denuncia a ignorância e a devassidão 
dos religiosos: 
Aos padres 
A nossa Sé da Bahia, 
Com ser um mapa de festas, 
É um presepe de bestas 
Se não for estrebaria. 
 
Epílogos 
7 
E nos frades há manqueiras?....... Freiras. 
Em que ocupam os serões? ......... Sermões. 
Não se ocupam em disputas?....... Putas. 
 
Com palavras dissolutas 
Me concluís, na verdade, 
Que as lidas todas de um Frade 
São freiras, sermões, e putas. 
O poeta debocha das características físicas do 
Governador: o cabelo seboso, a sobrancelha de 
vassoura, a boca e o nariz enormes, a corcunda de 
camelo, as partes íntimas sujas e fedorentas, etc.: 
AO GOVERNADOR ANTÔNIO LUÍS DA CÂMARA 
COUTINHO 
Nariz de embono 
Com tal sacada 
Que entra na escada 
Duas horas primeiro que seu dono. 
O poeta ironiza o grande número e a 
incompetência dos funcionários, os fuxiqueiros, os 
negros arrogantes e malandros que espezinham os 
verdadeiros nobres, e a roubalheira generalizada: 
DESCREVE O QUE ERA NAQUELE TEMPO A 
CIDADE DA BAHIA 
A cada canto um grande conselheiro, 
Que nos quer governar cabana e vinha; 
Não sabem governar sua cozinha, 
E podem governar o mundo inteiro. 
 
Em cada porta um bem frequente olheiro, 
Que a vida do vizinho e da vizinha 
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha, 
Para o levar à praça e ao terreiro. 
 
Muitos mulatos desavergonhados, 
Trazidos sob os pés os homens nobres, 
Posta nas palmas toda a picardia, 
 
Estupendas usuras nos mercados, 
Todos os que não furtam muito pobres: 
E eis aqui a cidade da Bahia. 
O poeta comenta e critica a decadência da 
colônia provocada pela exploração econômica exercida 
pelos comerciantes portugueses e incentivada pela 
metrópole: 
TRISTE BAHIA 
Triste Bahia! Ó quão dessemelhante 
Estás e estou do nosso antigo estado! 
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado, 
Rica te vi eu já, tu a mi abundante. 
 
A ti trocou-te a máquina mercante, 
Que em tua larga barra tem entrado, 
A mim foi-me trocando, e tem trocado, 
Tanto negócio e tanto negociante. 
 
Deste em dar tanto açúcar excelente 
Pelas drogas inúteis, que abelhuda 
Simples aceitas do sagaz Brichote. 
 
Oh se quisera Deus que de repente 
Um dia amanheceras tão sisuda 
Que fora de algodão o teu capote! 
 
O poeta desmascara a roubalheira e a 
degradação moral: 
DEFINE SUA CIDADE 
1 
Recopilou-se o direito, 
e quem o recopilou 
com dois ff o explicou 
por estar feito e bem feito: 
por bem digesto, e colheito, 
só com dois ff o expõe, 
e assim quem os olhos põe 
no trato, que aqui se encerra, 
há de dizer que esta terra 
de dois ff se compõe. 
 
2 
Se de dois ff composta 
está a nossa Bahia, 
errada a ortografia a grande dano está posta: 
eu quero fazer aposta, 
e quero um tostão perder, 
que isso a há de perverter, 
se o furtar e o foder bem 
não são os ff que tem 
esta cidade a meu ver. 
 
 Obras Literárias – UFPR 
3 
Provo a conjetura já 
prontamente com um brinco: 
Bahia tem letras cinco 
que são BAHIA, 
logo ninguém me dirá 
que dous ff chega a ter, 
pois nenhum contém sequer, 
salvo se em boa verdade 
são os ff da cidade 
um furtar outro foder. 
Utilizando inúmeros vocábulos indígenas, 
monossílabos e oxítonas, o poeta satiriza o “fidalgo 
caramuru” tipo mestiço que se dá ares de nobreza: 
AOS PRINCIPAIS DA BAHIA CHAMADOS OS 
CARAMURUS 
Um paia de Monai, bonzo bramá 
Primaz da cafraria do Pegu, 
Quem sem ser do Pequim, por ser do Acu, 
Quer ser filho do sol, nascendo cá. 
 
Tenha embora um avô nascido lá, 
Cá tem três pela costa do Cairu, 
E o principal se diz Paraguaçu, 
Descendente este tal de um Guinamá. 
 
Que é fidalgo nos ossos cremos nós, 
Pois nisso consistia o mor brasão 
Daqueles que comiam seus avós. 
 
E como isto lhe vem por geração, 
Tem tomado por timbre em seus teirós 
Morder os que provêm de outra nação. 
 
Poesia amorosa: lírica e erótica 
Lamento pela morte de uma pessoa querida: 
Alma ditosa, que na empírea corte 
Pisando estrelas vais de sol vestida, 
Alegres com te ver fomos na vida, 
Tristes com te perder somos na morte. 
 
Rosa encarnada, que por dura sorte 
Sem tempo do rosal foste colhida, 
Inda que melhoraste na partida, 
Não sofre, quem te amou, pena tão forte. 
 
Não sei, como tão cedo te partiste 
Da triste Mãe, que tanto contentaste,Pois partindo-te, a alma me partiste. 
 
Oh que cruel comigo te mostraste! 
Pois quando a maior glória te subiste, 
Então na maior pena me deixaste. 
Sonho erótico com a mulher desejada: 
Ai, Custódia! Sonhei, não sei se o diga: 
Sonhei que entre meus braços vos gozava. 
Oh se verdade fosse o que sonhava! 
Mas não permite Amor que eu tal consiga! 
 
O que anda no cuidado, e dá fadiga, 
Entre sonhos Amor representava 
No teatro da noite que apartava 
A alma dos sentidos, doce liga. 
 
Acordei eu, e feito sentinela 
De toda a cama pus-me uma peçonha, 
Vendo-me só sem vós, e em tal mazela. 
 
E disse, porque o caso me envergonha, 
Trabalho tem, quem ama, e se desvela, 
E muito mais quem dorme, e em falso sonha. 
O poeta admira a beleza da mulher amada, que, 
paradoxalmente, é um Anjo, mas desperta desejos 
pecaminosos: 
Anjo no nome, Angélica na cara! 
Isso é ser flor, e Anjo juntamente: 
Ser Angélica flor, e Anjo florente, 
Em quem, senão, se uniformara: 
 
Quem vira uma tal flor, que a não cortara, 
De verde pé, da rama florescente; 
E quem um Anjo vira tão luzente, 
Que por seu Deus o não idolatrara? 
 
Se pois como Anjo sois dos meus altares, 
Fôreis o meu Custódio, e a minha guarda, 
Livrara eu de diabólicos azares. 
 
Mas vejo, que por bela, e por galharda, 
Posto que os Anjos nunca dão pesares, 
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda. 
É melhor chorar um amor (bem) perdido do que 
nunca ter amado: 
Quem perde o bem que teve possuído, 
A morte não dilate ao sentimento, 
Que esta dor, esta mágoa, este tormento 
Não pode ter tormento parecido. 
 Obras Literárias – UFPR 
Quem perde o bem logrado, tem perdido 
O discurso, a razão, o entendimento, 
Porque caber não pode em pensamento 
A esperança de ser restituído. 
 
Quando fosse a esperança alento à vida, 
Te nas faltas do bem seria engano 
O presumir melhoras desta sorte. 
 
Porque, onde falta o bem é homicida 
A memória, que atalha o próprio dano, 
O refúgio, que priva a mesma morte. 
O poeta expressa as ansiedades, dúvidas e 
incertezas do amor: 
Aquele não sei quê, que, Inês, te assiste 
No gentil corpo, e na graciosa face, 
Não sei donde te nasce, ou não te nasce, 
Não sei onde consiste ou não consiste. 
 
Não sei o quando ou como arder me viste, 
Porque Fênix de amor me eternizasse: 
Não como renasce ou não renasce, 
Não sei como persiste ou não persiste. 
 
Não sei como me vai, ou como ando, 
Não sei o que me dói, ou porque parte, 
Não sei se vou vivendo ou acabando. 
 
Como logo meu mal hei de conter-te, 
Se, de quanto a minha alma está penando, 
Eu mesmo, que o padeço, não sei parte?! 
Insinuações eróticas a uma dama: 
Bela Floralva, se Amor 
me fizesse abelha um dia, 
em todo o tempo estaria 
picando na vossa flor: 
e quando o vosso rigor 
quisesse dar-me de mão 
por guardar a flor, então, 
tão abelhudo eu andara, 
que em vós logo me vingara 
com vos meter o ferrão. 
 
Se eu fora ao vosso vergel 
e na vossa flor picara, 
um favo de mel formara 
mais doce que o mesmo mel: 
mas vós como sois cruel, 
e de natural castiço, 
deixais entrar no caniço 
um zangano comedor, 
que vos rouba o mel e a flor, 
e a mim o vosso cortiço. 
As inúmeras e contraditórias definições de Amor: 
... 
Uma dor, que se não cala, 
pena, que sempre atormenta, 
manjar que não enfastia, 
um brinco, que sempre enleva. 
 
Um arrojo, que enfeitiça, 
um engano, que contenta, 
um raio, que rompe a nuvem, 
que reconcentra a esfera. 
 
Enfim o Amor é um momo, 
uma invenção, uma teima, 
um melindre, uma carranca, 
uma raiva, uma fineza. 
 
Uma meiguice, um afago, 
um arrufo, uma guerra, 
hoje volta, amanhã torna, 
hoje solda amanhã quebra. 
 
Um queixar de mentirinha, 
um folgar muito deveras, 
um embasbacar na vista, 
um ai, quando a mão se aperta. 
 
Uma traça do descanso, 
do coração bertoeja, 
sarampo da liberdade, 
carruncho, rabuge e lepra. 
 
É este, o que chupa, 
e tira vida, saúde e fazenda, 
e se hemos falar verdade 
é hoje o Amor desta era. 
 
Tudo uma bebedice, 
ou tudo uma borracheira, 
que se acaba co’o dormir, 
e c’o dormir se começa. 
 
O Amor é finalmente 
um embaraço de pernas, 
uma união de barrigas, 
um breve tremor de artérias. 
 
Uma confusão de bocas, 
uma batalha de veias, 
um reboliço de ancas, 
quem diz outra coisa é besta. 
 
 
 Obras Literárias – UFPR 
Poesia religiosa e filosófica 
A poesia religiosa de Gregório de Matos, numa 
linguagem prolixa e rebuscada, vai refletir o estado de 
espírito do homem da época: um indivíduo desorientado 
e perdido entre apelos de ordem espiritual e material, 
tão contraditórios entre si. 
Vejamos alguns poemas de Gregório de Matos 
em que se manifesta a intensa religiosidade, marcada 
ainda pelo medievalismo, característica do período 
barroco. 
Reconhecimento do pecado, arrependimento e 
pedido de perdão: 
 
A N. SENHOR JESUS CRISTO COM ATOS DE 
ARREPENDIDO E SUSPIROS DE AMOR 
Ofendi-vos, Meu Deus, bem é verdade, 
É verdade, meu Deus, que hei delinquido, 
Delinquido vos tenho, e ofendido, 
Ofendido vos tem minha maldade. 
 
Maldade, que encaminha à vaidade, 
Vaidade, que todo me há vencido; 
Vencido quero ver-me, e arrependido, 
Arrependido a tanta enormidade. 
 
Arrependido estou de coração, 
De coração vos busco, dai-me os braços, 
Abraços, que me rendem vossa luz. 
 
Luz, que claro me mostra a salvação, 
A salvação, pretendo em tais abraços, 
Misericórdia, Amor, Jesus, Jesus. 
Sentimento da fragilidade e da brevidade da vida: 
DESENGANOS DA VIDA HUMANA 
METAFORICAMENTE 
É a vaidade, Fábio, nesta vida, 
Rosa, que da manhã lisonjeada, 
Púrpuras mil, com ambição dourada, 
Airosa rompe, arrasta presumida. 
 
É planta, que de abril favorecida 
Por mares de soberba desatada, 
Florida galeota empavesada, 
Sulca ufana, navega destemida. 
 
É nau enfim, que em breve ligeireza, 
Com a presunção de Fênix generosa, 
Galhardias apresta, alentos preza: 
 
Mas ser planta, ser rosa, nau vistosa 
De que importa, se aguarda sem defesa 
Penha a nau, ferro a planta, tarde a rosa? 
Reflexões desencantadas sobre a instabilidade 
dos bens materiais: 
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, 
Depois da Luz se segue a noite escura, 
Em tristes sombras morre a formosura, 
Em contínuas tristezas a alegria. 
 
Porém, se acaba o Sol, por que nascia? 
Se é tão formosa a Luz, por que não dura? 
Como a beleza assim se transfigura? 
Como o gosto da pena assim se fia? 
 
Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza, 
Na formosura não se dê constância, 
E na alegria sinta-se a tristeza. 
 
Começa o mundo enfim pela ignorância, 
E tem qualquer dos bens da natureza 
A firmeza somente na inconstância. 
 
 Obras Literárias – UFPR 
TESTES 
01. (UERS) – Indique a alternativa que apresenta 
somente características do Barroco: 
a) Bucolismo, nacionalismo, mal-do-século; 
b) Nacionalismo, idealização da mulher amada, 
reação ao descritivismo parnasiano; 
c) Culto à forma, arte pela arte, mitologia greco-latina; 
d) Conflito entre corpo e alma, antíteses, paradoxos; 
e) Pastoralismo, bucolismo, amor galante. 
02. (UERS) – Considere as seguintes afirmações sobre 
Gregório de Matos Guerra: 
I. Sua obra apresenta três faces: a religiosa, a 
satírica e a lírica. 
II. Por sua poesia satírica, recebeu a alcunha de 
“Boca do Inferno”. 
III. Nos textos religiosos do autor, o homem, 
consciente de seus pecados e fragilidades, coloca-
se diantede Deus para implorar o perdão e a 
salvação. 
Está correto o que se afirma em: 
a) apenas I 
b) apenas II 
c) apenas III 
d) apenas I e II 
e) I, II e III 
03. (UFRS) – Sobre a poesia de Gregório de Matos 
Guerra, é correto afirmar que: 
a) privilegia os cenários bucólicos percorridos por 
pastores e ninfas examinados de uma perspectiva 
satírica e irônica. 
b) expõe em sintaxe simples o caráter sereno e 
amoroso de um pastor que corteja sua amada com 
promessas de vida amena e burocrática. 
c) expõe em sintaxe complexa e com metáforas 
antitéticas os dilemas do amor e do espírito no 
quadro da Contrarreforma. 
d) privilegia o cenário urbano para denunciar as 
arbitrariedades da Inquisição e o racismo dos 
portugueses instalados na colônia. 
e) privilegia os cenários palacianos em que ocorrem 
intrigas e conspirações envolvendo nobres 
burocratas, monges e prostitutas. 
04. (UPF – RS) – O poeta baiano Gregório de Matos, 
também chamado de Boca do Inferno, produziu 
uma obra que explora temas contrastantes. 
Assinale a alternativa que não apresenta uma 
vertente temática de sua obra: 
a) o satanismo; 
b) a religiosidade; 
c) o lirismo amoroso; 
d) o erotismo; 
e) a sátira aos costumes. 
05. (UNIOESTE – PR) – Autor de versos líricos, sacros 
e satíricos, Gregório de Matos Guerra refletiu um 
tema comum da poesia universal: o tema do carpe 
diem. Assinale a alternativa onde este tema 
aparece: 
a) Arrependido estou de coração, 
de coração vos busco, dai-me abraços, 
abraços, que me rendem vossa luz. 
b) Não se sabendo parte deste todo, 
um braço que lhe acharam sendo parte, 
nos diz as partes todas deste todo. 
c) Esta razão me obriga a confiar, 
Que, por mais que peguei, neste conflito 
Espero em vosso amor de me salvar. 
d) Oh não aguardes, que a madura idade 
te converta esta flor, essa beleza, 
em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada. 
e) Pois alto! Vá descendo onde jazia, 
Verá quanta melhor se lhe acomoda 
Ser homem embaixo do que burro em cima. 
06. (UFPE) – Ler Gregório de Matos (1633-1696) é ter 
contato com quase todas as tendências e 
caminhos ideológicos e formais que caracterizaram 
o Barroco no Brasil. Sendo dono de uma poesia 
que encerra um universo de múltiplas dimensões 
temáticas, quais assuntos e procedimentos 
literários podem ser assinalados como aqueles que 
foram perseguidos por ele em sua poesia? 
1) Recorrendo a analogias e contrastes, ele inaugura, 
com seus poemas devotos, a nossa lírica religiosa. 
2) Como meio de expressar as suas ideias e os seus 
sentimentos, ele fez uso frequente de uma dada 
forma fixa: o soneto. 
 Obras Literárias – UFPR 
3) Contrariando a estética barroca, ele construiu um 
discurso que se caracteriza por perseguir uma 
linguagem puramente racional. 
4) No que diz respeito à abordagem do fenômeno 
sexual, Gregório se vale da gozação desbocada e 
de alusões chulas. 
5) Seus versos são marcados pela ausência de 
metáforas, alegorias e busca constante pela 
reflexão prosaica, desidealizada. 
Estão corretas apenas: 
a) 1, 3 e 4 
b) 1, 2 e 4 
c) 1, 3 e 5 
d) 2, 4 e 5 
e) 3, 4 e 5 
07. (UNISA – SP) – A produção poética do autor baiano 
Gregório de Matos Guerra (1636 – 1696) é 
vinculada à estética barroca. Sua obra contempla 
os gêneros: 
a) épico e lírico; 
b) satírico e lírico; 
c) teatro e lírico; 
d) comédia e épico; 
e) drama e teatro. 
08. (UFPA) – Dos temas desenvolvidos por Gregório de 
Matos, a lírica religiosa é o mais tipicamente barroco. A 
estrofe, retirada de um poema de Gregório de Matos, 
que apresenta esse tema é: 
a) Não vi em minha vida a formosura, 
Ouvia falar nela cada dia, 
E ouvida me incitava, e me movia 
A querer ver tão bela arquitetura. 
b) Cresce o desejo, falta o sofrimento, 
Sofrendo morro, morro desejando, 
Por uma, e outra parte estou penando 
Sem poder dar alívio a meu tormento. 
c) Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado 
Da vossa alta piedade me despido1: 
Antes quanto mais tenho delinqüido, 
Vos tenho a perdoar mais empenhado. 
d) Carregado de mim ando no mundo, 
E o grande peso embarga-me as passadas 
Que como ando por vias desusadas, 
Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo. 
e) Que me quer o Brasil, que me persegue? 
Que me querem pasguates, que me invejam? 
Não vêem, que os entendidos me cortejam, 
E que os Nobres, é gente que me segue? 
09. (UEL – PR) – Leia o poema abaixo, de Gregório de 
Matos Guerra, que faz parte da poesia lírica 
barroca, com temática religiosa: 
A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR 
Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado, 
Da vossa alta clemência me despido; 
Porque quanto mais tenho delinquido, 
Vos tenho a perdoar mais empenhado. 
 
Se basta a vos irar tanto pecado, 
A abrandar-vos sobeja um só gemido; 
Que a mesma culpa, que vos há ofendido, 
Vos tem para o perdão lisonjeado. 
 
Se uma ovelha perdida e já cobrada 
Glória tal e prazer tão repentino 
Vos deu, como afirmais na sacra história, 
 
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada, 
Cobrai-a; e não queirais, pastor divino, 
Perder na nossa ovelha a vossa glória. 
Sobre o poema, é incorreto afirmar: 
a) O poema apresenta-se em forma de soneto, com 
uma linguagem plena de artifícios de versificação, 
o que faz ressaltar o conteúdo temático, que é o 
arrependimento do eu lírico de seus pecados, em 
busca do perdão de Jesus Cristo. 
b) A forma de expressão poética do eu lírico, neste 
poema, é marcada pela tensão e reflete os 
conflitos do homem do período barroco, que vivia 
as contradições entre o teocentrismo medieval e o 
antropocentrismo clássico. 
c) Percebe-se neste poema a preocupação com a 
forma característica ao período barroco, em que o 
poeta faz uso de muitos processos técnicos e 
expressivos, dentre eles a rima bem marcada dos 
versos e o uso frequente de antíteses e inversões 
sintáticas. 
d) O poema apresenta ideais divergentes entre o 
humano e o divino em decorrência da oposição 
que havia, na época, entre a mentalidade pagã da 
burguesia portuguesa e a religiosidade católica da 
sociedade brasileira. 
 Obras Literárias – UFPR 
e) O poema todo estrutura-se como uma evocação 
lírico-religiosa, em que o eu lírico confessa ser um 
pecador, no início do poema, para a seguir 
estabelecer um confronto de ideias entre a culpa 
do pecador e a clemência de Jesus, e somente no 
final, como último apelo, nomear-se uma “ovelha 
desgarrada”, evocando o perdão divino. 
10. (UNICURITIBA – PR) – O poema abaixo foi escrito 
por Gregório de Matos Guerra, no século XVII: 
AO GOVERNADOR ANTÔNIO DE SOUSA DE 
MENESES CHAMADO VULGARMENTE O “BRAÇO 
DE PRATA” 
Sor Antônio de Sousa de Meneses, 
Quem sobe ao alto lugar, que não merece, 
Homem sobe, asno vai, burro parece, 
Que o subir é desgraça muitas vezes. 
 
A fortunilha, autora de entremezes, 
Transpõe em burro herói que indigno cresce; 
Desanda roda, e logo homem parece, 
Que é discreta a fortuna em seus reveses. 
 
Homem sei eu que foi Vossenhoria 
Quando o pisava da fortuna a roda; 
Burro foi ao subir tão alto clima. 
 
Pois, alto! Vá descendo onde jazia, 
Verá quanto melhor se lhe acomoda 
Ser homem em baixo que burro em cima. 
Analise as afirmações a respeito do poema: 
a) A forma do poema – soneto em decassílabos, 
vinculado a uma tradição clássica de temas 
sublimes – contrasta com o conteúdo de cunho 
satírico, vazado numa linguagem mais coloquial. É 
um contraste compreensível no âmbito do Barroco. 
b) Na primeira estrofe, o poeta utiliza metáforas para 
desqualificar aquele que assume alta posição de 
mando (no caso, no governo) sem atributos e 
credenciaispara tal. 
c) A segunda estrofe desenvolve a mesma tese da 
primeira: um homem só é digno se assume um 
lugar adequado a sua natureza; a pretensão à 
posição superior por meio de cobiça e bravata 
configurará a inépcia, a imoralidade, a corrupção. 
d) A “roda da fortuna” é metonímia para o destino da 
vida. E quando apela para que o governador desça 
de onde jazia, o poeta sugere que o político deve 
estar entre o povo para atender a suas 
necessidades e demandas. 
e) A mensagem do poema se encaixa perfeitamente 
no quadro político atual, sugerindo que, em 
termos morais e políticos, o Brasil não mudou 
muito. 
11. (UFPR – 2012) – Considerando a poesia de 
Gregório de Matos e o momento literário em que sua 
obra se insere, avalie as seguintes afirmativas: 
1. Apresentando a luta do homem no embate entre a 
carne e o espírito, a terra e o céu, o presente e a 
eternidade, os poemas religiosos do autor 
correspondem à sensibilidade da época e 
encontram paralelo na obra de um seu 
contemporâneo, Padre Antônio Vieira. 
2. Os poemas erótico-irônicos são um exemplo da 
versatilidade do poeta, mas não são 
representativos da melhor poesia do autor, por não 
apresentarem a mesma sofisticação e riqueza de 
recursos poéticos que os poemas líricos ou 
religiosos apresentam. 
3. Como bom exemplo da poesia barroca, a poesia do 
autor incrementa e exagera alguns recursos 
poéticos, deixando sua linguagem mais rebuscada 
e enredada pelo uso de figuras de linguagem raras 
e de resultados tortuosos. 
4. A presença do elemento mulato nessa poesia 
resgata para a literatura uma dimensão social 
problemática da sociedade baiana da época: num 
país de escravos, o mestiço é um ser em conflito, 
vítima e algoz em uma sociedade violentamente 
desigual. 
Assinale a alternativa correta: 
a) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras. 
b) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras. 
c) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras. 
d) Somente as afirmativas 2 e 4 são verdadeiras. 
e) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras. 
 Obras Literárias – UFPR 
12. (UFPR – 2013) – Considere o soneto a seguir, de 
Gregório de Matos: 
DESCREVE COM GALHARDA PROPRIEDADE O 
LABIRINTO CONFUSO DE SUAS DESCONFIANÇAS 
Ó caos confuso, labirinto horrendo, 
Onde não topo luz, nem fio achando; 
Lugar de glória, aonde estou penando; 
Casa da morte, aonde estou vivendo! 
 
Oh voz sem distinção, Babel* tremendo; 
Pesada fantasia, sono brando; 
Onde o mesmo que toco, estou sonhando; 
Onde o próprio que escuto, não o entendo; 
 
Sempre és certeza, nunca desengano; 
E a ambas pretensões com igualdade, 
No bem te não penetro, nem no dano. 
 
És ciúme martírio da vontade; 
Verdadeiro tormento para engano; 
E cega presunção para verdade. 
*Babel: bíblico, torre inacabada por castigo divino; 
quando de sua construção os homens viram seus 
idiomas se confundirem, gerando o desentendimento 
que os obrigou a se dispersarem. Por extensão, 
desentendimento, confusão. 
MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos. Seleção e organização: 
José Miguel Wisnik. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 219 
O soneto transcrito apresenta características 
recorrentes da poesia de Gregório de Matos e do 
período literário em que ele o escreveu, o Barroco. 
Acerca desse soneto, é correto afirmar: 
a) O poema descreve um labirinto e, de modo 
semelhante à imagem descrita, utiliza uma 
linguagem em que a ideia central só se apresenta 
no fim do texto. 
b) O poema se apropria de duas imagens, Babel e 
labirinto, com a intenção de tematizar um 
sentimento conturbado: a presunção. 
c) O poema se estrutura como um soneto típico, em 
que a ideia central está apresentada no primeiro 
quarteto. 
d) As figuras de linguagem utilizadas associam ideias 
contrárias, o que se contrapõe às imagens do 
labirinto e de Babel. 
e) O poema apresenta nos quartetos duas imagens 
concretas, dissociadas das abstrações 
apresentadas nos tercetos. 
13. Sobre a obra Poemas escolhidos de Gregório de 
Matos, assinale a alternativa correta: 
a) Trata-se de poemas selecionados em livros 
publicados pelo Boca do Inferno, no século 17. 
b) Os poemas satíricos de Gregório de Matos 
representam o elemento mais tipicamente barroco 
em sua obra. 
c) A seleção de poemas, feita por José Miguel 
Wisnik, apesar de seguir a divisão temática 
tradicional para a obra de Gregório de Matos, dá 
pouco destaque à poesia religiosa do autor, por ser 
a produção literária menos relevante de Gregório. 
d) Na lírica amorosa de Gregório de Matos, percebe-
se a temática do carpe diem, o que comprova a 
filiação do autor ao Arcadismo e, não, ao Barroco, 
como se vê normalmente nas classificações 
tradicionais. Logo, pela temática abordada e pela 
linguagem empregada, Gregório seria melhor 
enquadrado como fundador do Arcadismo no 
Brasil. 
e) A poesia satírica de Gregório de Matos, além de 
lhe valer a alcunha de Boca de Inferno ou Boca de 
Brasa, antecipa certas preocupações nativistas, 
pois revela a exploração da colônia pela 
metrópole. 
14. (UFPR – 2014) – Leia os dois poemas de Gregório 
de Matos: 
SONETO 1 
O todo sem a parte não é todo, 
A parte sem o todo não é parte, 
Mas se a parte o faz todo, sendo parte, 
Não se diga, que é parte, sendo todo. 
 
Em todo o Sacramento está Deus todo, 
E todo assiste inteiro em qualquer parte, 
E feito em partes todo em qualquer parte, 
Em qualquer parte sempre fica o todo. 
 
O braço de Jesus não seja parte, 
Pois que feito Jesus em partes todo, 
Assiste cada parte em sua parte. 
 
 Obras Literárias – UFPR 
Não se sabendo parte deste todo, 
Um braço, que lhe acharam, sendo parte, 
Nos disse as partes todas deste todo. 
 
SONETO 2 
Carregado de mim ando no mundo, 
E o grande peso embarga-me as passadas, 
Que como ando por vias desusadas, 
Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo. 
 
O remédio será seguir o imundo 
Caminho, onde dos mais vejo as pisadas, 
Que as bestas andam juntas mais ornadas, 
Do que anda só o engenho mais profundo. 
 
Não é fácil viver entre os insanos, 
Erra, quem presumir que sabe tudo, 
Se o atalho não soube dos seus danos. 
 
O prudente varão há de ser no mundo, 
Que é melhor neste mundo em mar de enganos 
Ser louco cos demais, que ser sisudo. 
Com base nos dois sonetos, considere as seguintes 
afirmativas: 
1. A insistência numa das mais conhecidas formas de 
liricidade, que é o soneto, deixa explícita a 
influência clássica na obra do poeta. 
2. Ambos os poemas ilustram a tonalidade sarcástica 
e pessimista típica do barroco. 
3. No poema 1, há um jogo simbólico de metonímias 
e paradoxos com os quais o eu lírico argumenta a 
aceitação da tradição religiosa com indagações 
renovadoras. 
4. No poema 2, o eu lírico faz um balanço de sua 
experiência existencial, desdenhando sua própria 
loucura. 
Assinale a alternativa correta: 
a) Somente a afirmativa 1 é verdadeira. 
b) Somente as afirmativas 1 e 3 são verdadeiras. 
c) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras. 
d) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras. 
e) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras. 
 
 
 
GABARITO 
01. d 
02. e 
03. c 
04. a 
05. d 
06. b 
07. b 
08. c 
09. d 
10. c-c-c-e-c 
11. c 
12. a 
13. e 
14. b

Mais conteúdos dessa disciplina