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POLÍTICAS EDUCACIONAIS E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA Professor Dra. Mara Cecília Rafael Lopes Professor Dra. Vânia de Fátima Matias de Souza Professor Me. Caroline Mari de Oliveira GRADUAÇÃO Unicesumar C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; LOPES, Mara Cecília Rafael; SOUZA, Vânia de Fátima Matias de; OLIVEIRA, Caroline Mari de. Políticas Educacionais e Organização da Educação Básica. Mara Cecília Rafael Lopes; Vânia de Fátima Matias de Souza; Caroline Mari de Oliveira. Maringá-Pr.: Unicesumar, 2017. Reimpresso em 2019. 288 p. “Graduação - EaD”. 1. Políticas. 2. Educação. 3. Organização. 4. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-0527-1 CDD - 22 ed. 379 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Impresso por: Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Diretoria Executiva Chrystiano Minco� James Prestes Tiago Stachon Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de Design Educacional Débora Leite Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Head de Curadoria e Inovação Jorge Luiz Vargas Prudencio de Barros Pires Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira Gerência de Curadoria Giovana Costa Alfredo Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila Toledo Supervisão Operacional de Ensino Luiz Arthur Sanglard Coordenador de Conteúdo Mara Cecília Rafael Lopes Designer Educacional Lilian Vespa Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Arte Capa Arthur Cantareli Silva Editoração Kleber Ribeiro da Silva Qualidade Textual Hellyery Agda Ilustração Marta Kakitani Marcelo Goto Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com princípios éticos e profissionalismo, não so- mente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in- tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educa- dores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a quali- dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! Pró-Reitor de Ensino de EAD Diretoria de Graduação e Pós-graduação Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu- nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con- tribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competên- cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessá- rios para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cresci- mento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis- cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui- lidade e segurança sua trajetória acadêmica. A U TO RE S Professora Dra. Mara Cecília Rafael Lopes Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/2016). Mestre em Educação pela UEM (2009). Graduada em Educação Física pela Universidade Estadual de Maringá (1996). Graduada em Pedagogia pela Unicesumar (2016). Coordena o curso de Educação Física Licenciatura e Bacharelado na EAD Unicesumar. Tem experiência na área de Educação e Educação Física, investigando, principalmente, nos seguintes temas: políticas públicas educacionais, financiamento da educação e as políticas públicas de esporte e lazer. Link: <http://lattes.cnpq.br/5472896495130234> Professora Dra. Vânia de Fátima Matias de Souza Possui Doutorado em Educação pelo Programa de Pós-graduação em Educação pela Universidade Estadual de Maringá-UEM (2014); Mestrado em Educação Física pela Universidade Estadual de Maringá (2009); graduação em Pedagogia pela Faculdade Estadual de Educação Ciências e Letras de Paranavaí (2000) e graduação em Educação Física pela Universidade Estadual de Londrina (2000). É professora Adjunta do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual de Maringá; Professora do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá; Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física Escolar (GEEFE/CNPq) e tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação Física Escolar, atuando principalmente nos seguintes temas: infância, trabalho docente, formação profissional e políticas públicas. Link: <http://lattes.cnpq.br/7642081335847897>. Professora Me. Caroline Mari de Oliveira Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá (2013). Especialista em Docência do Ensino Superior pela Faculdade Tecnológica América do Sul (2012). Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Maringá (2010). Atua como Professora no curso de Pedagogia da Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT - campus de Sinop/MT. É Professora orientadora do Programa de Pós-Graduação Lato Sensu em Docência do Ensino Superior, Educação a Distância e Novas Tecnologias e Gestão Educacional Wna modalidade a distância (UNICESUMAR)(desde 10/2013). Pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Políticas e Gestão Educacional (GEPPGE/ CNPq) (desde 2008). Revisora de periódicos da Revista Cadernos de Pedagogia da UFSCar (desde 06/2014) e parecerista ad hoc da Revista Eventos Pedagógicos - UNEMAT/Sinop (desde 05/2015). Atua e pesquisa nas áreas de Políticas e Gestão Educacional; Educação do, no e para o Campo; Movimentos Sociais e Educação; Organização da Educação Brasileira; Avaliação da Aprendizagem; EAD e Novas Tecnologias; Metodologia e Técnica de Pesquisa. Tem experiência na Educação Básica; no Ensino Superior e na Pós-Graduação na modalidade presencial e a distância. Link: <http://lattes.cnpq.br/2216258795802689>. SEJA BEM-VINDO(A)! Olá, caro(a) aluno(a)! Seja bem-vindo(a) aos estudos sobre Políticas Educacionais e Orga- nização da Educação Básica. Este livro foi organizado de modo especial para você que, no nosso entendimento, tem buscado com excelência compreender os desafios que envolvem o setor educacional e que influenciam no processo de ensino-aprendizagem das modalidades de ensino. Agora pare e responda: o que vem à sua mente quando você pensa em política? E Po- lítica Pública Educacional? Supomos, pela nossa caminhada na docência, que muitos adjetivos negativos possam ter invadido seu pensamento, como: difícil, chato, compli- cado; ou algumas imagens, como: livros de legislação, Brasília, Câmara dos Deputados, alguns políticos. Em geral, o tema leva a nos sentirmos incomodados, pois sabemos que o pleno exercício da cidadania pressupõe o conhecimento das políticas públicas. Apesar de alguns incômodos com o tema, é bom lembrar que o conhecimento sobre as políticas educacionais é urgente e que, a partir de nosso estudo e discussão na discipli- na, teremos condições mais efetivas de participar das políticas educacionais, de cobrar com propriedade as prescrições da legislação, de aprimorar os processos participativos na escola, no município, assim como nos âmbitos estadual e federal. A educação e a política são distintas e possuem especificidades, porém são inseparáveis. A educação depende, para sua materialização, do aporte legal, de financiamento, infraestrutura, plano de educação, entre outros. A política e sua prática dependem da educação para a for- mação de cidadãos, acesso à informação, desenvolvimento da consciência ecológica, preven- ção de doenças, efetivação da democracia, divulgação de propostas políticas, entre outros. Esses comentários, caro(a) aluno(a), foram propositais, para percebermos que a edu- cação perpassa a política e vice versa. Assim, necessitamos de seu conhecimento para completar nossa formação, pois a fim de formarmos cidadãos temos, antes, que ser ci- dadãos; exercer a cidadania para além do ato de votar; participar ativamente das discus- sões e debates sobre a política educacional, das instâncias colegiadas, num processo constante de luta por direitos. Lembremos que o fato de a cidadania estar em constante mudança é um fenômeno históri- co, pois, a partir das reivindicações dos direitos, da participação na formulação, implementa- ção e avaliação das políticas, em períodos específicos, o exercício da cidadania se modifica. Nesse sentido, caro(a) aluno(a), nosso objetivo é levá-lo(a) a um estudo sistematizado acerca do universo das Políticas Educacionais e Organização da Educação Básica, por meio das reflexões que partem das análises e correlações da história política da sociedade para com as ações e organizações no sistema educacional, para que você possa pensar nas ações e sobre as ações cotidianas, resultantes dos desafios escolares encontrados, a fim de que possa, assim, ser auxiliado na busca por alternativas e possibilidades reais de uma atuação que permita desenvolver suas potencialidades de forma autônoma. Este livro é composto por uma introdução, seguida de cinco unidades criteriosamente analisadas e selecionadas para dar sustentação a presente discussão. APRESENTAÇÃO POLÍTICAS EDUCACIONAIS E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA Na Unidade I, você trabalhará com o tema “política educacional – conceitos e con- textos”, cujos conteúdos de destaque são os conceitos de Estado, governo e de po- líticas públicas educacionais. Além disso, apresentaremos apontamentos históricos relacionados às Políticas Públicas para a Educação Básica. Na Unidade II, com o tema “aspectos legais das políticas educacionais”, o foco será a Constituição Brasileira, principalmente o Capítulo II que trata da Educação, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 (com atualizações) e o Financia- mento da Educação. A Unidade III, com o tema “sistema educacional brasileiro: níveis, modalidades e os desafios centrais da organização e estrutura da educação escolar”, tem enfoque cen- tral nas questões políticas estruturais da educação nacional nas delimitações dos níveis e modalidades de ensino. A Unidade IV, com o tema “avaliação no sistema educacional brasileiro” versará so- bre as principais formas de avaliação do Sistema Educacional, destacando a atuação do Inep, as avaliações nacionais (Ideb, Saeb, Encceja, Enem, Sistema de Avaliação do Ensino Superior) e as avaliações internacionais. Na Unidade V, a última, o tema será o “Plano Nacional de Educação (2014-2024)”, com enfoque central nas metas e estratégias estabelecidas para a educação nacio- nal, contemplando os níveis e modalidades da educação. Por fim, lembre-se, caro(a) aluno(a), que o texto apresentado não esgota todas as possibilidades de pensar e refletir sobre as temáticas abordadas, mas iniciará mo- mentos importantes e oportunos para a compreensão das análises realizadas acerca das temáticas propostas. Para tanto, cumpre destacar que, ao final de cada unidade, você encontrará uma análise do texto, a fim de facilitar seus estudos e compreensão. Caro(a) aluno(a), como você pôde refletir acerca das Políticas Educacionais e Orga- nização da Educação Básica, sua ação vai além do saber fazer ou do saber exclusi- vamente técnico-instrumental, uma vez que os saberes historicamente produzidos devem constituir uma ação conjunta, um trabalho coletivo, estabelecido entre to- dos os sujeitos pertencentes ao cenário. Por essa razão, acreditamos que o pedagogo deve conhecer e promover espaços para o pensar acerca de todos os aspectos políticos e sociais que circunscrevem o cenário da educação, haja vista que é nesse espaço que estamos formando o ho- mem, o cidadão, o trabalhador, o sujeito que poderá intervir e mudar o contexto socioeconômico no qual se encontra inserido, transformando as relações sociais es- tabelecidas e os contextos neles circunscritos. Com esse pensamento, iniciaremos nosso trabalho. Tenha uma ótima leitura e não se esqueça de que esse é só o seu primeiro passo no campo das políticas e da orga- nização do sistema educacional. Faça outras viagens, teça outras teias e consolide seu conhecimento no campo da formação humana. Vamos aos estudos! APRESENTAÇÃO SUMÁRIO 11 UNIDADE I POLÍTICA EDUCACIONAL – CONCEITOS E CONTEXTOS 17 Introdução 18 Estado, Governo e Políticas Públicas: Concepções e Princípios 24 Reforma da Educação a Partir de 1990 e o Neoliberalismo 34 Organizações Internacionais: Propostas para a Educação Brasileira 40 Considerações Finais 47 Referências 50 Gabarito UNIDADE II ASPECTOS LEGAIS DA POLÍTICA EDUCACIONAL BRASILEIRA 53 Introdução 54 A Educação na Constituição Federal de 1988 66 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 86 Financiamento da Educação 95 Considerações Finais 100 Referências 104 Gabarito SUMÁRIO 12 UNIDADE III SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO: 107 Introdução 108 Níveis da Educação Escolar no Brasil: Educação Básica e Ensino Superior 139 Modalidades da Educação Nacional 166 ConsideraçõesFinais 173 Referências 178 Gabarito UNIDADE IV AVALIAÇÃO NO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO 181 Introdução 182 Avaliação no Sistema Educacional Brasileiro: Um Foco na Educação Básica 197 Inep e as Avaliações Nacionais da Educação Básica: Saeb - Ideb; Enem e Encceja 205 Sistema de Avaliação do Ensino Superior: Sinaes 210 Avaliações Internacionais 214 Considerações Finais 219 Referências 222 Gabarito SUMÁRIO 13 UNIDADE V PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO (2014-2024) 225 Introdução 226 A Estrutura do Pne (2014-2024), Aspectos Legais e Históricos 231 Metas do Pne (2014-2024) com Foco para a Educação Básica e suas Modalidades 238 Considerações Finais 246 Referências 248 Gabarito 249 Anexo 288 Conclusão U N ID A D E I Professora Dra. Mara Cecilia Rafael Lopes Professora Dra. Vânia de Fátima Matias de Souza Professora Me. Caroline Mari de Oliveira POLÍTICA EDUCACIONAL – CONCEITOS E CONTEXTOS Objetivos de Aprendizagem ■ Compreender os conceitos primários da organização das políticas públicas no Brasil: Estado, governo, sociedade e políticas públicas. ■ Analisar as influências do neoliberalismo na educação brasileira a partir da Reforma Educacional iniciada na década 90. ■ Compreender as propostas para a educação das organizações internacionais na educação brasileira. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Estado, governo e políticas públicas: concepções e princípios ■ Reforma da educação a partir de 1990 e o neoliberalismo ■ Organizações internacionais: propostas para a educação brasileira Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 17 INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) à disciplina de Políticas Educacionais e Organização da Educação Básica. Estamos iniciando a discussão de um tema relevante e significativo para a prática docente e para as relações cotidianas esta- belecidas no diálogo com o campo da educação básica. Nesta unidade, trataremos dos conceitos e das relações entre sociedade, Estado e educação, as perspectivas e influências neoliberais nas políticas nacio- nais e as interferências das organizações internacionais na educação brasileira. Apresentamos vários termos utilizados na política educacional, assim como a ambiguidade de seus significados: desenvolvimento humano ou desenvolvi- mento de capital humano? Educação integral ou, apenas, mais tempo na escola? Participação da sociedade na educação ou diminuição da responsabilidade do Estado com a educação? Formação para o trabalho ou para a cidadania? Igualdade ou equidade? Políticas públicas ou projetos e programas? Regime de colabora- ção ou responsabilização social? Amigos da escola ou assistencialismo? Calma, discutiremos esses e outros assuntos, mas, antes, iniciaremos com alguns apon- tamentos históricos para perceber avanços e retrocessos na política educacional no Brasil. Participar da política educacional inicia com o processo de conhecer, ler, discutir, analisar e assumir para si a responsabilidade de contribuir para uma educação democrática, pois a escola não nasceu democrática, e para torná-la, necessitamos estudar, participar e lutar por uma sociedade e uma educação democrática. Traremos uma análise do estudo analítico das políticas educacionais no Brasil com destaque para a política educacional no contexto das políticas públi- cas sociais, bem como a organização dos sistemas de ensino, considerando as peculiaridades nacionais e os contextos internacionais, incorporação dos ide- ais neoliberais no Brasil, impasses e perspectivas das políticas atuais em relação à educação. POLÍTICA EDUCACIONAL – CONCEITOS E CONTEXTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E18 ESTADO, GOVERNO E POLÍTICAS PÚBLICAS: CONCEPÇÕES E PRINCÍPIOS Para compreender as políticas públicas para a educação, assim como a estru- tura e organização da educação básica, necessitamos entender a relação entre sociedade, Estado e educação. Cabe lembrar que a análise da educação parte do exame do contexto em que ela está inserida. Trataremos, então, de alguns con- ceitos e definições. Caro(a) aluno(a), cabe aqui uma importante pergunta: em que Estado a polí- tica e a legislação educacional foram pensadas? O conceito de Estado, na forma como o entendemos hoje, é recente, uma definição moderna. Nem sempre o Estado, do modo como o conhecemos, exis- tiu. Foi apenas no início da Idade Moderna (séculos XVI-XVII) que tornou-se uma realidade; no entanto, isso não significa que antes da formação do Estado moderno, não existissem outras formas de governo e de poder. Não há uma defi- nição única de Estado, há vários autores, cada um com uma concepção diferente. Estado, Governo e Políticas Públicas: Concepções e Princípios Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 19 Sendo assim, trataremos acerca de duas visões de Estado: uma pela pers- pectiva da burguesia e outra pela teoria do materialismo histórico, pois cada qual configura a educação a partir de concepções próprias. Contudo, “Deve ficar claro que qualquer tentativa de definir liberalismo é como buscar um alvo móvel. O significado de “liberalismo” muda não apenas como o seu nível de abs- tração e com o passar do tempo, mas também de país para país” (BOTTOMERE; OUTHWAITE, 1996, p. 420). Quadro 1 - Perspectivas teóricas liberais e materialistas TEORIAS COM ENFOQUE LIBERAL TEORIAS COM ENFOQUE NO MATERIALISMO HISTÓRICO » Baseiam-se numa interpretação feita pela burguesia nos diferentes momentos da história do capitalismo. » Consideram que o Estado é neutro e está acima dos interesses das classes sociais. » Objetivo do Estado: a realização do bem comum e o aperfeiçoamento do organis- mo social no seu conjunto. » O foco é no indivíduo, proteger a liberda- de pessoal e manter a liberdade econômi- ca individual. » O Estado melhor é um Estado menor, cha- mado de “Estado mínimo”, pois o melhor regulador da atividade econômica é o mercado. » Na área social, sustenta a tese de que é a iniciativa privada que deve prover os ser- viços da educação, da saúde, do trabalho, da seguridade social, entre outros. » Baseiam-se na tese de que o modo de produção - a economia - determina o modo como se vive e se organiza a vida social. Fundamentam-se em uma con- cepção de sociedade dividida em classes antagônicas, com interesses divergentes. » Negam a ideia de um Estado neutro, vol- tado para o bem comum. » Apenas no nível aparente, os interesses do Estado apresentam-se como interes- ses universais, de todo o corpo social. » Esse enfoque constitui-se, desse modo, numa crítica ao enfoque liberal de Estado. » Assume a forma da vontade dominan- te, ao constituir-se como o resultado do modo material de vida dos indivíduos. » A educação fundamenta-se em estabelecer a ligação orgânica entre a prática e a teoria, no princípio da plena realização humana - homem omnilateral (na qual harmoniza “tempo de trabalho” e “tempo livre”). Fonte: as autoras. Nesse sentido, o Estado capitalista desenvolve, como parte da sua função, a manutenção da ordem interna, a garantia do direito à propriedade e os contra- tos estabelecidos no mercado. Poulantzas (2000) aponta que o Estado não pode ser visto como um poder externo imposto à sociedade, ele é um produto de uma sociedade em determinado estágio de desenvolvimento.POLÍTICA EDUCACIONAL – CONCEITOS E CONTEXTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E20 Os dois conceitos de visão do Estado estão presentes nas políticas educacio- nais em um palco de disputas pela hegemonia do Estado. Dessa forma, a educação escolar no contexto capitalista monopolista pode contribuir tanto para a reprodução das relações sociais de produ- ção como para transformá-la. As propostas educacionais são elabora- das, portanto, tanto na ótica do capital como na do trabalho (NEVES, 2010, p. 208). Segundo Christopher Ham e Michael Hill (1993), o Estado pode ser definido tanto a partir das instituições quanto das funções que as instituições desempenham. As instituições constitutivas do Estado são os órgãos encarregados de suas funções executivas, legislativas e judiciárias: Ministérios, Secretarias e Departamentos governamentais; Assembleias parlamentares e instituições subordinadas volta- das à elaboração de leis; e todo o sistema de cortes judiciais e órgãos associados, responsáveis por obrigar o cumprimento da lei e por aperfeiçoá-la. O Estado, nesse sentido, se constitui de instituições permanentes, órgãos legislativos, tri- bunais, Exército, entre outros. O Estado pode ser definido como o “[...] conjunto de instituições per- manentes [...] que possibilitam a ação do governo” (HÖLFLING, 2001, p. 31). Necessitamos, assim, de uma conceituação de governo: grupo responsável pelo planejamento e condução de determinadas políticas e do conjunto de progra- mas e ações durante certo período. O governo é transitório, formado por grupos que se alternam no poder e “[...] assume e desempenha as funções de Estado por um determinado período” (HÖLFLING, 2001, p. 31). O Estado não pode ser reduzido à burocracia pública, aos organismos estatais que conceberiam e implementariam as políticas públicas. As políticas públicas são aqui compreendidas como as de responsabilidade do Estado – quanto à implementação e manutenção a partir de um processo de tomada de decisões que envolvem órgãos públicos e diferentes organismos e agentes da sociedade relacionados à política implementada. Neste sentido, políticas públicas não podem ser reduzidas a políticas estatais (HÖLFLING, 2001, p. 34, grifos nossos). Em geral, dizemos que as políticas de Estado são fortemente institucionali- zadas, conseguem ultrapassar o período de um governo e são de difícil mudança. As políticas de governo não são tão fortes em sua institucionalização e possuem Estado, Governo e Políticas Públicas: Concepções e Princípios Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 21 menor durabilidade. O conceito de Estado é fundamental, pois nos permite exer- cer a crítica à medida que compreendemos suas contradições. Como esclarece Bourdieu (1996), o Estado é dotado de “mão direita” (defensora dos interesses privados) e “mão esquerda” (interesses públicos e sociais). O que podemos observar, nesse sentido, é que temos um Estado que age, de forma significativa, atendendo ora às necessidades provenientes da sociedade civil, ora às demandas mercadológicas e/ou da globalização, para estabelecer as diretrizes e leis que vão normatizar as relações que são estabelecidas no contexto educacional, no que se refere ao financiamento, como na gestão e administra- ção escolar. Agora sim, caro(a) aluno(a), podemos definir políticas públicas: Políticas públicas são aqui entendidas como o “Estado em ação”; é o Estado implantando um projeto de governo, através de programas, de ações voltadas para setores específicos da sociedade (HÖLFLING, 2001, p. 31). Então, políticas públicas sempre viriam do Estado ou governo? As políticas públi- cas são autuadas pelo governo quanto à sua implementação e manutenção, mas emergem da sociedade, dos problemas ou demandas que podem ser econômicos, políticos ou de bem-estar. As políticas públicas são o resultado de uma intera- ção complexa entre o Estado e a sociedade. O processo de definição de políticas públicas para uma sociedade re- flete os conflitos de interesses e os arranjos feitos nas esferas de poder que perpassam as instituições do Estado e da sociedade como um todo. Um dos elementos importantes deste processo diz respeito aos fatores culturais, àqueles que, historicamente, vão construindo processos dife- renciados de representações, de aceitação, de rejeição, de incorporação das conquistas sociais por parte de determinada sociedade. A relação entre sociedade e Estado, o grau de distanciamento ou apro- ximação, às formas de utilização (ou não) de canais de comunicação entre os diferentes grupos da sociedade e os órgãos públicos – que re- fletem e incorporam fatores culturais, como acima referidos – estabele- cem contornos próprios para as políticas pensadas para uma sociedade (OFFE 1984, p.41-42). POLÍTICA EDUCACIONAL – CONCEITOS E CONTEXTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E22 A educação, no campo das políticas públicas, é caracterizada como uma polí- tica social: E políticas sociais se referem a ações que determinam o padrão de pro- teção social implementado pelo Estado, voltadas, em princípio, para a redistribuição dos benefícios sociais visando a diminuição das desigual- dades estruturais produzidas pelo desenvolvimento socioeconômico. As políticas sociais têm suas raízes nos movimentos populares do século XIX, voltadas aos conflitos surgidos entre capital e trabalho, no desenvol- vimento das primeiras revoluções industriais (HÖLFLING, 2001, p. 31). Políticas educacionais são aqui entendidas como o processo que envolve negocia- ção e luta entre diferentes grupos, configuradas no âmbito da internacionalização do capital. Portanto, para compreendermos políticas educacionais, é necessário analisarmos o projeto social do Estado. A educação, como parte da política social, é apresentada com uma aparência humanitária com apelo ao voluntariado, o que mistifica a própria educação como um direito social de todos. É importante entendermos o significado da educação, já que, para Ney (2008, p. 16), “a educação não é neutra, pois é o Estado ou o educador que traça valores, princípios, objetivos e políticos esperados para a educação!”. Logo, o educador precisa compreender que: Visão de mundo: é o conjunto de ideias sobre o homem, a socieda- de, a história e sua relação social com a sociedade e a natureza. Ela é constituída de acordo com a situação e os interesses de grupos e classes sociais em que o indivíduo está identificado. Todos nós temos uma. Valores: significam princípios, normas ou padrões sociais aceitos ou mantidos por indivíduos, grupos, classes e sociedades. São padrões éticos que norteiam nossas vidas. Crenças: são ideias, pensamentos, dogmas, etc., em que acreditamos (NEY, 2008, p. 17). Ressaltamos que a escola é uma instituição social e que, portanto, recebe diferentes funções de acordo com as diversas concepções de sociedade, em contextos histó- ricos diferentes, ou no mesmo contexto; logo, a compreensão quanto ao papel da escola não é a única que gera diferentes propostas para as políticas educacionais. Estado, Governo e Políticas Públicas: Concepções e Princípios Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 23 Escola de qualidade é aquela que possui clareza quanto à sua finalidade social. Percebemos duas forças conflitantes que defendem, respectivamente, a manutenção ou a transformação social por meio da educação. No quadro a seguir,João Ferreira de Oliveira (2009) aponta as seguintes finalidades para a educação escolar com orientação capitalista-liberal e pelos movimentos sociais (a maioria da sociedade). Quadro 2 - Funções da escola pública ORIENTAÇÃO CAPITALISTA-LIBERAL ORIENTAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS » Garantir a unidade nacional e legitimar o sistema; » Contribuir com a coesão e o controle social; » Reproduzir a sociedade e manter a divisão social; » Promover a democracia da representação; » Contribuir com a mobilidade e a ascensão social; » Apoiar o processo de acumulação; » Habilitar técnica, social e ideologicamente os diversos grupos de trabalhadores para servir ao mundo do trabalho; » Compor a força de trabalho, preparando, qualificando, formando e desenvolvendo competências para o trabalho; » Proporcionar uma força de trabalho capa- citada e flexível para o crescimento econô- mico. » Transformar a sociedade, de modo a elimi- nar as divisões sociais estabelecidas; » Desbarbarizar a humanidade, no que con- cerne aos seus preconceitos, opressão, ge- nocídio, tortura etc.; » Conscientizar os indivíduos, tendo em vis- ta uma formação de sujeitos críticos, autô- nomos e emancipados; » Desenvolver uma educação integral, que permita o desabrochar das potencialida- des humanas; » Apropriar-se do saber social; » Formar para o exercício pleno da cidadania. Fonte: Oliveira (2009, p. 238). Assim, as políticas educacionais precisam ser pensadas, implementadas e avaliadas com base em um projeto social que atenda aos interesses da maioria da popula- ção, que se efetive como um direito universal básico e um bem social público. A educação é “condição para a emancipação social e deve ser concebida numa pers- pectiva democrática e de qualidade [...]” (OLIVEIRA, 2009, p. 238). Os alunos que possuem condições materiais aprenderão na escola e fora dela, pois possuem acesso à cultura, à arte, a livros, cursos, viagens, entre outros, mas, “[...] para os trabalhadores, a escola se constitui no único espaço de relação intencional e sistematizada com o conhecimento” (OLIVEIRA, 2009, p. 237, grifos nossos). POLÍTICA EDUCACIONAL – CONCEITOS E CONTEXTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E24 REFORMA DA EDUCAÇÃO A PARTIR DE 1990 E O NEOLIBERALISMO A crise econômica mundial, do final dos anos 1970 e início dos anos 1980, marca o ponto de partida da ascensão da hegemonia conservadora como força político- -ideológica e ocorre a desqualificação dos “velhos” ideais com base progressista e socialista e a valorização do pragmatismo da vida econômica, marcada pelas forças do mercado (SHIROMA; MORAES; EVANGELISTA, 2007). No contexto da crise econômica, o Estado é responsabilizado, compreen- dido pelos neoliberais como burocrático, lento e ineficiente, ou seja, um entrave para o desenvolvimento, o qual, em grande parte, é responsável pela crise, pois atravessa a sociedade. Nesse sentido, concluímos que todos os processos que apresentam obstáculos, controlam ou suprimem o livre jogo das forças do mer- cado terão efeitos negativos sobre a economia, o bem-estar e a liberdade dos indivíduos. Dessa forma, os neoliberais sustentam a ideia de que o intervencio- nismo estatal é antieconômico e antiprodutivo, não só por provocar uma crise fiscal do Estado e uma revolta dos contribuintes, mas, sobretudo, porque deses- timula o capital a investir. Reforma da Educação a Partir de 1990 e o Neoliberalismo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 25 Nesse momento, o Estado, a sociedade civil e o mercado são vistos como parceiros no processo de desenvolvimento. A estrutura de funcionamento da Reforma do Estado caracteriza-se por meio do processo da reforma dos sis- temas de previdência social, busca-se racionalizar recursos, diminuindo o seu papel no que tange às políticas sociais; saúde e educação; desregulamentação na economia; privatização; abertura de mercados, procedentes da incorporação de diretrizes neoliberais. [...] a reforma do Estado deve ser entendida dentro do contexto da re- definição do papel do Estado, que deixa de ser o responsável direto pelo desenvolvimento econômico e social pela via da produção de bens e serviços, para fortalecer-se na função de promotor e regulador desse desenvolvimento (BRASIL, 1995, p. 12). No documento citado, a administração pública gerencial passa a considerar o cidadão cliente dos seus serviços, para isto, exige formas flexíveis de gestão e de descentralização. Na busca pela qualidade e efetividade dos serviços prestados, institui uma avaliação sistemática dos serviços prestados, como no caso da edu- cação, por meio das avaliações nacionais. O desenvolvimento deixa de ser um projeto conduzido apenas pelo Estado- nação e passa ter como base o mercado mundial conforme as orientações do Consenso de Washington, que estabelece seus dez mandamentos: “disciplina fis- cal, prioridades na despesa pública, reforma fiscal, liberalização financeira, taxas de câmbio, liberalização do comércio, investimento estrangeiro direto, privati- zação, desregulamentação e direitos de propriedade” (TEODORO, 2008, p. 25). Em relação ao Consenso de Washington: Trata-se dos resultados dos encaminhamentos tratados nas reuniões de economistas do FMI, do Bird e do Tesouro dos Estados Unidos realiza- das em Washington D.C. no início dos anos 1990. Foram provenientes dessas reuniões recomendações dos países desenvolvidos aos países em desenvolvimento, para que estes adotassem políticas de abertura de seus mercados (SANDRONI, 1999, p. 123). Portanto, o que aparentemente seria uma proposta de “Estado mínimo, confi- gura-se como realidade de Estado mínimo para as políticas sociais e de Estado máximo para o capital” (PERONI et al., 2006, p. 14). POLÍTICA EDUCACIONAL – CONCEITOS E CONTEXTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E26 O Estado é máximo para o capital, porque além de ser chamado a regu- lar as atividades do capital corporativo, no interesse da nação, tem, ain- da, de criar um “bom clima de negócios”, para atrair o capital financeiro transnacional e conter (por meios distintos dos controles de câmbio) a fuga de capital para “pastagens” mais verdes e lucrativas (HARVEY, 1989, p. 160). O Brasil, nesse contexto, vem implementando, desde a década de 90, políticas de ajustes para se inserir no mundo globalizado. O discurso de modernização põe em evidência o progresso tecnológico e o científico, assim como a otimização dos processos produtivos, aliados à implementação de novas formas de gestão do trabalho. Esse conjunto de medidas faz-se presente nas políticas educacio- nais, no discurso da modernização educativa. Assim, observa-se, nas reformas educacionais, implementadas na década de 90, a racionalidade presente na própria reforma do Estado brasileiro. A reforma educacional teve como principal objetivo a expansão da escolaridade, com foco no ensino fundamental, por meio de políticas de planejamento e financiamento. A etapa da educação básica que teve recursos seguros no governo FHC foi o ensino fundamental. A escola republicana francesa, voltada à formação do cidadão, que destaca o saber não somente pelo seu valor profissional, mas por seu valor social, cultu- ral e político, está, agora, sendo substituída por uma escola voltada à formação de “capital humano”, ou seja, de conhecimentos apreendidos pelos indivíduos desde que sejam valorizados economicamente - uma escola que cada vez mais se insere na ordem competitiva de uma economia globalizada. “Na nova ordem educativaque se delineia, o sistema educativo está a serviço da competitividade econômica, está estruturado como um mercado deve ser gerido ao modo das empresas” (LAVAL, 2004, p. 20). O conhecimento passa a ser visto como eixo da produção, dessa forma, adquire “força produtiva” quando produzido e incorporado aos processos pro- dutivos, possibilitando o aumento da produtividade, o rendimento e assegurando a acumulação de capital. Esses conceitos privados passam, também, pelo âmbito da educação, no qual a escola privada torna-se modelo para a escola pública. Reforma da Educação a Partir de 1990 e o Neoliberalismo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 27 A crise da sociedade capitalista que eclodiu na década de 1970 con- duziu à reestruturação dos processos produtivos, revolucionando a base técnica da produção e conduzindo à substituição do fordismo pelo toyotismo. O modelo fordista apoiava-se na instalação de grandes fábricas operando com tecnologia pesada de base fixa, incorporando os métodos tayloristas de racionalização do trabalho; supunha a esta- bilidade no emprego e visava à produção em série de objetos estan- dardizados, em larga escala, acumulando grandes estoques dirigidos ao consumo de massa. Diversamente, o modelo toylorista apoia-se em tecnologia leve, de base microeletrônica flexível, e opera com traba- lhadores polivalentes visando à produção de objetos diversificados, em pequena escala, para atender à demanda de nichos específicos do mer- cado, incorporando métodos como o just in time que dispensam a for- mação de estoques; requer trabalhadores que, em lugar da estabilidade no emprego, disputem diariamente cada posição conquistada, vestin- do a camisa da empresa e elevando constantemente sua produtividade (SAVIANI, 2007, p. 427). A denominação utilizada no âmbito econômico e político é “neoliberalismo”, uma retomada atualizada dos princípios do liberalismo do século XIX, sob o signo ultraliberalismo, de Friedrich Hayek, e do monetarismo, de Milton Friedman. Hayek herdou pensamentos de John Stuart Mill e Ludwig von Mises, no qual enfatiza o caráter abstrato e generalista da teoria diante do elevado grau de com- plexidade dos assuntos econômicos, o alvo de suas críticas foi o pensamento keynesiano (socialdemocracia). Milton Friedman (1912-2006), economista libe- ral (conservador), representa a escola de Chicago com Theodore Schultz e Gary Beckerque. Friedman atuou no Departamento de Economia da Universidade de Chicago, recebeu o Prêmio Nobel de Economia em 1976. O ponto funda- mental para nosso estudo na obra de Friedman são as sugestões direcionadas na área educacional. Os indivíduos devem ser responsabilizados pelo custo de seu inves- timento e receber as recompensas. [...] Uma agência governamental poderia financiar ou ajudar a financiar o treinamento de qualquer indi- víduo [...] Em troca, o indivíduo concordaria em pagar ao governo [...] (FRIEDMAN, 1984, p. 99). POLÍTICA EDUCACIONAL – CONCEITOS E CONTEXTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E28 Percebemos as ideias privatizantes na educação, pois, para o autor anteriormente citado, o Estado não deve manter a oferta de educação, a responsabilidade deve ser de cada indivíduo, já que a educação é compreendida como investimento em capital humano individual, no qual possibilita ao indivíduo se tornar empregá- vel. O Estado progressivamente retira-se da área social, modifica seu modo de intervir com “[...] menos responsabilidade direta, mais pilotagem à distância em parceria com os atores da sociedade civil, mais avaliação da eficácia e da eficiên- cia da ação pública” ( TARDIFF e LESSARD, 2011, p. 54-55). Quando se utiliza a expressão “liberal” no continente europeu, o que se tem em vista é aquele pensador ou político que defende as ideias econômicas do livre mercado e critica a intervenção estatal e o planejamento. São aque- les que se opõem ao socialismo, à socialdemocracia, ao Estado de bem-estar social, mas a palavra “liberal” nos Estados Unidos quer dizer quase o contrá- rio: ela se aplica principalmente a políticos e intelectuais alinhados com o Partido Democrata e que apoiam a intervenção reguladora do Estado e a adoção de políticas de bem-estar social, programas que os neoliberais re- cusam. Fonte: Moraes (2001, p. 3). Reforma da Educação a Partir de 1990 e o Neoliberalismo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 29 O quadro a seguir apresenta, com base em categorias, o projeto de moderniza- ção neoliberal. Quadro 3 - Neoliberalismo de mercado Paradigma da liberdade econômica, da eficiência e da qualidade. Tendência ca- pitalista-liberal concorrencial e elitista- -conservadora que imprime um proje- to de modernização caracterizado por: Economia Economia de mercado autorregulável: livre concorrência; fortalecimento da iniciativa privada, com ênfase na competi- tividade, na eficiência e na qualidade de serviços e produtos; Estado Estado minimalista, com três funções: policiamento, justiça e defesa nacional; projeto de desestatização, desregulamenta- ção e privatização; desqualificação dos serviços e das políticas públicas; Democracia Ideal de democracia indireta (Tocqueville: governo represen- tativo); ênfase na democracia formal (refere-se à forma de governo); Educação Ênfase no ensino privado, na escola diferenciada/dual e na formação das elites intelectuais; formação para o atendimen- to das demandas/exigências do mercado; Seleção dos indivíduos Seleção dos melhores, baseada em critérios naturais de ap- tidão e inteligência; elitismo psicocultural (seletividade me- ritocrática); Direito Ênfase no direito privado, na propriedade privada; na lei como instrumento de igualdade formal; Governo Governo limitado; Princípios Ênfase na liberdade, na propriedade, na individualidade (di- reitos naturais), na economia de mercado autorregulável. Fonte: Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 100-101). POLÍTICA EDUCACIONAL – CONCEITOS E CONTEXTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E30 O papel do Estado fica em segundo plano, ao priorizar a concorrência de mer- cado por meio da iniciativa privada, o que corresponde à desobrigação paulatina do Estado com a educação pública. Com um olhar crítico e reflexivo sobre as políticas educacionais na atual realidade, percebemos a prioridade do Estado na inserção do país no mercado globalizado, à medida que incorpora em sua polí- tica social os ditames neoliberais segundo os quais a educação deve responder ao desenvolvimento da economia. Caro(a) aluno(a), agora que já conhecemos um pouco sobre os ideais neo- liberais, cabe a seguinte questão: como as políticas neoliberais interferem na educação? São vários aspectos a serem colocados. A transferência dos referenciais econômicos para a educação - atualmente a educação se organiza sob o “paradigma da liberdade econômica, da eficiên- cia e da qualidade” (LIBÂNEO, 2003, p. 92). Assim, a competição deve regular o sistema escolar, o que evidencia os mecanismos de controle de qualidade, realizados por meio das constantes avaliações nacionais, e estas apresentam os resultados em forma de ranking, estimulando o mérito, a competição e o mer- cado educacional. A ótica neoliberal visa ao “preparo polivalente apoiado no domínio de conceitos gerais, abstratos, de modo especial aqueles de ordem matemática” (SAVIANI, 2007, p. 427). A partir das avaliaçõesnacionais, disciplinas são pri- vilegiadas na escola, como o caso de português e matemática, consequentemente algumas escolas se tornam um “cursinho”, que treina os alunos para as avaliações. A educação é entendida não mais como um direito social, mas como uma mercadoria a ser consumida individualmente, portanto, quem tiver mais poder econômico “compra” uma educação de melhor qualidade. [...] Daí a crise do sistema público de ensino, pressionado pelas deman- das do capital e pelo esgotamento dos cortes dos recursos dos orçamen- tos públicos. Talvez nada exemplifique melhor o universo instaurado pelo neoliberalismo, em que “tudo se vende, tudo se compra”, “tudo tem preço”, do que a mercantilização da educação. Uma sociedade que impede a emancipação só pode se transformar em shopping centers, funcionais à sua lógica do consumo e do lucro (SADER apud MÉSZÁ- ROS, 2005, p. 16). Reforma da Educação a Partir de 1990 e o Neoliberalismo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 31 A retórica neoliberal adota a adequação do ensino à competitividade do mercado internacional, e é conforme a demanda do mercado de trabalho que se estabe- lecem os objetivos e currículos educacionais. Assim, podemos observar que o atual momento estimula a formação de técnicos, pois o foco é no trabalhador. Temos também a contradição centralização X descentralização; “centra- lizadora do controle pedagógico (em nível curricular, de avaliação do sistema e de formação docente) e descentralização dos mecanismos de financiamento e gestão do sistema” (GENTILI, 1998, p. 25). A descentralização é utilizada como estratégia de racionalização de recursos, e a centralização incorpora também as orientações dos organismos internacionais para a educação. O olhar dos autores neoliberais para a educação é, a princípio, responsa- bilizar o Estado, escola e o professor pela ineficiência e falta de qualidade. Os sistemas educacionais contemporâneos não enfrentam, sob a perspectiva neo- liberal, uma crise de democratização, de acesso e permanência dos alunos na escola, de falta de recursos, mas uma crise gerencial. A grande estratégia do neoliberalismo consiste em transferir a educação da esfera da política para a esfera do mercado, distorcendo, assim, seu caráter de direito do cidadão e reduzindo-a a sua condição de propriedade. Gentili (1999) denomina esse processo de “mcdonaldização da escola”; a educação como mer- cadoria oferecida deve ser produzida de forma rápida e de acordo com normas de controle da eficiência e da produtividade, ou seja, racionalizada. A noção de privatização da educação é extremamente relevante na com- preensão dos aspectos neoliberais na política educacional. Lembre-se, caro(a) aluno(a), de que a privatização constitui uma estratégia global da reestrutura- ção capitalista, nesse sentido, a educação é privatizada de forma similar a das empresas estatais e dos serviços da área social. Gentili (1999, p. 109) aponta três aspectos da privatização educacional: 1. Fornecimento público com financiamento privado (privatização do financiamento); 2. Fornecimento privado com financiamento público (privatização do fornecimento); 3. Fornecimento privado com financiamento privado (privatiza- ção total). POLÍTICA EDUCACIONAL – CONCEITOS E CONTEXTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E32 O Estado vai, assim, reduzindo sua responsabilidade com a educação, pois trans- fere está para os indivíduos, a família e as empresas. Como exemplo temos: o apadrinhamento de escolas; a privatização de formação de professores; a compra de materiais “prontos” para a escola pública, entre outros. No Paraná, o Projeto Qualidade do Ensino Público e os cursos de formação de professores, realizados em Faxinal do Céu, foram, em grande parte, empreendidos por empresas edu- cacionais privadas. Em Maringá, durante a gestão do ex-prefeito Ricardo Barros (1989-1992), temos como exemplo “escolas cooperativas”. O modelo, chamado de “cooperativo”, privatizou as escolas municipais. Com a redução do Estado, o setor privado passa a explorar a área social, por meio das inúmeras instituições que compõem o denominado terceiro setor. Isto é, o terceiro setor é constituído por organizações sem fins lucrativos e não governamental, que têm como objetivo gerar serviços de caráter público. Os principais “personagens” do terceiro setor são: fundações, empresas, ONG, dentre outros. Caro(a) aluno(a), o importante é pensarmos sobre o processo de privatiza- ção, considerar que quem defende a privatização, a defende como uma solução para os problemas econômicos e de gestão, as consequências seriam: maior efi- ciência, oferta de produtos e serviços com uma melhor qualidade, preços mais baixos, a possibilidade de ter um caixa para reduzir dívida e juros, diminuição da distribuição de cargos nas empresas públicas, geralmente distribuídos por interesses políticos e não por competência, e a diminuição da própria corrup- ção (como exemplo, na diretoria da Petrobras). Já para os que criticam as privatizações, elencam algumas consequências, como: a transferência do patrimônio público para as mãos de empresas priva- das, a redução do poder do Estado de promover o bem comum nas ofertas dos serviços que são públicos e de direito de todo cidadão, como no caso da educa- ção. O dinheiro público, no caso da educação, iria para as empresas privadas e isso não garante a melhora da qualidade da educação, visto que uma empresa privada objetiva o lucro e, para isso, reduziria os gastos. Reforma da Educação a Partir de 1990 e o Neoliberalismo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 33 Privatizar não, necessariamente, oferece a livre concorrência, pois pode existir cartas marcadas nesse processo e o aumento do monopólio do serviço prestado; quando um setor deixa de ser público, não há a necessidade de concurso, como no caso dos professores, isso pode trazer contratações temporárias, menos qua- lificadas e com salários menores. E você, aluno(a), o que pensa sobre o processo de privatização da educação? O Observatório da Educação tem como objetivo produzir e disseminar infor- mações, promover a pluralidade de opiniões no debate público sobre edu- cação e subsidiar os meios de comunicação, agentes educacionais e mo- vimentos sociais na promoção da educação como direito humano. Caro(a) acadêmico(a), no site, a seguir, você pode conhecer o mapa da privatização da educação no Brasil. Disponível em: <http://www.observatoriodaeducacao.org.br/mapas/#/>. Fonte: as autoras. POLÍTICA EDUCACIONAL – CONCEITOS E CONTEXTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E34 ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS: PROPOSTAS PARA A EDUCAÇÃO BRASILEIRA As reformas educacionais no Brasil e na América Latina realizaram-se sob forte impacto de avaliações diagnósticas, relatórios e documentos, gerados no âmbito dos organismos internacionais, como as agências que compõem a ONU: BIRD – Banco Mundial (Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento); CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina e Caribe; FMI – Fundo Monetário Internacional; OIT – Organização Internacional do Trabalho; Instituições voltadas para a cooperação técnica, como o Programa das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura – UNESCO, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, o Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF, o Programadas Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD, entre outras. Organizações Internacionais: Propostas para a Educação Brasileira Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 35 As políticas focadas na população extremamente pobre não garante cidada- nia porque propõe o mínimo necessário. Mas estas políticas não contribuem para a diminuição da desigualdade social? Fonte: Abranches (1998). Trabalhos produzidos por autores, tais como Oliveira (2004), Rosemberg (1998; 1999; 2000), Mello e Costa (1995), Torres (2001), Coragio (1996), entre outros, apontam as influências das organizações multilaterais (OMs) na política para educação brasileira, e tais influências se originam da subordinação do Estado a esses organismos, pois dependem de seus financiamentos para projetos na área educacional; em contrapartida, devem estar em sintonia com as ideologias e recomendações dessas organizações internacionais. Ao realizar empréstimos, os organismos internacionais propõem os ajustes estruturais, que são diretrizes econômicas e políticas, elaboradas pelas organi- zações multilaterais e recomendadas como modelo ou receituário a ser seguido pelos países endividados. No entanto, ajustes estruturais implicam cortes de ver- bas em áreas sociais, tradicionalmente atendidas pelo Estado, como a educação. Como forma de compensar os cortes no orçamento destinado às áreas sociais, definem-se programas focalizados na população mais pobre (SOARES, 2000). É preciso entender, caro(a) aluno(a), que as organizações multilaterais possuem como objetivos principais definir e estabelecer os direitos de propriedade dos atores internacionais. De acordo com Rosemberg (2000), para alguns países é preferível financeiramente participar de uma organização multilateral a ter repre- sentação diplomática em todos os países. O principal evento diretamente relacionado com as políticas educacionais foi a Conferência Mundial sobre Educação para Todos (1990) e, em sequência a ela, a Conferência de Cúpula de Nova Delhi, Índia (1993), e Cúpula Mundial de Educação para Todos, Dakar (2000), com os objetivos de avaliar e modificar os POLÍTICA EDUCACIONAL – CONCEITOS E CONTEXTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E36 termos definidos na Conferência de Jomtien que é, ainda hoje, o documento de referência para as políticas educacionais dos países pobres e em desenvolvimento, como o Brasil. O Banco Mundial, por sua vez, elabora regularmente relatórios técnicos sobre suas atividades. Os documentos originados dessas conferências, assinados pelos países membros, e as orientações políticas e técnicas do Banco Mundial, vêm servindo de referência às políticas educacionais do Brasil: Plano Decenal Educação para Todos (1993-2003), Plano Nacional de Educação (2001- 2010), LDB de 1996 e outras diretrizes para a educação. Cabe registrar que, no Brasil, as orientações internacionais são assumidas pelo Movimento Todos pela Educação (SHIROMA; GARCIA; CAMPOS, 2011). O marco da Conferência Mundial sobre Educação para Todos (1990) por ini- ciativa e patrocínio dos organismos internacionais - UNICEF, UNESCO, PNUD E BM - serviu de marco para o delineamento, planejamento e execução de políticas públicas educativas em nível global. A partir da conferência e o próprio documento “Declaração Mundial de Educação para Todos”, os governos utilizam e assumem os conceitos, interpretações e orientações que são traduzidas em políticas e programas. Entretanto, o “modelo de educação para todos” possibilita diferentes interpretações. A Educação para Todos foi se voltando para os enfoques minimalistas, o curto prazo, a solução fácil e rápida, a quantidade acima da qualidade (TORRES, 2001, p. 29). Quadro 4 - Educação para todos EDUCAÇÃO PARA TODOS PROPOSTA RESPOSTA 1. Educação para todos; 2. Educação básica; 3. Universalizar a educação básica; 4. Necessidade básicas de aprendizagem; 5. Concentrar a atenção na aprendizagem; 6. Ampliar a visão da educação básica; 7. Educação básica como alicerce de aprendi- zagens posteriores; 8. Melhorar as condições de aprendizagem; 9. Todos os países; 10. Responsabilidade dos países (organismos governamentais e não governamentais) e da comunidade internacional. 1. Educação para meninos e meninas (os mais pobres dentre os pobres); 2. Educação escolar (primária); 3. Universalizar o acesso à educação primária; 4. Necessidades mínimas de aprendizagem; 5. Melhorar e avaliar o rendimento escolar; 6. Ampliar o tempo (número de anos) da escolaridade obrigatória; 7. Educação básica como um fim de si mesma; 8. Melhorar as condições internas da institui- ção escolar; 9. Os países em desenvolvimentos; 10. Responsabilidade dos países. Fonte: Torres (2001, p. 29). Organizações Internacionais: Propostas para a Educação Brasileira Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 37 A visão minimalista proposta está vinculada à significativa influência dos organismos internacionais, demonstram um modelo com ênfase nos aspectos administrativo por vias da descentralização, tanto do sistema escolar como da capacitação de docentes. A aprendizagem, em geral, é interpretada como resul- tado, por isso a proposta de avaliar constantemente e remunerar os docentes conforme a aprendizagem de seus alunos. Saviani (2007), denomina esse processo de neo-escolanivismo, que tem como lema “aprender a aprender”, tão difundido na atualidade. Como resultado, temos várias mudanças no eixo do processo educativo: [...] do aspecto lógico para o psicológico; dos conteúdos para os méto- dos; do professor para o aluno; do esforço para o interesse; da disciplina para a espontaneidade, configurou-se uma teoria pedagógica em que o mais importante não é ensinar e nem mesmo aprender algo, isto é, assimilar determinados conhecimentos. O importante é aprender a aprender, isto é, aprender a estudar, a buscar conhecimentos, a lidar com situações novas. E o papel do professor deixa de ser o daquele que ensina para ser o de auxiliar o aluno em seu processo de aprendizagem (SAVIANI, 2007, p. 429). Essa crítica ao “aprender a aprender” também está presente nas pesquisas de Newton Duarte, no livro Vigotski e o “aprender a aprender”: crítica às apropria- ções neoliberais e pós-modernas da teoria vigotskiana. A análise de seu livro teve como fonte o relatório da comissão internacional da UNESCO, conhecido como Relatório Jacques Delors e o volume I dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental. Em seu livro, evidencia quatro posicionamentos valorativos contidos no lema “aprender a aprender”. [...] são mais desejáveis as aprendizagens que o indivíduo realiza por si mesmo, nas quais está ausente a transmissão, por outros indivíduos, de conhecimentos e experiências. [...] Não discordo da afirmação de que a educação escolar deva desenvolver no indivíduo a capacidade e a iniciativa de buscar por si mesmo novos conhecimentos, a autonomia intelectual, a liberdade de pensamento e de expressão. [...] trata-se do fato de que as pedagogias do “aprender a aprender” estabelecem uma hierarquia valorativa na qual aprender sozinho situa-se num nível mais elevado do que a aprendizagem resultante da transmissão de conheci- mentos por alguém (DUARTE, 2001, p. 36). POLÍTICA EDUCACIONAL – CONCEITOS E CONTEXTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E38 Passa a ser mais importante o aluno desenvolverum método de aquisição do conhecimento do que aprender os conhecimentos descobertos historicamente. Aprender sozinho na perspectiva do “aprender a aprender” é mais importante do que a aprendizagem resultante da transmissão de conhecimento por outra pessoa (DUARTE, 2001). São, portanto, duas ideias intimamente associadas: 1) aquilo que o indi- víduo aprende por si mesmo é superior, em termos educativos e sociais, àquilo que ele aprende através da transmissão por outras pessoas e 2) o método de construção do conhecimento é mais importante do que o conhecimento já produzido socialmente (DUARTE, 2001, p. 37). O terceiro posicionamento valorativo analisado pelo autor se refere a atividade educativa do aluno, a qual deve ser impulsionada e orientada conforme os inte- resses e necessidades da própria criança, uma educação funcional, com base na concepção de educação funcional de Claparède (1954). O quarto posicionamento valorativo “[...] é o de que a educação deve pre- parar os indivíduos para acompanharem a sociedade em acelerado processo de mudança” (DUARTE, 2001, p. 37). Os alunos devem ser preparados para um mundo mutante, desenvolver habilidades, competências para se adaptar e ser flexível, ajustando-se às condições de trabalho ou desemprego. Qual relação podemos fazer sobre neoliberalismo, os organismos interna- cionais e o “aprender a aprender”? Os organismos internacionais utilizam das ideias neoliberais e pós-modernos em seus documentos e orientações. A concep- ção pós-moderna de sujeito híbrido, plural e centrado na experiência imediata da vida valoriza o conhecimento cotidiano, não mais o conhecimento constru- ído historicamente e sistematizado na escola. Portanto, as teorias pedagógicas do “aprender a aprender” devem ser analisadas “[...] como parte de um processo ideológico mais amplo, o de avanço do pensamento neoliberal e de seu aliado, o pós-modernismo” (DUARTE, 2001, p. 71). Em suma, o pensamento pós-moderno e neoliberal apresenta um “recuo da teoria” o que torna ilusório a apropriação do conhecimento objetivo; pres- suposto básico para a formação de sujeitos políticos, críticos que lutem pela possibilidade de transformações sociais. Organizações Internacionais: Propostas para a Educação Brasileira Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 39 Caro(a) aluno(a), cabe nos questionarmos: que visão de sociedade e de indi- víduo essas teorias pedagógicas do “aprender a aprender” assumem e propagam na escola? Para Duarte (2003, 2004, 2006 e 2007), teorias pedagógicas do “apren- der a aprender” propagam argumentos, como: ■ O conhecimento importante é o conhecimento espontâneo, imediato e particularizado; ■ O conhecimento espontâneo é o extraído do cotidiano; ■ O conhecimento aceito é o que tem utilidade imediata; ■ O conhecimento aceito é o que funciona na prática; ■ O conhecimento valorizado é o que foi adquirido na prática. Quais são as fragilidades desses argumentos apresentados? ■ A apropriação do conhecimento universal, da riqueza intelectual produzida historicamente e sua socialização, como função social da escola, não é considerada como fundamental na formação dos alunos; ■ A história dos homens é desprezada, ocorre um afastamento da vida objetiva, do olhar amplo de cada problema social; ■ Ocotidiano e a experiência passam a ser a verdade e não mais a ciência; ■ O objeto de trabalho do professor deixa de ser o conhecimento e passa a ser as interações humanas; ■ As questões teóricas (fruto da própria práxis) são substituídas pelas questões práticas; ■ O método e o processo de aprendizagem são mais importan- tes do que o conteúdo, o patrimônio cultural. Nesse sentido, as pedagogias do “aprender a aprender” negam a escola tradicional e, com isso, negam seus métodos, seus conteúdos e suas práticas. Não estamos dizendo aqui que a educação tradicional era um modelo adequado, mas negá-lo por completo é, também, negar uma parte da nossa história. Para os seguidores de Piaget, a escola passa a ter um papel de organização das atividades educati- vas para estimular o processo de construção dos instrumentos de assimilação e aprendizagem do conhecimento. Onde está, nessa proposta, o conhecimento científico? O conhecimento sistematizado? A história construída coletivamente? Nosso questionamento é sobre os fundamentos das propostas do “aprender a aprender” e seu caráter utilitário e pragmático. POLÍTICA EDUCACIONAL – CONCEITOS E CONTEXTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E40 CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) aluno(a), na Unidade I, o objetivo foi tratar conceitos básicos da dis- ciplina a partir da relação entre sociedade, Estado e educação; a interferência neoliberal na educação, os organismos internacionais e suas propostas para a educação brasileira. Ao longo da história da educação no Brasil, os objetivos educacionais são redefinidos, adaptam-se aos modos de produção e organização do trabalho e da vida. Ao sintetizarmos aspectos históricos da educação, observamos as tendên- cias educacionais em cada período. Percebemos, caro(a) aluno(a), que no contexto da reestruturação do capi- tal - a globalização, a reforma do Estado, a política neoliberal e os organismos internacionais - a educação é culpabilizada por uma crise que é da estrutura social e é convocada a responder ativamente para a saída da crise, atendendo às demandas do mercado. As inúmeras políticas e projetos educacionais nas últimas décadas coloca- ram, para o sistema de ensino, aquilo que ele, por si só, não é capaz de resolver. Nós, educadores, precisamos ter clareza da função social da escola em socializar o saber sistematizado historicamente, o saber científico. Esteja atento(a), caro(a) aluno(a), às tendências postas pelo mercado para a educação, elas são sedutoras, tratam a desigualdade social como natural, como se o sucesso escolar e profis- sional dependesse apenas de cada um. Não estamos afirmando que os esforços individuais não seja um elemento fundamental, mas a estrutura social é o fator básico para garantir os direitos de cidadania. Portanto, a educação deve ter como objetivo a formação integral do ser humano, que permita o conhecimento e desenvolvimento de suas potencialida- des, ancoradas nos conhecimentos historicamente acumulados pela humanidade. Todos os indivíduos devem ter a oportunidade educacional de se tornar cons- ciente e crítico do mundo no qual ele vive. 41 1. De acordo com a discussão abordada nesta unidade, reflita sobre a seguinte questão: a reestruturação econômica interfere de que forma na educação a partir da década de 90? 2. Apresente as principais características do ideário neoliberal e sua influência nas políticas públicas educacionais. 3. Explique a influência dos organismos internacionais nas políticas públicas edu- cacionais no Brasil. 4. Com a nova ordem mundial, desde a década de 90, a educação brasileira obtém, como direcionamento, as políticas de ajustes, para atender as exigências dos pa- drões internacionais. O sistema educativo deve atender à competitividade eco- nômica (LAVAL, 2004). Esses ideais de mudança de paradigmas estão pautados no neoliberalismo. A partir das concepções neoliberais para a educação, analise as afirmativas a seguir: I. Para assegurar o acúmulo de capital, o conhecimento passa a ser compre- endido como uma produção da economia, ou seja, é necessário instigar a competitividade entre os alunos, a flexibilização, para que se aumente a pro- dutividade. II. Com a proposta de descentralização do Estado, é possível verificar a proposta de privatização da educação, pois deve ser deinteresse do indivíduo investir em sua formação, para se inserir no mercado de trabalho posteriormente. III. A ênfase da educação passa a ser os conhecimentos valorizados economi- camente. Desse modo, a formação do aluno tem como objetivo atender às exigências do mercado. IV. O ensino público, na perspectiva neoliberal, ganha destaque. O neoliberalis- mo indica que o Estado deve ser o único responsável para garantir ações que visam priorizar a educação gratuita. Está correto apenas o que se afirma em: a) I e II. b) I, II e III. c) III e IV. d) I, II e IV. e) II e III. 42 5. Diversos organismos internacionais vêm exercendo uma influência significativa nas políticas educacionais, em países emergentes, como o Brasil. Nesse sentido, leia as afirmativas a seguir: I. Para a educação brasileira, as influências se originam da subordinação do Es- tado a esses organismos, pois dependem de seus financiamentos para proje- tos na área educacional. II. Uma orientação dos organismos internacionais é a descentralização, utiliza- da como estratégia de racionalização de recursos. III. Os organismos ou agências internacionais trazem a abordagem da educação integral, apoiada na responsabilidade do Estado na oferta exclusiva da edu- cação. IV. Documentos do Banco Mundial apresentam orientações educacionais aos países em desenvolvimento. Está correto apenas o que se afirma em: a) I e II. b) I e III. c) II, III e IV. d) III e IV. e) I, II e IV. 43 O Doutor Pablo Gentili da Universidade do Estado do Rio foi um dos participantes da Cimeira Internacional de Educação, realizada na Cidade do México, que analisou as consequências para os sistemas educativos da adopção de políticas neoliberais. Segue parte da entrevista. [...] P: Então, o que dá origem à crise escolar? R: Segundo os neoliberais, a crise é pro- duzida pela expansão desordenada e anárquica que os sistemas educativos vêm sofrendo nos últimos anos. É uma crise de qualidade, derivada da improdutividade que caracteriza as práticas pedagógicas e da gestão administrativa na grande maio- ria dos estabelecimentos escolares. P: Se é assim que o neoliberalismo vê a qualidade no ensino, onde nos leva esta ideia? R: A que a existência de mecanismos de extensão e de integração escolar são o resultado claro e direto da própria ineficá- cia da escola e da profunda incompetência dos que nela trabalham. Isto é totalmente inaceitável do nosso ponto de vista. Pode- mos dizer que do ponto de vista neoliberal se trata de uma crise da administração e gestão e não da democratização da escola. P: Tal concepção que consequências têm na escola? R: A subordinação da democratização da escola a uma reforma administrativa do sistema escolar orientada apenas pela necessidade de introduzir mecanismos que regulam a eficácia, a produtividade, etc. P: Isso soa a tecnocracia, a discurso retórico. Parece que o neoliberalismo entende a qualidade educativa ao mais puro estilo mercantil. R: Efetivamente, do ponto de vista neolibe- ral — mesmo considerando os países mais pobres — não faltam escolas: faltam melho- res escolas; não faltam professores: faltam professores mais qualificados; não faltam recursos económicos para facilitar políticas que favoreçam a educação, só falta uma melhor distribuição dos recursos existentes. P: Esse discurso parece-me que predo- mina tanto na América Latina como na Europa e, pelos vistos é divulgado em vários fóruns internacionais e é a polí- tica aplicada mundialmente. Com tudo o que acaba de dizer, o que é para o neo- liberalismo a transformação da escola? R: Já aqui foi comentado que para o neo- liberalismo isso é uma transformação gerencial a implicar uma mudança subs- tancial nas práticas pedagógicas, bens mais eficientes. Reestruturar o sistema educativo para flexibilizar a oferta educativa; pro- mover uma mudança cultural não menos profunda na gestão; redefinir o perfil do professor, requalificando-o de novo, e além do mais levar a cabo uma ampla reforma curricular. 44 P: Insisto. Como explica o neoliberalismo a crise do sistema educativo? R: Defende que a escola funciona mal por ausência de um verdadeiro mercado edu- cativo. Construir tal mercado constitui um dos grandes desafios das políticas neolibe- rais no campo educativo. A competência interna e o desenvolvimento de um sistema que tenha como base o mérito e o esforço individual podem promover os mecanis- mos fundamentais que garantam a eficácia dos serviços que oferecem. P: Mas isso é reduzir tudo ao mercado. Onde estão os valores sociais, a solida- riedade...? R: Efetivamente, para eles tudo é mercado, e a crise é o produto da disfunção da noção de cidadania já que esta, ao basear-se no conceito universal e universalizante dos direitos humanos (políticos, sociais, econó- micos, culturais, etc.), gerará um consumo de falsas promessas. P: Então, para os neoliberais quem são o os verdadeiros culpados da crise edu- cativa? R: Bem, citarei uns diretos e outros indire- tos. Em primeiro lugar, o Estado assistencial, apoiado pelos sindicatos e todas aquelas organizações que defendem o direito igua- litário a uma escola pública de qualidade. Os principais: os sindicatos dos professores. Podemos afirmar, portanto, na perspec- tiva neoliberal, que o Estado e os sindicatos são os principais responsáveis da crise, mas a sociedade não fica à margem, já que é culpada na medida em que as pessoas acei- tam como natural e inevitável o “status quo” estabelecido pelo sistema improdutivo do Estado intervencionista. De forma clara e simples: a escola funciona mal porque as pessoas não reconhecem o valor do conhecimento; os professores trabalham pouco e não se atualizam, são preguiçosos; os alunos fingem que estu- dam quando na realidade perdem o tempo, etc. Enfim, para os neoliberais trata-se de um problema cultural provocado pela ideolo- gia dos direitos sociais. P: Durante a Cimeira, comprovamos que existe um consenso estratégico entre políticos, tecnocratas e intelectuais con- servadores sobre como defrontar a crise educativa. Pode resumir as receitas que propõem? R: Em resumo, os objetivos são a neces- sidade de estabelecer mecanismos de controle e evolução da qualidade dos ser- viços educativos; a necessidade de articular e subordinar a “produção educativa” às necessidades estabelecidas pelo mercado de trabalho; e a estratégia de flexibilizar as formas de contratação e as retribuições salariais dos docentes, mas ao mesmo tempo, desenvolver sistemas estatais de evolução. O Neoliberalismo deixou as nações mais pobres, mais excluídas e mais polarizadas 45 P: Como se repercutiram estas políticas na América Latina? R: De uma forma terrível, já que deixa- ram nações mais pobres, mais excluídas e mais polarizadas. Isto está a provocar um confronto de todos contra todos para alcançar a sobrevivência numa sociedade dominada pela economia, que favorece o excessivo pagamento dos interesses da dívida externa, em prejuízo dos salários e da qualidade da vida da população. Estas políticas incrementam ou incremen- taram a desigualdade social, racial e sexual, reproduzindo os privilégios das minorias. Agravam o individualismo e a competição selvagem, quebrando assim os laços de solidariedade coletiva e intensificam um processo antidemocrático de seleção natu- ral onde os melhores triunfam e os mais frágeis perdem. Com todo este panorama, podemos dizer que a resposta do neoliberalismo é sim- plista e enganosa, já que promete mercado, quando na realidade, é na própria confi- guração do mercado que se encontram as raízes da evolução das desigualdades. O neoliberalismo não diz nada de como atuar contra as causas estruturais
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