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Arlindo Ugulino Netto – NEUROANATOMIA – MEDICINA P3 – 2008.2 FAMENE NETTO, Arlindo Ugulino. NEUROANATOMIA ESTRUTURA DO MESENCÉFALO - MICROSCOPIA (Profº Stenio A. Sarmento) O mesencéfalo é constituído por uma porção dorsal, o tecto do mesencéfalo, e outra ventral muito maior, os pedúnculos cerebrais, separados pelo aqueduto cerebral (aqueduto do mesencéfalo), canal que percorre o mesencéfalo longitudinalmente o mesencéfalo e que é circundado por uma espessa camada de substância cinzenta central ou periaquedutal. Em cada pedúnculo cerebral distingue-se, a partir da substância negra, uma parte ventral, a base do pedúnculo (formada de fibras longitudinais) e uma parte dorsal, o tegmento do mesencéfalo, cuja estrutura assemelha-se à parte correspondente na ponte. TECTO DO MESENCÉFALO O tecto do mesencéfalo, nos mamíferos, é constituído de quatro eminências, os colículos superiores (relacionados com os órgãos da visão por meio dos corpos geniculados laterais do diencéfalo) e os colículos inferiores (relacionados com a audição por meio dos corpos geniculados mediais). Além deles, tem a chamada área pré-tectal. • Colículo superior: é formado por uma série de camadas superpostas constituídas alternadamente por substancia branca e cinzenta. Suas conexões são complexas, destacando-se, entre elas: � Fibras oriundas da retina, que atingem o corpo geniculado lateral por meio do tracto óptico e por fim, por meio do braço do colículo superior, chega impulsos ao colículo superior. � Fibras oriundas do córtex occipital, que chegam ao colículo por irradiação óptica e braço do colículo superior. � Fibras que formam o tracto tecto-espinhal e terminam fazendo sinapse com neurônios motores da medula cervical. OBS1: O colículo superior é importante para certos reflexos que regulam o movimento dos olhos no sentido vertical. Para esta função, existem fibras que ligam o coliculo superior ao núcleo do nervo oculomotor, situado ventralmente no tegmento do mesencéfalo, bem ao nível do colículo. Tomores do corpo pineal podem comprimir os colículos e causar a perda da capacidade de mover os olhos no sentido vertical voluntária ou reflexamente. • Colículo inferior: constituído por uma massa bem delimitada de substancia cinzenta, o núcleo do colículo inferior (bilateralmente à substancia cinzenta central). Este núcleo recebe fibras auditivas dos núcleos cocleares que sobem pelo lemnisco lateral e manda fibras ao corpo geniculado medial através do braço do colículo inferior. Algumas fibras cruzam de um colículo para outro, formando a comissura do coliculo inferior. Este colículo é, portanto, um importante relé (interruptor de seleção) das vias auditivas. OBS2: Não confundir lemnisco lateral (fibras que levam impulsos de núcleos cocleares da ponte ao colículo inferior) com lemnisco medial (formado a partir das fibras arqueadas internas que derivam dos núcleos grácil e cuneiforme, ainda no bulbo). Devemos perceber também que o braço do colículo superior é responsável por trazer informações do corpo geniculado lateral para o próprio colículo. Enquanto que o braço do coliculo inferior leva, do colículo inferior ao corpo geniculado medial, impulsos relacionados com a audição. • Área pré-tectal: também chamada de núcleo pré-tectal, é uma área de limites pouco definidos, situada na extremidade rostral dos colículos superiores, no limite do mesencéfalo com o diencéfalo. Relaciona-se com o controle reflexo das pupilas. BASE DO PEDÚNCULO CEREBRAL A base do pedúnculo é formada por fibras descendentes dos tractos córtico-espinhal, córtico-nuclear e córtico-pontino, que formam um conjunto compacto nessa região (diferentemente do que ocorre quando estes passam na base da ponte). Em vista do grande numero de fibras descendentes que percorrem a base dos pedúnculos cerebrais, lesões aí localizadas causam paralisias que se manifestam do lado oposto da lesão. Arlindo Ugulino Netto – NEUROANATOMIA – MEDICINA P3 – 2008.2 SUBSTÂNCIA CINZENTA SUBSTÂNCIA CINZENTA HOMÓLOGA (NÚCLEOS DOS NERVOS CRANIANOS) No tegmento do mesencéfalo estão os núcleos dos pares cranianos III (óculo motor), IV (troclear) e V (trigêmeo). Desse ultimo, está apenas o núcleo do tracto mesencefálico, que continua da ponte e recebe informações proprioceptivas que entram pelo nervo trigêmeo (informações estas que chegam, por exemplo, pelo nervo oftálmico, trazendo informações proprioceptivas da conjuntiva do olho). • Núcleo do Nervo Troclear: situa-se ao nível do colículo inferior, em posição imediatamente ventral à substância cinzenta central e dorsal ao fascículo longitudinal medial. Suas fibras saem de sua face dorsal, contornam lateralmente a substancia cinzenta central, cruzam (posteriormente à ela) e emergem na porção caudal do colículo inferior. Este nervo – o N. troclear (IV) – apresenta, pois, duas peculiaridades: suas fibras são as únicas que saem da face dorsal do encéfalo e trata-se do único nervo cujas fibras decussam antes de emergiram do sistema nervoso central. O nervo troclear inerva o músculo oblíquo superior do olho (responsável pelo olhar inferior e central, como quando se usa ao se descer uma escada). • Núcleo do Nervo Óculomotor (Complexo óculo-motor): localiza-se ao nível do colículo superior e aparece nos cortes transversais em forma de V, estando intimamente relacionado com o fascículo longitudinal medial (com quem faz comunicações com os outros nervos que controlam o bulbo ocular: IV e VI; e com o controle do movimento da cabeça: raiz espinhal do nervo acessório). O complexo oculomotor pode ser funcionalmente dividido em uma parte somática e outra visceral. � A parte somática contém neurônios motores responsáveis pela invervação dos músculos reto superior, reto inferior, reto medial do olhos e levantador da pálpebra. Na realidade, a parte somática do complexo oculomotor é constituída de vários subnúcleos, cada um dos quais destina fibras motoras para inervação de um dos músculos acima relacionados. Essas fibras – depois de um certo trajeto curvo em direção ventral, no qual muitas atravessam o próprio núcleo rubro – emergem na fossa interpeduncular (no sulco medial do pedúnculo cerebral), constituindo o nervo oculomotor. � A parte visceral do complexo oculomotor é chamado de núcleo de Edinger-Westphal, que contém neurônios pré- ganglionares, cujas fibras fazem sinapses no gânglio ciliar e estão relacionadas com a inervação do músculo ciliar e músculo esfíncter da pupila, pertencendo então, ao sistema nervoso parassimpático. SUBSTÂNCIA CINZENTA PRÓPRIA DO MESENCÈFALO Nessa categoria, situam-se dois núcleos importantes, ambos relacionados com a atividade motora simpática: o núcleo rubro e a substância negra. • Núcleo Rubro (núcleo vermelho): é assim denominado em virtude da tonalidade ligeiramente rósea que apresenta nas preparações a fresco. Cada núcleo rubro é abordado na sua extremidade caudal pelas fibras do pedúnculo cerebelar superior que o envolve. Essas fibras vão penetrando no núcleo à medida que sobrem, mas grande parte delas termina no tálamo. O núcleo rubro participa do controle da motricidade somática. Recebe fibras do cerebelo e das áreas motoras do córtex cerebral e dá origem ao tracto rubro-espinhal, através do qual influencia neurônios motores na medula, responsáveis pela inervação da musculatura distal dos membros (realizando movimento finos e delicados). O núcleo rubro liga-se também ao complexo olivar inferior através das fibras rubro-olivares, que integram o circuito rubro-olivo-cerebelar. • Substância Negra: situada entre o tegmento e a base do pedúnculo cerebral, a substancia negra é um núcleo compacto formado por neurônios que apresentam a peculiaridade de conter inclusões de melanina (produto derivado da tirosina e fenilalanina). Isso faz comque esse núcleo apresente nas preparações a fresco uma coloração escura. Uma característica importante da maioria dos neurônios da substancia negra é que eles utilizam como neurotransmissor a dopamina (também derivada da tirosina e fenilalanina), ou seja, são neurônios dopaminérgicos. A substancia negra faz conexões com o corpo estriado, através das fibras nigro-estriatais e estriato-nigrais, sendo as primeiras dopaminérgicas. Degenerações dos neurônios dopaminérgicos da substancia negra casam uma diminuição de dopamina no corpo estriado, provocando as graves pertubações motoras que caracterizam a chamada Síndrome de Parkinson. SUBSTÂNCIA BRANCA Assim como na ponte, a maioria dos feixes de fibras descendentes do mesencéfalo não passam pelo tegmento, mas pela base do pedúnculo cerebral, onde já estudamos. Já as fibras ascendentes percorrem o tegmento e representam a continuação dos segmentos que sobem da ponte: os quatro lemniscos e o pedúnculo cerebelar superior. Este, ao nível do coliculo inferior, cruza com o lado oposto na decussação do pedúnculo cerebelar superior e sobre envolvendo o núcleo rubro. A nível do coliculo inferior, os quatro leminiscos aparecem agrupados em uma só faixa na parte lateral do tegmento, onde, em uma sequencia médio-lateral, se dispõem os lemniscos medial, espinhal, trigeminal e lateral. Este ultimo, pertencente às vias Arlindo Ugulino Netto – NEUROANATOMIA – MEDICINA P3 – 2008.2 auditivas, termina no núcleo do coliculo inferior, enquanto os demais sobem e aparecem a nível do coliculo superior em uma faixa disposta lateralmente ao núcleo rubro. Nesse nível, nota-se também o braço do coliculo inferior, cujas fibras sobem para terminar no corpo geniculado medial. Em toda extensão do tegmento mesencefálico, nota-se, próximo ao plano mediano, o fascículo longitudinal medial, que constitui o feixe de associação do tronco encefálico. CORRELAÇÕES CLÍNICAS Lesões da base do pedúnculo cerebral (Síndrome de Weber) Uma lesão da base do pedúnculo cerebral geralmente compromete o tracto córtico-espinhal e as fibras do nervo oculomotor. Da lesão do nervo oculomotor, resultam os seguintes sintomas do mesmo lado da lesão: � Impossibilidade de mover o bulbo ocular para cima, para baixo ou em direção medial por paralisia dos músculos retos superior, inferior e medial; � Diplopia: visualização de dois campos visuais distintos; � Desvio do bulbo ocular em direção lateral (estrabismo divergente), por ação do músculo reto lateral (inervado pelo N. abducente) não contrabalanceada pelo reto medial; � Ptose palpebral (queda da pálpebra), decorrente da paralisia do músculo levantador da pálpebra; � Dilatação da pupila (midríase) por ação do músculo dilatador da pupila (inervado pelo SN simpático), não agonizada pelo M. constrictor da pupila cuja inervação parassimpática foi lesada. Lesão do tegmento do mesencéfalo (Síndrome de Benedikt) Uma lesão no tegmento do mesencéfalo pode facilmente acometer o nervo oculomotor, o núcleo rubro e os lemniscos medial, espinhal e trigeminal, resultando nos sintomas descritos a seguir: � Lesão do oculomotor: estrabismo divergente; � Lesão dos lemniscos medial, espinhal e trigeminal: anestesia da metade oposta do corpo, inclusive da cabeça (por causa do lemnisco trigeminal); � Lesão do núcleo rubro: tremores e movimentos anormais do lado oposto à lesão.
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