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DIREITO PENAL PARTE ESPECIAL 
DIREITO PENAL IV 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Professora Solange de Oliveira Ramos 
Msc. Direito Penal e Processual Penal 
Especialista em Direitos Humanos 
2012 
 
FACULDADES INTEGRADAS
HÉLIO ALONSO
 
CRIMES CONTRA O SENTIMENTO RELIGIOSO 
 
Art. 208. 
O artigo 5º da CF/88 dispõe ser: “inviolável a liberdade de consciência e de 
crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na 
forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”. Este artigo possui 
três figuras penais distintas a seguir comentadas: 
a) escárnio por motivo de religião: escarnecer com o significado de troçar, 
zombar em público, de pessoa determinada, devido à sua crença (fé 
religiosa) ou sua posição (função) dentro de um culto, (padre, frade, freira, 
pastor, rabino etc.), presente ou não o ofendido. 
 
Consuma-se com o escarnecimento, independentemente do resultado. A forma 
verbal não admite tentativa. A figura qualificada está no parágrafo único do artigo 
208-CP: 
“Para a configuração do art. 208 é necessário que o escárnio seja dirigido a 
determinada pessoa, sendo que a assertiva de que determinadas religiões 
traduzem ‘possessões demoníacas’ ou ‘espíritos imundos’ espelham tão-somente 
posição ideológica, dogmática, de crença religiosa” (TACrSP, RJDTACr23/374). 
 
b) Impedimento ou perturbação de cerimônia ou prática de culto: 
Impedir significando paralisar, impossibilitar e ou perturbar que é: embaraçar, 
estorvar, atrapalhar. A cerimônia é o culto religioso praticado solenemente. Culto 
religioso é o ato religioso não solene. Admite-se a tentativa. Na forma qualificada 
pela violência a pena é aumentada de um terço independentemente da 
correspondente a violência praticada. 
“Gritar palavrões durante uma missa” (RT 491/518). “Configura-se o delito, ainda 
que a cerimônia não fique interrompida, mas tenha de ser abreviada pelo tumulto 
causado” (TACrSP, RT 533/349). 
“Pratica o crime quem, voluntária e injustamente, põe em sobressalto a 
tranqüilidade dos fiéis ou do oficiante” (TACrSP, RT 405/291). 
 
c) Vilipêndio público de ato ou objeto de culto (Art.208-in fine) 
 Aviltar, menoscabar, ultrajar, afrontar e pode ser praticada por palavras, escritos 
ou gestos. O vilipêndio deve ser cometido publicamente, ou seja, na presença de 
várias pessoas. Ato é a cerimônia ou prática religiosa. Já o objeto de culto 
religioso é o consagrado e utilizado na liturgia religiosa. Admite-se a tentativa 
exceto na forma verbal. Na forma qualificada prevista no parágrafo único, com 
utilização de força, aumenta-se a pena básica em mais um terço, além da pena 
correspondente à própria violência. Observa-se que na forma qualificada deste 
artigo 208 e do 209, através de parágrafo único, a mesma ação é punida duas 
vezes, constituindo-se um bis in idem, pois agrava o delito pela violência e impõe 
outra pena para a própria violência. Critério doutrinariamente inaceitável, mas, 
infelizmente acatado na nossa lei penal nestes casos. 
“A propositada derrubada de cruzeiro (cruz de madeira) implantado defronte a 
igreja, com intuito de vilipendiar aquele objeto de culto, enquadra-se nesta figura 
do art. 208” (TACrSP, Julgados 70/280). 
 
Art. 209. 
A ação alternativamente prevista é a de impedir (paralisar, impossibilitar) ou 
perturbar (embaraçar, atrapalhar, estorvar) enterro que é o transporte do falecido 
em cortejo fúnebre ou mesmo desacompanhado, até o local do sepultamento ou 
cremação com a realização destes. Para a maioria “a expressão enterro deve ser 
entendida em sentido amplo, abrangendo o velório, que integra e pode ou não ser 
realizado no mesmo lugar do sepultamento ou cremação; seria aliás, um contra-
senso que a lei tutelasse apenas o transporte, o sepultamento e a cremação, e 
não o velório. Cerimônia funerária é o ato religioso ou civil, realizado em 
homenagem ao morto.”(Delmanto). É interessante observar que o objeto jurídico 
deste capítulo é o sentimento de respeito aos mortos. “Não é diretamente o 
respeito aos mortos, ou à paz dos mesmos, uma vez que não são titulares 
dedireito. Se há retardamento na entrega aos familiares ou interessados, de 
cadáver objeto de remoção de órgãos para transplante, é caso do artigo 19, 
segunda parte, da Lei 9.434/97. 
 
Art.210 
Duas condutas alternativamente indicadas: violar, significando abrir, devassar ou 
profanar, ultrajar, macular. Objeto material: sepultura (lugar onde está enterrado) e 
a urna funerária que efetivamente guarda as cinzas ou ossos do falecido. 
Excludentes de ilicitude podem ser configuradas através do estrito cumprimento 
do dever legal e o exercício regular de direito. Admite-se a tentativa. O furto de 
objetos da sepultura como placas, bronzes, cruzes, sem violação ou profanação 
tipifica só o crime do artigo 155-(furto). Se o cadáver também é destruído ou 
vilipendiado, art. 211 ou 212-CP. 
 “Falta tipicidade, por ausência de dolo, na conduta de sócio-gerente de cemitério 
que, diante da inadimplência de parcelas referentes à manutenção e conservação 
de sepultura, exuma restos mortais, conforme permite o contrato” (TAMA, RT 
790/656). 
“Profanação: Configura qualquer ato de vandalismo sobre a sepultura, ou de 
alteração chocante, de aviltamento ou de grosseira irreverência”(TJSP, RT 
476/340) 
“Furto em sepultura: Há dois posicionamentos: a) A retirada de dentes do cadáver 
configura o crime de artigo 211, ou mesmo artigo 210 do C. Penal, e não o de 
furto, pois cadáver é coisa fora do comércio, a ninguém pertence” (TJSP, RJTJSP 
107/467, RT 608/305), salvo se for de instituto científico ou peça arqueológica 
(TJSP, RT 619/291); b) Se a finalidade era furtar, a violação da sepultura é 
absorvida pelo crime de furto” (TJSP, RT 598/313). Cenotáfio não é objeto deste 
crime porque não contém cadáver. Já o columbário (nichos com as cinzas), pode 
ser objeto do crime do artigo 210-CP. 
 
Art. 211. 
Tipo objetivo com três núcleos de conduta: destruir (fazer com que não subsista), 
subtrair(tirar do local) ou ocultar (esconder). O objeto material é o cadáver, ou 
seja, o corpo humano morto (não o esqueleto nem as cinzas), incluindo o 
natimorto; ou parte dele, considerando as partes sepultadas separadamente, 
desde que não se trate de partes amputadas do corpo de pessoa viva. Admite-se 
a tentativa. Pode haver concurso material com homicídio ou infanticídio que levam 
para a competência do Júri. Sepultamento com infração: Art. 67-LCP. Transplante: 
Lei 9.434/97. “O natimorto, expulso a termo é cadáver” (TJSP, RJTJSP 72/352). 
 
Art. 212 
A ação vilipendiar significa aviltar, ultrajar e pode ser praticada mediante palavras, 
escritos ou gestos. Cadáver é o corpo humano sem vida, abrangendo o natimorto. 
Cinzas são os restos de um cadáver. Deve ser praticado perante, sobre ou junto 
do cadáver ou de suas cinzas. Admite-se a tentava em consonância com o meio 
de execução. 
“A enucleação dos olhos de cadáver, para fins didáticos, não configura o delito do 
art. 212 do CP nem qualquer outro, sendo penalmente atípica” (STF, RTJ 79/102). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL 
(*)EXCERTOS DE TEXTOS DO DOUTRINADOR ROGÉRIO GRECO 
Titulo VI – Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual 
O Título VI do Código Penal, com a nova redação dada pela Lei nº 12.015, de 7 de 
agosto de 2009, passou a prever os chamados Crimes contra a dignidade sexual, 
modificando, assim, a redação anterior constante do referido Título, que previa os 
Crimes contra os costumes. 
A expressão crimes contra os costumes já não traduzia a realidade dos bens 
juridicamente protegidos pelos tipos penais que se encontravam no Título VI do 
Código Penal. O foco da proteção já não era mais a forma como as pessoas 
deveriam se comportar sexualmente perante a sociedadedo século XXI, mas sim 
a tutela da sua dignidade sexual. 
O nome dado a um Título ou mesmo a um Capítulo do Código Penal tem o condão 
de influenciar na análise de cada figura típica nele contida, pois, através de uma 
interpretação sistêmica ou mesmo de uma interpretação teleológica, onde se 
busca a finalidade da proteção legal, pode-se concluir a respeito do bem que se 
quer proteger, conduzindo, assim, o intérprete, que não poderá fugir às 
orientações nele contidas. 
 A título de exemplo, veja-se o que ocorre com o crime de estupro, contido no 
capítulo relativo aos crimes contra a liberdade sexual. Aqui, como se percebe, a 
finalidade do tipo penal é a efetiva proteção da liberdade sexual da vítima e, num 
sentido mais amplo, a sua dignidade sexual (Título VI). 
As modificações ocorridas na sociedade trouxeram novas e graves preocupações. 
Ao invés de procurar proteger a virgindade das mulheres, como acontecia com o 
revogado crime de sedução, agora, o Estado está diante de outros desafios, a 
exemplo da exploração sexual de crianças. 
 A gravidade da situação motivou a criação no Congresso Nacional de uma 
Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, através do Requerimento 02/2003, 
apresentado no mês de março daquele ano, assinado pela Deputada Maria do 
Rosário e pelas Senadoras Patrícia Saboya Gomes e Serys Marly Slhessarenko, 
que tinha por finalidade investigar as situações de violência e redes de exploração 
sexual de crianças e adolescentes no Brasil. 
 Essa CPMI encerrou oficialmente seus trabalhos em agosto de 2004, trazendo 
relatos assustadores sobre a exploração sexual em nosso país, culminando por 
produzir o projeto de lei nº 253/2004 que, após algumas alterações, veio a se 
converter na Lei nº 12.015, de 7 de agosto de 2009. 
 Através desse novo diploma legal, foram fundidas as figuras do estupro e do 
atentado violento ao pudor em um único tipo penal, que recebeu o nome de 
estupro (art. 213). 
Além disso, foi criado o delito de estupro de vulneráveis (art. 217-A), encerrando- 
se a discussão que havia em nossos Tribunais, principalmente os Superiores, no 
que dizia respeito à natureza da presunção de violência, quando o delito era 
praticado contra vítima menor de 14 (catorze) anos. 
 Além disso, outros artigos tiveram alteradas suas redações, abrangendo 
hipóteses não previstas anteriormente pelo Código Penal; um outro capítulo (VII) 
foi inserido, prevendo causas de aumento de pena. Enfim, podemos dizer que a 
Lei nº 12.015, de 7 de agosto de 2009 alterou, significativamente, o Título VI do 
Código Penal, conforme veremos mais detalhadamente a seguir, quando da 
análise de cada figura típica. 
 A partir das modificações introduzidas pelo referido diploma legal, podemos 
visualizar a seguinte composição do Título VI do Código Penal, que cuida dos 
Crimes contra a dignidade sexual, sendo dividido em sete capítulos, a saber: 
 • Capítulo I – Dos crimes contra a liberdade sexual [estupro (art. 213); violação 
sexual mediante fraude (art. 215); assédio sexual (art. 216-A)] 
 • Capítulo II – Dos crimes sexuais contra vulnerável [estupro de vulnerável (art. 
217-A); corrupção de menores (art. 218); satisfação de lascívia mediante a 
presença de criança ou adolescente (art. 218-A); favorecimento da prostituição ou 
outra forma de exploração sexual de vulnerável (art. 218-B)]; 
• Capítulo III – revogado integralmente pela Lei nº 11.106, de 28 de março de 
2005; 
• Capítulo IV – Disposições gerais [ação penal (art. 225); aumento de pena (art. 
226)]; 
 • Capítulo V – Do lenocínio e do tráfico de pessoa para fim de prostituição ou 
outra forma de exploração sexual [mediação para servir a lascívia de outrem (art. 
227); favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual (art. 228); 
casa de prostituição (art. 229); rufianismo (art. 230); tráfico internacional de 
pessoa para fim de exploração sexual (art. 231); tráfico interno de pessoa para fim 
de exploração sexual (art. 231-A); 
 • Capítulo VI – Do ultraje ao pudor público [ato obsceno (art. 233); escrito ou 
objeto obsceno (art. 234)]; 
 • Capítulo VII – Disposições gerais [aumento de pena (art. 234-A); segredo de 
justiça (art. 234-B)] 
Capítulo I 
Dos crimes contra a liberdade sexual 
Estupro 
 Introdução A Lei nº 12.015, de 7 de agosto de 2009, caminhando de acordo com 
as reivindicações doutrinárias, unificou, no art. 213 do Código Penal, as figuras do 
estupro e do atentado violento ao pudor, evitando-se, dessa forma, inúmeras 
controvérsias relativas a esses tipos penais, a exemplo do que ocorria com 
relação à possibilidade de continuidade delitiva, uma vez que a jurisprudência de 
nossos Tribunais, principalmente os Superiores, não era segura. 
A nova lei optou pela rubrica estupro, que diz respeito ao fato de ter o agente, 
constrangido alguém, mediante violência ou grave ameaça, à pratica, ou com ele 
permitir que se pratique, de conjunção carnal ou qualquer outro ato libidinoso. Ao 
que parece, o legislador se rendeu ao fato de que a mídia, bem como a população 
em geral, usualmente denominava de “estupro” o que, na vigência da legislação 
anterior, seria concebido por atentado violento ao pudor, a exemplo do fato de um 
homem ser violentado sexualmente. 
 Agora, como veremos mais adiante, não importa se o sujeito passivo é do sexo 
feminino, ou mesmo do sexo masculino, pois se houver o constrangimento com a 
finalidade prevista no tipo penal do art. 213 do diploma repressivo, estaremos 
diante do crime de estupro. 
 Em alguns países da Europa, a exemplo do que ocorre na Espanha, esse delito é 
chamado de abuso sexual.1 Analisando a nova redação dada ao caput do art. 213 
do Código Penal, podemos destacar os seguintes elementos: 
 a) o constrangimento, levado a efeito mediante o emprego de violência ou grave 
ameaça; 
 b) que pode ser dirigido a qualquer pessoa, seja do sexo feminino ou masculino; 
c) para que tenha conjunção carnal; 
 d) ou ainda para fazer com que a vítima pratique ou permita que com ela se 
pratique, qualquer ato libidinoso. 
De acordo com a redação legal, verifica-se que o núcleo do tipo é o verbo 
constranger, aqui utilizado no sentido de forçar, obrigar, subjugar a vítima ao ato 
sexual. Trata-se, portanto, de modalidade especial de constrangimento ilegal, 
praticado com o fim de fazer com que o agente tenha sucesso no congresso 
carnal ou na prática de outros atos libidinosos. 
 Para que se possa configurar o delito em estudo é preciso que o agente atue 
mediante o emprego de violência ou de grave ameaça. Violência diz respeito àvis 
corporalis, vis absoluta, ou seja, a utilização de força física, no sentido de subjugar 
a vítima, para que com ela possa praticar a conjunção carnal, ou a praticar ou 
permitir que com ela se pratique outro ato libidinoso. 
A grave ameaça, ou vis compulsiva, pode ser direta, indireta, implícita ou explícita. 
Assim, por exemplo, poderá ser levada a efeito diretamente contra a própria 
pessoa da vítima ou pode ser empregada, indiretamente, contra pessoas ou 
coisas que lhe são próximas, produzindo-lhe efeito psicológico no sentido de 
passar a temer o agente. Por isso, a ameaça deverá ser séria, causando na vítima 
um fundado temor do seu cumprimento. Vale ressaltar que o mal prometido pelo 
agente, para efeito de se relacionar sexualmente com a vítima, contra a sua 
vontade, não deve ser, necessariamente, injusto, como ocorre com o delito 
tipificado no art. 147 do Código Penal. 
 Assim, imagine- se a hipótese daquele que, sabendo da infidelidade da vítima 
para com seu marido, a obriga a com ele também se relacionar sexualmente, sob 
pena de contar todo o fato ao outro cônjuge, que certamente dela se separará. 
 Não exige mais a lei penal, para efeitos de caracterização do estupro, que a 
conduta do agente seja dirigida contra uma mulher. No entanto,esse 
constrangimento pode ser dirigido finalisticamente à prática da conjunção carnal, 
vale dizer, a relação sexual normal, o coito vagínico, que compreende a 
penetração do pênis do homem na vagina da mulher. 
 A conduta de violentar uma mulher, forçando-a ao coito contra sua vontade, não 
somente a inferioriza, como também a afeta psicologicamente, levando-a, muitas 
vezes, ao suicídio. A sociedade, a seu turno, tomando conhecimento do estupro, 
passa a estigmatizar a vítima, tratando-a diferentemente, como se estivesse suja, 
contaminada com o sêmen do estuprador. 
 A conjugação de todos esses fatores faz com que a vítima, mesmo depois de 
violentada, não comunique o fato à autoridade policial, fazendo parte, assim, 
daquilo que se denomina cifra negra. 
Hoje, com a criação das delegacias especializadas, pelo menos nas cidades de 
grande porte, as mulheres são ouvidas por outras mulheres sem o 
constrangimento que lhes era comum quando se dirigiam aos homens, narrando o 
ocorrido. Era, na verdade, a narração de um filme pornográfico, no qual o ouvinte, 
embora fazendo o papel de austero, muitas vezes praticava atos de verdadeiro 
voyeurismo, estendendo, demasiadamente, os depoimentos das vítimas tão-
somente com a finalidade de satisfazer sua imaginação doentia. 
 Foi adotado, portanto, pela legislação penal brasileira, o sistema restrito no que 
diz respeito à interpretação da expressão conjunção carnal, repelindo-se o sistema 
amplo, que compreende a cópula anal, ou mesmo o sistema amplíssimo, que 
inclui, ainda, os atos de felação (orais). 
 Hungria traduz o conceito de conjunção carnal dizendo ser “a cópula 
secundumnaturam, o ajuntamento do órgão genital do homem com o da mulher, a 
intromissão do pênis na cavidade vaginal”. 
 Merece registro, ainda, o fato de que a conjunção carnal também é considerada 
um ato libidinoso, isto é, aquele em que o agente deixa aflorar a sua libido, razão 
pela qual a parte final constante do caput do art. 213 do Código Penal se utiliza da 
expressão outro ato libidinoso. 
 A nova redação do art. 213 do Código Penal considera ainda como estupro o 
constrangimento levado a efeito pelo agente no sentido de fazer com que a vítima, 
seja do sexo feminino, ou mesmo do sexo masculino, pratique ou permita que com 
ela se pratique, outro ato libidinoso. 
Na expressão outro ato libidinoso estão contidos todos os atos de natureza sexual, 
que não a conjunção carnal, que tenham por finalidade satisfazer a libido do 
agente. 
 O constrangimento empregado pelo agente, portanto, pode ser dirigido a duas 
finalidades diversas. Na primeira delas, o agente obriga a própria vítima a praticar 
um ato libidinoso diverso da conjunção carnal. A sua conduta, portanto, é ativa, 
podendo atuar sobre seu próprio corpo, com atos de masturbação, por exemplo; 
no corpo do agente que a constrange, praticando, v.g., sexo oral; ou, ainda, em 
terceira pessoa, sendo assistida pelo agente. 
O segundo comportamento é passivo. Nesse caso, a vítima permite que com ela 
seja praticado o ato libidinoso diverso da conjunção carnal, seja pelo próprio 
agente que a constrange, seja por um terceiro, a mando daquele. Dessa forma, o 
papel da vítima pode ser ativo, passivo, ou, ainda, simultaneamente, ativo e 
passivo. Luiz Regis Prado elenca alguns atos que podem ser considerados 
libidinosos, a exemplo da “fellatioou irrumatioin 
ore, o cunnilingus, o pennilingus, o annilingus(sexo oral); o coito anal, interfemora; 
a masturbação; os toques e apalpadelas do pudendo e dos membros inferiores; a 
contemplação lasciva; os contatos voluptuosos, entre outros”. 
2. CLASSIFICAÇÃO DOUTRINARIA 
Quando a conduta for dirigida à conjunção carnal, o crime será de mão-própria no 
que diz respeito ao sujeito ativo, pois que exige uma atuação pessoal do agente, 
de natureza indelegável, e próprio com relação ao sujeito passivo, posto que 
somente a mulher poderá figurar nessa condição; quando o comportamento for 
dirigido a praticar ou permitir que se pratique outro ato libidinoso, estaremos diante 
de um crime comum, tanto com relação ao sujeito ativo quanto ao sujeito passivo; 
doloso; comissivo (podendo ser praticado via omissão imprópria, na hipótese de o 
agente gozar do status de garantidor); material; de dano; instantâneo; de forma 
vinculada quando a conduta for dirigida a prática da conjunção carnal, e de forma 
livre, quando o comportamento disser respeito ao cometimento de outros atos 
libidinosos; monossubjetivo; plurissubsistente; não transeunte (dependendo da 
forma como é praticado, o crime poderá deixar vestígios, a exemplo do coito 
vagínico ou do sexo anal; caso contrário, será difícil a sua constatação por meio 
de perícia, oportunidade em que deverá ser considerado um delito transeunte). 
 
3. OBJETO MATERIAL E BEM JURIDICAMENTE PROTEGIDO 
Em virtude da nova redação constante do Título VI do Código Penal, podemos 
apontar como bens juridicamente protegidos pelo art. 213 tanto a liberdade quanto 
a dignidade sexual. 
 A lei, portanto, tutela o direito de liberdade que qualquer pessoa tem de dispor 
sobre o próprio corpo, no que diz respeito aos atos sexuais. O estupro, além de 
atingir a liberdade sexual, agride, simultaneamente, a dignidade do ser humano, 
que se vê humilhado com o ato sexual. Emiliano Borja Jiménez, dissertando sobre 
o conceito de liberdade sexual, com precisão, aduz que assim se entende a 
“autodeterminação no marco das relações sexuais de uma pessoa, como uma 
faceta a mais da capacidade de atuar. 
Liberdade sexual significa que “o titular da mesma determina seu comportamento 
sexual conforme motivos que lhe são próprios no sentido de que é ele quem 
decide sobre sua sexualidade, sobre como, quando ou com quem mantém 
relações sexuais”. 
 Inicialmente, a proposta legislativa era no sentido de que no Título VI do Código 
Penal constasse a expressão: Dos crimes contra a liberdade e o desenvolvimento 
sexual. Embora tenha prevalecido a expressão Dos crimes contra a dignidade 
sexual, também podemos visualizar o desenvolvimento sexual como outro bem a 
ser protegido pelo tipo penal em estudo. 
 Assim, resumindo, poderíamos apontar como bens juridicamente protegidos: a 
dignidade, a liberdade e o desenvolvimento sexual. O objeto material do delito 
pode ser tanto a mulher quanto o homem, ou seja, a pessoa contra a qual é 
dirigida a conduta praticada pelo agente. 
4. SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO 
De acordo com a redação legal, verifica-se que somente o homem pode ser 
sujeito ativo do delito de estupro quando a sua conduta for dirigida ao coito 
vagínico. 
 Tal ilação se deve não ao núcleo do tipo, que é o verbo constranger, mas sim à 
expressão conjunção carnal, entendida como a relação sexual normal, ou seja, a 
cópula vagínica, que somente pode ocorrer com a introdução do pênis do homem 
na cavidade vaginal da mulher. 
 No que diz respeito à prática de outro ato libidinoso, qualquer pessoa por ser 
sujeito ativo, bem como sujeito passivo, tratando-se, nesse caso, de um delito 
comum. 
5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 
Quando a conduta do agente for dirigida finalisticamente a ter conjunção carnal 
com a vítima, o delito de estupro se consuma com a efetiva penetração do pênis 
do homem na vagina da mulher, não importando se total ou parcial, não havendo, 
inclusive, necessidade de ejaculação. 
 Quanto à segunda parte do art. 213 do estatuto repressivo, consuma-se o estupro 
no momento em que o agente, depois da prática do constrangimento levado a 
efeito mediante violência ou grave ameaça, obriga a vítima a praticar ou permitir 
que com ela se pratique outro ato libidinoso diverso da conjunção carnal. 
 Assim, no momento em que o agente, por exemplo, valendo- se do emprego de 
ameaça, faz com que a vítima toque em si mesma, com o fim de masturbar-se, ou 
no próprio agente ou em terceira pessoa,nesse instante estará consumado o 
delito. 
 Na segunda hipótese, a consumação ocorrerá quando o agente ou terceira 
pessoa vier a atuar sobre o corpo da vítima, tocando-a em suas partes 
consideradas pudendas (seios, nádegas, pernas, vagina [desde que não haja 
penetração, que se configuraria na primeira parte do tipo penal], pênis, etc.). 
Tratando-se de crime plurissubsistente, torna-se perfeita- mente possível o 
raciocínio correspondente à tentativa. 
Dessa forma, o agente pode ter sido interrompido, por exemplo, quando, logo 
depois de retirar as roupas da vítima, preparava-se para a penetração. 
 Se os atos que antecederam ao início da penetração vagínica não consumada 
forem considerados normais à prática do ato final, a exemplo do agente que passa 
as mãos nos seios da vítima ao rasgar-lhe vestido ou, mesmo, quando esfrega o 
pênis em sua coxa buscando a penetração, tais atos deverão ser considerados 
antecedentes naturais ao delito de estupro, cuja finalidade era a conjunção carnal. 
 A tentativa é possível a partir do momento em que o agente vier a praticar o 
constrangimento sem que consiga, nas situações de atividade e passividade da 
vítima, determinar a prática do ato libidinoso, tratando-se, pois, de delito 
plurissubsistente. 
6. ELEMENTO SUBJETIVO 
O dolo é o elemento subjetivo necessário ao reconhecimento do delito de estupro. 
Não é admissível a modalidade culposa, por ausência de disposição legal 
expressa nesse sentido. Assim, por exemplo, se o agente, de forma imprudente, 
correndo pela praia, perder o equilíbrio e cair com o rosto nas nádegas da vítima, 
que ali se encontrava deitada, tomando banho de sol, não poderá ser 
responsabilizado pelo delito em estudo, pois que não se admite o estupro culposo. 
 
7. MODALIDADES COMISSIVA E OMISSIVA 
O núcleo constranger pressupõe um comportamento positivo por parte do agente, 
tratando-se, pois, como regra, de crime comissivo. No entanto, o delito poderá ser 
praticado via omissão imprópria, na hipótese de o agente gozar do status de 
garantidor, nos termos preconizados pelo § 2o do art. 13 do Código Penal. 
Imagine-se a hipótese em que um carcereiro (ou agente penitenciário), 
encarregado legalmente de vigiar os detentos em determinada penitenciária, 
durante a sua ronda, tivesse percebido que um grupo de presos estava segurando 
um de seus “companheiros de cela” para obrigá-lo ao coito anal, uma vez que 
havia sido preso por ter estuprado a sua própria filha, sendo essa a reação 
“normal” do sistema carcerário a esse tipo de situação. 
 Mesmo sabendo que os presos iriam violentar aquele que ali tinha sido colocado 
sob a custódia do Estado, o garantidor, dolosamente, podendo, nada faz para 
livrá-lo das mãos dos seus agressores, que acabam por consumar o ato libidinoso, 
forçando-o ao coito anal. 
Nesse caso, deverá o carcereiro responder pelo resultado que devia e podia, mas 
não tentou evitar, vale dizer, o estupro por omissão. 
8. MODALIDADES QUALIFICADAS 
A Lei nº 12.015, de 7 de agosto de 2009, criou duas modalidades qualificadas no 
crime de estupro, verbis: 
 § 1º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é 
menor de 18 (dezoito) anos e maior de 14 (quatorze) anos: 
Pena: reclusão de 8 (oito) a 12 (doze) anos 
§ 2º Se da conduta resulta morte: 
 Pena: reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. 
 Por lesão corporal de natureza grave devemos entender aquelas previstas nos § 
1º e 2º do art. 129 do Código Penal. A Lei nº 12.015, de 7 de agosto de 2009, ao 
contrário do que ocorria com as qualificadoras previstas no revogado art. 223 do 
Código Penal, previu, claramente, que a lesão corporal de natureza grave, ou 
mesmo a morte da vítima, devem ter sido produzidas como conseqüência da 
conduta do agente, vale dizer, do comportamento que era dirigido no sentido de 
praticar o estupro, evitando-se discussões desnecessárias. 
 No entanto, deve ser frisado que esses resultados que qualificam a infração penal 
somente podem ser imputados ao agente a título de culpa, cuidando-se, 
outrossim, de crimes eminentemente preterdolosos. 
 Dessa forma, o agente deve ter praticado sua conduta no sentido de estuprar a 
vítima, vindo, culposamente, a causar-lhe lesões graves ou mesmo a morte. 
Conforme esclarece Noronha, “se na prática de um dos delitos sexuais violentos o 
agente quer direta ou eventualmente a morte da vítima, haverá concurso de 
homicídio com um dos crimes contra os costumes, o mesmo devendo dizer-se a 
respeito da lesão grave. Se, entretanto, a prova indica que tais resultados 
sobrevieram sem que o sujeito ativo os quisesse (direta ou indiretamente), 
ocorrerá uma das hipóteses do artigo em exame. 
Excetua-se naturalmente o caso fortuito”. Se, conforme salientou Noronha, o 
resultado que agrava especialmente a pena for proveniente de caso fortuito ou 
força maior, o agente não poderá ser responsabilizado pelas modalidades 
qualificadas, conforme preconiza o art. 19 do Código Penal, que diz: Art. 19. Pelo 
resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver 
causado ao menos culposamente. 
Isso significa que o agente não poderá ser responsabilizado objetivamente sem 
que tenha podido, ao menos, prever a possibilidade de ocorrência de lesões 
graves ou mesmo a morte da vítima com o seu comportamento. No entanto, pode 
ele ter agido com ambas as finalidades, vale dizer, a de praticar o crime sexual 
(estupro), bem como a de causar lesões corporais graves ou a morte da vítima. 
 Nesse caso, como exposto acima, deverá responder por ambas as infrações 
penais, em concurso material de crimes, nos termos preconizados pelo art. 69 do 
Código Penal. 
 Pode ocorrer, ainda, a hipótese em que o agente, para efeitos de praticar o 
estupro, derrube a vítima violentamente no chão, fazendo com que esta bata a 
cabeça, por exemplo, em uma pedra, produzindo-lhe a morte antes que seja 
praticada a conjunção carnal. 
 Nesse caso, pergunta-se: Teríamos uma tentativa qualificada de estupro, ou o 
estupro poderia ser considerado consumado, havendo a morte da vítima, mesmo 
sem a ocorrência da penetração? Como se percebe pela própria indagação, duas 
correntes se formaram. A primeira afirmando pela consumação do delito, conforme 
se verifica através das lições de Luiz Regis Prado, que diz: “O melhor 
entendimento, destarte, é aquele que prima pelo reconhecimento de que haverá, 
nessas hipóteses, crime qualificado consumado, não obstante ter o delito sexual 
permanecido na forma tentada”. Apesar do brilhantismo do renomado autor, 
parece-nos contraditório o seu raciocínio, mesmo sendo essa a posição que goza 
da predileção de nossa doutrina. 
 Como ele próprio afirmou, o delito sexual permaneceu tentado. Se não se 
consumou, como posso entendê-lo consumado, afastando-se a possibilidade do 
reconhecimento da tentativa? 
Na verdade, tratando-se de crime preterdoloso, como regra, não se admite a 
tentativa, uma vez que o resultado que agrava especialmente a pena somente 
pode ser atribuído a título de culpa, e como não se cogita de tentativa em crime 
culposo, não se poderia levar a efeito o raciocínio relativo à tentativa em crimes 
preterdolosos. 
 No entanto, quase toda regra sofre exceções. O que não podemos é virar as 
costas para a exceção, a fim de se reconhecer aquilo que, efetivamente, não 
ocorreu no caso concreto. 
 Veja-se o exemplo do estupro, praticado através da conjunção carnal, que se 
consuma com a penetração, total ou parcial, do pênis do homem na cavidade 
vaginal da mulher. 
Se isso não ocorrer, o que teremos, no caso concreto, será uma tentativa de 
estupro. Portanto, há necessidade inafastável de se constatar a penetração para 
efeitos de reconhecimento do estupro, desde que, obviamente, outros atos 
libidinosos não tenham sido praticados. 
Se é assim, como no caso de ocorrênciade um dos resultados que qualificam o 
crime poderíamos entender pelo delito consumado se não houve a conjunção 
carnal? Aqueles que entendem que o delito se consuma com a ocorrência das 
lesões graves ou da morte justificam seu ponto de vista dizendo que, se 
reconhecêssemos a tentativa, a pena seria menor do que aquela prevista para o 
delito de lesão corporal seguida de morte. 
Isso acontece, realmente, quando se leva em consideração a pena máxima 
cominada em ambos os delitos, muito embora a Lei nº 12.015, de 7 de agosto de 
2009 a tenha aumentado para 30 (trinta) anos, e não no que diz respeito à pena 
mínima, que será idêntica. 
 É claro que o Código Penal não é perfeito, como nenhuma outra legislação o é, 
seja nacional ou estrangeira. As falhas existem. Entretanto, raciocinando no 
contexto de um Estado Social e Democrático de Direito, não podemos permitir que 
essas falhas sejam consideradas em prejuízo do agente. 
 Não podemos simplesmente considerar como consumado um delito que, a toda 
prova, permaneceu na fase da tentativa, raciocínio que seria, esse sim, 
completamente contra legem, com ofensa frontal à regra determinada pelo inciso II 
do art. 14 do Código Penal. 
 Dessa forma, entendemos como perfeitamente admissível a tentativa qualificada 
de estupro. Poderíamos, ainda, visualizar a hipótese em que o agente, depois de 
derrubar a vítima, fazendo com que batesse com a cabeça em uma pedra, 
morrendo instantaneamente, sem que tivesse percebido esse fato, viesse a 
penetrá-la. 
 Aqui, teríamos, ainda, somente uma tentativa de estupro qualificada pela morte 
da vítima, uma vez que a penetração ocorreu somente depois desse resultado, 
não podendo mais ser considerada como objeto material do delito de estupro. 
Também não ocorreria o vilipêndio a cadáver, tipificado no art. 212 do Código 
Penal, em virtude do fato de não saber o agente que ali já se encontrava um 
cadáver, pois que desconhecia a morte da vítima. 
Ao contrário, caso tivesse percebido a morte instantânea da vítima e tentasse 
prosseguir com o seu propósito de penetrá-la, aí, sim, poderia responder por 
ambas as infrações penais, vale dizer, tentativa de estupro qualificada pela morte 
e vilipêndio a cadáver. 
Inovou a Lei nº 12.015, de 7 de agosto de 2009, ao prever o estupro qualificado 
quando a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (quatorze) anos. Por mais 
que as pessoas, que vivem no século XXI, tenham um comportamento sexual 
diferente daquelas que viviam em meados do século passado, ainda podemos 
afirmar que os adolescentes entre 14 (quatorze) e 18 (dezoito) anos de idade 
merecem uma especial proteção. 
 A prática de um ato sexual violento, nessa idade, certamente trará distúrbios 
psicológicos incalculáveis, levando esses jovens, muitas vezes, ao cometimento 
também de atos violentos, e até mesmo similares aos que sofreram. 
 Dessa forma, o juízo de censura, de reprovação, deverá ser maior sobre o agente 
que, conhecendo a idade da vítima, sabendo que se encontra na faixa etária 
prevista pelo § 1º do art. 213 do Código Penal, ainda assim insista na prática do 
estupro. 
Deve ser frisado que, mesmo sendo a vítima menor de 18 (dezoito) e maior de 14 
(quatorze) anos, se ocorrer o resultado morte será aplicado o § 2º do art. 213 do 
Código Penal, pois que as penas deste último são maiores do que aquelas 
previstas pelo § 1º do referido artigo. 
9. CAUSAS DE AUMENTO DE PENA 
O art. 234-A, nos termos da redação que lhe foi dada pela Lei nº 12.015, de 7 de 
agosto de 2009, assevera, verbis: Art. 234-A. Nos crimes previstos neste Título a 
pena é aumentada: I – (vetado); II – (vetado);9 III – de metade, se do crime 
resultar gravidez; e IV – de um sexto até a metade, se o agente transmite à vitima 
doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador.” 
 O inciso III do art. 234-A determina que a pena será aumentada de metade, se do 
crime resultar gravidez. Infelizmente, quanto uma mulher é vítima de estupro, 
praticado mediante conjunção carnal, poderá engravidar e, consequentemente, 
rejeitar o feto, fruto da concepção violenta. 
 Como o art. 128, I do Código Penal permite o aborto nesses casos, é muito 
comum que a mulher opte pela interrupção da gravidez. 
 Como se percebe, a conduta do estuprador acaba não somente causando um mal 
à mulher, que foi vítima de seu comportamento sexual violento, como os incisos I 
e II do art. 234-A, que foram objeto do veto presidencial, diziam, 
respectivamente: I – da quarta parte se o crime é cometido com o concurso de 2 
(duas) ou mais pessoas; II – de metade, se o agente é ascendente, padrasto, 
madrasta, tio, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador da vítima ou 
se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância. 
Nas razões dos vetos foi esclarecido que “as hipóteses de aumento de pena 
previstas nos dispositivos que se busca acrescer ao diploma legal já figuram nas 
disposições gerais do Título VI. 
Dessa forma, o acréscimo dos novos dispositivos pouco contribuirá para a 
regulamentação da matéria e dará ensejo ao surgimento de controvérsias em 
torno da aplicabilidade do texto atualmente em vigor”. também ao feto, que teve 
ceifada sua vida. 
 Dessa forma, o juízo de censura sobre a conduta do autor do estupro deverá ser 
maior, aumentando-se a pena em metade, no terceiro momento do critério 
trifásico, previsto pelo art. 68 do diploma repressivo. 
A pena deverá, ainda, ser aumentada de um sexto até metade, de acordo como 
inciso IV do art. 234-A do Código Penal, se o agente transmite à vítima doença 
sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador. Para que 
ocorra a majorante, há necessidade de que a doença tenha sido, efetivamente, 
transmitida à vítima que, para efeitos de comprovação, deverá ser submetida a 
exame pericial. “As DST (doenças sexualmente transmissíveis) são doenças 
causadas por vírus, bactérias, fungos ou protozoários e que, pelo fato de seu 
mecanismo de transmissão ser quase que exclusivamente por via sexual, 
possuem a denotação sexualmente transmissível. Apesar disso, existem DST que 
podem ser transmitidas fora das relações sexuais. 
 As DST se manifestam principalmente nos órgãos genitais do homem e da 
mulher, podendo acometer outras partes do corpo, sendo possível, inclusive, que 
não se manifeste qualquer sintoma visível. Até certo tempo, as doenças 
sexualmente transmissíveis eram popularmente conhecidas como “doenças 
venéreas” ou “doenças do mundo”. 
 A maioria das doenças sexualmente transmissíveis possui cura. Outras, causadas 
por vírus, possuem apenas tratamento. É o caso da sífilis, do herpes genital e da 
Aids. 
Nestes casos, a doença pode ficar estagnada (encubada) até que algum fator 
externo permita que ela se manifeste novamente.” 
Podemos citar como exemplos de doenças sexualmente transmissíveis a 
candidíase, a gonorréia, a pudicolose do púbis, HPV (HumanPapillomaViruses), a 
hepatite B, a herpes simples genital, o cancro duro e o cancro mole, a infecção de 
clamídia, bem como o HIV (Sida). 
O inciso IV em análise exige, para efeitos de aplicação da causa especial de 
aumento de pena, que o agente, no momento do contato sexual, saiba – ou pelo 
menos deva saber – que seja portador dessa doença sexualmente transmissível. 
As expressões contidas no mencionado inciso – sabe ou deva saber ser portador 
– são motivo de intensa controvérsia doutrinária e jurisprudencial. Discute-se se 
tais expressões são indicativas tão-somente de dolo ou podem permitir também o 
raciocínio com a modalidade culposa. 
10. PENA, AÇÃO PENAL E SEGREDO DE JUSTIÇA 
O caput do art. 213 do Código Penal prevê uma pena de reclusão, de 6 (seis) a 10 
(dez) anos. Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima 
é menor de 18 (dezoito) ou maiorde 14 (catorze) anos, a pena é de reclusão, de 8 
(oito) a 12 (doze) anos. Se da conduta resulta morte, a pena é de reclusão, de 12 
(doze) a 30 (trinta) anos. 
 O art. 225 do Código Penal, de acordo com a nova redação que lhe foi dada pela 
Lei nº 12.015, de 7 de agosto de 2009, assevera que a ação penal, para os crimes 
definidos nos Capítulos I (Dos crimes contra a liberdade sexual) e II (Dos crimes 
sexuais contra vulnerável), do Título VI (Dos crimes contra a dignidade sexual) do 
Código Penal, será de iniciativa pública condicionada à representação. 
 No entanto, diz o seu parágrafo único que procede-semediante ação penal 
pública incondicionada se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa 
vulnerável. 
Em que pese a nova redação legal, entendemos ainda ser aplicável a Súmula 608 
do Supremo Tribunal Federal, que diz: Súmula 608. No crime de estupro, 
praticado mediante violência real, a ação penal é pública incondicionada. Dessa 
forma, de acordo com o entendimento de nossa Corte Maior, toda vez que o delito 
de estupro for cometido com o emprego de violência real, a ação penal será de 
iniciativa pública incondicionada, fazendo, assim, letra morta parte das disposições 
contidas no art. 225 do Código Penal, somente se exigindo a representação do (a) 
ofendido (a) nas hipóteses em que o crime for cometido com o emprego de grave 
ameaça. 
Nos termos do art. Art. 234-B do Código Penal, criado pela Lei nº 12.015, de 7 de 
agosto de 2009, os processos em que se apuram crimes previstos pelo Título VI, 
vale dizer, os crimes contra a dignidade sexual, correrão em segredo de justiça. 
 
 
 
 
 
 
CRIMES CONTRA A FAMÍLIA 
 
 CRIMES CONTRA O CASAMENTO 
 
BIGAMIA: 
 
Sujeito ativo: Pessoa casadaou Pessoa solteira que casa com pessoa 
Sujeito passivo: O estado, o cônjuge do 1º casamento e do 2º casamento. 
 
§ 1º – SOLTEIRO SE SOUBER E CASAR COM UM CASADO. 
 
Ambos respondem por crime: o CASADO pelo Caput do art 235 BIGAMIA; 
O SOLTEIRO responde pelo §1º do art., mas esse tem que saber. 
 
§2º – EXCLUDENTES – homem é casado, mas houve a separação e ainda não 
saiu o divórcio, considera-se inexistente o crime, pois já existe a separação 
judicial, e se o 1º casamento for nulo ou anulável. 
 
Tipo Objetivo: a existência formal e a vigência de anterior casamento. 
Tipo Subjetivo: Dolo, podendo ser excluído por erro quanto a vigência de 
casamento anterior. Consuma-se com o efetivo casamento. 
Concurso de pessoas: pode haver participação de terceiros (art 29). 
 
 INDUZIMENTO A ERRO ESSENCIAL E OCULTAÇÃO DE IMPEDIMENTOS: 
 
Objeto Jurídico: A regular formação da família 
Sujeito Ativo: O cônjuge que induziu em erro ou ocultou o impedimento. 
Sujeito Passivo: O estado e o cônjuge enganado. 
Tipo objetivo: INDUZINDO EM ERRO ESSENCIAL e OCULTANDO 
IMPEDIMENTO 
 
OBS: Trata-se de norma penal em branco, eis que o conceito de impedimentos 
para o casamento, que complementarão a norma, estão no Codigo Civil, art.1521 
e, ainda, quanto ao erro essencial, nos arts. 1556 a 1558 do mesmo diploma legal. 
 
 
CONHECIMENTO PRÉVIO DE IMPEDIMENTO: 
 
Sujeito Ativo: o cônjuge, ou ambos, que sabiam da existência do impedimento. 
Sujeito Passivo: Estado e o cônjuge conhecedor do impedimento. 
Tipo Objetivo: o agente se casa sabendo da existência de um impedimento que 
cause ao ato nulidade absoluta 
Tipo Subjetivo: é o dolo. 
 
DIFERENÇA ENTRE OS ART 236 E 237 CP: 
 
 ART 236 – INDUZIMENTO AO ERRO – só uma das pessoas sabia do 
impedimento e escondeu da outra parte. - ART 237 – CONHECIMENTO PRÉVIO 
– as duas partes sabiam do impedimento de casamento e casaram mesmo assim. 
 
SIMULAÇÃO DE AUTORIDADE PARA CELEBRAÇÃO DE CASAMENTO 
 
Objeto Jurídico: disciplina jurídica do casamento. 
Sujeito Ativo: qualquer pessoa ou funcionário público sem atribuição para 
celebrar. 
Sujeito Passivo: O estado e o cônjuge de boa-fé. 
Tipo Objetivo: crime formal onde a conduta é atribuir-se falsamente competência 
para celebração de casamento. 
Elemento Subjetivo: Dolo 
 
 
 
 SIMULAÇÃO DE CASAMENTO 
 
Sujeito ativo: qualquer pessoa 
Sujeito passivo: o estado e o contraente iludido. 
Tipo Objetivo: simular. O agente simula casamento mediante engano a outra 
pessoa, é necessário que seja simulado mediante o engano da pessoa. 
Tipo subjetivo: dolo na vontade de simular casamento. Poderão ser partícipes o 
escrivão, testemunhas ou outras pessoas. 
 
Este delito é tipificado como subsidiário, sendo excluído quando constituir meio ou 
elemento empregado para a prática de delito maior como por exemplo, o descrito 
no art.215 do CP. 
 
DOS CRIMES CONTRA O ESTADO DE FILIAÇÃO (nome dos pais) 
 
REGISTRO DE NASCIMENTO 
 
Objeto jurídico: estado de filiação 
Sujeito ativo: qualquer pessoa 
Sujeito passivo: o estado e a pessoa prejudicada pelo registro. 
Tipo objetivo: trata-se de promover, dar causa, requerer, provocar 
Tipo subjetivo: o dolo. Não existe forma culposa. Consuma-se com a inscrição no 
registro. 
 
 PARTO SUPOSTO, SUPRESSÃO OU ALTERAÇÃO DE FILIAÇÃO 
 
É crime de ação múltipla, um único crime, existem 04 condutas: 
- Parto Suposto: 
Objetojurídico: Estado de filiação; 
Sujeito ativo: só mulher; 
Sujeito passivo: os herdeiros prejudicados; 
Tipo objetivo: dar parto alheio como próprio, não incluindo o oposto, dar o próprio 
parto como alheio. 
Tipo subjetivo: dolo 
- Registrar filhos de outros como sendo do próprio: 
Objetojurídico: Estado de filiação; 
Sujeito ativo: qualquer pessoa; 
Sujeito passivo: Estado e as pessoas prejudicadas pelo registro; 
Tipo objetivo: Declarar-se pai ou mãe de criança que não é seu filho. 
Tipo subjetivo: dolo na vontade livre e consciente de registrar a criança. 
- Ocultação de recém nascido: 
Objetojurídico: Estado de filiação 
Sujeito ativo: qualquer pessoa; 
Tipo objetivo: Ocultar, com a privação de direitos do recém nascido. 
Tipo subjetivo: dolo 
- Substituição do recém nascido: 
Objetojurídico: Estado de filiação 
Sujeito ativo: qualquer pessoa; 
Tipo objetivo: a substituição, atribuindo-se a um os direitos civis do outro 
Tipo subjetivo: dolo 
 
Parágrafo único – FIGURA PRIVILEGIADA: reconhecida nobreza. 
 
 SONEGAÇÃO DE ESTADO DE FILIAÇÃO 
 
Objetojurídico: Estado de filiação 
Sujeito ativo: qualquer pessoa; 
Tipo objetivo: a vítima deve ser abandonada em instituição, local onde possa ser 
amparado. 
 
 
 
DOS CRIMES CONTRA A ASSISTÊNCIA FAMILIAR 
 
 ABANDONO MATERIAL 
 
Objeto Jurídico: proteção da família 
Sujeito Ativo e Passivo: somente cônjuges, pais, ascendentes ou descendentes. 
Tipo Objetivo: São 3 condutas na falta de justa causa:1_Deixar de prover 
subsistência ao: cônjuge, filho menor de 18 anos ou inválido e ascendente inválido 
ou maior de 60 anos.2_Faltar ao pgto (sem justa causa) de pensão alimentícia 
acordada. 3_deixar de socorrer, sem justa causa, descendente ou ascendente 
gravemente enfermo. 
Tipo Subjetivo: o dolo. 
 
ENTREGA DE FILHO À PESSOA INIDÔNEA 
 
Objeto Jurídico: assistência ao filho menor. 
Sujeito Ativo: somente os pais 
Tipo Objetivo: entregar no sentido de deixar sob guarda ou cuidado, mesmo que 
temporariamente. 
Tipo Subjetivo: DOLO. 
 
- É CRIME PRÓPRIO 
 
ART 245 § 1º – se os pais praticam o delito para obter lucro ou se é para enviar o 
menor para o exterior.ART 245 §2º: incorre também crime do artigo, mesmo 
excluído o perigo moral e material, auxiliar no envio do menor para o exterior, para 
obter lucro (agenciador). 
 
ABANDONO INTELECUTAL 
 
Tipo Subjetivo: Dolo 
 
ABANDONO MORAL 
 
Objeto Jurídico: preservação moral do adolescente 
Sujeito Ativo: pais ou qualquer pessoa responsável legal pelo adolescente. 
Sujeito passivo: jovem menor de 18 anos. 
Tipo objetivo: é permitir que menor de 18 anos tenha comportamento indicadonos incisos. 
 
CRIMES CONTRA A PAZ PUBLICA 
 
1) Código Penal: ART.286, 287 E 288 
2) Lei de Drogas 
Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, 
expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, 
prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que 
gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou 
regulamentar: 
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) 
a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. 
§ 2o Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos) 
dias-multa. 
Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, 
reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 
34 desta Lei: 
Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 
1.200 (mil e duzentos) dias-multa. 
3) Racismo 
Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, 
etnia, religião ou procedência nacional. 
Pena: reclusão de um a três anos e multa. 
§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos 
meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza: 
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa. 
4) Lei de Genocídio 
Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, 
étnico, racial ou religioso, como tal: 
Art. 2º Associarem-se mais de 3 (três) pessoas para prática dos crimes 
mencionados no artigo anterior: 
Pena: Metade da cominada aos crimes ali previstos. 
Art. 3º Incitar, direta e publicamente alguém a cometer qualquer dos crimes de que 
trata o art. 1º: 
Pena: Metade das penas ali cominadas. 
§ 1º A pena pelo crime de incitação será a mesma de crime incitado, se este se 
consumar. 
§ 2º A pena será aumentada de 1/3 (um terço), quando a incitação for cometida 
pela imprensa. 
5) Lei do crime organizado 
Art. 1º Esta lei define e regula meios de prova e procedimentos investigatórios que 
versarem sobre crime resultante de ações de quadrilha ou bando. 
Art. 1o Esta Lei define e regula meios de prova e procedimentos investigatórios 
que versem sobre ilícitos decorrentes de ações praticadas por quadrilha ou bando 
ou organizações ou associações criminosas de qualquer tipo 
Art 2º Em qualquer fase de persecução criminal que verse sobre ação praticada 
por organizações criminosas são permitidos, além dos já previstos na lei, os 
seguintes procedimentos de investigação e formação de provas: 
Art. 2o Em qualquer fase de persecução criminal são permitidos, sem prejuízo dos 
já previstos em lei, os seguintes procedimentos de investigação e formação de 
provas: 
I - 
II - a ação controlada, que consiste em retardar a interdição policial do que se 
supõe ação praticada por organizações criminosas ou a ela vinculado, desde que 
mantida sob observação e acompanhamento para que a medida legal se 
concretize no momento mais eficaz do ponto de vista da formação de provas e 
fornecimento de informações; 
III - o acesso a dados, documentos e informações fiscais, bancárias, financeiras e 
eleitorais. 
IV – a captação e a interceptação ambiental de sinais eletromagnéticos, óticos ou 
acústicos, e o seu registro e análise, mediante circunstanciada autorização 
judicial; 
V – infiltração por agentes de polícia ou de inteligência, em tarefas de 
investigação, constituída pelos órgãos especializados pertinentes, mediante 
circunstanciada autorização judicial. 
Parágrafo único. A autorização judicial será estritamente sigilosa e permanecerá 
nesta condição enquanto perdurar a infiltração. 
6) Lei de crimes hediondos 
Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art 288 do Código 
Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de 
entorpecentes e drogas afins ou terrorismo. 
Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando 
ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a 
dois terços. 
 
JURISPRUDÊNCIA 
 
INCITAÇÃO AO CRIME 
Bravatas, fanfarrices, quixotadas não metem medo, não caracterizando, portanto, 
o crime de ameaça, nem têm força para incitar alguém à prática de crime. (TRF1 - 
RCCR 2645 PA 2006.39.03.002645-0 - Órgão Julgador: TERCEIRA TURMA - 
Relator DES. FEDERAL TOURINHO NETO – Data do Julgamento: 12/12/2006). 
 
Substância entorpecente (técnica de cultivo). Incitação ao crime (investigação). 
Internet (veiculação). Competência (Justiça estadual). A divulgação, pela internet, 
de técnicas de cultivo de planta destinada à preparação de substância 
entorpecente não atrai, por si só, a competência federal. Ainda que se trate, no 
caso, de hospedeiro estrangeiro, a ação de incitar desenvolveu-se no território 
nacional, daí não se justificando a aplicação dos incisos IV e V do art. 109 da 
Constituição. Caso, pois, de competência estadual. (STJ - CC 62949 PR 
2006/0090645-3 – Órgão Julgador: TERCEIRA SEÇÃO - Relator Ministro NILSON 
NAVES – Data do Julgamento: 10/10/2006). 
 
A INCITAÇÃO PÚBLICA DOS MORADORES AO DESOBEDECEREM ORDEM 
LEGAL DE DESOCUPAÇÃO DA INVASÃO, CONFERE TIPICIDADE PUNÍVEL. ( 
TJDF - ACR 1977899 DF - Órgão Julgador: 2ª Turma Criminal - Relator JOAZIL M 
GARDES – Data do Julgamento: 02/03/2000) 
 
Agente acusada de, publicamente, incitar a outrem a praticar delito de homicídio 
contra desafeto – Ausência de publicidade – Delito não configurado. É mister que 
a incitação se faça perante certo número de pessoas, sem o que, não se poderá 
falar em perturbação da paz pública, em alarma social. (TACRIMSP – AC 348/233 
– Rel. Veiga de Carvalho – JUTACRIM 84/221). 
 
Instigação feita genericamente, de modo vago, não tem eficácia ou idoneidade, 
por isso que não configura o delito do art. 286 do CP. (TACRIMSP – RT 598/351). 
 
APOLOGIA AO CRIME 
Quanto ao crime de apologia de crime ou criminoso, divirjo em parte do MM. Juiz a 
quo, que o entendeu realizado na dupla modalidade: apologia de crime e de 
criminoso, pois não consigo enxergar, entretanto, referência a nenhum crime 
específico nas inscrições estampadas na camisa do apelante. Com efeito, na parte 
da frente tinha os dizeres “Parabéns CR” e na parte posterior “A família ADA está 
com é te aguardando Felicidades”, acompanhados do desenho de um tridente, 
conforme se observa da prova testemunhal e do laudo de exame material de fls. 
63. Encontram-se assim, duas explícitas alusões a autores de crimes, pois as 
iniciais “CR” pertencem sabidamente ao traficante Celso Rodrigues, o “Celsinho 
da Vila Vintém” ou “Celso Russo”, enquanto a siga ADA (AMIGOS DOS AMIGOS), 
por sua vez, diz respeito a uma facção criminosa que evidentemente não 
caracteriza pessoa jurídica regularmente constituída, caso em que dificilmente 
poderia ser-lhe imputada a pecha de criminosa, mas de organização informa que 
agrega bandidos dedicados ao tráfico de entorpecentes e atividades ilícitas 
paralelas, ou seja, uma grande quadrilha de traficantes. Portanto, sua menção não 
exclui a possibilidade de apologia de criminoso no sentido literal e restrito do 
Código Penal, uma vez que, na realidade, compreende todos e cada um de seus 
integrantes, cuja ação deletéria é enaltecida pela infeliz idéia publicitária. (TJRJ - 
APL 4971 RJ 2005.050.04971 - Órgão Julgador: TERCEIRA CAMARA CRIMINAL 
- Relator DES. MANOEL ALBERTO – Data do Julgamento: 20/12/2005). 
 
A DENÚNCIA DEVE DESCREVER A INFRAÇÃO PENAL, COM TODAS AS 
SUAS CIRCUNSTANCIAS. NO CASO DO ART. 287, CP, INDICAR A CONDUTA 
QUE ELOGIA OU INCENTIVA "FATO CRIMINOSO", OU "AUTOR DO CRIME". A 
APOLOGIA DE CONTRAVENÇÃO PENAL NÃO SATISFAZ ELEMENTO 
CONSTITUTIVO DESSE DELITO. ALÉM DISSO, IMPRESCINDÍVEL REGISTRAR 
QUE A APOLOGIA SE DEU PUBLICAMENTE, ISTO E,DIRIGIDA OU 
PRESENCIADA POR NUMERO INDETERMINADO DE PESSOAS, OU, EM 
CIRCUNSTÂNCIA, EM QUE A ELAS POSSA CHEGAR A MENSAGEM. SÓ 
ASSIM, SERÁ RELATADO O RESULTADO (PERIGO A PAZ PÚBLICA), 
JURIDICAMENTE ENTENDIDO COMO A PROBABILIDADE (PERIGO 
CONCRETO) DE O CRIME SER REPETIDO POR OUTREM, OUSEJA, 
ESTIMULAR TERCEIROS A DELINQUÊNCIA. (STJ - RHC 4.660/RJ - Relator 
Ministro LUIZ VICENTE CERNICCHIARO – Órgão Julgador: SEXTA TURMA – 
Data do Julgamento: 05/09/1995). (grifamos) 
 
 
QUADRILHA OU BANDO 
 
Para a configuração do delito de quadrilha, basta a união de pessoas, em caráter 
estável e permanente, com o intuito de cometer crimes, ainda que todos não 
tenham sido efetivamente realizados. (STJ - HC 90.833/RJ - Órgão Julgador: 
QUINTA TURMA - Relator Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO – Data do 
Julgamento: 21/05/2009). 
 
É que o tipo descrito no art. 288 do Código Penal visa a garantir a paz pública, “ai 
tomada em sentido subjetivo, isto é, como sentimento coletivo de paz que a ordem 
jurídica assegura”, como lembra NELSON HUNGRIA. E, para que exista o delito, 
completa o renomado autor, “é suficiente o mero fato de se associarem mais de 
três pessoas (no mínimo, quatro) para o fim de cometer crimes sem necessidade 
sequer do começo da atuação do mais ou menos extenso plano criminoso que os 
associados se hajam proposto”. Não há, portanto, um dos elementos 
indispensáveis à caracterização teórica do delito de quadrilha ou bando, qual seja, 
o concurso necessário de, pelo menos, quatro pessoas. (STF - HC 91650 - Órgão 
Julgador: Segunda Turma - Relator Min. CEZAR PELUSO - Data do Julgamento: 
01/04/2008). 
 
Crime de quadrilha ou bando. Delito formal contra a paz pública. Circunstâncias 
elementares do tipo. Concurso de, pelo menos, quatro pessoas, finalidade 
específica dos agentes e estabilidade do consórcio. Exigência da prática ulterior 
de delito compreendido no projeto criminoso. Desnecessidade. (STF - HC 88978 – 
Órgão Julgador: Segunda Turma - Relator Min. CEZAR PELUSO – Data do 
julgado: 04/09/2007). 
 
A quadrilha pode ser formada visando à pratica de qualquer crime. (TFR, Ap. 
4.979, DJU 18.6.83, p. 6013) 
 
 
Sujeito ativo 
Crime de quadrilha. Não há formação de quadrilha com menos de quatro pessoas. 
(TRF1 – HC 15304 AM - Órgão Julgador: TERCEIRA TURMA - Relator 
DESEMBARGADOR FEDERAL OLINDO MENEZES – Data do Julgamento: 
17/06/2008). 
 
A participação de menor inimputável na formação de grupo para cometimento de 
crimes, desde que tenha esse menor o discernimento necessário para manifestar 
sua vontade no acordo com os demais integrantes, e que efetivamente contribua 
para as praticas delituosas, deve ser computada na configuração do delito de 
quadrilha ou bando. (TJRJ - APL 303 RJ 1998.050.00303 – Órgão Julgador: 
TERCEIRA CAMARA CRIMINAL - Relator DES. JOAQUIM MOUZINHO – Data do 
Julgamento: 11/08/1998). 
 
Consumação 
Crime formal, o delito de quadrilha ou bando consuma-se tanto que aperfeiçoada a 
convergência de vontade dos agentes e, como tal, independe da prática ulterior de 
qualquer delito compreendido no âmbito de suas projetadas atividades criminosas. 
(STF - HC 88978 – Órgão Julgador: Segunda Turma - Relator Min. CEZAR 
PELUSO – Data do julgado: 04/09/2007). 
 
O crime de quadrilha se consuma, em relação aos fundadores, no momento em 
que aperfeiçoada a convergência de vontades entre mais de três pessoas, e, 
quanto àqueles que venhamposteriormente a integrar-se ao bando já formado, no 
momento da adesão de cada qual; crime formal, nem depende, a formação 
consumada de quadrilha, da realização ulterior de qualquer delito compreendido 
no âmbito de suas projetadas atividades criminosas, nem, conseqüentemente, a 
imputação do crime coletivo a cada um dos partícipes da organização reclama que 
se lhe possa atribuir participação concreta na comissão de algum dos crimes-fim 
da associação. 2. Segue-se que à aptidão da denúncia por quadrilha bastará, a 
rigor, a afirmativa de o denunciado se ter associado à organização formada de 
mais de três elementos e destinada à prática ulterior de crimes; para que se repute 
idônea a imputação a alguém da participação no bando não é 
necessário, pois, que se lhe irrogue a cooperação na prática dos delitos a que se 
destine a associação, aos quais se refira a denúncia, a título de evidências da sua 
formação anteriormente consumada". 4. Precedente: HC 70.290, Pl., 30.6.93, 
Pertence, RTJ 162/559. (STF - HC 86630 – Órgão Julgador: Primeira Turma - 
Relator Min. SEPÚLVEDA PERTENCE – Data do Julgamento: 24/10/2006). 
 
O crime de quadrilha ou bando é autônomo ou formal, ou seja a sua consumação 
se dá com a convergência de vontades e independe da punibilidade ulterior dos 
delitos visados. (STJ – RHC 24053 / RJ - Órgão Julgador: QUINTA TURMA - 
Relator Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO - Data do Julgamento: 
17/03/2009) 
 
Crime permanente 
Ocorrendo o crime de receptação em diversos Estados e sendo o delito de 
quadrilha permanente, é mister fixar a competência pela prevenção, ou seja, no 
Juízo que praticou o primeiro ato. (STJ - CC 48652 MG - Órgão Julgador: 
TERCEIRA SEÇÃO - Relator Ministro HÉLIO QUAGLIA BARBOSA – Data do 
Julgamento: 07/03/2006). 
 
Aumento de Pena 
PENAL - QUADRILHA ARMADA - ASSOCIAÇÃO PERMANENTE - AUTORIA – 
LIAME SUBJETIVO - QUALIFICADORA - OCORRÊNCIA. PARA A 
CARACTERIZAÇÃO DO CRIME DE QUADRILHA, BASTA A COMPROVAÇÃO 
DO LIAME SUBJETIVO ENTRE MAIS DE TRÊS PESSOAS PARA O 
COMETIMENTO DE CRIMES. A APREENSÃO DE ARMAS DE FOGO COM UM 
MEMBRO DA QUADRILHA DÁ AZO À APLICAÇÃO DA QUALIFICADORA 
TAMBÉM À CONDUTA DOS DEMAIS INTEGRANTES. PRECEDENTE DO 
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. (TJDF - ACR 20030910102880 DF - Órgão 
Julgador: 1ª Turma Criminal - Relator SÉRGIO BITTENCOURT – Data do 
Julgamento: 05/10/2006). 
 
Crime Continuado 
O crime de quadrilha é único, não se podendo cogitar de infração continuada. 
(TACrSP, Julgados 67/63). 
O crime de quadrilha, por pressupor a associação permanente para a prática de 
uma pluralidade de delitos, não se compatibiliza com a unidade da figura da 
continuidade delitiva do crime de corrupção passiva. (STJ - HC 17442 RJ 
2001/0084923-7 - Órgão Julgador: T6 - SEXTA TURMA - Relator Ministro 
VICENTE LEAL – Data do Julgamento: 02/10/2002). 
 
A continuidade delitiva do crime de corrupção passiva cumprido em regime 
fechado e com excelente comportamento carcerário, exclui, por força da fictio juris 
do delito único, a figura da quadrilha ou bando. Ordem concedida. (STJ - HC 8885 
RJ 1999/0026259-0 – Relator Min. LUIZ VICENTE CERNICCHIARO – Data do 
Julgamento: 01/09/1999 - Órgão Julgador: SEXTA TURMA). 
 
Concurso Material: 
Quadrilha Armada e Porte Ilegal de Arma – nom bis in idem PORTE ILEGAL DE 
ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO E RESTRITO, COM NUMERAÇÃO 
SUPRIMIDA. FORMAÇÃO DE QUADRILHA OU BANDO ARMADO. HABEAS 
CORPUS: INDEFERIMENTO. (STJ - HC 94.019/SP – Órgão Julgador: QUINTA 
TURMA - Rel. Ministro 
NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO – Data do Julgamento:06/11/2008). 
 
Quadrilha armada e roubo qualificado pelo uso de arma – nom bis in idem A 
jurisprudência do STF considera que é adequado o reconhecimento do concurso 
material entre os delitos de quadrilha armada e o roubo qualificado pelo emprego 
de arma. (STF - HC 85183 – Órgão Julgador: Segunda Turma - Relator Min. 
GILMAR MENDES – Data do Julgamento: 02/08/2005). 
 
Quadrilha e roubo majorado pelo concurso de pessoas – nom bis in idem ROUBO 
QUALIFICADO POR CONCURSO DE PESSOAS E USO DE ARMA E 
FORMAÇÃO DE QUADRILHA ARMADA. INOCORRÊNCIA DE BIS IN IDEM. 
(STF - HC 84669 - Relator Min. JOAQUIM BARBOSA – Órgão Julgador: Segunda 
Turma – Data do Julgamento: 22/02/2005). 
 
É perfeitamente possível a coexistência entre o crime de formação de quadrilha ou 
bando e o de roubo qualificado pelo uso de arma e pelo concurso de agentes, 
porquanto os bens jurídicostutelados são distintos e os crimes, autônomos. 
Precedentes do STF. Não há falar em bis in idem no caso porque, enquanto a 
formação de quadrilha ou bando, tipificado, aliás, em sua forma simples, constitui 
crime de perigo abstrato, o delito de roubo qualificado pelo uso de arma e pelo 
concurso de pessoas configura perigo concreto. (STJ - REsp 654951 DF 
2004/0051924-9 – Órgão Julgador: T5 - QUINTA TURMA - Relator Ministra 
LAURITA VAZ – Data do Julgamento: 03/11/2004). 
 
NÃO CONFIGURA BIS IN IDEM A CONDENAÇÃO DO RÉU PELO CRIME DE 
BANDO E ROUBO QUALIFICADO PELO CONCURSO DE PESSOAS. 
INFRAÇÕES DISTINTAS E INDEPENDENTES. PENA-BASE DEVIDAMENTE 
FIXADA. APELOS IMPROVIDOS. DECISÃO UNÂNIME. (TJSE - APR 
2006307993 SE - Relator DES. GILSON GOIS SOARES – Órgão Julgador: 
CÂMARA CRIMINAL – Data do Julgamento: 18/12/2007). 
 
Possível é o reconhecimento do concurso material entre o roubo qualificado, em 
concurso de pessoas, e a quadrilha ou bando. A aplicação da causa de aumento 
decorrente do concurso de duas ou mais pessoas no crime de roubo, quando 
cumulado com o de formação de quadrilha ou bando, não caracteriza bis in idem. 
(TJAP - APR 205905 AP - Órgão Julgador: Câmara Única - Relator 
Desembargador CARMO ANTÔNIO – Data do Julgamento: 24/05/2005). 
 
Quadrilha e extorsão mediante sequestro majorado por ser cometido por bando ou 
quadrilha – nom bis in idem Indivíduos que privaram a liberdade de gerente da 
Caixa Econômica Federal e de seus familiares, mantendo-os em cárcere como 
meio de obter prestação positiva, consistente na entrega de valores existentes no 
Banco. Conduta que se ajusta ao tipo descrito no artigo 159 do Código Penal. 
Prática, igualmente, do crime de bando ou quadrilha, previsto no artigo 288 do 
Código Penal. Possibilidade de concurso material entre o crime de extorsão 
mediante sequestro qualificado pela quadrilha ou bando e o delito do art. 288 do 
Código Penal (formação de bando ou quadrilha), sem que se configure bis in idem. 
(TRF5 - ACR 4877 PE 2004.83.00.009641-0 - Órgão Julgador: Primeira Turma - 
Relator Desembargador Federal Hélio Sílvio Ourem Campos (Substituto) – Data 
do Julgamento: 26/03/2008). 
 
Quadrilha e furto qualificado pelo concurso de pessoas – nom bis in idem Autoria e 
materialidade dos delitos de furto qualificado e quadrilha especializada em furto de 
objetos de arte de valor histórico de igrejas e museu devidamente comprovadas 
em todos os seus elementos, com espeque no art. 155, § 4º, c/c art. 288, ambos 
do CP. Não há que se falar em bis in idem em relação ao reconhecimento 
simultâneo da quadrilha e do furto, pois são delitos autônomos. (TRF1 - ACR 
49870 MG 2003.38.00.049870-9 - Órgão Julgador: TERCEIRA TURMA - Relator 
DESEMBARGADOR FEDERAL CÂNDIDO RIBEIRO – Data do Julgamento: 
30/06/2009). 
 
Quadrilha e furto qualificado pelo concurso de pessoas – bis in idem (...) 
circunstância qualificadora do furto praticado em concurso de pessoas integra o 
tipo penal do crime de associação em quadrilha ou bando, configura inadmissível 
“bis in idem” a condenação do peticionário também na qualificadora. (TJMG: 
2064814 MG 1.0000.00.206481-4/000(1) – Relator LAURO BRACARENSE – Data 
do Julgamento: 12/02/2001) 
 
Associação para o tráfico (art. 35 da Lei 11.343/06) e quadrilha – bis in idem 
Imperioso o afastamento da condenação pelo crime de quadrilha ou bando c/c o 
artigo 8º da Lei 8.072/90, sob pena de incorrer em bis in idem, haja vista que o 
artigo 14 da Lei 6.368/76 se trata de uma forma especial de quadrilha, no caso, 
associação, prevista na Lei de Drogas. (TJES – APR 50060009987 - Órgão 
Julgador: SEGUNDA CÂMARA CRIMINAL - Relator ADALTO DIAS TRISTÃO – 
Data do Julgamento: 10/12/2008). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CRIMES CONTRA A FÉ-PÚBLICA 
 
Noções Gerais 
 
Nos delitos deste capítulo a potencialidade de dano, muito embora não sendo 
elemento típico expresso no tipo, está implícita, já fazendo parte de sua essência. 
Não há delito de falso sem potencialidade lesiva, possibilidade de dano capaz de 
iludir a vítima. Se o falso é grosseiro, incapaz de enganar, não ofende a fé-pública, 
por isso, inexiste crime. 
 
Documento é considerado todo escrito, devido à um autor determinado, contendo 
a exposição de fatos ou declaração de vontade, dotado de significação ou 
relevância jurídica (conceito dado pelo eminente jurista Helena Fragoso) 
 
É necessário existir autoria certa, posto que escrito anônimo não é documento. O 
conteúdo deve expressar manifestação de vontade ou exposição de fatos. 
 
 Falso Material 
Forma do documento. 
Artigo 297 C.P. – Público 
Artigo 298 C.P.- Particular 
 
Falso Ideológico 
Falsidade de ideia, substancia , essência do documento 
 
Requisitos 
Não há documento sem : a) Potencialidade lesiva; b) Limitação da verdade. 
 
Sem estes requisitos o fato será atípico, ou será outro crime. Falsificação 
grosseira não tipifica, não é fato típico. 
Ex: Alguém possui o papel da cédula de identidade, e um terceiro pede-lhe para o 
falsário falsificar o documento trocando seu nome, pois está sendo procurado pela 
polícia. O falsário responderá pelo crime do artigo 297 = C.P. e a pessoa que se 
utiliza do documento falsificado, ou seja, a cédula de identidade, responderá pelo 
Artigo 307 do C.P. 
 
OBS: 
Alterar xerox , documento simples, não é crime 
Cheque é equiparado a um documento público – Parágrafo 2º. Do Artigo 297 – 
C.P. 
 
Falsidade documental 
Documento é todo escrito devido a um autor determinado, contendo a exposição 
de fatos ou declaração de vontade, dotado de significação ou relevância jurídica. 
Necessário autor certo, posto que escrito anônimo não é documento. 
 
Falsificação de documento público. 
Artigo 297 – C.P. 
 
Objeto material 
A doutrina classifica os documentos públicos em : 
 
a) Documento formal e substancialmente público 
O Documento , na hipótese, é formado , criado e emitido por funcionário público 
no exercício de suas atribuições legais, além do que seu conteúdo é relativo a 
questões de natureza pública. Consideram-se como tais, todos os documentos 
emanados de atos do executivo, legislativo e judiciário , bem como qualquer outro 
expedido por funcionário público e desde que represente interesse do Estado. 
Exemplo: R.G., C.N.H., Título de Eleitor, Passaporte, etc. 
 
b) Documento formalmente público, mas substancialmente privado. 
Na hipótese, o documento é formado, criado e emitido por funcionário público, 
mas seu conteúdo é relativo à interesses particulares, como por exemplo, uma 
escritura pública de transferência de propriedade imóvel. O interesse envolvido é 
particular, mas formalmente o documento é público, pois a escritura foi lavrada 
pelo oficial de registro públicos, que é um profissional dotado de fé-pública, a 
quem é delegado o exercício dessa atividade. 
 
O cheque é equiparado a documento público, por tratar-se de título ao portador ou 
transmissível por endosso, deixando, portanto, de equiparar-se a documento 
público quando já apresentado e rejeitado no estabelecimento bancário por falta 
de fundos, eis que nessa hipótese desaparece a equiparação por não ser mais 
transmissível por endosso. 
 
Sujeito ativo 
Qualquer pessoa, aplicando-se o parágrafo 1º, do Artigo 297 – C.P., se tratar-se 
de funcionário público no exercício da função. 
 
Ação física 
Contrafação, significa formar documento, podendo ser total ou parcial. O xerox 
não autenticado não configura o crime em espécie. Placas de veículos não são 
consideradas documento público. Artigo 311 – C.P. 
 
Consumação 
Ocorre com a contrafação, havendo divergência doutrinária e jurisprudencial sobre 
a admissibilidade da tentativa. 
 
Falsidade Grosseira 
Não se considera como tal o documento que exige utilização de aparelhagemou 
de pessoa especializada. Logo, grosseira é a falsificação inapta a causar prejuízo, 
tratando-se de crime impossível por absoluta ineficácia do meio. Em outras 
palavras e em termos simples, grosseira é a falsidade facilmente perceptível. 
 
Exame de corpo de delito 
É necessário para comprovar a materialidade do fato, não o suprindo a confissão 
do agente. Se o documento não for apreendido poderá ser realizado exame 
indireto. 
 
Há entendimento pacífico de inexistir concurso do crime de falso com o crime de 
uso (Artigo 304 C.P.) , uma vez que quem usa, tendo antes ele próprio falsificado 
o documento, não pode ser punido pelos dois crimes. 
 
A Súmula 17 soluciona o impasse sobre a prevalência do crime de estelionato, 
quando o falso for meio para praticá-lo. Também é pacífico que o crime de falso 
fica absorvido pelo de sonegação fiscal. 
 
Exemplo: 
Um cidadão falsifica uma escritura de uma fazenda de 12 alqueires , fazendo-se 
passar por proprietário da mesma. Desdobra a fazenda em 12 lotes e vende 
isoladamente cada um dos lotes. Neste caso o cidadão responderá pelo crime 
previsto no artigo 297 e também pelo crime previsto no artigo 171 – C.P. 
 
Exemplo: 
A falsidade de declaração de imposto de renda não é fé-pública, mas sim 
sonegação fiscal. O agente somente responderá pela sonegação fiscal. 
 
Contrafação 
Crime de falso, porém é mais utilizado para pirataria, ou seja, crime contra a 
propriedade industrial e intelectual. 
 
c) Falsificação de documento particular 
Artigo 298 – C.P. 
A fórmula de falsificação do documento particular é a mesma da do documento 
público, não havendo diferença substancial. Entretanto, por razões óbvias , o 
tratamento penal da falsificação do público é mais grave. 
 
Documento particular é o que é feito sem a intervenção do funcionário público, ou 
de alguém que tenha fé-pública. 
 
Ação Física 
A ação física é a mesma do documento comparativo entre a falsidade material e a 
ideológica. 
 
Material 
O que se frauda é a própria forma do documento, que é alterada no todo ou em 
parte, ou é forjado pelo agente, tratando-se de falsificação gráfica ,ou seja, visível. 
 
Ideológica 
A forma do documento é verdadeira, mas seu conteúdo é falso. É a falsificação de 
teor ideativo ou intelectual. 
 
Crime Artigo – C.P. 
Falsidade de documento público material 297 
Falsidade de documento público 
ideológico 
299 
Falsidade de documento particular 
material 
298 
Falsidade de documento particular 
ideológico 
299 
 
 
 
 
Falsidade ideológica 
O crime de falsidade ideológica está previsto no Artigo 299 – C.P. e tem como 
objetivo jurídico a fé-pública. 
 
Sujeito passivo 
É a coletividade, e secundariamente o particular eventualmente lesado. 
 
Sujeito ativo 
Pode ser qualquer pessoa. 
 
Trata-se de crime doloso, que além do dolo, deve estar presente outro elemento 
subjetivo do tipo, consiste na finalidade de prejudicar direito, criar obrigação ou 
alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante. 
A falsidade ideológica é um crime formal , não sendo necessário que o dano seja 
efetivado, bastando a efetiva possibilidade de sua ocorrência 
 
Abuso de papel em branco assinado 
Tem-se entendido na doutrina e jurisprudência que se o agente se apossou 
ilegitimamente do papel em branco assinado, ocorrerá o crime de falsidade 
material, enquanto que, se houver preenchimento do documento com conteúdo 
diverso do determinado, ocorrerá o crime de falsidade ideológica. 
Exemplo: Fiador que declara falsamente em contrato de locação , ser proprietário 
de imóvel , que já não lhe pertence, conduta esta que causa evidente prejuízo à 
locadora. RT-SP No. 76 , página 358. 
 
Consumação 
Ocorre com a omissão ou inversão direta ou indireta de declaração de documento. 
 
 
 
 
DOS CRIMES CONTRAA ADMINISTRAÇÃOPÚBLICA 
 
 
Introdução. 
Em se tratando dos crimes contra a administração. pública na 1ª parte do CP 
encontramos: 
• crimes funcionais (arts. 312 a 327). 
• crimes praticados por particular contra a adm. em geral (arts. 328 a 337-A). 
• crimes praticados por particular contra a adm. púb. Estrangeira (arts. 337-B 
a 337-D). 
• crimes praticados contra a adm. da justiça (arts. 338 a 359). 
• crimes praticados contra as finanças públicas (Arts. 359-A a 359-H). 
 
O conceito de funcionário público, para fins penais, está no Art. 327, CP. 
Funcionário público é, portanto, a pessoa física que exerce cargo (lei 8.112/90), 
emprego (temporário, CLT...) ou função pública (jurados, mesários), embora 
transitoriamente ou sem remuneração (note-se que o conceito de funcionário 
público para o Direito Penal é bem mais amplo que para o Direito Administrativo). 
 
No § 1º do Art. 327 nós temos o conceito de funcionário público por equiparação. 
Neste mesmo § há a expressão “entidade paraestatal”, que significa, para o Direito 
Penal quase tudo, ou seja, autarquias (INSS, UNB), fundações, sociedades de 
economia mista (Banco do Brasil), empresas públicas (CAIXA) e agências 
reguladoras. 
 
Obs¹: O conceito de funcionário público por equiparação não abrange as pessoas 
que trabalham em empresas contratadas com a finalidade de prestar serviços para 
a Administração Pública, quando não se trata de atividade típica desta, pois não 
exercem atividade própria do Estado. Ex: O cobrador e o motorista de ônibus 
urbano, o cozinheiro (terceirizado) que trabalha no restaurante universitário. 
 
Obs² O § 2º do Art. 327, CP institui uma causa de aumento de ⅓ quando o sujeito 
ativo do crime for ocupante de cargo em comissão (cargo de confiança) ou função 
de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de 
economia mista, empresa pública ou fundação. Por um erro de técnica legislativa, 
as autarquias ficaram de fora e, como se sabe, não cabe portanto analogias in 
malam partem. 
 
Obs³(IMPORTANTE) : Uma pessoa que não seja funcionário público pode vir a 
responder por crime funcional, a exemplo do peculato (Art. 312, CP), caso ajude 
um funcionário público a perpetrar esse crime, pois, como se sabe, as 
circunstâncias pessoais de caráter elementar (Art. 30, CP)se comunicam àqueles 
que concorrem para a prática do crime. Cabe salientar que é imprescindível que o 
terceiro saiba da qualidade de funcionário público do outro. 
 
DOS CRIMES PRATICADOSPOR FUNCIONÁRIO PÚBLICOCONTRA A 
ADMINISTRAÇÃO EM GERAL 
 
Só podem ser praticados de forma direta por funcionário público, daí serem 
chamados de crime funcionais; é possível que pessoa que não seja funcionário 
público responda por crime funcional, como coautor ou partícipe (art. 30 - as 
circunstâncias de caráter pessoal, quando elementares do crime, comunicam-se a 
todas as pessoas que dele participem); exige-se que o terceiro saiba da qualidade 
de funcionário público do outro. 
 
subdivisão dos crimes funcionais: 
 
- próprios – são aqueles cuja exclusão da qualidade de funcionário público torna o 
fato atípico - ex.: “prevaricação” (provado que o sujeito não é funcionário público, o 
fato torna-se atípico). 
 
- impróprios – excluindo-se a qualidade de funcionário público, haverá 
desclassificação para crime de outra natureza - ex.: peculato (provado que o 
sujeito não é funcionário público, desclassifica-se para “furto” ou “apropriação 
indébita”. 
 
PECULATO 
Art. 312 - (apropriação / desvio) 
(a expressão “posse’, nesse crime, abrange também a detenção e a posse 
indireta; ela deve ter sido obtida de forma lícita) (apropriação - o funcionário tem a 
posse do bem, mas passa a atuar como se fosse seu dono - ex.: carcereiro que 
recebe os objetos do preso e os toma para si; policial que apreende objeto do 
bandido e fica com ele etc. (desvio - é alterar o destino - ex. o funcionário público 
que paga alguém porserviço não prestado ou objeto não vendido à Administração 
Pública; o que empresta dinheiro público de que tem a guarda para ajudar amigos 
etc.; se o desvio for em proveito da própria administração haverá o crime do art. 
315 - “emprego irregular de verbas ou rendas públicas”): 
- os prefeitos municipais não responderão pelo “peculato-apropriação” ou 
“peculato-desvio”, só pelo “peculato-furto”; nos dois primeiros casos eles 
respondem pelo crime do art. 1°, I, do Decreto-Lei n. 201/67. 
 
§ 1º (furto) - ex.: funcionário público abre o cofre da repartição em que trabalha e 
leva os valores que nele estavam guardados; policial subtrai toca-fitas de carro 
apreendido que está no pátio da delegacia, ouconcorre (ex.: intencionalmente o 
funcionário público deixa a porta aberta para que à noite alguém entre e furte - há 
“peculato-furto” por parte do funcionário e do terceiro). 
 
- funcionário público que vai à repartição à noite e arromba a janela para poder 
subtrair objetos, comete “furto qualificado” e não “peculato-furto”, pois o delito foi 
realizado de uma maneira tal que qualquer outra pessoa poderia tê-lo praticado, 
ou seja, a qualidade de funcionário público em nada ajudou na subtração; se um 
funcionário público, por outro lado, consegue entrar na repartição durante a noite, 
utilizando-se de uma chave que possui em razão de suas funções, e subtrai 
valores ali existentes, comente “peculato-furto”. 
 
§ 2º (culposo) - (ex.: funcionário público esquece a porta aberta e alguém se 
aproveita da situação e furta objeto da repartição - haverá apenas “peculato 
culposo” por parte do funcionário relapso, enquanto o terceiro, evidentemente, 
responderá pelo “furto”): 
Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano. 
 
- dentre os “crimes contra a Administração Pública”, só o “peculato” admite a 
conduta culposa. 
 
- o uso de bem público por funcionário público para fins particulares, qualquer que 
seja a hipótese, caracteriza ato de improbidade administrativa, previsto no art. 9°, 
IV, da Lei n. 8.492/92. 
 
PECULATO MEDIANTE ERRO DE OUTREM (ou “peculato-estelionato”) 
Art. 313 - a vítima entrega um bem ao agente por estar em erro, não provocado 
por este - ex..: alguém entrega objeto ao funcionário B quando deveria tê-lo 
entregue ao funcionário A, e o funcionário B, percebendo o equívoco, fica com o 
objeto: 
Pena - reclusão, de 1 a 4 anos, e multa. 
 
EMPREGO IRREGULAR DE VERBAS OU RENDAS PÚBLICAS 
Art. 315 
- é pressuposto desse crime a existência de uma lei regulamentando o emprego 
da verba ou renda pública e que o agente as empregue de maneira contrária 
àquela descrita na lei - ex.: funcionário que deveria empregar o dinheiro público na 
obra A, dolosamente, o emprega na obra B. 
 
- tratando-se de prefeito municipal a conduta se amolda no art. 1° do Decreto-Lei 
n. 201/67. 
 
CONCUSSÃO 
Art.316 
. 
CONCEITO. É a conduta do funcionário público que constrange o particular, 
exigindo direta ou indiretamente, para si ou para outrem, indevida vantagem em 
razão da função. SUJEITOS. O funcionário público é o sujeito ativo desse crime. 
Ainda que não esteja no exercício da função, há o crime, pois basta que o 
funcionário público se valha dessa prerrogativa para estar perpetrado o tipo penal. 
Funcionário público de férias, suspenso ou de licença pode ser sujeito ativo desse 
crime. Resumindo: qualquer funcionário público, no exercício ou não da função, 
mas em razão dela, pode ser sujeito ativo do crime de concussão. 
Obs: o funcionário público aposentado e funcionário público exonerado não são 
considerados funcionários públicos. 
Obs2: A pessoa que passar num concurso público não será considerada, de 
imediato, uma funcionária pública. Ela só ganhará esse status a partir da 
nomeação. 
São 02 os sujeitos passivos: 1º O Estado e 2º o particular de quem se exige a 
indevida vantagem. A pessoa jurídica tb poderá ser sujeito passivo de concussão. 
TIPO OBJETIVO. O núcleo do tipo é exigir. Tal exigência poderá ser direta ou 
indireta. Indiretamente, poderá ser feita, por exemplo, através de um particular. 
Obs: A vantagem indevida exigida não precisa ser econômica, segundo a 
interpretação da redação legal. 
TIPO SUBJETIVO. Trata-se de um crime doloso. Além do dolo, o crime exige uma 
finalidade específica de agir, que é a indevida vantagem exigida para si ou para 
outrem. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA. É um crime formal. O crime está 
consumado quando a exigência da vantagem indevida chega ao conhecimento da 
vítima. O recebimento da vantagem é mero exaurimento do tipo. 
Obs: Apesar de ser de difícil configuração, cabe tentativa apenas na forma escrita. 
 
- se o funcionário público cometer essa ação extorsiva, tendo a específica 
intenção de deixar de lançar ou recobrar tributo ou contribuição social, ou cobrá-
los, parcialmente, não é “concussão” e sim “crime funcional contra a ordem 
tributária”. 
 
EXCESSO DE EXAÇÃO 
§ 1º 
 
*O que vem a ser exação? Exação é a cobrança coercitiva de tributo. 
Este crime compreende dois tipos de conduta: 1ª Cobrança indevida de tributo (ex: 
cobrar tributo já pago; cobrar tributo a mais, cobrar um tributo que não se encaixa 
à hipótese de incidência) ; 2ª Cobrança de tributo indevidamente (ex: expor o 
contribuinte ao ridículo – caso dos laranjas de São Paulo, ou seja, pessoas que se 
vestiam de laranja para ir cobrar os tributos aos cidadãos). Meio gravoso é a 
imposição de uma determinada condição ao contribuinte, no momento da 
cobrança do imposto, que lhe traz um ônus no pagamento. 
O crime de excesso de exação consiste na conduta do funcionário público que 
cobra um tributo indevido ou que cobra indevidamente um tributo devido (através 
de meio vexatório ou gravoso, que causa vergonha ou constrangimento à vítima). 
Tributo, segundo o Art. 3º, CTN é uma prestação pecuniária compulsória, que não 
consiste em sanção de ato ilícito, definido em lei e cobrado mediante atividade 
plenamente vinculada. 
TIPO SUBJETIVO. Há o dolo direito quando o funcionário público cobra um tributo 
que sabe ser indevido. Há, contudo, dolo eventual quando o funcionário público 
cobra um tributo indevido pensando ser devido, pois o funcionário público tem a 
obrigação de saber quais são os tributos devidos definidos em lei. Entende a 
maioria da doutrina que se trata de dolo eventual pq o funcionário público, quando 
cobra um tributo indevido pensando ser devido, age com irresponsabilidade, ou 
seja, na dúvida, ele cobra mesmo e não quer nem saber se o tributo é ou não 
realmente devido. Nesta hipótese em tela não há configurada a modalidade 
culposa, pois nenhum crime culposo é apenado com reclusão, sob pena de violar 
o princípio da proporcionalidade. 
 
 
Art. 316, § 2º, CP 
Esta forma qualificada consiste, na verdade, em o funcionário público desviar, em 
proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos 
cofres públicos. 
 
CORRUPÇÃO PASSIVA 
Art. 317 
 
CONCEITO. É o crime praticado pelo funcionário público que procura fazer do seu 
trabalho um balcão de negócios. BEM JURÍDICO. É um crime que viola os 
princípios fundamentais da moralidade e da probidade administrativa. 
A corrupção passiva é perpetrada de 3 formas: 1ª Solicitando vantagem indevida; 
2º Recebendo vantagem indevida ou; 3ª Aceitando promessa de vantagem 
indevida em razão da função. 
ATENÇÃO: Nesse crime o legislador não adotou a teoria monista do concurso de 
pessoas, pela qual todos aqueles que concorreram para a prática do crime X, 
respondem pelo mesmo crime. Portanto, no Art. 317, CP se aplica a teoria 
pluralista. Logo, o funcionário público que recebe $, será enquadrado no 317. O 
particular que oferece o $ responderá pelo 333. 
A corrupção passiva é um crime próprio. Será que um particular poderá responder 
por corrupção passiva? A resposta é sim. Responderá como co-autor (se exigir $), 
ou comopartícipe (se apenas ajudar o funcionário público a receber a indevida 
vantagem). 
Diferenças entre concussão e corrupção passiva: 
Na concussão há uma exigência, uma imposição, de modo que o particular se 
torna vítima em função da iniciativa que sempre parte funcionário público. Na 
corrupção passiva há apenas uma solicitação por parte do funcionário público 
(este apenas manifesta interesse em receber a vantagem), onde, na verdade, o 
funcionário público e o particular negociam, de modo que ambos saem lucrando 
com esse “negócio”. 
O dinheiro que se dá ao funcionário público para ele cumprir uma diligência é 
crime, ou de concussão (se o particular for vítima), ou de corrupção passiva (se o 
particular lucrar na relação). 
Concussão é “extorsão”, corrupção passiva é negócio. 
No crime de concussão o particular sempre será sujeito passivo. Já no crime de 
corrupção passiva, o particular poderá ser sujeito ativo do crime de corrupção 
ativa. 
O funcionário público é o sujeito ativo do crime de corrupção passiva. A pessoa é 
considerada funcionário público a partir do momento em que é nomeada para o 
cargo, ainda que não haja posse. Logo, a partir da nomeação, uma pessoa já é 
considerada funcionário público e já pode ser sujeito ativo do crime de corrupção 
passiva. O sujeito passivo é sempre o Estado. O particular poderá, eventualmente, 
ser sujeito ativo do crime do Art. 333, CP (corrupção ativa) e não do Art. 317, CP 
(corrupção passiva). 
TIPO OBJETIVO. O crime do Art. 317, CP consagra um tipo misto alternativo com 
3 modalidades de perpetração: 
1ª Solicitar (pedir) – Nesta modalidade a iniciativa de obter a vantagem indevida 
parte do funcionário público; 
2ª Receber (adquirir, tomar posse de) – Nesta modalidade o particular apenas 
aceita a iniciativa do funcionário público em ter cobrado a vantagem indevida. 
3ª Aceitar promessa – Nesta modalidade o funcionário público aquiesce com a 
promessa de indevida vantagem ofertada pelo particular. 
A vantagem exigida tem que ser indevida e tem que ser em benefício próprio do 
funcionário público ou de outrem (não em benefício da adm. púb.). Vantagem 
indevida é não apenas aquela contrária à lei, mas aquela vantagem que é exigida 
para o funcionário público desempenhar algo que é já é da sua competência e 
que, portanto, já recebe pra fazer isso. 
A solicitação da vantagem indevida pode ser feita direta ou indiretamente. Pode 
ser pedida para si ou para 3º e pode ser feita antes ou depois da prática do ato de 
ofício (pode-se solicitar a vantagem depois do cumprimento da diligência). 
A corrupção passiva deve ter uma conexão teleológica com o ato de ofício 
pretérito ou futuro. A vantagem indevida é, na verdade, uma remuneração 
contraprestacional ao ato de ofício praticado pelo funcionário público competente 
para tal. 
 
A corrupção passiva poderá ser: 
 
►Própria (Art. 317, § 1º,CP) 
• É o funcionário público que recebe $ para retardar ou deixar de praticar ato de 
ofício ou que recebe para praticar o ato infringindo dever funcional. Ex: O 
funcionário público vai cumprir um mandado que já havia recebido para tanto e, 
quando acha o réu, este oferece o dobro para o oficial retornar ao juízo, 
certificando (negativamente) que não o encontrou. 
• Na corrupção passiva própria o funcionário público comete dois atos ilícitos ao 
mesmo tempo. 
 
• ►Imprópria (Art. 317, caput, CP) 
• É o funcionário público que recebe $ para cumprir a diligência, para executar o 
ato de ofício. Ex: O funcionário público recebe dinheiro para cumprir um mandado. 
TIPO SUBJETIVO. É sempre doloso. CONSUMAÇÃO. Na modalidade solicitar 
(que é crime formal), o crime está consumado quando o pedido da vantagem 
chega ao conhecimento do particular, tenha ele ou não aceitado pagar por ela. Na 
modalidade receber (que é crime material), o crime está consumado quando o 
funcionário público toma para si a vantagem. Na modalidade aceitar (que é crime 
formal), o crime está consumado quando a vantagem indevida é prometida e o 
funcionário público aceita a promessa. 
Cabe tentativa por escrito nas modalidades solicitar e aceitar promessa. Na 
modalidade receber não cabe tentativa por escrito, mas cabe tentativa por 
qualquer outro meio (que não o escrito). 
OBS: Existe no Art. 3º, II, Lei nº 8.137/90 a união do tipo concussão com o tipo 
corrupção passiva. 
 
- o fiscal que exigir, solicitar, receber ou aceitar promessa de vantagem indevida 
para deixar de lançar ou cobrar tributo (imposto, taxa ou contribuição de melhoria) 
ou contribuição social ou cobrá-los parcialmente, pratica o crime previsto no art. 
3°, II, da Lei n. 8.137/90 (“crime contra a ordem tributária”). 
 
Corrupção Passiva Privilegiada (Art. 317, § 2º, CP) 
 
CONCEITO. É aquela em que o funcionário público viola o dever de ofício, não por 
intenção de lucro, mas com o intuito de agradar alguém que lhe fez determinado 
pedido. É o crime praticado pelo funcionário público que satisfaz o desejo de 
alguém. Ex: João (funcionário público) não cumpre o mandado de busca e 
apreensão a pedido de Maria. 
*É o popular crime do “gente nossa”, “amigo da casa”. 
 
- dar dinheiro para testemunha ou perito mentir em processo: a testemunha e o 
perito não oficial (se oficial, há “corrupção ativa e passiva”) respondem pelo delito 
do art. 342, § 2° (“falso testemunho ou perícia”); a pessoa que deu o dinheiro 
responde pelo crime do art. 343 (“corrupção ativa de testemunha ou perito”). 
 
- o art. 299 da Lei n. 4.737/65 (Código Eleitoral) prevê crimes idênticos à 
“corrupção passiva e ativa”, mas praticados com a intenção de conseguir voto, 
ainda que o agente não obtenha sucesso. 
 
FACILITAÇÃO DE CONTRABANDO OU DESCAMINHO 
Art. 318 
- o crime se consuma com a ajuda prestada ao contrabandista, ainda que este não 
consiga ingressar ou sair do País com a mercadoria. 
- a ação penal é pública incondicionada, de competência da Justiça Federal. 
 
PREVARICAÇÃO 
Art. 319 
CONCEITO. É a violação do dever de ofício para atender a interesses pessoais. 
Parece com a corrupção passiva privilegiada, mas não é, pois nessa o funcionário 
público viola o dever atendendo a interesses de 3º, sendo que no crime de 
prevaricação ele viola o dever atendendo a interesses pessoais (por si mesmo). 
Quem prevarica atende a interesses pessoais. 
BEM JURÍDICO. Princípio da isonomia e princípio da moralidade. SUJEITOS. O 
sujeito ativo é o funcionário público competente para realizar o ato de ofício. O 
sujeito passivo é o Estado. 
TIPO OBJETIVO. Envolve 2 formas: omissiva e comissiva. Na forma omissiva o 
funcionário público retarda ou deixa de praticar, indevidamente, ato de ofício. 
Retardar é procrastinar, é o ato praticado com certo atraso, mas que é praticado. 
Deixar de praticar é abandonar a prática, é não praticar o ato de jeito algum. Na 
forma comissiva o funcionário público pratica, indevidamente, o ato de ofício 
contra disposição expressa de lei. 
TIPO SUBJETIVO. É sempre doloso. Envolve, ainda, um fim especial de agir que 
é satisfazer um interesse ou sentimento pessoal; não importa se o sentimento é 
nobre (ex: Milena, funcionária pública, deixa de cobrar ISS de uma velhinha dona 
de um carrinho de cachorro-quente) ou torpe, há crime do mesmo jeito. 
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA. O crime está consumado com a efetiva violação 
ao dever de ofício. Só cabe tentativa na modalidade comissiva (praticar). 
- na “corrupção passiva”, o funcionário público negocia seus atos, visando uma 
vantagem indevida; na “prevaricação” isso não ocorre; aqui, o funcionário público 
viola sua função para atender a objetivos pessoais.- ex.: permitir que amigos 
pesquem em local público proibido, demorar para expedir documento solicitado 
por um inimigo (o sentimento, aqui, é do agente, mas o benefício pode ser de 
terceiro). 
 
- o atraso no serviço por desleixo ou preguiça não constituicrime; se fica 
caracterizado, todavia, que o agente, por preguiça, rotineiramente deixa de 
praticar ato de ofício, responde pelo crime - ex.: delegado que nunca instaura IP 
para apurar crime de furto, por considerá-lo pouco grave. 
 
- a “prevaricação” não se confunde com a “corrupção passiva privilegiada”; nesta, 
o agente atende a pedido ou influência de outrem; naquela não há tal pedido de 
influência, o agente visa satisfazer interesse ou sentimento pessoal. 
 
CONDESCENDÊNCIA CRIMINOSA 
Art. 320 = Consiste na conduta do funcionário público que, por indulgência, deixa 
de tomar as medidas necessárias para responsabilizar o funcionário público 
subordinado que cometeu infração no exercício do cargo. É o famoso “passar a 
mão pela cabeça”. 
SUJEITOS. O sujeito ativo é o funcionário público superior hierárquico do 
funcionário público subordinado, que comete uma infração pela qual deveria ser 
punido. O sujeito passivo é o Estado. 
TIPO OBJETIVO. Consagra 2 modalidades: 1º Deixar de responsabilizar. Deixar 
de tomar as medidas cabíveis para punir o funcionário público subordinado que 
comete determinada infração. O funcionário público superior não responsabiliza o 
funcionário público infrator agindo de duas maneiras: ou não pune diretamente o 
subordinado, ou não instaura o devido procedimento administrativo para apurar e 
punir a infração cometida pelo funcionário público subordinado. 
2ª Deixar de comunicar à autoridade competente. O funcionário público que sabe 
de alguma infração cometida por um colega e que, não tendo competência para 
puni-lo, deixa de comunicar o fato à autoridade competente hierarquicamente 
superior ao colega infrator. 
É elementar do crime (é pressuposto dele) que o funcionário público tenha 
cometido uma infração (administrativa ou penal); a lei fala em infração, não em 
crime. O subordinado tem que praticar, efetivamente, a infração. 
A infração deve ser praticada no exercício do cargo. Se o subordinado praticá-la 
fora da função, não haverá motivo que enseje crime de condescendência 
criminosa, caso o superior deixe de punir tal conduta. 
A condescendência criminosa é sempre subseqüente à prática da infração. Se o 
superior pratica a mesma infração que o subordinado, concomitantemente, eles 
responderão juntos pela mesma infração (o superior como co-autor ou como 
partícipe da infração). Se o superior vir a infração sendo cometida pelo 
subordinado e não fizer nada, ele, como garantidor, age dolosamente e concorre, 
pois, para a prática da mesma infração do funcionário público subordinado. 
O funcionário público superior deverá punir o funcionário público subordinado logo 
após este cometer a infração, assim que tiver conhecimento. Se não o fizer, 
responderá por condescendência criminosa. 
TIPO SUBJETIVO. É doloso e requer tb um fim especial de agir, que é a 
indulgência (perdão), ou seja, tolerância para com o funcionário público 
subordinado. 
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA. É um crime omissivo puro. *O crime está 
consumado a partir do momento em que o superior toma conhecimento da 
infração cometida pelo funcionário público subordinado e não faz nada, deixando 
escoar tempo juridicamente relevante. Não admite tentativa. 
 
ADVOCACIA ADMINISTRATIVA 
Art. 321 
 
- ele se aperfeiçoa quando, um funcionário público, valendo-se de sua condição 
(amizade, prestígio junto a outros funcionários), defende interesse alheio, legítimo 
ou ilegítimo, perante a Administração Pública. 
É a outra face da corrupção passiva privilegiada. Consiste na conduta do 
funcionário público que, valendo-se dessa condição, patrocina, direta ou 
indiretamente, interesse privado ou de 3º. Ex: Desembargador que liga para um 
juiz pedindo que este interceda em favor de uma das partes. 
BEM JURÍDICO. Princípio da moralidade e princípio da impessoalidade. 
SUJEITOS. O sujeito ativo não precisa ser advogado, mas basta ser qualquer 
funcionário público que atue em defesa de interesse privado ou de 3º. O 
funcionário público criminoso não pode ser competente para atender ao interesse 
pelo qual advoga, porque se for ele mesmo é que estará praticando o ato e não 
pedindo a ninguém que o faça por si. A advocacia criminosa é um crime praticado 
por funcionário público em favor de alguém. O sujeito passivo é o Estado. 
TIPO OBJETIVO. O tipo objetivo é patrocinar, que significa pleitear em favor de 
outrem, pedir em favor de outrem. O interesse patrocinado poderá ser legítimo 
(neste caso o criminoso responderá pelo caput) ou ilegítimo (hipótese em que 
responderá pelo p. ú.). A ilegitimidade do interesse é uma qualificadora do crime. 
Ex: Pedir para um funcionário público (juiz) engavetar um processo (interesse 
ilegítimo). 
TIPO SUBJETIVO. É sempre doloso. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA. Advocacia 
criminosa é crime formal, portanto se consuma com qualquer prática de patrocínio, 
seja o interesse atendido ou não. 
 
ABANDONO DE FUNÇÃO 
Art. 
- para que esteja configurado o abandono é necessário que o agente se afaste do 
seu cargo por tempo juridicamente relevante, de forma a colocar em risco a 
regularidade dos serviços prestados (assim, não há crime na falta eventual, bem 
como no desleixo na realização de parte do serviço, que caracteriza apenas falta 
funcional, punível na esfera administrativa); não há crime quando o abandono se 
dá nos casos permitidos em lei (ex.: autorização da autoridade competente, para 
prestação de serviço militar). 
 
 
VIOLAÇÃO DE SIGILO FUNCIONAL 
Art. 325 
 
CONCEITO. É a conduta do funcionário público que revela um segredo que sabe 
em razão do cargo. O funcionário público sabe de um fato em razão do cargo, o 
qual deveria permanecer em segredo, mas sem justa causa revela a outrem. 
SUJEITOS. O sujeito ativo é o funcionário público, apenas ele. O sujeito passivo é 
o próprio Estado e, eventualmente, o particular penalizado com a divulgação do 
segredo. 
TIPO OBJETIVO. A 1ª modalidade da conduta típica é revelar. Revelar é dar 
conhecimento a terceiro. A revelação basta ser feita a apenas uma pessoa que já 
configura o crime. Quem comete o crime é apenas quem conta o segredo. Quem 
escuta não responde por esse crime e nem comete crime nenhum, a não ser que 
provoque o detentor do segredo para contar o que sabe, hipótese em que 
responderá pelo 325 em concurso com o funcionário público. 
Se o segredo que o funcionário público detém é sabido não em razão do cargo ou 
é sabido de forma ilícita (ex: ouvir atrás da porta a conversa de um juiz ao 
telefone) e mesmo assim é revelado, ele não responde pelo 325, mas responde 
pelo Art. 154, CP. 
O fato de que sabe o funcionário público deve ser sigiloso. Se ele contar algo que 
sabe que não tem caráter sigiloso, que não deve ser mantido em segredo não há 
crime. Tb não há crime se eu contar um fato sigiloso que o ouvinte já saiba do que 
se tratava. 
A 2ª modalidade da conduta típica é facilitar a revelação. 
TIPO SUBJETIVO. É doloso. O dolo é dolo genérico de revelar o segredo. 
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA. Este crime é crime formal. Está consumado 
quando 3º toma conhecimento do fato sigiloso, pouco importando se esse segredo 
vai ou não causar dano à administração pública. Só cabe tentativa por escrito. 
Se da revelação do segredo (ação do funcionário público) ou da facilitação para 
que outrem tome conhecimento do fato (omissão do funcionário público) resultar 
dano à administração pública ou mesmo a um particular, o crime torna-se 
qualificado, com pena de reclusão de 2 a 6 anos e multa. É o que prescreve o Art. 
325, § 2º, CP. 
Art. 325, § 1º, CP 
*No § 1º, I, tem-se uma forma semelhante ao peculato eletrônico. É a conduta do 
funcionário público que permite ou facilita, ao particular, acesso aos sistemas de 
informações ou banco de dados da administração pública. 
Se particular, ao ter acesso aos dados, modifica alguma informação, algum dado, 
ele comete peculato eletrônicoe responderá por esse crime, junto com o 
funcionário público, em concurso de pessoas. O 325 será absorvido pelo 313-A. 
 
 
DOS CRIMES PRATICADOS PORPARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO 
EM GERAL 
 
USURPAÇÃO DE FUNÇÃO PÚBLICA 
Art. 328 - 
 
CONCEITO. É o crime cometido pelo particular que, indevidamente, pratica atos 
de ofício como se funcionário público fosse. Ex: Num determinado concurso 
público, uma pessoa com o nome José Bispo dos Santos foi aprovada para o 
cargo de juiz. Entretanto esse rapaz morreu. Outro candidato que tinha o mesmo 
nome ficou sabendo do fato e se fez passar pelo falecido aprovado. Passou, 
então, a sentenciar, a despachar e a praticar atos como se juiz fosse. 
BEM JURÍDICO. Administração pública. SUJEITOS. O sujeito ativo pode ser 
qualquer pessoa, qualquer particular ou até um funcionário público que usurpe 
competência que não lhe pertença. Somente o funcionário público 
hierarquicamente superior é que não comete esse crime, pois ele pode avocar a 
competência do subordinado. O sujeito passivo é o Estado. 
 
- a simples conduta de se intitular funcionário público perante terceiros, sem 
praticar atos inerentes ao ofício, pode constituir apenas a contravenção descrita 
no art. 45 da LCP (“simulação da qualidade de funcionário” - fingir-se funcionário 
público). 
 
RESISTÊNCIA 
Art. 329 
- o particular pode efetuar prisão em flagrante, nos termos do art. 301 do CPP; se 
ele o fizer, desacompanhado de algum funcionário público, e contra ele for 
empregada violência ou ameaça, não haverá crime de “resistência”, já que não é 
funcionário público. 
 
- violência: agressão, desforço físico etc.; o tipo refere-se à violência contra a 
pessoa do funcionário público ou do terceiro que o auxilia (por solicitação de ajuda 
pelo funcionário público ou por adesão voluntária); eventual violência empregada 
contra coisa (ex.: viatura policial) caracteriza crime de “dano qualificado”; a 
chamada resistência passiva (sem o emprego de violência ou ameaça), não é 
crime - ex.: segurar-se em um poste para não ser conduzido, jogar-se no chão 
para não ser preso, sair correndo etc. 
 
- ameaça: ao contrário do que ocorre normalmente no CP, a lei não exige que a 
ameaça seja grave; ela pode ser escrita ou verbal. 
 
- se a violência for empregada com o fim de fuga, após a prisão ter sido efetuada, 
o crime será o do art. 352 (“evasão mediante violência contra a pessoa”). 
 
- o ato a ser cumprido deve ser legal quanto ao conteúdo e a forma (modo de 
execução); se a ordem for ilegal, a oposição mediante violência ou ameaça não 
tipifica a “resistência” - ex.: prender alguém sem que haja mandado de prisão; 
prisão para averiguação etc. 
 
- o mero xingamento contra funcionário público constitui crime de “desacato”; se, 
no caso concreto, o agente xinga e emprega violência contra o funcionário público, 
teria cometido dois crimes, mas jurisprudência firmou entendimento de que, nesse 
caso, o “desacato” fica absorvido pela “resistência”. 
 
DESOBEDIÊNCIA 
Art. 330 
CONCEITO. Consiste na conduta do particular que descumpre ordem legal dada 
por funcionário público. Nesse crime há o descumprimento de um dever, não de 
um ônus. Se o sujeito descumpre um ônus que recai sobre si, não comete crime 
algum, apenas arca com as consequências desse descumprimento. Esse crime 
tem afinidade com o crime do Art. 329, CP. 
BEM JURÍDICO. O bem jurídico lesado por esse crime é o princípio da autoridade 
administrativa. 
SUJEITOS. O sujeito ativo desse crime pode ser qualquer pessoa, inclusive o 
funcionário público (desde que fora da função, equiparado, portanto, ao particular). 
O funcionário público que, no exercício da função, não cumpre uma ordem de um 
superior, pode estar cometendo o crime de prevaricação (Art. 319, CP) e não o 
crime de desobediência (Art. 330, CP). 
*O sujeito passivo é o Estado. Mais precisamente, é a entidade política da qual 
proveio a ordem (União, Estado ou Município). 
TIPO OBJETIVO. O tipo objetivo é desobedecer ordem legal. 
*A desobediência deve ser a uma ordem, a um comando, a um mandamento dado 
pelo funcionário público que implique em o particular ou o próprio funcionário 
(quando equiparado ao particular) tenha que obedecer. 
A ordem tem que ser legal. Portanto, ninguém é obrigado a se submeter aos 
caprichos de um funcionário público que dá uma ordem considerada ilegal. É 
possível cogitar, no caso concreto, da legalidade da ordem e escusar-se de 
cumpri-la, caso seja de fato ilegal; não há presunção de legalidade do ato 
administrativo de um funcionário público que dá uma ordem considerada ilegal. 
Só há crime de desobediência se o particular tiver o poder de cumprir a ordem 
legal dada e não o fizer. Não basta apenas haver o dever de obedecer à ordem 
dada, mas deve haver o poder de o particular vir a cumprir essa ordem. Caso esse 
particular tenha, além do dever, o poder de cumprir a ordem dada e não a cumpre 
mesmo assim, comete crime de desobediência. 
Se houver a cominação de alguma outra sanção que não a penal (civil, 
administrativa ou processual) para o descumprimento de uma ordem, não existe 
crime de desobediência. Essa é uma jurisprudência in bonam partem, a fim de 
evitar o bis in idem. Se a lei não disser, expressamente, que a sanção não-penal 
deve ser cumulada com a penal, não haverá crime de desobediência. 
Logo, as pessoas não são obrigadas a soprar o bafômetro e nem a fazer exames 
grafotécnicos, por exemplo, pois há a chamada presunção de inocência que 
assegura ao cidadão o direito de se recusar a fazer prova contra si mesmo, em 
seu desfavor. Então, a recusa do particular em ter que soprar o bafômetro não 
gera presunção de culpa no âmbito penal. 
TIPO SUBJETIVO. É doloso. 
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA. O crime de desobediência é um crime de mera 
conduta. Pode ser cometido na forma comissiva e na forma omissiva. Se a ordem 
for para fazer algo e vc não faz comete o crime na forma omissiva. Todavia, se a 
ordem for para não fazer e vc faz, comete o crime na forma comissiva. 
É cabível a tentativa na forma comissiva, não na forma omissiva, pois ninguém 
pode tentar não obedecer a alguém. Ou desobedece, ou obedece. 
Na forma comissiva o crime está consumado com a prática do ato. Na forma 
omissiva o crime está consumado quando escoa o prazo para o cumprimento da 
ordem; se não há prazo estipulado deve-se cumprir a ordem dada na mesma hora, 
pois do contrário há cometimento do crime de desobediência. 
Diferenças entre resistência e desobediência: 
1ª A resistência é sempre ativa (comissiva) e praticada com violência ou ameaça 
ao funcionário público. A desobediência pode ser omissiva ou comissiva e não há 
violência ou ameaça a funcionário público algum 
2ª A resistência deve ser feita na presença do funcionário público e deve ser 
contemporânea ou anterior à ordem deste. A desobediência pode ser na presença 
ou na ausência do funcionário publico; a desobediência deve ser posterior à 
ordem. 
3ª Na resistência, quem tem que praticar o ato é o funcionário público. Na 
desobediência não há nenhuma conduta que o funcionário público deva observar. 
4ª O pressuposto da resistência e da desobediência é o ato funcional. 
5ª A resistência é crime formal e a desobediência é crime de mera conduta. 
 
DESACATO 
Art. 331 
CONCEITO. O desacato é uma forma de injúria praticada contra funcionário 
público no exercício da sua função ou em razão dela. Consiste na humilhação, na 
injúria, na ofensa, no menoscabo, no espezinhamento, no menosprezo praticado 
contra o funcionário público no exercício ou em razão da sua função. 
BEM JURÍDICO. O bem jurídico afetado por esse crime é a honra funcional, a 
honra do funcionário público, que lesa a sua dignidade e, corolariamente, a própria 
administração pública. 
SUJEITOS. É um crime comum. Pode ser praticado por qualquer pessoa, inclusive 
pelo funcionáriopúblico quando estiver fora da função (equiparado, portanto, a um 
particular). 
A doutrina majoritária entende que o funcionário público, no exercício da função, 
pode vir a cometer esse crime em relação ao superior hierárquico. O subordinado, 
portanto, pode cometer esse crime contra o seu superior. A jurisprudência 
dominante entende que não há, contudo, desacato entre iguais. Nesse 
entendimento, oficial de justiça não cometeria desacato em relação ao juiz. Esse 
entendimento jurisprudencial é baseado no fato de que quando um funcionário 
público desacata a outro funcionário público, ele está, na verdade, desacatando a 
si mesmo. 
O sujeito passivo do crime de desacato é o funcionário público. Esse funcionário 
público é aquele concebido no conceito estrito de funcionário público, não o 
funcionário público do Art. 327, CP, que só vale para a posição de sujeito ativo, 
segundo entendimento da doutrina majoritária. 
TIPO OBJETIVO. É desacatar. Desacatar é ofender, desprezar, desrespeitar, 
atingir a honra funcional. É um crime de forma livre; logo, pode haver desacato de 
várias formas possíveis. 
O crime pode ser cometido de 2 formas: no exercício da função ou em razão dela. 
No exercício da função, a ofensa poderá estar ou não relacionada à função do 
funcionário público que o crime estará perpetrado do mesmo jeito. Quando se 
ofende um funcionário público no exercício da função, não se ofende o funcionário 
público X ou Y, mas o próprio Estado, pq o funcionário público no exercício da 
função não representa o Estado, ao contrário, ele presenta o Estado, vale dizer: 
ele é o próprio Estado. 
Em razão da função, a ofensa é proferida quando o funcionário público está fora 
da sua função. A ofensa cometida contra funcionário público em razão da função é 
um crime praticado contra o próprio funcionário público e não contra o Estado. 
Portanto, o desacato em razão da função é aquele crime praticado contra a 
pessoa do funcionário público que não está no exercício da função, mas apenas 
em razão dela. 
*O desacato precisa ser cometido na presença do funcionário público. Pode haver 
um desacato por escrito, desde que seja feito na presença (física) do funcionário 
público. Se a ofensa não for feita na presença do funcionário público, não há crime 
de desacato, mas há o crime de injúria (Art. 141, II, CP), pois esse caso se tratará 
de uma ofensa praticada contra funcionário público em razão da função e não no 
exercício dela. Não existe, portanto, desacato feito por telefone. O desacato se 
configura ainda que só estejam presentes o funcionário público e o ofensor. 
*Se eu xingar um juiz na rua de “abestalhado”, na sua presença, eu responderei 
por injúria, não por desacato. Já se eu xingá-lo de corrupto nas mesmas 
circunstâncias, eu responderei por desacato, em razão da natureza diversa da 
ofensa, que foi lançada sobre o magistrado em razão da sua função. 
TIPO SUBJETIVO. É doloso. Se o ofensor não tiver consciência que o ofendido é 
funcionário público, haverá erro de tipo. 
A jurisprudência entende que a embriaguez é incompatível com o desacato. Logo, 
o bêbado que menospreza um funcionário público não comete crime de desacato. 
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA. O crime de desacato é um crime formal. Está 
consumado quando a ofensa chega ao conhecimento da vítima. 
*É admissível a tentativa, porém ela é de difícil configuração. 
- o advogado pode cometer “desacato”? – o Estatuto da OAB, em seu art. 7°, § 2°, 
estabelece que o advogado não comete crimes de “injúria”, “difamação” ou 
“desacato” quando no exercício de suas funções, em juízo ou fora, sem prejuízo 
das sanções disciplinares junto à OAB; entende-se, entretanto, que esse 
dispositivo é inconstitucional no que tange ao “desacato”, pois a imunidade dos 
advogados prevista no art. 133 da CF somente poderia abranger os “crimes contra 
a honra” e não os “crimes contra a Administração” (STF), sendo assim, ele poderá 
cometer “desacato”. 
 
- a embriaguez exclui o “desacato”? 
 
- não, nos termos do art. 28, II, que estabelece que a embriaguez não exclui o 
crime. 
 
- Nélson Hungria – sim, pois o “desacato” exige dolo específico, consistente na 
intenção de humilhar, ofender, que é incompatível com o estado de embriaguez. 
 
- e com relação à exaltação de ânimos? – há uma corrente majoritária entendendo 
que o crime exige ânimo calmo, sendo que a exaltação ou cólera exclui o seu 
elemento subjetivo (Nélson Hungria e outros); de outro lado, entende-se que a 
emoção não exclui a responsabilidade pelo “desacato”, uma vez que o art. 28, I, 
estabelece que a emoção e a paixão não excluem o crime. 
 
TRÁFICO DE INFLUÊNCIA 
Art. 332 - 
- se o agente visa vantagem patrimonial a pretexto de influir especificamente em 
juiz, jurado, órgão do MP, funcionário da justiça, perito, tradutor, intérprete ou 
testemunha, o crime é o do art. 357 (“exploração de prestígio”). 
 
CORRUPÇÃO ATIVA 
Art. 333 
- de acordo com a “teoria monista ou unitária”, todos os que contribuírem para um 
crime responderão por esse mesmo crime; às vezes, entretanto, a lei cria exceção 
a essa teoria, como ocorre com a “corrupção passiva e ativa”; assim, o funcionário 
público que solicita, recebe ou aceita promessa de vantagem indevida comete a 
“corrupção passiva”, enquanto o particular que oferece ou promete essa vantagem 
pratica “corrupção ativa”. 
 
- na modalidade “solicitar” da “corrupção passiva”, não existe figura correlata na 
“corrupção ativa”; com efeito, na solicitação a iniciativa é do funcionário público, 
que se adianta e pede alguma vantagem ao particular; em razão disso, se o 
particular dá, °entrega o dinheiro, só existe a “corrupção passiva”, o fato é atípico 
quanto ao particular. 
 
- existem duas hipóteses de “corrupção passiva” sem “corrupção ativa”: quando o 
funcionário solicita e o particular dá ou se recusa a entregar o que foi pedido. 
 
- existe “corrupção ativa” sem “corrupção passiva”: quando o funcionário público 
não recebe e não aceita a promessa de vantagem ilícita. 
 
- se o agente se limita a pedir para o funcionário “dar um jeitinho”, não há 
“corrupção ativa”, pelo fato de não ter oferecido nem prometido qualquer 
vantagem indevida; se o funcionário público “dá o jeitinho” e não pratica o ato que 
deveria, responde pelo crime do art. 317, § 2° (“corrupção passiva privilegiada”) e 
o particular figura como partícipe; se ele não dá o jeitinho, o fato é atípico. 
 
CONTRABANDO OU DESCAMINHO 
Art. 334 - 
- contrabando: é a clandestina importação ou exportação de mercadorias cuja 
entrada no país, ou saída dele, é absoluta ou relativamente proibida. 
 
- descaminho: é a fraude tendente a frustrar, total ou parcialmente, o pagamento 
de direitos de importação ou exportação ou do imposto de consumo (a ser 
cobrado na própria aduana) sobre mercadorias. 
 
- a ação penal é pública incondicionada, de competência da Justiça Federal. 
. Contrabando consiste na conduta do sujeito que importa ou exporta mercadoria 
proibida, que não poderia entrar ou sair do país. 
Descaminho (pai dos crimes tributários) consiste na conduta do sujeito que se 
utiliza de uma fraude para iludir o pagamento do tributo, no todo ou em parte, pela 
entrada ou saída de mercadoria permitida. 
Quem importa alimento transgênico (tipo de alimento proibido no Brasil) comete o 
crime de contrabando, perdendo esse bem em favor da União. 
BEM JURÍDICO. O bem jurídico tutelado é o patrimônio da União. É um crime de 
competência da Justiça Federal. 
SUJEITOS. O sujeito ativo desse crime é qualquer pessoa. O funcionário público 
responsável pela fiscalização alfandegária que não fiscaliza corretamente 
responde por facilitação de contrabando ou descaminho (Art. 318, CP), que é um 
crime mais grave (reclusão de 3 a 8 anos e multa).O sujeito passivo é a União. 
TIPO OBJETIVO. No contrabando a entrada ou saída do produtoé proibida. Essa 
proibição poderá ser absoluta ou relativa. A proibição absoluta é aquela expressa 
em lei. A relativa é aquela jungida às condicionantes de autorização do próprio 
órgão administrativo competente, que delibera acerca da entrada ou saída de 
mercadorias no país. 
No descaminho a entrada ou saída do produto é permitida, porém ocorre uma 
fraude no pagamento do tributo. O sujeito engana o fisco. 
Cabe descaminho de produto nacional? Sim, desde que o produto seja destinado 
à exportação. 
TIPO SUBJETIVO. É doloso. No contrabando, o sujeito deve saber que o produto 
não deve entrar ou sair do país e no descaminho o sujeito deve saber que está 
fraudando o fisco. 
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA. O contrabando está consumado quando o 
produto entra ou sai do território nacional. O descaminho está consumado quando 
há liberação da alfândega do pagamento do tributo. 
É admissível a tentativa, pois ambos são crimes materiais. 
 
 
DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA 
 
DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA 
1Art. 339 
- se o próprio policial coloca droga na bolsa de alguém e a prende em flagrante, há 
crime de “denunciação caluniosa” e de “abuso de autoridade” (art. 3°, “a”, da Lei n. 
4.898/65). 
 
- a consumação se dá com o início de investigação policial (se o agente noticia o 
fato à autoridade e depois volta atrás, contando a verdade, sem que a 
investigação tenha sido iniciada, não há crime, pois houve “arrependimento 
eficaz”; se a investigação já estava iniciada, o crime já estará consumado e a 
confissão valerá apenas com atenuante genérica), de processo judicial (quando o 
juiz recebe a denúncia ou a queixa oferecida contra o inocente), de investigação 
administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa. 
 
- requisito da denunciação é a espontaneidade, ou seja, a iniciativa deve ser 
exclusiva do denunciante; se ele faz a acusação em razão de questionamento de 
outrem, não existe o crime - ex.: réu que atribui o crime a outra pessoa em seu 
interrogatório; testemunha que fala que o crime foi cometido por outra pessoa, 
visando beneficiar o réu (nesse caso há “falso testemunho” e não “denunciação 
caluniosa”). 
 
- A imputa crime a B, supondo que B era inocente; posteriormente, por 
coincidência, fica apurado que B realmente havia praticado o crime; nesse caso 
não há “denunciação caluniosa”, pois a imputação não era objetivamente falsa. 
 
COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME OU DE CONTRAVENÇÃO 
Art. 340 - 
- não se confunde com a “denunciação caluniosa”, pois, nesta, o agente aponta 
pessoa certa e determinada como autora da infração, enquanto no art. 340 isso 
não ocorre; nesse crime, o agente se limita a comunicar falsamente a ocorrência 
de crime ou contravenção, não apontando qualquer pessoa como responsável por 
eles ou então apontando pessoa que não existe. 
 
- a consumação se dá quando a autoridade inicia a investigação, porque o tipo do 
art. 340 descreve a conduta de “provocar a ação da autoridade”, não bastando, 
portanto, a mera comunicação. 
 
- se o agente faz a comunicação falsa para tentar ocultar outro crime por ele 
praticado responde também pela “comunicação falsa de crime”. 
 
- muitas vezes a comunicação falsa tem a finalidade de possibilitar a prática de 
outro crime - ex.: comunicar o furto de um carro para receber o valor do seguro e 
depois vender o carro (Nélson Hungria entende que o agente só responde pelo 
crime-fim - “fraude para recebimento de seguro” - art. 171, § 2°. VI; Heleno C. 
Fragoso, Magalhães Noronha e Júlio F. Mirabete entendem que há concurso 
material, pois as condutas são distintas e atingem bens jurídicos diversos, de 
vítimas diferentes). 
 
AUTO-ACUSAÇÃO FALSA 
Art. 341 - 
- preso já condenado por vários crimes assume a autoria de crime que não 
cometeu para livra outra pessoa da cadeia. 
 
- a retratação não gera qualquer efeito por falta de previsão legal a respeito. 
 
FALSO TESTEMUNHO OU FALSA PERÍCIA 
 Art. 342 
- se a testemunha mente por estar sendo ameaçada de morte ou de algum outro 
mal grave, não responde pelo “falso testemunho”; o autor da ameaça é que 
responde pelo crime do art. 344 (“coação no curso do processo”). 
- pela “teoria subjetiva”, adotada por nós, só há crime quando o depoente tem 
consciência da divergência entre a sua versão e o fato presenciado. 
- pode haver “falso testemunho” sobre fato verdadeiro - ex.: a testemunha alega 
ter presenciado um crime que realmente aconteceu, mas, na verdade, não 
presenciou a prática do delito. 
- a mentira quanto a qualificação pessoal (nome, profissão etc.) não tipifica o “falso 
testemunho”, podendo caracterizar o crime do art. 307 (“falsa identidade”). 
 
- não há crime se o sujeito mente para evitar que se descubra fato que pode levar 
à sua própria incriminação (segundo Damásio E. Jesus, ocorre, nessa hipótese, 
situação de “inexigibilidade de conduta diversa”). 
- o art. 208 do CPP prevê que não se deferirá o compromisso a que alude o art. 
203 do CPP aos doentes, deficientes mentais e aos menores de 14 anos, nem às 
pessoas a que se refere o art. 206 do CPP (ascendente ou descendente, afim em 
linha reta, cônjuge, ainda que separado judicialmente, irmão e pai, mãe, ou filho 
adotivo do acusado); essas pessoas são ouvidas como informante do juízo. 
- discute-se, na doutrina e na jurisprudência, se o informante pode responder pelo 
crime de “falso testemunho”: Magalhães Noronha, Nélson Hungria e Damásio E. 
de Jesus, relatam que o compromisso não é elementar do crime; o “falso 
testemunho” surge da desobediência do dever de dizer a verdade “que não deriva 
do compromisso”, diante disso, responderão pelo crime; para Heleno Cláudio 
Fragoso, acha que não pode responder pelo crime, pois não tem o dever de dizer 
a verdade pelo fato de não prestar compromisso. 
- o art. 207 do CPP estabelece que “são proibidas de depor as pessoas que, em 
razão de função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo, salvo se, 
desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu testemunho”; estas não 
cometerão o crime de “falso testemunho” mas, dependendo da situação, 
responderão pelo crime do art. 154 (“violação de segredo profissional”). 
- não há participação no crime de “falso testemunho”, pois algumas hipóteses de 
participação constituem o crime do art. 343 (“corrupção ativa de testemunha ou 
perito”) e as demais formas são atípicas. 
- a consumação se dá no momento em que encerra do depoimento; na falsa 
perícia se consuma quando o laudo é entregue; se o “falso testemunho” é 
cometido em carta precatória, o crime se consuma no juízo deprecado, e este será 
o competente. 
 
Art. 343. 
- é uma exceção à “teoria unitária ou monista”, uma vez que o corruptor responde 
pelo crime do art. 343, enquanto a testemunha corrompida incide no art. 342, § 2°. 
 
COAÇÃO NO CURSO DO PROCESSO 
Art. 344 - 
 
- no caso do agente ser a própria pessoa contra quem foi instaurado o 
procedimento, responderá pelo crime de “coação no curso do processo”, sendo 
cabível a prisão preventiva para garantir a instrução criminal. 
 
- a consumação se dá no momento do emprego da violência ou grave ameaça, 
independentemente do êxito do fim visado pelo agente (favorecer a si próprio ou a 
terceiro). 
 
 
EXERCÍCIO ARBITRÁRIO DAS PRÓPRIAS RAZÕES 
Art. 345 - 
- quando alguém tem um direito ou julga tê-lo por razões convincentes, e a outra 
envolvida se recusa a cumprir a obrigação, o prejudicado deve procurar o Poder 
Judiciário para que o seu direito seja declarado e a pretensão seja satisfeita (se o 
agente tiver consciência da ilegitimidade da pretensão, haverá outro crime: furto, 
lesões corporais, violação de domicílio etc.); a pretensão do agente, pelo menos 
em tese, possa ser satisfeita pelo Judiciário, ou seja, que exista uma espécie 
qualquer de ação apta a satisfazê-la; elapode ser de qualquer natureza: direito 
real (expulsar invasores de terra com o emprego de força, em vez de procurar a 
justiça, fora das hipóteses de legítima defesa da posse ou desforço imediato, em 
que o emprego da força é admitido), pessoal (ex.: subtrair objetos do devedor), de 
família (subtrair objetos do devedor de alimentos inadimplente, em vez de 
promover a competente execução) etc.; se o sujeito resolve não procurar o 
Judiciário e fazer justiça com as próprias mãos para obter aquilo que acha devido, 
pratica o crime do art. 345 (“exercício arbitrário das próprias razões”) - subtrair 
objeto do devedor para se auto-ressarcir de dívida vencida e não paga. 
 
FRAUDE PROCESSUAL 
Art. 347 - 
 
- o delito se consuma no momento da alteração do local, coisa ou pessoa, desde 
que idônea a induzir o juiz ou perito em erro; é desnecessário que se consiga 
efetivamente enganá-los. 
- é crime subsidiário que fica absorvido quando o fato constitui crime mais grave, 
como, por ex., supressão de documento, falsidade documental etc. 
- ex.: altera características do objeto que será periciado; simular maior dificuldade 
auditiva ou qualquer outra redução da capacidade laborativa em ação acidentária; 
colocar arma na mão da vítima de homicídio para parecer que esta se suicidou, 
suprimir provas, eliminar impressões digitais; homem que faz vasectomia, para 
que ele fique impotente de gerar e consiga provar que o filho não poderia ser seu 
numa ação de reconhecimento de paternidade; fazer uma operação plástica para 
mudar a aparência etc. 
- haverá crime menos grave, descrito no art. 312 do CTB, na conduta de inovar 
artificiosamente, em caso de acidente automobilístico com vítima, na pendência do 
respectivo procedimento policial preparatório, IP ou processo penal, o estado do 
lugar, de coisa ou de pessoa, a fim de induzir em erro o agente policial, o perito ou 
o juiz. 
- só há crime se houver um processo, civil ou administrativo, em andamento, ou 
penal, ainda que não iniciado, sendo nesse caso, a pena aplicada em dobro. 
 
FAVORECIMENTO PESSOAL 
Art. 348 - 
- ex.: ajudar na fuga, emprestando carro ou dinheiro ou, ainda, por qualquer outra 
forma (só se aplica quando o autor do crime anterior está solto; se está preso e 
alguém o ajuda a fugir, ocorre o crime do art. 351 - “facilitação de fuga de pessoa 
presa”); esconder a pessoa em algum lugar para que não seja encontrada; 
enganar a autoridade dando informações falsas acerca do paradeiro do autor do 
delito (despistar) etc. 
 
- para a existência do favorecimento, o auxílio deve ser prestado após a 
consumação do crime antecedente; se antes dele ou durante sua prática, haverá 
co-autoria ou participação no delito antecedente e não “favorecimento pessoal”. 
 
- a própria vítima do crime antecedente pode praticar o favorecimento - ex.: vítima 
de sedução que, após completar 18 anos, ajuda o sedutor a se esconder. 
 
- o advogado não é obrigado a dizer onde se encontra escondido o seu cliente; 
pode, todavia, cometer o crime se o auxilia na fuga, se o esconde em sua casa 
etc. 
 
- não haverá “favorecimento pessoal” quando em relação ao fato anterior: houver 
causa excludente de ilicitude; já estiver extinta a punibilidade por qualquer causa; 
houver alguma escusa absolutória; o agente for inimputável em razão de 
menoridade -em todos esses casos, o agente não está sujeito a ação legítima por 
parte da autoridade, e, portanto, quem o auxilia não comete “favorecimento 
pessoal”. 
 
- se o autor do crime antecedente vier a ser absolvido por qualquer motivo (exceto 
na absolvição imprópria, em que há aplicação de medida de segurança), o juiz não 
poderá condenar o réu acusado de auxiliá-lo. 
 
- se o autor do crime antecedente e o autor do favorecimento forem identificados 
haverá conexão, e ambos os delitos, de regra, deverão ser apurados em um 
mesmo processo, nos termos do art. 79 do CPP. 
 
- quando o beneficiado consegue subtrair-se, ainda que por poucos instantes, da 
ação da autoridade, se o auxílio chega a ser prestado, mas o beneficiário não se 
livra da ação da autoridade, haverá mera tentativa. 
 
FAVORECIMENTO REAL 
Art. 349 - 
- só responde pelo crime aquele que não esteja ajustado previamente com os 
autores do crime antecedentes, no sentido de lhes prestar qualquer auxílio 
posterior, pois, se isso ocorreu, ele será responsabilizado por participação no 
crime antecedente por ter estimulado a prática do delito ao assegurar aos seus 
autores que lhes prestaria uma forma qualquer de ajuda. 
 
- a principal diferença entre a “receptação” e o “favorecimento real” consiste no 
fato de que, no neste, o agente visa auxiliar única e exclusivamente o autor do 
crime antecedente, enquanto naquele o sujeito visa seu próprio proveito ou o 
proveito de terceiro (que não o autor do crime antecedente). 
 
- trata-se de crime acessório, mas a condenação pelo “favorecimento real” não 
pressupõe a condenação do autor do crime antecedente - ex.: há prova da prática 
de um furto e de que alguém ajudou o autor desse crime, escondendo os bens 
furtados (a polícia, todavia, não consegue identificar o furtador, mas consegue 
identificar aquele que escondeu os bens). 
 
- ex.: esconder o objeto do crime para que o autor do delito venha buscá-lo 
posteriormente, transportar os objetos do crime; guardar para o homicida dinheiro 
que este recebeu para matar alguém etc. 
 
- a conduta de trocar as placas de veículo furtado ou roubado podia caracterizar o 
“favorecimento real”, mas, atualmente, constitui o crime do art. 311 (“adulteração 
de sinal identificador de veículo automotor”). 
 
- a menoridade e a extinção da punibilidade apenas impedem a aplicação de 
sanção penal ao autor do crime antecedente, mas o fato não deixa de ser crime. 
 
- a lei não prevê qualquer escusa absolutória como no caso do “favorecimento 
pessoal”. 
 
- no “favorecimento pessoal” o agente visa tornar seguro o autor do crime 
antecedente, enquanto no “favorecimento real” ele visa a tornar seguro o próprio 
proveito do crime anterior. 
 
FUGA DE PESSOA PRESA OU SUBMETIDA A MEDIDA DE SEGURANÇA 
Art. 351 
 
- o fato pode dar-se em penitenciárias ou cadeias públicas, ou em qualquer outro 
local (viatura em que o preso é escoltado, hospital onde recebe tratamento etc.). 
 
- o preso não responde pelo crime em razão de sua fuga, exceto se há emprego 
de violência (art. 352 - “evasão mediante violência contra a pessoa”). 
 
EVASÃO MEDIANTE VIOLÊNCIA CONTRA A PESSOA 
Art. 352 
- o legislador pune apenas o preso que foge ou tenta fugir com emprego de 
violência contra pessoa; a fuga pura e simples constitui mera falta disciplinar (art. 
50, II, da LEP); o emprego de grave ameaça não caracteriza o delito em análise, 
constituindo apenas crime de “ameaça” (art. 147); o emprego de violência contra 
coisa pode caracterizar crime de “dano qualificado” (art. 163, § único, III), mas há 
opinião no sentido de ser o fato atípico. 
 
- se a violência for empregada para impedir a efetivação da prisão, 
haverá,entrentanto, crime de “resistência”. 
 
ARREBATAMENTO DE PRESO 
Art. 353 
- arrebatar significa tirar o preso, com emprego de violência ou grave ameaça, de 
quem tenha sob custódia ou guarda, a fim de maltratá-lo - ex.: tirar o preso do 
interior da delegacia de polícia para ser linchado por populares. 
 
MOTIM DE PRESOS 
Art. 354 
- motim é a revolta conjunta de grande número de presos em que os participantes 
assumem posição de violência contra os funcionários, provocando depredações 
com prejuízos ao Estado e à ordem e disciplina da cadeia. 
 
PATROCÍNIO INFIEL 
Art. 355 
- constitui infração penal que tem por finalidade punir o advogado (bacharel 
inscrito na OAB) ou o profissional judicial (estagiário, provisionado etc.) que 
venham a prejudicar interesse de quem estejamrepresentando. 
 
- o delito pode ser cometido por ação (desistir da testemunha imprescindível, 
provocar nulidade prejudicial a seu cliente, fazer acordo lesivo etc.) ou por 
omissão (não recorrer, dar causa à perempção em razão de sua inércia). 
 
- o erro profissional ou a conduta culposa não tipificam o delito, podendo gerar a 
responsabilização civil, bem como punições pela OAB. 
 
PATROCÍNIO SIMULTÂNEO OU TERGIVERSAÇÃO 
§ único 
- a expressão “mesma causa” deve ser entendida como sinônimo de controvérsia, 
litígio, ainda que os processos sejam distintos. 
 
 
EXPLORAÇÃO DE PRESTÍGIO 
Art. 357 - 
- trata-se de crime assemelhado ao delito descrito no art. 332 (“tráfico de 
influência”), mas que se diferencia daquele por exigir que o agente pratique o 
delito a pretexto de influir em pessoas ligadas à aplicação da lei, mais 
especialmente em juiz, jurado, órgão do MP, funcionário da justiça, perito, tradutor, 
intérprete ou testemunha; no “tráfico de influência”, o crime é cometido a pretexto 
de influir em qualquer outro funcionário público. 
 
- o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, mas o crime normalmente é praticado 
por advogados inescrupulosos. 
 
- ex.: o agente ilude a vítima, enganando-a, fazendo-a crer que se tem um 
prestígio, que na realidade é fantasia. 
 
- se o agente estiver efetivamente conluiado com o funcionário público, para que 
ambos obtenham alguma vantagem indevida, haverá crime de “corrupção passiva” 
por parte de ambos.

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