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Aula 15
Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) -
Pós-Edital
Autor:
Michael Procopio
Aula 15
7 de Dezembro de 2020
 
 
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 120 
AULA 15 
DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL 
 
SUMÁRIO 
DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL ............................................................. 1 
SUMÁRIO .......................................................................................................................... 1 
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS .......................................................................................... 3 
2. CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL ................................................................... 3 
2.1 CONSTRANGIMENTO ILEGAL ............................................................................................................... 4 
2.2 AMEAÇA ............................................................................................................................................. 7 
2.3 SEQUESTRO E CÁRCERE PRIVADO ..................................................................................................... 10 
2.4 REDUÇÃO À CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO ........................................................................... 14 
2.5 TRÁFICO DE PESSOAS ........................................................................................................................ 18 
3. CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO .............................................. 21 
3.1 VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO ................................................................................................................. 21 
4. CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DA CORRESPONDÊNCIA ................................ 26 
4.1 VIOLAÇÃO DE CORRESPONDÊNCIA ................................................................................................... 26 
4.2 OUTROS CRIMES LIGADOS À VIOLAÇÃO DE CORRESPONDÊNCIA ...................................................... 27 
4.3 CORRESPONDÊNCIA COMERCIAL ...................................................................................................... 29 
5. CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DOS SEGREDOS ............................................. 30 
5.1 DIVULGAÇÃO DE SEGREDO ............................................................................................................... 30 
5.2 VIOLAÇÃO DE SEGREDO PROFISSIONAL ............................................................................................ 31 
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5.3 INVASÃO DE DISPOSITIVO INFORMÁTICO .......................................................................................... 32 
6. QUESTÕES ................................................................................................................ 34 
6.1 LISTA DE QUESTÕES SEM COMENTÁRIOS .......................................................................................... 34 
6.2 GABARITO ......................................................................................................................................... 50 
6.3 LISTA DE QUESTÕES COM COMENTÁRIOS ......................................................................................... 50 
6.4 QUESTÃO DISSERTATIVA .................................................................................................................. 79 
7. DESTAQUES DA LEGISLAÇÃO E DA JURISPRUDÊNCIA................................................ 80 
8. RESUMO ................................................................................................................... 98 
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 120 
 
 
Michael Procopio
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1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
Esta será nossa última aula sobre os crimes contra a pessoa, tratados no Título I, na Parte Geral do Código 
Penal. 
Nosso roteiro de conteúdo se refere, nesta aula, ao Capítulo VI, que trata dos crimes contra a liberdade 
individual. Referido capítulo abrange os crimes contra a liberdade pessoal (Seção I), os crimes contra a 
inviolabilidade do domicílio (Seção II), os crimes contra a inviolabilidade de correspondência (Seção III) e, 
por fim, os crimes contra a inviolabilidade dos segredos (Seção IV). 
Esta aula será composta pelos seguintes capítulos, referentes às seções do Código Penal em que se 
subdividem os crimes contra a liberdade individual: 
 
 
 
Portanto, cuida-se de estudo voltado aos diversos crimes contra a liberdade individual, abrangendo cada 
umas das suas divisões, com suas classificações e jurisprudência aplicável, quando relevante. 
Desejo que a aula seja produtiva e mais leve. Como são vários os delitos do Código Penal, as bancas de 
concurso costumam cobrar o conteúdo básico de vários deles, como o conhecimento do tipo penal e da sua 
classificação. Outros crimes, mais importantes ou mais ligados à prática profissional da carreira a que o 
concurso se refere, são cobrados de forma mais aprofundada. Espero conseguir fazer essa diferenciação nas 
aulas, dando maior ênfase nos delitos mais cobrados nas questões de concursos. 
SIGA O PERFIL PROFESSOR.PROCOPIO NO INSTAGRAM. Lá, haverá informações relevantes de aprovação 
de novas súmulas, alterações legislativas e tudo o que houver de atualização, de forma ágil e com contato 
direto. Use as redes sociais a favor dos seus estudos. 
 
2. CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL 
Os crimes contra a liberdade pessoal estão agrupados na seção I do Capítulo VI da Parte Geral, intitulado 
“Dos crimes contra a liberdade individual”. 
A liberdade individual se refere ao direito de cada ser humano de se autodeterminar, não sendo obrigado a 
fazer nada que não esteja diretamente previsto em lei. Além disso, o professor Damásio de Jesus ensina que 
se tutela, no Capítulo VI da Parte Geral, os direitos e garantias fundamentais, ou seja, aquilo que a 
Constituição prevê como direito de cada ser humano e que possui natureza de cláusula pétrea. 
Os crimes contra a liberdade pessoal, que são uma parte dos crimes contra a liberdade individual, se ligam 
mais àquele conceito de liberdade de ir e vir e de não sermos obrigados a fazer ou deixar de fazer alguma 
Crimes Contra 
a Liberdade 
Pessoal
Crimes Contra 
a 
Inviolabilidad
e de Domicílio
Crimes Contra 
a 
Inviolabilidad
e de 
Correspndência
Crimes Contra 
a 
Inviolabilidad
e dos Segredos
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coisa senão em virtude de lei, o que nos é garantido pelo artigo 5º, incisos II e XV, da Constituição da 
República: 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos 
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à 
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
(...) 
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; 
(...) 
XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos 
da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens; 
 
2.1 CONSTRANGIMENTO ILEGAL 
O crime de constrangimento ilegal está previsto no artigo 146 do Código Penal, que possui o seguinte teor: 
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, 
por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que 
ela não manda: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. 
Aumento de pena 
§ 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem 
mais de três pessoas, ou há emprego de armas. 
§ 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência.§ 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo: 
I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, 
se justificada por iminente perigo de vida; 
II - a coação exercida para impedir suicídio. 
A conduta incriminada é a de a constranger, de praticar coação contra outrem, utilizando-se de violência 
ou grave ameaça ou reduzindo sua capacidade de resistência, a não fazer algo que a lei permite ou a fazer 
o que a lei não obriga. Cuida-se, portanto, de crime contra a liberdade que a Constituição outorga a todos, 
consagrando que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer algo, salvo se determinado por lei. 
Não se exige nenhuma qualidade específica do sujeito ativo. Entretanto, cabe a ressalva de que, se o 
funcionário público for o agente, o crime pode ser o de abuso de autoridade. 
O crime é material, ou seja, só se consuma com o resultado naturalístico, quando a vítima, em virtude do 
constrangimento, faz aquilo a que não era obrigada ou deixa de fazer o que lhe era permitido. 
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O delito é plurissubsistente, razão pela qual é possível a punição do agente pelo conatus. Assim, havendo a 
coação contra vítima, mas não deixando ela de fazer o que lhe é permitido ou não se abstendo de fazer o 
que a lei lhe permite, o crime foi cometido na sua forma tentada. 
O elemento subjetivo é o dolo, consistente na vontade livre e consciente de constranger a vítima a fazer 
algo a que não é obrigada ou a não fazer aquilo que lhe é permitido. Não se pune a modalidade culposa. 
Cuida-se de crime geralmente subsidiário, já que só se configura se outro delito mais grave não tiver sido 
praticado. 
São formas de execução do crime: 
 Violência (vis corporalis). 
 Grave ameaça (vis compulsiva). 
 Outros meios de redução da capacidade de resistência da vítima. 
Vejamos o que explica o professor Cezar Bitencourt a respeito da natureza da grave ameaça no 
crime de constrangimento ilegal: 
"Ao contrário do que ocorre com o crime de ameaça, no constrangimento ilegal não é necessário 
que o mal prometido seja injusto, sendo suficiente que injusta seja a pretensão ou a forma de 
obtê-la. A injustiça do mal não se encerra em si mesma, mas deverá relacionar-se ao fim 
pretendido e à forma de obtê-lo." (Tratado de Direito Penal, Parte Especial 2, 2009). 
 
 Forma majorada 
O parágrafo primeiro do artigo 146 do Código Penal prevê causa de aumento de pena, com a determinação 
de aplicação da pena em dobro, no caso de concurso de mais de três pessoas ou de emprego de armas. 
Praticado o crime com a reunião de, no mínimo, quatro pessoas, o delito é majorado, em razão do maior 
desvalor da conduta, pela circunstância que torna mais fácil a coação à vítima. Computam-se neste número 
sujeitos inimputáveis, como doentes mentais e menores de 18 anos de idade, e indivíduos não identificados 
na investigação. 
No caso do emprego de arma, podemos adotar as mesmas reflexões doutrinárias e jurisprudenciais 
utilizadas quanto à antiga redação da forma majorada de roubo. Quando o Código Penal utiliza apenas o 
termo “arma”, são abarcadas as armas de fogo, as armas brancas e, inclusive, as armas impróprias, isto é, 
aquelas que, não fabricadas para referido uso, podem ser assim utilizadas, como a motosserra e a faca de 
churrasco. 
Não se deve, entretanto, considerar suficiente para a configuração da majorante a arma de brinquedo. Se 
utilizada, ela pode configurar a grave ameaça, elementar do crime, mas não pode ser tomada como arma 
para fins de incidência da causa de aumento de pena. 
 
 Concurso de crimes 
O parágrafo segundo do artigo 146 do Código Penal, por sua vez, prevê que devem ser aplicadas, além das 
penas cominadas em seu preceito secundário, aquelas correspondentes à violência. 
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Isto significa que, se configurado também determinado delito em razão do emprego de violência, as penas 
devem ser aplicadas pelo sistema do cúmulo material. É o caso, por exemplo, de o constrangimento à vítima 
ser executado por meio da prática de lesão corporal grave, o que levará ao concurso material deste delito 
com o de constrangimento ilegal. 
 
 Exclusão do crime 
As hipóteses de exclusão do delito estão previstas no artigo 146, parágrafo terceiro, do Código Penal. A 
doutrina majoritária entende que são hipóteses de causa especial de excludente de ilicitude, enquanto a 
minoritária defende ser excludente da tipicidade. 
São as seguintes: 
 a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, 
se justificada por iminente perigo de vida; 
No caso de necessidade de intervenção médica ou cirúrgica, com perigo à vida do indivíduo, o profissional 
da saúde pode agir sem que isso configure constrangimento ilegal. 
 a coação exercida para impedir suicídio. 
De igual modo, é possível agir para impedir suicídio. Mesmo o suicídio não sendo um ilícito penal, não é uma 
conduta fomentada pelo Estado, que inclusive permite que se constranja o sujeito a não tirar a própria vida, 
sem que isso acarrete sua responsabilidade criminal. 
 
Especialidade: há crimes especiais no artigo 9º do Código Penal Militar, no art. 107 do Estatuto do Idoso, no 
artigo 71 do CDC, no artigo 1º, I, da Lei 9.455/97 e no artigo 28 da Lei 7.170/83. 
 
O STJ já decidiu que o constrangimento ilegal é crime instantâneo, ou seja, que se consuma em 
um determinado momento do tempo, sem que essa fase se protraia no tempo: 
“(...) 2. O crime de sequestro/cárcere privado, tipificado no art.148 Código Penal, exige para a 
sua configuração a restrição da liberdade de ir e vir da vítima, sendo, assim, um crime 
permanente. Por outro lado, o delito de constrangimento ilegal, descrito no art. 146 do 
mesmo códex, possui a natureza de crime instantâneo. (...)” (STJ, HC 395978/SC, Rel. Min. 
Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, DJe 30/04/2018). 
Referida Corte também já consignou que o constrangimento ilegal possui natureza subsidiária, só se 
configurando se não for elemento de outro crime (complexo): 
“2. O bem juridicamente tutelado pelo tipo descrito no art. 146 do Código Penal é a liberdade 
individual da pessoa, tanto física quanto psíquica. O crime em tela (art. 146, CP) possui natureza 
subsidiária e somente será considerado se o constrangimento não for elemento típico de outra 
infração penal. (...)” (STJ, AgRg no AREsp 523477/GO, Rel. Min. Gurgel de Faria, Quinta Turma, DJe 
28/10/2015). 
Sobre o elemento subjetivo do tipo, o Superior Tribunal de Justiça já deixou claro que, se o dolo for outro 
que não o de levar a vítima a fazer alguma coisa que a lei não lhe obriga ou de constrangê-la a não fazer o 
que é permitido pela lei, o crime não será o do artigo 146 do CP: 
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“PENAL. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. ELEMENTOS DO TIPO PENAL. ATO LIBIDINOSO. (...) 2. O bem 
juridicamente tutelado pelo tipo descrito no art. 146 do Código Penal é a liberdade individual da 
pessoa, tanto física quanto psíquica. Se o constrangimento causado à vítima visa à satisfação de 
intenção outra, específica, que não a de "não fazer o que a lei permite ou a fazer o que ela não manda", 
a hipótese é de configuração desse delito diverso (...).” (STJ, RESp 1481546/GO, Rel. Min. Gurgel de 
Faria, Quinta Turma, DJe 05/12/2014). 
É interessante, ainda, a distinção feita em julgado do Supremo Tribunal Federal, em que se revela que, não 
havendo animus do agente referente à lascívia, o crime que se configura não é o contra a dignidade sexual, 
mas o constrangimento ilegal em concurso com outro delito: 
“(...) II - Estupro ou atentado violento ao pudor praticados com violência real: delitos complexos(C.Penal, art. 101). 1.Dispõe o §2º do art. 147 do C.Penal, que além das penas cominadas ao 
constrangimento ilegal, se este for praticado com violência, devem ser aplicadas as penas 
correspondentes (vias de fato, lesões corporais ou morte). 2.O fato constitutivo da violência real, pois, 
não se inclui na tipificação do constrangimento ilegal (C.Penal, art. 146, caput), como aliás se infere da 
objetividade jurídica deste; mas se inclui ela, ao contrário, no de estupro ou atentado violento ao pudor 
mediante violência real: quando praticados com violência real, portanto, não se trata de mero 
constrangimento ilegal com finalidade específica, mas de delitos efetivamente complexos. 3.Daí que, 
comprovada a ausência de finalidade específica de conjunção carnal ou ato libidinoso diverso, 
restam, no caso de violência real, duas infrações penais em concurso material: (a) constrangimento 
ilegal e homicídio; (b) constrangimento ilegal e lesões corporais; ou ainda, (c) constrangimento ilegal 
e vias de fato; assim, só a concorrência do especial fim de agir é que os converte em crime diverso 
contra a liberdade sexual. (...)” (STF, HC 86058/RJ, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, 
Julgamento: 25/10/2005). 
 
2.2 AMEAÇA 
O Código Penal tipifica a conduta da ameaça em seu artigo 147: 
Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-
lhe mal injusto e grave: 
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. 
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação. 
A conduta incriminada é a de fazer uma promessa a outra pessoa de lhe causar algo ruim, um mal. O mal 
deve ser injusto, ou seja, contrário ao Direito, além de ser grave, isto é, possuir determinada relevância. 
Não constitui o crime de ameaça, por exemplo, dizer a alguém que vai propor uma ação de reparação por 
danos morais, por não estar presente o elemento de injustiça, necessário para a configuração da infração 
penal. 
O dano prometido pode ser físico, moral ou econômico, mas deve ser grave. Além disso, deve ser possível. 
Por isso, em circunstâncias normais, não configura o crime a promessa de lhe jogar uma bexiga de água. 
Também não configura, por ser algo que o agente não pode realizar, a promessa de que haverá estiagem e, 
com a seca, todo o gado da vítima morrerá de sede. 
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A gravidade da ameaça deve ser verificada em cada caso, segundo a condição da vítima. Ameaçar um grande 
lutador de MMA a “sair no braço” com ele pode não lhe incutir nenhum medo, enquanto a promessa de 
chutar uma bola de futebol na direção da vizinha, muito idosa e enferma, quando ela passar no meio do 
jogo, mostra-se suficiente para a prática do delito. 
As formas de prática da conduta de intimidação são: mediante palavras (na presença da vítima ou por 
telefone, por exemplo), por escrito (um bilhete ou uma mensagem de “Whatsapp”), por gestos (seja 
apontando uma faca ou fazendo o gesto de cortar o pescoço) ou, o que amplia as formas de cometimento 
do crime, por qualquer outro meio simbólico (por exemplo, caso em que o agente corta a cabeça de todas 
as bonecas da filha da vítima, uma juíza, por tê-lo condenado criminalmente). Em virtude da amplitude das 
fórmulas, alguns doutrinadores entendem que o crime é de forma livre. 
A ameaça pode ser explícita (amanhã lhe darei uma surra) ou implícita (depois amanhece com a boca cheia 
de formigas e não sabe por que); direta (quando se volta à própria vítima intimidada) ou indireta (quando 
se volta, por exemplo, contra um familiar da vítima da promessa do mal injusto e grave), podendo ser, ainda, 
incondicional (eu te matarei um dia desses) ou condicional (se você me falar isso de novo, vão lhe faltar 
alguns dentes). 
É importante diferenciar a ameaça condicional do constrangimento ilegal. Na 
ameaça, o elemento subjetivo do agente é anunciar um mal injusto e grave, 
enquanto, no constrangimento ilegal, a intimidação é apenas um meio para aquilo 
que o agente quer, que é uma conduta (comissiva ou omissiva) da vítima. 
O crime é comum, pois não exige nenhuma qualidade especial do sujeito ativo. 
Entretanto, tal como no delito de constrangimento ilegal, a prática do delito por 
funcionário público pode configurar abuso de autoridade, se houver relação com a função exercida. 
A ameaça deve se direcionar a alguém com capacidade de compreensão do mal injusto e grave proferido 
pelo agente. Ademais, deve ser uma pessoa determinada, que possa ser intimidada pelo sujeito ativo. 
O crime é classificado como formal, porque não depende do resultado naturalístico. Ou seja, a efetiva prática 
do mal injusto e grave contra a vítima não é necessária para a consumação do delito. 
Possui natureza subsidiária, só se responsabilizando o agente pelo crime de ameaça se a intimidação não 
integrar crime mais grave. 
O elemento subjetivo é o dolo, não havendo previsão da modalidade culposa. Parte da doutrina entende 
ser o crime plurissubsistente na forma escrita, razão pela qual se admitiria a tentativa. Se praticado 
verbalmente, não é possível o conatus. 
A ação penal é pública condicionada à representação do ofendido. 
Apesar de não ter adentrado no tema, por não ser possível a analise fático-probatória em 
habeas corpus, o STF, de certo modo, admitiu que o fato de a promessa de causar mal injusto 
e grave ser feita no calor de uma discussão pode ensejar sua atipicidade: 
“EMENTA: HABEAS CORPUS. CRIME DE AMEAÇA. AUSÊNCIA DE REPRESENTAÇÃO. 
FORMALIDADE SUPRIDA PELA MANIFESTAÇÃO DE VONTADE DA VÍTIMA. ATIPICIDADE. 
REEXAME DE FATOS E PROVAS. COMPARECIMENTO À AUDIÊNCIA PRELIMINAR SEM 
ADVOGADO. NULIDADE SANADA. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO. 1. A representação na ação penal pública 
prescinde de formalidade, bastando a manifestação inequívoca da vítima no sentido de processar o 
ofensor. 2. O reconhecimento da ausência de justa causa para trancar a ação penal somente é possível 
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quando patentes a atipicidade da conduta, a extinção da punibilidade e a ausência de autoria ou 
materialidade do crime. O reconhecimento, no caso, da ausência de atipicidade, fundada em que a 
ameaça foi proferida no calor da discussão, depende do reexame do conjunto fático-probatório. (...)” 
(STF, HC 92870/RJ, Rel. Min. Eros Grau, Segunda Turma, Julgamento: 13/11/2007). 
Sobre o crime de ameaça de consumar independente de resultado naturalístico, o STJ já afirmou que: 
“(...) 2. Para a caracterização do delito previsto no art. 147 do Código Penal, que possui 
natureza jurídica de delito formal, é suficiente a ocorrência do temor na vítima de que a 
ameaça proferida em seu desfavor venha a se concretizar. (...)” (STJ, AgRg no AREsp 
1247201/DF, Rel. Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 01/06/2018). 
Já decidiu, ainda, o STJ, que não se pode aplicar o princípio da insignificância ao crime de 
ameaça, por ele sempre envolver periculosidade da conduta: 
“(...) 6. Inaplicável o princípio bagatelar ao delito de ameaça, porquanto além de a aplicação de tal 
princípio se restringir a crimes patrimoniais, a natureza de tal delito se opõe frontalmente a um dos 
vetores imprescindíveis à sua incidência, qual seja, nenhuma periculosidade social da ação. (...)” (STJ, 
HC 357845/SC, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Sexta Turma, DJe 26/08/2016). 
Ademais, o STJ já admitiu, se praticado o crime de ameaça, a substituição da pena privativa de liberdade por 
restritivas de direitos e por pena de multa: 
“Art. 44 do Cód. Penal (aplicação). Pena de prisão (limitação aos casos de reconhecida necessidade). 
Lesão corporal leve e ameaça (caso). Substituição da pena (possibilidade). 1. Tratando-se, como se 
trata, de lesão leve e de simples ameaça, a ofensa resultante daquela e a decorrente desta não 
dizem respeito à violência e à grave ameaça a que se refereo inciso I do art. 44 do Cód. Penal. 2. 
Violência e grave ameaça são resultantes de atos mais graves do que os decorrentes dos tipos legais 
dos arts. 129 e 147. Na lesão leve (ou simples), até poderá haver alguma violência, mas não a violência 
impeditiva da substituição de uma pena por outra; do mesmo modo, relativamente à ameaça, até 
porque, sem ameaça, nem sequer existiria o tipo legal. Assim, lesão corporal leve (ou simples) e ameaça 
admitem, sempre e sempre, sejam substituídas as penas. 3. A melhor das políticas recomenda, quanto 
aos crimes da espécie aqui noticiada, que se lhes dê tratamento por penas diferentes – substituição 
das privativas de liberdade por restritivas de direitos. (...)” (STJ, HC 87644/RS, Rel. Min. Nilson Naves, 
Sexta Turma, DJe 30/06/2008). 
Referido entendimento parece ter sido superado, apesar de não haver pronunciamento tão específico 
quanto o do precedente acima. É o que se depreende do julgado a seguir: 
“(...) 1. A Corte de origem manteve a condenação do réu, concluindo que o agravante incorreu na 
prática do delito de ameaça. Entender de forma diversa demandaria o reexame das provas, o que é 
vedado em recurso especial a teor do verbete n. 7 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça - STJ. 2. 
Segundo jurisprudência pacífica desta Corte de Justiça, mostra-se incabível a substituição da pena 
privativa de liberdade por restritiva de direitos nos casos de crime cometido mediante violência 
ou grave ameaça à pessoa, a teor do disposto no art. 44, I, do Código Penal (AgRg no REsp 
1.463.035/MS, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, QUINTA TURMA, DJe 3/12/2014).(...)” (STJ, AgRg no 
AREsp 933220, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma, DJe 17/10/2016). 
 
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2.3 SEQUESTRO E CÁRCERE PRIVADO 
O crime de sequestro e cárcere privado está previsto no artigo 148 do Código Penal: 
Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante seqüestro ou cárcere privado: 
Pena - reclusão, de um a três anos. 
§ 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos: 
I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60 
(sessenta) anos; 
II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital; 
III - se a privação da liberdade dura mais de quinze dias. 
IV – se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos; 
V – se o crime é praticado com fins libidinosos. 
§ 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico 
ou moral: 
Pena - reclusão, de dois a oito anos. 
O núcleo do tipo é o verbo privar, que significa destituir ou tolher. É a conduta de impedir de liberdade de 
locomoção de alguém. A conduta pode ser realizada mediante sequestro ou cárcere privado. O bem jurídico 
tutelado, deste modo, é a liberdade de ir e vir. 
Sequestro, segundo a doutrina, é a privação de liberdade, sem necessidade de haver confinamento. É o caso 
de a vítima ser levada a uma fazenda isolada, sem que tenha condições de sair dali. O cárcere privado, por 
sua vez, seria espécie do gênero sequestro, implicando em restrição da liberdade dela em um local fechado, 
como um cômodo de uma casa. 
A doutrina ainda aponta ser possível a configuração do delito em caso de detenção da vítima, em que ela é 
levada para determinado local para se privá-la de sua liberdade, ou de retenção, em que ela é impedida de 
sair de determinado lugar onde ela ingressou livremente. 
O consentimento do ofendido afasta a prática do crime, mesmo porque a locomoção é direito disponível. 
Entretanto, pode ocorrer o crime se, após o consentimento dado, a privação de liberdade dura por tempo 
superior ao da concordância da vítima. Também há crime se, durante a privação, a vítima retira sua 
aquiescência e o agente se nega a liberá-la. 
A conduta é dolosa, não havendo previsão para punição a título de culpa. Pode se dar tanto por ação quanto 
por omissão, como no caso do diretor do hospital psiquiátrico que não libera o paciente que já teve alta, 
privando-o de sua locomoção sem razões médicas. 
O crime é comum, não exigindo nenhuma condição específica do sujeito ativo. Entretanto, no caso do 
funcionário público, pode configurar abuso de autoridade a sua conduta de privar alguém da liberdade, caso 
haja relação com as funções públicas por ele exercidas. 
Classifica-se como crime permanente, sendo que a consumação se prolonga no tempo enquanto o agente 
mantém a vítima em sequestro ou cárcere privado. A liberação da vítima não impede a consumação do 
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crime, que já se deu com a restrição à liberdade dela. Por ser crime permanente, a prisão em flagrante é 
possível a todo o momento em que a vítima estiver sequestrada ou mantida em cárcere privado. 
Parece prevalecer, na doutrina, que não importa o tempo de restrição de liberdade. Privada a vítima de sua 
liberdade, seja por sequestro ou por cárcere privado, o crime já se consumou. Outra corrente, entretanto, 
defende que deve haver um período razoável de sequestro ou cárcere privado para a consumação do delito. 
O crime, na sua forma comissiva, é plurissubsistente, possibilitando a punição da tentativa. A modalidade é 
a tentada quando o agente tenta levar a vítima até o carro, à força, quando um terceiro intervém e a ajuda 
a fugir, impedindo sua efetiva privação da liberdade. 
Em interessante julgado, o STJ entendeu que o crime de sequestro e cárcere privado se configura com a 
restrição da liberdade da vítima, não sendo imprescindível que a privação seja total. Vale a sua leitura: 
“1. A conduta típica do crime do art. 148 do CP consiste na restrição (parcial ou total) da liberdade 
de locomoção de alguém. Os meios para isso são o sequestro (retira a vítima de sua esfera de 
segurança para restringir sua liberdade) e o cárcere privado (colocação em confinamento). O 
elemento comum é a restrição à liberdade da vítima, bastando para a configuração do crime em 
questão que a vítima não tenha a faculdade de dirigir sua liberdade, sendo desnecessária a privação 
total de sua liberdade, ou seja, que fique totalmente impossibilitada de se retirar do local em que 
foi confinada. 2. No presente caso, ficou comprovado que a vítima, apesar de possuir a chave do portão 
de sua residência, estava impedida de sair de casa em razão da violência física e psicológica exercida 
pelo seu marido, ora réu, uma vez que, conforme constatado pelos depoimentos presentes no acórdão 
recorrido, tinha um temor absoluto e insuperável do que poderia acontecer se desobedecesse às ordens 
do acusado. 3. O dolo do réu encontra-se configurado na vontade de privar a vítima de sua liberdade 
de se locomover, empregando violência psicológica e física para impedi-la de sair de sua residência, 
anulando sua a capacidade de autodeterminação, mesmo esta tendo a chave do local. Assim, o 
constrangimento, exercido mediante violência e ameaças, tinha como objetivo privar sua liberdade de 
locomoção e de autodeterminação, o que configura o delito previsto no art. 148 do CP.” (REsp 
1622510/MS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, DJe 09/06/2017). 
Não se configura o crime autônomo de sequestro se a privação de liberdade foi praticada com a finalidade 
da prática do crime de roubo ou para seu exaurimento, conforme já decidiu o STJ: 
“(...) 2. Praticada a privação da liberdade com o fim de assegurar a concretização ou o exaurimento 
do delito de roubo, e não visando deliberadamente privar a vítima de sua liberdade, não há falar 
em sequestro, restando configurada, nesses casos, a majorante do inciso V do § 2º do art. 157 do CP: 
se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. Precedentes. 3. Habeas corpus 
não conhecido. Concedida a ordem de ofício para, reconhecida a atipicidadematerial da conduta, 
absolver o paciente da imputação relativa ao delito de sequestro, prevista no art. 148 do CP. (...)” (STJ, 
HC 35536/MG, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Sexta Turma, DJe 16/12/2014). 
 
 Formas qualificadas do parágrafo primeiro 
O artigo 148 do Código Penal, em seu parágrafo primeiro, prevê algumas modalidades qualificadas do crime 
de sequestro e cárcere privado. Nestes casos, a pena passa a ser de reclusão, de dois a cinco anos: 
 
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I. se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60 
(sessenta) anos 
Caso o crime tenha como vítima ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente, incidirá a 
forma qualificada. O maior desvalor reside na relação de parentesco ou familiar entre agente de vítima, o 
que implica na maior reprovação de ameaça praticada. O companheiro foi adicionado ao rol pela Lei 11.106, 
de 28 de março de 2005. Antes da sua inclusão, prevalecia não ser possível a analogia in malam partem, 
devido à taxatividade exigida pela legalidade. 
Também qualifica o crime o fato de ter sido cometido contra maior de 60 anos. A hipótese foi incluída pelo 
Estatuto do Idoso. A fragilidade da vítima, em decorrência da idade avançada, é o que torna a conduta mais 
reprovável. 
 
II. se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital 
Há a qualificadora se o delito é praticado por meio de internação da vítima em casa de saúde ou em hospital, 
como no caso de uma instituição psiquiátrica. Aqui, temos uma hipótese de mais difícil descoberta, por 
envolver uma fraude que dá aparência de legalidade à ação do agente. 
 
III. se a privação da liberdade dura mais de quinze dias 
O tempo de privação de liberdade, para o entendimento majoritário, não é relevante para a configuração 
do delito. Entretanto, caso dure por um período maior, no caso de mais de quinze dias, a infração penal 
passa a ser qualificada. Como consiste em prazo penal, a contagem deve ser feita nos moldes do artigo 10, 
com a inclusão o dia do começo na contagem. 
 
IV. se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos 
Qualifica o crime o fato de a vítima ser menor de 18 anos, ou seja, criança ou adolescente. A modalidade foi 
acrescentada ao Código Penal pela Lei 11.106/2005, sendo que seu desvalor maior reside na idade da vítima, 
que ainda se encontra em formação da personalidade. Se a vítima completar 18 anos no cárcere, a 
qualificadora já se havia configurado, devendo o agente responder pelo crime qualificado. 
 
V. se o crime é praticado com fins libidinosos. 
Também inserida pela Lei 11.106/2005, cuida-se de hipótese de qualificadora que busca punir o sequestro 
ou o cárcere privado praticado com a finalidade libidinosa. 
Anteriormente, a conduta era parcialmente tipificada pelo crime de rapto violento ou 
mediante fraude, previsto no artigo 219 do Código Penal e revogado pela mesma lei que 
inseriu a modalidade qualificada em estudo. O crime do artigo 219 punia a privação de 
liberdade da mulher honesta, para fim libidinoso, praticado mediante violência, grave 
ameaça ou fraude. Havia uma indevida restrição do sujeito passivo, deixando de fora os 
homens, assim como as mulheres que não fossem consideradas “honestas”. Na época, de 
conservadorismo dos costumes sexuais, eram consideradas não honestas as prostitutas, as adúlteras e as 
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promíscuas, por exemplo, o que demonstra uma situação não tolerada pela atual ordem constitucional e 
pela consagração da liberdade sexual. 
Havia, ainda, o chamado rapto consensual, feito em relação à mulher maior de quatorze anos e menor de 
21 anos de idade, que era previsto no artigo 220 do Código Penal. Neste caso, era defensável que, com a 
maioridade civil atingida aos 18 anos de idade, não seria possível falar de rapto consensual de mulher maior 
de 18 e menor de 21 anos de idade, em virtude da plena liberdade sexual de uma mulher, capaz, que já 
atingiu a maioridade. Poderia se defender que ainda era possível a ocorrência do delito em relação à maior 
de 14 anos de idade e menor de 18. 
De todo modo, quanto à conduta cuja prática se compatibiliza com visão da liberdade sexual da mulher, ou 
seja, quando violado o seu consentimento, não houve abolitio criminis em relação às condutas previstas nos 
revogados artigos 219 e 220 do Código Penal, já que totalmente inseridas no tipo do atual artigo 148 do 
Código Penal. Há, neste caso, continuidade normativo-típica. 
Pode haver concurso de crimes de sequestro e cárcere privado e de um delito contra 
a dignidade sexual. Os contextos fáticos devem ser distintos, além de que o agente 
deve ter apresentado desígnios autônomos. 
Se por exemplo, para a prática do estupro, o agente mantém a vítima no seu quarto, 
à força, pelo momento necessário para o ato sexual, deverá responder apenas pelo 
crime contra a dignidade sexual. Se, entretanto, ele a deixa presa e, depois de um 
tempo, resolve satisfazer sua lascívia quando lhe surge a vontade, havendo uma diferença temporal entre 
os crimes, deverá responder pelos crimes do artigo 148, § 1º, do CP e pelo crime de estupro, em concurso 
material. 
 
 Forma qualificada pelo resultado (§ 2º) 
O artigo 148, em seu parágrafo segundo, prevê mais uma modalidade qualificada, neste caso pelo resultado. 
Incide a qualificadora se, em razão de maus-tratos ou da natureza da detenção, resulta à vítima grave 
sofrimento físico ou moral. A pena passa a ser de reclusão, de dois a oito anos. 
Maus tratos consistem no emprego de tratamento desumano à vítima, acarretando-lhe sofrimento além 
daquele inerente à privação de sua liberdade. Pode se dar por meio da privação de água ou comida ou 
mediante a sua humilhação, por exemplo. 
O sofrimento também pode decorrer da natureza da detenção, que pode ser em local muito apertado, sem 
espaço para movimentação, ou muito sujo, por exemplo. Também advém do uso de algemas nas mãos e 
nos pés, o que causa grave sofrimento físico e mental. 
 
 Especialidade 
Há tipos específicos no artigo 225 do Código Penal Militar e no artigo 20 da Lei 7.710/83. Vale lembrar, 
ainda, que se a privação a liberdade do agente tiver alguma finalidade prevista na lei nº 9.455/97, como a 
obtenção de alguma informação, configura-se o crime de tortura. 
 
 Novatio legis 
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Vale recordar o teor da Súmula 711 do STF, aplicável ao crime em estudo: 
A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é 
anterior à cessação da continuidade ou da permanência. 
 
2.4 REDUÇÃO À CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO 
O crime de redução à condição análoga à de escravo está previsto no artigo 149 do Código Penal. É 
denominado por parte da doutrina de plágio (não confundir com o crime de violação de direito autoral) ou 
plágio escravo, também chamado de plagium. O termo advém do Direito Romano, em que se punia a 
escravização indevida, ou seja, aquela feita fora das regras que permitiam a escravidão. 
O referido dispositivo possui o seguinte conteúdo: 
Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados 
ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por 
qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto 
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência. 
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem: 
I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local 
de trabalho; 
II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apoderade documentos ou objetos pessoais 
do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho. 
Aumento de pena 
§ 2o A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido: 
I – contra criança ou adolescente; 
II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem 
Pune-se, aqui, a violação do direito à liberdade, sendo punida a escravização ou a servidão de qualquer 
pessoa, o que se veda na ordem internacional, inclusive na Declaração Universal de Direitos do Homem. 
A conduta punível é a redução de alguém à condição análoga de escravo, que é a situação em que o ser 
humano tem sua personalidade desconsiderada para ser tratado como coisa. Pode ser praticado das 
seguintes formas (crime de forma vinculada): 
 
 submissão da vítima a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva: trabalho forçado é aquele em 
que se obriga a vítima a alguma atividade laborativa, mediante emprego de violência, grave ameaça 
ou fraude. A vítima não possui liberdade de escolha quanto a não executar ou não interromper a 
atividade. Jornada exaustiva é aquela que chega aos limites físicos do indivíduo, correspondendo a 
uma carga horária acima do suportável pelo ser humano, fora dos parâmetros da saúde do trabalho. 
 
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 sujeição da vítima a condições degradantes de trabalho: é a condição que afeta a dignidade do 
trabalho, que é desumana. É o caso do indivíduo que trabalha em local sujo, sem o mínimo material 
de proteção, causando lesões em seu corpo. 
 
 restrição, por qualquer meio, da locomoção da vítima em razão de dívida por ela contraída com o 
empregador ou preposto: a restrição de locomoção da vítima é empregada como meio para a 
prestação da atividade, privando-a de seu direito de ir e vir. A justificativa utilizada é a existência de 
dívidas com o seu empregador ou preposto. É comum isso ocorrer quando a propriedade rural possui 
uma mercearia, de propriedade dos empregadores, na qual o trabalhador pode comprar para 
pagamento a prazo, mas cujos valores são tão elevados que a dívida dificilmente pode ser quitada. 
Então, o trabalhador é advertido de que não pode deixar o local enquanto estiver em débitos, o que 
o sujeita à condição análoga à de escravidão. 
 
 Formas equiparadas 
O artigo 149, parágrafo primeiro, prevê as formas equiparadas ao caput: 
 
 cerceamento do uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-
lo no local de trabalho: neste caso, o empregador ou seu preposto não permitem que o trabalhador 
use determinado meio de transporte, com a finalidade de impedir que ele deixe o local de trabalho. 
Configura-se se o local de trabalho é ermo e só os gerentes e supervisores podem se utilizar dos 
veículos do empregador para se locomoverem ao centro urbano mais próximo, por exemplo. 
 
 Manutenção de vigilância ostensiva no local de trabalho ou apropriação de documentos ou objetos 
pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho: a vigilância ostensiva é aquela 
aparente, feita como se aprisionando os trabalhadores no local, sendo exemplo o caso de fábrica 
cercada de capangas armados com fuzis para que os trabalhadores não saiam de lá. A retenção de 
documentos e objetos pessoais do trabalhador é forma mais sutil de mantê-lo no local de trabalho, 
que pode ser igualmente eficaz, principalmente em se tratando de simples trabalhadores rurais que 
pensam não lhes ser permitido viajar pela rodovia, fugindo do local, sem prova de sua identidade. 
 
O crime é classificado como comum, por não exigir nenhuma qualidade específica do sujeito ativo para sua 
configuração. Sujeito passivo também pode ser qualquer pessoa. É material, pois se consuma com a efetiva 
redução do ofendido à condição análoga a de escravo. 
Cuida-se de crime, em regra, comissivo, podendo se configurar na forma omissiva se o empregador 
simplesmente, por exemplo, deixa de oferecer transporte para trabalhadores literalmente ilhados em uma 
gleba de terras no meio rural, cercada por rios. 
É permanente, razão pela qual é possível a prisão em flagrante enquanto houver trabalhador sendo 
reduzido à condição servil. Sua consumação se prolonga no tempo, durando enquanto o agente mantiver a 
vítima em tal condição. 
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Considera-se plurissubsistente, sendo possível sua punição na modalidade tentada. É de forma vinculada, já 
que são previstas formas, no caput e no parágrafo primeiro do artigo 149, pelas quais é possível a prática 
do crime. 
O elemento subjetivo é o dolo, consistente na vontade livre e consciente de reduzir à vítima à condição 
análoga à de escravo. Nas formas equiparadas há a exigência de elemento subjetivo especial, consistente 
na finalidade de reter o ofendido no local de trabalho. 
Em tese, a competência seria da Justiça Federal quando atingida a organização do trabalho como um todo, 
sendo da Justiça Estadual nos demais casos. Entretanto, o Supremo Tribunal Federal tem considerado que, 
no caso do artigo 149 do Código Penal, há também frustração de direitos assegurados pela legislação 
trabalhista, de modo a atingir a própria organização do trabalho. Deste modo, a competência para seu 
julgamento é da Justiça Federal: 
“Ementa Recurso extraordinário. Constitucional. Penal. Processual Penal. Competência. Redução a 
condição análoga à de escravo. Conduta tipificada no art. 149 do Código Penal. Crime contra a 
organização do trabalho. Competência da Justiça Federal. Artigo 109, inciso VI, da Constituição 
Federal. Conhecimento e provimento do recurso. 1. O bem jurídico objeto de tutela pelo art. 149 do 
Código Penal vai além da liberdade individual, já que a prática da conduta em questão acaba por 
vilipendiar outros bens jurídicos protegidos constitucionalmente como a dignidade da pessoa 
humana, os direitos trabalhistas e previdenciários, indistintamente considerados. 2. A referida 
conduta acaba por frustrar os direitos assegurados pela lei trabalhista, atingindo, sobremodo, a 
organização do trabalho, que visa exatamente a consubstanciar o sistema social trazido pela 
Constituição Federal em seus arts. 7º e 8º, em conjunto com os postulados do art. 5º, cujo escopo, 
evidentemente, é proteger o trabalhador em todos os sentidos, evitando a usurpação de sua força de 
trabalho de forma vil. 3. É dever do Estado (lato sensu) proteger a atividade laboral do trabalhador por 
meio de sua organização social e trabalhista, bem como zelar pelo respeito à dignidade da pessoa 
humana (CF, art. 1º, inciso III). 4. A conjugação harmoniosa dessas circunstâncias se mostra hábil para 
atrair para a competência da Justiça Federal (CF, art. 109, inciso VI) o processamento e o julgamento 
do feito. 5. Recurso extraordinário do qual se conhece e ao qual se dá provimento.” (STF, RE 
459510/MT, 26/11/2015) 
No mesmo sentido, recente julgado do STJ: 
O Pleno do Supremo Tribunal Federal - STF, com apenas um voto vencido, ao julgar o Recurso 
Extraordinário 459.510, em 26 de novembro de 2015, resolveu que é da Justiça Federal a competência 
para julgar o crime contra a organização do trabalho previsto no art. 149 do Código Penal - CP. (STJ, 
AgRg nos EDcl no RHC 125488/RJ, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma, DJe 29/06/2020). 
Quanto aos motivos do crime, já são inerentes ao tipo a exploração de mão de obra barata, o desejo de 
lucro fácil e a cobiça, razão pela qual não podem tais motivos serem considerados como circunstâncias 
judiciais aptas a elevar a pena-base, na primeira fase da dosimetria. Assim decidiu o STJ: 
“(...) 3. O mesmo se deu no que se refere aos motivos do crime, tendo em vista que a exploração 
da mão de obra barata, a cobiça, o lucro fácil e a violação dos direitos trabalhistas configuram 
elementos inerentes ao delito de redução à condição análogaà de escravo, e, assim, não se revelam 
fundamentos idôneos para justificar o aumento na primeira fase da dosimetria da pena. (...)” (STJ, 
AgRg no HC 406479/RO, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, Sexta Turma, DJe 26/03/2018). 
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A restrição à liberdade do trabalhador é uma das formas de se cometer o crime, não sendo 
imprescindível para a sua configuração, conforme o seguinte julgado: 
“(...) 2. O crime de redução a condição análoga à de escravo pode ocorrer independentemente 
da restrição à liberdade de locomoção do trabalhador, uma vez que esta é apenas uma das 
formas de cometimento do delito, mas não é a única. O referido tipo penal prevê outras 
condutas que podem ofender o bem juridicamente tutelado, isto é, a liberdade de o indivíduo ir, vir e 
se autodeterminar, dentre elas submeter o sujeito passivo do delito a condições degradantes de 
trabalho. Precedentes do STJ e STF. (...)” (STJ, REsp 1223781/MA, Rel. Min. Reynaldo Soares da 
Fonseca, Quinta Turma, DJe 29/08/2016). 
Ademais, o STJ já apontou se tratar de crime de conteúdo variado ou misto alternativo, além de classificá-
lo como plurissubsistente: 
“(...) Por certo, no dispositivo legal alhures mencionado são previstas condutas alternativas que, 
isoladamente, subsumem-se ao crime de redução a condição análoga à de escravo. Trata-se, em 
verdade, de crime plurissubsistente, tendo sido atribuída ao réu o verbo 'sujeitar alguém a condições 
degradantes de trabalho'. (...)” (STJ, RHC 64073/PI, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Quinta Turma, DJe 
03/08/2016). 
 
Não confundam o delito aqui tratado com o crime de frustração de direito assegurado por lei trabalhista, já 
que há algumas condutas bastante parecidas com as de redução à condição análoga a de escravo que, na 
verdade, configuram aquele outro crime. Alguns concursos exploram essa semelhança, cobrando o 
conhecimento de qual conduta configura determinado delito. 
Vejamos um quadro com os tipos penais, com destaques nas semelhanças: 
 
Redução à condição análoga à de escravo Frustração de direito assegurado por lei 
trabalhista 
Reduzir alguém a condição análoga à de 
escravo, quer submetendo-o a trabalhos 
forçados ou a jornada exaustiva, quer 
sujeitando-o a condições degradantes de 
trabalho, quer restringindo, por qualquer 
meio, sua locomoção em razão de dívida 
contraída com o empregador ou preposto: 
 
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, 
além da pena correspondente à violência. 
Frustrar, mediante fraude ou violência, direito 
assegurado pela legislação do trabalho: 
 
Pena - detenção de um ano a dois anos, e multa, 
além da pena correspondente à violência. 
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I – cerceia o uso de qualquer meio de 
transporte por parte do trabalhador, com o fim 
de retê-lo no local de trabalho; 
II – mantém vigilância ostensiva no local de 
trabalho ou se apodera de documentos ou 
objetos pessoais do trabalhador, com o fim de 
retê-lo no local de trabalho. 
I - obriga ou coage alguém a usar mercadorias 
de determinado estabelecimento, para 
impossibilitar o desligamento do serviço em 
virtude de dívida; 
II - impede alguém de se desligar de serviços de 
qualquer natureza, mediante coação ou por 
meio da retenção de seus documentos pessoais 
ou contratuais. 
 
2.5 TRÁFICO DE PESSOAS 
O crime de tráfico de pessoas está previsto no artigo 149-A do Código Penal, que prevê o seguinte: 
Art. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, 
mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de: 
I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo; 
II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo; 
III - submetê-la a qualquer tipo de servidão; 
IV - adoção ilegal; ou 
V - exploração sexual. 
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. 
Causas de aumento e de redução de pena. 
 § 1o A pena é aumentada de um terço até a metade se: 
I - o crime for cometido por funcionário público no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-
las; 
II - o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou com deficiência; 
III - o agente se prevalecer de relações de parentesco, domésticas, de coabitação, de hospitalidade, de 
dependência econômica, de autoridade ou de superioridade hierárquica inerente ao exercício de 
emprego, cargo ou função; ou 
IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território nacional. 
§ 2o A pena é reduzida de um a dois terços se o agente for primário e não integrar organização 
criminosa. 
Referido delito foi inserido no Código Penal pela Lei n. 13.344, de 6 de outubro de 2016, que trata sobre a 
prevenção e a repressão ao tráfico interno e internacional de pessoas e sobre medidas de atenção às vítimas. 
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A inovação legislativa vai ao encontro do compromisso internacional firmado pela 
República Federativa do Brasil, ao assinar o Protocolo Adicional à Convenção das Nações 
Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e 
Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças. Referido tratado 
internacional foi internalizado por meio do Decreto n. 5.017, de 12 de março de 2004. 
Já havia previsão de crime de tráfico de pessoas nos artigos 231 e 231-A do Código Penal, 
revogados pela mesma lei acima mencionada. Entretanto, referidos tipos penais possuíam como exigência 
a finalidade específica de exploração sexual, não sendo suficientes para abarcar todo o tráfico de pessoas. 
Deste modo, há continuidade normativo-típica, mas esta é parcial. Isto porque, para a configuração dos 
crimes previstos anteriormente no Código Penal, bastava que o agente, por exemplo, promovesse ou 
facilitasse a entrada, no território nacional, de alguém que nele viesse a exercer a prostituição ou outra 
forma de exploração sexual, ou a saída de alguém que fosse exercê-la no estrangeiro. Também havia crime 
se o agente promovesse ou facilitasse o deslocamento de alguém dentro do território nacional para o 
exercício da prostituição ou outra forma de exploração sexual. 
Atualmente, referidas condutas só serão consideradas criminosas se o agente agir mediante grave ameaça, 
violência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de exploração sexual. Deste modo, há exigência do 
uso de violência física, moral, abuso ou engodo em relação à vítima. 
Cuida-se de tipo penal misto ou de conteúdo variado, sendo puníveis as condutas de agenciar, aliciar, 
recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher o ofendido. Como já visto, no estudo do conflito 
aparente de normas, a alternatividade enseja que, se praticados mais de uma das ações nucleares no mesmo 
contexto, haverá crime único. 
Para a configuração do delito, como já dito, exige-se que o agente empregue violência (vis absoluta), grave 
ameaça (vis relativa), coação (constrangimento), fraude (engodo, ardil) ou abuso (desvio no exercício de 
algum direito). O abuso pode ocorrer por parte de um agente público, que possui alguma autoridade, ou 
mesmo dos genitores, em virtude do poder familiar. 
O elemento subjetivo é o dolo. Existe, ainda, o elemento subjetivo especial do tipo, ou dolo específico, que 
pode consistir em alguma das seguintes finalidades: 
 remover da vítima órgãos, tecidos ou partes do corpo; 
 submeter a vítima a trabalho em condições análogas à de escravo; 
 submeter a vítima a qualquer tipo de servidão; 
 adoção ilegal; ou 
 exploração sexual. 
Não há previsãode punição da modalidade culposa. O crime é comum, não exigindo qualquer qualidade do 
sujeito passivo. 
Cuida-se de crime formal, partindo-se do ponto de vista de que a finalidade especial, que deve ser o 
elemento subjetivo do agente, não precisa se concretizar, como resultado naturalístico, para sua 
consumação. Basta que o agente realize um dos núcleos do tipo para que o delito se consume, sendo 
prescindível, por exemplo, que se efetive a adoção ilegal da criança ou a remoção de órgãos da vítima. 
Cuida-se de crime plurissubsistente, sendo possível a tentativa. É o que ocorre, por exemplo, quando 
alguém acondiciona várias vítimas em um ônibus para transporte ao exterior quando é abordado pelo polícia 
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e, por circunstâncias alheias à sua vontade, não consegue efetivamente transportá-las para submetê-las à 
exploração sexual. 
A ação penal é pública incondicionada. 
 
 Formas majoradas 
O artigo 149-A do Código Penal, em seu parágrafo primeiro, prevê as seguintes causas de aumento da pena, 
com indicação de fração de um terço até a metade: 
 
I. o crime for cometido por funcionário público no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-
las; 
É a causa de aumento funcional. O funcionário público, inclusive, pode ter usado de suas funções para a 
configuração do abuso como forma de cometimento do crime. Entretanto, o uso de suas funções ou sua 
conduta a pretexto de exercê-las torna o crime mais reprovável, por envolver quem deveria servir à 
população, ao invés de atuar contra a ordem social e jurídica. 
 
II. o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou com deficiência; 
A criança é quem possui até 12 anos incompletos, enquanto adolescente é quem possui idade de 12 anos 
até 18 anos incompletos. São conceitos extraídos do Estatuto da Criança e do Adolescente, já que, para este 
fim, não há previsão específica no Código Penal. Entretanto, é preciso acompanhar como a jurisprudência 
vai tratar o tema. 
De igual modo, a conceituação de idoso pode ser extraída do Estatuto do Idoso, ou seja, aquele que possui 
idade igual ou superior a 60 anos de idade. Seguindo o mesmo raciocínio, deficiente pode ser conceituado 
a partir do que determina o Estatuto da Pessoa com Deficiência. Assim, é aquela pessoa que tem 
impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com 
uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de 
condições com as demais pessoas. 
Todos os sujeitos passivos enumerados nesta causa de aumento de pena possuem maior fragilidade física 
ou emocional, razão pela qual há maior desvalor na conduta que é praticada contra eles. 
 
III. o agente se prevalecer de relações de parentesco, domésticas, de coabitação, de hospitalidade, de 
dependência econômica, de autoridade ou de superioridade hierárquica inerente ao exercício de 
emprego, cargo ou função; ou 
Majora o crime o agente prevalecer de relações de parentesco (por consanguinidade ou por afinidade), de 
relações domésticas, de coabitação, de hospitalidade (quando o sujeito ativo é recebido como hóspede ou 
hospeda o ofendido), de dependência econômica (de qualquer espécie, como de companheiros ou 
cônjuges), de autoridade (relação de direito público) ou superioridade hierárquica inerente ao exercício de 
emprego, cargo ou função (conceitos do Direito Administrativo). 
 
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IV. a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território nacional 
Neste caso, temos o tráfico internacional de pessoas, circunstância que também torna majorado o crime. 
Entretanto, o legislador não incluiu nesta causa de aumento de pena a retirada de pessoas do exterior para 
trazê-las ao Brasil. 
Como dito acima, o Brasil retificou o Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime 
Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, que foi promulgado por meio do Decreto nº 5.017/2004. 
Deste modo, a internacionalidade, mesmo aquela não abrangida pela causa de aumento (vítima sai do 
exterior para vir ao Brasil), atrai a competência da Justiça Federal. 
 
 Forma privilegiada 
O artigo 149-A, em seu parágrafo segundo, prevê causa de diminuição de pena, de um a dois terços, se o 
agente for primário e não integrar organização criminosa. Os dois requisitos são exigidos de forma 
cumulativa e são parecidos com aqueles exigidos para diminuição de pena do tráfico de entorpecentes, 
apesar de não coincidirem totalmente. 
 
O crime é de ação penal pública incondicionada. 
3. CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO 
3.1 VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO 
O crime de violação de domicílio está previsto no artigo 150 do Código Penal: 
Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou 
tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências: 
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. 
§ 1º - Se o crime é cometido durante a noite, ou em lugar ermo, ou com o emprego de violência ou de 
arma, ou por duas ou mais pessoas: 
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da pena correspondente à violência. 
Aumento de pena 
§ 2º - Aumenta-se a pena de um terço, se o fato é cometido por funcionário público, fora dos casos 
legais, ou com inobservância das formalidades estabelecidas em lei, ou com abuso do poder. 
 § 3º - Não constitui crime a entrada ou permanência em casa alheia ou em suas dependências: 
I - durante o dia, com observância das formalidades legais, para efetuar prisão ou outra diligência; 
II - a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime está sendo ali praticado ou na iminência 
de o ser. 
Casa 
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§ 4º - A expressão "casa" compreende: 
I - qualquer compartimento habitado; 
II - aposento ocupado de habitação coletiva; 
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade. 
§ 5º - Não se compreendem na expressão "casa": 
I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do 
n.º II do parágrafo anterior; 
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero. 
As condutas puníveis, de forma alternativa, são entrar ou permanecer. A ação nuclear “entrar” traduz um 
crime instantâneo, enquanto o núcleo do tipo “permanecer” revela um crime permanente. 
A entrada ou a permanência podem se dar de uma das seguintes formas: clandestina ou astuciosa ou contra 
a vontade expressa ou tácita de quem de direito. 
Clandestina é a conduta praticada de forma sorrateira ou escondida. É o caso do agente que, após ter 
permanecido agachado na calçada da casa, ingressa na casa quando o seu proprietário sai e deixa o portão 
eletrônico se fechando de forma automática. 
Astuciosa é a realização da entrada ou permanência mediante fraude ou ardil. Tem-se tal entrada quando 
alguém se passa por agente da vigilância sanitária para adentrar na casa. 
Ostensiva é a entrada ou permanência contra a vontade expressa ou tácita do dono da casa. O sujeito 
ingressa na residência sem fraude, de forma aberta, contrariando a vontade de quem lá reside. A 
discordância pode ser expressa, como de quem proíbe o agente de lá ingressar, ou tácita, como de um 
sujeito que está debilitado, sem poder falar, e fica assustado e agitado, sem poder pedir que o sujeito lhe 
retire, mesmo sendo claro que não autorizou sua entrada. 
A entrada ou permanência deve ocorrer em casa alheia ou em suas dependências, aí incluído o quintal. 
Veremos adiante o conceito de casa para fins deste tipo penal. 
O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa, inclusive o proprietário da casa, se a invadedepois de tê-la alugado e de ali morar o inquilino. 
Pode ser comissivo ou omissivo, já que pode ser praticado pela entrada ou pela permanência 
desautorizadas. 
O elemento subjetivo é o dolo, consistente na vontade livre e consciente de entrar ou permanecer na casa 
alheia ou em suas dependências sem autorização, violando o domicílio alheio. Não há previsão da 
modalidade culposa. 
A doutrina aponta ser o crime plurissubsistente, apesar de considerar que a tentativa é de difícil 
configuração. 
 
 Forma qualificada 
O artigo 150, § 1º, do Código Penal, prevê formas qualificadas do crime, cuja pena passa a ser de detenção, 
de seis meses a dois anos, além da pena correspondente à violência. Isto é, se houver violência, como na 
prática de lesão corporal contra a vítima, deve haver o concurso material de crimes. 
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São as hipóteses que tornam o crime qualificado: 
 
Se o crime é cometido durante a noite: há doutrinadores que entendem que noite é o período de ausência 
de luz solar, o que parece prevalecer. Entretanto, há quem defenda que é o período entre as 18 horas e as 
6 horas do dia seguinte. O maior desvalor se liga ao período de descanso, em que as pessoas geralmente 
não estão em alerta no caso de invasão do seu domicílio. 
 
Se o crime é praticado em lugar ermo: é o local despovoado ou deserto. Alguns entendem que deve ser 
assim habitualmente, enquanto outros admitem sua ocorrência eventual. A ausência de pessoas próximas 
facilita o crime e dificulta o socorro. 
 
Se o crime é praticado com o emprego de violência ou de arma: a violência é a vis absoluta, sendo que a 
lei não restringe à violência contra a pessoa, razão pela qual também configura a qualificadora o emprego 
de violência contra a coisa. 
O emprego de arma abrange qualquer delas, seja de fogo, própria e até mesmo a imprópria. Pode ser usada 
pelo agente desde o início dos atos executórios ou ser apropriada por ele dentro da própria casa, como 
quando ele adentra na cozinha e passa a portar uma faca. A exemplo da discussão ocorrida pela 
jurisprudência quanto ao roubo e a majorante de emprego de arma, na redação antiga, a arma de brinquedo 
não se serve para a incidência da circunstância de “emprego de arma”, razão pela qual não justifica a 
incidência da qualificadora. 
 
Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas: a qualificadora do concurso de agentes se limita à 
coautoria. Isto porque, conforme a doutrina adverte, a redação é “se o crime é cometido”, razão pela qual 
eventuais partícipes não podem ser computados para a incidência da qualificadora. Deste modo, ela só 
incide no caso de executarem a ação nuclear do tipo duas ou mais pessoas, podendo ser computados 
indivíduos não imputáveis e não identificados pela investigação, desde que se demonstrem que entraram 
na casa ou nela permaneceram de forma não consentida. 
 
 Forma majorada e sua revogação 
O artigo 150, parágrafo segundo, do Código Penal, prevê causa de aumento de pena, de um 
terço, se o fato é cometido por funcionário público, fora dos casos legais, ou com inobservância 
das formalidades estabelecidas em lei, ou com abuso do poder. A doutrina majoritária entende 
que referido dispositivo foi revogado pela antiga Lei de Abuso de Autoridade, a Lei n. 4.898/65, 
que é superveniente e especial em relação ao Código Penal. Referido diploma, em seu artigo 
3º, b, prevê a punição da violação de domicílio pelo funcionário público: 
Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado: 
(...) 
b) à inviolabilidade do domicílio; 
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O artigo 5º da Lei de Abuso de Autoridade prevê quem pode praticá-lo e, por sua vez, o artigo 6º, §§ 3º e 
4º, prevê as sanções penais: 
Art. 5º Considera-se autoridade, para os efeitos desta lei, quem exerce cargo, emprego ou função 
pública, de natureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e sem remuneração. 
Art. 6º O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à sanção administrativa civil e penal. 
(...) 
§ 3º A sanção penal será aplicada de acordo com as regras dos artigos 42 a 56 do Código Penal e 
consistirá em: 
a) multa de cem a cinco mil cruzeiros; 
b) detenção por dez dias a seis meses; 
c) perda do cargo e a inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública por prazo até três 
anos. 
§ 4º As penas previstas no parágrafo anterior poderão ser aplicadas autônoma ou cumulativamente. 
A controvérsia chega ao fim com o início da vigência da nova Lei de Abuso de Autoridade, a Lei 13.869/2019, 
com vacatio legis de 120 dias, que prevê, em seu artigo 44: 
Art. 44. Revogam-se a Lei nº 4.898, de 9 de dezembro de 1965, e o § 2º do art. 150 e o art. 350, ambos 
do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal). 
 
 Exclusão do crime 
O parágrafo terceiro do artigo 150 prevê hipóteses em que a entrada ou permanência em casa alheia ou em 
suas dependências não configura o crime de violação de domicílio: 
I. durante o dia, com observância das formalidades legais, para efetuar prisão ou outra diligência; 
Durante o dia, qualquer autoridade, agentes policiais ou outros servidores públicos podem ingressar na 
residência para efetuar prisão, seja ela definitiva, após o trânsito em julgado, ou processual, como a 
preventiva. Ademais, é possível seu ingresso para efetuar diligência, como o oficial de justiça que adentra 
para realizar a apreensão de uma criança. 
Em todos esses casos, é preciso que haja o cumprimento das formalidades legais, como a expedição de 
mandado judicial para a prisão (salvo prisão em flagrante) e autorização legal ou judicial para a diligência 
(por exemplo, mandado de penhora). 
Não é possível o ingresso na residência durante a noite, nem por ordem judicial, sendo que, caso não seja 
franqueado o acesso aos agentes públicos, devem aguardar o amanhecer para adentrarem na residência. 
 
II. a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime está sendo ali praticado ou na iminência 
de o ser. 
Durante o dia e durante a noite, é permitido o ingresso de agentes públicos na residência, mesmo sem 
autorização do morador, no caso de flagrante delito. Como a Constituição não abarca o crime que está na 
iminência de ser praticado, devemos considerar a parte final do dispositivo como não recepcionada pela Lei 
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Fundamental de 1988. Crime em situação de flagrância é aquele que está acontecendo ou que acabou de 
acontecer, nas situações envolvendo o período logo após ou logo depois da prática da infração penal, nos 
termos do Código de Processo Penal. 
A Constituição da República também permite o ingresso sem autorização, mesmo durante à noite, no caso 
de desastre ou para prestar socorro. 
 
 Conceito de casa 
Os parágrafos quarto e quinto do artigo 150 do Código Penal consistem em normas penais não 
incriminadoras explicativas, pois visam a definir aquilo que consiste e o que não consiste em “casa” para a 
configuração do crime de violação de domicílio. 
O parágrafo quarto prevê que a expressão "casa" compreende: 
i. qualquer compartimento habitado; pode ser o barraco da favela, o trailer do indivíduo nômade ou 
o chalé do sujeito que vive no campo. 
ii. aposento ocupado de habitação coletiva; é o espaço privado em um local em que várias pessoas 
residem ou ocupam temporariamente. Caso de hotéis, cortiços e albergues. 
iii. compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade: é o espaço, sem 
acesso ao público, de exercício da profissão, como o escritório do gerente da fábrica, a sala privada 
do médico, o arquivo do advogado e etc. Protege-se a tão somente parte não aberta ao público. 
Não se compreendem na expressão "casa", deacordo com o parágrafo quinto do artigo 150: 
i. hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do 
n.º II do parágrafo anterior; deste modo, não se incluem na proteção as áreas abertas ao público, 
como a sala comum do hotel ou do pensionato. 
ii. taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero: os locais abertos ao público estão excluídos da 
proteção legal de referido crime, como os restaurantes, bares, saguões de hotel, pista de dança da 
danceteria, etc. 
A ação é penal pública incondicionada. 
Em situação de flagrância, não há violação de domicílio se a autoridade policial adentra a residência sem 
mandado judicial: 
 “RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. POSSE OU PORTE DE ARMA DE FOGO E MUNIÇÕES DE 
USO RESTRITO. ILEGALIDADE DA BUSCA E APREENSÃO. CRIME PERMANENTE. DESNECESSIDADE DE 
MANDADO JUDICIAL. SITUAÇÃO DE FLAGRÂNCIA. DECISÃO DE RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. 
AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE NULIDADE. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO 
ILEGAL. RECURSO DESPROVIDO. 1. Com relação às provas,o Tribunal de origem afirmou a legalidade 
da busca e apreensão realizada na residência do recorrente, em consonância com a jurisprudência 
consolidada nesta Corte Superior, no sentido de que, tratando-se de crime permanente, não há 
ilegalidade na busca e apreensão por violação de domicílio, uma vez que a própria Constituição 
Federal autoriza a entrada da autoridade policial seja durante o dia, seja durante a noite, 
independente da expedição de mandado judicial. (...)” (RHC 85831/MS, Rel. Min. Joel Paciornik, Quinta 
Turma, DJe 27/09/2017). 
 
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4. CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DA 
CORRESPONDÊNCIA 
4.1 VIOLAÇÃO DE CORRESPONDÊNCIA 
O delito de violação de correspondência está tipificado no artigo 151 do Código Penal: 
Art. 151 - Devassar indevidamente o conteúdo de correspondência fechada, dirigida a outrem: 
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa 
 
Foi revogado tacitamente pela previsão do artigo 40 da Lei 6.538/78: 
VIOLAÇÃO DE CORRESPONDÊNCIA 
Art. 40 - Devassar indevidamente o conteúdo de correspondência fechada dirigida a outrem: 
Pena: detenção, até seis meses, ou pagamento não excedente a vinte dias-multa. 
SONEGAÇÃO OU DESTRUIÇÃO DE CORRESPONDÊNCIA. 
§ 1º - Incorre nas mesmas penas quem se apossa indevidamente de correspondência alheia, embora 
não fechada, para sonegá-la ou destruí-la, no todo ou em parte. 
AUMENTO DE PENA 
§ 2º - As penas aumentam-se da metade se há dano para outrem. 
A conduta incriminada é devassar, de forma indevida, o conteúdo de correspondência fechada que se dirija 
a outrem. Devassar é abrir, corromper ou conhecer o conteúdo. 
A correspondência deve ser fechada, conforme redação do tipo penal. Caso se trate de carta 
aberta, não se configura o objeto material do delito de violação de correspondência. 
O crime é comum, não se exigindo qualidade especial do sujeito ativo. Por outro lado, é de 
dupla subjetividade passiva, pois são sujeitos passivos imediatos tanto o remetente quando o 
destinatário. 
O elemento subjetivo é o dolo, consistente na vontade livre e consciente de devassar a 
correspondência fechada destinada a terceira pessoa. Não há previsão da modalidade culposa. 
O delito é instantâneo, consumando-se com o conhecimento, mesmo que parcial, do conteúdo da 
correspondência pelo agente. Por ser plurissubsistente, admite a tentativa. 
É comissivo, já que a conduta de devassar pressupõe um comportamento ativo do sujeito, um fazer. 
Sobre o crime, o STJ já decidiu que, tendo já sido entregue a correspondência pela Empresa Brasileira de 
Correios e Telégrafos, a sua violação posterior não atrai a competência da Justiça Federal: 
“PENAL. PROCESSO PENAL. VIOLAÇÃO DE CORRESPONDENCIA. ENTREGUE A CORRESPONDENCIA NO 
DESTINO, DESOBRIGA A UNIÃO DE QUALQUER EXIGENCIA, A COMPETENCIA PARA APRECIAR O DELITO 
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E DA JUSTIÇA COMUM ESTADUAL. CONFLITO CONHECIDO.” (STJ, CC 11676/AM, Rel. Min. Felix Fischer, 
Terceira Seção, DJ 12/05/1997). 
 
4.2 OUTROS CRIMES LIGADOS À VIOLAÇÃO DE CORRESPONDÊNCIA 
O artigo 151, em seus parágrafos, prevê outros crimes ligados à violação de correspondência: 
Sonegação ou destruição de correspondência 
§ 1º - Na mesma pena incorre: 
I - quem se apossa indevidamente de correspondência alheia, embora não fechada e, no todo ou em 
parte, a sonega ou destrói; 
Violação de comunicação telegráfica, radioelétrica ou telefônica 
II - quem indevidamente divulga, transmite a outrem ou utiliza abusivamente comunicação telegráfica 
ou radioelétrica dirigida a terceiro, ou conversação telefônica entre outras pessoas; 
III - quem impede a comunicação ou a conversação referidas no número anterior; 
IV - quem instala ou utiliza estação ou aparelho radioelétrico, sem observância de disposição legal. 
Aumento de pena, qualificadora e ação penal 
§ 2º - As penas aumentam-se de metade, se há dano para outrem. 
§ 3º - Se o agente comete o crime, com abuso de função em serviço postal, telegráfico, radioelétrico 
ou telefônico: 
Pena - detenção, de um a três anos. 
§ 4º - Somente se procede mediante representação, salvo nos casos do § 1º, IV, e do § 3º. 
 
 São formas equiparadas à do caput do artigo 151 do Código Penal: 
 
 Sonegação ou destruição de correspondência 
I - quem se apossa indevidamente de correspondência alheia, embora não fechada e, no todo ou em parte, 
a sonega ou destrói; 
Foi revogado tacitamente pela previsão do artigo 40, § 1º, da Lei 6.538/78: 
SONEGAÇÃO OU DESTRUIÇÃO DE CORRESPONDÊNCIA. 
§ 1º - Incorre nas mesmas penas quem se apossa indevidamente de correspondência alheia, embora 
não fechada, para sonegá-la ou destruí-la, no todo ou em parte. 
O núcleo do tipo, neste caso, é se apossar, sendo que possui forma livre. A sonegação ou a destruição da 
correspondência são desnecessárias para a consumação do delito, o que o leva a ser classificado como 
formal. Exige-se que o agente possua em mente uma das finalidades, que seja a de destruir ou a de sonegar 
a correspondência alheia. 
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O apossamento deve ser indevido, não se configurando se os pais recolhem as correspondências dos filhos 
menores, por exemplo. 
Aponta-se, ainda, que a conduta de devassar o conteúdo e a posterior sonegação ou destruição da 
correspondência configura o crime único previsto no artigo 40, caput, da Lei 6.538/78. 
Só há previsão da forma dolosa. Como o crime é plurissubsistente, é possível a tentativa. 
 
 Violação de comunicação telegráfica, radioelétrica ou telefônica 
II - quem indevidamente divulga, transmite a outrem ou utiliza abusivamente comunicação telegráfica ou 
radioelétrica dirigida a terceiro, ou conversação telefônica entre outras pessoas; 
Divulgar indevidamente é propagar a informação, torná-la pública, de forma inadequada. Utilizar 
abusivamente é usar o conteúdo para algum fim não permitido, sendo que, a depender de qual for, a 
utilização pode ser fim para prática de crime mais grave. Transmitir é repassar a outrem o teor da 
comunicação ou da conversação. 
Os núcleos do tipo devem ser praticados em relação à comunicação telegráfica, aquela transmitida por 
telégrafo; à comunicação radioelétrica, aquela realizada por meio de rádio e televisão; ou à comunicação 
telefônica, efetuada mediante uso de aparelho telefônico, seja fixo ou portátil. 
O crime é material, doloso e plurissubsistente, admitindo o conatus. É comum, por não se exigir qualidade 
específica do sujeito ativo. 
Prevalece não ter sido derrogado pelo artigo 10 da Lei 9.296/96, que exige circunstâncias específicas, além 
de ser crime próprio. 
 
III - quem impede

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