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5. A Banalidade do Mal as tragédias vivenciadas em Barbacena

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A Banalidade do Mal: as tragédias 
vivenciadas em Barbacela, em Grafeneck 
e nas medidas de segurança aplicadas nos 
manicômios brasileiros de hoje5
VI SEMINÁRIO PENSAR DIREITOS HUMANOS: EDUCAÇÃO E(M) DIREITOS HUMANOS: PENSAR AS VIOLÊNCIAS
GT 1 – FUNDAMENTOS TEÓRICOS DOS DIREITOS HUMANOS
72
Elias Menta Macedo 1
BREVES ASPECTOS SOBRE AS MEDIDAS DE SEGURANÇA 
O Código Penal brasileiro (Decreto-Lei n° 2.848/1940) adota o sistema que aplica sepa-
radamente pena ou medida de segurança (sistema vicariante). Ao contrário da pena, a medida 
de segurança deriva da inimputabilidade do agente que é, por sua vez, resultado da imaturi-
dade do agente ou de sua incapacidade parcial ou total decorrente de distúrbios psicológicos. 
Desse modo, se afasta a culpabilidade do agente (componente essencial para determinação 
da pena que analisa três aspectos do agente em relação ao fato: sua imputabilidade, potencial 
consciência do injusto e a exigibilidade de conduta diversa), ou seja, se afasta a responsabilidade 
pelo delito, por mais que se tenha cometido ato típico e antijurídico. Lembrando que a medida de 
segurança só se aplica após a constatação médica de algum distúrbio, sem a qual seria vedada.
Segundo Bitencourt2 são três os sistemas que definem a inimputabilidade ou 
culpabilidade diminuída: I. biológico; II. psicológico; III. biopsicológico. O sistema biológico 
avalia a responsabilidade, a saúde mental e sua formação. Se o agente tem alguma enfermidade 
ou possui formação mental incompleta não se pode atribuir-lhe responsabilidade. O sistema 
psicológico não analisa a possibilidade de patologia, apenas pondera se no momento do 
delito, independente da causa, o agente tinha condições de discernir sobre a realidade do 
fato. O sistema biopsicológico reúne os dois sistemas anteriores, em que a responsabilidade é 
diretamente ligada à enfermidade ou ao retardamento mental, e por um desses o agente perde 
a capacidade de tradução dos acontecimentos, excluindo assim sua culpabilidade. 
No Brasil, via de regra, aplica-se o sistema biopsicológico, podendo haver casos em que 
se usa o biológico. Caso do menor de dezoito anos, que para o legislador, ainda não atingiu o 
discernimento e formação suficiente para lhe conferir responsabilidade. 
1 Mestrando regularmente matriculado no Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Direitos Humanos; 
e-mail: <mentaprado@gmail.com>.
2 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
Anais - VI Seminário Pensar Direitos Humanos 73
GT 1 Fundamentos Teóricos dos Direitos Humanos
Pode acontecer de posteriormente alguém submetido à pena adquirir algum distúrbio 
mental. Nada mais previsível considerando as condições caóticas do sistema prisional brasi-
leiro, em que pessoas passam por situações desumanas e degradantes que podem ser classifi-
cadas como uma espécie de tortura física e psicológica, e que agridem a dignidade da pessoa 
humana que, em tese, foi garantida pela Constituição Federal de 1988. 
Em tal caso, a lei prevê a recondução do condenado para tratamento adequado à sua 
condição mental, conforme a inteligência do artigo 41, do Código Penal que explicita: “o conde-
nado a quem sobrevém doença mental deve ser recolhido a hospital de custódia e tratamento 
psiquiátrico ou, à falta, a outro estabelecimento adequado”.
Mesmo que o evento seja punível com reclusão, deve o magistrado optar pela medida 
de segurança não-detentiva, empregando a internação apenas nos casos em que esta seja 
medida que mostrar-se comprovadamente necessária.
As garantias do deficiente mental infrator são asseguradas pelas normas da Consti-
tuição, do Código Penal e, mais recentemente, pela Lei da Reforma Psiquiátrica. Sendo que 
nenhuma pessoa pode sofrer discriminação independente de qualquer natureza de condição. 
Em seu artigo segundo, parágrafo único, a Lei da Reforma Psiquiátrica ou Lei Antimanicomial 
trata especificamente da abrangência dos direitos da pessoa com transtorno mental.
I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas neces-
sidades;
II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua 
saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na 
comunidade;
III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração;
IV - ter garantia de sigilo nas informações prestadas;
V - ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade 
ou não de sua hospitalização involuntária;
VI - ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis;
VII - receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu trata-
mento;
VIII - ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis;
IX - ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental.
Sancionada em 2001, a Lei Antimanicomial mudou o foco, que antes era a segurança 
pública, para a pessoa do condenado e passou a tratar a questão como um problema de saúde 
pública, empregando diversas responsabilidades ao Estado ao englobar fatores não especifi-
cados no Código Penal. 
A medida de segurança está ligada ao tratamento de uma enfermidade e a excludente de 
Anais - VI Seminário Pensar Direitos Humanos74
GT 1 Fundamentos Teóricos dos Direitos Humanos
culpabilidade faz com que esta medida afaste o caráter retributivo da pena. Ao focar no trata-
mento do paciente, a lei se aproxima de sua função social e ao mesmo tempo se torna eficaz. 
DADOS SOBRE OS HOSPITAIS DE CUSTÓDIA, O CASO DE BARBACENA
E O CASO DE GRAFENECK
Em 2013 foi publicado pela Universidade de Brasília o trabalho da pesquisadora Debora 
Diniz3 que realizou uma consistente investigação analisando as 3.989 pessoas que viviam nos 
26 Estabelecimentos de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (ECTPs) em 2011, sendo levanta-
das as seguintes informações: 1. dados sociodemográficos; 2. dados sobre o itinerário jurídico 
e 3. dados sobre saúde mental.
Este estudo ocorreu em todos os Estados federados do território nacional que possuem 
ECTPs, sua coleta de dados aconteceu de 31 de janeiro a 16 de dezembro de 2011 e foram cons-
tatados dados chocantes, a saber, 
no Brasil, pelo menos 25% (741) dos indivíduos em medida de segurança não deveriam 
estar internados por cumprirem medida de segurança cessada, por terem sentença de 
desinternação, medida de segurança extinta ou internação sem processo judicial, ou 
ainda por terem recebido o benefício judicial da alta ou da desinternação progressiva4.
Com esses dados sabemos que para cada quatro pessoas internadas em medidas de 
segurança, uma necessariamente não deveria estar ali. O que reforça a tese defendida no dou-
torado pelo Professor Virgilio de Mattos5, que explicita que a medida de segurança 
constituiu-se na criação de um instituto, pretensamente protecionista, mas que, na 
verdade, produziu apenas e tão-somente uma dupla exclusão, baseada, ou, se pre-
ferirem justificada, em uma ‘garantia’ jurídica especial, que não trata ‘diferente’, reco-
nhecendo o seu direito a diferença, mas, ao contrário, ao tratá-lo ‘diferentemente’, o 
subsume a uma dupla inserção que, antes de inserir segrega duplamente.
O problema da ilegal internação é, também, escancarado pela autora Daniela Arbex que 
explica que desde o início do século XX, quando se fundou o hospital psiquiátrico de Barba-
cena-MG, a falta de critério médico para internações era comum; lá tudo era padronizado e os 
diagnósticos não fugiam a essa regra. Estima-se que 70% (setenta por cento) dos atendidos 
3 DINIZ, D. A custódia e o tratamento psiquiátrico no Brasil: censo 2011 [recurso eletrônico]. Brasília: 
LetrasLivres e Editora Universidade de Brasília, 2013.
4 Idem. p. 35.
5 MATTOS, V de. Crime e psiquiatria: uma saída: preliminares para a desconstrução das medidas de segurança. 
Rio de Janeiro:Revan, 2006. p. 181-182.
Anais - VI Seminário Pensar Direitos Humanos 75
GT 1 Fundamentos Teóricos dos Direitos Humanos
nesse manicômio não sofriam qualquer tipo de doença mental e que o “Colônia”, como era 
popularmente conhecido, tornara-se a sina de “desafetos, homossexuais, militantes políticos, 
mães solteiras, alcoolistas, mendigos, negros, pobres, pessoas sem documentos e todos os 
tipos de indesejados, inclusive os chamados insanos”6 
A ideia de limpeza social, em que elementos indesejados são retirados da sociedade e 
jogados em locais que a visão não os pode alcançar, fortalecia o hospital e “justificava” seus 
abusos. Trinta anos após a construção do manicômio já existiam cinco mil pacientes, número 
que é vinte e cinco vezes maior do que a capacidade do projeto inicial da instituição, que pre-
tendia abrigar duzentos internos.
A autora mencionada aponta que a solução que foi dada na época pelo chefe do De-
partamento de Assistência Neuropsiquiátrica de Minas Gerais, José C. Filho, para economizar 
espaço e caber mais gente na internação, foi a de substituir as camas por capim, sugestão que 
foi acatada e muito utilizada. Nesse terrível contexto,
sessenta mil pessoas perderam a vida no Colônia. As cinco décadas mais dramáticas 
do país fazem parte do período em que a loucura dos chamados normais dizimou, pelo 
menos, duas gerações de inocentes em 18.250 dias de horror. Restam hoje menos de 
200 sobreviventes dessa tragédia silenciosa7.
Essa imposição generalizada cria (muito) mais problemas do que soluções, e na história 
ocorrida em Barbacena-MG fica evidente a fragilidade dos diagnósticos e a imposição da in-
ternação à força pelo poder político e patriarcal, que para muitas vítimas foi sua sentença para 
prisão perpétua ou de pena capital.
Giorgio Agamben8 explicita que toda sociedade fixa um limiar, que rigorosamente separa 
aquelas vidas que merecem proteção e aquelas que podem ser impunemente eliminadas. No 
decorrer da experiência nazista, foi permitida que a vida indigna de ser vivida fosse eliminada 
para dar “cidadania” ao doente, sendo considerada como uma “morte por graça”, e o foco prin-
cipal dessa política foi a eliminação dos doentes mentais supostamente incuráveis.
 Para instrumentalizar e institucionalizar o projeto de extermínio por graça foi instituí-
do um programa que teve duração de quinze meses e, por pressões eclesiásticas, Hitler acabou 
com a referida “graça”; todavia, assim como ocorreu em Barbacena, a cidade Grafeneck ficou 
marcada pela trágica experiência. O autor9 mencionado (AGAMBEN, 2002: 147-8) aponta que, 
segundo os depoimentos prestados no processo de Nuremberg,
6 ARBEX, D. Holocausto brasileiro. 1. ed. São Paulo: Geração Editorial, 2013.p.25-6.
7 Idem. 26.
8 AGAMBEN, G. Homo sacer: o poder soberano e a vida nua I. Trad. Henrique Burigo. Belo Horizonte: Editora 
UFMG, 2002.p. 146.
9 AGAMBEN, G. Homo sacer: o poder soberano e a vida nua I. Trad. Henrique Burigo. Belo Horizonte: Editora 
UFMG, 2002.p. 147-8.
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GT 1 Fundamentos Teóricos dos Direitos Humanos
o instituto recebia a cada dia setenta pessoas (em idade variável de 6 a 93 anos), 
escolhidas entre os doentes mentais incuráveis espalhados pelos vários manicômios 
alemães. Os doutores Schumann e Bunhardt, que tinham responsabilidade sobre o 
programa em Grafeneck, submetiam os doentes a uma consulta sumária e decidiam se 
estes apresentavam os requisitos exigidos pelo programa. Na maior parte dos casos, 
os doentes eram mortos nas 24 horas seguintes à chegada a Grafeneck; primeiro era-
-lhes ministrada uma dose de 2 cm de Morphium-Escopolamina e depois eram introdu-
zidos em um câmara de gás. Em outros institutos (como, por exemplo, em Hadamer), 
os doentes eram mortos com uma forte dose de Luminal, Veronal e Morphium. Calcu-
la-se que desse modo foram eliminadas cerca de sessenta mil pessoas.
Para Agamben10 fica evidente que o programa, que tinha aparência de humanitário, bus-
cava o exercício da nova vocação do Estado nacional-socialista, que envolve o poder soberano 
de decidir sobre quais vidas são matáveis. Há um meio termo entre a necessidade de con-
servação biológica da nação e a decisão do soberano sobre a vida que não merece proteção, 
havendo um ponto de interseção entre a decisão do soberano e a necessidade de conservação, 
em que a biopolítica torna-se tanatopolítica.
O filósofo italiano11 arremata a questão dizendo que
o fato é que o Reich nacional-socialista assinala o momento em que a integração entre 
medicina e política, que é uma das características essenciais da biopolítica moderna 
começa a assumir a sua forma consumada. Isto implica que a decisão soberana sobre 
a vida se desloque, de motivações e âmbitos estritamente políticos, para um terreno 
mais ambíguo, no qual o médico e o soberano parecem trocar seus papéis.
Diante dos dados nota-se que, tanto na experiência brasileira de Barbacena (que não es-
tava sob a édige do regime nazista), quanto na experiência alemã-nazista (que vivia um regime 
totalitário-ditatorial), foram ceifadas cerca de 60.000 (sessenta mil) vidas. Além disso, mesmo 
com a instituição da Lei nº 10.216/2001, que é clara quanto a necessidade de um tratamento 
digno para a pessoa humana, ainda estão em pleno funcionamento cerca de 26 Estabeleci-
mentos de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (ECTPs).
A BANALIZAÇÃO DO MAL
Hannah Arendt12 discorrendo sobre as perplexidades dos direitos do homem, mais es-
10 Idem. p. 148.
11 Idem .p. 150.
12 ARENDT, Hannah. As perplexidades dos Direitos do Homem. In: Origens do totalitarismo. Trad. Roberto 
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GT 1 Fundamentos Teóricos dos Direitos Humanos
pecificamente sobre o caso dos apátridas, faz uma constatação que se aplica exatamente ao 
caso do “Colônia”, de Grafeneck e dos ECTP’s, em que o que restava àqueles seres humanos era 
apenas sua condição única de “ser humano” e esse é o maior risco que corriam:
Os sobreviventes dos campos de extermínio, os internados nos campos de concentra-
ção e de refugiados, e até os afortunados apátridas, puderam ver, mesmo sem os ar-
gumentos de Burke, que a nudez abstrata de serem unicamente humanos era o maior 
risco que corriam. 
[...]
Se um ser humano perde o seu status político, deve, de acordo com as implicações 
dos direitos inatos e inalienáveis do homem, enquadrar-se exatamente na situação 
que a declaração desses direitos previa. Na realidade, o que acontece é o oposto. 
Parece que o homem que nada mais é que um homem perde todas as qualidades que 
possibilitam aos outros tratá-lo como semelhante. Este é um dos motivos pelos quais 
é muito mais difícil destruir a personalidade de um criminoso, isto é, de um homem 
que assumiu a responsabilidade de um ato cujas consequências agora determinaram 
o seu destino, que a de um homem a quem foram negadas todas as responsabilidades 
humanas comuns.
Pela leitura do trecho acima, nota-se que para aqueles que os direitos humanos deve-
riam ser uma forma efetiva de proteção e garantia, porque lhes restam apenas a característica 
mais elementar de humanidade, esses direitos são negados pelos seus semelhantes que não se 
preocupam com seu destino e nem com a sua existência. A vida desses sujeitos internados em 
instituições totais é uma vida desprovida de qualquer garantia; é uma vida matável.
O professor Celso Lafer13, analisando as formulações de Hannah Arendt, afirma que não 
basta declarar e proclamar direitos humanos como algo que seja próprio à espécie humana, 
uma vez que esses direitos são um constructo social e que assim sendo merecem acesso a um 
espaço público comum para alcançar igualdade em dignidade e direitos. Completa dizendo 
que é necessário que exista uma tutela internacional homologadora do ponto de vista da hu-
manidade para que se torne viável um “direito deter direitos”.
O jurista Arnaldo Godoy14 defende que para Hannah Arendt as pessoas não nascem 
iguais, tornam-se iguais, e que o processo que as tornam iguais é a inserção (ou pertencimen-
Raposo. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 333-4.
13 LAFER, Celso. A internacionalização dos direitos humanos: o desafio do direito a ter direitos. In: AGUIAR, 
Odílio Alves; PINHEIRO, Celso de Moraes; FRANKLIN, Karen (Orgs.). Filosofia e direitos humanos. Fortaleza: 
Editora UFC, 2006, p 23-4.
14 GODOY, A. S. de M. O pensamento de Hannah Arendt e os paradoxos dos direitos humanos. Disponível 
em:<http://www.conjur.com.br/2014-set-14/embargos-culturais-pensamento-hannah-arendt-paradoxos-
direitos-humanos>. Acesso no dia 20 de julho de 2015 às 22 horas.
Anais - VI Seminário Pensar Direitos Humanos78
GT 1 Fundamentos Teóricos dos Direitos Humanos
to) a um grupo organizado politicamente. O mesmo autor, ainda discorrendo sobre ideias de 
Arendt, reverbera que
quando se reduz o ser humano a um estado de necessidade bruta e de selvageria, 
desprovido de qualquer forma de proteção estatal, a agenda dos diretos humanos é 
um dado flutuante em um espaço inexistente. A inserção de todos os seres humanos, 
nesse âmbito de proteção, é a tarefa de nossa geração, que se realiza por medidas 
políticas e econômicas de emancipação e de inserção. É, ao mesmo tempo, o nosso 
desafio, e a nossa redenção.
Lafer15 apresenta a categoria de “possível inconcebível”, em que os homens não têm no-
ção da existência de grandes violações de direitos que estão cometendo, em que o ser humano 
se torna descartável e supérfluo, destituindo esse ser de sua condição de sujeito, ignorando 
qualquer tipo de valor que possa ter e transformando-o em algo inutilizável. 
O jurista16 mencionado defende que
Hannah Arendt, num primeiro momento, em Origens do totalitarismo, falou, com ins-
piração kantiana, no mal radical. Considerou o mal como radical porque o que o ca-
racterizaria no exercício da dominação totalitária é a erradicação da ação humana, 
tornando os seres humanos supérfluos e descartáveis. Subsequentemente formulou a 
tese da banalidade do mal como um mal burocrático, que não tem profundidade mas 
pode destruir o mundo em função da incapacidade de pensar das pessoas, capaz de 
espraiar-se pela superfície da terra como um fungo.
[...]
Em textos que tenho escrito, propondo e examinando convergências entre Hannah 
Arendt e Bobbio, venho sugerindo que o exercício do mal ativo comporta uma aproxi-
mação com a banalidade do mal, ou seja, com a incapacidade de pensar as consequên-
cias da ação por parte dos governantes. Já o mal passivo comporta uma aproximação 
com o mal radical que alcança os que sofrem uma pena sem culpa, em função do 
pressuposto da descartabilidade do ser humano.
Luiz Barros17, analisando o pensamento de Hannah Arendt, explicita que a autora distin-
15 LAFER, Celso. A internacionalização dos direitos humanos: o desafio do direito a ter direitos. In: AGUIAR, 
Odílio Alves; PINHEIRO, Celso de Moraes; FRANKLIN, Karen (Orgs.). Filosofia e direitos humanos. Fortaleza: 
Editora UFC, 2006, p 24.
16 Idem, p 26-7.
17 BARROS, L. F. Hannah Arendt e a banalidade do mal. Disponível em: <http://emporiododireito.com.br/
hannah-arendt-e-a-banalidade-do-mal-por-luiz-ferri-de-barros/>. Acesso no dia 21 de julho de 2015 às 
10h42min.
Anais - VI Seminário Pensar Direitos Humanos 79
GT 1 Fundamentos Teóricos dos Direitos Humanos
gue o ser humano da pessoa, pela lembrança e pela reflexão moral capaz de ser produzida por 
ele próprio, e o autor cita Arendt apud Giacóia,
o maior mal perpetrado é o mal cometido por Ninguém, isto é, por um ser humano que 
se recusa a ser pessoa. […] Poderíamos dizer que o malfeitor que se recusa a pensar 
por si mesmo no que está fazendo e que, em retrospectiva, também se recusa a pensar 
sobre o que faz, isto é, a voltar e lembrar o que fez (que é teshuvah, isto é, arrependi-
mento), realmente deixou de se constituir como alguém. Permanecendo teimosamente 
um ninguém, ele se revela inadequado para o relacionamento com os outros que, bons, 
maus ou indiferentes, são no mínimo pessoas.
O jurista Haroldo Silva18 argumenta que “a banalidade do mal que deixou de ser um 
simples conceito filosófico para ser o fundamento de um sistema” está presente no sistema da 
justiça criminal e se manifesta,
repleto de ações isoladas e “inocentes” que, somadas, produzem as mais graves viola-
ções de direitos humanos em solo brasileiro.
A legalidade formal e, por isso mesmo, superficial, das prisões decretadas por juízes 
e tribunais dos quatro cantos do país, dissolve-se nos horrores da prisão. Entretanto, 
tal qual Eichmann, os artífices do sistema de justiça criminal apresentam-se como 
servidores públicos exemplares, cumpridores da ordem emanada da lei penal e, assim, 
isentos de qualquer responsabilidade.
Nota-se com a apresentação dos vários autores supramencionados e de alguns de seus 
excertos, que a banalidade do mal se incorpora nas instituições e é capazes de institucionali-
zar regras absurdas para dar legalidade a atitudes impensáveis, que a mais singela compreen-
são duvidaria da possibilidade de seu cometimento.
CONCLUSÃO
Pelo exposto, as medidas de segurança da forma como estão postas são responsáveis 
por profundas violências a pacientes/deficientes já marcados por uma série de outros proble-
mas, que deveriam receber um tratamento digno como preceitua a Lei nº 10.216/2001. Nas 
palavras de Franco Basaglia (obra as instituições da violência) o que ocorre é uma violência 
institucionalizada daqueles que empunham a faca contra os que amparam a lâmina.
Os casos de Barbacena-MG e de Grafeneck servem como um alerta para aplicação das 
18 SILVA, H. C. O juiz e a banalidade do mal. Disponível em: < http://justificando.com/2015/07/20/o-juiz-e-a-
banalidade-do-mal/>. Acesso no dia 20 de julho às 14 horas.
Anais - VI Seminário Pensar Direitos Humanos80
GT 1 Fundamentos Teóricos dos Direitos Humanos
medidas de segurança na atualidade; são a verdadeira expressão da banalidade do mal institu-
cionalizada e amparada pelo regimento da dor e do sofrimento do outro que nada tem a mais 
do que a singularidade de ser humano.
Por fim, para que não haja a repetição dos absurdos relatados nos dois casos apresen-
tados ao longo do texto que, em cada um deles, 60.000 (sessenta mil) pessoas perderam a 
vida, faz-se necessária a implementação de medidas que viabilizem e devolvam a dignidade 
dos pacientes em medida de segurança para se efetivar os preceitos da Lei 10.216/2001 e da 
Carta Magna de 1988.
BIBLIOGRAFIA
AGAMBEN, G. Homo sacer: o poder soberano e a vida nua I. Trad. Henrique Burigo. Belo Horizonte: 
Editora UFMG, 2002;
______. O que resta de Auschwitz: o arquivo e a testemunha. Trad. Selvino J. Assmann. São Paulo: 
Boitempo, 2008;
ARBEX, D. Holocausto brasileiro. 1. ed. São Paulo: Geração Editorial, 2013;
ARENDT, Hannah. As perplexidades dos Direitos do Homem. In: Origens do totalitarismo. Trad. Rober-
to Raposo. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 324-336; 
BARROS, L. F. Hannah Arendt e a banalidade do mal. Disponível em: <http://emporiododireito.com.
br/hannah-arendt-e-a-banalidade-do-mal-por-luiz-ferri-de-barros/>. Acesso no dia 21 de julho de 2015 
às 10h42min;
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2009;
DINIZ, D. A custódia e o tratamento psiquiátrico no Brasil: censo 2011 [recurso eletrônico]. Brasília: 
LetrasLivres e Editora Universidade de Brasília, 2013;
GODOY, A. S. de M. O pensamento de Hannah Arendt e os paradoxos dos direitos humanos. Dispo-
nível em:<http://www.conjur.com.br/2014-set-14/embargos-culturais-pensamento-hannah-arendt-pa-
radoxos-direitos-humanos>. Acesso no dia 20 de julho de 2015 às 22 horas;
LAFER, Celso. A internacionalização dos direitos humanos: o desafiodo direito a ter direitos. In: 
AGUIAR, Odílio Alves; PINHEIRO, Celso de Moraes; FRANKLIN, Karen (Orgs.). Filosofia e direitos hu-
manos. Fortaleza: Editora UFC, 2006, p. 13-32; 
MATTOS, V de. Crime e psiquiatria: uma saída: preliminares para a desconstrução das medidas de 
segurança. Rio de Janeiro: Revan, 2006.

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