Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Resumo Municipal 2 parte Livro Nelson Nery Costa SOBERANIA E AUTONOMIA MUNICIPAL Soberania é entendido como um dos elementos do Estado, sendo a qualidade do Poder Público que o coloca acima de qualquer outro poder dentro do território estatal. Pode ser entendido, ao mesmo tempo, como: 1) autoridade para criar, modificar e extinguir lei, dentro de regras jurídicas; 2) autoridade política ou moral do Estado; 3) fonte do exercício do poder político e 4) garantia da independência de uma sociedade política. A soberania pode ser considerada sob os aspectos interno e externo. No primeiro, predomina a ideia de que o Estado impera sobre qualquer outra instituição no domínio do seu território, estando indivíduos e sociedades formadas por estes submetidos ao poder estatal. Externamente, nas relações internacionais os Estados encontram-se numa posição de igualdade e, não, de dependência. No plano interno, o Poder Público se encontra numa posição de absoluta supremacia, estando abaixo os súditos, que lhe devem obediência, enquanto no plano externo o Estado fica em posição de igualdade em relação aos outros Estados. No Estado federal, por outro lado, aparece um único sujeito de direito na ordem internacional, quando houver necessidade de exteriorização da vontade soberana, da summa potestas. No âmbito interno, no entanto, existem outras coletividades dotadas de autonomia, poder que permite aos Estados federados auto- organizarem-se, mas com limitações óbvias em relação à soberania. A superioridade daqueles sobre esses está patente nos preceitos da Constituição Federal, que impõe limitação aos ordenamentos dos Estados-Membros, em matéria relativa à forma de governo, às relações entre poderes, à ideologia, à competência legislativa e à solução dos litígios na esfera judiciária. Os Estados-Membros não são Estados propriamente ditos, por não disporem de soberania, estando subordinados ao Estado federal, além de terem as suas mesmas características políticas. Esse fixa a organização do todo, abrindo competência àqueles para especificar suas atribuições. No Brasil, os Estados-Membros, obrigatoriamente, organizam-se em municipalidades, de acordo com os parâmetros constitucionais, sendo a lei orgânica do Município, de acordo com o art. 29 da Constituição de 1988, de competência da Câmara Municipal, que a promulga como poder organizacional municipal. A autonomia, para o mesmo autor, “significa a capacidade ou poder de gerir os próprios negócios dentro de um círculo prefixado pelo ordenamento jurídico que a embaça”. A soberania vem a ser o poder absoluto do Estado, já a autonomia, ainda que represente um poder de auto-organização, está limitada por aquela, sendo a primeira a noção de um poder originário, enquanto a outra, de um poder derivado. Observe-se, ainda, que a autonomia do Município é menor do que a do Estado- Membro, porque a forma de organização daquele está condicionada aos princípios da Constituição estadual, que só não pode ofender o texto constitucional federal. A autonomia tem limites, pois caso contrário seria soberania. Já hoje se observa duas espécies de autonomia, a estadual e a municipal, cada uma dando a dimensão do poder dessas entidades federadas. Ainda que mais restrita, condicionada pelo peculiar interesse, não se pode negar a autonomia dos Municípios e de sua integração ao sistema federativo. A autonomia municipal varia muito de amplitude, encontrando-se relacionada com a matéria que abrange. Inicialmente, e de forma mais tímida, existe a autonomia administrativa, que é atribuída inclusive para entidades territoriais dos Estados unitários descentralizados. Depois, vem a autonomia financeira, que já representa uma maior competência, porque prevê a decretação, a arrecadação e a utilização de tributos. Em seguida, já aí caracterizando os Municípios dos Estados federados, existe a autonomia política, definível pela eletividade dos agentes políticos municipais. Por fim, destacando-se o tratamento dado pela Constituição de 1988, no Brasil, vem a autonomia legislativa, que prevê a possibilidade de o Município elaborar uma quase Constituição, representando o mais alto escalão de autonomia. AUTONOMIA ADMINISTRATIVA A autonomia administrativa é uma das primeiras formas de descentralização administrativa indicando uma tendência de afastar o poder decisório de algumas questões do centro político. Ocorre, ainda, que, para haver a descentralização, necessário se faz que a responsabilidade pelos serviços locais seja destinada a um órgão dotado de personalidade jurídica, para que tenha capacidade de gerir seus serviços. Caso este órgão conserve uma dependência com o centro político, mesmo com relativo poder decisório, existe apenas desconcentração. Se o órgão tiver autonomia para decidir sobre as questões locais, sem dependência absoluta e hierárquica, há aí descentralização administrativa. O grau de descentralização varia bastante, de acordo com a forma pela qual o Estado se organiza. Os Municípios, no Estado federal, têm suas competências definidas na Constituição. A autonomia administrativa compreende a gestão dos serviços locais, isto é, aqueles em que o interesse municipal é maior do que o federal ou o estadual. Cabem à municipalidade os serviços públicos locais, em que existe um interesse preponderantemente local sobre o estadual ou federal, inclusive os serviços de utilidade pública. “Cabem à municipalidade os serviços públicos locais, em que existe um interesse preponderantemente local sobre o estadual ou federal, inclusive os serviços de utilidade pública. O provimento de tais negócios cabe exclusivamente ao Município interessado, não sendo lícita a ingerência de poderes estranhos, sem ofensa à autonomia local. Pode e deve o Município repelir tais interferências, partam elas de outro Município, do Estado-Membro ou da União, através de qualquer de seus órgãos ou Poderes. E, não sendo possível ao Município ofendido em sua autonomia convencer administrativamente o poder estranho a cessar a sua intromissão, poderá recorrer ao Judiciário para anular o ato concreto de interferência inconstitucional.” Em que pese a expressão peculiar referir-se a especial, próprio, privativo de uma pessoa ou coisa, a doutrina tem entendido que o traço que torna diferente o interesse local é a predominância, jamais a exclusividade. Não obstante o caráter positivista, existe uma consciência entre os habitantes de determinadas áreas, das necessidades e pleitos comuns, que se diferenciam do de outras áreas, em quantidade e qualidade. De modo geral, a Administração mais geral não tem condições de perceber a sutileza de tais interesses, sendo incapaz de assegurar as satisfações localizadas. Observa PINTO FERREIRA que “os interesses peculiares dos Municípios são os que entendem imediatamente com as suas necessidades locais, e, indiretamente, em maior ou menor repercussão, com suas necessidades gerais” Os assuntos de interesse local são aqueles em que existe uma predominância dos interesses dos habitantes de determinada área, em que o Município, como entidade pública, tem maiores condições de resolver e implementar que as demais entidades federadas. É imensa a gama de atividades atribuídas aos agentes públicos do Município, sendo-lhes fixadas competências de natureza administrativa, mas também política, onde se ressalva sua autonomia, observados os critérios de conveniência e oportunidade, que nem sequer o Judiciário pode violar – Ex. Transporte, instrução primária, saneamento, assistência social, sinalização de vias públicas... AUTONOMIA FINANCEIRA O Município faz sua própria administraçãoem razão de sua autonomia em matéria de interesse local, mas esta só se efetiva se também lhe for concedido poder para ter sua renda, independente de outras entidades federadas. O poder para arrecadar os seus tributos e aplicar suas rendas, de acordo com os respectivos orçamentos, vem a se constituir na autonomia financeira. A competência tributária exclusiva é essencial para se assegurar a organização dos serviços públicos locais. Cabe ao Município, em primeiro lugar, instituir o tributo, através de lei, já que só se pode instituí-lo assim; por outro lado, não pode ser cobrado em cada exercício sem que tenha sido instituído ou aumentado antes do início do exercício financeiro. Arrecadado o tributo pelo Município, fica ao critério da Administração local a aplicação, não dependendo do Estado-Membro ou da União, devendo apenas haver previsão orçamentária. A Constituição de 1988 atribuiu competência ao Município para “instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei” (art. 30, III, CF). Couberam-lhe, especificadamente, impostos sobre propriedade predial e territorial urbana; transmissão inter vivos, a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis; e serviços de qualquer natureza (art. 156, CF). Foi-lhe atribuída, também, competência para instituir taxas, contribuições de melhoria (art. 145, I e II, CF) e contribuição, cobrada de seus servidores, para o custeio, em benefícios destes, de sistema de previdência e assistência social (art. 149, parágrafo único). A taxa é a prestação pecuniária devida à pessoa jurídica de direito público, com base em lei, sendo receita derivada cobrada em razão do interesse público da atividade desempenhada pela Administração. O Município recebe, ainda, a arrecadação do imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza, incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a qualquer título (art. 158, I, CF) e parte do produto do imposto territorial rural, imposto sobre a propriedade de veículos automotores e imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação (art. 158, II a IV, CF), além de ter receita do Fundo de Participação dos Municípios (art. 159, I, b, CF). A autonomia financeira compreende, ainda, a cobrança de tarifas pela manutenção de serviços públicos; produto da receita industrial e a gerência do seu patrimônio, com bens móveis e imóveis de qualquer natureza; disponibilidade das cotas dos fundos federais; obtenção de empréstimos na medida de sua capacidade de endividamento ou, se acima dela, com autorização do Senado e, por fim, as multas originadas do seu poder de polícia. A competência financeira do Município obedece às normas gerais federais, quanto ao processo tributário, a orçamentarização, a arrecadação, a despesa pública, a licitação e a prestação de contas. Por outro lado, a fiscalização municipal é exercida pela Câmara Municipal, mediante controle externo, com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados ou do Município ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios (art. 31, CF). No Brasil, o Município goza de autonomia para aplicar as receitas que a Constituição lhe reservou, traçando sua política tributária e investindo suas rendas, consoante plano plurianual, lei de diretrizes orçamentárias e orçamento. A autonomia financeira é quem assegura a autonomia administrativa e a autonomia política. AUTONOMIA POLÍTICA A autonomia política do Município implica a qualidade atribuída para estruturar os Poderes Políticos locais, bem como o relacionamento entre eles. A municipalidade tem a capacidade, então, para organizar e constituir o seu próprio governo. Em que pese não haver uma hierarquia entre as três entidades federadas, deve haver uma limitação à forma de organização, pois são obrigatórios os princípios estabelecidos nas Constituições Federal e Estadual. A autonomia política do Município implica a qualidade atribuída para estruturar os Poderes Políticos locais, bem como o relacionamento entre eles. A municipalidade tem a capacidade, então, para organizar e constituir o seu próprio governo. Em que pese não haver uma hierarquia entre as três entidades federadas, deve haver uma limitação à forma de organização, pois são obrigatórios os princípios estabelecidos nas Constituições Federal e Estadual. A Constituição de 1988 dispôs que os Municípios elaborariam Leis Orgânicas, observados os princípios contidos nas Constituições estaduais e outros princípios fixados por ela própria. Logo no inciso I do seu art. 29 foi estabelecida a regra geral da eletividade dos cargos políticos municipais, determinando a “eleição do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Vereadores, para mandato de quatro anos, mediante pleito direto e simultâneo realizado em todo o País”. Foi fixado, ainda, que o julgamento do Prefeito deve ser perante o Tribunal de Justiça do Estado, de acordo com inciso X do art. 29 da Carta Magna. O foro privilegiado trata-se de uma competência ratione personae, estabelecida pela função que a pessoa exerce e procurou amparar a dignidade e eminência do cargo. Entende- se que essa competência seria também para o julgamento dos crimes ordinários, isto é, aqueles que envolvam atos da vida, caso sejam praticados no exercício do mandato. Observe-se que o mesmo não sucede com o Vice-Prefeito, que só teria este privilégio se estivesse no exercício do mandato. O número de vereadores deve ser proporcional à população do Município, observados os limites constitucionais, previstas nas alíneas do inciso IV do art. 29. Foi assegurada ao Vereador, ainda, inviolabilidade por suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição do Município, de acordo com o atual inciso VIII do art. 29 do texto constitucional. Observe-se que o texto não se refere à imunidade, que seria mais ampla, apenas à inviolabilidade restrita à circunscrição do Município, ainda que não limitada ao recinto da Câmara Municipal. A imunidade seria uma garantia de natureza processual, prerrogativa constitucional de não ser processado por quaisquer crimes, sem autorização da respectiva corporação, enquanto durar o mandato, ao passo que a inviolabilidade é tão somente a exclusão da punibilidade na prática de certos atos dos agentes públicos no desempenho de suas funções. AUTONOMIA LEGISLATIVA E LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO A lei de organização dos Municípios, antes da atual Constituição Federal, era uma lei estadual, votada pela Assembleia Legislativa e sancionada pelo Governador do Estado. Apenas o Rio Grande do Sul, desde o início da República, inseriu em sua Constituição Estadual a competência para as municipalidades auto-organizarem-se através de uma Lei Orgânica Municipal. Depois, o Paraná e a Bahia adotaram a mesma posição. A Constituição de 1988 revolucionou a questão, estabelecendo que as próprias municipalidades elaborariam suas Leis Orgânicas, dentro do espírito de conceder uma real autonomia. O Município é uma entidade federada, como se depreende dos caputs dos arts. 1º e 18 do texto constitucional, devendo ser aplicada a simetria constituinte dos poderes de Governo, de modo que as Câmaras Municipais, eleitas diretamente pelo povo, são legitimamente titulares do poder organizante para aprovar e promulgar tais leis. A Lei Orgânica do Município é uma lei especial, assemelhada à Constituição, sendo discutida exclusivamente pelo Poder Legislativo local, sem qualquerintervenção do Poder Executivo. Adequando-se aos princípios constitucionais federais e estaduais, têm competência os Vereadores Organizantes para transferirem para o seio da Lei Orgânica Municipal as aspirações da comunidade em termos de estruturação do Governo do Município. As disposições constitucionais, bem como as competências enumeradas, previstas nos arts. 30, 156, 158 e 182 da Constituição Federal, e as competências comuns, encontradas no art. 23 do mesmo texto, além das competências implícitas, decorrentes do entendimento das matérias em que há nítido interesse local, oferecem condições excepcionais para delinearem a organização municipal. A atuação do legislador municipal é limitada, tendo em vista os princípios gerais a serem seguidos originarem-se da Constituição Federal e dos princípios especiais da Constituição Estadual. Por outro lado, as competências exclusivas e comuns já expressas, além dos preceitos contidos nos incisos do art. 29 do texto constitucional federal restringem ainda mais as atribuições dos Vereadores Organizantes. A autonomia legislativa do Município engloba também a competência para legislar sobre assuntos de interesse local, inclusive suplementar a legislação federal e estadual no que couber, de acordo com os incisos I e II do art. 30 do texto constitucional. Legislação local abrange não apenas as leis votadas pela Câmara e promulgadas pelo prefeito, mas também os Regulamentos emanados do Executivo, em matéria que tem tal atribuição. Por outro lado, suplementar a legislação federal e estadual compreende tratar de matérias que, originalmente, não fazem parte da competência municipal, mas, havendo interesse local, o assunto pode ser objeto de legiferação do Município, no que não conflitar com as disposições da União e do Estado. Na Lei Orgânica deve estar prevista competência municipal para editar lei complementar e lei ordinária. Necessário se faz estabelecer processo legislativo para disciplinar a matéria, exigindo-se quórum de maioria absoluta para aquelas que devem tratar dos códigos tributários, de obras e de edificações, do plano diretor, da lei de ordenamento, uso e ocupação do solo, do estatuto do servidor público municipal, da divisão territorial do Município e de outras matérias de maior vulto. As questões que, pela sua natureza, não precisem de lei complementar, podem ser editadas por lei ordinária, com o quórum de maioria simples, como as leis orçamentárias, bem como outras que tratem dos serviços públicos locais. A competência legislativa do Município não pode ser objeto de turbação ou ameaça, devendo ser assegurada pelo Poder Judiciário, como já vem sendo feito. INTERVENÇÃO DOS ESTADOS NOS MUNICÍPIOS A intervenção é a forma pela qual se assegura o primado da soberania nacional, contra os atos desagregadores vindos dos Estados ou dos Municípios. No Estado federal existem várias estruturas organizacionais, que precisam ser ordenadas segundo uma lógica de competência e responsabilidade. Deve-se zelar para que a ordem seja mantida e preservadas a harmonia e a independência que deve haver entre as entidades federadas. Os Estados-Membros e os Municípios têm autonomia, mas esta se encontra condicionada pelos preceitos constitucionais e pela necessidade de preservar o País unificado. Não podem extrapolar os limites de suas competências, sob pena de sofrerem intervenção, que precisa ser enquadrada em determinada situação previamente descrita na Constituição Federal. A intervenção é justamente o ato de um poder central interpor a sua autoridade sobre outra entidade. Trata-se de uma regra excepcional, mas que faz parte do princípio federativo, pois vem a ser ela que lhe dá sustentação política e executoriedade. A Constituição de 1988 diminuiu as situações que proporcionavam intervenção federal de modo geral, mas introduziu nova modalidade, quando há violência contra o Município, nos seguintes termos: “Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para: [...] V – reorganizar as finanças da unidade da Federação que: [...]; b) deixar de entregar aos Municípios receita tributária fixada nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei; [...] VII – assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: [...] c) autonomia municipal”. A ideia aí foi de assegurar que os Municípios fossem efetivamente autônomos e que este poder não devia ser violado por qualquer pretexto, sob pena de os Estados- Membros estarem sujeitos à sanção promovida pela intervenção federal. Por outro lado, o Estado-Membro encontra-se limitado na sua intervenção, pela seguinte situação: “Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos Municípios localizados em território Federal, exceto quando: I – deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos consecutivos, a dívida fundada; II – não forem prestadas contas devidas, na forma da lei; III – não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manutenção e desenvolvimento do ensino; IV – o Tribunal de Justiça der o provimento a representação para assegurar a observância de princípios indicados na Constituição Estadual, ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial”. “Art. 36. [...] § 1º O decreto de intervenção, que especificará a amplitude, o prazo e as condições de execução e que, se couber, nomeará o interventor, será submetido à apreciação do Conselho Nacional ou da Assembleia Legislativa do Estado, no prazo de vinte e quatro horas. § 2º Se não estiver funcionando o Congresso Nacional ou a Assembleia Legislativa, far-se-á convocação extraordinária, no mesmo prazo de vinte e quatro horas. § 3º No caso do art. 34, VI e VII, ou do art. 35, IV, dispensada a apreciação pelo Congresso Nacional ou pela Assembleia Legislativa, o decreto limitar-se-á a suspender a execução do ato impugnado, se essa medida bastar ao restabelecimento da normalidade. § 4º Cessados os motivos da intervenção, as autoridades afastadas de seus cargos a estes voltarão, salvo impedimento legal” A intervenção dos Estados-Membros nos Municípios é medida de caráter excepcional, posto que se trata de uma violação à autonomia municipal, só podendo ser decretada se for para assegurar os interesses da Administração Pública. Ela ocorre através de um decreto motivado do Governador, no qual nomeia o interventor e indica as razões pelas quais tomou a decisão, bem como especifica os limites e os fins da ação, que pode afetar tanto a Prefeitura, com os seus órgãos de administração indireta, como a Câmara Municipal. O decreto do Governador deve ser referendado pela Assembleia Legislativa, no prazo de 24 horas, dispensado este quando o Tribunal de Justiça do Estado foi que deu provimento à representação para assegurar a observância dos princípios da Constituição estadual ou para prover a execução da lei, de ordem ou de decisão judicial (art. 36, §§ 1º e 2º, CF). Caso haja excessos na intervenção, cabe ao Poder Judiciário exercer seu controle sobre os atos administrativos, inclusive anulando a esta. Pode a mesma ser solicitada por qualquer cidadão, ainda que seja normal que o Presidente da Câmara Municipal peça ao Governador, nas situações previstas nos incisos I a III do art. 35 da Constituição Federal, que também pode agir de ofício, ou o Procurador-Geral de Justiça represente ao Tribunal de Justiça do Estado, na situação descrita no inciso IV desse artigo. A ausência de pontualidade no pagamento de dívida fundada, sem motivo de força maior, por dois anos consecutivos, prevista no art. 35, I, do texto constitucional, possibilita a ocorrência de intervenção.Também se “não forem prestadas contas devidas, na forma da lei” (art. 35, II, CF), pode resultar na intervenção pelos Estados-Membros. Causa, ainda, a intervenção se “não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde” (art. 35, III, CF). O mínimo previsto, para os Municípios, é de 25% (vinte e cinco por cento) da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, de acordo com o caput do art. 212 da Constituição Federal. Os recursos devem ser aplicados, prioritariamente, nos ensinos fundamental e pré-escolar (art. 211, § 2º, CF). Por fim, se não houver cumprimento aos princípios estabelecidos na Constituição Estadual ou estejam a dificultar ou impedir a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial, pode haver a intervenção dos Estados-Membros nos Municípios, de acordo com o art. 35, IV, da Constituição Federal. Observe-se que a lei acima referida é no sentido material, englobando lei federal, estadual ou municipal, inclusive decreto regulamentar. Não está o Prefeito Municipal obrigado a cumprir lei municipal inconstitucional, mas deve justificar a recusa, para não ser responsabilizado criminalmente por infração ao inciso XIV do Decreto-lei n. 201, de 27.02.1967. RESPONSABILIDADE CIVIL DO MUNICÍPIO A responsabilidade civil vem a ser a sanção imposta pelo direito ao autor de um ato que lesionou a ordem jurídica. A pessoa que cometeu a lesão é chamada para responder pelo fato de forma civil, penal e administrativa. A responsabilidade civil implica a reparação econômica da vítima, por ter sido lesionada. O Poder Público, no exercício de suas funções, também pode praticar uma lesão contra um administrado e, por conseguinte, responder patrimonialmente pelo dano. Pela teoria do risco administrativo cabe a indenização ao lesionado por ato danoso praticado pelos agentes públicos, independente da existência de dolo ou culpa, vide art. 927, parágrafo único CC. A teoria do risco é a da responsabilidade objetiva, ou seja, a Administração deve reparar o dano causado por agente seu, independente de ter havido culpa ou não. Assim, todo dano deve ser reparado por quem assume o risco de efetuar uma atividade, da qual pode resultar um dano. Deve haver a indenização porque o Poder Público praticou um ato ilícito, em primeiro lugar. O Município, com a teoria do risco, responde por qualquer ato que provocar um dano por agente seu, posição reafirmada com a redação do § 6º do art. 37 da Constituição Federal, tanto as pessoas jurídicas de direito público como as de direito privado prestadoras de serviços públicos. Foi assegurado ao Poder Público, todavia, o direito de regresso contra o agente responsável pela lesão, nos casos de dolo ou culpa. RESPONSABILIDADE DO PREFEITO A responsabilidade do Prefeito pode ser penal, político-administrativo e civil, em razão da natureza do ilícito. A responsabilidade penal resulta do cometimento de crime ou de contravenção, podendo ser crime funcional, especial ou comum. A responsabilidade político-administrativa origina-se da violação de deveres funcionais por parte do Prefeito, estando sujeito ao controle da Câmara, previsto nos arts. 4º e 5º do Decreto-lei n. 201, de 27.02.1967. O processo e julgamento ocorrem no Legislativo que, assim, assume funções judiciais, de maneira excepcional. A cassação do mandato do Prefeito pode ser a sanção que este sofra por ter conduta irregular na Administração local, pondo em risco a própria estabilidade política e financeira do Município. A responsabilidade civil do Prefeito resulta de conduta culposa ou dolosa no desempenho do cargo, caso provoque danos aos Municípios ou a terceiro, sendo a regra geral a que se sujeitam todos os agentes públicos, de acordo com o art. 37, § 6º, da Constituição Federal. Em razão da responsabilidade objetiva, o ônus é da Fazenda Pública Municipal que, no entanto, tem assegurado o direito de regresso contra o responsável no caso de dolo ou culpa, que pode ser o Chefe do Executivo local. RESPONSABILIDADE DO VEREADOR O Vereador é suscetível da responsabilidade político-administrativa. A Câmara pode cassar o mandato de Vereador, conforme o art. 7º do Decreto-lei n. 201, de 27.02.1967, quando: “I – Utilizar-se do mandato para a prática de atos de corrupção ou de improbidade administrativa; II – Fixar residência fora do Município; II – Proceder de modo incompatível com a dignidade, da Câmara ou faltar com o decoro na sua conduta pública”. O processo de cassação de mandato de Vereador é, no que couber, o estabelecido no art. 5º deste decreto-lei. “O Presidente da Câmara pode afastar de suas funções o Vereador acusado, desde que a denúncia seja recebida pela maioria absoluta dos membros da Câmara, convocando o respectivo suplente, até o julgamento final. O suplente convocado não intervirá nem votará nos atos do processo do substituído”. A denúncia escrita da infração pode ser feita por qualquer eleitor, com a exposição dos fatos e a indicação das provas. Se o denunciante for Vereador, fica impedido de votar sobre a denúncia e de integrar a Comissão processante, podendo, todavia, praticar todos os atos de cassação. Se o denunciante for o Presidente da Câmara, passa a Presidência ao substituto legal, para os do processo, e só vota se necessário para completar o quorum de julgamento. Convoca-se o suplente do Vereador impedido de votar, o qual não pode integrar a Comissão processante. RESPONSABILIDADE FISCAL DO MUNICÍPIO A Lei Complementar n. 101, de 04.05.2000, estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal, com amparo no Capítulo II, Das Finanças Públicas, do Título VI, Da Tributação e do Orçamento, da Constituição Federal. Responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, através do cumprimento de metas de resultados entre receitas e despesas (art. 1º, LRF). No mesmo sentido, deve haver a obediência no que tange a renúncia de receita, geração de despesas com pessoal, da seguridade social e outras, dívidas consolidadas e mobiliária, operações de crédito, inclusive por antecipação de receita, concessão de garantia e inscrição em restos a pagar. As disposições desta Lei Complementar n. 101, de 04.05.2000, obrigam a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.
Compartilhar