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CAPÍTULO 3 GESTÃO DE ESTOQUES A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Compreender os processos e controles de estocagem. Estabelecer propostas de controle de estoque. Entender como avaliar níveis de estoque. 66 GESTÃO DO AGRONEGÓCIO II 67 GESTÃO DE ESTOQUES Capítulo 3 CONTEXTUALIZAÇÃO A gestão de estoques é o tópico abordado no Capítulo 3, em que será discutido o conceito de estoque, suas funções e objetivos, bem como os aspectos da previsão de demanda, das estimativas de custos de estoque e alguns sistemas de gestão de estoques. Após este capítulo, você deverá compreender os processos de planejamento de estoques, algumas considerações quanto ao impacto de manter altos ou baixos estoques nas organizações e algumas particularidades destas situações para o agronegócio. Os estoques são compostos de materiais que a empresa não está utilizando. Quanto aos estoques, vamos aprofundar técnicas e estratégias de gestão, além de ferramentas que possam auxiliar nessa atividade. Para tanto, serão apresentadas a gestão dos custos totais de estoques e sua relevância para a tomada de decisão das organizações de manter ou não um estoque de materiais, bem como as consequências com relação aos níveis de estoques que serão mantidos. A questão central deste capítulo é a compreensão de que o planejamento e o controle dos estoques são tarefas complexas, mas que impactam profundamente na lucratividade das empresas e devem ser gerenciadas da forma mais racional e efi ciente o quanto seja possível. Para tanto, podem ser aplicadas diversas ferramentas e estratégias, algumas das quais serão discutidas a seguir. CONCEITO DE ESTOQUE Estoque é uma composição de materiais em processamento, semiacabados, fi nalizados, que não estão sendo utilizados pela organização, mas que devem estar disponíveis para o uso no futuro (CHIAVENATO, 1991). Os estoques são mantidos pelas empresas por vários motivos, como para evitar incertezas, para fundamentar planejamentos estratégicos e para obter vantagens de economia de escala. Assim, há quatro tipos de estoque, conforme o quadro, a seguir: 68 GESTÃO DO AGRONEGÓCIO II Quadro 4 – Os quatro tipos de estoques Tipos de es- toques Descrição Referências Estoque de proteção Serve como gargalo e assegura que sem- pre haja trabalho e produção constante. Aquilano, Chase e Ja- cobs (2006). Estoque cíclico Parcela do estoque total que varia direta- mente com o tamanho do lote. Ritzman e Krajewski (2004). Estoque de ante- cipação Estoque usado para absorver taxas irreg- ulares de demanda ou fornecimento. Ritzman e Krajewski (2004). Estoque de canal Bens em trânsito entre pontos de um sistema de distribuição ou entre postos em uma fábrica. Slack, Chambers e Johnston (2002). Fonte: A autora. Defi nir o nível de estoque em que o sistema produtivo vai operar é uma das mais importantes funções da programação da produção, pois, por um lado, o estoque representa custos para a organização, mas, por outro, é essencial para o funcionamento da fi rma, uma vez que pode provocar interrompimentos na produção e o não atendimento aos clientes (ABREU, 1997). Manter estoques também é considerado como uma garantia de competitividade, pois permite às empresas agir rapidamente frente a oportunidades (BALLOU, 1993). Apesar de sua importância, os estoques podem representar de 20% a 60% dos ativos totais no balanço patrimonial das empresas, por isso são tão importantes em termos fi nanceiros (CHIAVENATO, 2005). Isto acontece porque quando os estoques são convertidos em valor (dinheiro), o fl uxo de caixa melhora, pois temos mais dinheiro disponível, gerando o retorno dos investimentos. GESTÃO DE ESTOQUE O gerenciamento dos estoques é fundamental para a rentabilidade das empresas. As estratégias de gestão de estoques abarcam a obtenção de vantagens competitivas nas decisões relacionadas à compra, armazenamento, venda e distribuição de produtos. A gestão de estoques é o gerenciamento dos recursos ociosos, que tenham valor econômico e que são destinados a atender às futuras necessidades da empresa. Dessa forma, seu objetivo é manter os recursos ociosos (inventário) em equilíbrio constante, conforme o nível econômico ideal dos investimentos. Na prática, o controle dos estoques busca manter o mínimo de investimentos 69 GESTÃO DE ESTOQUES Capítulo 3 engessados nos estoques (estoques mínimos), tentando ao mesmo tempo garantir o suprimento adequado para que a empresa possa responder rapidamente às demandas e necessidades de seus clientes (PRIDE; FERREL, 2001; SLACK; CHAMBERS; JOHNSTON, 2002). Segundo Pozo (2016), o termo controle de estoques representa a necessidade de estipular os níveis de materiais (matérias-primas) que a organização deve manter, dentro de parâmetros econômicos. E o motivo pelo qual é preciso tomar uma decisão acerca das quantidades dos materiais a serem mantidos em estoques está ligado aos custos associados tanto ao processo como ao ato de estocar. Para gerir os estoques das empresas, torna-se necessário conhecer suas funções principais, buscando determinar o que deve ser estocado, o número de itens; quando devem ser reabastecidos, periodicidade; determinar o estoque necessário para um período predeterminado; receber, armazenar e atender aos materiais estocados; controlar os estoques quanto à sua quantidade e valor, além de fornecer informações sobre os níveis do estoque; manter inventários periódicos para a avaliação das quantidades e o estado dos materiais; e fi nalmente, age na identifi cação e retirada de itens desnecessários (obsoletos e/ou danifi cados) dos estoques (DIAS, 2005). Em relação a dois pontos, a gestão de estoques torna-se ainda mais importante: operacional e fi nanceiro, conforme Slack, Chambers e Johnston (2002): Ponto de vista operacional: os estoques permitem economizar na produção e regulam os ritmos diferentes dos fl uxos da organização, especialmente nas indústrias, onde os estoques regulam a velocidade de fl uxo para a produção. Ponto de vista fi nanceiro: os estoques são investimentos e integram o capital das empresas. Assim, quanto maiores forem os estoques, maior é o capital total. Estes recursos fi cam fi xados nos estoques e a empresa perde a oportunidade de investir em outras estratégias e de manter capital de giro. Dada sua importância, a gestão de estoques é responsável pela tomada de algumas decisões relevantes e complexas pelas empresas. 70 GESTÃO DO AGRONEGÓCIO II Figura 14 – Decisões estratégicas para a gestão dos estoques Fonte: Adaptado de Chiavenato (2005). Podemos citar entre os objetivos do controle: assegurar o suprimento adequado de matéria-prima e insumos ao processo de fabricação; manter o nível de estoque o mais baixo possível para atendimento compatível às necessidades vendidas; não permitir condições de falta ou excesso em relação à demanda de vendas; manter as quantidades em relação às necessidades e aos registros (POZO, 2016). Considerando os vários aspectos que envolvem a gestão de estoques, pode-se dizer que esta busca fundamentalmente reduzir o custo total dos estoques. Visto que os custos são uma questão importante para o gerenciamento dos estoques, daremos atenção especial a esta questão na próxima seção. Neste trabalho temos um exemplo de gestão de estoques como ferramenta estratégica em cooperativas extrativistas <http://bdm.unb. br/bitstream/10483/9237/1/2014_CarlosRafaelPires.pdf>. CUSTOS DE ESTOQUE Considerando a importância dos custos na gestão dos estoques, é fundamental analisar profundamente as despesas com este setor para poder tomar decisões quanto ao nível de estoquee demais estratégias em que a empresa deve incorrer. Mais ainda, historicamente os custos da produção agropecuária no Brasil são menores do que os de outros países, mas as cadeias 71 GESTÃO DE ESTOQUES Capítulo 3 O custo de oportunidade é considerado na economia como o custo de algo pelo qual se está renunciando, seja em termos econômicos, de oportunidades ou quaisquer outros benefícios que a empresa possa perder por optar por um investimento ao invés de outro. produtivas, neste país, também são menos efi cientes e competitivas (ARAÚJO, 1995). Manter ou não estoques é uma decisão que deve ser baseada em todos os custos necessários para manter uma quantidade de materiais por um período de tempo (BALLOU, 1993). Figura 15 – Alguns custos descritos por este autor Fonte: Adaptado de Ballou (1993). Antes de calcular o custo fi nanceiro do estoque, torna-se necessário avaliar o custo de oportunidade, que pode ser referido a uma possível perda de rendimentos pela seleção de um investimento ao invés de outros. Em resumo, o custo fi nanceiro do estoque seria um possível rendimento que o capital que foi imobilizado teria, no caso de ser utilizado em outros projetos e investimentos da organização. 72 GESTÃO DO AGRONEGÓCIO II NÍVEIS DE ESTOQUE O controle de estoques e a defi nição de quais níveis de estoques serão mantidos pelas organizações são defi nidos pela empresa e pelo setor de estoque. Atualmente, grande parte das empresas possui um setor responsável pela gestão de estoques, pois trata-se de um grande desafi o planejar e controlar os estoques mantendo níveis adequados, ou seja, que não aumentem os custos, nem comprometam o processo de produção (BALLOU, 1993). Em relação ao nível de manutenção dos estoques, a administração de materiais busca minimizar as falhas no atendimento, trabalhando com níveis de estoque (mínimo, médio e máximo). Neste sentido, o estoque mínimo (ou reserva) representa a quantidade de materiais que deve ser mantida em estoque para prevenir oportunidades ou emergências. O estoque médio é o nível médio de estoque, em torno do qual as operações de suprimento e consumo se realizam (CORRÊA; GIANESI; CAON, 2001). Atualmente, os empresários têm buscado ao máximo descobrir fórmulas de diminuir os estoques, sem aumentar os custos e sem comprometer a produção (DIAS, 2005). Por outro lado, manter altos níveis de estoques possibilita o atendimento imediato de encomendas de clientes, o que auxilia o setor de vendas que, com estoques elevados e diversifi cados, consegue negociar com prazos mais curtos ou até imediatos para entregar os pedidos. Além disso, o estoque máximo representa a quantidade máxima de materiais que a empresa deve manter para assegurar o consumo até que receba o próximo lote de reposição. Operando acima desse nível, as organizações estão expostas a desperdícios de recursos que foram investidos em materiais (CORRÊA; GIANESI; CAON, 2001). As empresas que operam com grandes estoques devem ser gerenciadas por sistemas informatizados, em que a coleta de dados é efetivada cada vez que uma transação é realizada, sendo que esta informação é registrada automaticamente, apoiando o processo de tomada de decisão quanto à quantidade de materiais solicitados (reposição do estoque) (SLACK; CHAMBERS; JOHNSTON, 2002). Estes sistemas possibilitam também que os gestores possam ter acesso às informações a qualquer momento. 73 GESTÃO DE ESTOQUES Capítulo 3 NÍVEIS DE ESTOQUES EM ORGANIZAÇÕES A produção pode aumentar o inventário se considerar um tempo de entrega do fornecedor maior do que o necessário, se os pedidos forem baseados em tempos de ciclo de produção menores que os necessários ou se projetar muitos estoques de segurança por medo de atraso de entrega pelos fornecedores. No caso da indústria, o aumento do nível e do custo do inventário pode ser causado também pelo excesso de paradas dos equipamentos para manutenção, por baixa efi ciência dos operadores, se antecipar o término do processo produtivo antes do prazo de entrega ao cliente ou se aceitar constantes pedidos não programados. As empresas buscam cada vez mais a redução dos estoques com garantias de disponibilidade de produto aos clientes, mantendo um ótimo nível de serviço com vantagens competitivas. A diversidade crescente de produtos torna mais complexa e trabalhosa a gestão dos níveis de estoque e o elevado custo de oportunidade de capital tem tornado a posse e a manutenção de estoques cada vez mais onerosas. A redução de custos logísticos infl uencia a gestão de estoques, pois aumenta a efi cácia dos transportes, armazenagem e processamento de pedidos. A diminuição nos custos de movimentação permite à empresa operar com lotes de ressuprimento menores, sem afetar a disponibilidade do produto. Fonte: Adaptado de Ballou (1993). Existem várias estratégias, métodos e ferramentas para a gestão de estoques. Com o advento das tecnologias da informação, este gerenciamento passou a ser mais efi ciente e informatizado. 74 GESTÃO DO AGRONEGÓCIO II Atividades de Estudos: 1) Quais são as consequências de a empresa manter altos níveis de estoques? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Quais são as consequências de a empresa não manter níveis sufi cientes de estoques? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ SISTEMAS DE CONTROLES DE ESTOQUES Os sistemas de estoques são defi nidos como um conjunto de políticas, ações e controles que têm o objetivo de monitorar os níveis de estoques, determinando quais os níveis de estoques devem ser mantidos; quanto o estoque deve ser reposto e; o tamanho dos pedidos que devem ser realizados (AQUILANO; CHASE; JACOBS, 2006). Porém, são diversas as opções de sistemas para este controle, e a escolha do processo mais adequado deve considerar as especifi cidades e necessidades de cada empresa, além de ponderar a diversidade de materiais, produtos e equipamentos que vão compor o estoque da organização (DIAS, 2005). Os modelos mais difundidos de gestão de estoques são baseados em três importantes questões: a frequência de avaliação do estoque, quando serão emitidos os pedidos e quando os pedidos serão realizados. Alguns desses sistemas serão descritos ao longo desta seção (CASTRO, 2005, p. 22): 75 GESTÃO DE ESTOQUES Capítulo 3 a) Lote econômico O sistema de lote econômico se baseia na lógica de que a quantidade ótima a ser produzida é aquela que possui simultaneamente o menor custo de pedido e de estoque (CASTRO, 2005, p. 22). O conceito de lote econômico foi desenvolvido em 1913, baseado na quantidade ótima a ser produzida, que apresentaria o menor custo de pedido e de estoque. Neste caso, o custo de pedido corresponde ao processo de preparação do produto, transporte e emissão do pedido (CASTRO, 2005). Segundo Ching (2006, p. 44): O lote econômico é a quantidade ideal de compra feita levando em consideração o balanceamento dos custos de manutenção e aquisição, desde quando haja informação precisa, referente à demanda e o tempo de ressuprimento. b) Lote econômico de compra “O lote econômico de compra é uma das principais ferramentas para determinar a quantidade exata de comprade materiais” (GITMAN, 2002, p. 717). O mesmo autor declara que este sistema considera vários custos operacionais e fi nanceiros, para estabelecer a quantidade a ser solicitada, que minimize os custos totais de estoque. O grande objetivo do LEC é minimizar os custos logísticos, buscando o equilíbrio entre vantagens e desvantagens de manter os estoques (BERTAGLIA, 2009, p. 348). Porém, para se calcular o lote econômico de compra é preciso que algumas premissas sejam atendidas. Figura 16 - Premissas para a realização do cálculo do lote econômico de compras Fonte: Adaptado de Graeml e Peinado (2007, p. 685). 76 GESTÃO DO AGRONEGÓCIO II Segundo Graeml e Peinado (2007, p. 686), o cálculo do LEC é estabelecido pela equação: LEC= 2x Q x Cp Ce Em que: Q = quantidade do período em unidades. Cp = custo unitário do pedido. Ce = custo de manter estoque no período, por unidade. Em geral, os sistemas mais tradicionais de reposição de estoques são inadequados, porque a demanda de materiais e componentes na produção intermitente tende a ser bastante irregular, por conta da irregularidade do plano mestre de produção e da política de formação de lotes (LAURINDO; MESQUITA, 2000). Neste vídeo temos uma aula com explicações detalhadas sobre como funciona o Lote Econômico de Compras, bem como um exemplo prático: <https://www.youtube.com/watch?v=YaK1eUuLUXk&t=32s>. c) Sistema duas gavetas O sistema de duas gavetas talvez seja o sistema mais simples para controlar os estoques (DIAS, 2005), sendo utilizado para materiais de baixo valor e pouca importância relativa na organização. Neste processo, uma das gavetas (A) é menor e comporta os materiais para o consumo durante o período de reposição e a outra gaveta (B) contém estoque para todo o período. Assim, quando o estoque de B termina (chega a ZERO), isto é um indicador de que uma nova compra ou reposição é necessária. Para não interromper os processos rotineiros da empresa durante esse tempo de compra/reposição dos materiais, os itens da gaveta A são utilizados. No momento em que o conteúdo da gaveta precisa ser usado, a equipe de vendas é notifi cada para repor estes itens. 77 GESTÃO DE ESTOQUES Capítulo 3 Uma vez que estes itens são de baixo valor, é racional não despender tempo e dinheiro no controle e gerenciamento do estoque destes itens. Entretanto, eles realmente precisam ser controlados e a alguém deve ser atribuída a tarefa de garantir que, quando o estoque de reserva é atingido, um pedido seja emitido (ARNOLD; CHAPMAN; CLIVE, 2004). d) Sistema de máximos e mínimos Usualmente, o responsável pelas compras adquire novas mercadorias quando estas acabam ou quando ele pressente que seja necessário comprar mais. O sistema de máximos e mínimos é uma opção para tornar esta decisão mais racional. Esta é uma das técnicas comuns para determinar os níveis de estoques adequados. Para tanto, são determinados o estoque mínimo; o momento de compra de novos materiais; o tempo necessário de reposição e a quantidade que deve ser comprada (POZO, 2016). Este tipo de sistema consiste na determinação do consumo estimado de materiais, na previsão do período de consumo deste material, no cálculo do ponto em que se deve fazer o pedido de novos materiais, no cálculo dos estoques mínimos e máximos e no cálculo dos lotes de compra (DIAS, 2005). Assim, o estoque mínimo é a quantidade ínfi ma de mercadoria ou matéria-prima que a empresa deve manter em estoque, sendo: Estoque mínimo = consumo médio diário x tempo de reposição. Consumo médio diário = consumo das mercadorias em um período ÷ pelos dias deste período. Por outro lado, a determinação do estoque máximo determina a quantidade máxima de um material que a empresa deve estocar. Para essa estimativa, é fundamental compreender o espaço disponível no almoxarifado; o custo total de estoque, quais os lotes que precisam de mais tempo para serem consumidos, quais itens precisam de cuidados especiais, além de produtos que possuam características perecíveis ao tempo. Na fi gura a seguir são observados os estoques máximo, de reserva e médio, além do prazo de renovação dos materiais e do abastecimento das organizações. 78 GESTÃO DO AGRONEGÓCIO II Figura 17 – Gráfi co de dente de serra contendo os estoques máximos, de reserva e médios, além do prazo de renovação dos materiais e do abastecimento das organizações Fonte: A autora. Como observado na Figura 17, o tempo de reposição de um produto é uma questão muito importante, pois sua variação pode afetar a lucratividade das organizações. Caso o tempo de reposição aumente, o estoque pode fi car cheio, causando prejuízos. Por outro lado, atrasos no abastecimento podem comprometer toda a produção e atrasar a entrega dos produtos aos clientes. e) Sistema de revisões periódicas No sistema de revisão periódica, o estoque é monitorado a intervalos regulares de tempo, constantes ou fi xos. Uma particularidade interessante deste sistema é que não se restringe ao uso de sistemas informatizados para sua execução. Assim, torna-se mais disponível para empresas menores, para a agricultura familiar ou para organizações sem acesso a redes computacionais, além de ser prática para o controle de vários itens comprados de um mesmo fornecedor (HOPP; SPEARMAN, 2000). Ademais, estes modelos são baseados em eixos temporais, determinando os prazos nos quais serão implementadas as previsões de demandas e outras condições de estoque para optar pela quantidade a ser comprada na reposição, sendo que os intervalos de reposição devem ser iguais (DIAS, 2005). A determinação desse intervalo pode ser feita baseada na data de realização do inventário e do prazo de abastecimento, ou nas datas de entregas dos vários 79 GESTÃO DE ESTOQUES Capítulo 3 itens por um mesmo fornecedor como forma de garantir descontos no preço ou no transporte dos itens (SLACK, CHAMBERS; JOHNSTON, 2002). Mesmo atendendo a todas essas determinações, a difi culdade desse método é a especifi cação do período acertado entre as revisões. f) Materials Requirement Planning (MRP) O MRP classifi ca os produtos como de demanda independente ou demanda dependente. No primeiro caso, estão contidos os produtos fi nais, considerando produtos acabados, componentes de reposição. Estes itens são denominados independentes porque são defi nidos por fatores externos ao sistema de produção, conforme o mercado consumidor. Por outro lado, os produtos de demanda dependente são representados pelas matérias-primas e outros componentes ligados diretamente à produção da organização (LAURINDO; MESQUITA, 2000). Um resumo da evolução do MRP está disponível no link: <http:// www.scielo.br/pdf/gp/v7n3/v7n3a08>. Este sistema de controle de estoque utiliza princípios da informática para garantir maior precisão da quantidade dos materiais que serão comprados em determinado período (MOURA, 2006). Esta estratégia oferece a vantagem de permitir que a empresa visualize o impacto dos ajustes no planejamento, possibilitando a identifi cação de falhas e ações corretivas em tempo (SLACK; CHAMBERS; JOHNSTON, 2002). O MRP atualmente é conhecido como MRP I. A base do MRP I é a emissão de ordens de compras, que só vão ocorrer no momento em que a necessidade de atender à demanda existir e não têm o objetivo de atender aos estoques. Porém, esta primeira versão não considerou de forma adequada as restrições de capacidade do sistema produtivo, mesmo ainda sendo utilizada por algumas empresas. Posteriormente foi proposto o MRP II, que passou a incluir elementos de compras, fi nanceiros e de marketing (MOURA, 2006). Com o MRP II é possível determinar mais do que apenas os materiais da empresa, mas também os recursos de produção, como equipamentos, recursoshumanos, representando um sistema mais completo de gestão de estoques (SEVERO FILHO, 2006). Por terem se tornado mais abrangentes do que o modelo anterior, estes sistemas passaram a ser chamados de planejamento dos recursos de produção (LAURINDO; MESQUITA, 2000). lukas.silva.bastos Destacar 80 GESTÃO DO AGRONEGÓCIO II g) JUST-IN-TIME (JIT) A empresa Toyota foi a primeira organização a trabalhar com este sistema, em 1970. Seu objetivo é estabelecer uma parceria com os fornecedores para que seja possível trabalhar com estoque zero. Essa estratégia oferece uma redução considerável nos custos, além de transferir a responsabilidade de interrompimento da produção para terceiros (CORRÊA; GIANESI; CAON, 2001). Dessa forma, o conceito de empresa enxuta é utilizado, sendo eliminados os estoques desnecessários, reduzindo espaços de estocagem, equipamentos e recursos humanos que estão alocados para o estoque, dando maior ênfase ao processo produtivo da forma mais fl uente e dinâmica possível, considerando as perdas do processo. NÍVEIS DE ESTOQUES EM ORGANIZAÇÕES. O sistema Lean Production representa uma fi losofi a que busca a identifi cação e eliminação progressiva das fontes de desperdícios, baseado em cinco princípios: a defi nição de valor, conforme a visão do cliente e de suas necessidades, a determinação da cadeia de valor, que são as atividades necessárias para ofertar o produto ao cliente com o menor desperdício. Então, objetiva-se a fabricação do produto em um sistema de fl uxo contínuo, que se inicia apenas no momento em que o cliente faz o pedido (produção puxada). Considerando estes princípios, valor, cadeia de valor, fl uxo contínuo e produção puxada, além da utilização de melhorias contínuas ou melhorias radicais, é alcançado o quinto princípio fundamental, que é a perfeição do sistema de produção. Fonte: Adaptado de Calarge et al. (2012). Trata-se de um sistema vantajoso quando os produtos possuem valores elevados, quando existe a certeza das necessidades de demandas; quando o tempo de ressuprimento é pequeno e predeterminado; e quando não é necessário comprar grandes lotes para manter o estoque. Para que essa estratégia seja efetiva, é preciso que a empresa também tenha uma ótima relação de confi ança com os fornecedores (SAYER, 1986). 81 GESTÃO DE ESTOQUES Capítulo 3 O Just-in-time pode ser aplicado a quaisquer tipos de empresa que busquem não trabalhar com estoques. No exemplo a seguir, temos um exemplo da aplicação desta estratégia para uma empresa de benefi ciamento de peixes e camarões: <http://www. custoseagronegocioonline.com.br/especialv8/Filosofi a.pdf>. O artigo que trazemos como exemplo apresenta uma revisão sobre como o sistema de Lean Production é aplicado às empresas do agronegócio: <http://engemausp.submissao.com.br/18/anais/ arquivos/378.pdf>. Por fi m, o JIT é uma proposta de reorganização de todo o ambiente de produção, baseada na eliminação de desperdícios e buscando melhorar os processos de produção. Esta estrutura, sem o uso de estoques, oferece velocidade, qualidade (por aumento da efi ciência) e preços mais baixos (uma vez que não se tem investimentos em estoques), podendo ser uma interessante vantagem competitiva para algumas empresas. h) Kaizen – Melhoria contínua Kaizen é uma palavra de origem japonesa que signifi ca melhoramento contínuo e continuado. Esta ferramenta busca a implementação contínua em processos, fl uxos de trabalhos, a organização de métodos, equipamentos e recursos humanos, bem como o arranjo físico, entre outros (CORRÊA; CORRÊA, 2009). i) Sistema Kanban A Toyota também criou uma ferramenta simples para colocar em prática o sistema Just-In-time, no caso, o sistema Kanban. Kanban na língua japonesa signifi ca cartão ou sinalização, que, em suma, indica com o uso de cores o andamento dos fl uxos de produção em empresas que fabricam em série. Para Shingo (1996) Kanban signifi ca abastecer a unidade fabril, de acordo com os itens necessários, nas quantidades necessárias, no momento necessário, com a qualidade necessária para suprir a linha de montagem fi nal sem perdas e geração de estoques. 82 GESTÃO DO AGRONEGÓCIO II Nesta videoaula, você aprofunda um pouco mais os conceitos e aplicações do método Kanban: <https://www.youtube.com/ watch?v=d54LWJWQy4A&t=1s>. A fi gura a seguir é referente a uma estrutura de painel ou quadro de Kanban de sinalização com cartões, com o objetivo de sinalizar o fl uxo de movimentação da produção. Figura 18 – Exemplo de painel de cartões Kanban Item 1 Item 1 Item 1 Item 1 Urgente Atenção Condições Normais Fonte: Adaptado de Tubino (2009, p. 201). Em suma, o sistema Kanban também representa os cartões utilizados para autorizar a produção e a movimentação de materiais ao longo do processo produtivo. Apesar de efi ciente, atualmente, a maioria das empresas utiliza sistemas eletrônicos e informatizados para realizar este tipo de organização e controle. No entanto, é importante entender como esse sistema funciona fi sicamente para depois utilizar as ferramentas mais modernas. Um sistema eletrônico do Kanban tem sido utilizado há anos pela montadora de tratores e colheitadeiras Massey Ferguson: <http://www.reperkut.net/download/Sawluz%20n05.pdf>. 83 GESTÃO DE ESTOQUES Capítulo 3 Atividade de Estudos: 1) Quais são os objetivos do Just-In-Time? Comente em que setor do agronegócio esta estratégia pode ser utilizada. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ARRANJO FÍSICO (LAYOUT) Os arranjos físicos estabelecem onde e como alocar os diversos itens de uma organização, como instalações, armazenamento de materiais, bem como os fl uxos e padrões de fl uxos de materiais e recursos humanos na empresa, envolvendo decisões sobre a acomodação das atividades e funções econômicas. Segundo Slack, Chambers e Johnston (2002) são utilizados, em geral, quatro tipos de layout, que apresentam vantagens e desvantagens que as empresas devem considerar na sua escolha. Quadro 5 – Vantagens e desvantagens dos arranjos físicos Tipo de Layout Descrição Posicional • Utilizado para materiais transformados que sejam muito grandes ou delicados. Processo ou funcional • Utilizado para recursos similares, que são mantidos juntos. • Normalmente aplicado quando há uma grande variedade de produtos. Celular • Agrupa produtos similares para que fi quem todos juntos em um espaço predeterminado. • Neste caso, as máquinas são dedicadas a um grupo exclusivo de peças, por exemplo. Produto ou em linha • Este layout é utilizado para recursos de transformação, organizando estes conforme sua sequência de utilização específi ca, para melhor conveniência da produção. Fonte: Adaptado de Slack, Chambers e Johnston (2002). 84 GESTÃO DO AGRONEGÓCIO II Além disso, devem ser consideradas algumas características dos produtos, como sua fragilidade, potencial infl amável, volatilidade e oxidação. Estes parâmetros são importantes para garantir que os materiais estejam protegidos e que durem o tempo esperado até o seu consumo. Confi ra no link um resumo sobre a gestão de estoque: <https:// www.youtube.com/watch?v=3sZwxQE9Cys&t=4s>. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Todas as etapas da gestão de estoques e da construção do planejamento do quando e quanto as empresas têm que disponibilizar de materiais para seusprocessos internos são extremamente relevantes para que os objetivos das empresas sejam atendidos. Como analisamos neste capítulo, os estoques não podem ser considerados de forma empírica, e a falta do controle e da estratégia correta de sua gestão pode acarretar em aumento dos custos e falhas na continuidade dos processos produtivos. Além disso, os valores investidos em estoques poderiam ser utilizados em outras necessidades. Por fi m, compreender as técnicas de gestão de estoques – com todas as suas variáveis relacionadas aos custos, demandas e infraestrutura – são pontos que destacam as grandes empresas em relação a seus concorrentes. REFERÊNCIAS ABREU, Luís Fernando P. Gestão de estoque. In: Gestão de operações: a engenharia de produção a serviço da modernização da empresa. (Coord. José Celso Contador). São Paulo: Edgard Blücher, 1997. AQUILANO, Nicholas J.; CHASE, Richard B.; JACOBS, F. Robert. Administração da produção para vantagem competitiva. Porto Alegre: Bookman, 2006. ARAÚJO, Massilon J. Fundamentos de agronegócio. São Paulo: Atlas, 2003. ARNOLD, J. R. Tony; CHAPMAN, Stephen N.; CLIVE, Lloyd M. Introduction to materials management, 5. ed. New Jersey: Prentice-Hall, 2004. 85 GESTÃO DE ESTOQUES Capítulo 3 BALLOU, Ronald H. Logística empresarial: transportes, administração de materiais e distribuição física. São Paulo: Atlas, 1993. BERTAGLIA, Paulo Roberto. 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