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OS ECONOMISTAS MICHAL KALECKI TEORIA DA DINÂMICA ECONÔMICA ENSAIO SOBRE AS MUDANÇAS CÍCLICAS E A LONGO P RAZO DA ECONOMIA CAP ITALISTA Apresentação de J orge Miglioli T radução de Pau lo de Almeida Fundador VICTOR CIVITA (1907 - 1990) Editora Nova Cultura l Ltda . Copyr igh t © desta edição 1977, Círcu lo do Livro Ltda . Rua Paes Leme, 524 - 10º andar CEP 05424-010 - São Paulo - SP Títu lo or igina l: T heory of Econom ic Dynam ics - An Essay on Ciclical and Long-R un Changes in Capitalist Econom y Texto publicado sob licença de George Allen & Unwin , Londres (T eoria da Dinâm ica Econôm ica) Direitos exclusivos sobre as Apresentações de au tor ia de J orge Miglioli, Már io Luiz Possas e Tamás Szmrecsányi, Editora Nova Cultura l Ltda . Direitos exclusivos sobre as t raduções deste volume: Círcu lo do Livro Ltda . Impressão e acabamento: DONNELLEY COCHRANE GRÁFICA E EDITORA BRASIL LTDA. DIVISÃO CÍRCULO - FONE: (55 11) 4191-4633 ISBN 85-351-0918-8 AP RESENTAÇÃO 1) Adve rtê n c ia A T eoria da Dinâm ica Econôm ica é a pr incipa l obra de Micha l Kalecki a respeito das economias capita listas e const itu i leitu ra indis- pensável para quem deseja aprofundar seus conhecimentos sobre essas economias. Foi or igina lmente publicada em inglês em 1954 e, com a l- guns acréscimos e cor reções, em 1965. J á apareceu em vár ias ou t ras línguas: it a liano e espanhol (em 1956), polonês e japonês (1958), francês e a lemão (1966), grego (1980) e em sueco (1975) grande par te dela foi inclu ída numa seleção de textos de Kalecki. A t radução para a língua por tuguesa foi publicada pela Abr il Cultura l, na sér ie “Os Pensadores”, em 1976. Para o leitor que não conhece os t raba lhos de Kalecki e, folheando o presen te livro, surpreenda-se com sua formulação matemát ica , t a lvez seja convenien te começar com o seguin te aviso dado pelo au tor , no Prefácio à edição japonesa da obra : “Este livro está cheio de equações, dados esta t íst icos, diagramas etc. Ao leitor isso pode provocar a er rada impressão de que o tema cent ra l seja a aplicação da Matemát ica e da Esta t íst ica à pesquisa econômica . Mas não se t ra ta disso, absolu ta - mente. As equações matemát icas são usadas apenas para condensar o curso do raciocín io e dar -lhe maior precisão. Os dados esta t íst icos servem para demonst ra r que os resu ltados teór icos não cont radizem os fa tos e que, por tan to, esses resu ltados fornecem explicação fidedigna dos fenômenos pesquisados”.1 Em out ras pa lavras, o livro não const itu i um simples t ra tamento matemát ico de concepções econômicas estabelecidas. E le compreende, 5 1 Inclu ído em KALECKI, Micha l. Dziela. v. II, p. 214. Por in icia t iva da Academia Polonesa de Ciências e com excelen te t raba lho editor ia l de J erzy Osia tynski, estão sendo publicadas em polonês as obras completas de Kalecki, sob o t ítu lo gera l de Dziela (Obras) e divididas em cinco volumes: 1) Capitalism o: Conjuntura e Em prego; 2) Capitalism o: Dinâm ica Eco- nôm ica; 3) S ocialism o; 4) Países em Desenvolvim ento; 5) Análises Econôm icas. Até 1981 somente os dois pr imeiros volumes t inham sido publicados. na verdade, um conjunto de pesquisas or igina is acerca da dinâmica das economias capita listas, a í empregando-se a Matemát ica como lin - guagem e a Esta t íst ica como inst rumento de ver ificação empír ica das conclusões teór icas. Feita essa adver tência , vamos fa la r um pouco do au tor an tes de abordarmos o conteúdo do livro em questão. 2) Biografia e Obras 2 Micha l Kalecki nasceu em Lodz, em 22 de junho de 1899. Estudou na Escola Politécn ica de Varsóvia e depois na de Gdanski, mas não chegou a graduar -se. Seu pr imeiro t ítu lo acadêmico ele o obteve aos 57 anos de idade, quando, já in ternaciona lmente reconhecido, o governo polonês o nomeou professor un iversitá r io; e em 1964 a Universidade de Varsóvia lhe confer iu o t ítu lo de doutor honoris causa. Foi um autodida ta . Em sua formação como economista , recebeu profunda influência das obras de Marx e de ou t ros au tores marxistas. Seu pr imeiro emprego como economista foi no Inst itu to de Pes- quisa de Conjuntura e Preços, de Varsóvia , em 1927. Em 1935, quando já t inha publicado seu estudo inovador em teor ia dos ciclos econômicos, via jou para a Suécia com uma bolsa de estudos. No ano seguin te mu- dou-se para a Ingla ter ra , onde t raba lhou na Escola de Economia de Londres e depois na Universidade de Cambr idge (1937/39) e no Inst itu to de Esta t íst ica da Universidade de Oxford (1940/45). Terminada a Segunda Guerra Mundia l, Kalecki prestou serviços durante a lgum tempo para a Organização In ternaciona l do Traba lho e para o Governo polonês. Daí foi para o depar tamento econômico do Secreta r iado da ONU, onde ficou a té 1954. Retornando à Polônia , ocupou diversos cargos: diretor de pesqui- sas no depar tamento de ciências econômicas da Academia Polonesa de Ciências (1955/56), presidente da Comissão de P lanejamento de Longo Prazo (1957/60), vice-presidente do Conselho Econômico do Estado (1957/63), e t ambém, ao longo de todo esse tempo (isto é, de 1956 a 1969), professor na Escola Cent ra l de P lan ificação e Esta t íst ica . Kalecki morreu em Varsóvia no dia 17 de abr il de 1970. Os t raba lhos de Kalecki podem ser separados em t rês grupos: sobre as economias capita listas desenvolvidas, sobre as economias sub- OS ECONOMISTAS 6 2 Para mais in formações sobre a biografia e as obras de Kalecki, os seguin tes t raba lhos podem ser consultados: MIGLIOLI, J orge (org.). Kaleck i. “Coleção Grandes Cien t istas Socia is”. S. Paulo. Editora Át ica , 1980; KOWALIK, Tadeus. “Biography of Micha l Kalecki”. In : Problem s of Econom ic Dynam ics and Planning — Essays in Honour of Michal Kaleck i. Varsóvia , Polish Scien t ific Publishers, 1964; FEIWEL, George. T he In telectual Capital of Michal Kaleck i. Knoxville. The University of Tennessee Press, 1975; os vár ios a r t igos de Oxford Bulletin of Econom ics and S tatistics, fevereiro de 1977, número especia l dedicado a Kalecki. O livro de Feiwel contém a bibliografia completa de Kalecki. desenvolvidas e sobre as economias socia listas. E le escreveu também acerca de ou t ros temas (por exemplo: questões de polít ica , esta t íst ica , matemát ica teór ica , metodologia econômica etc.), mas suas pr incipa is cont r ibu ições in telectua is estão cont idas nos t raba lhos an ter iormente refer idos. Seus pr imeiros escr itos (1927/32) sobre as economias capita listas abordam problemas de produção e comercia lização (a í inclu indo o caso de car téis in ternaciona is) de mercador ias específicas, e depois a lgumas questões de cará ter mais gera l. A grande cr ise econômica de 1929/33 exerceu uma influência decisiva sobre as preocupações teór icas de Ka- lecki. Em 1933 ele publicou “Esboço de uma Teor ia do Ciclo Econômico”, que se tornou um dos seus t raba lhos mais famosos, e dessa época a té o fim de sua vida ele se empenhou em estudar os problemas da dinâmica (flu tuações cíclicas e mudanças de longo prazo) das economias capita - listas. Depois volta remos a esse assunto. Na pr imeira metade da década de 1950, ao t raba lhar no Secre- ta r iado da ONU, Kalecki passou a ter conta to com pa íses subdesen- volvidos e a in teressar -se por seus problemas econômicos. Como resu l- tado, elaborou vár ios estudos, t an to prá t icos como teór icos.3 Os pr i- meiros incluem rela tór io sobre os problemas econômicos de Israel, ob- servações sobre o terceiro plano econômico da Índia , plano qüinqüena l (1961/65) de Cuba; os estudos teór icos se referem a problemas de de- semprego,a juda econômica in ternaciona l, desenvolvimento econômico. Dent re esses ú lt imos estudos, o mais impor tan te se in t itu la “O Pro- blema do F inanciamento do Desenvolvimento Econômico”, publicado or igina lmente no México em 1954 e que teve grande influência na formação do pensamento est ru tura lista da CEPAL. Voltando para a Polônia em 1955, no ano seguin te Kalecki se viu no meio das manifestações polít icas que der rubaram o governo sta lin ista de en tão e cr ia ram, no pa ís, um ambiente democrá t ico fa - vorável ao ressurgimento cu ltura l. Na á rea da Economia in iciou-se um grande deba te que inclu ía desde os pr incípios básicos dessa ciência a té questões muito específicas do sistema produt ivo polonês. Nesse mesmo ano, Kalecki apresen tou dois t raba lhos sobre economia socia - lista : no pr imeiro, procurava colocar nos devidos termos o papel do invest imento no crescimento econômico; no segundo, defendia a idéia da necessidade de reforçar os conselhos operár ios dent ro das empresas e de dar -lhes par t icipação no processo de planejamento.4 Nos anos seguin tes publicou muitos ou t ros estudos sobre as economias socia listas em gera l e a economia polonesa em par t icu la r . De todos eles, o mais KALECKI 7 3 Esses t raba lhos se encont ram reunidos em: KALECKI, Micha l. Essays on Developing Coun- tries. Sussex, The Harvester Press. 1976. Em por tuguês, vár ios deles estão inclu ídos em: 1) KALECKI. Crescim ento e Ciclo das Econom ias Capitalistas. S. Paulo. Editora Hucitec, 1977; 2) MIGLIOLI, J orge (org.). Kaleck i. Op. cit. 4 Ambos os t raba lhos se encont ram em MIGLIOLI (org.). Kaleck i. Op. cit. impor tan te é o livro In trodução à T eoria do Crescim ento em Econom ia S ocialista (pr imeira edição em 1963 e a segunda , ampliada , em 1968), que hoje se encont ra t raduzido para vár ios idiomas.5 3) A Obra de Kale cki n a His tória do P e n sam e n to Econ ôm ico A grande cont r ibu ição de Kalecki para o en tendimento do modo como funciona e se desenvolve a economia capita lista está em sua formulação e seu aprofundamento do pr incípio da demanda efet iva . Para compreender a grandeza de sua cont r ibu ição, é preciso observá-la dent ro da h istór ia do pensamento econômico.6 Em seu livro A R iqueza das N ações (1776), Adam Smith havia defendido a impor tância da fruga lidade para o progresso econômico: quanto maior a poupança (dos capita listas), maior ser ia a acumulação de capita l e, por tan to, o refer ido progresso. E le condicionava a acumu- lação à existência de uma poupança prévia e estabelecia , ou pelo menos suger ia , o pr incípio de que toda produção ter ia de ser necessar iamente comprada : a par te não consumida , isto é, poupada , ser ia adquir ida para acumulação. Algumas décadas mais ta rde, den t ro dessa linha de raciocín io, J ames Mill na Ingla ter ra e J ean-Bapt iste Say na França vir iam a formular o que passou , poster iormente, a ser conhecido como “lei dos mercados de Say”, segundo a qua l toda produção cr iava uma demanda necessár ia para absorvê-la . De acordo com Mill (A Defesa do Com ércio, 1808): “A produção de mercador ias cr ia , e é a ún ica e un iversa l causa que cr ia , um mercado para as mercador ias. (...) A demanda de uma nação é sempre igua l à produção de uma nação”. Segundo Say (T ratado de Econom ia Política, 1814): “Um produto, t ão logo seja cr iado, nesse mesmo instan te gera um mercado para ou t ros produtos em toda a grandeza de seu própr io va lor”. Foi David Ricardo, porém (em seus Princípios de Econom ia Po- lítica e T ribu tação, 1817), quem deu consistência teór ica à “lei de Say”; mais ta rde, J ohn Stuar t Mill (Princípios de Econom ia Política , 1848) se encar regou de t ransformá-la em dogma, e como ta l ela foi incorporada pelos economistas neoclássicos. Tendo adotado a “lei de Say”, Ricardo passou a aplicá -la coeren- temente à aná lise de diversos problemas econômicos e com isso con- t r ibu iu decisivamente para que economistas poster iores a aceitassem sem quest ionamento. Graças à in fluência de Ricardo, a “lei de Say” assumiu uma impor tância fundamenta l na in terpretação dos mais di- versos problemas: a acumulação de capita l e o desenvolvimento eco- OS ECONOMISTAS 8 5 Esse livro, t raduzido e prefaciado por Luiz L. Vasconcelos, foi publicado em Por tuga l pela Editora Prelo, Lisboa , 1978, e no Brasil pela editora Brasiliense, S. Paulo, 1982. 6 Esse tema é t ra tado minuciosamente em MIGLIOLI, J orge. Acum ulação de Capital e De- m anda Efetiva . S. Paulo, T. A. Queiroz Editor , 1981. nômico, a impossibilidade de cr ise de superprodução, a dist r ibu ição de renda en t re sa lá r ios e lucros, a insign ificância da expor tação e dos gastos públicos para o aumento da produção. Se é a produção que cr ia a demanda , en tão esta ú lt ima tem um papel passivo. A acumulação de capita l e o progresso econômico de- pendem apenas da produção, não encont rando nenhum obstácu lo por par te da demanda . Na verdade, uma par te da renda gerada no processo produt ivo deixa de ser gasta em consumo, ou seja , é poupada , e isso poder ia sign ifica r que essa par te gera r ia um excedente de produção, um volume invendável de mercador ias. Isso, porém, não acontece, de acordo com Ricardo e seus seguidores. A par te poupada da renda de um capita lista ser ia usada de dois modos: diretamente para acumulação de capita l (que const itu i uma compra de mercador ias) e/ou para em- prést imo a ou t ros capita listas, que a usar iam para acumulação; assim, toda poupança se t ransformar ia em acumulação de capita l (invest i- mento, na linguagem a tua l) e, por tan to, toda a produção esta r ia sendo vendida : uma par te para consumo e ou t ra para acumulação. Poder ia haver circunstancia lmente um excesso de produção em alguns setores específicos de a t ividade, mas isso ser ia logo cor r igido: os capita is estabelecidos neles se deslocar iam para os setores onde há demanda . Como a demanda não const itu i obstácu lo para a produção, porque é cr iada por esta , en tão a acumulação de capita l e o desenvolvimento econômico passam a ser determinados apenas pelas condições da pro- dução. Ent re estas, a t axa de lucro tem um papel essencia l, porque quanto maior ela for , maior será a taxa de poupança e, conseqüente- mente, a t axa de acumulação. Considerando-se que o preço é dado (isto é, determinado pelas condições da concor rência ), o lucro passa a depender do sa lá r io: quanto maior este, menor aquele. A suposição fundamenta l dessa conclusão é a de que a renda tota l (composta de sa lá r ios e lucros) é uma grandeza dada ; da í, o aumento na parcela dos sa lá r ios dá como resu ltado uma redução de igua l magnitude na parcela dos lucros. Logo, o pr incipa l empecilho à acumulação passa a ser o aumento dos sa lá r ios. A suposição adotada nesse a rgumento tem vár ias ou t ras impli- cações e por isso deve ser melhor escla recida . Segundo a “lei de Say”, a produção cr ia sempre sua própr ia demanda , ou , em out ros termos, toda a renda gerada na produção é necessar iamente gasta na compra dessa mesma produção. Por tan to, o poder de compra dessa renda não é a fetado pelo modo como ela se dist r ibu i (da í por que a “lei de Say” é às vezes chamada de “lei da preservação do poder de compra”). Se a renda for redist r ibu ída em benefício dos sa lá r ios, isso sign ifica rá apenas que os t raba lhadores (com seus maiores sa lá r ios) comprarão mais e os capita listas (com seus menores lucros) comprarão menos, mas o montan te tota l da produção e da renda não será modificado. KALECKI 9 De acordocom esse mesmo pr incípio, se os t r ibu tos forem aumentados, isso não a feta rá a produção, mas apenas t ransfer irá para o Estado uma par te do poder de compra dos indivíduos. Do mesmo modo, se as expor tações forem incrementadas, a produção não será a lterada , porque a par te a ser expor tada , se permanecer no pa ís, será adquir ida pelo poder de compra naciona l gerado pela própr ia produção. Ainda no tempo de Ricardo, a “lei de Say” e suas implicações foram refu tadas por diversos au tores, en t re eles Thomas Rober t Mal- thus — o mesmo que se tornou conhecido por sua teor ia populaciona l. De acordo com Malthus (em seus Princípios de Econom ia Política , 1820), a demanda tende a ser in fer ior à produção. Isso porque, se os t raba- lhadores gastam toda sua renda , o mesmo não acontece com os capi- ta listas. Dos lucros tota is, os capita listas usam uma par te para con- sumir e ou t ra para acumular capita l, mas uma par te restan te não é gasta em coisa nenhuma, porque, em vez de gasta r , os capita listas manifestam uma “preferência pela indolência” (que, diga-se de passa- gem, é um conceito muito semelhante ao de “propensão a poupar” formulado por Keynes um século mais ta rde). Se a demanda não é necessar iamente igua l à produção, en tão o progresso econômico depende não apenas do acréscimo da capacidade produt iva mas também dos determinantes do aumento da demanda efet iva , imprescindível para pôr em operação aquela acrescida capacidade. Ent re esses determi- nantes, Malthus menciona a redist r ibu ição da renda , a expansão das expor tações e dos gastos improdut ivos (en t re os qua is se incluem os gastos públicos). Também Kar l Marx se opôs fron ta lmente à “lei de Say”. De acordo com ele, o processo de reprodução pode ser dividido em diferen tes mo- mentos. De posse de um dado montan te de dinheiro (D), os capita listas adquirem um determinado volume de mercador ias (M ), de dois t ipos: meios de produção (matér ias-pr imas, equipamentos etc.) e força de t ra - ba lho. Operando com os meios de produção, a força de t raba lho gera novas mercador ias (M ′), de maior va lor (isto é, M ′ > M ). A t ransformação de D em M e de M em M ′ const itu i o processo de cr iação de va lor , ou de produção stricto sensu . Mas o processo de produção lato sensu não foi conclu ído, porque o va lor criado a inda não foi realizado; pa ra isso, é preciso que as mercador ias produzidas (M ′) sejam vendidas (conver - t idas em D′). Assim, o processo completo pode ser expresso como D → M → M ′ → D′. Os momentos D → M e M → M ′ dependem das con - dições própr ias da produção (existência de matér ias-pr imas, equipa- mentos, força de t raba lho, o n ível de produt ividade etc.); a t ransfor - mação de M ′ em D′ depende das condições da rea lização, e nada garan te que o va lor cr iado (M ′) seja necessar iamente rea lizado, tornado real para os capita listas. Assim, para Marx, e cont ra r iamente à “lei de Say”, a demanda OS ECONOMISTAS 10 não é necessar iamente igua l à produção. Mais do que isso, a produção ou ofer ta de mercador ias tende na tura lmente, no capita lismo, a ser maior do que sua demanda . Vejamos a razão disso. O va lor de todas as mercador ias lançadas no mercado se decompõe em t rês par tes: C, ou capita l constan te, compreendendo os insumos incorporados nas mer- cador ias e o desgaste (ou depreciação) dos equipamentos empregados na produção; V , ou capita l var iável, cor respondente aos sa lá r ios pagos; S , a mais-va lia ou lucro que os capita listas esperam aufer ir . Em suma, o va lor tota l da ofer ta é igua l a W = C + V + S . Para produzir esse va lor , os capita listas gasta ram um montan te igua l a C + V. Ou seja , para produzir mercador ias no va lor de W = C + V + S , os capita listas demandaram mercador ias no va lor de C + V e, por tan to, sua ofer ta é maior do que sua demanda . Para produzir W, os capita listas t iveram de comprar meios de produção no va lor de C; como são os própr ios capita listas que vendem essas mercador ias (uns vendem para os ou t ros), isso sign ifica que para produzir W os capita listas au tomat icamente rea lizam o va lor de C. Tiveram também de comprar força de t raba lho no va lor de V . Supondo-se que os t raba- lhadores não poupam, en tão todo o montan te V de sa lá r ios é gasto por eles na compra de bens de consumo. Como são os capita listas que vendem esses bens, en tão, para produzir W, os capita listas au tomat i- camente rea lizam também o va lor de V . Em conclusão: para produzir W = C + V + S , os capita listas (diretamente, no caso de C, ou a t ravés dos t raba lhadores, no caso de V ) demandam, e vendem, mercador ias no va lor de C + V . Fa lta , contudo, rea liza r o va lor de S . Que sign ifica isso? Significa que se os capita listas rea liza ram apenas o va lor de C + V , eles não obt iveram lucros, mas tão-somente t iveram custos. Como é que os capita listas, considerados em conjunto, conseguem rea liza r a mais-va lia , aufer ir um lucro? A resposta é: comprando, uns dos ou t ros, mais mercador ias, a lém daquelas cor respondentes ao va lor de C + V . Que mercador ias são estas? Os capita listas, enquanto pessoas, precisam consumir ; logo, eles compram bens de consumo. Os capita - listas, enquanto agentes do capita l, preocupam-se em acumular ; logo, eles compram bens de invest imento (novos equipamentos etc.). Em conclusão: o montan te do lucro aufer ido pelos capita listas em conjunto va i depender do quanto eles mesmos gastam na compra de bens de consumo e de invest imento. Assim, supondo-se que a capacidade pro- dut iva tota l da economia é dada , o lucro é determinado pelo invest i- mento e consumo dos capita listas. E esse lucro só por acaso será igua l ao S da equação da ofer ta . Essas conclusões, que mais ta rde ser iam cla ramente explicadas por Kalecki, podem ser t iradas diretamente da teor ia de Marx (ver , por exemplo, O Capital, v. II, p. I, cap. 4). Todavia , os pr imeiros se- guidores e estudiosos de Marx não en tenderam devidamente sua ex- plicação do problema da rea lização no processo de acumulação de ca- KALECKI 11 pita l. Alguns simplesmente ignoraram ou minimizaram a impor tância do problema, e os ou t ros deram as mais diferen tes in terpretações. Mas o deba te que se t ravou , se não levou a uma conclusão gera l, pelo menos serviu para assen ta r cer tos pontos específicos. Por exemplo, Tugan-Baranovski (em seu livro sobre As Crises Industriais na Inglaterra, edição russa de 1894 e edição francesa , mo- dificada , de 1913) deixou bem cla ro duas questões básicas: 1) o desen- volvimento da economia capita lista depende não apenas da expansão das forças produt ivas, mas também da ampliação dos mercados para absorver a produção; 2) cont ra r iamente à tese dos teór icos subconsu- mistas, o aumento do consumo (seja dos t raba lhadores ou dos capita - listas) não é imprescindível para rea liza r a crescente produção; esta pode ser rea lizada apenas no setor produtor de equipamentos — por exemplo, são produzidas máquinas para produzir mais máquinas para fazer a inda mais máquinas. Também Rosa Luxemburg (em A Acum u- lação de Capital, 1913) acentuou o pr imeiro ponto. Mas não en tendeu o segundo; para ela , era necessár io haver um mercado externo (fora do sistema capita lista ) para absorver a crescente produção e, assim, est imular a acumulação capita lista . Esta é uma fa lsa solução teór ica : apesar disso, ao propô-la , Rosa Luxemburg destacou uma questão re- levante para as economias capita listas: o papel das expor tações e dos gastos públicos (especia lmente com armamentos) no processo de rea- lização da produção. Fora da corren te marxista , poucos foram os economistas, a té a década de 1930, que se in teressaram pelo problema da demanda efet iva . Ent re esses poucos, destaca-se J . A. Hobson , cu ja pr incipa l obra sobre o assunto, A Econom ia do Desem prego, foi publicada em 1923. Hobson era um teór ico do subconsumismo: segundo ele, a capacidade produt iva da economia crescia mais rapidamente do que a capacidade de consumo da sociedade, e isso acontecia devido à má dist r ibu ição de renda : de um lado, os t raba lhadores, com ba ixas rendas, não podiam aumentar seu consumo, e de ou t ro lado, os capita listas, com a ltas rendas, for - mavam grandes poupanças, acumulavam capita l, ampliando cada vez mais a capacidade produt iva . A grande cr ise econômica in iciada em 1929 acabar ia por forçar o reconhecimento da impor tância da demanda efet iva no processo ca- pita lista de produção. É verdade que, apesar da dramat icidade com que o problema se apresen tava , a esmagadora maior ia dos economistas de formação or todoxa cont inuou a susten ta r opin iões apoiadas na “lei de Say”.7 Mas uns poucos, menos apegados à or todoxia , começaram a ver o problema. Isso aconteceu simultaneamente com dois grupos de OS ECONOMISTAS 12 7 Alguns exemplos dessas opin iões foram relacionados por HARROD, Roy. T he Life of J ohn Maynard Keynes. Londres, 1951; KLEIN, Lawrence. T he Keynesian R evolu tion . 2ª ed., Lon- dres, 1968; e LEKACHMAN, Rober t . T he Age of Keynes. Londres, 1968. economistas europeus nos pr imeiros anos da década de 1930. De um lado, R. Fr isch , B. Ohlin e pr incipa lmente Gunnar Myrda l, mais in - fluenciados pela obra de Knut Wicksell, puseram em discussão as re- lações en t re poupança e invest imento. Na Ingla ter ra , J ohn Maynard Keynes (um decla rado admirador de Malthus) e a lguns discípu los — ent re os qua is J oan Robinson — preparavam uma revolução cont ra o domínio da “lei de Say”, o que aconteceu com a publicação, em 1936, da T eoria Geral do Em prego, do J uro e da Moeda de Keynes. Depois do aparecimento dessa obra , e graças também ao grande prest ígio de seu au tor nos meios polít icos acadêmicos ocidenta is, o pr incípio da demanda efet iva foi ganhando aceitação gera l. Antes, contudo, de surgir a T eoria Geral de Keynes, Kalecki já havia publicado, em polonês, t rês estudos8 que const itu íram, em con- jun to, a pr imeira formulação precisa e sistemát ica do papel da demanda efet iva no processo de reprodução capita lista . Nesses estudos pode-se consta ta r cla ramente a in fluência de Marx, Tugan-Baranovski e Rosa Luxemburg, como o própr io Kalecki o reconhece.9 E a par t ir deles Ka- lecki foi ampliando e apr imorando suas concepções, que cu lminaram com a publicação de sua T eoria da Dinâm ica Econôm ica em 1954 — da qua l fa la remos adian te. Apesar de sua formação marxista e da or igina lidade de suas con- cepções, que precederam o aparecimento da T eoria Geral de Keynes, duran te muito tempo Kalecki foi iden t ificado como um “keynesiano”. Na verdade, aconteceu o cont rá r io: foi ele quem in t roduziu diversas idéias que depois foram adotadas pela chamada “Economia Keynesia - na”; como escreveu J oan Robinson: “Poucos da a tua l geração de ‘key- nesianos’ param para indagar quanto eles devem a Kalecki e quanto rea lmente a Keynes”.10 A par t ir da segunda metade da década de 1950 — e graças à divulgação feita , en t re ou t ros, por J oan Robinson , Paul Baran , Paul Sweezy e Lawrence Klein — a or igina lidade das idéias de Kalecki e sua formação marxista começaram a ser mais conhecidas. Muitos eco- nomistas marxistas passaram a perceber que a obra de Kalecki sobre as economias capita listas, embora desprovida do vocabulá r io marxista t radiciona l e com todo o est ilo formal e as expressões matemát icas, const itu ía um desenvolvimento do velho “problema da rea lização”.11 KALECKI 13 8 Esses t rês estudos são: “Esboço de uma Teor ia do Ciclo Econômico” e “Comércio In ternaciona l e ‘Expor tações In ternas’”, de 1933. e “O Mecanismo da Recuperação Econômica”, de 1935. O pr imeiro foi t ambém publicado, com versões diferen tes, em francês e inglês em 1935. Esses estudos estão inclu ídos em Crescim ento e Ciclo das Econom ias Capitalistas. Op. cit. 9 A esse respeito, ver KALECKI. “As Equações Marxistas de Reprodução e a Economia Mo- derna” e “O Problema da Demanda Efet iva em Tugan-Baranovski e Rosa Luxemburg”. In : Crescim ento e Ciclo das Econom ias Capitalistas . 10 ROBINSON, J oan . “Kalecki and Keynes”. In : Problem s of Econom ic Dynam ics and Planning. Op. cit. 11 Como mais ta rde escreveu Maur ice Dobb (T heories of Value and Distribu tion since Adam 4) A Te oria da Din âm ica Econ ôm ica A respeito das economias capita listas, Micha l Kalecki elaborou apenas t rês livros: Ensaios em T eoria das Flu tuações Econôm icas (1939), Estudos de Dinâm ica Econôm ica (1943) e T eoria da Dinâm ica Econôm ica (1954);12 todos seus ou t ros livros acerca dessas economias const ituem coleções de a r t igos or igina lmente publicados em revistas e/ou de capítu los específicos daqueles t rês livros. Com o o a u t or escla rece no pr efá cio da T eoria da Dinâm ica E con ôm ica , est e livro subst it u i os dois a n ter iores. Ou seja , em bora t r a t e dos m esm os t em a s dos ou t ros dois, con st it u i u m novo livro. E isso em t r ês sen t idos: pr im eiro, porque r epr esen ta um apr im ora - m en to; segun do, por qu e a borda a lgu m as n ova s quest ões; t er ceiro, porqu e se u t iliza de n ovos da dos est a t íst icos pa r a ver ificaçã o dos a r gu m en tos t eór icos. E m sum a , o ú lt im o livro const it u i a ver são m ais com plet a das idéias de Ka leck i sobre o p roblem a da dinâ m ica da s econ om ias capit a list a s. Assim, os dois livros an ter iores represen tam versões precursoras. Mas não apenas eles: na verdade, quase todos os temas t ra tados na T eoria da Dinâm ica Econôm ica foram sendo apr imorados em sucessivos t raba lhos, muitos dos qua is publicados como ar t igos de revistas. Por out ro lado, a lguns desses mesmos temas cont inuaram a ser estudados por Kalecki depois da publicação da T eoria da Dinâm ica Econôm ica. Por tan to, para o leitor in teressado na evolução das idéias do au tor a respeito desses temas, relacionamos, mais adian te, os t raba lhos que precederam e sucederam o refer ido livro. De que t ra ta a T eoria da Dinâm ica Econôm ica? Embora seu sub- t ítu lo seja Ensaio S obre as Mudanças Cíclicas e a Longo Prazo da Econom ia Capitalista, o livro abrange também o problema da deter - minação do n ível da renda (ou da produção) a cur to prazo. As economias capita listas em gera l se desenvolvem dent ro de um padrão cíclico: ou seja , elas se expandem, mas com flu tuações pe- r iódicas. Assim, a produção ao longo do tempo pode ser represen tada como um movimento ondula tór io, como a curva C na F igura 1. Mas, apesar das flu tuações, a produção cont inua a crescer ; isto é, o movi- mento ondula tór io se dá em torno de uma tendência crescente, expressa pela reta T na F igura 1. Nesse compor tamento das economias capita - listas, é possível separar t rês t ipos de questões: 1) por que, num determinado ano, a renda a t ingiu um cer to n ível, OS ECONOMISTAS 14 Smith . Londres, 1973. p. 221): “Quanto a Kalecki (...) sua obra podia , rea lmente, ser con- siderada uma formalização do ‘problema da rea lização’; e, exceto por sua apresen tação r igidamente formal e matemát ica , os marxistas podiam sent ir -se num mundo familia r”. 12 Essays in the T heory of Econom ic Fluctuations. Londres, Allen & Unwin , 1939; S tudies in Econom ic Dynam ics. Londres, Allen & Unwin, 1943; T heory of Econom ic Dynam ics. Londres, Allen & Unwin , 1954. e não out ro n ível qua lquer? Ou, por exemplo, para usar a F igura 1, por que, no ano ti , a renda a lcançou o n ível R i?; 2) por que a renda oscila ao longo do tempo? Ou, por que a renda apresenta o movimento descr ito pela curva C?; 3) por qu e a r en da cr esce? Ou , com o explica r a t en dên cia cr escen t e T ? É cla ro que essas t rês questões estão est reitamente relacionadas. Mais do que isso; a longo prazo t ra ta -se de um único problema: como explicar o compor tamento da produção no decor rer do tempo? A expli- cação gera l para essa pergunta responder ia simultaneamente as t rês refer idas questões: a t endência crescente da produção, seu movimento cíclico e o n ível a t ingido em cada ano, t endo em vista que, ao longo do tempo, o compor tamento da produção nada mais é do que uma sucessão de produções anua is. Metodologicamente, contudo, é possível separar o problema gera l nas t rês questões específicas, e isso é o que tem sido feito na Ciência Econômica . A pr imeira questão é usua lmente conhecida como “determinação do n ível da renda” (ou , em termos mais gera is, “da a t ividade econômica”) e const itu i um problema de “está t ica econômica”, pois não envolve mudanças ao longo do tempo: t ra ta -se de explicar o n ível da renda num único momento (isto é, num ano). As duas ou t ras questões são de “dinâmica econômica”: em ambas o objeto de estudo são exa tamente as var iações do n ível de renda ao longo do tempo. Mas essas duas questões se diferenciam pelo fa to de que o objeto de estudo, em uma delas, são as mudanças cíclicas e, na out ra , é o crescimento da renda . Essas duas questões de dinâmica econômica têm sido estudadas separadamente. A aná lise dos ciclos e a do crescimento econômico ra - ramente são in tegradas numa única teor ia . E las chegam mesmo a cons- t itu ir dois capítu los em separado da Ciência Econômica . Sua não-in- tegração se deve a duas razões básicas. A pr imeira decor re de in junções histór icas e mesmo do modismo. Assim, por exemplo, duran te e a té KALECKI 15 muitos anos depois da grande cr ise econômica de 1929/33, surgiu uma vasta lit era tura sobre os ciclos; depois, quando as economias capita listas en t ra ram num r itmo de firme expansão, a tôn ica se deslocou para a teor ia de crescimento (nessa época , a elaboração de “modelos de cres- cimento econômico” virou moda , e a lguns au tores chegaram a fa la r do fim dos ciclos); na década de 1970, quando as economias capita listas volta ram a apresen ta r acentuadas flu tuações, as teor ias dos ciclos foram ressuscitadas. A segunda razão está na dificu ldade de in tegrar consisten temente numa única formulação teór ica o problema dos ciclos e o do crescimento. Essa dificu ldade se torna maior quando, como no caso de Kalecki, a explicação teór ica é apresen tada sob a forma de um modelo matemát ico. O objet ivo da T eoria da Dinâm ica Econôm ica é o de explicar como, nas economias capita listas, sendo dadas suas condições própr ias de produção, a renda naciona l e cada um de seus componentes (lucros e sa lá r ios, pelo ângulo da renda , e consumo e invest imento, pelo pr isma da despesa) são determinados. Determ inação de Lucros, S alários e R enda N acional. De acordo com Kalecki, o volume tota l de lucros num dado ano é determinado pelo invest imento, consumo dos capita listas, déficit orçamentár io do Governo e sa ldo de expor tações (ver capítu lo 3). Se, para simplifica r , exclu ímos estas duas ú lt imas grandezas, t emos: lucros = invest imentos + consumo dos capita listas. Ou seja , como já havia sido indicado por Marx, os lucros rea lizados pelos capita listas como um todo são tan to maiores quanto mais eles investem e consomem. De que depende, por sua vez, o volume tota l de sa lá r ios? Se a taxa de sa lá r io (isto é, o sa lá r io por t raba lhador) não se a ltera , en tão, quanto maior a produção, maior o emprego de força de t raba lho e, por tan to, maior o montan te de sa lá r ios; logo, este ú lt imo depende da produção. Esta pode ser dividida em t rês setores: o setor I produz bens de invest imento, o II produz bens de consumo para os capita listas, e o III produz bens de consumo para os t raba lhadores. A produção deste ú lt imo setor va i depender do montan te de sa lá r ios; supondo-se que os t raba lhadores não poupam, en tão, quanto maior esse montan te, maior a compra e, assim, a produção de bens do setor III. Se o volume de sa lá r ios depende da produção, mas, por ou t ro lado, a produção do setor III depende daquele, isso sign ifica que ele é determinado pela produção dos setores I e II: o aumento da produção nesses dois setores implica o crescimento de seu volume de emprego e de sa lá r ios; esse acréscimo de sa lá r ios, por seu tu rno, va i provocar o aumento da produção, do emprego e do montan te de sa lá r ios no setor III. Assim, o volume tota l de sa lá r ios é determinado também pelo invest imento e consumo dos capita listas. OS ECONOMISTAS 16 Se essas duas grandezas determinam tan to os lucros como os sa lá r ios, e sendo a renda naciona l igua l à soma de lucros e sa lá r ios, en tão elas também determinam a renda naciona l. Mas, é preciso ob- servar , essa conclusão só é vá lida se supomos que a dist r ibu ição da renda en t re sa lá r ios e lucros não se a ltera . Para sermos mais exa tos: o montan te de sa lá r ios e a renda naciona l dependem não apenas do invest imento e consumo dos capita listas, mas também da repar t ição da renda en t re sa lá r ios e lucros na economia como um todo. Consideremos um aumento no invest imento e no consumo dos capita listas, isto é, na produção dos setores I e II. Os lucros terão um igua l acréscimo. Mas o aumento no montan te de sa lá r ios va i depender da dist r ibu ição da renda nos t rês setores. Se, ao crescer a produção dos setores I e II, a repar t ição da renda não se a ltera r , en tão o montan te de sa lá r ios crescerá na mesma proporção dos lucros; se a repar t ição se modifica r em benefício destes ú lt imos, en tão o volume de sa lá r ios crescerá menos. Enfim, o montan te de sa lá r ios depende não só do in- vest imento e do consumo dos capita listas, mas também da repar t ição da renda . O mesmo acontece com a renda naciona l. Distribu ição de R enda. Consta tada a impor tância da dist r ibu ição da renda na determinação do produto naciona l, cabe explicar a própr ia dist r ibu ição. É com a aná lise desse problema que Kalecki in icia seu livro. Na economia como um todo, a repar t ição da renda const itu i a média ponderada da repar t ição nos diferen tes ramos produt ivos. E , em cada ramo, a dist r ibu ição é função de dois fa tores: 1) o grau de monopólio e 2) a relação en t re o custo dos insumos mater ia is e os sa lá r ios. Quanto maior o grau de monopólio, maior é o preço (e, den t ro dele, o lucro) que uma indúst r ia pode cobrar por sua mercador ia em relação ao custo de sua produção (onde se incluem o custo dos insumos e os sa lá r ios); logo, maiores são os lucros em relação aos sa lá r ios, isto é, maior é a par t icipação dos lucros na renda gerada . Em segundo lugar , quanto maior o custo dos insumos em relação aos sa lá r ios, e como os lucros são aufer idos sobre a soma de insumos e sa lá r ios, en tão maiores são os lucros em relação aos sa lá r ios (ver capítu lo 2). Form ação de Preços. O ponto fundamenta l dessa explicação da dist r ibu ição da renda é o problema do grau de monopólio, o qua l implica toda uma teor ia da formação dos preços. Por isso mesmo é que Kalecki, an tes de formular aquela explicação, t ra ta de estabelecersua teor ia da formação de preços (ver capítu lo 1). Em seus pr imeiros t raba lhos de Economia , de 1928 a 1932, Ka- lecki estudou muitos casos rea is de produção e comercia lização de mer- cador ias e pôde observar a ação monopolista das empresas sobre os mercados. Por isso, ele jamais aceitou a teor ia neoclássica dos preços, apoiada no pr incípio da concor rência per feita , e viu-se obr igado a for - KALECKI 17 mular sua própr ia teor ia , no que foi in fluenciado pelas obras pioneiras de Sraffa , Chamber lin e J oan Robinson sobre o tema.13 Sua teor ia é a seguin te: excetuando a agr icu ltura (onde os produtos são pouco di- ferenciados e, a cur to prazo, a ofer ta é r ígida , e onde, por tan to, os preços são determinados pela demanda), nos demais setores existe re- serva de capacidade produt iva , e as empresas — seja pela concent ração indust r ia l ou seja pela propaganda , diferenciação rea l ou fict ícia de suas mercador ias etc. — detêm poder sobre seus mercados para fixarem os preços de seus produtos. Para isso, cada empresa toma por base seu custo médio de produção (insumos e sa lá r ios) e acrescenta sua margem de lucro, levando em conta o preço médio das ou t ras firmas. Quanto maior o domínio sobre o mercado — isto é, o “grau de monopólio” — por parte de uma empresa, maior será o preço por ela fixado para seu produto em relação a seu custo médio e, portanto, maior será seu lucro. A concepção de Kalecki sobre o processo de formação dos preços foi publicada pela pr imeira vez em 1938 e a par t ir da í, em sucessivos t raba lhos, foi sendo apr imorada . Mas a té hoje cont inua sendo um dos pontos mais discu t idos de toda sua obra sobre as economias capita listas — e nem poder ia deixar de ser assim, visto cont ra r ia r fron ta lmente a teor ia neoclássica dos preços, que é o mito mais sagrado dessa cor ren te do pensamento econômico, dominante no mundo ocidenta l. De qua lquer modo, aceitando-a ou não, no todo ou em par te, um fa to tem de ser reconhecido: ao relacionar est reitamente a determinação do produto naciona l com a dist r ibu ição de renda e com o processo de formação dos preços, Kalecki conseguiu in tegrar numa só teor ia t rês problemas qu e na Ciên cia E conôm ica or t odoxa são u sua lm ente t r a t ados em separa do (ha ja vist a a t r ad icion a l separa çã o da Macroeconom ia e da Microeconomia ). Im portância Fundam ental do Investim ento. Podemos volta r agora ao problema da determinação do n ível da a t ividade econômica . J á dis- semos que os lucros dos capita listas como um todo num ano qua lquer são formados pelos gastos dos própr ios capita listas em invest imento e consumo nesse mesmo ano. Além disso, sendo dada a dist r ibu ição da renda en t re lucros e sa lá r ios, aquelas duas grandezas determinam tam- bém o montan te de sa lá r ios e o produto naciona l. Assim, o invest imento e o consumo dos capita listas (jun tamente com o déficit orçamentár io do Governo e o sa ldo de expor tações, que temos omit ido para simplifica r a exposição) const ituem as var iáveis fundamenta is na determinação do n ível da a t ividade econômica . Todavia , como most ra Kalecki no capítu lo 4, t ambém o consumo OS ECONOMISTAS 18 13 SRAFFA, P iero. “The Laws of Returns under Compet it ive Condit ions”. In : Econom ic J ournal. Dezembro de 1926; CHAMBERLIN, E . H. T he T heory of Monopolistic Com petition . 1932; ROBINSON, J oan . Econom ics of Im perfect Com petition. 1933. dos capita listas num ano qua lquer depende dos invest imentos efetuados em anos an ter iores. Logo, considerando a questão de modo dinâmico, isto é, ao longo do tempo, a var iável rea lmente est ra tégica é o inves- t imento. É essa var iável que determina o n ível da renda naciona l num dado ano e suas var iações (ciclos e crescimento) no decor rer do tempo. As relações en t re a renda naciona l (tan to seu n ível como sua var iação) e o invest imento são examinadas no capítu lo 5. T axas de J uros. Estabelecido o papel est ra tégico do invest imento, cabe encont ra r seus determinantes. Antes, porém, de en t ra r nesse as- sunto, Kalecki faz uma parada para ana lisa r as taxas de ju ros de cur to prazo (capítu lo 6) e de longo prazo (capítu lo 7). Do modo como se encont ram, sem maiores explicações acerca de suas ligações com o tema cent ra l (a não ser na ú lt ima página do capítu lo 7), esses dois capítu los parecem esta r meio perdidos no livro. Mas não estão. De acordo com muitos au tores (tan to clássicos como neoclássicos, e t ambém Schumpeter e Keynes, embora baseados em supostos diferen tes), a taxa de ju ros assume grande impor tância na determinação do inves- t imento: este var ia r ia em sen t ido cont rá r io ao da taxa de ju ros. O que Kalecki se propõe nesses dois capítu los é refu ta r essa concepção. Para isso, an tes de tudo, ele separa as taxas de ju ros de cur to prazo e as de longo prazo (o que ra ramente é feito pelos ou t ros au tores); e isso deve ser feito porque os emprést imos para invest imentos são efetuados a taxas de longo prazo. A conclusão de Kalecki é a seguin te: as taxas de cur to prazo apresen tam grandes oscilações, mas as de longo prazo (as que efet ivamente impor tam no problema em pauta ) permanecem rela t iva m en te est áveis du ran t e per íodos de t em po ra zoavelm en te longos (por exem plo, n o decor r er de t odo u m ciclo econôm ico de oit o a dez an os) e, por t a n to, t êm m uito pou ca in fluência n o pr ocesso de in vest im en to. Capital Em presarial com o Lim ite do Investim ento. Muitas teor ias t ra tam o invest imento como se este fosse acessível a qua lquer indivíduo disposto a a r r iscar -se num empreendimento produt ivo, o que caracte- r iza r ia , nas pa lavras de Kalecki, “um estado de democracia econômica onde qua lquer pessoa dotada de habilidade empresar ia l pode obter capita l para in icia r um negócio”. A rea lidade, contudo, não é esta . A quase tota lidade dos invest imentos é efetuada por pessoas (físicas ou jur ídicas) que já são propr ietá r ias de capita l. Logo, ao t ra ta r dos de- terminantes do invest imento, é preciso levar em conta esse fa to, como o faz Kalecki (ver capítu lo 8). A propr iedade de capita l por par te de uma empresa — o capita l empresar ia l — é que limita o montan te de invest imento que a empresa pode efetuar . E isso por dois mot ivos: 1) quanto maior for seu capita l própr io, a empresa terá maior acesso ao mercado de crédito, isto é, KALECKI 19 poderá obter maiores emprést imos para invest imento; 2) dado o grau de r isco assumido pela empresa , o montan te de emprést imos que ela pode tomar para invest imento va i depender de seu capita l própr io. Tra ta -se, nesse segundo caso, da aplicação daquilo que Kalecki deno- minou (em estudo an ter ior ) de “pr incípio do r isco crescente”: ao tomar emprést imos para invest imento, o r isco assumido pela empresa , em caso de fracasso, será tan to maior quanto maior for o va lor dos em- prést imos em relação ao va lor de seu capita l própr io. Assim, com um mesmo grau de r isco, as empresas maiores podem recor rer a mais emprést imos do que as empresas menores. Determ in antes d o Investim ento. Deixem os de la do a acum u la - çã o de est oques qu e, pa ra Ka leck i, pode ser con sidera da um a fun ção da va r iaçã o do volume de produção. Assim , o invest im ento se r efere apen as à a cum u la çã o de capit a l fixo. Seu m onta n t e, nu m da do m o- men to, depen de de t r ês “fa tores”: a dispon ibilida de de r ecur sos fi- na nceiros própr ios, a va r iação nos lucr os e a va r iação no estoque de capit a l fixo. Além dessas t r ês va r iáveis, na equ ação dos det er - m inan tes do in vest im en to é inclu ído um out ro fa tor , consider ado rela t iva m en te con st a n t e a o lon go do t em po; a ssim , in depen den te- m en te da s t r ês va r iáveis, ha ver ia sem pr e um cer to m on ta n t e de in vest im en to decor r en t e desse fa tor , o qu a l r eflet ir ia a som a de ou - t r a s diver sa s in fluências — pr incipa lm ente da s in ovações t ecnoló- gica s — sobre o p rocesso de in vest im en to. Os refer idos recursos financeiros são const itu ídos pela poupança bru ta das empresas (isto é, os lucros bru tos não dist r ibu ídos) e pela poupança pessoa l dos propr ietá r ios que cont rolam as empresas. Esses são os recursos de que elas dispõem para invest imento sem precisa rem recor rer ao mercado de capita is. Quanto maior o volume desses recur - sos, maior deve ser o montan te do invest imento; pr imeiro, porque as empresas não podem deixá-los simplesmente ociosos e, por tan to, t en- dem a conver tê-los em invest imento; segundo, porque eles aumentam o capita l própr io das empresas (de que fa lamos an tes), e, assim, am- pliam o acesso ao mercado de capita is. O invest imento efetuado pelas empresas num dado momento pode ser menor , igua l ou maior do que o volume de seus recursos financeiros própr ios, dependendo da a tuação dos ou t ros dois “fa tores” no momento anter ior : a elevação dos lucros in fluencia posit ivamente, mas o aumento do estoque de capita l fixo tem uma influência nega t iva . A simples expansão dos lucros não basta para just ifica r o invest imento; se, no momento an ter ior , as empresas t inham capacidade ociosa mas, apesar disso, o estoque de capita l cresceu , en tão no momento presen te elas não precisam invest ir apenas porque a produção e, com esta , o volume de lucros aumentaram: no momento presen te elas podem cont inuar a produzir mais, sem amplia r seu capita l fixo (isto é, sem invest ir ), sim- OS ECONOMISTAS 20 plesmente aproveitando-se da capacidade ociosa existen te. Em suma, é preciso levar em conta a var iação tan to do lucro como do estoque de capita l fixo. Essa teor ia apresen ta diversos pontos fracos, en t re os qua is dois merecem destaque: 1) a in fluência do progresso técn ico não é ressa ltada , permanecendo embut ida numa constan te adicionada à equação dos de- terminantes do invest imento; 2) não se explica por que os capita listas cont inuam a invest ir (a amplia r seu capita l fixo) apesar da existência de considerável margem de capacidade produt iva ociosa . Kalecki está cien te das deficiências de sua teor ia , e por isso mesmo cont inuou a estudar o problema. Poucos anos an tes de sua mor te, publicou um traba lho onde apresen tou uma nova explicação dos determinantes do invest imento, eliminando aqueles dois pontos fracos. De acordo com essa explicação, o est ímulo ao invest imento decor re da concor rência en t re os capita listas: um capita lista é levado a in t roduzir inovações tecnológicas e, por tan to, a invest ir (visto que as inovações estão em- but idas nos novos equipamentos de capita l), apesar da existência de capacidade ociosa , para capta r lucros aufer idos por seus concor ren tes (ver o ensa io “Tendência e Ciclo Econômico” em Crescim ento e Ciclo das Econom ias Capitalistas). Ciclos e Crescim ento. As duas ú lt imas par tes da T eoria da Di- nâm ica Econôm ica t ra tam separadamente dos ciclos (capítu lo 11 a 13) e do crescimento (capítu los 14 e 15). O problema dos ciclos, relacionado ao dos determinantes do invest imento, foi o que mais exigiu o esforço in telectua l de Kalecki em toda sua vida . E le publicou um grande nú- mero de t raba lhos sobre o tema (relacionados mais adian te), t endo elaborado diversos modelos dos ciclos. Seu ú lt imo modelo está no ensa io “Tendência e Ciclo Econômico” acima citado; seu penúlt imo modelo é o que está inclu ído na T eoria da Dinâm ica Econôm ica. Ao fazer e refazer seus modelos, a preocupação de Kalecki era a de encont ra r uma explicação dos ciclos que fosse a mais rea lista possível. Assim, seus pr imeiros modelos adotavam a h ipótese dos “ciclos puros”, ou seja , ciclos desprovidos de tendência , como se as flu tuações da produção se dessem ao longo de uma linha hor izonta l (por exemplo, na F igura 1 a reta T ser ia hor izonta l e não ascendente). J á em seu livro S tudies in Econom ic Dynam ics (1943), Kalecki leva em conta a tendência , e essa nova forma de abordagem foi apr imorada na T eoria da Dinâm ica Econôm ica e em um ar t igo poster ior , mas Kalecki con- t inuou insa t isfeito por não ter in tegrado o ciclo e o crescimento eco- nômico num único modelo. Por isso mesmo, ele voltou a apresen ta r uma nova formulação, no já citado ensa io “Tendência e Ciclo Econômico” (1968), onde adver t iu : “Eu mesmo abordei esse problema em minha T eoria da Dinâm ica Econôm ica e em minhas ‘Observações sobre a Teor ia do Crescimento’ de um modo que agora não considero in teira - KALECKI 21 m en te sa t isfa tór io: com ecei desenvolven do um a t eor ia do ‘ciclo eco- nôm ico pu ro’ nu m a econom ia est a cion ár ia e depois modifiqu ei a s r espect iva s equa ções pa ra in t roduzir a t en dên cia . Com essa sepa - ra ção das in flu ên cia s de cu r to e longo pra zos, deixei de leva r em conta cer t as r epercu ssões do progresso t écn ico que a fet am o processo dinâ m ico com o u m todo. Ten ta rei a gora n ão d ivid ir m in ha an á lise nessas dua s et apas”.14 Ou seja , na T eoria da Dinâm ica Econôm ica, da equação dos de- terminantes do invest imento (da qua l constam os t rês fa tores an tes mencionados: a poupança in terna bru ta das empresas, o aumento dos lucros e o aumento do estoque de capita l fixo), seu au tor der iva a equação do ciclo econômico; todavia , para obter a t endência , ele é obr i- gado a in t roduzir “de fora” um novo fa tor : as inovações tecnológicas. J á no refer ido ensa io, o progresso técn ico passa a ser o pr incipa l de- terminante do invest imento, e é da í que Kalecki obtém tan to a equação do ciclo como a da tendência . Apesar de Kalecki t er formulado diversos modelos de ciclos, seu pr incípio básico é sempre o mesmo. A var iável est ra tégica na explicação do n ível da a t ividade econômica , seja num ano ou seja ao longo do tempo, é o invest imento. É essa var iável que, a t ravés do seu efeito mult iplicador , determina o volume gera l dos gastos (isto é, da demanda efet iva) e, assim, a renda naciona l num dado ano. É essa var iável que, adicionada ao existen te estoque de capita l, amplia a capacidade pro- dut iva e permite o crescimento econômico de longo prazo. Por fim, é essa var iável que, com suas oscilações, gera os ciclos econômicos. E suas oscilações decor rem do cará ter su i generis do invest imento; como escreveu Kalecki em 1939. “Vemos que a pergunta ‘Que causa as cr ises per iódicas?’ poder ia ser respondida brevemente: é o fa to de que o in - vest imento não apenas é produzido mas também é produtor . O inves- t imento considerado como despesa é a fon te de prosper idade, e cada aumento dele melhora os negócios e est imula uma poster ior elevação do invest imento. Mas, ao mesmo tempo, cada invest imento é uma adição ao equipamento de capita l, e desde logo compete com a geração mais velha desse equipamento. A t ragédia do invest imento é que ele causa cr ise porque é ú t il. Sem dúvida , muitas pessoas considerarão paradoxa l essa teor ia . Mas não é a teor ia que é paradoxa l, e sim seu objeto: a economia capita lista”.15 5) Trabalh os Re lac ion ados com a Te oria da Din âm ica Econ ôm ica Como dissemos an ter iormente, Kalecki publicou , an tes e depois OS ECONOMISTAS 22 14 KALECKI. Crescim ento eCiclo das Econom ias Capitalistas. p. 105 e 106. 15 KALECKI. Essays in the T heory of Econom ic Fluctuations. p. 148 e 149. de sua T eoria da Dinâm ica Econôm ica, muitos t raba lhos que t ra tam dos mesmos temas cont idos neste livro, e a leitu ra de a lguns deles pode a judar consideravelmente no en tendimento do livro.16 1. Grau de Monopólio e Distribu ição da R enda Traba lhos an ter iores à T eoria da Dinâm ica Econôm ica, por ordem cronológica : 1.1. “The Determinants of Dist r ibu t ion of the Nat iona l Income”. In : Econom etrica. Abr il de 1938. p. 97-112; 1.2. “The Dist r ibu t ion of the Nat iona l Income”. Capítu lo dos Essays; 1.3. “Money and Rea l Wages”. Capítu lo dos Essays. Em por tuguês, “Sa lá r ios Nomina is e Rea is”. In : Kaleck i; 1.4. Place N om inalne e R ealne (Varsóvia , 1939), cu jo capítu lo teór ico, sob o t ítu lo de “Sa lá r ios Nomina is e Rea is”, se encont ra em Cres- cim ento e Ciclo; 1.5. “The Supply Curve of an Indust ry under Imperfect Compet it ion”. In : R eview of Econom ic S tudies. Fevereiro de 1940. p. 91-112; 1.6. “The Theory of Long-Run Dist r ibu t ion of the Product ion of Indus- t ry”. In : Oxford Econom ic Papers. J unho de 1941. p. 31-41; Traba lho poster ior : 1.7. “Class St ruggle and the Dist r ibu t ion of Nat iona l Income”. In : Ky- k los. n º 1, 1971. p. 1-9. Em por tuguês: “Luta de Classe e Dist r i- bu ição da Renda Naciona l”. In : Crescim ento e Ciclo. 2. Determ inantes dos Lucros e da R enda N acional Traba lhos an ter iores à T eoria da Dinâm ica Econôm ica: 2.1. “O Handlu Zagranicznym i ‘eksporcie wewnet rznym’”. In : Ekono- KALECKI 23 16 Em nossa relação desses t raba lhos, os t ítu los dos livros Essays in the T heory of Econom ic Fluctuations, S tud ies in Econom ic Dynam ics e Crescim ento e Ciclo das Econom ias Capita- listas, já citados, serão resumidos para Essays, S tud ies e Crescim ento e Ciclo, r espect iva- mente. O volume referen te a Kalecki na Coleção Grandes Cien t istas Socia is da Editora Át ica , t ambém já mencionado, será indicado como Kaleck i. m ista. n º 3 de 1933. p. 27-35. Em por tuguês: “Comércio In terna - ciona l e ‘Expor tações In ternas’”. In : Crescim ento e Ciclo; 2.2. “Investment and Income”. Capítu lo dos Essays; 2.3. “A Theory of Profit s”. In : Econom ic J ournal. J unho-setembro de 1942. p. 258-267. Poster ior : 2.4. “The Marxian Equat ions of Reproduct ion and Modern Economics”. In : S ocial S ciences In form ation , n º 6, 1968. p. 73-79. Em por tu- guês: “As Equações Marxistas de Reprodução e a Economia Mo- derna”. In : Crescim ento e Ciclo. 3. T axas de J uros 3.1. “The Long-Term Rate of In terest”. Capítu lo dos Essays; 3.2. “The Shor t -Term Rate and the Long-Term Rate”. In : Oxford Eco- nom ic Papers. Setembro de 1940. p. 15-22. 4. Determ inantes do Investim ento Os estudos sobre os determinantes do invest imento fazem par te dos t raba lhos sobre os ciclos econômicos (aba ixo relacionados), com uma exceção: 4.1. “The Pr inciple of Increasing Risk”. In : Econom ica. Novembro de 1937. p. 440-447; e uma nova versão nos Essays. 5. Ciclo e Crescim ento Econôm ico Estudos an ter iores à T eoria da Dinâm ica Econôm ica: 5.1. Próba-T eorii Koniu nk tu ry. Va r sóvia , 1933. A pa r t e t eór ica desse pequ en o livro foi post er iorm en te publicada em separ ado. Sua t r a du ção, “E sboço de um a Teor ia do Ciclo E conôm ico”, se en - cont r a em Crescim ento e Ciclo. Dua s ver sões dessa pa r t e t eór ica for am pu blica da s, u m a em fr an cês e ou t r a em in glês: “E ssa i d’u ne Th éor ie du Mou vem ent Cycliqu e des Affa ir es”. (In : R evu e d’Écon om ie Politique. n º 2, 1935. p. 285-305); e “A Ma crody- na m ic Theory of Bu sin ess Cycles”. In : E con om etrica . n º 3. 1935. p. 327-344; 5.2. “Istota Propawy Koniunktura lnej”. In : Polska Gospodarcza. n º 43, 1935. p. 1320-1324. Em por tuguês: “O Mecanismo da Recuperação Econômica”. In : Crescim ento e Ciclo e t ambém em Kaleck i; OS ECONOMISTAS 24 5.3. “A Theory of the Business Cycles”. In : R eview of Econom ic S tudies. Fevereiro de 1937. p. 77-97; 5.4. “A Theory of the Business Cycle”. Capítu lo dos Essays e que cor - responde a uma edição modificada do t raba lho an ter ior ; 5.5. “Business Cycle and Trend”. Segunda par te dos S tudies; 5.6. “A New Approach to the Problem of Business Cycles”. In : R eview of Econom ic S tudies. n º 2, 1949. p. 57-64. Traba lhos poster iores: 5.7. “Observa t ions on the Theory of Growth”. In : Econom ic J ournal. Março de 1962. p. 134-153; 5.8. “Trend and Business Cycles Reconsidered”. In : Econom ic J ournal. J unho de 1968. p. 263-276. Em por tuguês: “Tendência e Ciclo Econômico”. In : Crescim ento e Ciclo; 5.9. “Theor ies of Growth in Differen t Socia l Systems”. In : S cien tia. Maio-junho de 1970. p. 311-316. Em por tuguês: “Teor ias do Cres- cimento em Diferen tes Sistemas Socia is”. In : Crescim ento e Ciclo. Fina lmente, um out ro t raba lho também deve ser mencionado, por apresen ta r uma abordagem in teiramente diversa das an ter iores. Nesse t raba lho, publicado em 1943, Kalecki prevê o cará ter polít ico que os ciclos econômicos ter iam depois da Segunda Guerra Mundia l: 5.10. “Polit ica l Aspects of Full Employment”. In : Political Quarterly. nº 4, 1943. p. 322-331. Em por tuguês: “Os Aspectos Polít icos do Pleno Emprego”. In : Crescim ento e Ciclo. J orge Miglioli J orge Miglio li , nascido em 1935, é licenciado em Ciências Socia is pela Universidade Federa l do Rio de J a - neiro, doutor em Ciências Econômi- cas pela Escola Cent ra l de P lan ifi- cação e Esta t íst ica de Varsóvia (Po- lôn ia ) e livre-docente em Economia pela Universidade Estadua l de Cam- pinas, onde é Professor t itu la r do De- par tamento de Economia e P laneja - KALECKI 25 mento Econômico. Publicou os se- guin tes livros: T écnicas Quantitati- vas de Planejam ento (1976); Acum u- lação de Capital e Dem anda Efetiva (1981); In trodução ao Planejam ento Econôm ico (1982). Além de ter edi- tado: Micha l Kalecki, Crescim ento e Ciclo das Econom ias Capitalistas (1977); Kaleck i (Grandes Cien t istas Socia is, 1980). OS ECONOMISTAS 26 MICHAL KALECKI TEORIA DA D INÂMICA ECONÔMICA* ENSAIO SOBRE AS MUDANÇAS CÍCLICAS E A LONGO P RAZO DA ECONOMIA CAP ITALISTA T radução de Pau lo de Almeida * Traduzido do or igina l inglês: T heory of Econom ic Dynam ics — An Essay on Ciclical and Long-R un Changes in Capitalist Econom y. 2ª ed. revista . Londres. George Allen & Unwin , 1965. P REFÁCIO E ste livro está sendo publicado em lugar de uma segunda edição de meus Essays in the T heory of Econom ic Fluctuations (Ensaios sobre a T eoria das Flu tuações Econôm icas) e de meus S tudies in Econom ic Dynam ics (Estudos de Dinâm ica Econôm ica). Tra ta -se, contudo, de um livro essencia lmente novo. Apesar de cobr ir a mesma área que foi objeto dos dois livros an ter iores e de as idéias básicas não terem sofr ido muitas modificações, a apresen tação e mesmo a a rgumentação passa- ram por a lterações substancia is. Ademais, em a lguns casos, pr incipa l- mente nos capítu los 13 e 14, foram incorporados novos elementos. Tam- bém o escopo das ilust rações de cará ter esta t íst ico foi bastan te am- pliado, t endo sido u t ilizados novos mater ia is esta t íst icos a que se teve acesso poster iormente à publicação de minhas obras an ter iores. Convém também sa lien ta r que nas aná lises esta t íst icas foi em- pregado o método dos mín imos quadrados. Esse procedimento pode parecer a lgo grosseiro à luz dos desenvolvimentos mais recentes das técn icas esta t íst icas. Deve-se observar , contudo, que o propósito da aná lise esta t íst ica aqui encetadaé most ra r a plausibilidade das relações ent re var iáveis econômicas a que se chegou teor icamente e não obter os coeficien tes mais prováveis dessas relações. Espera-se que as pre- cauções tomadas na aplicação de nosso inst rumenta l esta t íst ico simples (pr incipa lmente na aná lise dos determinantes do invest imento) tenham sido adequadas para obter uma pr imeira aproximação que sirva para fins ilust ra t ivos. Faz-se aqui uso freqüente de fórmulas, mas, a par disso, foi rea - lizado um esforço — em a lguns casos mesmo em det r imento da precisão — no sen t ido de se aplica r apenas a matemát ica elementar . Sou muito obr igado à Sra . Ting Kuan Shu-Chuang e ao Sr . Chang Tse-Chun por suas va liosas sugestões com relação ao melhoramento da apresen tação do livro e por sua a juda nas pesquisas esta t íst icas. M. Kalecki Fevereiro de 1952 29 P ARTE P RIMEIRA GRAU DE MONOP OLIZAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DA RENDA 1 Cu sto e P re ços P re ços “de te rm in ados pe lo cu sto” e pre ços “de te rm in ados pe la de m an da” As a lterações de preços a cur to prazo podem ser classificadas em dois grupos pr incipa is: as que são determinadas pr incipa lmente por modificações do custo da produção e as que são determinadas pr in- cipa lmente por modificações da demanda . De modo gera l, as a lterações de preço dos produtos acabados são “determinadas pelo custo”, enquanto as a lterações de preço das matér ias-pr imas, inclusive produtos a limen- t ícios pr imár ios, são “determinadas pela demanda”. Cla ro está que o preço dos produtos acabados é a fetado por qua isquer mudanças “de- terminadas pela demanda” ocor r idas nos preços das matér ias-pr imas, mas é a t ravés dos custos que essa in fluência é t ransmit ida . É evidente que cada um desses dois t ipos de formação de preços surge de condições diferentes de oferta. A produção de bens acabados é elást ica devido à existência de reservas de capacidade produtiva. Quando a demanda aumenta, o acréscimo é atendido principalmente por uma elevação do volume de produção, enquanto os preços tendem a permanecer estáveis. As alterações de preços que porventura se verificarem resultarão principalmente de modificações do custo de produção. J á quanto às matér ias-pr imas, a situação é diferen te. É necessár io um per íodo de tempo rela t ivamente grande para se conseguir um au- mento da ofer ta de produtos agr ícolas. O mesmo se pode dizer com relação à mineração, embora a coisa aqui se dê em grau menor . Man- tendo-se a ofer ta inelást ica duran te um per íodo de tempo cur to, uma elevação da procura mot iva uma diminuição dos estoques e, conse- qüentemente, um aumento dos preços. O movimento in icia l dos preços pode ser in tensificado pela inclusão de um elemento especula t ivo. As mercador ias em questão normalmente são padronizadas e se acham 33 su jeitas a cotação na bolsa de mercador ias. Um aumento pr imár io na procura , mot ivando uma elevação dos preços, faz-se freqüentemente acompanhar por uma procura secundár ia de cará ter especula t ivo. Isso torna a inda mais difícil, a cur to prazo, que a produção se equilibre com a demanda . Este capítu lo t ra ta rá pr incipa lmente do estudo da formação dos preços “determinados pelo custo”. Fixação do pre ço por u m a firm a Consideremos uma firma com um dado capita l fixo. Supõe-se que a ofer ta seja elást ica , isto é, que a firma opere com capacidade ociosa e que os custos diretos (custos de mater ia is e sa lá r ios — os ordenados se incluem nos custos indiretos) por un idade produzida sejam estáveis para a amplitude relevante da produção.17 Dian te das incer tezas com que se defronta o processo de fixação de preços, não iremos supor que a firma recor ra a a lguma medida em par t icu la r na procura de maxi- mizar seus lucros. No en tan to, suporemos que o n ível efet ivo dos custos indiretos não influencia diretamente a determinação do preço, uma vez que o tota l dos custos indiretos permanece mais ou menos estável com relação às var iações da produção. Assim sendo, o n ível de produção e de preços no qua l se supõe que a soma dos custos indiretos mais os lucros a lcance o ponto mais elevado é ao mesmo tempo o n ível que pode ser considerado o que mais favorece os lucros. (Contudo, t a rde iremos ver que o n ível dos custos indiretos pode ter uma influência indireta sobre a formação dos preços.) Para fixar os preços, a firma leva em consideração a média de seus custos diretos e os preços de ou t ras firmas que fabr icam produtos simila res. A firma tem que evita r que o preço se eleve demasiado com relação aos preços das ou t ras firmas, já que se isso sucedesse as vendas se reduzir iam drast icamente. É preciso também, por ou t ro lado, evita r que o preço se torne demasiado ba ixo com relação à média dos custos diretos, porquanto isso reduzir ia drast icamente a margem de lucro. Assim, quando o preço p é determinado pela firma com relação ao custo direto un itá r io u , é preciso tomar cu idado para que a razão en t re p e a média ponderada dos preços de todas as firmas, p __ 18, não se torne a lta demais. Se u aumenta , p pode ser aumentado proporciona lmente somente se p __ aumenta menos que u . Mas se p aumenta menos que u , OS ECONOMISTAS 34 17 Na verdade, os custos diretos un itá r ios caem um pouco, em muitos casos, à medida que a produção aumenta . F izemos abst ração dessa complicação, que não é de grande impor tância no caso. A suposição, feita em 1939, em meus Essays in the T heory of Econom ic Fluctuations, de uma curva de custos diretos e cur to prazo quase hor izonta l, t em sido comprovada desde então por muitas pesquisas empír icas e tem desempenhado, explícita ou implicitamente, um papel impor tan te na pesquisa econômica . Cf., por exemplo, LEONTIEF, W. W. T he S tructure of Am erican Econom y. Harvard University Press, 1941. 18 Ponderado pelas respect ivas produções, inclusive pela da firma em questão. proporcionalmente também. o preço da firma p t ambém subirá menos do que u . Essas condições se acham cla ramente expressas na fórmula p = m u + np __ onde tan to m como n são coeficien tes posit ivos. Aceitamos que n < 1, pelo seguin te mot ivo: no caso onde o preço p da firma foca lizada é igua l ao preço médio p __ t emos: p = m u + np (1) de onde se conclu i que n t em que ser menor que a un idade. Os coeficien tes m e n , que caracter izam a polít ica de fixação de preços da firma , refletem aquilo que podemos chamar de grau de mo- nopólio da posição da firma . De fa to, fica cla ro que a equação (1) ret ra ta uma formação de preços semimonopolíst ica . A elast icidade da ofer ta e a estabilidade dos custos diretos un itá r ios sobre a amplitude relevante da produção é incompat ível com a assim chamada concor rência per feita . Ora , se predominassem condições de concor rência per feita , o excedente do preço p sobre os custos diretos un itá r ios u levar ia a firma a aumentar a produção a té o ponto em que se eliminasse tota lmente a capacidade ociosa . Assim, qua lquer firma que ficasse no ramo chegar ia ao pleno emprego dos fa tores de produção, sendo que o preço subir ia a té o n ível em que se equilibra r iam ofer ta e procura . Será in teressan te apresen ta r um gráfico demonst rando as modi- ficações do grau de monopolização. Dividamos a equação (1) pelo custo direto un itá r io u : p u = m + n p __ u E sta equ açã o se a ch a represen tada no gr á fico 1, onde p __ u é a abscissa e Gr á fico 1. Modificação no grau de m onopólio. KALECKI 35 p u é a ordenada , pela reta AB . A inclinação de AB é menor doque 45º porque n < 1. A posição dessa reta que é completamente determinada por m e n indica o grau de monopolização. Quando, devido a uma modificação de m e n , a reta deslocar -se para cima, da posição AB para a posição A ′B ′, en tão a um dado preço médio p __ e custo direto unitá r io u cor responderá um preço mais elevado p da firma sobre a amplitude relevante de p __ u . Diremos nesse caso que o grau de monopo- lização aumentou . Quando, por ou t ro lado, a reta deslocar -se para ba ixo a té a posição A ′′B ′′, diremos que o grau de monopolização diminuiu (supomos que m e n sempre se modificam de forma ta l que nenhuma das linhas cor respondentes a vár ias posições de AB cruza ou t ra sobre a amplitude relevante de p __ u ). Podemos agora demonst ra r uma proposição que se reveste de cer ta impor tância no que diz respeito a nossa a rgumentação fu tura . Consideremos os pontos de in terseção P, P′, P′′ das retas AB , A ′B ′, A ′′B ′′ com a linha OK cor tando a or igem a 45º. É cla ro que quanto maior o grau de monopolização, mais longa será a abscissa t raçada a par t ir do respect ivo ponto de in terseção. Ora , esse ponto é determinado pelas equações: p u = m + n p __ u e p u = p __ u . Conclu i-se que a abscissa do ponto de in terseção é igua l a m1 – n . Por conseguin te, um aumento de m1 – n se reflet irá em um grau mais elevado de monopólio e vice-versa . Neste tópico e no seguin te, a a rgumentação quanto à in fluência do grau de monopolização sobre a formação de preços é de cará ter bastan te formal. As razões que na prá t ica levam a modificações do grau de monopolização serão examinadas mais adian te. Form ação de pre ços n u m ram o da in dú stria: u m caso e spe c ia l Podemos in icia r o deba te da determinação do preço médio em um ramo da indúst r ia , tomando um caso em que os coeficien tes m e n são os mesmos para todas as firmas, mas onde os custos diretos unitá r ios u são diferen tes. Temos, en tão, com base na equação (1): p1 = m u1 + np __ p2 = m u2 + np __ OS ECONOMISTAS 36 . . . . . . . . . . pk = m u k + np __ (1′) Se essas equa ções forem pondera da s por sua s r espect iva s produ ções (ist o é, ca da u m a dela s mult ip licada por su a r espect iva produ ção, todos os r esu lt ados som a dos e a som a d ivid ida pelo t ot a l da produ - çã o), obt erem os: p __ = m u __ + np __ de forma que (2) p __ = m 1 – n u __ . Recordemos que, de acordo com o tópico an ter ior , quanto mais elevado o grau de monopolização, maior será m 1 – n . Podemos assim conclu ir : O preço médio p __ é proporciona l ao custo direto un itá r io médio u __ se o grau de monopolização se mant iver constan te. Se aumentar o grau de monopolização, p __ se elevará com relação a u __ . Ainda é impor tan te ver de que forma um novo “equilíbr io de preços” é a lcançado quando os custos diretos un itá r ios mudam em con- seqüência de modificações nos preços das matér ias-pr imas ou da mão- de-obra . Representemos os “novos” custos diretos un itá r ios por u 1, u 2 etc., e os preços “velhos” por p ′1, p ′2 etc. A média ponderada desses preços é p __ ′. A ela cor respondem os novos preços p ′′1, p′′2 etc., igua is a m u 1 + np __ ′, m u 2 + np __ ′ etc. Isso leva por sua vez a um novo preço médio p __ ′′, e assim por diante, convergindo o processo afinal para um novo valor de p __ , dado pela fórmula (2). Essa convergência do processo depende da condição de ser n < 1. De fato, conforme as equações (1′) temos que: p __ ′′ = m u __ + np __ ′ e para o novo p __ fina l: p __ = m u __ + np __ . Subt ra indo a segunda equação da pr imeira , obtemos: p __ ′′ – p __ = n (p __ ′ – p __ ) o que most ra que o desvio do va lor fina l de p __ diminui em progressão geométr ica sempre, desde que n < 1. Form ação de pre ços n u m ram o da in dú stria: o caso ge ral Consideremos agora o caso genér ico em que os coeficien tes m e KALECKI 37 n são diferen tes de firma para firma . Parece que, median te um pro- cedimento semelhante ao que foi aplicado no caso especia l, chega-se à fórmula : p __ = m __ 1 – n __ u __ (2′) m __ e n __ são a média ponderada dos coeficien tes m e n .19 Agora imaginemos uma firma para a qua l os coeficien tes m e n sejam igua is a m __ e n __ pa ra o ramo de indúst r ia ao qua l essa firma per tence. Podemos considerá-la como sendo uma firma represen ta t iva do ramo de indúst r ia a que per tence. Podemos a inda considerar que o grau de monopolização desse ramo de indúst r ia seja o mesmo da firma escolh ida como represen ta t iva . Assim, o grau de monopolização será determinado pela posição da reta cor respondente a : p u = m __ + n __ p __ u . Um aumento do grau de monopolização irá reflet ir -se num desloca- mento para cima dessa reta (ver grá f. 1). Conclu i-se da a rgumentação cont ida na página 36, que quanto mais elevado o grau de monopolização, de acordo com esta defin ição, maior será m __ 1 – n __ . A par t ir disso e da equação (2′), segue-se a genera lização dos resu ltados obt idos no tópico an ter ior para o caso especia l considerado. O preço médio p __ é proporciona l ao custo direto un itá r io médio u __ se o grau de monopólio for constan te. Se o grau de monopolização aumentar , p se eleva com relação a u __ . A razão en t re preço médio e custo direto un itá r io é igua l à razão ent re o montan te dos rendimentos do ramo da indúst r ia e o montan te dos custos diretos do ramo da indúst r ia . Segue-se que a razão en t re rendimentos e custos diretos é estável, aumentando ou diminuindo somente conforme o que acontecer com o grau de monopolização. Deve-se lembrar que todos os resultados aqui obtidos estão sujeitos à suposição de que a oferta seja elást ica. Quando as firmas não têm mais capacidade ociosa, um aumento adicional da demanda irá provocar uma elevação do preço além do nível indicado pelas considerações acima. Con- tudo, esse nível poderia ser mantido por algum tempo, enquanto a firma permit isse que os pedidos se acumulassem em carteira. Cau sas de m odificação do grau de m on opolização Limita r -nos-emos aqui a discu t ir os pr incipa is fa tores subjacentes OS ECONOMISTAS 38 19 m é a média de m ponderada pelos custos diretos tota is de cada firma: n é a média de n ponderada pelas respect ivas produções. às modificações do grau de monopolização nas economias capita listas modernas. Em pr imeiro lugar , há que considerar o processo de con- cent ração da indúst r ia , que leva à formação de corporações gigantescas. A influência do surgimento de firmas que represen tam uma parcela substancia l da produção de um ramo de indúst r ia pode ser facilmente entendida à luz das considerações acima. Uma firma desse t ipo sabe que seu preço p in fluencia de forma apreciável o preço médio p __ e que, ademais, as ou t ras firmas do ramo se verão compelidas na mesma direção, já que a formação de preços delas depende do preço médio p __ . Assim, a firma pode fixar seu preço num nível mais elevado do que ser ia o caso se as coisas fossem diferen tes. Out ras firmas grandes fazem o mesmo jogo e assim o grau de monopólio se eleva de modo substancia l. Esse estado de coisas pode ser reforçado por um acordo tácito. (Ent re ou t ras coisas, esse acordo pode se dar median te a fixação de preços
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