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Sociologia Geral e Jurídica Eric Carvalho de Andrade Professora Cláudia Albagli 1. Surgimento das ciências sociais a) Introdução A sociologia surge no século XVIII, diante de diversos problemas inéditos para os homens, principalmente do ocidente europeu. Nesta época, e neste continente, estava ocorrendo a Revolução Francesa e a Revolução Industrial, ou seja, estabelecimento definitivo do capitalismo. Apesar disso, a palavra “sociologia” só vem surgir um século depois, no XIX, debruçando -se diante dos problemas surgidos logo com a revolução industrial, dentre eles: Concentração dos meios de produção; Enorme emigração do campo para a cidade; Engajamento de mulheres e crianças no mercado de trabalho; Vertiginoso crescimento demográfico; Falta de infraestrutura para suportar a população; E, talvez a mais significante, o surgimento do proletariado. A sociologia constitui em certa medida, uma resposta intelectual às novas situações colocadas pela Revolução Industrial e Francesa, procurando estabilizar essa sociedade “caótica”. Nessa época havia um cientificismo exacerbado, fruto das suas raízes desde o século XVI. Esse cientificismo procura experimentar de forma metódica o seu objeto de estudo; portanto, com a sociologia, isso não será diferente. No século XVIII, foram os iluministas que consolidaram esse culto à razão, insistindo numa explicação da realidade baseada no modelo das ciências da natureza. Assim como a Revolução Industrial, a Revolução Francesa vai destituir governos, estruturas, leis, costumes, métodos estabelecendo os preceitos da burguesia, assustando a sociedade ao passo que rompia com aspectos mais tradicionais. Obviamente vão surgir seus críticos, que viram esse movimento como uma total “anarquia”, “bagunça”, “desordem”, “crise” e coisas do gênero. A tarefa que os fundadores da sociologia assumem é, portanto, a de estabilização da nova ordem. b) A sociologia Jurídica Por sua vez, a Sociologia Jurídica é um campo da sociologia geral e surge no início do séc. XX com duas obras: 1910: Carlos Nardi – Greco 1913: Eugen Ehrlich (“Direito das relações vivas da sociedade”) Nessa obra, Ehrlich nega a norma jurídica como sendo o principal constituinte do Direito e afirma que as relações sociais que fazem esse papel, sendo essas normas apenas instrumentos para manter a ordem. Nessa época, o positivismo jurídico estava em seu ápice, sendo uma escola antagônica a essa linha de pensamento de Ehrlich. Como resultado, nasce a Escola Sociológica do direito, que entende que o direito é formado primariamente pelo fato social, ou seja, baseado na dinâmica da vida em sociedade na prática. Diante de toda essa discussão, a sociologia jurídica vai estudar essa dialética entre Direito e Sociedade, analisando o fato social e as normas envolvidas. c) Dogmática x Sociologia Jurídica Dogmática Sociologia Jurídica Monismo Pluralismo Jurídico Prática técnico-formal Pratica empiricamente inserida Crença na ordem e segurança jurídica Crença na realização do justo Interpretação sistemática Interpretação sociológica Para os monistas o direito é um produto do Estado ou, pelo menos, autorizado por ele. Exemplo disso é o poder normativo dos grupos sociais (como partidos políticos, sindicatos e outros), que são considerados uma fonte do Eric Carvalho de Andrade direito. Para que esse modelo monista pudesse existir, foi necessária, primariamente, a formação do Estado moderno, com a divisão dos três poderes (executivo legislativo e judiciário). Já para o pluralismo jurídico, há uma possibilidade de aceitar, também, normas produzidas difusamente pela sociedade. Neste conceito é descartada a noção de ilicitude, não como sendo irrelevante, mas sim como não sendo o foco do estudo. A dogmática jurídica nos prepara para a prática técnica formal, a exemplo uma petição inicial, que possui várias exigências formais. Observação: a instrumentalidade das formas é uma forma de relativizar a norma quando ela não essencial à natureza do ato (exemplo: quantidade de linhas, negrito e etc.). Na sociologia jurídica é feita a um contraponto a essa prática formal através de uma prática empiricamente inserida a qual sugere que o profissional do direito vá além dessa formalidade e analise a realidade a fim de criar um direito mais eficaz. Um dos valores mais importantes e essências para a dogmática jurídica é a ideia de segurança jurídica, que é a previsibilidade e garantia de direitos para as partes. Isso permite que a sociedade se organize dentro das possibilidades proporcionadas pelo direito. Nesse contexto, há o debate entre o princípio da segurança jurídica e a crença na realização do justo, onde, em alguns momentos, abre-se mão da primeira em favor da segunda. Intepretação sistemática: interpretar a norma considerando o “todo” a que ela está inserida. Exemplo: art. (1º, 2º, 3º) o § (paragrafo), Inciso (I, II, III), Alínea (a, b, c) Interpretação sociológica: é interpretar uma norma à luz da sociedade, ou seja, analisar se esta norma realmente se aplica à situação quais seriam as suas consequências. Eric Carvalho de Andrade 2. Émile Durkheim a) Contexto Preocupou-se em fornecer uma resposta às ideias socialistas que estavam ainda nascendo, discordando delas, principalmente em relação à ênfase que essas ideias davam aos fatores econômicos para diagnosticar as crises existentes no seu tempo. Ele vai além, afirma que o problema estava na fragilidade da moral, e passa a buscar novas ideias morais capazes de guiar a conduta dos indivíduos e, por fim, recuperar a tão desejada estabil idade na sociedade que houvera se perdido. Vivencia o ápice do positivismo de Comte, onde as ciências naturais estavam em grande ascendência graças a Revolução Industrial e dos ideais conquistados pela Revolução Francesa. Estava ali ocorrendo uma mudança social sensível, pois a burguesia, recém-surgida, estava no poder, colocando em prática a linha de pensamento contratualista. Portanto, Durkheim vai estudar justamente a sociedade dessa época de grandes mudanças, onde o trabalhador assalariado surge de forma expressiva, surgindo assim classes sociais advindos da economia mercantilista (acumulação de metais preciosos) que agora passa a ser uma economia capitalista (acumulação de dinheiro). b) Objeto de estudo O objeto de estudo de Durkheim serão os fatos sociais, pois, para ele, seria um objeto de pesquisa mais concreto. Dessa forma, analisará vários aspectos de um mesmo fato, como a influência da religião, economia, valores e entre outros. Características do fato social Exterior: o indivíduo submete-se ao fato social e ele vai coexistir independentemente dele; Exemplo: falamos português, pois nascemos no Brasil e esta língua irá existir independentemente de um indivíduo isolado. Geral: aplica-se a um grande grupo de indivíduos; Exemplo: a moral de um povo é exercida sobre esse grupo de indivíduos. Coercitivo: os fatos sociais vão influenciar fortemente o comportamento do indivíduo; Exemplo: usar burca em países mulçumanos independentemente de sermos turistas ou não naquele lugar. Maneiras de ser x maneiras de agir Maneiras de ser: Durkheim vai afirmar que existem fatos sociais com maior ou menor grau de consolidação. Exemplo: a religião católica é de alto grau de consolidação, pois seus princípios mudam pouco ao longo do tempo; enquanto a forma em que se pratica uma missa tem um grau menor de consolidação, já que muda de geração após geração. Outro exemplo de graus de consolidação é o idioma. Apesar de o idioma “português” existir a muito tempo, portanto tendo um alto grau de consolidação, os dialetos mudam constantemente,sendo, portanto, um fato social de baixo grau de consolidação. Maneiras de agir: são os fatos sociais mais fluidos, ou seja, que mudam constantemente. O exemplo que Durkheim usa é a moda. Representações coletivas O que Durkheim chama de representações coletivas seria o que hoje nós chamamos de cultura, ou seja, a sociedade passa valores de geração em geração, os quais dão identidade àquele povo. Exemplo: as festas baianas acontecem de geração em geração e identificam a nossa coletividade dando título de “baiana”. c) Livro: “Da divisão social do trabalho” Nessa obra, Durkheim vai procurar compreender o que aconteceu na passagem para a modernidade. Eric Carvalho de Andrade Consciência coletiva Consciência individual Solidariedade mecânica Solidariedade orgânica Direito penal de caráter repressivo Direito contratual de caráter restitutivo Durkheim procura compreender o que faz com que a sociedade mantenha seus laços sociais mesmo com tantas mudanças desde a modernidade. Nesse cenário, ele percebe que há certa homogeneidade comportamental em diferentes culturas, onde, por exemplo, nas sociedades indígenas a mulher é responsável por trabalhos mais domésticos ao passo que o homem é responsável pela caça e pela defesa. O mesmo aconteceria na sociedade em que o sociólogo vivia, onde cada pessoa possuía um papel específico. Possuía, portanto, uma visão otimista da nascente sociedade industrial, ao passo que esse novo modelo cria uma interdependência entre os homens cada vez maior – a qual é conceituada por ele de “solidariedade”. Entretanto, como a sociedade estava mudando velozmente, ficava difícil estabelecer os valores morais organizadores da população, a qual, sem tais preceitos, entra em um estado de anomia, que é uma ausência de regras claramente estabelecidas. O suicídio foi analisado por ele como consequência da anomia, ou seja, a sociedade encontrava-se incapaz de exercer controle sobre o comportamento de seus membros. Destrinchando primeiro o conceito de solidariedade supracitado, podemos ver que ela se divide em dois, da seguinte forma: A primeira delas é a solidariedade mecânica, que caracteriza as sociedades pré-capitalistas, nas quais há um baixo (ou nenhum) grau de consciência individual, uma vez que predomina, em termos de coesão social, uma consciência coletiva que controla a sociedade. Um elemento que é associado às sociedades de solidariedade mecânica é a baixa divisão do trabalho, no sentido de que haveria uma pequena divisão de tarefas e funções presentes nessas sociedades. De acordo com o sociólogo, essas sociedades manteriam sua coesão social por meio de laços tradicionais decorrentes do compartilhamento dos mesmos valores culturais responsáveis por determinar certo padrão moral a ser seguido. Durkheim acreditava que os valores morais, reforçados pelos séculos de tradição que se fortaleciam por meio dos laços familiares e dos costumes, seriam responsáveis por determinar uma série de regras que exigiriam determinado comportamento dos indivíduos, de modo que estes se adequassem às suas respectivas funções. Dentro do processo histórico, a solidariedade mecânica se reduz. Isso abre espaço para uma nova forma de organização e coesão social com base na solidariedade orgânica, na qual a especialização do trabalho se intensifica e provoca o enfraquecimento da consciência coletiva. No caso em específico, a solidariedade mecânica dá lugar à solidariedade orgânica, em que os valores morais e religiosos são substituídos por outros elementos, entre eles, a divisão do trabalho social. Nesse cenário, a solidariedade orgânica destaca o que as pessoas têm de singular nelas, pois são essas características que mantêm os laços sociais. Para ilustrar essa ideia, podemos analisar as diversas funções e profissões que existem (engenheiro, pedreiro, dentista, advogado), onde cada um completa e depende da outra. Ainda nesse estudo, Durkheim afirma que o direito seria um indicativo de solidariedades, ou seja, determinados direitos seriam mais utilizados ou eficientes do que outro. Nas sociedades de baixa complexidade, o direito penal seria o mais utilizado, pois o comportamento destoante seria reprimido. Diferente disso, o instrumento do direito que poderia agregar dessemelhanças seria por meio dos contratos, ou seja, as diferenças são agregadas por meio de acordos. Por fim, a anomia (a + nomos), ou seja, “não norma”, para Durkheim, seria um estado de desregramento social. O conceito surgiu com o objetivo de descrever as patologias sociais da sociedade ocidental moderna, racionalista e individualista, que, nesse contexto, a anomia seria a debilidade dos laços que prendem o indivíduo ao grupo. A existência de regras sem eficácia ou, até mesmo, a ausência total delas, seria também um estado de anomia. Fonte de apoio: Wilson Teixeira Moutinho – “Tipos de Solidariedade“ Eric Carvalho de Andrade 3. Max Weber a) Contextualização Weber vive no mesmo contexto que Durkheim, sofrendo influência da revolução industrial e as consequências da revolução francesa. Ele se diferencia de Marx e Durkheim a começar pela sua nacionalidade, que era alemão. Além disso, Weber recorre à história para se compreender a sociedade e, além disso, também inclui a economia para seus estudos sem que afirme que esta seja determinante da sociedade, como Marx afirmava. Para Weber, o cientista social nunca conseguirá alcançar toda a realidade social, ou seja, o cientista sempre analisa fragmentos da realidade não podendo, em seus estudos, criar “leis” universais que se aplicam a todas as sociedades. Assim como a ciência é separada da opinião, Weber quer fazer o mesmo com a sociologia, transformando esta em uma “ciência das realidades”. Isso significa que essa ciência procura compreender por interpretação a atividade social e deste modo explicar casualmente seu desenrolar e seus efeitos, ou seja, para Weber a sociologia deveria ser algo “neutro”. A sociologia, para Weber, deve ser uma ciência compreensiva e explicativa. b) Referenciais teóricos Wilhelm Dilthey Em sua Introdução às ciências sociais do homem, publicada em 1883, Dilthey procura fazer uma distinção entre os métodos das ciências da natureza e dos métodos das “ciências do espírito”. O homem, em sua ótica, não é apenas respostas a estímulos do meio, e sim é um conjunto de valores, de crenças e de outros elementos subjetivos que não podem ser previsíveis nem calculados, como procura fazer as ciências naturais. Portanto, para se compreender a realidade social, é necessário remontar o contexto histórico, criando assim o “método compreensivo”. Heinrich Rickert O sociólogo buscaria na realidade os elementos para formular a sua teoria, corroborando para a ideia de “fragmentos da realidade”. c) Tipo ideal Weber se opõe fortemente a todo tipo de determinismo e de generalizações, como, por exemplo, a ideologia marxista que prega que a riqueza determina o rumo de uma sociedade. O sociólogo vai além, afirmando que cada sociedade é singular e se explica sempre pela conjugação de uma multiplicidade de fatores econômicos, políticos, culturais, morais e entre outros. O tipo ideal é uma idealização feita a partir de uma realidade social para que o estudo seja facilitado, não refletindo a realidade como ela é, mas sim sendo uma ferramenta para se chegar a ela. Há métodos para que se cheguem nesse tipo ideal. Um deles é partir do geral para o particular, estudando da generalidade para a especificidade e, existe também, o contrário, que é pensar a partir do particular para o geral. Em termos práticos, o tipo ideal de religião não corresponde a nenhuma religião de forma completa por conta de o estudioso, para criar umtipo ideal, parte da realidade e induz uma generalidade, ou seja, ele analisa os diversos elementos de sua realidade social e encontra um ponto em comum. Nesse sentido, depois de criado um tipo ideal de “religião”, a partir daí quando um sociólogo for estudar uma religião em uma comunidade, ele partirá desse tipo ideal do que seria religião (conjunto de rituais, imagens e etc.) para se chegar às peculiaridades, ou seja, como se fazem tais rituais, como são representadas as imagens, que tipo de comportamento as pessoas adeptas dessa religião possuem. Para exemplificar ainda mais, quando os economistas criam um termo para definir um modelo econômico, fazem isso apenas para facilitar o estudo, mesmo estando conscientes de que quando, por exemplo, criam o Eric Carvalho de Andrade termo “liberalismo”, este não é o mesmo em todos os países e, ao analisar cada caso, se parte desse tipo ideal “liberalismo”. Portanto, esses tipos sociais são utópicos, pois não corresponde à realidade como ela é – muito menos tem essa pretensão; são racionais, pois são analisadas de forma metódica; são unilaterais, pois analisam aspectos comuns a um fenômeno. c) Dominação legítima É toda forma de dominação em que o indivíduo é dominado em perceber que há ali uma relação de domínio. Isso, para Weber, não necessariamente é prejudicial, como, por exemplo, a relação de domínio familiar entre os pais e os filhos, onde, de forma geral, os filhos incorporam dos pais a sua imagem de autoridade, mesmo quando não estão mais sob a vigilância desses. A dominação por tradição é aquela que se constitui de geração para geração, tanto na relação familiar como regimes políticos. A dominação carismática, por sua vez, é uma relação onde há uma admiração ou adoração ao dominante, como Gandhi, por exemplo, que fez uma revolução pacífica; ou mesmo Hitler, que teve sua imagem adorada pelo seu povo possibilitando as suas ações. Já a dominação racional-legal é quando o Estado cria leis para controlar a sociedade. Essas leis se incorporam, geralmente, de forma natural nas pessoas, onde nós obedecemos a sinais de trânsito, pagamos nossas contas, andamos com documentos sem antes de praticar tais ações ficar se perguntando em qual artigo da lei estamos cumprindo, ou seja, isso ocorre de forma natural. Essa é uma dominação basicamente típica da modernidade; Há, nesse tipo de dominação, uma racionalização dos processos sociais, onde os indivíduos entendem que tais regras são importantes para o convívio em sociedade; Weber cria então um conceito próprio de burocracia - diferenciando-se do entendimento do senso comum como sendo uma “dificuldade” - sendo, na verdade, para Weber, justamente a racionalização do Estado e sua autolimitação. Essa burocracia tem como resultado: a distribuição de competências para cada função; formalização de determinados procedimentos; e a meritocracia como forma de distribuir as funções, ou seja, os melhores que devem assumir cargos. d) Economia e Sociedade Em seu livro “Economia e Sociedade”, Weber procura entender de que modo a sociedade interage com o direito, estado e a economia, analisando o modelo de dominação racional. Já no início de seu livro, Weber enxerga a interação entre o direito, economia e estado como permanente, sendo uma como causa da outra. Na economia mercantilista existia um “lastro material”, que representava a riqueza de um povo, sendo o metalismo muito forte nesse tipo de economia. Na economia capitalista, esse cenário muda, onde o dinheiro passa ser o representante da riqueza de um povo, ou seja, a riqueza não existe materialmente, como o ouro e a prata, mas sim de forma artificial e flutuante. Weber, então, afirma em sua obra que esse sistema capitalista requer garantias para que a economia funcione e, neste caso, seria o direito o responsável por isso, por meio dos contratos, por exemplo. Por outro lado, a economia é também uma causa para o efeito direito, pois essa é muito ágil e mutável, requerendo que o direito regule as relações econômicas. e) Debate entre sociologia jurídica e dogmática jurídica (Baseado no artigo de Barile da Silveira) Baseado nos juristas Hermann Kantorowicz e Eugen Ehrlich - os quais pregavam que a o direito, como ciência, deveria pautar-se nos acontecimentos da realidade, nos elementos empiricamente constatáveis – vai além ao afirmar que o direito não é só uma matéria da sociologia. Direito Economia Estado Eric Carvalho de Andrade Para Weber, a Ciência Jurídica ou a Dogmática Jurídica e a Sociologia do Direito não poderiam jamais ser justapostas, uma vez que ambos ocupam lugares distintos, isoladamente considerados, com as seguintes funções: Dogmática Jurídica / Ciência Jurídica: para Weber, o direito trabalha no plano ideal – dever ser, ou seja, estruturam-se regras de validade a fim de compatibilizar normas de um ordenamento jurídico de forma racional (método lógico-normativo); Sociologia Jurídica / Sociologia do Direito: para Weber, cabe o questionamento do que de fato acontece com aquela norma, no plano real - ser. A Sociologia Jurídica, portanto, é responsável por investigar o comportamento dos indivíduos conforme um ordenamento jurídico vigente. A crítica de Kelsen a esse pensamento weberiano: Como é de se esperar, Kelsen vai tecer críticas fortíssimas contra Kantorowicz e Ehrlich, contestando o posicionamento destes autores quando afirmaram ser a Sociologia Jurídica a única ciência capaz de definir o fenômeno jurídico - o que reduzia a Dogmática Jurídica a uma disciplina sociológica. Para Kelsen, como a Sociologia Jurídica analisa o plano real - o ser - diante da Dogmática Jurídica, logo a Sociologia Jurídica é subordinada à dogmática. Desta forma, Kelsen exclui da Ciência Jurídica os fenômenos sociais, políticos e psicológicos, os quais seriam objetos da Sociologia, Ciência Política e Psicologia, respectivamente, conferindo a “pureza” à Teoria do Direito. Nesse cenário, Kelsen diverge de Weber ao afirmar que a Dogmática Jurídica tem “prevalência” sobre a Sociologia Jurídica, pois esta não poderia ser considerada uma ciência autônoma por lhe faltar conceitos próprios. Conceito de “validade” de uma norma para Kelsen e Weber: Enquanto que, para Kelsen, uma norma ser considerada válida é necessário que ela seja criada pela autoridade competente e que ela seja compatível com a norma hierarquicamente superior, para Weber, uma norma é válida quando o comportamento dos homens se dá de acordo com a finalidade das normas. Em resumo: Weber Kelsen Kantorowicz e Ehrlich Sociologia Jurídica = Dogmática Jurídica Sociologia Jurídica < Dogmática Jurídica Sociologia Jurídica > Dogmática Jurídica Reconhece que ambos os campos possuem finalidades diferentes e, portanto, ambas são científicas. Afirma que a Sociologia Jurídica utiliza de conceitos da Dogmática Jurídica (Ciência Jurídica), portanto sendo uma matéria auxiliar do direito e negando seu caráter científico. - Eric Carvalho de Andrade 4. Karl Marx a) Contextualização Marx, que veio primeiro do que Weber e Durkheim, não tinha pretensão de ser um cientista social, porém acaba desenvolvendo muito essa ciência. Diferencia-se desses dois autores quando coloca a economia como base dos elementos sociais (religião, moral, arte e etc). Sempre voltado a prática, Marx mobilizou a luta de classes por onde passou, sendo expulso da Alemanha, França, Bélgica e morrendo na Inglaterra, único lugar o qual não fora perseguido. b) Referências filosóficas A teoria Marxista se inspira em Hegel e Feuerbach. A dialética de Hegel serve de ponto de partida para o marxismo ao passo que entende que omundo está em constante transformação e, como afirmava Hegel, estamos em constante processo de experimentar e se conscientizar. Para Marx, entretanto, era necessário materializar essa ideia de transformação, onde substitui a “ideia” pela “matéria”, ou seja, o homem interfere no ambiente e é por ele transformado. À medida que produzimos, criamos novas demandas, gerando uma grande interdependência entre o homem e a natureza. Já Feuerbah afirmava que o cristianismo, e a religião como um todo, seria uma criação do homem para justificar elementos da vida, como uma “válvula de escape” do homem, ou seja, aliena o homem. Diante disso, Marx vai concordar com a tese de que a religião seria um instrumento de dominação, criando a sua frase mais famosa: “a religião é o ópio do povo”. Ampliando essa visão de Feuerbah, Marx associa a religião à luta de classes, onde as mais poderosas utilizam a fé para dominar as classes mais baixas. c) Crítica marxista ao direito Direito como instrumento de manipulação ideológica; Rechaço a propriedade privada; Crítica à Declaração Francesa do Direito dos homens e dos cidadãos: Esse documento foi criado após a Queda da Bastilha como sendo um documento consolidador dos ideais conquistados na revolução, que tem caráter universal, ou seja, inspiram vários outros lugares no mundo. Marx afirmava que essa declaração era uma legitimação da dominação burguesa da sociedade o Auto divisão da sociedade; Para ele, falar em direitos dos “homens” e dos “cidadãos” seria uma divisão equivocada, vez que homens e cidadãos seriam uma coisa só. o Crítico ao lema da revolução Francesa. Igualdade formal (na lei) x igualdade material (na prática). Eric Carvalho de Andrade 5. Controle Social e Direito a) O que é controle social e quais as formas de controle? São formas de moldar o comportamento da sociedade, e pode se dividir em: Primário: é o controle exercido sobre o indivíduo desde o dia do seu nascimento, em regra no ambiente familiar; Secundário: é o controle normalmente exercido pelas instituições sociais; Pelo direito: é a última alternativa de controle social. b) Classificação Quanto ao momento: Preventivo: realizar o controle antes que a ilicitude aconteça (exemplo: Blitz); Repressivo: atua após o cometimento da ilicitude. Quanto ao agente Estado: o poder estatal possui vários “braços” de controle social, dentre eles, Receita Federa, Polícia Militar e entre outros; Sociedade: há também uma parcela de responsabilidade da sociedade no controle social ao passo que colabora com o Estado, pode meio de denúncias, ouvidorias e entre outras formas. Quanto à forma Difuso: recai sobre a sociedade (exemplo: blitz, qualquer pessoa que passar é fiscalizado); Localizado: recai sobre um grupo específico (exemplo: controle sobre uma torcida organizada). Quanto ao modelo Direto: recai sobre o indivíduo; Indireto: recai sobre a instituição (empresas, faculdades, ministérios e etc). c) Porque o direito é forma de controle social? Institucionalização O direito é institucionalizado, pois para ser chamado como tal, é necessário antes passar pelo “filtro” do Estado, ou seja, somente ele pode criar normas jurídicas. Interpretado e aplicado pelo Estado É interpretado e aplicado pelo Estado, pois esse tem o poder de impor uma decisão. Uso de sanção É uma consequência jurídica prevista pela própria norma. d) Sanções Positivas ou premiais É um estimulo aos indivíduos para que estes cumpram a lei. Negativas Constitutivas; Reparatória; Privativa de liberdade. e) Controle Social e Sistema Penal Perspectiva funcional Na prática não é entendida como uma sanção, mas sim um estímulo para o cumprimento da norma, ou seja, uma premiação para cumprir a norma (exemplos: delação premiada, desconto no IPTU e etc.). Perspectiva conflitiva Ilegitimidade do poder punitivo Eric Carvalho de Andrade Inexistência do bem e do mal Impossibilidade de ressocialização Seletividade do sistema Perspectiva liberal funcional Entende que o sistema penal tem falhas, mas procura encontrar alternativas dentro deste (garantismo penal). Perspectiva conflitiva Funções latentes (estão na realidade, mas não estão na norma) x funções declaradas (estão na norma). Críticas: Ilegitimidade do poder punitivo; Inexistência do bem e do mal; Procura demonstrar que o crime é algo que faz algo da sociedade e, portanto, não se trata de uma patologia. Inexistência da culpabilidade pessoal; Seletividade do sistema; Impossibilidade de ressocialização. Eric Carvalho de Andrade 6. Pluralismo jurídico a) Conceito Analisa o direito difusamente produzido pela sociedade, ou seja, vai além do monismo jurídico. b) Histórico Boaventura afirma o pluralismo jurídico ser presente desde a Idade Média, com o direito Canônico e os diferentes “direitos” dos diferentes feudos. Com a colonização, o colonizador impõe o seu ordenamento jurídico em detrimento do direito nativo. c) Referencial teórico Baseada na perspectiva crítica, a relação entre direito e sociedade é analisada de forma dialética, criticando o positivismo, negando o direito como norma. Essa perspectiva crítica fala também do conceito chamado “direito negado”, ou seja, uma parcela da sociedade não alcançada pelo Estado procura alternativas ao direito tradicional. d) Tipos de pluralismo Estatal: é a possibilidade criada pelo Estado para os grupos criarem seus direitos, ou seja, um partido político pode produzir a sua própria regra, mas o Estado pode interferir nelas. O mesmo ocorre com uma associação de moradores ou um sindicato. Comunitário: é produzido fora da estrutura Estatal e não é controlado por ele. e) Pluralismo no plano internacional As legislações internacionais se configuram como uma espécie de pluralismo jurídico. A exemplo disso temos as regras internas de cada estado em contraste com as regras de organismos internacionais, como a ONU, que é supranacional. No caso do direito comunitário europeu (da União Europeia), em caso de conflito, prevalece o direito da união frente ao direto do país individual. f) Pluralismo emancipatório de Wolkmer O pluralismo para ele é uma forma de emancipação dos indivíduos que não encontraram espaço no direito estatal. Eric Carvalho de Andrade 7. Movimentos sociais e direito a) Conceito Alain Tourraine Ação coletiva (não é apenas um critério apenas quantitativo, mas a leva em conta existência de um objetivo comum); Sujeitos históricos; Conflitos sociais; Acordos políticos. b) Características Identidade Para ter um movimento social é necessário que as pessoas desse movimento possuam finalidades em comum. Oposição / não institucionalização O movimento se opõe a algo, seja ao Estado ou a algum contexto social. Tal movimento deve ser não institucionalizado, ou seja, não deve possuir pessoa jurídica, sede e etc. Regras para ação / planejamento O movimento precisa de uma estratégia de ação c) Correntes históricas Histórico estrutural Final do século XIX até anos 50. Conhecida também como corrente clássica dos movimentos sociais. É caracterizada por movimentos da classe trabalhadora. Cultural – identitária A partir dos anos 60. Os membros desses movimentos queriam reconhecimento. Dentre eles, os negros, homossexuais, imigrantes e etc. Esses movimentos, entretanto, lutavam contra a sociedade, e não contra o Estado. Organizacional – comportamental “Law and economics” Defesa da institucionalização dos movimentos sociais; Forma de captarrecursos para os movimentos sociais. Movimentos populares urbanos e rurais Questões atuais Eric Carvalho de Andrade 8. Estratificação social e direito a) Direito, sociologia e classe social b) Abordagem qualitativa x abordagem quantitativa Na abordagem qualitativa analisa a sociedade em polos opostos como, por exemplo, o “empregador” x “empregado”. Essa abordagem é baseada no Marxismo e também é chamada de teoria do conflito, justamente por dividir a sociedade em polos. Baseada nos estudos de Weber estabelece critérios objetivos para criar estratos sociais, principalmente a partir de critérios econômicos. c) Estratificação aberta x Estratificação fechada Estratificação fechada: baixa ou nenhuma mobilidade social. Estratificação aberta: há certa mobilidade social. Típico de países capitalistas. d) Direito como obstáculo e catalizador da mudança social Eric Carvalho de Andrade 9. Sociologia brasileira a) Raízes do Brasil b) Maria Thereza Sales Feitiche da igualdade Como a população brasileira é miscigenada, não se tem como separar claramente as “raças” negra, branca e indígena. Mando / Subservivência A história brasileira acabou criando uma separação entre aqueles que “mandam” e os que “servem”. Isso faz com que os indivíduos mais humildes não exerçam seus direitos mais simples como, por exemplo, quando o indivíduo deixa de falar com um juiz por achar que não tem direito de falar com ele. Cidadania concedida Quando os políticos e governantes fazem algo pela população, esta recebe tal feito como se fosse uma “dádiva” ou um “favor”, ao invés de uma obrigação do político. Eric Carvalho de Andrade 10. Acesso à justiça a) Acesso: Ao processo; À participação efetiva no processo. b) Principais questões: Econômicas; Educacionais; Culturais. c) Principais soluções: Justiça gratuita; Defensoria pública; NPJ’s (núcleo de prática jurídica); Balcões da cidadania / mutirões; Mediação / arbitragem. Eric Carvalho de Andrade
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