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75 CAPÍTULO SUMÁRIO DO CAPÍTULO INCISANDO O TECIDO ELEVANDO O MUCOPERIÓSTEO AFASTANDO O TECIDO MOLE APREENDENDO O TECIDO MOLE CONTROLANDO HEMORRAGIAS REMOVENDO OSSO Pinças-goivas Broca e Peça de Mão Martelo e Cinzel Lima para Osso REMOVENDO TECIDO MOLE DE CAVIDADES ÓSSEAS SUTURANDO O TECIDO MOLE Porta-agulhas Agulha de Sutura Material de Sutura Tesouras MANTENDO A BOCA ABERTA ASPIRANDO MANTENDO OS CAMPOS CIRÚRGICOS EM POSIÇÃO IRRIGANDO EXTRAINDO DENTES Alavancas Dentais Tipos de Alavancas Fórceps para Exodontia Componentes dos Fórceps Fórceps para Maxila Fórceps para Mandíbula SISTEMAS DE BANDEJAS PARA INSTRUMENTOS A lâmina de bisturi é cuidadosamente montada no cabo, sen- do segura por um porta-agulhas. Isto minimiza a chance de le- sionar os dedos. A lâmina também é segurada pelo lado não cor- tante, onde é reforçada com pequena ranhura, e o cabo é fi xado de forma que a parte do encaixe esteja virada para cima (Fig. 6-3, A). A lâmina do bisturi é então deslizada lentamente no cabo ao longo dos sulcos da porção macho até que ela se encaixa em posição (Fig. 6-3, B). A lâmina é removida de maneira similar. O porta-agulhas segura a ponta da lâmina (Fig. 6-3, C) e a levanta para soltá-la do encaixe do cabo lentamente. A lâmina é então deslizada para fora do cabo (Fig. 6-3, D). Depois de usada ela deve ser descartada imediatamente em uma caixa coletora rígida de materiais perfurocortantes, especifi camente desenhada para este fi m. Estas caixas geralmente são vermelhas1 (ver Fig. 5-6). Quando se utiliza um bisturi para fazer a incisão, o cirurgião quase sempre segura o cabo como uma caneta (Fig. 6-4) a fi m de permitir o máximo de controle da lâmina durante a incisão. Tecidos moles desapoiados devem ser mantidos fi rmemente em posição sob certa tensão, de forma que durante a confecção da incisão a lâmina incise, e não simplesmente empurre a mucosa. Quando se incisa um tecido mole retrátil, um instrumento tipo afastador deve ser usado para manter o tecido estendido durante a incisão. Quando se faz uma incisão mucoperiosteal, a lâmina deve ser pressionada de forma que esta incisão penetre a mucosa e o periósteo no mesmo movimento. Lâminas de bisturi e conjuntos de cabo e lâminas de bisturi descartáveis são feitas para a utilização em apenas um paciente. Elas perdem corte facilmente quando entram em contato com 6 Instrumentação para Cirurgia Oral Básica JAMES R. HUPP O propósito deste capítulo é apresentar os instrumentos comu- mente necessários para uma extração dentária de rotina e outros procedimentos básicos em cirurgia oral. Os instrumentos são usados numa ampla variedade de propósitos, incluindo proce- dimentos no tecido mole e no tecido duro. Este capítulo trata, basicamente, da descrição dos instrumentos. INCISANDO O TECIDO Muitos procedimentos cirúrgicos se iniciam com uma incisão. O instrumento básico para fazer estas incisões é o bisturi, que é composto por um cabo reutilizável e por uma lâmina afi ada estéril e descartável. Bisturis também estão disponíveis para uso único, com um cabo plástico e uma lâmina fi xa. O cabo mais co- mumente utilizado para cirurgia oral é o no 3 (Fig. 6-1). A ponta de um cabo do bisturi é preparada para receber uma variedade de lâminas de diferentes formatos que devem ser inseridas na ponta do cabo, onde se encaixa em uma fenda. A lâmina de bisturi mais empregada na cirurgia intraoral é a de no 15 (Fig. 6-2). Ela é pequena e utilizada para fazer incisões ao redor dos dentes e nos tecidos moles. A lâmina é similar, em sua forma, a uma superior que a no 10, utilizada para incisões maiores na pele em outras partes do corpo. Outras lâminas co- mumente empregadas na cirurgia intraoral incluem as de no 11 e 12. A lâmina no 11 possui ponta afi ada e pontiaguda que é utilizada, primariamente, para se fazer pequenas incisões perfu- rantes e também para incisar um abscesso. A lâmina no 12 curva é útil para procedimentos mucogengivais nos quais as incisões são feitas na face distal dos dentes ou na área da tuberosidade. 1Nota do T.: No Brasil estas caixas são amarelas. 76 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA tecido duro como osso ou dente, e mesmo depois de repetidas incisões em tecidos queratinizados. Se forem necessárias várias incisões através do mucoperiósteo até o osso, poder’a ser ne- cessária a utilização de uma segunda lâmina durante uma única cirurgia. Lâminas cegas não fazem incisões limpas e precisas no tecido mole e, portanto, devem ser trocadas antes que se tornem excessivamente sem corte. ELEVANDO O MUCOPERIÓSTEO Quando uma incisão é feita através do periósteo, este, idealmen- te, deve ser descolado do osso cortical subjacente em apenas uma camada com um descolador de periósteo. O instrumento utilizado com maior frequência em cirurgia oral é o descolador de periósteo tipo Molt no 9 (Fig. 6-5). Este instrumento tem uma ponta afi ada e pontiaguda e uma outra mais larga e arredonda- da. A parte pontiaguda é utilizada para iniciar o descolamento e para descolar a papila gengival entre os dentes, e a parte mais larga e arredondada é utilizada para continuar o descolamento do periósteo do osso. Existem outros tipos de descolador de periósteo para uso dos periodontistas, ortopedistas e outros cirurgiões envolvidos em cirurgias ósseas. O descolador de periósteo Molt no 9 pode ser usado para des- colar o tecido por três métodos. Primeiro, a parte pontiaguda pode ser usada com movimentos de alavanca para elevar o te- cido mole. Isto é mais comumente utilizado quando se descola uma papila gengival da região interdental ou da mucosa aderi- da ao redor de um dente a ser extraído. O segundo método é o movimento de empurrar, no qual a parte pontiaguda ou a parte mais larga é forçada para baixo do periósteo, separando-o do osso subjacente. Este é o movimento mais efi ciente e resulta no descolamento mais preciso do periósteo. O terceiro método é um movimento de puxar. Este método eventualmente é útil, mas tende a rasgar ou dilacerar o periósteo, a não ser que seja cuida- dosamente executado. AFASTANDO O TECIDO MOLE Um bom acesso e uma boa visão são essenciais para uma exce- lente cirurgia. Uma variedade de afastadores tem sido desenhada para afastar as bochechas, língua e retalhos mucoperiósteos com o objetivo de fornecer acesso e visibilidade durante a cirurgia. Os afastadores também podem auxiliar na proteção do tecido mole de instrumentos perfurocortantes. Os dois afastadores de bochecha mais populares são (1) o afas- tador de ângulo reto de Austin (Fig. 6-6) e (2) o mais amplo afastador de Minnesota (Fig. 6-7). Estes afastadores também po- dem ser utilizados para separar a bochecha e um retalho muco- periósteo simultaneamente. Antes de ser feito o retalho, o afas- tador aparta delicadamente a bochecha, e uma vez que o retalho tenha sido descolado, a borda do afastador é apoiada sobre o osso e, então, ele é utilizado para separar o retalho. O afastador de Seldin é um outro tipo de instrumento (Fig. 6-8) utilizado para apartar tecidos moles orais. Embora este afas- tador possa parecer um descolador de periósteo, a borda ativa não é afi ada e sim, na verdade, suave; ele não deve ser utilizado para descolar o mucoperiósteo. O deslocador de periósteo de Molt no 9 também pode ser utilizado como um afastador. Uma vez que o periósteo tenha sido descolado, a lâmina mais larga do deslocador de periósteo é mantida fi rmemente sobre o osso, afastando o retalho mucoperiósteo. O instrumento mais usado para afastar a língua durante a exodontia de rotina é o espelho bucal. O espelho normalmente é parte de qualquer bandeja básica por ter a função de permitir a visualização indireta durante o exame e procedimentos odon- tológicos. O espelho também pode ser utilizado como um afas- tador de línguaou bochecha. O afastador de língua de Weider é largo, em forma de coração, com dentes de um lado com o objetivo de retrair a língua medial e anteriormente com maior fi rmeza (Fig. 6-9, A). Quando se usa este afastador deve-se ter cuidado para não posicioná-lo muito posteriormente de manei- ra que cause náusea ou que empurre a língua para a orofaringe (Fig. 6-9, B). Uma pinça de campo (Fig. 6-28) também pode ser usada para segurar a língua. Quando houver necessidade de fazer uma bi- ópsia na porção posterior da língua, a maneira mais efi caz de controlar a mesma é através de uma pinça de campo colocada em sua porção anterior. A anestesia local deve ser profunda no local onde a pinça está colocada e é interessante avisar ao paciente que este método de afastamento pode ser usado, quando indicado. APREENDENDO O TECIDO MOLE Vários procedimentos em cirurgia oral exigem do cirurgião a apreensão do tecido mole para incisá-lo, controlar sangramento ou para passar a agulha de sutura. A pinça de tecido mais comu- mente utilizada para este propósito é a pinça de Adson (Pinça; Fig. 6-10, A). Esta é uma pinça delicada com ou sem pequenos dentes nas pontas, que pode ser usada para aprisionar delica- damente o decido e, consequentemente, estabilizá-lo. Quando este instrumento é utilizado, deve-se tomar cuidado de não apre- FIGURA 6-1 Os bisturis são compostos de um cabo e uma lâmina afi ada e descartável. O bisturi com cabo no 3 e com a lâmina no 15 é o mais comumente utilizado. FIGURA 6-2 Lâminas de bisturi utilizadas em cirurgia oral, incluin- do as de no 10, no 11, no 12 e no 15, da esquerda para direita. CAPÍTULO 6 • Instrumentação para Cirurgia Oral Básica 77 endê-lo com muita força, o que esmagará o tecido. Pinças com dentes permitem que o tecido seja apreendido de maneira mais delicada do que pinças sem dentes. Quando se está trabalhando na parte posterior da cavidade oral, a pinça de Adson pode ser muito curta. A pinça mais longa e de formato semelhante é a pinça de Stillis. Esta geralmente tem entre 18 e 22 cm e pode apreender facilmente o tecido na parte posterior da boca e ainda deixar uma boa parte do instrumento para fora dos lábios, possibilitando que o cirurgião segure-a e controle-a com facilidade (Fig. 6-10, B). Ocasionalmente, é mais conveniente utilizar uma pinça an- gulada. Esta pinça é denominada universitária ou de algodão (Fig. 6-10, B). Embora esta pinça seja especialmente útil para a manipulação do tecido, ela é um excelente instrumento para A B C D FIGURA 6-3 A, Na montagem da lâmina do bisturi, o cirurgião segura a lâmina com um porta-agulhas e o cabo, com o encaixe deste voltado para cima. B, O cirurgião desliza a lâmina em direção ao cabo até que ela encaixe no lugar correto. C, Para remover a lâmina, o cirurgião usa o porta-agulhas para apreender a parte da lâmina próxima ao cabo e a levanta para desencaixá-la de seu encaixe. D, O cirurgião, então, desliza delicadamente a lâmina para fora do cabo. FIGURA 6-4 O bisturi é segurado como uma caneta a fi m de pro- porcionar máximo controle. FIGURA 6-5 O descolador de periósteo de Molt no 9 é o mais utili- zado em cirurgia oral. FIGURA 6-6 O afastador de Austin é um afastador em ângulo reto que pode ser usado para afastar a bochecha, a língua ou os retalhos. pegar fragmentos soltos de dente, amálgama ou outro corpo es- tranho, e para se colocar ou remover compressas de gaze. Em alguns tipos de cirurgia, especialmente quando se re- move grandes quantidades de tecido ou em biópsias, como no 78 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA caso de epúlide fi ssurada, são necessárias pinças com cabos que travam e dentes que irão apreender fi rmemente o tecido. Neste caso utiliza-se a pinça de tecido de Allis (Fig. 6-11, A e B). O travamento do cabo permite que a pinça seja colocada na posi- ção correta e, então, seja mantida por um auxiliar, promovendo a tensão necessária para a correta dissecção do tecido. A pinça de Allis nunca deve ser utilizada em tecidos que serão deixados na boca, pois ela causa uma quantidade relativamente grande de dano tecidual por esmagamento (Fig. 6-11, C). Entretanto, esta pinça pode ser usada para apreender a língua de maneira similar à pinça de campo. CONTROLANDO HEMORRAGIAS Quando incisamos os tecidos, pequenas artérias e veias também são incisadas, causando sangramento. Para a maioria das cirur- gias dentoalveolares, manter pressão sobre a ferida geralmente é sufi ciente para controlar o sangramento. Ocasionalmente, a pressão não cessa o sangramento de uma artéria ou veia mais calibrosa. Quando isto ocorre é útil um instrumento denomina- do pinça hemostática (Fig. 6-12, A). As pinças hemostáticas, ou hemostatos, apresentam uma variedade de formas, podem ser pequenas e delicadas ou maiores, e são retas ou curvas. O he- mostato mais comumente utilizado em cirurgia é o hemostato curvo (Fig. 6-12, B). Um hemostato apresenta pontas longas e delicadas usadas para apreender o tecido e um cabo com travamento. O mecanismo de travamento permite ao cirurgião prender o hemostato a um vaso e depois largar o instrumento, que se manterá preso ao tecido. A B A B A B FIGURA 6-10 A, A pinça de tecido de Adson delicada e pequena é utilizada para estabilizar com delicadeza o tecido mole para sutura ou dissecção. B, A pinça de Stillies (em cima) é mais longa que a pinça de Adson e é utilizada para segurar o tecido na região mais posterior da boca. A pinça universitária (embaixo) é uma pinça angulada que é utilizada para apreender pequenos objetos na boca ou na bandeja. A pinça universitária apresentada aqui é uma versão com trava. FIGURA 6-7 O afastador de Minnesota é um afastador angulado utilizado para afastar a bochecha e retalhos. A, Vista anterior. B, Vis- ta posterior. FIGURA 6-8 Os afastadores de Henahan (em cima) e de Seldin (em- baixo) são instrumentos mais largos que fornecem uma retração mais ampla e melhor visualização. FIGURA 6-9 A, O afastador de Weider é um afastador largo dese- nhado para afastar a língua. A superfície serrilhada auxilia a travar a língua de forma que ela possa ser afastada de maneira segura. B, O afastador de Weider é utilizado para retrair a língua para longe do campo operatório. O afastador de Austin é utilizado para afastar a bochecha. Isto é útil quando o cirurgião planeja ligar o vaso com uma sutu- ra ou cauterizá-lo (usar o calor para selar o vaso). Além de seu uso como instrumento para controle de hemorra- gia, o hemostato é especialmente útil em cirurgia oral para remo- ção de tecido de granulação dos alvéolos dentários para apreen- são de pequenas pontas de raiz, pedaços de cálculos, fragmentos CAPÍTULO 6 • Instrumentação para Cirurgia Oral Básica 79 de amálgama e qualquer outro pequeno fragmento que tenha caído no ferimento ou em áreas adjacentes. REMOVENDO OSSO Pinças-goivas O instrumento mais comumente utilizado para a remoção de osso em cirurgia dentoalveolar é a pinça-goiva. Este instrumento tem lâminas afi adas que são pressionadas uma contra a outra pelos cabos, cortando ou arrancando o osso. A pinça-goiva tem um mecanismo incorporado o que faz com que o instrumento reabra quando a pressão manual é diminuída. Isto possibilita ao cirurgião cortar e remover, repetidamente, pedaços do osso sem que tenha que reabrir manualmente o instrumento (Fig. 6-13, A). Os dois principais desenhos de pinça-goiva são: (1) a pinça- goiva de corte lateral e (2) a pinça-goiva de corte lateral e termi- nal (Fig. 6-13, B). A de corte lateral e terminal (pinça de Blumenthal) é mais prática para a maioria dos procedimentos cirúrgicos dentoalveo- lares que necessitam de remoção de osso. Por apresentar corte na ponta, este instrumento pode ser inserido dentro do alvéolo para A B C A B FIGURA 6-12 A, Vistasuperior de um hemostato utilizado em ci- rurgia oral. B, Vista oblíqua do hemostato curvo. Existem também hemostatos retos. FIGURA 6-11 A, A pinça de tecido de Allis é útil para apreender e manter o tecido que será excisado. B, A pinça de Allis é segurada da mesma maneira que o porta-agulhas. C, Comparação das pontas ati- vas das pinças de Adson (direita) e de Allis (esquerda) demonstrando a diferença em seus desenhos e uso. A B FIGURA 6-13 A, As pinças-goiva são pinças para cortar osso que possuem um cabo com molas. B, A pinça-goiva de Blumenthal apre- senta lâminas com cortes lateral e terminal. Ela é a preferida para procedimentos em cirurgia oral. remoção do septo ósseo inter-radicular e ele também na remoção das margens cortantes do osso. As pinças-goivas podem ser usa- das para remover grande quantidade de osso efi ciente e rapida- mente. Por serem instrumentos delicados, o cirurgião não deve utilizar as pinças-goivas para a remoção de grande quantidade de osso de uma só vez. Em vez disto, pequenas quantidades de osso 80 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA devem ser removidas em diversas apreensões. Da mesma forma, a pinça-goiva nunca deve ser empregada na remoção de dentes, pois isto fará com que ela fi que cega rapidamente, além de des- truir o instrumento e ainda pode-se correr o risco de o paciente engolir o dente, pois este instrumento não é projetado para apre- ender fi rmemente dentes extraídos. As pinças-goivas geralmente são caras, portanto, deve-se tomar cuidado para mantê-las afi adas e prontas para o uso. Broca e Peça de Mão Outro método para remoção de osso é com uma broca e uma peça de mão. É esta a técnica que a maioria dos cirurgiões utiliza para remoção de osso durante exodontias cirúrgicas. Peças de mão de alta rotação e elevado torque com brocas de carboneto removem o osso com efi ciência. São utilizadas brocas laminadas como as do tipo no 557 ou no 703, ou esféricas no 8. Quando é necessária a remoção de grande quantidade de osso, como na remoção de toro, é utilizada uma broca óssea maior semelhante a uma broca de acrílico. A peça de mão a ser usada deve ser completamente esteri- lizável. Quando se compra uma peça de mão, deve-se verifi car cuidadosamente as especifi cações do fabricante para se certifi car de que isto é possível. A peça de mão deve ter alta rotação e alto torque (Fig. 6-14), pois isto permite que a remoção de osso seja feita rapidamente, propiciando a secção efi ciente dos dentes. A peça de mão não deve ter exaustão de ar para dentro do cam- po operatório, tornando desaconselhável a utilização das típicas turbinas de alta rotação utilizadas para procedimentos restau- radores em odontologia. A razão disso é que o ar direcionado para a ferida pode ser forçado para espaços teciduais profundos e causar enfi sema tecidual, uma complicação perigosa. Martelo e Cinzel Ocasionalmente, a remoção óssea é feita utilizando-se um marte- lo e cinzel (Fig. 6-15). O martelo e o cinzel são frequentemente utilizados para remoção de toro lingual. A ponta do cinzel deve ser mantida afi ada para que ele funcione de maneira adequada (Cap. 13). Lima para Osso O alisamento fi nal do osso antes da sutura do retalho mucoperi- ósteo em posição é preferencialmente obtido com uma pequena lima para osso (Fig. 6-16, A). Esta lima geralmente é um instru- mento de duas pontas, uma pequena e outra maior. A lima para osso não pode ser utilizada efi cientemente na remoção de grande quantidade de osso; consequentemente, é utilizada apenas para o alisamento fi nal. Os dentes de várias limas para osso são dis- postos de maneira que elas apenas removam o osso através de um movimento de puxar (Fig. 6-16, B). Empurrar este tipo de lima contra o osso causa apenas o seu esmagamento e brunidura, o que deve ser evitado. REMOVENDO TECIDO MOLE DE CAVIDADES ÓSSEAS A cureta comumente utilizada em cirurgia oral é um instrumen- to com duas pontas anguladas usado para a remoção de tecido mole de defeitos ósseos (Fig. 6-17). Sua principal utilidade é na remoção de granulomas ou pequenos cistos das lesões periapi- cais, porém, a cureta também é utilizada para remover pequenas quantidades de restos de tecido de granulação do alvéolo dental. Repare que a cureta periapical é claramente diferente da cureta periodontal em desenho e função. SUTURANDO O TECIDO MOLE Uma vez que o procedimento cirúrgico tenha terminado, o reta- lho mucoperiósteo é recolocado em sua posição original e man- tido no local por meio de suturas. O porta-agulhas é o instru- mento utilizado para se fazer estas suturas. Porta-agulhas O porta-agulhas é um instrumento com um cabo com trava e uma ponta atraumática e curta. Para a colocação de suturas in- traorais, recomenda-se, geralmente, um porta-agulhas de 15 cm A B FIGURA 6-16 A, A lima para osso com duas pontas é utilizada para alisamento de pequenas bordas cortantes ou espículas ósseas. B, Os dentes da lima para osso são efetivos apenas com os movimentos de puxar. FIGURA 6-14 Peça de mão típica com torque alto e média veloci- dade, esterilizável com uma broca no 703. FIGURA 6-15 Martelo e cinzéis cirúrgicos podem ser utilizados para remover osso. CAPÍTULO 6 • Instrumentação para Cirurgia Oral Básica 81 (Fig. 6-18). As pontas do porta-agulhas são menores e mais re- sistentes que as pontas de um hemostato (Fig. 6-19). A face ativa da ponta do porta-agulhas apresenta ranhuras dispostas de for- ma quadriculada a fi m de permitir a correta apreensão da agulha de sutura. A pinça hemostática apresenta ranhuras paralelas em sua face ativa, diminuindo, consequentemente, o controle sobre a agulha e a sutura. Portanto, o hemostato é um instrumento ruim para esta última. Para controlar apropriadamente o travamento do cabo e para direcionar o longo porta-agulhas, o cirurgião deve segurar o ins- trumento de maneira correta (Fig. 6-20). O dedo polegar e o anelar são colocados nos anéis do cabo. O dedo indicador é man- tido ao longo do comprimento do porta-agulhas para fi rmá-lo e direcioná-lo. O segundo dedo auxilia no controle do mecanismo de travamento. O dedo indicador não deve ser colocado no anel, pois levará a uma dramática redução de seu controle. Agulha de Sutura A agulha utilizada no fechamento de incisões em mucosa geral- mente é uma agulha de sutura pequena de meio círculo ou de 3/8 de círculo. A agulha é curva para permitir que ela passe por espaços pequenos, onde uma agulha reta não alcança, permitin- do sua passagem com o giro do punho. Existe uma grande varie- dade de formatos de agulhas de sutura, de bem pequena à bem grande (Fig. 6-21, A). As pontas das agulhas de sutura ou são cônicas, como nas agulhas de sutura, ou são triangulares, o que permite que elas sejam agulhas cortantes. Uma agulha cortante passará através do mucoperiósteo mais facilmente que uma agu- lha cilíndrica (Fig. 6-21, B). A porção cortante da agulha se es- tende até cerca de 1/3 do comprimento da agulha, com a porção restante da mesma sendo redonda. As agulhas cônicas são utili- zadas para tecidos mais delicados, como em cirurgia ocular ou vascular. Deve-se ter cuidado com as agulhas cortantes porque elas podem lesionar os tecidos próximos ao caminho da agulha se não forem utilizadas com cuidado e correção. O fi o de sutura normalmente já é vendido pelo fabricante fi xado à agulha. A B A B FIGURA 6-20 O porta-agulhas deve ser segurado com o polegar e o anular nos anéis (A) e o primeiro e segundo dedos para controlar o instrumento (B). FIGURA 6-17 A cureta periapical é um instrumento com duas pon- tas em forma de colher, utilizada para remover tecido mole de dentro de cavidades ósseas. FIGURA 6-18 Um porta-agulhas tem um cabo com travamento e uma ponta ativa curta e reta. FIGURA 6-19 A, O hemostato (em cima) apresenta uma pontaati- va mais longa e afi lada se comparado ao porta-agulhas (embaixo) e, portanto, não deve ser utilizado para sutura. B, A face interna da curta ponta ativa do porta-agulhas apresenta ranhuras cruzadas em diagonal para garantir a correta apreensão da agulha (esquerda). A face do hemostato apresenta ranhuras paralelas que não permitem a apreensão estável da agulha (direito). 82 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA A agulha curva é segurada a aproximadamente 2/3 da dis- tância entre a ponta e a base da agulha (Fig. 6-22). Isto permite que uma parte sufi ciente da agulha esteja exposta para passar pelo tecido, ao mesmo tempo em que permite que o porta-agu- lhas fi xe a agulha em sua porção mais resistente, prevenindo sua dobra. As técnicas de sutura serão discutidas a fundo no Capítulo 8. Material de Sutura Existem vários tipos de materiais de sutura. Os materiais são classifi cados pelo diâmetro, capacidade de serem reabsorvidos e se são mono ou polifi lamentos. O tamanho do fi o se relaciona com seu diâmetro e é desig- nado por uma série de zeros. O diâmetro mais comumente uti- lizado para a sutura da mucosa oral é o 3-0 (000). Um fi o mais grosso é um 2-0 ou 0. Fios menores são designados, por exem- plo, 4-0, 5-0 e 6-0. Os fi os muito fi nos, como o 6-0, geralmente são usados em locais mais perceptíveis da pele, como a face, pois quando corretamente posicionados os fi os mais fi nos causam menos cicatrizes. Os fi os de tamanho 3-0, em comparação aos de menor diâmetro, são espessos o sufi ciente para suportar as tensões que sofrem dentro da boca, e são fortes o sufi ciente para facilitar a confecção do nó com o porta-agulhas. Os materiais de sutura podem ser reabsorvíveis ou não. Os fi os não reabsorvíveis incluem os fi os de seda, náilon, vinil e aço inoxidável. O fi o não reabsorvível mais comumente utilizado na cavidade oral é a seda. Os fi os de náilon, vinil e aço inoxidável raramente são utilizados na boca. As suturas reabsorvíveis são ba- sicamente de tecidos do intestino (gut). Embora o termo categute seja bastante usado para designar este tipo de sutura, ele é, na verdade, derivado da superfície serosa do intestino de carneiros. O categute simples reabsorve rapidamente na cavidade oral, ra- ramente durando mais do que 3 a 5 dias. O categute, que tenha sido tratado por substâncias de curtimento (ácido crômico) e, consequentemente, chamados de categute cromado, duram mais — entre 7 e 10 dias. Várias suturas sintéticas reabsorvíveis também estão disponíveis. Estes materiais são cadeias longas de polí- meros trançados na forma de material de sutura. Os exemplos são o ácido poliglicólico e o ácido polilático. Estes materiais são lentamente reabsorvíveis, demorando até 4 semanas antes que sejam completamente reabsorvidos. Tais suturas com tempo de reabsorção tão elevado raramente são indicadas para a cavidade oral em cirurgia oral convencional. Finalmente, os fi os de sutura são classifi cados como sendo mono ou polifi lamentados. As suturas em monofi lamentos são suturas como o categute simples ou cromado, náilon e aço inoxi- dável. As suturas polifi lamentadas são seda, ácido poliglicólico e ácido polilático. Os fi os que são feitos com material trançado são fáceis de serem manipulados e de receberem nós, e raramente desatam. As pontas cortadas quase sempre são macias e não ir- ritam a língua e os tecidos moles adjacentes. Entretanto, devido aos múltiplos fi lamentos, eles tendem a deixar “migrar” fl uidos orais através da sutura para o tecido subjacente. Esta migração pode levar bactérias com a saliva. Os fi os em monofi lamento não possibilitam esta migração, porém são mais difíceis de dar nó, tendem a desamarrar com facilidade e suas pontas são mais duras e, consequentemente, mais irritantes para a língua e os tecidos moles. Um dos fi os mais utilizados para a cavidade oral é a seda preta 3-0. O tamanho 3-0 apresenta a quantidade apropriada de resis- tência; por ser polifi lamentado é mais fácil de dar o nó e é bem A B FIGURA 6-21 A, Comparação das agulhas utilizadas em cirurgia oral. No alto, uma agulha C-17, que normalmente é usada com um fi o de sutura 4-0. No meio a agulha PS-2 e, embaixo, a agulha SH. Todas são agulhas cortantes e o fi o de sutura é preso à agulha. B, A ponta da agulha utilizada para suturar o mucoperiósteo apresenta secção transversa triangular para que seja cortante. FIGURA 6-22 O porta-agulhas apreende a agulha curva a 2/3 da distância da ponta da agulha. CAPÍTULO 6 • Instrumentação para Cirurgia Oral Básica 83 tolerado pelos tecidos moles do paciente. A cor torna o fi o fácil de ser visualizado quando o paciente retorna pra a remoção da sutura. As suturas que estão mantendo a mucosa unida normal- mente permanecem não mais que 5 a 7 dias, de forma que a “migração” não apresenta importância clínica. Muitos cirurgiões preferem o fi o categute cromado 3-0 para evitar a necessidade de removê-lo mais tarde. (Técnicas de sutura e tipos de nós são apresentados no Cap. 8.) Tesouras O último instrumento necessário para a sutura é a tesoura de sutura (Fig. 6-23). A tesoura de sutura normalmente tem pontas cortantes curtas, pois seu único propósito é cortar suturas. A tesoura mais comumente utilizada em cirurgia oral é a tesoura de Dean. Esta tesoura tem cabos levemente curvados e bordas serrilhadas que facilitam o corte do fi o de sutura. As tesouras de sutura geralmente apresentam cabos longos e argolas para o polegar e para outro dedo. Deve-se segurá-la da mesma maneira que o porta-agulhas. Outros tipos de tesouras são desenhados para cortar tecido mole. Os dois principais tipos de tesoura para tecido são as tesouras de Íris e Metzenbaum (Fig. 6-24, A). Estas tesouras podem ter lâminas retas ou curvadas. A tesoura de Íris é um instrumento pequeno, de ponta afi ada, indicado para trabalho delicado. A tesoura de Metzenbaum é usada para divulsão e corte do tecido. Pode apresentar ponta afi ada ou romba (arre- dondada). As tesouras para tecido, como a Íris e a Metzenbaum, não devem ser usadas para cortar suturas, pois o material do fi o de sutura cegará as margens das lâminas e irá torná-las menos efetivas e mais traumáticas para cortar o tecido. A exceção é para a remoção de fi os muito fi nos nas incisões de pele na face. Uma tesoura com pontas fi nas e pontiagudas como a de Íris pode ser útil. MANTENDO A BOCA ABERTA Quando fazemos extrações de dentes mandibulares é necessário apoiar a mandíbula para evitar uma sobrecarga sobre as articu- lações temporomandibulares. Apoiar a mandíbula do paciente com um bloco de mordida protegerá as articulações. O bloco de mordida é exatamente o que o nome sugere (Fig. 6-25, A e B); um bloco de borracha, macio, sobre o qual o paciente pode apoiar os seus dentes. O paciente abre a boca amplamente até uma posição confortável, e o bloco de mordida de borracha é então posicionado, mantendo a boca na posição desejada. Os blocos de mordida são feitos em vários tamanhos, servindo para pacientes também de vários tamanhos e produzindo diversos graus de abertura. Se o cirurgião necessitar de uma abertura de boca maior utilizando qualquer tamanho de bloco de mordida, o paciente deverá abrir mais a boca e o bloco de mordida deverá ser posicionado mais posteriormente na mesma. Para a maioria dos pacientes adultos o bloco de mordida pediátrico é adequado quando posicionado sobre os dentes molares. O abridor de boca de ação lateral, ou abridor de boca de Molt (Fig. 6-26), pode ser usado para abrir a boca ainda mais, se ne- cessário. Este abridor de boca apresenta uma ação semelhante à cremalheira, abrindo mais a boca conforme o cabo é fechado. Este tipo de abridor de boca deve ser usado com cautela, pois pode aplicar uma grande pressão sobre os dentes e sobre a arti- culação temporomandibular,podendo ocorrer uma lesão quan- do utilizado de forma imprudente. Este tipo de abridor de boca é útil em pacientes profundamente sedados ou que apresentem um trismo brando. Sempre que um bloco de mordida ou um abridor de boca de ação lateral for usado, o cirurgião precisará tomar cuidado para evitar uma abertura de boca muito ampla, pois isto pode causar estresse na articulação temporomandibular. Ocasionalmente isto pode resultar em uma lesão por estiramento na articula- ção, necessitando de tratamento adicional. Quando procedi- mentos de longa duração estão sendo feitos, uma boa sugestão é remover periodicamente o abridor e permitir que o paciente movimente a mandíbula e descanse os músculos por um curto período. A B FIGURA 6-24 Tesouras de tecido mole são de dois tipos: a tesoura de Íris (em cima) é uma tesoura pequena de pontas afi adas. A tesoura de Metzenbaum está disponível tanto com pontas afi adas (apresen- tada aqui) quanto com pontas rombas. FIGURA 6-23 A e B, Tesouras de sutura devem ser seguradas de maneira igual ao porta-agulhas. 84 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA ASPIRANDO Para fornecer boa visualização, sangue, saliva e soluções para irrigação devem ser aspirados do campo operatório. A ponta de aspiração cirúrgica apresenta um diâmetro menor do que o su- gador utilizado na odontologia clínica, a fi m de remover mais rapidamente fl uidos do campo operatório e manter a visualiza- ção adequada. Muitas dessas pontas de aspiração são desenhadas com vários orifícios para evitar que o tecido mole seja aspirado pelo o orifício de aspiração e cause dano tecidual (Fig. 6-27, A). O aspirador de Fraser tem um orifício na porção do cabo que pode ser coberto quando necessário. Quando o tecido duro está sendo cortado sob copiosa irrigação, o orifício é coberto de modo que a solução seja rapidamente removida. Quando o tecido mole está sendo seccionado, o orifício pode ser deixado descoberto no intuito de prevenir lesão tecidual ou obstrução por tecidos moles na ponta de sucção (Fig. 6-27, B). MANTENDO OS CAMPOS CIRÚRGICOS EM POSIÇÃO Quando os campos são posicionados em torno do paciente, eles podem ser mantidos no lugar com uma pinça de campo (Fig. 6-28). Este instrumento tem um cabo com travamento e anéis para o polegar e outro dedo. As pontas ativas da pinça de campo podem ser afi adas ou rombas. As pinças de campo com pontas curvas penetram nos campos cirúrgicos. Quando este instru- mento é utilizado, deve-se ter extremo cuidado para não prender a pele subjacente do paciente. IRRIGANDO Quando uma peça de mão e broca são utilizadas para a remoção de osso, é essencial que a área seja irrigada com um fl uxo cons- tante de solução para irrigação, geralmente soro fi siológico ou água estéril. A irrigação resfria a broca e previne o aquecimento A C B FIGURA 6-25 A, Bloco de mordida de silicone é utilizado para manter a boca aberta na posição escolhida pelo pacien- te. B, A lateral do bloco de mordida apresenta ranhuras, per- mitindo o travamento dos dentes. C, Os blocos estão dispo- níveis em uma variedade de tamanhos. FIGURA 6-26 Abridor de boca de aço lateral ou Molt, o abridor de boca pode ser usado para abrir a boca do paciente quando este é incapaz de cooperar, ou com algum grau de trismo. CAPÍTULO 6 • Instrumentação para Cirurgia Oral Básica 85 que causa dano ao osso. A irrigação também aumenta a efi ciên- cia da broca através da remoção de partículas ósseas das lâmi- nas da broca, fornecendo certa quantidade de lubrifi cação. Além disso, uma vez terminado o procedimento cirúrgico, e antes do reposicionamento e sutura do retalho mucoperiósteo, o campo operatório deve ser irrigado de forma abundante. Uma seringa plástica grande com uma agulha romba de calibre 18 normal- mente é utilizada para irrigação. Embora a seringa seja descartá- vel, ela pode ser esterilizada várias vezes antes de ser descartada. A agulha deve ser sem ponta e lisa para que não danifi que o teci- do mole e deve ser angulada a fi m de facilitar o direcionamento do jato de irrigação (Fig. 6-29). EXTRAINDO DENTES Um dos instrumentos mais importantes nos procedimentos de exodontia é a alavanca dental. Esse instrumento é utilizado para luxar dentes (soltá-los) do osso circunvizinho. Soltar os dentes antes da aplicação do fórceps torna as extrações mais fáceis. Através da luxação dos dentes com alavancas antes da aplicação do fórceps, o dentista pode minimizar a incidência de fratura de raízes, dentes e osso. Por último, a luxação dos dentes antes da aplicação do fórceps também facilita a remoção de uma raiz fraturada caso esta fratura ocorra, pois a utilização prévia da ala- vanca provavelmente terá luxado a raiz dentro do alvéolo dental. Além do papel na luxação dos dentes do osso circunvizinho, as alavancas também são utilizadas para expandir o osso alveolar. Através da expansão da cortical óssea vestíbulo-cervical, o cirur- gião facilita a remoção do dente que apresenta um espaço peque- no ou obstruído para sua remoção. Finalmente, as alavancas são usadas, ainda, para remover de seus alvéolos as raízes fraturadas ou seccionadas cirurgicamente. Alavancas Dentais Os três principais componentes da alavanca são o cabo, a haste e a lâmina (Fig. 6-30). O cabo da alavanca geralmente é gran- de, de maneira que ela possa ser confortavelmente segurada na mão para que então seja aplicada uma força substancial, porém controlada. A aplicação de uma força específi ca é fundamental na utilização correta das alavancas dentais. Em alguns casos são utilizadas alavancas com um cabo em cruz ou em forma de “T”. Estes instrumentos devem ser usados com extrema cautela, pois podem gerar uma quantidade excessiva de força (Fig. 6-31). A haste da alavanca simplesmente conecta o cabo à ponta ativa, ou lâmina, da alavanca. A haste quase sempre tem compri- mento substancial e é forte o sufi ciente para transmitir a força do A B FIGURA 6-27 A, A ponta de aspiração cirúrgica apresenta pequeno diâmetro. Pontas de aspiração geralmente possuem um orifício para prevenir lesão tecidual causada por excesso de pressão de sucção. No alto, a ponta desmontada para limpeza; embaixo, a ponta está montada para uso. B, A ponta de aspiração de Fraser tem um orifício no cabo que permite que o operador tenha maior controle sobre a quantidade de pressão de sucção. Mantendo o polegar sobre o ori- fício, aumenta-se a sucção na ponta. Um fi o em forma de estilete é usado para limpar a ponteira quando ela entupir por causa de partí- culas de osso ou dente. FIGURA 6-28 A pinça de campo é utilizada para manter os campos operatórios em posição. As pontas ativas apreendem os campos e o cabo com trava os mantém em posição. A pinça apresentada tem pontas ativas rombas não penetrantes. Também estão disponíveis pinças de campo com pontas ativas afi adas e penetrantes. Lâmina Haste Cabo FIGURA 6-30 Os principais componentes da alavanca são o cabo, a haste e a lâmina. FIGURA 6-29 Seringas plásticas grandes podem ser utilizadas para dispensar solução de irrigação no campo operatório utilizando uma agulha romba angulada. 86 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA cabo para a lâmina. A lâmina da alavanca é a sua ponta ativa e é usada para transmitir a força ao dente, osso ou ambos. Tipos de Alavancas A maior variação nos tipos de alavancas está na forma e no tama- nho da lâmina. Os três tipos básicos de alavancas são: (1) o tipo reto, (2) o tipo triangular ou em forma de fl âmula, e (3) o tipo api- cal. A alavanca reta é a alavanca mais utilizada para luxar os den- tes (Fig. 6-32, A). A lâmina da alavanca reta tem uma superfície côncava do lado que é posicionado de encontro ao dente a ser extraído (Fig. 6-32, B). A alavanca reta pequena no 301 é fre- quentemente utilizada para iniciar a luxação de um denteerup- cionado, antes do uso do fórceps (Fig. 6-33). Alavancas retas mais largas são utilizadas para deslocar raízes de seus alvéolos e também são empregadas para luxar dentes que estejam mais separados ou quando a alavanca reta menor se tornar inefi caz. A alavanca reta mais larga mais utilizada é a de no 34S, porém, as nos 46 e 77R são também utilizadas ocasionalmente. A forma da lâmina da alavanca reta pode ser angulada a partir da haste, permitindo que o instrumento seja utilizado na região mais posterior da boca. Dois exemplos de alavancas com haste angulada com uma lâmina similar à da alavanca reta são as ala- vancas de Miller e de Potts. O segundo tipo de alavanca mais comumente usado é a ala- vanca triangular (Fig. 6-34). Estas alavancas estão disponíveis em par, uma esquerda e uma direita. A alavanca triangular é mais indicada quando uma raiz fraturada permanece no alvéolo dental e o alvéolo adjacente está vazio. Um exemplo típico seria quando um primeiro molar mandibular é fraturado, deixando a raiz distal no alvéolo e com a raiz mesial tendo sido removida com a coroa. A ponta da alavanca triangular é posicionada den- tro do alvéolo, com a haste da alavanca apoiada na cortical ós- sea vestibular. A alavanca é então girada no longo eixo da haste, fazendo com que a ponta afi ada da alavanca trave no cemento da raiz distal remanescente; a alavanca é então girada e a raiz é removida. As alavancas triangulares estão disponíveis em uma variedade de tipos e angulações, porém, a alavanca tipo Cryer é a mais comum. O terceiro tipo de alavanca utilizada com certa frequência é a alavanca apical. Este tipo de alavanca é usado para remover raí- zes. A versão robusta desta alavanca é a alavanca apical de Crane (Fig. 6-35). Este instrumento é utilizado para elevar como uma alavanca uma raiz fraturada do alvéolo dental. Geralmente é ne- cessário fazer um furo com uma broca, de cerca de 3 mm na raiz na altura da crista óssea (ponto de apoio). A ponta da alavanca A B C FIGURA 6-34 Alavancas triangulares (de Cryer) são instrumentos em par e são, desta forma, usadas para raízes mesial ou distal. FIGURA 6-31 Cabos em “T” ou em cruz são utilizados em algumas alavancas. Este tipo de cabo pode gerar grande quantidade de força e, consequentemente, deve ser usado com grande cautela. FIGURA 6-32 A, Alavancas retas são as alavancas mais comumente utilizadas. B e C, A lâmina da alavanca reta é côncava no lado de trabalho. FIGURA 6-33 Variedade de tamanhos das alavancas retas, que va- riam baseadas na largura da lâmina. CAPÍTULO 6 • Instrumentação para Cirurgia Oral Básica 87 é então colocada no furo e, com a cortical vestibular do osso como fulcro, a raiz é elevada do alvéolo dental. Ocasionalmente, a ponta afi ada pode ser usada sem a preparação do ponto de apoio através de seu travamento direto no cemento ou na furca do dente. O segundo tipo de alavanca apical é o elevador de ápice radi- cular (Fig. 6-36). O elevador de ápice dental é um instrumento delicado usado para luxar pequenos ápices dentais de seus alvé- olos. Deve ser enfatizado que este instrumento é fi no e não deve ser usado girando-o ou utilizando um fulcro como a alavanca de Cryer ou de Crane. O elevador de ápice dental é usado para luxar a ponta mais apical da raiz através da inserção de sua ponta no espaço do ligamento periodontal, entre a raiz e a parede do alvéolo. Fórceps para Exodontia Os fórceps para exodontias são instrumentos usados para remo- ver o dente do osso alveolar. Estes fórceps são projetados em vá- rias formas e confi gurações para que se adaptem à variedade de dentes nos quais eles são usados. Cada desenho básico oferece uma multiplicidade de variações para se adequar às preferências do cirurgião. Esta seção trata dos desenhos básicos fundamentais e cita algumas variações. Componentes do Fórceps Os componentes básicos do fórceps para extração dentária são o cabo, a articulação e a ponta ativa (Fig. 6-37). Os cabos ge- ralmente são de tamanho adequado para que sejam conforta- velmente manuseados e para transferirem pressão e força sufi - cientes para a remoção do dente. Os cabos têm uma superfície serrilhada para permitir uma correta apreensão e evitar que escorreguem. Os cabos do fórceps são seguros de maneiras diferentes, de- pendendo da posição do dente a ser removido. Os fórceps maxi- lares são seguros com a palma da mão sob o fórceps de manei- ra que a ponta ativa seja direcionada para cima (Fig. 6-38). Os fórceps utilizados para a remoção de dentes mandibulares são seguros com a palma da mão sobre o fórceps de maneira que a ponta seja direcionada para baixo, na direção dos dentes (Fig. 6-39). Os cabos dos fórceps geralmente são retos, mas podem ser curvos. Isto propicia ao operador uma sensação de “melhor pega” (Fig. 6-40). A articulação do fórceps, como a haste da alavanca, é apenas um mecanismo para conectar o cabo à ponta ativa. A articulação transfere e concentra a força aplicada aos cabos para a ponta. Existe uma diferença distinta de estilos: o tipo americano co- mum tem a articulação na direção horizontal e é usado como foi descrito (Fig. 6-37). A preferência inglesa é pela articulação vertical e o cabo vertical correspondente (Fig. 6-41, A). Desta forma, o cabo e a articulação do estilo inglês são usados com a mão na direção vertical de maneira oposta à direção horizontal (Fig. 6-41, B). As pontas ativas do fórceps para exodontia são a fonte da maior variação entre os fórceps. A ponta ativa é desenhada para se adaptar à raiz dental próxima à junção da coroa com a raiz. Deve-se lembrar que as pontas ativas dos fórceps são projetadas para se adaptar à estrutura radicular do dente, e não à sua co- roa. Neste sentido, pontas ativas diferentes são desenhadas para dentes uni, bi e trirradiculares. A variação no desenho é tal que a extremidade da ponta ativa adaptar-se-á fi rmemente às várias formas de raízes, melhorando o controle do cirurgião sobre as forças aplicadas à raiz e diminuindo a chance de fratura radi- cular. Quanto mais estreita for a adaptação da ponta ativa do fórceps às raízes dentais, mais efi ciente será a extração e menor será a chance de ocorrência de resultados indesejáveis. Uma última variação no desenho está na largura da ponta ativa. Algumas pontas ativas de fórceps são fi nas, pois seu princi- pal uso é na remoção de dentes fi nos, como os incisivos. Outras pontas ativas são mais largas, pois os dentes para os quais elas Ponta ativa Articu- lação Cabo FIGURA 6-38 O fórceps utilizado para a remoção de dentes maxi- lares é segurado com a palma da mão embaixo do cabo. FIGURA 6-35 Alavanca de Crane é um instrumento utilizado para elevar uma raiz, ou até mesmo dentes, após a preparação de um ponto de apoio com uma broca. FIGURA 6-36 O delicado elevador para ápices radiculares é utiliza- da para luxar o ápice radicular no alvéolo. A ponta fi na pode se que- brar ou dobrar se o instrumento for utilizado de modo incorreto. FIGURA 6-37 Componentes básicos do fórceps para extração. 88 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA foram planejadas para extrair são substancialmente mais largos, como os molares inferiores. O fórceps desenhado para remover um incisivo inferior pode, teoricamente, ser utilizado para remo- ver um molar inferior, mas as pontas ativas são tão fi nas que elas serão inefi cientes para esta aplicação. Similarmente, os fórceps amplos para molares não irão se adaptar ao estreito espaço ocu- pado pelo incisivo inferior e, consequentemente, não poderão ser utilizados nesta situação sem causar algum dano ao dente adjacente. As pontas ativas dos fórceps são anguladas de maneira que possam ser posicionadas paralelas ao longo eixo do dente, com o cabo em uma posição confortável. Desta forma, as pontas ati- vas dosfórceps maxilares geralmente são paralelas ao cabo. Os fórceps para molares maxilares são inclinados em forma de baio- neta para permitir que o cirurgião alcance a região posterior da boca de modo confortável e, ainda, mantenha as pontas ativas paralelas ao longo eixo do dente. As pontas ativas dos fórceps mandibulares geralmente são perpendiculares ao cabo, o que permite ao cirurgião alcançar os dentes inferiores, mantendo uma posição confortável e controlável. Fórceps para Maxila A remoção de dentes maxilares requer o uso de instrumentos desenhados para dentes unirradiculares e para dentes com três raízes. Os incisivos, caninos e pré-molares maxilares são consi- derados unirradiculares. O primeiro pré-molar maxilar frequen- temente apresenta uma raiz bifurcada, mas como isto só ocorre no terço apical, não infl uencia no desenho do fórceps. Os mo- lares maxilares apresentam raízes trifurcadas e existem fórceps para exodontia que irão se adaptar a esta confi guração. Após alguma luxação, os dentes unirradiculares maxilares geralmente são removidos com um fórceps universal maxilar, qua- se sempre no 150 (Fig. 6-42). O fórceps no 150 apresenta uma forma em “S” discreta, quando visto de lado, e é essencialmente reto quando visto de cima. As pontas ativas do fórceps se cur- vam até se encontrarem apenas em suas extremidades. A discreta curva do no 150 permite que o cirurgião alcance de modo confor- tável não só os incisivos, mas também os pré-molares. A ponta ativa do fórceps no 150 foi discretamente modifi cada para dar origem ao fórceps no 150A (Fig. 6-43). O no 150A é útil para o dente pré-molar maxilar e não deve ser usado para os incisivos, pois apresenta uma adaptação pobre às raízes dos incisivos. Além do fórceps no 150, um fórceps reto também se encontra disponível. O fórceps no 1 (Fig. 6-44), que pode ser utilizado para os incisivos e caninos maxilares, são mais fácies de serem usados para os incisivos superiores do que o no 150. Os dentes molares maxilares são trirradiculares com uma úni- ca raiz palatina e uma bifurcação vestibular. Consequentemente, os fórceps que são especialmente desenhados para se adaptar aos molares maxilares devem ter uma superfície suave e côncava para a raiz palatina, e uma com um desenho pontiagudo que se adaptará à bifurcação vestibular. Isto faz com que seja necessário que os fórceps para molares venham em par: um esquerdo e um direito. Além disso, o fórceps para molar deve ter uma compen- sação para que o cirurgião possa atingir a região posterior da boca mantendo uma posição adequada. Os fórceps para molar mais utilizados são os no 53 direito e esquerdo (Fig. 6-45). Estes fórceps são desenhados para se adaptarem anatomicamente à raiz palatina, e a ponta ativa pontiaguda para se adaptar à bifur- cação vestibular. A ponta ativa é curvada para permitir um bom posicionamento do cirurgião. A B FIGURA 6-39 A, Fórceps utilizado para a remoção de dentes man- dibulares é segurado com a palma da mão sobre o fórceps. B, Uma pega mais fi rme para a obtenção de uma maior quantidade de força rotacional pode ser obtida com a movimentação do polegar para o lado e para baixo do cabo. FIGURA 6-40 Os cabos retos geralmente são preferidos, porém, os cabos curvos são a preferência de alguns cirurgiões. A B FIGURA 6-41 A, O fórceps no estilo inglês apresenta a articulação em uma direção vertical. B, O fórceps no estilo inglês é segurado em uma direção vertical. CAPÍTULO 6 • Instrumentação para Cirurgia Oral Básica 89 A C B D A B C A B C FIGURA 6-42 A, Vista superior do fórceps no 150. B, Vista lateral do fórceps no 150. C e D, Fórceps no 150 adaptado a um incisivo central maxilar. FIGURA 6-43 A, Vista superior do fórceps no 150A. B, O fórceps no 150A tem pontas ativas paralelas que não se tocam diferentemente das pontas ativas do fórceps 150. C, Adaptação do fórceps no 150A a um pré-molar maxilar. FIGURA 6-44 A, Vista superior do fórceps no 1. B e C, Fórceps no 1 adaptado a um incisivo. 90 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA Uma variação do desenho é vista nos fórceps no 88 direito e esquerdo, que apresentam as pontas ativas com as extremidades mais longas e acentuadas (Fig. 6-46). Estes fórceps são conheci- dos como fórceps chifre de vaca superiores. Eles são particularmente úteis para os molares maxilares com coroas intensamente caria- das. As pontas ativas afi adas podem alcançar mais profundamen- te a trifurcação até tocarem na dentina. A maior desvantagem é que eles destroem a crista alveolar óssea e, quando utilizados em dentes hígidos sem cuidado, podem ocasionar fratura de grande quantidade de osso alveolar vestibular. Ocasionalmente, os segundos molares superiores e terceiros molares erupcionados apresentam uma única raiz cônica. Neste caso, um fórceps com pontas ativas lisas e amplas com curvatura do cabo pode ser útil. O fórceps no 210S exemplifi ca este desenho (Fig. 6-47). Outra variação no desenho é encontrada nos fórceps de molar com pontas ativas bem fi nas e anguladas. Estes fórceps são usados, principalmente, para a remoção de raízes fraturadas de molares maxilares, mas podem ser usados para a remoção de pré-molares estreitos e incisivos inferiores. Estes fórceps e o no 65 também são conhecidos como fórceps apicais (Fig. 6-48). Uma versão menor do no 150, o no 150S, é útil para a remo- ção de dentes decíduos (Fig. 6-49). Este fórceps se adapta bem a todos os dentes decíduos maxilares e pode ser usado como um fórceps para dente decíduo universal. Fórceps para Mandíbula A exodontia de dentes mandibulares requer fórceps que possam ser usados em dentes unirradiculares para os incisivos, caninos e pré-molares, e dentes birradiculares para os molares. O fórceps mais utilizado para dentes unirradiculares é o fórceps universal inferior, ou o no 151 (Fig. 6-50). Este fórceps possui cabos simi- lares aos do no 150, porém, suas pontas ativas são direcionadas inferiormente para os dentes inferiores. As pontas ativas são lisas e estreitas e tocam-se somente nas extremidades. Isto permite que as pontas se adaptem próximas à linha cervical do dente e apreendam a raiz. O fórceps no 151A foi ligeiramente modifi cado para os pré- molares mandibulares (Fig. 6-51). Este fórceps não deve ser usado para outros dentes inferiores, pois sua forma impede a adaptação às raízes dos dentes. O fórceps de estilo inglês ou de articulação vertical pode ser usado para os dentes unirradiculares da mandíbula (Fig. 6-52). Pode-se gerar uma grande força com este fórceps. Se não usado com cautela, a incidência de fratura radicular é elevada com este instrumento. Consequentemente, este fórceps é pouquíssimo utilizado por cirurgiões iniciantes e inexperientes. Os molares mandibulares são dentes birradiculares bifurcados que permitem o uso do fórceps que se adapte, anatomicamente, ao dente. Como a bifurcação ocorre na vestibular e na lingual, é necessário apenas um único fórceps de molar para os dois lados, diferentemente da maxila, para a qual é necessária a utilização de um jogo de fórceps pareados esquerdo e direito. Um fórceps para molar inferior útil é o de no 17 (Fig. 6-53). Ele apresenta, geralmente, cabos retos e as pontas ativas são obli- quamente direcionadas para baixo. As pontas ativas apresentam extremidades pontiagudas no centro para que sejam encaixadas na bifurcação dos molares inferiores. O remanescente das pontas ativas se adapta bem ao lado da furca. Devido à sua extremidade pontiaguda, o fórceps no 17 não pode ser usado em molares que apresentem raízes fusionadas e cônicas. Nestes casos é usado o fórceps no 151. A maior variação no desenho dos fórceps para molares é o no 87, também denominado de fórceps chifre de vaca (Fig. 6-54). A B C D E FIGURA 6-45 A, Vista superior do fórcepsno 53L. B, Vista oblíqua do fórceps no 53L. C, Direita, no 53L; esquerda, no 53R. D e E, Um 53L adaptado a um molar maxilar. CAPÍTULO 6 • Instrumentação para Cirurgia Oral Básica 91 A B C A B C A B C FIGURA 6-46 A, Vista superior do fórceps no 88L. B, Vista lateral do fórceps no 88L. C, Um no 88R adaptado a um molar maxilar. FIGURA 6-47 A, Vista superior do fórceps no 210S. B, Vista lateral do fórceps no 210S. C, Um no 210S adaptado a um molar maxilar. FIGURA 6-48 A, Vista superior do fórceps no 65. B, Vista lateral do fórceps no 65. C, Um no 65 adaptado a uma raiz fraturada. FIGURA 6-49 O fórceps no 150S (embaixo) é uma versão menor do fórceps no 150 (no alto) e é usado para dentes decíduos. 92 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA A B C A B A B FIGURA 6-50 A, Vista superior do fórceps no 151. B, Vista lateral do fórceps no 151. C, Um fórceps no 151 adaptado a um incisivo man- dibular. FIGURA 6-51 A, O fórceps no 151A tem as pontas ativas paralelas e não se adapta bem às raízes da maioria dos dentes, diferentemente das pontas ativas do fórceps no 151. B, O fórceps no 151A adaptado a um pré-molar inferior. Visualiza-se a falta de adaptação das pontas ativas à raiz do dente. FIGURA 6-52 A, Vista lateral do fórceps de estilo inglês. B, Fórceps adaptado a um pré-molar inferior. CAPÍTULO 6 • Instrumentação para Cirurgia Oral Básica 93 C A B D C A B D FIGURA 6-53 A, Vista superior do fórceps no 17 para molares. B, Vista lateral do fórceps no 17 para molares. C e D, Fórceps no 17 adaptado a um molar inferior. FIGURA 6-54 A, Vista superior do fórceps chifre de vaca no 87. B, Vista lateral do fórceps chifre de vaca. C e D, Fórceps chifre de vaca adaptado a um molar inferior. 94 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA Este instrumento é desenhado com duas pontas longas e pontia- gudas que entram na bifurcação dos molares inferiores. Depois que o fórceps foi corretamente posicionado, quase sempre atra- vés de movimentos nas direções superior e inferior dos cabos, o dente é praticamente elevado, através do fechamento do fórceps pelo apertamento dos cabos. Conforme as pontas são pressiona- das contra a bifurcação, elas usam a cortical vestibular e lingual como fulcro e o dente, literalmente, salta do alvéolo. Assim como no uso do fórceps de estilo inglês, o uso incorreto do fórceps chifre de vaca pode levar a um aumento da incidência de efeitos inde- sejados, tais como fraturas do osso alveolar ou dano aos dentes maxilares caso o fórceps não seja corretamente controlado pelo cirurgião no momento em que o molar sair do alvéolo. O cirur- gião iniciante deve, consequentemente, utilizar o fórceps chifre de vaca com cautela. O fórceps no 151 também se adapta aos dentes decíduos. O no 151S tem o mesmo desenho geral do no 151, porém, é ligei- ramente menor para que se adapte aos dentes decíduos (Fig. 6-55). SISTEMAS DE BANDEJAS PARA INSTRUMENTOS Muitos dentistas acreditam ser prático utilizar o método de ban- dejas para organizar os instrumentos. Jogos-padrão de instru- mentos são embalados juntos, esterilizados e abertos durante a cirurgia. O pacote básico para cirurgia inclui uma seringa para anestesia local, uma agulha, um tubete anestésico, um descola- dor de periósteo no 9, uma cureta periapical, uma alavanca reta pequena e outra grande, uma pinça universitária, um hemostato curvo, uma pinça de campo, um afastador de Minnesota ou de Austin, uma ponta de aspiração e um pacote de gaze (Fig. 6-56). O fórceps necessário será adicionado a esta bandeja. Uma bandeja utilizada para extrações cirúrgicas incluiria os itens da bandeja para exodontia básica e mais um porta-agulhas, um fi o de sutura, uma tesoura de sutura, um cabo e uma lâmina de bisturi, pinça de tecido de Adson, uma lima para osso, um afastador de língua, um par de alavancas de Cryer, uma pinça- goiva e uma peça de mão e uma broca (Fig. 6-57). Estes instru- mentos permitem a incisão e o descolamento do tecido mole, a remoção de osso, a odontossecção, a remoção de raízes, o desbri- damento da ferida e a sutura do tecido mole. A bandeja de biópsia é semelhante à bandeja básica, menos as alavancas e mais um porta-agulhas e fi o de sutura, tesoura de sutura, e tesoura Metzenbaum, pinça de tecido de Allis, pinça de tecido de Adson e um hemostato curvo (Fig. 6-58). Estes instru- mentos permitem a incisão e a dissecção de fragmentos de tecido mole e o fechamento da ferida com suturas. A bandeja pós-operatória tem os instrumentos necessários para a irrigação do sítio cirúrgico e para remoção de sutura (Fig. 6-59). A bandeja geralmente inclui tesoura, pinça de algodão, seringa para irrigação, haste fl exível com ponta de algodão, gaze e ponta de aspiração. Os instrumentos podem ser colocados em uma bandeja pla- na, embalados com um tecido para esterilização e então esterili- zados. Quando for o momento de seu uso, a bandeja deverá ser levada para a sala cirúrgica e aberta de maneira que preserve a esterilidade dos instrumentos, e estes deverão ser usados e re- colocados na badeja. Este sistema necessita de uma autoclave sufi cientemente grande para acomodar a bandeja. FIGURA 6-55 O fórceps no 151S (embaixo) é uma versão menor do fórceps no 151 (no alto) e é usado para exodontia de dentes de- cíduos. FIGURA 6-56 Bandeja para extração básica. CAPÍTULO 6 • Instrumentação para Cirurgia Oral Básica 95 FIGURA 6-59 Bandeja pós-operatória inclui instrumentos necessários para a remoção das suturas e irrigação da boca. FIGURA 6-57 Bandeja para extração cirúrgica incluindo os instrumentos necessários para descolamento dos retalhos de tecido mole, remo- ção de osso, secção de dentes, remoção de raízes e sutura dos retalhos. FIGURA 6-58 Bandeja de biópsia incluindo o equipamento necessário para remoção de fragmento de tecido mole e fechamento da ferida. 96 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA Como alternativa, estojos de metal podem ser usados no lu- gar da bandeja. Os estojos são mais compactos, mas também de- vem ser embalados em tecido para esterilização. O apêndice inclui os preços dos instrumentos listados para estas bandejas. Uma revisão casual do custo dos instrumentos cirúrgicos demonstrará porque o cirurgião e o pessoal de apoio devem manter todos os esforços para cuidar, de maneira apro- priada, dos instrumentos. 97 CAPÍTULO A extração de um dente é um procedimento que combina os prin- cípios da cirurgia e os princípios da física e da mecânica. Quando esses princípios são aplicados corretamente, um dente pode, em geral, ser removido do processo alveolar sem sequela ou força indesejáveis. Este capítulo apresenta os princípios da cirurgia e da mecânica relacionados com a extração dentária simples. Além disso, será fornecida uma descrição detalhada das técnicas para a remoção dos dentes específi cos com os instrumentos específi cos. A remoção correta de um dente não requer uma grande quan- tidade de força do cirurgião, mas, na verdade, deve ser feita com delicadeza. A remoção de um dente erupcionado envolve o uso de uma força controlada de maneira que o dente não seja puxado do osso, mas sim delicadamente elevado do processo alveolar. Durante o planejamento pré-operatório, avalia-se o grau de di- fi culdade antecipado para a remoção de um dente em particu- lar. Se essa avaliação levar o cirurgião a acreditar que o grau de difi culdade será elevado ou se as tentativas iniciais durante a remoção do dente confi rmam essa suspeita, uma abordagem ci- rúrgica deliberada – não uma aplicação de força excessiva – deve ser feita. Força excessiva pode danifi car os tecidos moles locais e lesar o osso e os dentes adjacentes. Ainda, força excessiva e brutalidade durante a extração aumentam o desconforto transo- peratório e pós-operatório e a ansiedadedo paciente. CONTROLE DA DOR E DA ANSIEDADE A remoção de até um dente com mobilidade causa dor. Conse- quentemente, é necessária uma anestesia local profunda para prevenir dor durante as extrações. A anestesia local deve ser ab- solutamente profunda para eliminar a sensação pulpar, do liga- mento periodontal e dos tecidos moles adjacentes. Entretanto, mesmo com anestesia local profunda, os pacientes ainda sen- tirão desconforto oriundo da pressão exercida no dente e nos tecidos adjacentes durante a maioria das extrações. É de igual importância que o dentista reconheça a ansieda- de que, geralmente, acomete os pacientes que passarão por uma 7 Princípios da Exodontia Simples JAMES R. HUPP SUMÁRIO DO CAPÍTULO CONTROLE DA DOR E DA ANSIEDADE Anestesia Local Sedação AVALIAÇÃO MÉDICA PRÉ-OPERATÓRIA INDICAÇÕES PARA EXTRAÇÃO DENTÁRIA Cáries Necrose Pulpar Doença Periodontal Indicações Ortodônticas Dentes Mal Posicionados Dentes Fraturados Dentes Impactados Dentes Supranumerários Dentes Associados a Lesões Patológicas Radioterapia Dentes Envolvidos em Fraturas dos Maxilares Questões Financeiras CONTRAINDICAÇÕES PARA EXTRAÇÃO DENTÁRIA Contraindicações Sistêmicas Contraindicações Locais AVALIAÇÃO CLÍNICA DOS DENTES A SEREM EXTRAÍDOS Acesso ao Dente Mobilidade do Dente Condição da Coroa EXAME RADIOGRÁFICO DO DENTE A SER EXTRAÍDO Relação com Estruturas Vitais Confi guração das Raízes Condição do Osso Adjacente PREPARO DO PACIENTE E DO CIRURGIÃO POSICIONAMENTO DA CADEIRA PARA EXTRAÇÕES PRINCÍPIOS MECÂNICOS ENVOLVIDOS NA EXTRAÇÃO DENTÁRIA PRINCÍPIOS PARA O USO DA ALAVANCA E DO FÓRCEPS PROCEDIMENTOS PARA EXTRAÇÃO FECHADA Papel da Mão Oposta Papel do Assistente durante a Extração TÉCNICAS ESPECÍFICAS PARA REMOÇÃO DE CADA DENTE Dentes Maxilares Incisivos Canino Primeiro Pré-molar Segundo Pré-molar Molar Dentes Mandibulares Dentes Anteriores Pré-molares Molares Modifi cações para a Extração de Dentes Decíduos CUIDADOS PÓS-EXTRAÇÃO COM O ALVÉOLO DENTÁRIO 98 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA extração dentária. Poucos pacientes encaram esse procedimento com tranquilidade, e mesmo pacientes estoicos sem nenhum si- nal externo de ansiedade podem apresentar sentimentos inter- nos de estresse. Anestesia Local É necessária uma anestesia local para o dente removido sem dor para o paciente; consequentemente, é essencial que o cirurgião lembre-se da inervação precisa de todos os dentes e do tecido mole adjacente e dos tipos de anestesias necessárias para anes- tesiar esses nervos completamente. A Tabela 7-1 resume a iner- vação sensitiva dos dentes e dos tecidos adjacentes. Um ponto importante a se lembrar é que, em áreas de transição da iner- vação, existe uma inervação cruzada. Por exemplo, na região do segundo pré-molar mandibular, os tecidos moles da região vesti- bular são inervados não só pelo ramo mentoniano do nervo alve- olar inferior, mas também pelos ramos terminais do nervo bucal. Portanto, é apropriado suplementar um bloqueio do alveolar inferior com um bloqueio do bucal para se obter a anestesia ade- quada do tecido mole vestibular para a extração de um segundo pré-molar inferior. Quando um dente maxilar for anestesiado para extração, o cirurgião deve anestesiar os dentes adjacentes também. Durante o processo de extração, os dentes adjacentes são, geralmente, sub- metidos à alguma pressão, que pode ser sufi ciente para causar dor. Isso também acontece nas extrações mandibulares, mas o bloqueio mandibular, geralmente, produz anestesia sufi ciente para os dentes adjacentes. Uma anestesia local profunda resulta na perda de todas as sensações de dor, temperatura e toque, mas não anestesia as fi - bras proprioceptivas dos nervos envolvidos. Consequentemente, durante uma extração, o paciente sente uma pressão, em espe- cial, quando a força é intensa. O cirurgião deve, então, lembrar que o paciente terá que distinguir entre a dor aguda e a sensação de pressão profunda, ainda que intensa, para se determinar a efi cácia da anestesia. Mesmo com uma anestesia profunda de tecido mole e uma aparente anestesia pulpar, o paciente pode continuar a sentir uma dor aguda quando o dente é luxado. Isso acontece, com mais frequência, quando o dente tem uma pulpite ou quando os tecidos moles e duros adjacentes estão infl amados ou infecta- dos. A técnica que deve ser utilizada nessas situações é a injeção do ligamento periodontal. Quando esta injeção é aplicada cor- retamente e a solução anestésica é injetada sob pressão, causa uma anestesia local profunda imediata em quase todos os casos. Essa anestesia tem vida curta, portanto o procedimento cirúrgico deve ser terminado dentro de 15 a 20 minutos. Deve-se ter em mente a farmacologia das várias soluções anestésicas que são utilizadas para que possam ser usadas apro- priadamente. A Tabela 7-2 resume os anestésicos locais mais usados e o tempo esperado de duração de uma anestesia profun- da. O cirurgião deve lembrar que a anestesia pulpar dos dentes maxilares após uma infi ltração local dura um tempo bem menor que a anestesia pulpar dos dentes mandibulares após uma anes- tesia por bloqueio de nervo. Além disso, a anestesia pulpar desa- parece de 60 a 90 minutos antes da anestesia dos tecidos moles. Portanto, é comum que um paciente sinta o lábio anestesiado, mas tenha perdido a anestesia pulpar e esteja sentindo dor. Apenas certa quantidade de anestésico pode ser usada de ma- neira segura em um determinado paciente. Para anestesiarmos múltiplos dentes em casos de exodontia múltipla, pode ser ne- cessário injetar vários tubetes anestésicos. Consequentemente, é importante conhecer quantos tubetes de uma determinada so- lução anestésica podem ser administrados de maneira segura. A Tabela 7-3 resume (de duas maneiras diferentes) a quantidade máxima de anestésico local que pode ser usada. Primeiro, cada anestésico local tem uma dose máxima recomendada em miligra- ma por quilograma. A segunda coluna na Tabela 7-3 indica o nú- mero de tubetes que podem ser usados com segurança em adulto saudável de 70 kg. Raramente, é necessário exceder essa dose, mesmo em pacientes com mais de 70 kg. Pacientes menores, especialmente crianças, devem receber, proporcionalmente, menos anestésico local. Uma situação comum arriscada envolvendo a intoxicação por anestésico local é a criança pequena na qual é ad- ministrada mepivacaína a 3%. Para uma criança que pesa 20 kg, TABELA 7-1 Inervação Sensitiva dos Maxilares Nervo Dentes Tecido Mole Nervo alveolar inferior Todos os dentes mandibulares Tecido mole vestibular dos pré-molares, canino e incisivos Nervo lingual Nenhum Tecido mole lingual de todos os dentes Nervo bucal Nenhum Tecido mole vestibular dos molares e do segundo pré-molar Nervo alveolar superior anterior Incisivos e canino maxilar Tecido mole vestibular dos incisivos e canino Nervo alveolar superior médio Pré-molares maxilares e parte do primeiro molar Tecido mole vestibular dos pré-molares Nervo alveolar superior posterior Molares maxilar exceto parte do primeiro molar Tecido mole vestibular dos molares Nervo palatino anterior Nenhum Tecido mole lingual dos molares e pré-molares Nervo nasopalatino Nenhum Tecido mole lingual dos incisivos e canino TABELA 7-2 Duração da Anestesia Anestésico Local Dentes Maxilares Dentes Mandibulares Tecido Mole Grupo 1* 10-20 minutos 40-60 minutos 2-3 horas Grupo 2† 50-60 minutos 90-100 minutos 3-4 horas Grupo 3‡ 60-90 minutos 3 horas 4-9 horas *Grupo 1 – Anestésicos locais sem vasoconstritores Mepivacaína a 3% Prilocaína a 4% †Grupo 2 – Anestésicos locais com vasoconstritores Lidocaínaa 2% com adrenalina 1:50.000 ou 1:100.000 Mepivacaína a 2% com levonordefrina 1:20.000 Prilocaína a 4% com adrenalina 1:400.000 Articaína a 4% com adrenalina 1:100.000 ‡Grupo 3 – Anestésicos locais de longa duração Bupivacaína a 0,5% com adrenalina 1:200.000 Etidocaína a 1,5% com adrenalina 1:200.000 CAPÍTULO 7 • Princípios da Exodontia Simples 99 a dose máxima recomendada de mepivacaína é de 100 mg. Se forem aplicados dois tubetes anestésicos de 1,8 mL cada, a dose total é de 108 mg. Portanto, um terceiro tubete de mepivacaína a 3% não deve ser administrado. Como em qualquer droga, a quantidade mínima de solução anestésica local sufi ciente para gerar uma anestesia profunda é a quantidade correta. Embora seja evidente que a anestesia local é necessária para o controle da dor transoperatória, o cirurgião deve, também, re- conhecer o seu papel no controle da dor pós-operatória. Para ex- trações de rotina quando apenas analgésicos fracos a moderados serão necessários, geralmente, não é preciso nenhum anestésico local adicional. Após procedimentos que tenham sido mais trau- máticos (p. ex., a remoção de um dente impactado) e quando provavelmente se farão necessários analgésicos mais potentes, muitos cirurgiões usam um anestésico local de longa duração (p. ex., bupivacaína) em vez de ou associado ao seu anestésico local usual. Com isso, o profi ssional fornece ao paciente 4 a 8 horas de anestesia local sem dor. Esse método ainda permite o tempo adequado para que o paciente tome o analgésico oral e que se inicie seu efeito antes que sinta qualquer desconforto. Sedação O controle da ansiedade do paciente deve ser uma grande preo- cupação nos procedimentos de cirurgia oral. A ansiedade é um fator mais importante nos procedimentos em cirurgia oral que na maioria das outras áreas da odontologia. Os pacientes, frequen- temente, já estão com dor e podem estar agitados e cansados, o que diminui a habilidade do paciente em lidar com a dor ou com situações que geram dor. Os pacientes que irão submeter-se a ex- trações podem ter noções prévias ou experiências anteriores de quão doloroso esse procedimento será; eles podem ter ouvidos outros pacientes, incluindo familiares, que relataram o quanto dói ter um dente extraído. Muitos estão convencidos de que o procedimento que eles irão sofrer será bastante desagradável. Além disso, os pacientes podem ter certas complicações psicoló- gicas quando estiverem se submetendo aos procedimentos cirúr- gicos. A remoção de dentes causa uma variedade de reações; o paciente pode sentir a perda de uma parte do corpo ou entender a extração como uma confi rmação de que sua juventude passou. Isso, então, soma-se à ansiedade pré-operatória presente devido ao medo da dor. Finalmente, a ansiedade é normal mesmo em pacientes com experiências passadas positivas com extrações porque o proce- dimento é, verdadeiramente, desconfortável. Como já descrito, embora a dor aguda seja eliminada pelo anestésico local, uma quantidade considerável de pressão ainda é sentida. Outros estí- mulos álgicos estão presentes durante um procedimento de ex- tração, como os ruídos das microfraturas ósseas e o barulho dos instrumentos. Por essas razões, os dentistas prudentes utilizam um método planejado de controle de ansiedade para preparar a si mesmos, e aos pacientes, para a ansiedade associada à extra- ção dentária. O controle da ansiedade se inicia, na maioria dos casos, com uma explicação completa do procedimento planejado, incluindo a afi rmação de que não haverá nenhuma dor aguda e a demons- tração de preocupação e empatia por parte do dentista. Para o paciente moderadamente ansioso com um dentista cuidadoso, é comum não ser necessária nenhuma assistência farmacológica para as extrações de rotina. Conforme a ansiedade do paciente aumenta, geralmente, é preciso utilizar uma assistência farmacológica. Uma completa explicação do procedimento e a demonstração de cuidado com o paciente são fundamentais para todas as técnicas de controle de ansiedade. Esses fatores são somados às drogas administradas de várias maneiras. Drogas pré-operatórias administradas oral- mente, como o diazepam, podem fornecer ao paciente descanso na noite anterior à cirurgia e algum alívio na ansiedade pela ma- nhã. Entretanto, as drogas administradas, oralmente, não são, em geral, sufi cientes para controlar uma ansiedade moderada a severa quando o paciente entra na sala de cirurgia, e são difíceis de calibrar a dose necessária para se obter o controle desejado. A sedação pela inalação do óxido nitroso é, com frequência, a técnica de escolha para pacientes ansiosos e pode ser a única técnica necessária para vários pacientes que possuem uma an- siedade de leve a moderada. Um paciente extremamente ansioso que apresenta indicação de várias extrações simples pode neces- sitar de uma sedação mais profunda, geralmente por via endo- venosa. A sedação com drogas ansiolíticas, como o diazepam ou o midazolam com ou sem um narcótico, permite que pacientes com ansiedade de moderada a severa passem pelos procedimen- tos cirúrgicos com o mínimo estresse psicológico. Se o dentista não é treinado para utilizar essa modalidade, o paciente deve ser encaminhado para um cirurgião que é treinado para utilizá-la. AVALIAÇÃO MÉDICA PRÉ-OPERATÓRIA Quando se avalia um paciente pré-operatoriamente, é crítico que o cirurgião examine a condição médica do paciente. Os pacien- tes podem apresentar uma variedade de doenças que requerem a modifi cação do tratamento ou o controle médico antes que a cirurgia possa ser feita com segurança. Medidas especiais podem ser necessárias para controlar o sangramento, diminuir a chance de infecção e prevenir a piora do estado de sua doença pré-exis- tente. Essa informação é discutida em detalhe no Capítulo 1. O TABELA 7-3 Doses Máximas Recomendadas de Anestésico Local Droga/Solução Quantidade Máxima (mg/kg) Número de Tubetes para um Adulto com 70 kg Número de Tubetes para uma Criança de 20 kg Lidocaína a 2% com adrenalina 1:100.000 5 10 3 Mepivacaína a 2% com levonordefrina 1:20.000 5 10 3 Mepivacaína a 3% (sem vasoconstritor) 5 6 2 Prilocaína a 4% com adrenalina 1:200.000 5 6 2 Articaína a 4% com adrenalina 1:100.000 7 6 1,5 Bupivacaína a 0,5% com adrenalina 1:200.000 1,5 10 3 Etidocaína a 1,5% com adrenalina 1:200.000 8 1,5 5 100 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA leitor deve dirigir-se para esse capítulo para obter as informações específi cas sobre a alteração do tratamento cirúrgico devido a razões médicas. INDICAÇÕES PARA EXTRAÇÃO DENTÁRIA Os dentes são extraídos devido a uma série de razões. Esta seção discute uma variedade de indicações comuns para a remoção de dentes. Deve-se ter em mente que estas indicações são diretrizes e não regras absolutas. Cáries Talvez a razão mais comum e amplamente aceita para a remoção de um dente é que ele encontra-se tão severamente cariado que não pode ser restaurado. A extensão e a gravidade da cárie e a in- dicação de que ele não pode ser mais restaurado são decisões que devem ser tomadas entre o dentista e o paciente. Algumas vezes, a complexidade e o custo das etapas necessárias para recuperar um dente severamente cariado também tornam a exodontia uma opção razoável. Isso é, particularmente, verdadeiro com a dispo- nibilidade das confi áveis próteses implanto-suportadas. Necrose Pulpar Uma segunda razão, alinhada com a primeira, para se remover um dente é a presença de necrose pulpar ou pulpite irreversível onde não esteja indicado o tratamento endodôntico. Isso pode ser devido à desistência do paciente em fazer o tratamento en- dodôntico ou a um canal que seja tortuoso, calcifi cado e não tratável pelas técnicas endodônticas convencionais. Incluem-se, também, nessa categoria de indicação os casosem que o trata- mento endodôntico foi feito, mas falhou em aliviar a dor ou em fornecer a drenagem, e o paciente não deseja o retratamento. Doença Periodontal Uma razão comum para a remoção de um dente é a doença periodontal severa e extensa. A periodontite do adulto severa presente por muito tempo levará à perda óssea excessiva e à mo- bilidade dentária irreversível. Nessas situações, os dentes com hipermobilidade devem ser extraídos. Além disso, a perda óssea periodontal ativa pode pôr em perigo a chance de instalação de um implante simples, tornando a extração um passo razoável antes que um dente apresente mobilidade. Indicações Ortodônticas Pacientes que irão submeter-se a tratamento ortodôntico para correção de apinhamento dentário, frequentemente, necessitam de extrações de dentes para fornecer espaço para o alinhamento dentário. Os dentes extraídos com mais frequência são os pré- molares maxilares e mandibulares, mas um incisivo mandibular pode, ocasionalmente, necessitar ser extraído pela mesma razão. Deve-se ter grande cuidado para garantir que a extração seja, de fato, necessária e que o dente ou os dentes corretos sejam remo- vidos se outro cirurgião que irá fazer a extração tenha solicitado as extrações. Dentes Mal Posicionados Dentes ectópicos ou mal posicionados podem ser indicados para remoção em várias situações. Se eles traumatizam tecidos moles e não podem ser reposicionados por meio de tratamento ortodôntico, devem ser extraídos. Um exemplo comum disso é o terceiro molar maxilar, que erupciona em uma direção vesti- bular severa e causa ulceração e trauma ao tecido mole da bo- checha. Outro exemplo são os dentes mal posicionados que se encontram extruídos devido à perda do dente antagonista. Se for planejada uma reabilitação protética do arco oposto, os dentes extruídos podem interferir na confecção de uma prótese ade- quada. Nessa situação, os dentes mal posicionados devem ser considerados para extração. Dentes Fraturados Uma indicação incomum para extração dentária é o dente com uma trinca na coroa ou com uma raiz fraturada. O dente fratu- rado pode ser doloroso e não tratável por uma técnica mais con- servadora. Mesmo o tratamento endodôntico e procedimentos restauradores complexos podem não aliviar a dor de um dente fraturado. Dentes Impactados Os dentes impactados devem ser considerados para remoção. Se estiver claro que um dente parcialmente impactado é incapaz de erupcionar até uma oclusão funcional devido ao espaço ina- dequado, interferência de dentes adjacentes ou qualquer outra razão, deve-se considerar sua remoção cirúrgica. Veja o Capítulo 9 para uma discussão mais completa sobre este tópico. Dentes Supranumerários Os dentes supranumerários são, geralmente, impactados e de- vem ser removidos. Um dente supranumerário pode interferir na erupção dos dentes subjacentes e tem o potencial de causar a reabsorção e o deslocamento desses dentes. Dentes Associados a Lesões Patológicas Os dentes que estão envolvidos com lesões patológicas podem necessitar de remoção. Em algumas situações, os dentes po- dem ser mantidos com tratamento endodôntico. Entretanto, se a manutenção do dente compromete a remoção cirúrgica comple- ta da lesão quando a remoção completa é imprescindível, o dente deve ser removido. Radioterapia Pacientes que receberão radioterapia para câncer oral, ou na re- gião da cabeça e do pescoço, devem considerar a remoção de dentes na direção da área irradiada. Entretanto, muitos desses dentes podem ser mantidos com o cuidado apropriado. Veja o Capítulo 18 para uma discussão mais completa dos efeitos da radioterapia nos dentes e nos maxilares. Dentes Envolvidos em Fraturas dos Maxilares Os pacientes que sofrem fraturas da mandíbula ou processo al- veolar, às vezes, devem ter os dentes removidos. Em alguns ca- sos, o dente envolvido com a linha de fratura pode ser mantido, mas se ele estiver lesionado, infectado ou severamente luxado do tecido ósseo adjacente ou interferir com a correta redução e fi xação da fratura, sua remoção pode ser necessária. Questões Financeiras Uma indicação fi nal para a remoção de dente relaciona-se com a condição fi nanceira do paciente. Todas as indicações para ex- tração já mencionadas podem tornar-se mais fortes se o paciente não desejar ou não puder, fi nanceiramente, apoiar a decisão de manter o dente. A impossibilidade do paciente em pagar o proce- dimento ou se ausentar do trabalho tempo sufi ciente para permi- tir que ele seja feito pode determinar a remoção do dente. Além disso, as soluções com implantes dentários podem ter melhor CAPÍTULO 7 • Princípios da Exodontia Simples 101 custo-benefício para o paciente comparado com a manutenção de um dente questionável. CONTRAINDICAÇÕES PARA EXTRAÇÃO DENTÁRIA Mesmo que um determinado dente apresente um dos requisitos para sua remoção, em algumas situações, o dente não deve ser removido devido a outros fatores ou contraindicações para a ex- tração. Esses fatores, assim como as indicações, são relativos em importância. Em algumas situações, as contraindicações podem ser modifi cadas por meio de cuidados ou tratamentos adicionais, e a extração indicada pode ser feita. Em outros casos, entretan- to, a contraindicação pode ser tão signifi cante que o dente não deve ser removido até que a severidade do problema tenha sido resolvida. Geralmente, as contraindicações são divididas em dois grupos: sistêmica e local. Contraindicações Sistêmicas Contraindicações sistêmicas impedem a extração, pois a saúde sistêmica do paciente encontra-se em tal estado que a possibi- lidade de resistir ao trauma cirúrgico pode estar comprometida (veja Capítulo 1). Uma contraindicação sistêmica é um grupo de condições denominadas de doenças metabólicas descompensa- das e severas. Diabetes não controlada e falência renal com ure- mia severa fazem parte desse grupo. Os pacientes com diabetes branda ou diabetes grave bem compensada podem ser tratados como pacientes razoavelmente normais. Apenas quando o pro- cesso da doença se torna descontrolado, o paciente não deve ter o dente removido de maneira rotineira. Os pacientes que apresentam leucemia e linfoma não con- trolados não devem ter os dentes removidos até que a doença maligna possa ser controlada. As complicações potenciais são infecção devido ao não-funcionamento dos glóbulos brancos e sangramento excessivo devido ao número inadequado de pla- quetas. Os pacientes com qualquer de várias doenças cardíacas severas e não controladas também devem ter suas extrações pro- teladas até que a doença possa ser controlada. Os pacientes com isquemia severa do miocárdio, como angina pectoris instável, e pacientes que tiverem tido um infarto do miocárdio signifi cante recentemente não devem ter um dente extraído, exceto em caso de emergência em ambiente hospitalar. Pacientes que possuem hipertensão maligna também devem ter as extrações adiadas, pois apresentam maior risco de sangramento persistente, insufi - ciência aguda do miocárdio e acidente vascular cerebral devido ao estresse causado pela extração. Pacientes com arritmias car- díacas não controladas e severas devem, também, ter suas extra- ções adiadas. A gravidez é uma contraindicação relativa às extrações; os pa- cientes que estejam no primeiro ou no terceiro trimestre devem ter suas extrações adiadas se for possível. O fi nal do primeiro trimestre e o primeiro mês do último trimestre podem ser tão seguros quanto o segundo trimestre para extrações de rotinas não complicadas, porém procedimentos cirúrgicos mais exten- sos que necessitem de medicamentos além dos anestésicos locais devem ser adiados até após o nascimento da criança. Os pacientes que apresentem coagulopatias severas, como hemofi lia, ou distúrbios plaquetários severos não devem ter seus dentes extraídosaté que a coagulopatia tenha sido corrigida. A maioria dos distúrbios graves de sangramento pode ser contro- lado pela administração de fatores de coagulação ou transfusões de plaquetas. Um estreito relacionamento com o hematologista do paciente pode levar à recuperação sem complicações do pro- cedimento de extração na maioria dos casos. Da mesma forma, pacientes que tomam anticoagulantes podem sofrer extrações de rotina quando tiverem sido tomados os cuidados corretos para o controle apropriado do paciente. Por último, o pacientes que tomam ou tenham tomado uma variedade de medicamentos devem ter a cirurgia feita com cau- tela. Drogas que devemos ter cuidado incluem corticosteroides, agentes imunossupressores, bifosfonados e agentes quimioterá- picos para câncer. Contraindicações Locais Existem várias contraindicações locais às extrações de determi- nados dentes. A mais importante e mais crítica é a história de radiação terapêutica contra câncer. As extrações feitas em uma área de radiação podem causar osteorradionecrose e, portanto, devem ser feitas com extrema cautela. O Capítulo 18 discute esse fato em detalhe. Os dentes que estão localizados dentro de uma área de tumor, especialmente um tumor maligno, não devem ser extraídos. O procedimento cirúrgico da extração pode disseminar células ma- lignas e, consequentemente, semear metástases. Os pacientes com pericoronarite severa ao redor de um ter- ceiro molar mandibular impactado não devem ter o dente ex- traído até que a pericoronarite tenha sido tratada. O tratamento não-cirúrgico deve incluir irrigação, antibióticos e remoção do terceiro molar maxilar se necessário para aliviar o trauma des- se dente sobre o tecido mole edemaciado que recobre a impac- ção mandibular. Se o terceiro molar mandibular for removido durante um episódio de pericoronarite severa, a incidência de complicações aumenta. Se a pericoronarite for branda e o dente puder ser removido facilmente, então, a extração deve ser feita imediatamente. Por fi m, o abscesso dentoalveolar agudo deve ser menciona- do. Muitos estudos prospectivos tornam indiscutivelmente cla- ro que a resolução mais rápida de uma infecção resultante de necrose pulpar é obtida com a remoção do dente o mais cedo possível. Portanto, a infecção aguda não é uma contraindicação para a extração. Entretanto, pode ser difícil extrair um dente com esse problema, pois o paciente pode não conseguir abrir a boca o sufi ciente, ou pode ser difícil conseguir uma anestesia lo- cal profunda. Se as condições de acesso e anestesia puderem ser obtidas, o dente deve ser removido o mais cedo possível. Caso contrário, deve ser iniciada antibioticoterapia e a extração, pla- nejada o mais rápido possível. AVALIAÇÃO CLÍNICA DOS DENTES A SEREM EXTRAÍDOS No período de avaliação pré-operatória, o dente a ser extraído deve ser examinado cuidadosamente para análise da difi culdade da extração. Uma variedade de fatores deve ser examinada, espe- cifi camente, para se fazer a correta avaliação. Acesso ao Dente O primeiro fator a ser examinado na avaliação pré-operatória é a amplitude de abertura da boca do paciente. Qualquer limi- tação na abertura da boca pode comprometer a capacidade do cirurgião de fazer uma extração descomplicada de rotina. Se a abertura do paciente estiver substancialmente comprometida, o cirurgião deve planejar uma abordagem cirúrgica do dente em vez de utilizar alavanca e fórceps para a extração. Além disso, o cirurgião deve procurar as causas da redução de abertura. As causas mais comuns são trismo associado à infecção adjacente ou dentro dos músculos mastigatórios, disfunção da articulação temporomandibular (ATM) (especialmente desarranjo interno 102 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA da articulação com deslocamento do disco sem redução ou an- quilose da ATM) e fi brose muscular. A localização e a posição do dente a ser extraído no arco den- tário devem ser examinadas. Um dente corretamente alinhado apresenta um acesso normal para a colocação das alavancas e dos fórceps. No entanto, dentes apinhados ou ectópicos podem cau- sar difi culdade no posicionamento correto do fórceps no dente a ser extraído. Quando o acesso é um problema, deve ser escolhi- do um fórceps com melhor adaptação ou pode ser indicada uma abordagem cirúrgica. Mobilidade do Dente A mobilidade do dente a ser extraído deve ser avaliada pré-ope- ratoriamente. Mobilidade maior que o normal é, frequentemen- te, vista em casos de doença periodontal severa. Se os dentes estiverem com hipermobilidade, deve-se esperar uma extração simples, mas pode haver maior difi culdade no manuseio do teci- do mole após a extração (Fig. 7-1, A). Dentes que apresentam mobilidade menor que o normal de- vem ser, cuidadosamente, avaliados para a presença de hiperce- mentose ou anquilose das raízes. A anquilose é, com frequência, encontrada em molares decíduos que fi caram retidos e encontra- se em infraoclusão (Fig. 7-1, B); além disso, é também encontra- da, ocasionalmente, em dentes não-vitais que passaram por tra- tamento endodôntico vários anos antes da extração. Se o clínico desconfi ar de que o dente esteja anquilosado, é melhor planejar sua remoção cirúrgica em vez da extração a fórceps. Condição da Coroa A avaliação da coroa do dente antes da extração deve verifi car a presença de cáries extensas ou de grandes restaurações na coroa. Se grande parte da coroa tiver sido destruída pela cárie, a chance de fratura da coroa durante a extração é maior, consequente- mente aumenta a difi culdade da remoção do dente (Fig. 7-2). Da mesma forma, a presença de grandes restaurações de amálgama enfraquece a coroa, e a restauração, é bem provável, irá fraturar durante o processo de extração (Fig. 7-3). Além disso, um dente que tenha sido tratado endodonticamente se torna ressecado e fratura com facilidade quando aplicamos força. Nessas três situ- ações, é importante que o dente seja luxado ao máximo e que o fórceps seja posicionado o mais apical possível para que apreen- da a raiz do dente em vez a da coroa. Se o dente a ser extraído apresenta grande acúmulo de cálcu- lo dentário, deve-se remover esse cálculo com uma cureta ou um ultrassom antes da extração. A razão para isso é que o cálculo interfere no posicionamento do fórceps no local correto, e frag- mentos do cálculo podem contaminar o alvéolo dentário vazio após a extração do dente. O cirurgião deve, também, avaliar a condição dos dentes ad- jacentes. Se eles tiverem grandes restaurações de amálgama, co- roas ou tiverem tido tratamento endodôntico, é importante que se mantenha isso em mente quando utilizarmos as alavancas e o fórceps para luxar e remover o dente indicado. Se os dentes ad- jacentes tiverem grandes restaurações, o cirurgião deve utilizar as alavancas com extrema cautela, pois pode ocorrer fratura ou deslocamento da restauração (Fig. 7-4). O paciente deve ser in- formado antes do procedimento cirúrgico sobre a possibilidade de dano a essas restaurações durante o procedimento de consen- timento informado. EXAME RADIOGRÁFICO DO DENTE A SER EXTRAÍDO É essencial que se obtenha radiografi as precisas de qualquer den- te a ser removido. Em geral, as radiografi as periapicais fornecem a informação mais precisa e detalhada sobre o dente, suas raízes e o tecido adjacente. As radiografi as panorâmicas são utilizadas frequentemente, mas o seu melhor uso é para dentes impactados e não para dentes erupcionados. Para que as radiografi as tenham seu maior valor, elas devem ir ao encontro de certos critérios. Primeiro, as radiografi as de- vem ter uma exposição correta, com uma penetração adequa- da e bom contraste. O fi lme ou o sensor radiográfi co deve ter sido corretamente posicionado de maneira que mostre todas as partes da coroa e das raízes do dente em questão sem distorção(Fig. 7-5). Se não estiver utilizando imagens digitais, a radiogra- fi a deve ser, corretamente, processada, com boa fi xação, seca e montada de maneira correta. A montagem deve ser identifi cada com o nome do paciente e a data em que o fi lme foi exposto. A radiografi a deve ser montada pelo método padronizado pela American Dental Association, que é ver a radiografi a como se es- tivéssemos olhando para o paciente; a marca em alto-relevo do fi lme deve estar voltada para o observador. A radiografi a deve ser, razoavelmente, atual para que demonstre a situação presen- te. Radiografi as com mais de um ano devem, provavelmente, ser refeitas antes da cirurgia. Por último, radiografi as convencionais devem ser colocadas sobre um negatoscópio visível pelo cirur- gião durante a cirurgia, e as imagens digitais devem ser acessí- BA FIGURA 7-1 A, Um dente com doença periodontal severa com perda óssea e espaço do ligamento periodontal aumentado. Esse tipo de dente é fácil de remover. B, Segundo molar decíduo retido com ausência do dente sucessor. O molar está, parcialmente, submerso e a possi- bilidade de anquilose das raízes é grande. CAPÍTULO 7 • Princípios da Exodontia Simples 103 veis de maneira que o cirurgião possa, facilmente, vê-las durante as extrações. Radiografi as que tiverem sido obtidas, mas que não estiverem disponíveis durante a cirurgia têm valor limitado. A relação do dente a ser extraído com os dentes adjacentes erupcionados e dentes não erupcionados deve ser observada. Se o dente é um dente decíduo, a relação de suas raízes com o dente subjacente abaixo dele deve ser avaliada com cuidado. A extra- ção dos dentes decíduos pode, possivelmente, lesionar ou des- locar o dente subjacente. Se for necessária a remoção cirúrgica de uma raiz ou de parte de uma raiz, a relação com as estruturas radiculares dos dentes adjacentes deve ser conhecida. A remoção de osso, sempre que necessária, deve ser feita de maneira cri- teriosa, mas é particularmente importante o cuidado se houver raízes adjacentes próximas à raiz a ser removida. Relação com Estruturas Vitais Quando extraímos os molares maxilares, é essencial atentar para a proximidade das raízes dos molares com o assoalho do seio maxilar. Se apenas uma fi na camada de osso existir entre o seio e as raízes dos dentes molares, o potencial de perfura- ção do seio maxilar durante a extração aumenta. Nesse caso, o plano de tratamento pode ser alterado para uma técnica de cirurgia aberta, com a divisão das raízes do molar maxilar antes da extração (Fig. 7-6). O canal do alveolar inferior pode estar próximo das raízes dos molares mandibulares. Embora a remoção de um dente erupcio- nado, raramente, atinja o canal do alveolar inferior, se a extração for de um dente impactado, é importante avaliar a relação entre as raízes dos molares e o canal. Esse tipo de extração pode levar a uma injúria do canal e causar um subsequente dano ao nervo alveolar inferior (Fig. 7-7). As radiografi as tiradas antes da remoção dos pré-molares in- feriores devem incluir o forâmen mentoniano. Se for necessário um retalho mucoperiósteo para a remoção da raiz de um pré- molar, é essencial que o cirurgião saiba onde se encontra o forâ- men mentoniano com objetivo de se evitar dano ao nervo men- toniano durante o descolamento do retalho (Figs. 7-3 e 7-8). Confi guração das Raízes A avaliação radiográfi ca do dente a ser extraído, provavelmente, é o que mais contribui para a determinação da difi culdade de uma extração. O primeiro fator a ser avaliado é o número de raízes do dente a ser extraído. A maioria dos dentes apresenta FIGURA 7-5 Radiografi a com exposição correta para extração do primeiro molar. FIGURA 7-2 Dentes com grandes lesões de cárie são propensos à fratura durante a extração, tornando-a mais difícil. FIGURA 7-3 Dentes com grandes restaurações de amálgama tendem a ser frágeis e a fraturar quando o fórceps para extração é usado. FIGURA 7-4 Primeiro molar mandibular. Se o molar tiver que ser extraído, o cirurgião deve tomar cuidado para não fraturar com as alavancas ou com o fórceps o amálgama no segundo pré-molar. 104 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA um número típico de raízes, o que, nesses casos, propicia que o plano de tratamento seja seguido de forma usual, porém vários dentes apresentam um número anormal de raízes. Se o número de raízes for conhecido antes de o dente ser extraído, pode ser feita uma alteração no plano para prevenir a fratura das raízes adicionais (Fig. 7-9). O cirurgião deve conhecer a curvatura das raízes e o grau de convergência radicular para planejar o procedimento de extração. Raízes de número normal e tamanho médio podem divergir de modo substancial e, consequentemente, a largura total radicular torna-se tão ampla que impede a extração a fórceps. Nesses casos de curvatura excessiva com ampla divergência, pode ser necessária extração cirúrgica com a secção planejada da coroa (Fig. 7-10). A forma da raiz individual deve ser levada em consideração. As raízes podem ser curtas e cônicas, o que a tornam fáceis de se- rem removidas. Entretanto, raízes longas com curvaturas severas e abruptas ou ganchos na porção apical são mais difíceis de serem removidas. O cirurgião deve ter conhecimento da forma das raízes antes da cirurgia para planejá-la adequadamente (Fig. 7-11). O tamanho da raiz deve ser avaliado. Dentes com raízes curtas são mais fáceis de serem removidos que dentes com raízes lon- gas. Uma raiz longa que seja bulbosa devido à hipercementose é ainda mais difícil de ser removida. As radiografi as periapicais de pacientes mais velhos devem ser pesquisadas com cuidado para evidências de hipercementose, pois esse processo aparentemente é resultado do envelhecimento (Fig. 7-12). O cirurgião deve procurar por evidências de cáries se es- tendendo para as raízes. Cáries radiculares podem enfraquecer substancialmente a raiz e torná-la mais propensa à fratura quan- do a força do fórceps é aplicada (Fig. 7-13). A reabsorção radicular, interna ou externa, deve ser avaliada no exame da radiografi a. Como a cárie radicular, a reabsorção radicular enfraquece a estrutura da raiz e facilita sua fratura. A FIGURA 7-9 Canino mandibular com duas raízes. O conhecimento desse fato pré-operatoriamente pode resultar em uma extração me- nos traumática. FIGURA 7-6 Molares maxilares imediatamente adjacentes ao seio representa um risco aumentado de exposição do seio. FIGURA 7-7 Molares mandibulares que se encontram próximos ao canal do alveolar inferior. A remoção do terceiro molar é o procedi- mento com maior risco de resultar em dano ao nervo. FIGURA 7-8 Antes da extração de pré-molares que necessitem de um retalho cirúrgico, é essencial saber a relação do forâmen men- toniano com os ápices radiculares. Note a área radiolúcida próxima ao ápice do segundo pré-molar, que representa o forâmen mento- niano. CAPÍTULO 7 • Princípios da Exodontia Simples 105 extração cirúrgica deve ser considerada nos casos de reabsorção radicular extensa (Fig. 7-14). O dente deve ser avaliado para tratamento endodôntico pré- vio. Se tiver havido tratamento endodôntico vários anos antes da extração, pode haver anquilose ou a raiz do dente pode estar mais friável. Em ambas as situações, a extração cirúrgica pode ser indicada (Fig. 7-15). Condição do Osso Adjacente Um exame cuidadoso da radiografi a periapical indica a densi- dade do osso adjacente ao dente a ser extraído. O osso que é mais radiolúcido, provavelmente, é menos denso, o que torna a extração mais fácil. Entretanto, se o osso aparenta ser radio- grafi camente opaco (indicando densidade aumentada) com evi- dência de osteíte condensante ou outro processo semelhante de esclerose, a extração será mais difícil. O osso adjacente deve ser avaliado comcuidado também para evidência de uma condição patológica apical. Dentes não-vitais podem apresentar radiolucidez periapical que representam gra- nulomas ou cistos. O conhecimento da presença dessas lesões é importante, pois elas devem ser removidas no momento da cirurgia (Fig. 7-16). PREPARO DO PACIENTE E DO CIRURGIÃO Os cirurgiões devem prevenir a lesão e a transmissão de infec- ção de maneira inadvertida para seus pacientes e para si mes- mos. O conceito de precaução universal determina que todos os pacientes devem ser vistos como sendo portadores de doen- ças transmissíveis pelo sangue que podem ser transmitidas para a equipe cirúrgica e para outros pacientes. Para prevenir essa transmissão, luvas cirúrgicas, máscara e óculos com proteção lateral são necessários. (Veja o Capítulo 5 para uma discussão detalhada sobre este tópico.) Além disso, a maioria das autorida- des recomenda que a equipe cirúrgica utilize aventais de manga longa, que podem ser trocados quando se tornarem visivelmente sujos (Fig. 7-17). FIGURA 7-13 Cáries radiculares no primeiro pré-molar tornam a extração mais difícil devido à probabilidade de fratura radicular. Note a hipercementose do segundo pré-molar. FIGURA 7-10 Raízes amplamente divergentes deste primeiro mo- lar maxilar tornam a extração mais difícil. FIGURA 7-11 Curvatura da raiz deste dente é inesperada. Radio- grafi as pré-operatórias permitem que o cirurgião planeje a extração com mais cuidado. FIGURA 7-12 A hipercementose aumenta a difi culdade das extra- ções, pois as raízes são mais largas no terço apical que no terço cer- vical. Provavelmente, será necessária a extração cirúrgica. 106 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA Se o cirurgião tiver o cabelo comprido, é essencial prendê-lo com presilhas ou outros tipos de pregadores de cabelo e cobri-lo com um gorro cirúrgico. Uma grande falha na cadeia asséptica é permitir que o cabelo do cirurgião caia sobre a face do paciente. Antes que o paciente passe pelo procedimento cirúrgico, é necessário colocar uma quantidade mínima de campos cirúrgi- cos. Um campo cirúrgico esterilizado deve ser colocado sobre o peito do paciente para diminuir o risco de contaminação (Fig. 7-17). Antes da extração, os pacientes podem ser aconselhados a bochechar vigorosamente com soluções orais antissépticas como a clorexidina. Isso reduz a contaminação bacteriana na boca do paciente, o que pode auxiliar na redução da incidência de infec- ção pós-operatória. Com o objetivo de evitar que dentes ou fragmentos de dentes caiam dentro da boca e possam ser potencialmente engolidos ou aspirados para os pulmões, muitos cirurgiões preferem colocar uma compressa de gaze de 7,5 × 7,5 cm parcialmente aberta frouxamente sobre a região posterior da boca. Essa gaze divide a boca, funcionando como uma barreira de forma que, caso um dente escorregue do fórceps ou se fragmente sob a pressão dele, será retido na gaze em vez de ser engolido ou aspirado. O cirur- gião deve cuidar para que a gaze não seja colocada muito pos- teriormente de forma que faça o paciente engasgar. O cirurgião deve explicar o propósito da barreira para obter a aceitação e a cooperação do paciente para a colocação da gaze. POSICIONAMENTO DA CADEIRA PARA EXTRAÇÕES As posições do paciente, da cadeira e do operador são funda- mentais para o sucesso da extração. A melhor posição é a mais BA FIGURA 7-16 A, Radiolucidez periapical. O cirurgião deve estar ciente disso antes da extração para permitir o tratamento apropriado. B, A radiolucidez periapical ao redor do pré-molar mandibular representa o forâmen mentoniano. O cirurgião deve estar ciente de que isso não é uma condição patológica. A lâmina dura intacta é percebida em B, mas não em A. FIGURA 7-14 Reabsorção interna da raiz torna a extração fechada praticamente impossível, pois a fratura da raiz irá, quase que por certo, ocorrer. FIGURA 7-15 Dente friável após terapia endodôntica prévia. O dente, portanto, é mais difícil de ser removido. CAPÍTULO 7 • Princípios da Exodontia Simples 107 confortável para o paciente e para o cirurgião e a que permite que este tenha o máximo controle da força que está sendo transmiti- da para o dente do paciente por meio das alavancas e do fórceps. A posição correta possibilita ao cirurgião manter os braços junto ao corpo e fornece estabilidade e apoio; também permite que o cirurgião mantenha o pulso reto o sufi ciente para transmitir for- ça com o braço e o ombro e não com a mão. A força transmitida pode, então, ser controlada no caso de perda de resistência da raiz ou devida à fratura do osso. Os dentistas, geralmente, fazem as extrações em pé, portanto a posição com o cirurgião de pé será descrita primeiro. As mo- difi cações necessárias para se operar sentado serão apresentadas mais adiante. Ainda, as descrições das técnicas são para cirurgi- ões destros. Cirurgiões canhotos devem inverter as instruções quando estiverem trabalhando nos diversos quadrantes. Para extração maxilar, a cadeira deve ser inclinada para trás de maneira que o plano oclusal maxilar esteja em um ângulo de cerca de 60 graus com o solo. Elevar as pernas do paciente ao mesmo tempo ajuda a proporcioná-lo mais conforto. A altura da cadeira deve ser de tal forma que a altura da boca do paciente esteja na altura, ou ligeiramente abaixo, da altura do cotovelo do cirurgião (Fig. 7-18). Os iniciantes comumente posicionam a cadeira muito alta. Durante procedimentos no quadrante direito da maxila, a cabeça do paciente deve ser, substancialmente, gira- da para o lado do cirurgião para se obter acesso e visualização adequados (Fig. 7-19). Para extração dos dentes na região ante- rior do arco da maxila, o paciente deve estar olhando para frente (Fig. 7-20). A posição para o lado esquerdo do arco maxilar é similar, exceto que a cabeça do paciente é, ligeiramente, girada para o lado do operador (Fig. 7-21). Para extração dos dentes mandibulares, o paciente deve ser posicionado em uma posição mais reta, de maneira que, quando com a boca bem aberta, o plano oclusal esteja paralelo ao solo. Um bloco de mordida de tamanho adequado deve ser utilizado para estabilizar a mandíbula quando o fórceps para extração for utilizado. Embora o cirurgião apoie a mandíbula, o apoio adicional fornecido pelo bloco de mordida diminuirá a carga transmitida à mandíbula. Deve-se ter cuidado de não utilizar blocos de mordida muito grandes, pois podem hiperes- tender os ligamentos da ATM e causar desconforto ao paciente. A cadeira deve estar mais baixa do que para extração de dentes maxilares, e o braço do cirurgião deve ser inclinado para baixo até, aproximadamente, um ângulo de 120 graus com o cotovelo (Fig. 7-22), o que propicia uma posição estável e confortável que é mais controlável que a posição mais alta. Durante a re- moção dos dentes posteriores da mandíbula do lado direito, a cabeça do paciente deve estar totalmente girada para o lado do cirurgião para permitir um acesso adequado à mandíbula, e o cirurgião deve manter a posição correta do braço e da mão FIGURA 7-17 Cirurgião preparado utilizando óculos de proteção, máscara e luvas. Os cirurgiões devem estar com cabelos curtos ou presos e devem usar capotes cirúrgicos ou jalecos de mangas com- pridas que são trocados diariamente, ou antes caso se tornarem su- jos. O paciente deve estar com um campo cirúrgico impermeável. FIGURA 7-18 O paciente posicionado para extração maxilar: incli- nado de forma que o plano oclusal esteja com um ângulo de cerca de 60 graus com o solo. A altura da cadeira deve colocar a boca do paciente ligeiramente abaixo do cotovelo do cirurgião. FIGURA 7-19 Extração dos dentes no quadrante maxilar direito. Note que o cirurgião gira a cabeça do paciente para sua direção. 108 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA (Fig.7-23). Quando removemos dentes na região anterior da mandíbula, o cirurgião deve girar para o lado do paciente (Figs. 7-24 e 7-25). Quando operamos a região posterior esquerda da mandíbula, o cirurgião deve posicionar-se à frente do paciente, mas a cabeça deste não deve girar completamente para o lado daquele (Fig. 7-26). Alguns cirurgiões preferem abordar os dentes mandibulares de uma posição posterior. Isso permite que a mão esquerda do cirurgião apoie melhor a mandíbula, mas é necessário que o fórceps seja seguro de maneira oposta à normal e o cirurgião visualize o campo operatório por uma perspectiva invertida. A mão esquerda do cirurgião passa envolta da cabeça do paciente e apoia a mandíbula. A abordagem-padrão por trás do paciente é vista nas Figuras 7-27 e 7-28. Se o cirurgião escolhe sentar-se para fazer a extração, várias modifi cações devem ser feitas. Para extrações maxilares, o pa- ciente é colocado em uma posição reclinada similar à utilizada quando o cirurgião está de pé. Entretanto, o paciente não é muito reclinado; consequentemente, o plano oclusal maxilar não fi ca perpendicular ao solo como quando o cirurgião está de pé. O pa- ciente deve ser abaixado o máximo possível para que a altura da boca do paciente fi que a mais próxima possível da altura do co- tovelo do cirurgião (Fig. 7-29). A posição do braço e da mão para extração dos dentes anteriores e posteriores da maxila é similar à usada para as mesmas extrações feitas de pé (Fig. 7-30). Da mesma forma que quando o cirurgião está de pé, para a extração de dentes no arco inferior, o paciente está um pouco FIGURA 7-23 Paciente com a cabeça virada na direção do cirurgião para remoção dos dentes mandibulares do lado direito. FIGURA 7-20 Extração dos dentes anteriores da maxila. O paciente olha para frente. FIGURA 7-21 O paciente com a cabeça levemente virada para o cirurgião para extração dos dentes posteriores do lado esquerdo da maxila. FIGURA 7-22 Para extrações mandibulares, o paciente é sentado mais reto de maneira que o plano oclusal mandibular com a boca aberta esteja paralelo ao solo. A altura da cadeira é, também, dimi- nuída para permitir que o braço do cirurgião se mantenha reto. CAPÍTULO 7 • Princípios da Exodontia Simples 109 mais sentado que para extração dos dentes maxilares. O cirur- gião pode trabalhar de frente para o paciente (Figs. 7-31 e 7-32) ou por trás dele (Figs. 7-33 e 7-34). Quando for utilizado o fór- ceps do estilo Inglês, a posição do cirurgião é, geralmente, por trás do paciente (Fig. 7-35). Nesse caso, o cirurgião e o assistente possuem as posições do braço e da mão similares àquelas usadas quando o cirurgião está de pé. PRINCÍPIOS MECÂNICOS ENVOLVIDOS NA EXTRAÇÃO DENTÁRIA A remoção de dentes do processo alveolar demanda a utilização dos seguintes princípios mecânicos e de máquinas simples: a ala- vanca, a cunha, a roda e o eixo. As alavancas dentárias são usadas, primariamente, como ele- vadores. Uma alavanca é um mecanismo para transmitir uma força modesta – com as vantagens mecânicas de um longo braço de ação e um curto braço de resistência – para um pequeno mo- vimento contra grande resistência (Fig. 7-36). Um exemplo do uso de uma alavanca é quando uma alavanca de Crane é inserida em um orifício feito no dente e, então, usado para elevar o dente (Fig. 7-37). A segunda máquina que é útil é a cunha (Fig. 7-38). A cunha é útil de várias formas diferentes para a extração de dentes. Primeiro, as pontas ativas do fórceps são, em geral, fi nas em suas extremidades; elas se alargam conforme progridem supe- riormente. Quando o fórceps é usado, deve-se fazer um esforço FIGURA 7-27 A abordagem por trás do paciente para extração dos dentes mandibulares do lado direito. Isso permite que o cirurgião esteja em uma posição confortável e estável. FIGURA 7-24 Para extração dos dentes anteriores da mandíbula, o cirurgião se posiciona ao lado do paciente, que olha diretamente para frente. FIGURA 7-25 Quando o fórceps de estilo Inglês é usado para os den- tes anteriores da mandíbula, a cabeça do paciente é posicionada reta. FIGURA 7-26 Para extração dos dentes posteriores da mandíbula, o paciente gira ligeiramente na direção do cirurgião. 110 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA consciente para forçar as pontas ativas do fórceps para dentro do espaço do ligamento periodontal na crista óssea para expandir o osso e forçar o dente para fora do alvéolo (Fig. 7-39). O princí- pio da cunha é também útil quando uma alavanca reta é usada para luxar um dente em seu alvéolo. Uma alavanca pequena é forçada para dentro do espaço do ligamento periodontal, o que desloca a raiz em direção oclusal e, consequentemente, para fora do alvéolo (Fig. 7-40). A terceira máquina utilizada na extração dentária é a roda e o eixo, mais intimamente identifi cada com a alavanca triangu- lar ou o tipo bandeira. Quando uma raiz de um dente multirra- dicular é deixada no alvéolo, a alavanca tipo bandeira, como a alavanca de Cryer, é posicionada no alvéolo e é girada. O cabo funciona como eixo e a ponta da alavanca triangular atua como uma roda e eleva a raiz para fora do alvéolo (Fig. 7-41). PRINCÍPIOS PARA O USO DE ALAVANCA E DO FÓRCEPS Os instrumentos básicos utilizados para remover um dente do processo alveolar são a alavanca e o fórceps para extração. As alavancas auxiliam na luxação do dente, e o fórceps continua esse processo por meio da expansão óssea e ruptura do liga- mento periodontal. Os dois objetivos do uso do fórceps são: (1) expansão do alvéolo ósseo com o uso das pontas ativas em forma de cunha e dos movimentos do próprio dente com o fór- ceps; (2) remoção do dente do alvéolo. FIGURA 7-31 Para a extração dos dentes mandibulares, o cirurgião segura o fórceps com a mão por baixo. FIGURA 7-28 A abordagem por trás do paciente para extração dos dentes mandibulares do lado esquerdo. A mão é posicionada por baixo do fórceps. FIGURA 7-29 Na posição sentada, o paciente é posicionado tão baixo quanto possível para que a boca fi que no nível do cotovelo do cirurgião. FIGURA 7-30 Para extração dos dentes maxilares, o paciente é re- clinado a até, aproximadamente, 60 graus. As posições da mão e do fórceps são as mesmas das utilizadas para a posição em pé. CAPÍTULO 7 • Princípios da Exodontia Simples 111 A alavanca dentária consiste de um cabo, uma haste e uma lâ- mina. O cabo da alavanca é, geralmente, alinhado com a haste e é grosso para permitir sua apreensão na palma da mão. A alavanca ainda pode ter áreas planas para apoiar os dedos e auxiliar no di- recionamento da alavanca. O cabo pode, também, ser construído perpendicular à haste (alavancas com cabo em cruz). A haste co- necta o cabo à lâmina. As lâminas podem ser retas, triangulares (Cryer), curvadas (Potts) ou pontiagudas (Crane). O fórceps pode aplicar cinco movimentos principais para lu- xar os dentes e expandir o alvéolo ósseo. O primeiro é a pres- são apical, que obtém dois objetivos. Embora o dente mova o mínimo na direção apical, o alvéolo dentário é expandido pela inserção das pontas ativas para dentro do espaço do ligamento periodontal (Fig. 7-42). Sendo assim, a pressão apical do fórceps FIGURA 7-36 Uma alavanca de primeira classe transforma uma força pequena e um grande movimento em um pequeno movimento e em uma grande força. FIGURA 7-32 Para remoção dos dentes posteriores da mandíbula, a mão do cirurgião pode segurar o fórceps por cima. FIGURA 7-33 Para remoção dos dentes anteriores, o cirurgião se desloca para a posição por trás do paciente para que a mandíbula e o processo alveolar possam ser apoiados pela outra mão do cirurgião. FIGURA 7-34 A posição por trás do paciente pode ser usada para remoção dos dentes posteriores da mandíbula. A mão é posicionada por baixo do fórceps paracontrole máximo. FIGURA 7-35 Quando o fórceps de estilo Inglês é usado, dá-se preferência à posição por trás do paciente. 112 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA BA FIGURA 7-37 Na remoção desse pré-molar mandibular, um ponto de apoio foi feito no dente, o que cria uma situação de uma alavanca de primeira classe. Quando se insere uma alavanca apical de Crane no ponto de apoio e o cabo é forçado apicalmente (A), o dente é elevado em direção oclusal para fora do alvéolo utilizando o osso alveolar vestibular como fulcro (B). FIGURA 7-38 A cunha pode ser usada para expandir, dividir e des- locar partes da substância onde ela é usada. FIGURA 7-39 As pontas ativas do fórceps agem como uma cunha para expandir o osso alveolar e desloca o dente em direção oclusal. FIGURA 7-40 Uma pequena alavanca reta utilizada como uma cunha para deslocar a raiz de um dente de seu alvéolo. FIGURA 7-41 Alavanca triangular desempenhando o papel de uma máquina de roda e eixo utilizada para remover uma raiz do alvéolo. sobre o dente causa expansão óssea. Uma segunda realização da pressão apical é que o centro de rotação do dente é deslocado apicalmente. Como o dente está se movendo em resposta à força aplicada a ele pelo fórceps, este se torna o instrumento de expan- são. Se o fulcro for alto (Fig. 7-43), uma grande quantidade de força é aplicada na região apical do dente, o que aumenta a chan- ce de fratura do ápice radicular. Se as pontas ativas do fórceps forem forçadas para dentro do espaço do ligamento periodontal, o centro de rotação é deslocado apicalmente, o que resulta em maior movimento das forças de expansão na crista do processo alveolar e menos força de movimento lingual no ápice do dente (Fig. 7-44). Esse processo diminui a chance de fratura do ápice radicular. A segunda maior pressão ou movimento aplicado pelo fórceps é a força vestibular. As pressões vestibulares causam expansão da cortical vestibular, particularmente na crista óssea do alvéolo (Fig. 7-45). Embora a pressão vestibular gere forças de expan- são na crista do alvéolo, é importante lembrar que também gera pressão lingual no ápice. Portanto, força excessiva pode fraturar o osso vestibular ou causar uma fratura do terço apical da raiz. Terceiro, a pressão palatina ou lingual é similar ao conceito da pressão vestibular, mas objetiva expandir a crista óssea lin- CAPÍTULO 7 • Princípios da Exodontia Simples 113 gual e, ao mesmo tempo, evitar pressões excessivas no osso api- cal vestibular (Fig. 7-46). Quarto, pressão rotacional, como o nome indica, gira o dente, o que causa certa expansão interna do alvéolo dentário. Dentes com raízes únicas, cônicas (como os incisivos maxilares e os pré- molares mandibulares) e com raízes que não sejam curvas são mais passíveis de serem luxados por essa técnica (Fig. 7-47). Dentes que tenham raízes que não sejam cônicas ou que tenham múltiplas raízes – especialmente se essas raízes forem curvas – possuem maior chance de fraturar com esse tipo de pressão. Finalmente, forças de tração são úteis para remover o dente do alvéolo uma vez que tenha sido obtida uma adequada expan- são óssea. Forças de tração devem ser limitadas à parte fi nal do processo de extração e deve ser delicada (Fig. 7-48). Se for ne- cessária uma força excessiva, outras manobras devem ser refeitas para melhorar a luxação da raiz. Em resumo, uma variedade de forças pode ser usada par re- mover os dentes. Uma força apical intensa é sempre útil e deve ser aplicada sempre que o fórceps estiver adaptado ao dente. A maioria dos dentes é removida por meio de uma combinação de forças vestibular e lingual (palatina). Devido ao fato de o osso vestibular maxilar ser, geralmente, fi no e o osso palatino, um osso cortical mais espesso, dentes maxilares são, em geral, remo- vidos por forças vestibulares intensas e forças palatinas menos vigorosas. Na mandíbula, o osso vestibular é mais fi no da metade posterior para a área dos molares. Por consequência, os incisi- vos, caninos e pré-molares são removidos, principalmente, como resultado de força vestibular intensa e pressões linguais menos vigorosas. Os dentes molares da mandíbula têm um osso vesti- bular mais espesso e, geralmente, necessitam de uma pressão lingual mais forte que os outros dentes na boca. Como já men- cionado, forças rotacionais são úteis para dentes unirradiculares A B BA FIGURA 7-42 O fórceps para extração deve ser posicionado com forte pressão apical para expandir a crista óssea e para deslocar o centro de rotação o mais apicalmente possível. FIGURA 7-45 Pressão vestibular aplicada ao dente irá expandir a cortical vestibular na direção da crista óssea, com alguma expansão lingual no terço apical da raiz. Asterisco, Centro de Rotação. FIGURA 7-43 Se o centro de rotação (*) não estiver sufi cientemen- te apical, ele fi ca muito oclusal, o que causa excesso de movimento do ápice dentário (A). B, Excesso de movimento do ápice radicular devido a um alto centro de rotação resulta em fratura do ápice ra- dicular. FIGURA 7-44 Se o fórceps é posicionado apicalmente, o centro de rotação (*) é deslocado também apicalmente e é gerada menos pres- são apical (A). Isso resulta em maior expansão da cortical vestibular, menos movimento do ápice do dente e, consequentemente, menos chance de fratura radicular (B). 114 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA que tenham raízes cônicas e sem curvatura no fi nal da raiz. Os incisivos maxilares, particularmente o inciso central e os pré- molares mandibulares (em especial, o segundo pré-molar), são mais susceptíveis às forças rotacionais. PROCEDIMENTOS PARA EXTRAÇÃO FECHADA Um dente erupcionado pode ser extraído utilizando uma das duas principais técnicas: fechada ou aberta. A técnica fechada é também conhecida como técnica simples. A técnica aberta é também conhecida como técnica cirúrgica ou a retalho. Esta se- ção discute a técnica de extração fechada; a técnica de extração aberta é discutida no Capítulo 8. A técnica fechada é a técnica mais frequentemente usada e oferece as considerações básicas para quase todas as extrações. A técnica aberta é utilizada quando o clínico acredita que força ex- cessiva será necessária para remover o dente, quando uma quan- tidade substancial da coroa está perdida ou coberta por tecido ou quando o acesso à raiz do dente é difícil, como quando uma coroa frágil está presente. A técnica correta para qualquer situação deve levar a uma ex- tração atraumática; a técnica incorreta pode resultar em uma extração excessivamente longa e traumática. Qualquer que seja a técnica escolhida, os três requisitos fun- damentais para uma boa extração permanecem os mesmos: (1) acesso e visualização adequados do campo operatório; (2) uma via desimpedida para a remoção do dente; (3) o uso de força controlada para luxar e remover o dente. Para o dente ser removido do alvéolo ósseo, geralmente é ne- cessário expandir as paredes do osso alveolar, para fornecer à raiz do dente uma via desimpedida, e romper as fi bras do ligamento periodontal que prendem o dente no alvéolo ósseo. O uso das alavancas e dos fórceps como alavancas e cunhas com uma força gradualmente aumentada pode atingir esses dois objetivos. Cinco etapas principais formam o procedimento de extração fechada: Etapa 1: Liberação dos tecidos moles aderidos à porção cervical do den- te. O primeiro passo na remoção de um dente pela técnica de extração fechada é a liberação do tecido mole ao redor do dente com um instrumento afi ado, como uma lâmina de bisturi ou a ponta afi ada do destaca periósteo de Molt no 9 (Fig. 7-49). A liberação do tecido mole do dente tem dois objetivos. Primeiro, permite que o cirurgião tenha certeza de que uma anestesia profunda foi obtida. Quando esse passo tiver sido completo, o dentista informaao paciente que a ci- rurgia está para começar e que a primeira etapa será afastar o tecido mole do dente. Uma pequena quantidade de pres- são é sentida nesta fase, porém sem a sensação de dor aguda ou desconforto. O cirurgião, então, inicia o procedimento de descolamento do tecido mole, gentilmente no início e, gradu- almente, aumenta a força. A segunda razão do descolamento do tecido mole é permitir o posicionamento mais apical da alavanca e do fórceps para ex- tração, sem a interferência do tecido mole da gengiva. Conforme o tecido mole é descolado do dente, ele é discretamente refl etido, o que, consequentemente, aumenta a largura do sulco gengival e permite a entrada da ponta ativa biselada em cunha do fórceps. A papila gengival adjacente ao dente também deve ser descolada para evitar que seja danifi cada pela inserção da alavanca reta. FIGURA 7-48 Forças de tração são úteis para a remoção fi nal do dente do alvéolo. Devem ser sempre forças leves, pois os dentes não são puxados.FIGURA 7-46 Pressão lingual irá expandir a cortical lingual na re- gião da crista e expandir discretamente o osso vestibular na região apical. Asterisco, Centro de Rotação. FIGURA 7-47 Forças rotacionais úteis para dentes com raízes côni- cas, como os incisivos maxilares e os pré-molares mandibulares. CAPÍTULO 7 • Princípios da Exodontia Simples 115 Etapa 2: Luxação do dente com uma alavanca dentária. O próximo passo é iniciar a luxação do dente com uma alavanca, ge- ralmente a alavanca reta. A expansão e a dilatação do osso alveolar e a ruptura do ligamento periodontal só são obtidas com a luxação do dente em várias direções. A alavanca reta é inserida perpendicular ao dente no espaço interdental, após o descolamento da papila interdental (Fig. 7-50). A alavanca é, então, girada de maneira que a parte inferior da lâmina se apoie no osso alveolar e a parte superior, ou oclusal, da lâmi- na é girada ao encontro do dente que está sendo extraído (Fig. 7-51). O giro lento, forte e consistente do cabo move o dente em uma direção posterior, o que resulta em alguma expansão do osso alveolar e rompimento do ligamento periodontal. Se o dente for hígido e em contato com dentes estáveis ante- rior e posterior a ele, a quantidade de movimento conseguido com a alavanca reta será mínimo. A utilidade dessa etapa é maior se o paciente não possuir um dente posterior ao dente que está sendo extraído ou se este estiver destruído ao ponto de a coroa não impedir o movimento do dente. Em certas situações, a alavanca pode ser girada no sentido oposto e um deslocamento mais vertical do dente será obtido, o que pode, possivelmente, levar à remoção completa do dente (Fig. 7-52). A luxação de dentes com uma alavanca reta deve ser feita com cautela. Forças excessivas podem danifi car e até deslocar os dentes adjacentes aos dentes que estão sendo extraídos. Isso é especialmente verdadeiro se o dente adjacente tiver uma grande restauração ou lesão cariosa. Este é apenas o passo inicial no processo de elevação. Em seguida, a alavanca reta pequena é in- serida no espaço do ligamento periodontal no ângulo mésio-ves- tibular. A alavanca é forçada apicalmente ao mesmo tempo em que é girada de um lado para o outro, auxiliando na luxação do dente com sua ação de cunha conforme progride apicalmente. Uma ação similar com a alavanca pode, então, ser feita no ângu- lo disto-vestibular. Quando uma alavanca reta pequena se torna fácil de girar, uma alavanca reta mais grossa é utilizada para fazer a mesma progressão apical. Em geral, o dente irá soltar-se o sufi - ciente para que seja removido facilmente pelo fórceps. Etapa 3: Adaptação do fórceps ao dente. O fórceps apropriado é, então, escolhido para o dente a ser extraído. As pontas ativas do fórceps devem ser desenhadas para se adaptarem, anatomicamente, ao dente, apical à linha cervical, ou seja, na superfície da raiz. O fórceps é, então, posicionado sobre o dente de forma que as extremidades das pontas ativas do FIGURA 7-52 O cabo da alavanca, que pode ser girado na direção oposta para deslocar o dente ainda mais do alvéolo. Isso pode ser conseguido apenas se não houver dente adjacente posteriormente. FIGURA 7-49 Destaca periósteo, utilizado para liberar a adesão gengival do dente e a papila interdental. FIGURA 7-50 Alavanca reta pequena, inserida perpendicular ao dente após o afastamento da papila. FIGURA 7-51 O cabo da alavanca reta pequena, girado de manei- ra que o lado oclusal da lâmina da alavanca é girado em direção ao dente. O cabo também é deslocado apicalmente para auxiliar na elevação do dente. 116 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA fórceps apreendam à raiz abaixo do tecido mole descolado (Fig. 7-53). A ponta ativa lingual, geralmente, é posicionada primeiro e, só depois, a ponta ativa vestibular é posiciona- da. Deve-se ter cuidado de verifi car que as extremidades das pontas ativas estejam abaixo do tecido mole e que não este- jam apreendendo um dente adjacente. Uma vez que o fórceps esteja posicionado no dente, o cirurgião segura o fi m do cabo do fórceps para maximizar o controle e a vantagem mecânica (Fig. 7-54). Se o dente estiver mal posicionado de maneira que o fórceps- padrão não possa apreender o dente sem traumatizar os dentes adjacentes, outro fórceps com pontas ativas mais fi nas deve ser usado. O fórceps para raiz maxilar pode, frequentemente, ser útil para os dentes anteriores inferiores apinhados (Fig. 7-55). As pontas ativas do fórceps devem ser mantidas paralelas ao longo eixo do dente para que as forças geradas pela aplicação da pressão ao cabo do fórceps possam ser transmitidas pelo longo eixo do dente para se obter a máxima efetividade na dilatação e na expansão do osso alveolar. Se as pontas ativas não estiverem paralelas ao longo eixo do dente, provavelmente a raiz do dente irá fraturar. O fórceps é, então, forçado o mais apicalmente possível para apreender a raiz do dente o mais apicalmente possível. Isso re- sulta em dois fatores: primeiro, as pontas ativas do fórceps atuam como cunhas dilatando a crista óssea nas faces lingual e vesti- bular. Segundo, ao forçar as pontas ativas apicalmente, o centro de rotação (ou fulcro) do fórceps aplicado ao dente é deslocado para o ápice do dente, o que resulta em maior efetividade e me- nor chance de fratura do ápice do dente. Nesse ponto, a mão do cirurgião deve estar empunhando o fórceps fi rmemente, com o pulso fi rme e o corpo mantido junto ao corpo; o cirurgião deve estar preparado para aplicar força com o ombro e o braço sem qualquer pressão no punho. O cirurgião deve estar em pé, com os pés, confortavelmente, separados. Etapa 4: Luxação do dente com o fórceps. O cirurgião inicia a lu- xação do dente utilizando os movimentos já discutidos. A maior parte da força é direcionada para o osso mais fi no e, consequentemente, mais fraco. Portanto, na maxila e em todos os dentes mandibulares com exceção dos molares, o principal movimento é vestibular (p. ex., na direção da camada mais fi na de osso). O cirurgião utiliza uma força lenta e constante para deslocar o dente vestibularmente, em vez de uma série de movimentos pequenos e rápidos que pouco fazem para ex- pandir o osso. O movimento é calculado e lento, e aumenta, gradualmente, em força. O dente é, então, movimentado mais B A A B FIGURA 7-55 A, Fórceps no 151, muito largo para apreender o pré-molar para extraí-lo sem luxar os dentes adjacentes. B, Fórceps maxilar para raiz, que pode ser adaptado, facilmente, ao dente para extração. FIGURA 7-53 A extremidade da ponta ativa do fórceps é forçada apicalmente por baixo do tecido mole. FIGURA 7-54 Cabos de fórceps, seguros bem na extremidade para maximizar as vantagens mecânicas e o controle. A, Fórceps univer- sal maxilar. B, Fórceps universal mandibular.CAPÍTULO 7 • Princípios da Exodontia Simples 117 uma vez na direção oposta com uma pressão forte, delibera- da e lenta. Conforme o osso alveolar começa a se expandir, o fórceps é reposicionado apicalmente com um movimento deliberado e fi rme, que causa expansão adicional do osso al- veolar e desloca, ainda mais, para apical o centro de rotação. As pressões vestibular e lingual continuam a expandir o al- véolo. Para alguns dentes, os movimentos rotacionais são, então, usados para auxiliar na expansão do alvéolo dentário e na ruptura das inserções do ligamento periodontal. Cirurgiões iniciantes têm uma tendência de aplicar uma pres- são inadequada por tempo insufi ciente. Os seguintes três fatores devem ser reenfatizados: (1) o fórceps deve estar posicionado o mais apicalmente possível e ser reposicionado periodicamente durante a extração; (2) as forças aplicadas nas direções vestibu- lar e lingual devem ser lentas e fi rmes, e não simples sacudidas despretensiosas; (3) a força deve ser mantida por vários segun- dos para permitir tempo sufi ciente para que o osso se expanda. Deve-se lembrar que os dentes não são puxados; na verdade, eles são, gentilmente, elevados do alvéolo uma vez que o processo alveolar tenha sido sufi cientemente expandido. Etapa 5: Remoção do dente do alvéolo. Uma vez que o osso alveolar tenha expandido o sufi ciente e o dente tenha sido luxado, uma força de tração leve, em geral direcionada vestibular- mente, pode ser utilizada. A força de tração deve ser minimi- zada, pois é o último movimento que é usado, uma vez que o processo alveolar esteja expandido o sufi ciente e o ligamento periodontal, completamente rompido. Deve-se lembrar que a luxação do dente com o fórceps e a remoção do dente do osso são etapas distintas da extração. A lu- xação é direcionada para expandir o osso e romper o ligamento periodontal. O dente não é removido do osso até que esses dois objetivos tenham sido obtidos. O cirurgião novato deve entender que o principal papel do fórceps não é remover o dente, mas, na verdade, expandir o osso para que o dente possa ser removido. Para dentes mal posicionados ou que tenham posições atí- picas no processo alveolar, a luxação com o fórceps e a sua re- moção do processo alveolar serão feitos em direções não-usuais. O cirurgião deve desenvolver uma sensibilidade para perceber a direção que o dente quer se mover e, então, ser capaz de movê- lo nessa direção. Uma avaliação pré-operatória cuidadosa e um planejamento cuidadoso auxiliam nessa determinação durante a extração. Papel da Mão Oposta Durante o uso de fórceps e alavancas para luxar e remover os dentes, é importante que a mão oposta do cirurgião tenha um pa- pel ativo no procedimento. Para o cirurgião destro, a mão esquer- da tem uma variedade de funções. A mão esquerda é responsável por afastar os tecidos moles da bochecha, dos lábios e da língua para fornecer uma visualização adequada da área da cirurgia. Ela ajuda não só a proteger outros dentes do fórceps, caso ele esca- pe, de repente, do alvéolo dentário, como também a estabilizar a cabeça do paciente durante o processo da extração. Em algumas situações, uma grande quantidade de força é necessária para ex- pandir um osso alveolar mais denso; consequentemente, a cabeça do paciente necessita de uma assistência ativa para ser mantida em posição. A mão oposta possui um papel importante no apoio de estabilização da mandíbula na extração de dentes inferiores. Frequentemente, é necessário aplicar uma pressão considerá- vel para expandir o osso mandibular denso, e tais forças podem causar desconforto e até lesão à ATM, a não ser que mão fi rme neutralize essa pressão. Um bloco de mordida colocado no lado contralateral é, também, usado para auxiliar no apoio da man- díbula nesse caso. Finalmente, a mão oposta apoia o processo alveolar e fornece informações táteis para o cirurgião a respeito da expansão do processo alveolar durante o período de luxação. Em algumas situações, é impossível para a mão oposta executar todas essas funções ao mesmo tempo, de modo que o cirurgião necessita de um assistente para auxiliar com algumas delas. Papel do Assistente durante a Extração Para um resultado favorável em qualquer procedimento cirúrgi- co, é essencial ter um assistente habilidoso. Durante a extração, o assistente desempenha uma variedade de papéis importantes que contribui para fazer a experiência cirúrgica atraumática. Ele auxilia o cirurgião a visualizar e a obter acesso à área cirúrgica afastando o tecido mole das bochechas e da língua de maneira que o cirurgião possa ter uma visão livre do campo operatório. Mesmo durante uma extração fechada, o assistente pode afastar o tecido mole para que o cirurgião possa utilizar os instrumentos para descolar os tecidos moles e adaptar o fórceps ao dente de maneira mais efetiva. Outra atividade importante do assistente é aspirar sangue, sa- liva e solução para irrigação durante o procedimento cirúrgico. Isso evita que fl uidos se acumulem e possibilita uma visualização apropriada do campo operatório. A aspiração também é impor- tante para o conforto do paciente, pois muitos deles não toleram um acúmulo de sangue ou outros fl uidos em suas gargantas. Durante a extração, o assistente deve, também, auxiliar na proteção dos dentes do arco oposto, o que é especialmente impor- tante quando removemos dentes posteriores inferiores. Se uma força de tração é necessária para remover um dente inferior, oca- sionalmente, o dente se solta de maneira abrupta e o fórceps bate nos dentes maxilares e pode fraturar a cúspide de um dente. O assistente deve manter a ponta de aspiração ou um dedo apoiado nos dentes maxilares para protegê-los de um trauma inesperado. Durante a extração de dentes mandibulares, o assistente pode ter um papel importante no apoio da mandíbula durante a apli- cação das forças de extração. Um cirurgião que utiliza a mão para afastar o tecido mole pode não ser capaz de apoiar a mandí- bula. Se este for o caso, o assistente tem um papel importante na estabilização da mandíbula para prevenir desconforto da ATM. Mais frequentemente, o cirurgião estabiliza a mandíbula, o que torna esse papel menos importante para o assistente. O assistente também fornece um apoio psicológico e emocio- nal para o paciente auxiliando em aliviá-lo a ansiedade durante a cirurgia. Além disso, ele é importante na obtenção da coopera- ção e confi ança do paciente valendo-se de um discurso positivo e contato físico com o paciente durante a preparação e a realização da cirurgia. O assistente deve evitar fazer comentários casuais e fora de hora que possam aumentar a ansiedade do paciente e diminuir sua cooperação. TÉCNICAS ESPECÍFICAS PARA REMOÇÃO DE CADA DENTE Esta seção descreve as técnicas específi cas para a remoção de cada dente na boca. Em algumas situações, vários dentes são agrupados (p. ex., dentes anteriores maxilares), pois as técnicas para suas remoções são, essencialmente, as mesmas. Dentes Maxilares Na posição correta para a extração dos dentes maxilares da re- gião anterior ou do lado esquerdo, o dedo indicador esquerdo do cirurgião deve afastar o lábio e a bochecha; o polegar deve estar apoiado no processo alveolar por palatina (Fig. 7-56). Dessa for- ma, a mão esquerda consegue afastar o tecido mole da bochecha, estabilizar a cabeça do paciente, sustentar o processo alveolar e fornecer informação tátil ao cirurgião a respeito do progresso 118 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA A C D E B FIGURA 7-57 A, Os incisivos maxilares são extraídos com o fórceps no 150. A mão esquerda apreende o processo alveolar. B, O fórceps é posicionado o mais apicalmente possível. C, Inicia-se a luxação com força vestibular. D, Uma pequena força lingual é usada. E, O dente é removido para vestibular e incisalcom movimento de tração e rotação. FIGURA 7-56 Extração dos dentes posteriores esquerdo da maxila. O dedo indicador esquerdo afasta o lábio e a bochecha e apoia o processo alveolar pelo lado vestibular. O polegar é posicionado pelo lado palatino do processo alveolar e apoia o processo alveolar. A cabeça é estabilizada com isso, e obtém- se informação tátil sobre o movimento do dente e do osso. CAPÍTULO 7 • Princípios da Exodontia Simples 119 da extração. Quando tal posição é utilizada durante a extração de um molar maxilar, o cirurgião, frequentemente, sente com a mão esquerda a raiz palatina do molar se liberando no processo alveolar antes de perceber isso com o fórceps ou com a mão da extração. Para o lado direito, o dedo indicador é posicionado no palato e o polegar, na região vestibular. Incisivos Os incisivos maxilares são extraídos com o fórceps universal su- perior (no 150), embora outros fórceps possam ser usados. Os incisivos maxilares, em geral, apresentam raízes cônicas, com os laterais sendo ligeiramente mais longos e mais fi nos. É mais co- mum o incisivo lateral apresentar uma curvatura distal no terço apical da raiz; portanto, isso deve ser verifi cado radiografi camente antes de o dente ser extraído. O osso alveolar é fi no do lado vesti- bular e mais espesso do lado palatino, o que indica que a maior expansão do processo alveolar será na direção vestibular. O mo- vimento inicial é lento, constante e fi rme na direção vestibular, o que expande a crista óssea vestibular. Uma força menos vigorosa no sentido palatino é, então, utilizada, seguida por uma força rotacional lenta e fi rme. O movimento rotacional deve ser mini- mizado para o incisivo lateral, especialmente se existir uma cur- vatura no dente. O dente é removido na direção vestíbulo-incisal com uma pequena quantidade de força de tração (Fig. 7-57). Canino O canino maxilar, geralmente, é o dente mais longo da boca. A raiz é oblonga em sua secção cruzada e, em geral, produz uma proemi- nência denominada bossa canina na superfície anterior da maxila. O resultado é que o osso sobre a face vestibular do canino maxilar, normalmente, é fi no. Apesar do fi no osso vestibular, o dente pode ser difícil de extrair simplesmente devido à sua raiz longa. Além disso, não é incomum um fragmento do osso alveolar vestibular fraturar da cortical vestibular e ser removido com o dente. O fórceps universal superior (no 150) é o instrumento prefe- rido para a remoção do canino maxilar. Assim como em todas as extrações, o posicionamento inicial das pontas ativas do fórceps no canino deve ser o mais apical possível. O movimento inicial é apical e, então, para vestibular, com uma pressão de retorno para a palatina. Conforme o osso se expande e o dente é mobilizado, o fórceps deve ser reposicionado apicalmente. Uma pequena quan- tidade de força rotacional pode ser útil para expandir o alvéolo dentário, especialmente se os dentes adjacentes estiverem au- sentes ou tiverem sido extraídos recentemente. Após a luxação do dente, ele é removido do alvéolo na direção vestíbulo-incisal com força de tração vestibular (Fig. 7-58). Se, durante o processo de luxação com fórceps, o cirurgião sentir uma parte do osso vestibular fraturar, o cirurgião deve to- mar uma decisão com relação ao próximo passo. Se o dedo que palpa a região indicar que um pequeno fragmento do osso se soltou e está preso ao canino, a extração deve continuar normal- mente, com cuidado de não dilacerar o tecido mole. Entretanto, se o dedo na região indicar que uma parte grande da cortical alveolar vestibular se fraturou, o cirurgião deve parar o proce- dimento cirúrgico. Geralmente, a porção fraturada do osso está aderida ao periósteo e, consequentemente, é viável. O cirurgião deve utilizar um destaca periósteo fi no para descolar uma peque- na quantidade de mucosa da região em torno do dente até o nível do osso fraturado. O dente canino deve ser, então, estabilizado com o fórceps, e o cirurgião deve tentar liberar o osso fraturado do dente, com o destaca periósteo como uma alavanca para separar o osso da raiz do dente. Se isso puder ser feito, o dente pode ser removido e o osso, deixado no lugar aderido ao periósteo. Deve ocorrer uma cicatrização normal. Se o osso perder a aderência ao periósteo durante essas tentativas, ele deve ser removido, pois, provavel- mente, é não-vital e pode, na verdade, prolongar a cicatrização da ferida. Esse mesmo procedimento pode ser usado sempre que o osso alveolar for fraturado durante a extração. É importante a prevenção da fratura da cortical vestibular. Se durante o processo de luxação com o fórceps uma quanti- dade normal de pressão não resultou em nenhum movimento do dente, o cirurgião deve considerar, seriamente, fazer uma ex- tração aberta. Com a confecção de um retalho e a remoção de uma pequena quantidade de osso, o cirurgião poderá remover o canino teimoso sem fraturar uma grande quantidade de osso vestibular. Por meio da técnica aberta, ocorrerá uma diminuição na quantidade total de osso perdido e no tempo de cicatrização pós-operatória. A C B D FIGURA 7-58 A, A posição da mão e do fórceps para extração do canino maxilar é similar à dos incisivos. O fórceps é posicionado o mais apicalmente possível. B, O movimento inicial é vestibular. C, Pe- quena quantidade de força apical é aplicada. D, O dente é removido na direção vestíbulo-incisal com pequena força rotacional. 120 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA Primeiro Pré-molar O primeiro pré-molar maxilar é um dente unirradicular nos pri- meiros dois terços com a bifurcação em duas raízes (vestibular e palatina); em geral, ocorre no terço apical ou na metade da raiz. Essas raízes podem ser extremamente fi nas e são sujeitas a fratu- ras, especialmente em pacientes mais velhos nos quais a densi- dade óssea é elevada e a elasticidade óssea, diminuída. Talvez a fratura radicular mais comum durante a extração de dentes em adultos ocorra com esse dente. Assim como outros dentes maxi- lares, o vestibular é fi no comparado ao palatino. O fórceps universal superior (no 150) é o instrumento de es- colha. Alternativamente, o fórceps no 150A pode ser usado para a remoção do primeiro pré-molar inferior. Devido à grande probabilidade de fratura radicular, o dente deve ser luxado o máximo possível com a alavanca reta. Se a fratura ainda ocorrer, a ponta da raiz luxada pode ser remo- vida mais facilmente que uma ponta que não tenha sido bem luxada. Por causa da bifurcação do dente em duas raízes com pontas fi nas, o fórceps para extração deve ser utilizado com cautela du- rante a remoção do primeiro pré-molar maxilar. Os movimentos iniciais devem ser vestibulares. Os movimentos palatinos são feitos com pequena quantidade de força para evitar a fratura da ponta da raiz palatina, que é mais difícil de remover. Quando o dente é luxado vestibularmente, a raiz com maior probabilidade de fraturar é a vestibular. Quando o dente é luxado palatinamente, a raiz com maior probabilidade de fraturar é a palatina. Das duas pontas de raiz, a vestibular é a mais fácil de recuperar devido ao fi no osso adjacente. Portanto, a pressão vestibular deve ser maior que a pressão palatina. Qualquer força rotacional deve ser evita- da. A remoção fi nal do dente do alvéolo é com força de tração na direção oclusal e ligeiramente vestibular (Fig. 7-59). A B EC D FIGURA 7-59 A, Os pré-molares maxilares são removidos com o fórceps no 150. A posição é similar à usada para os dentes anteriores. B, Pressão apical fi rme é aplicada, primeiro, para abaixar o centro de rotação o mais possível e expandir a crista óssea. C, Pressão vestibular é, inicialmente, aplicada para expandir a cortical vestibular. Os ápices das raízes são empurrados lingualmente e, como consequência, estão sujeitosà fratura. D, A pressão palatina é aplicada com menos vigor que a pressão vestibular. E, O dente é removido na direção vestíbulo- oclusal com a combinação de forças vestibulares e de tração. CAPÍTULO 7 • Princípios da Exodontia Simples 121 Segundo Pré-molar O segundo pré-molar maxilar é um dente unirradicular por toda a extensão da raiz. A raiz é grossa e tem uma ponta romba. Consequentemente, é raro a raiz do segundo pré-molar fraturar. O osso alveolar que o recobre é similar ao osso que recobre os outros dentes maxilares, ou seja, é fi no na face vestibular, com uma cortical palatina espessa. O fórceps recomendado é o fórceps universal maxilar, ou no 150; alguns cirurgiões preferem o no 150A. O fórceps é forçado o mais apical possível para que se obtenha o máximo de vantagem mecânica na remoção desse dente. Como a raiz desse dente é forte e romba, a extração demanda movimentos fortes vestibular e palatinamente, e depois no sentido vestíbulo-oclusal com uma força rotacional e de tração (Fig. 7-60). Molar O primeiro molar maxilar tem três raízes largas e fortes. As raízes vestibulares, em geral, são próximas e a raiz palatina diverge amplamente em direção ao palato. Se as duas raízes vestibulares forem, também, amplamente divergentes, torna-se difícil de remover esse dente por meio de uma extração fecha- da. Mais uma vez, o osso alveolar é similar ao dos outros dentes na maxila; o osso vestibular é fi no e a cortical palatina é espessa e resistente. Quando se avalia esse dente radiografi camente, o dentista deve visualizar o tamanho, a curvatura e a divergência aparente das três raízes. Além disso, o dentista deve visuali- zar com cuidado a relação das raízes com o seio maxilar. Se o seio estiver em proximidade com as raízes e as raízes forem amplamente divergentes, é muito provável que ocorra uma perfuração do seio devido à remoção de uma parte do assoalho do seio durante a remoção desse dente. Se, durante a avaliação, essa possibilidade for considerável, o cirurgião deve considerar fi rmemente uma extração cirúrgica. Os fórceps pareados no 53R e 53L, geralmente, são utilizados para a extração dos molares maxilares. Esses dois fórceps têm uma projeção na extremidade da ponta ativa vestibular para se encaixar na bifurcação vestibular. Alguns cirurgiões preferem utilizar os fórceps no 89 e no 90. Ambos são especialmente úteis se a coroa do molar apresentar cáries profundas ou grandes res- taurações. Os fórceps para molar superior são adaptados ao dente e posicionados o mais apicalmente possível da mesma forma que em outros dentes (Fig. 7-61). O movimento básico para ex- tração é utilizar pressão forte vestibular e palatinamente, com forças mais pesadas para vestibular que para palatina. Forças rotacionais não são úteis para a extração desse dente devido às suas raízes. Como mencionado na discussão sobre a extração do primeiro pré-molar maxilar, é preferível a fratura da raiz vestibular à da raiz palatina (pois é mais fácil remover as raí- zes vestibulares). Consequentemente, se o dente tiver raízes bem divergentes e o dentista suspeitar de que uma raiz possa ser fraturada, o dente deve ser luxado de maneira a prevenir a fratura da raiz palatina. O dentista deve minimizar a força palatina, pois é esta a força que fratura a raiz palatina. Pressão vestibular constante, lenta e forte expande a cortical vestibular e rompe as fi bras do ligamento periodontal que mantêm a raiz palatina em posição. Forças palatinas devem ser usadas, mas o mínimo possível. A anatomia do segundo molar maxilar é similar à do primei- ro molar maxilar, exceto que as raízes tendem a ser menores e menos divergentes, com as raízes vestibulares mais frequente- mente fusionadas em uma raiz única. Isso signifi ca que o dente é mais facilmente extraído pela mesma técnica descrita para o primeiro molar. O terceiro molar maxilar erupcionado, com frequência, tem raízes cônicas e, em geral, é extraído com o fórceps no 210S, que é um fórceps universal usado para o lado esquerdo e direi- to. O dente, geralmente, é removido com facilidade, pois o osso vestibular é fi no e as raízes são, frequentemente, fusionadas e cônicas. O terceiro molar erupcionado é, também, extraído com frequência com o uso apenas de alavancas. A visualização corre- ta do terceiro molar na radiografi a pré-operatória é importante, pois a anatomia radicular desse dente é variável e, algumas ve- zes, possui raízes pequenas, dilaceradas e em forma de gancho. A remoção de raízes fraturadas, nessa área, é difícil. A C B D FIGURA 7-60 A, Quando extraímos o segundo pré-molar maxilar, o fórceps é posicionado o mais apicalmente possível. B, A luxação se inicia com pressão vestibular. C, Pouca pressão vestibular é utiliza- da. D, O dente é removido na direção vestíbulo-oclusal. 122 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA A B C D E FIGURA 7-61 A, A extração dos molares maxilares. O tecido mole dos lábios e da bochecha é afastado e o processo alveolar é apreendido com a mão oposta. B, As pontas ativas do fórceps são posicionadas o mais apicalmente possível. C, A luxação se inicia com uma pressão forte vestibular. D, Pressão lingual é utilizada apenas moderadamente. E, O dente é removido na direção vestíbulo-oclusal. Dentes Mandibulares Quando removemos molares inferiores, o dedo indicador da mão esquerda é posicionado na vestibular e o segundo dedo é posicionado na lingual, refl etindo o lábio, a bochecha e a língua (Fig. 7-62). O polegar da mão esquerda é posicionado abaixo do queixo de maneira que a mandíbula fi que segura entre os demais dedos e o polegar, o que apoia a mandíbula e minimiza as forças sobre a ATM. Essa técnica diminui a sensação tátil, mas, durante a extração de dentes mandibulares, a necessidade de apoiar a mandíbula supera a de apoiar o processo alveolar. Uma boa al- ternativa é a colocação de um bloco de mordida entre os dentes do lado contralateral (Fig. 7-63). O bloco de mordida permite ao paciente auxiliar na estabilização das forças, limitando a pressão sobre as ATMs. A mão do cirurgião deve continuar a manter o apoio adicional à mandíbula. Dentes Anteriores Os incisivos e caninos mandibulares são similares na forma, com os incisivos sendo, ligeiramente, mais fi nos e as raízes dos cani- nos, mais compridas e grossas. As raízes dos incisivos apresen- tam maior possibilidade de fratura, pois são fi nas; portanto, de- vem ser removidas apenas após adequada luxação pré-extração. O osso alveolar que recobre os incisivos e caninos é fi no no lado vestibular e lingual. O osso sobre o canino pode ser mais espes- so, especialmente pelo lado lingual. O fórceps universal inferior (no 151), geralmente, é utiliza- do para remover esses dentes. Outras opções são o no 151A ou o fórceps de Ashe de estilo Inglês. As pontas ativas do fórceps são colocadas sobre os dentes e posicionadas apicalmente com vigor. Os movimentos de extração, em geral, são nas direções vestibular e lingual, com uma pressão semelhante nas duas dire- ções. Uma vez que o dente tenha sido luxado e tenha se tornado móvel, pode-se usar movimento rotacional para expandir ainda mais o osso alveolar. O dente é removido do alvéolo com forças de tração em uma direção vestíbulo-incisal (Fig. 7-64). Pré-molares Os pré-molares mandibulares estão entre os dentes mais fáceis de serem removidos. As raízes tendem a ser retas e cônicas, ainda CAPÍTULO 7 • Princípios da Exodontia Simples 123 FIGURA 7-63 Para fornecer suporte para a mandíbula para preve- nir forças excessivas na articulação temporomandibular, um bloco de mordida de borracha pode ser colocado entre os dentes no lado contralateral. FIGURA 7-62 Extração dos dentes posteriores do lado esquerdo da mandíbula. O dedo indicador esquerdo do cirurgião é posicionado no vestíbulo,refl etindo a bochecha, e o segundo dedo é posiciona- do na lingual, refl etindo a língua. O polegar é posicionado abaixo do queixo. A mandíbula é apreendida entre os dedos e o polegar para fornecer apoio durante a extração. A B C D E FIGURA 7-64 A, Quando extraímos os dentes anteriores da mandíbula, o fórceps no 151 é usado. O assistente afasta a bochecha e fornece aspiração. B, O fórceps é posicionado o mais apicalmente possível. C, Pressão vestibular moderada é usada para iniciar o processo de luxação. D, Força lingual é usada para continuar a expandir o osso. E, O dente é removido na direção vestíbulo-incisal. 124 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA D E F G CBA FIGURA 7-65 A, Extração do pré-molar mandibular. A mandíbula é estabilizada, o tecido mole é afastado e o fórceps no 151 é posicionado. B, A posição da mão é, ligeiramente, modifi cada para a técnica por trás do paciente. O fórceps de estilo Inglês também pode ser usado. D, O fórceps é posicionado o mais apicalmente possível para deslocar o centro de rotação e para iniciar a expansão do osso da crista. E, Força ves- tibular é usada para iniciar o processo de luxação. F, Leve pressão lingual é utilizada. G, O dente é removido com força de tração e rotação. que, algumas vezes, delgadas. O osso alveolar que os recobrem é fi no na face vestibular e mais espesso na face lingual. O fórceps universal inferior (no 151), normalmente, é esco- lhido para a extração dos pré-molares inferiores. O fórceps no 151A e o fórceps de estilo Inglês são alternativas populares para a extração desses dentes. O fórceps é pressionado o mais apicalmente possível, com os movimentos básicos na direção vestibular, retornando para a direção lingual e, fi nalmente, rotacional. Este último é mais utilizado quando extraímos esses dentes do que qualquer outro, com exceção, talvez, do incisivo central maxilar. O dente é, en- tão, removido na direção ocluso-vestibular (Fig. 7-65). Deve ser feita uma avaliação radiográfi ca pré-operatória cuidadosa para garantir ao cirurgião que não existe nenhuma curvatura no ter- ço apical do dente. Se tal curvatura existir, os movimentos de rotação devem ser reduzidos ou eliminados do procedimento de extração (Fig. 7-66). Molares Os molares mandibulares, geralmente, apresentam duas raízes; do primeiro molar são mais divergentes que as do segundo. Adicionalmente, as raízes podem convergir no terço apical, o que aumenta a difi culdade da extração. As raízes, em geral, são grossas e fortes. O osso alveolar que as recobre é mais resistente que qualquer outro osso na região de qualquer outro dente na boca. A combinação de raízes divergentes, grossas e fortes com osso vestíbulo-lingual resistente torna o primeiro molar mandi- bular o dente mais difícil de extrair de todos os dentes. O fórceps no 17 é mais utilizado para a extração dos molares inferiores; ele tem pequenas projeções pontiagudas na extremi- dade de ambas as pontas ativas que se adaptam à bifurcação das raízes do dente. O fórceps é adaptado à raiz do dente de maneira padrão, e forte pressão apical é aplicada para posicionar as pon- tas ativas do fórceps o mais apicalmente possível. Vigorosos mo- CAPÍTULO 7 • Princípios da Exodontia Simples 125 FIGURA 7-66 Se houver curvatura da raiz do pré-molar, as forças de extração rotacionais irão levar à fratura da região curva da raiz; consequentemente, essas forças devem ser minimizadas. A B C D E FIGURA 7-67 A, Os molares mandibulares são extraídos com o fórceps no 17 ou no 23. As posições das mãos do cirurgião e do assistente são as mesmas para ambos os fórceps. B, O fórceps no 17 é posicionado o mais apicalmente possível. C, Luxação do molar é iniciada com um forte movimento vestibular. D, Pressão lingual forte é usada para continuar a luxação. E, O dente é removido na direção vestíbulo-oclusal. vimentos vestíbulo-lingual são, então, utilizados para expandir o alvéolo dentário e permitir que o dente seja removido na direção vestíbulo-oclusal. O osso alveolar lingual ao redor do segundo molar é mais fi no que a cortical vestibular, de maneira que o segundo molar pode ser removido mais facilmente com pressões mais fortes para lingual que para vestibular (Fig. 7-67). Se as raízes do dente forem claramente bifurcadas, o fórceps no 23, ou chifre de vaca, pode ser usado. Esse instrumento é desenhado para ser fechado fortemente com os cabos; por con- sequência, pressiona as pontas ativas do fórceps para dentro da bifurcação. Isso gera forças contra a crista alveolar pelo lado ves- tibular e lingual e, literalmente, força o dente para cima, dire- tamente para fora do alvéolo do dente (Fig. 7-68). Se de início não for possível obter sucesso com essa técnica, devem ser feitos movimentos vestíbulo-linguais com o fórceps para expandir o osso alveolar, e os cabos do fórceps devem ser movidos para um lado e para o outro com o objetivo de posicionar as pontas ativas mais para dentro da bifurcação. Deve-se ter cuidado com esse fórceps para evitar danos aos dentes maxilares, pois o molar in- ferior pode saltar para fora do alvéolo e fazer com que o fórceps bata nos dentes superiores. Terceiros molares mandibulares erupcionados, em geral, têm raízes cônicas fusionadas. Como a bifurcação não é comum, o fórceps no 222 – um fórceps com pontas ativas curtas, e em 90 graus – é utilizado para extrair esse dente. A cortical lingual do osso é, defi nitivamente, mais fi na que a cortical vestibular, por- tanto a maior quantidade de força de extração deve ser feita para a lingual. O terceiro molar é removido na direção ocluso-lingual. O terceiro molar mandibular que se encontra em função pode ser um dente difícil para ser extraído. O dentista deve considerar a utilização de uma alavanca reta para obter um grau moderado de luxação antes de se utilizar o fórceps. A pressão deve ser au- mentada gradualmente, e tentativas de mobilizar o dente devem ser feitas antes de se aplicarem as fortes pressões fi nais. Modifi cações para a Extração de Dentes Decíduos Raramente, é necessário remover um dente decíduo antes que te- nha ocorrido uma reabsorção substancial da raiz. Porém, quan- 126 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA do a remoção é necessária, ela deve ser feita com grande cuidado, pois as raízes dos dentes decíduos são longas e delicadas e estão sujeitas a fraturas. Isso é especialmente verdadeiro, pois o dente subjacente causa reabsorção da região central da estrutura radi- cular e, consequentemente, enfraquece-a. Os fórceps, em geral, utilizados são uma adaptação dos fórceps universais superior e inferior, o no 150S e o no 151S. São posicionados e forçados apicalmente de maneira usual, com movimentos fi rmes e lentos para vestibular e, depois, para a lingual. Os movimentos rotacionais podem ser usados, mas devem ser mínimos e usados, criteriosamente, em dentes multirradicu- lares. O dentista deve estar cuidadosamente atento à direção de menor resistência e remover o dente nessa direção. Se as raízes do primeiro molar decíduo abraçarem a coroa do pré-molar per- manente, o dentista deve considerar a secção do dente. Muito raro, as raízes prendem de modo muito fi rme a coroa do pré-mo- lar permanente para fazer com que ele seja extraído também. CUIDADOS PÓS-EXTRAÇÃO COM O ALVÉOLO DENTÁRIO Uma vez que o dente tenha sido removido, é necessário um cuidado apropriado com o alvéolo. Este deve ser debridado apenas se necessário. Se uma lesão periapical for visualizada na radiografi a periapical e não houver nenhum granuloma pre- so ao dente quando ele for removido, a região periapical deve ser cuidadosamente curetada com uma cureta periapical para remover o granuloma ou o cisto. Se qualquer detrito for visível no alvéolo, como cálculo dental, amálgama ou fragmento do dente, ele deve ser delicadamente removido comuma cureta ou com a ponteira de aspiração (Fig. 7-69). Entretanto, se não houver nenhuma lesão periapical, nenhum detrito, o alvéolo não deve ser curetado. Os remanescentes do ligamento periodon- tal e as paredes ósseas sangrantes apresentam as melhores con- dições de fornecer uma cicatrização rápida. Curetagem vigoro- A B C D E FIGURA 7-68 A, O fórceps no 23 é, cuidadosamente, posicionado para se encaixar na área da bifurcação do molar inferior. B, Os cabos do fórceps são apertados com força, fazendo com que as pontas do fórceps sejam forçadas para dentro da bifurcação e exerçam forças de tração no dente. C, Forças vestibulares fortes são, então, usadas para expandir o alvéolo. D, Forças linguais fortes são usadas para luxar ainda mais o dente. E, O dente é removido na direção vestíbulo-oclusal com forças vestibulares e de tração. CAPÍTULO 7 • Princípios da Exodontia Simples 127 FIGURA 7-69 Fragmento de amálgama deixado nesse alvéolo den- tário após a extração, pois o cirurgião falhou na inspeção e no debri- damento do campo cirúrgico. vestibular e lingual, especialmente após a extração do primeiro molar. Deve-se tomar cuidado para não reduzir o alvéolo além de sua forma original se tiver sido planejada a instalação de um implante logo após ou no futuro. Se os dentes tiverem sido removidos devido à doença pe- riodontal, pode haver um acúmulo de tecido de granulação em excesso na região da margem gengival. Se este for o caso, deve ser dada atenção especial para a remoção desse tecido de granulação com uma cureta, uma tesoura de tecido ou he- mostático. As arteríolas do tecido de granulação têm pouca ou nenhuma capacidade de retração e constrição, o que leva a um sangramento desconfortável se o tecido de granulação for deixado no lugar. Por último, o osso deve ser palpado pela mucosa para a pre- sença de qualquer projeção óssea afi ada. Se existir alguma, a mu- cosa deve ser rebatida e as bordas afi adas, criteriosamente, alisadas com uma lima de osso ou aparadas com uma pinça-goiva. O controle inicial da hemorragia é obtido com o uso de uma compressa de gaze úmida de 5 × 5 cm colocada sobre o alvéolo. A gaze deve ser posicionada de maneira que, quando o paciente morde, ela se encaixa no espaço previamente ocupado pela coroa do dente. A pressão gerada ao morder é transmitida pela gaze para o alvéolo. Essa pressão resulta em hemostasia. Se a gaze é simplesmente colocada sobre o plano oclusal, a pressão aplicada ao sangramento é insufi ciente para obter a hemostasia adequada (Fig. 7-70). Uma compressa de gaze maior (7 × 7) pode ser necessária se vários dentes tiverem sido extraídos ou se o arco oposto for edêntulo. A extração de vários dentes em uma única consulta é um procedimento mais complexo e abrangente e é discutido no Capítulo 8. A B C FIGURA 7-70 A, Após a extração de um único dente, exis- te um pequeno espaço anteriormente ocupado pela coroa do dente. B, Uma compressa de gaze (5 × 5 cm) é dobrada ao meio duas vezes e colocada nesse espaço. Quando o pa- ciente morde a gaze, a pressão é transmitida para a gengiva e para o alvéolo. C, Se uma gaze maior for usada, a pressão é nos dentes, e não na gengiva ou no alvéolo. sa das paredes do alvéolo produz, meramente, dano adicional e pode atrasar a cicatrização. As corticais vestibular e lingual expandidas devem ser com- primidas de volta para sua confi guração inicial. A pressão digital deve ser aplicada às paredes vestibular e lingual para comprimir as corticais gentilmente, mas, de maneira fi rme, de volta às suas posições originais. Isso ajuda a prevenir espículas ósseas que podem ter sido causadas pela expansão excessiva das corticais Esta página foi intencionalmente deixada em branco 129 CAP ÍTULO SUMÁRIO DO CAPÍTULO PRINCÍPIOS DO PLANEJAMENTO, EXECUÇÃO E MANUSEIO DO RETALHO Parâmetros do Planejamento de Retalhos de Tecidos Moles Tipos de Retalhos Mucoperiósticos Técnica para Realização de um Retalho Mucoperióstico Princípios de Sutura PRINCÍPIOS E TÉCNICAS DA EXTRAÇÃO ABERTA Indicações para Extração Aberta Técnica para Extração Aberta de Dentes Unirradiculares Técnica para Extração Aberta de Dentes Multirradiculares Remoção de Fragmentos da Raiz e dos Ápices Radiculares Critérios para Permanência de Fragmentos Radiculares EXTRAÇÕES MÚLTIPLAS Plano de Tratamento Extrações Sequenciais Técnica para Extrações Múltiplas considerar alguns parâmetros ao planejar um retalho para deter- minada situação. Quando o retalho é determinado, sua base deve ser mais ampla que a margem livre para manter o suprimento sanguíneo adequado. Isso signifi ca que todas as áreas do retalho devem ter uma via de vascularização ininterrupta a fi m de evitar necrose isquêmica de todo o retalho ou de partes dele (Fig. 8-1). O retalho deve ter, por várias razões, tamanho adequado. O afastamento sufi ciente dos tecidos moles é necessário para for- necer a visualização adequada da área. Deve haver, também, acesso adequado para a inserção de todos os instrumentos ne- cessários à realização da cirurgia. Além disso, o retalho deve ser mantido afastado do campo operatório por um afastador que deve ser apoiado em osso sadio. É preciso que haja rebatimento sufi ciente do retalho, de modo a permitir ao afastador manter o retalho sem tensão. Além disso, o tecido mole cicatriza por meio da incisão, e não ao longo do comprimento da incisão, e incisões cortantes cicatrizam mais rapidamente que tecidos dilacerados. Portanto, uma incisão reta e longa, com afastamento adequado do retalho, cicatriza com mais rapidez que uma pequena, com dilaceração dos tecidos, a qual cicatriza lentamente por segunda intenção. Para que um retalho em envelope tenha um tamanho adequado, seu comprimento na direção ântero-posterior, geral- mente, estende-se de dois dentes anteriores a um dente posterior à área da cirurgia (Fig. 8-2, A). Se for feita uma incisão relaxante, esta deverá estender-se desde um dente anterior até um posterior à área de cirurgia (Fig. 8-2, B). O retalho deve ser mucoperióstico de espessura total. Isso signifi ca que ele deve incluir a mucosa, a submucosa e o periós- teo. Como o objetivo da cirurgia é remover ou regularizar osso, todo o tecido subjacente deve ser afastado dele. Além disso, os retalhos de espessura total são necessários porque o periósteo é o principal tecido responsável pela cicatrização óssea, e a sua re- posição no local original acelera o processo de cicatrização. Um tecido macerado, dilacerado, lesado, cicatriza mais lentamente que um retalho de espessura total corretamente desenhado e descolado. E o plano tecidual entre o osso e o periósteo é rela- 8 Princípios de Exodontia mais Complexa JAMES R. HUPP A remoção da maioria dos dentes erupcionados pode ser reali- zada pela técnica fechada, mas, ocasionalmente, essas técnicas não são sufi cientes. A técnica cirúrgica, ou aberta, de extração é o método usado para expor raízes que foram fraturadas du- rante o método fechado de rotina ou dentes que não podem ser extraídos por esse método devido a uma variedade de razões. Além disso, a remoção de múltiplos dentes em uma só sessão exige mais que a simples extração do dente, conforme descrito no Capítulo 7. Retalhos são comumente necessários para resta- belecer o contorno e alisar o osso alveolar. Este capítulo descreve a técnica para extração dentária ci- rúrgica. São explicados não só os princípios do planejamento do retalho, execução, manuseio e sutura, mas também extração aberta para dentes uni e multirradiculares. Serão, também, dis- cutidos os princípios envolvidos nas extrações múltiplas e con- comitante alveoloplastia. PRINCÍPIOS DO PLANEJAMENTO, EXECUÇÃO E MANUSEIO DO RETALHO O termo retalho indica uma divisão dos tecidos moles que (1) é demarcada por uma incisão cirúrgica,(2) possui seu próprio suprimento sanguíneo, (3) permite acesso cirúrgico aos tecidos subjacentes, (4) pode ser recolocado na posição original e (5) pode ser mantido com suturas e que se espera que cicatrize. Os reta- lhos de tecidos moles são, frequentemente, usados em cirurgia oral e procedimentos periodontais e endodônticos para obter acesso ao dente subjacente e às estruturas ósseas. Para realizar corretamente uma extração dentária, o dentista deve ter nítido conhecimento dos princípios de planejamento, desenvolvimen- to e manuseio dos retalhos de tecidos moles. Parâmetros do Planejamento de Retalhos de Tecidos Moles Para fornecer adequada exposição e promover rápida cicatriza- ção, o cirurgião deve planejar o retalho corretamente. Ele deve 130 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA tivamente avascular de modo que sangramento pequeno ocorre quando um retalho mucoperióstico completo é rebatido. A incisão que demarca o retalho deve ser feita sobre osso sa- dio que estará presente após a conclusão do procedimento ci- rúrgico. Se a condição patológica destruir a cortical vestibular, a incisão deve ser feita a, pelo menos, 6 a 8 mm de distância dessa perda de tecido ósseo. Além disso, se for feita remoção de osso sobre um determinado dente, a incisão deverá estar sufi - cientemente distante deste, de modo que, após a remoção óssea, a incisão esteja de 6 a 8 mm de distância do defeito ósseo criado pela cirurgia. Se a linha de incisão não for sustentada por tecido sadio, ela tende a entrar no defeito ósseo, resultando em deiscên- cia de tecido e demora na cicatrização (Fig. 8-3). O retalho deve ser planejado de modo a evitar lesão às estru- turas vitais da área da cirurgia. As duas estruturas mais impor- tantes que correm o risco de serem danifi cadas localizam-se na mandíbula: são os nervos lingual e mentoniano. Ao realizarem- se incisões na região posterior da mandíbula, especialmente na região de terceiro molar, as incisões devem estar bem afastadas do aspecto lingual da mandíbula. Nessa área, o nervo lingual pode estar próximo, aderente ao aspecto lingual da mandíbula, e incisões nessa área podem resultar em lesões graves àquele ner- vo, com consequente prolongamento temporário ou anestesia permanente da língua. Do mesmo modo, a cirurgia na área api- cal dos pré-molares deve ser planejada e executada com cuidado, para evitar danos maiores ao nervo mentoniano. As incisões em envelope devem ser usadas sempre que possível, e as incisões de alívio devem estar bem anteriores e posteriores à área do nervo mentoniano. Os retalhos da maxila, raramente, põem em risco as estru- turas vitais. No aspecto vestibular do processo alveolar maxi- lar, não existem nervos ou artérias passíveis de sofrerem lesões ao rebater um retalho palatino; o dentista deve lembrar que o principal suprimento sanguíneo do palato vem através da arté- ria palatina maior, que emerge do forâmen palatino maior no aspecto lateral posterior do palato duro. Essa artéria possui cur- so na direção anterior e anastomose com a artéria nasopalatina. Os nervos e as artérias nasopalatinos saem do forâmen incisivo para irrigar a gengiva da região do palato anterior. Se o tecido do palato anterior precisar ser rebatido, tanto a artéria quanto o nervo podem ser incisados no nível do forâmen sem muitos riscos. Existe pouca probabilidade de sangramento incômodo, e o nervo regenera-se rapidamente. A dormência temporária não costuma incomodar o paciente. Porém, as incisões verticais de alívio no aspecto posterior do palato devem ser evitadas, porque, geralmente, cortam a artéria palatina maior dentro do tecido, o que resulta em sangramento que pode ser de difícil controle e pode levar à necrose isquêmica dos tecidos. As incisões relaxantes de alívio só devem ser usadas quando necessárias, e não como rotina. As incisões em envelope, em ge- A B A B FIGURA 8-2 A, Para ter acesso sufi ciente à raiz do segundo pré-molar, o retalho em envelope deve estender-se, anteriormente, à mesial do canino, e, posteriormente, à distal do primeiro molar. B, Se for usada uma incisão de alívio (p. ex., retalho triangular), o retalho estende-se até a mesial do primeiro pré-molar. FIGURA 8-1 A, O retalho deve ter a base mais ampla que a margem gengival livre. B, Se o re- talho for mais estreito na base, o suprimento sanguíneo será inadequado, levando à necrose do retalho. A B FIGURA 8-3 A, Ao planejar um retalho, é ne- cessário prever a quantidade de osso que será removida, de modo que, após se concluir a ci- rurgia, a incisão repouse em osso sadio. Nesse caso, a incisão vertical de alívio foi em um dente anterior à remoção óssea e deixou margem ade- quada de osso sadio. B, Quando a incisão de alí- vio é realizada muito perto da remoção de osso, resulta em cicatrização tardia. CAPÍTULO 8 • Princípios de Exodontia mais Complexa 131 ral, fornecem a visualização adequada para a extração dentária na maioria das áreas. Quando as incisões verticais de alívio são necessárias, apenas uma única incisão deve ser feita, geralmente na extremidade anterior do retalho em envelope. A incisão rela- xante vertical não é uma incisão vertical reta, e sim oblíqua, para permitir que a base do retalho seja mais ampla que a margem gengival livre. A incisão relaxante vertical deve ser feita de modo a não cruzar as proeminências ósseas, como a eminência canina. Isso aumentaria a probabilidade de tensão na linha de sutura, resultando na deiscência da ferida. A incisão vertical de alívio deve cruzar a margem gengival livre no ângulo do dente e não deve ser diretamente na região vestibular do dente nem diretamente na papila (Fig. 8-4). As in- cisões que cruzam a margem livre da gengiva diretamente sobre o aspecto vestibular do dente não cicatrizam apropriadamente devido à lesão; o resultado é um defeito na gengiva inserida. Uma vez que o osso vestibular é, com frequência, muito fi no, tais incisões também resultam em fenda vertical do osso. As incisões que cruzam a papila gengival lesam, sem necessidade, a papila e aumentam os riscos de problemas periodontais localizados; tais incisões devem ser evitadas. Tipos de Retalhos Mucoperiósticos Uma variedade de retalhos intraorais pode ser usada. A incisão mais comum é a sulcular, que produz o retalho em envelope. No paciente que possui dentes, faz-se uma incisão no sulco gengival até a crista óssea através do periósteo, e rebate-se, apicalmente, um retalho mucoperióstico de espessura total (Fig. 8-2, A). Esse retalho, em geral, oferece acesso sufi ciente para realizar a cirur- gia necessária. Se o paciente for edentulo, a incisão em envelope é feita ao longo da cicatriz da crista do rebordo. Não há estruturas vitais nessa área, e a incisão em envelope pode ser tão longa quanto ne- cessária para oferecer o acesso adequado. A única exceção ocorre em mandíbulas extremamente atrófi cas quando o nervo alveolar inferior pode correr no topo do rebordo alveolar residual. Uma vez que a incisão é feita, o tecido pode ser rebatido bucal ou lin- gualmente, conforme o necessário para a remoção de um torus mandibular. Se a incisão sulcular possui uma incisão relaxante vertical, é um retalho de três ângulos, com ângulos na extremidade poste- rior da incisão em envelope, no aspecto inferior da incisão verti- cal e no aspecto superior da incisão relaxante vertical (Fig. 8-5). Essa incisão fornece um acesso maior com uma incisão sulcular mais curta. Quando é necessário um acesso maior na direção apical, em especial na região posterior da boca, essa incisão é, frequentemente, necessária. O componente vertical é mais difícil de ser fechado e pode causar uma demora moderada da cicatriza- ção, mas, se tomarmos cuidado na hora da sutura, o período de cicatrização não aumenta de maneia signifi cativa. O retalhoquadrangular é uma incisão em envelope com duas incisões relaxantes. Dois ângulos estão na região posterior da incisão relaxante e dois, nas duas extremidades do componente envelope da incisão (Fig. 8-6). Embora esse retalho forneça aces- so substancial nas áreas que têm dimensão ântero-posterior limi- tada, ele, raramente, é indicado. Quando as incisões relaxantes são necessárias, um retalho triangular é, em geral, sufi ciente. Uma incisão usada ocasionalmente para oferecer acesso ao ápice radicular é a incisão semilunar (Fig. 8-7). Essa incisão evi- ta trauma à papila e à margem gengival, mas oferece acesso limi- 1 2 A B 1 2 3 1 2 3 4 FIGURA 8-5 A incisão relaxante vertical transforma uma incisão em envelope em um retalho triangular (ângulos numerados). FIGURA 8-4 A, A posição correta para o fi nal da incisão relaxante vertical é no ângulo (nesta fi gura, ângulo mesiobucal) do dente. Da mesma forma, a incisão não cruza a eminência canina. O cruzamento dessa eminência óssea resulta em um risco aumentado de deiscência da ferida. B, Essas duas incisões foram feitas de modo incorreto. (1) A incisão cruza a proeminência sobre o dente canino, o que aumenta o risco de cicatrização tardia. A incisão através da papila resulta em dano desnecessário. (2) A incisão cruza a gengiva inserida diretamente sobre o aspecto vestibular do dente, o que, é bem provável, resultará em defeito de tecido mole e em deformidade periodontal. FIGURA 8-6 Incisões relaxantes verticais em cada uma das extre- midades da incisão em envelope transformam a incisão em envelope em um retalho quadrado (ângulos numerados). 132 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA tado, pois a raiz do dente não fi ca totalmente visível. Tal incisão é mais útil para cirurgia periapical de extensão limitada. Uma incisão útil no palato é aquela em Y. Essa incisão é útil para acesso ao osso palatino para a remoção de um torus palatino. O tecido sobre o torus é, em geral, muito fi no e deve ser rebatido com cuidado. Os prolongamentos ântero-laterais da incisão mediana são anteriores à região do dente canino. As extensões são anteriores sufi cientes nessa posição de modo que elas não lesem os ramos maiores da artéria palatina maior; consequentemente, sangramento não costuma ser um proble- ma (Fig. 8-8). Técnica para Realização de um Retalho Mucoperióstico Diversas considerações específi cas são envolvidas para desenvol- ver retalhos para extração cirúrgica de um dente. O primeiro passo é incisar os tecidos moles a fi m de permitir o descolamen- to do retalho. A lâmina no 15 é usada em um cabo de bisturi no 3, apreendido como se fosse uma caneta (Fig. 8-9). A lâmina faz leve ângulo com o dente, e a incisão é feita de trás para a frente no sulco gengival, puxando-se a parte cortante na direção do operador. Utiliza-se força contínua e suave, mantendo a par- te cortante da lâmina em contato com o osso durante a incisão (Figs. 8-10 e 8-11). A lâmina de bisturi é um instrumento extremamente cortan- te, mas que perde o corte muito rápido ao ser pressionado contra o osso; por exemplo, ao se fazer uma incisão mucoperióstica. Portanto, caso se realize mais de um retalho, devem-se mudar as lâminas entre as incisões. Na realização de uma incisão vertical, o tecido é rebatido api- calmente, com a mão oposta tensionando a mucosa alveolar, de modo que a incisão possa ser feita completamente e de forma regular. Se a mucosa alveolar não for tensionada, a lâmina não a corta por completo, o que resultará em uma incisão irregular. O deslocamento do retalho começa pela papila. A extremida- de cortante do destaca periósteo no 9 inicia o descolamento do retalho (Fig. 8-12). A extremidade cortante é introduzida sob a papila na área de incisão e girada lateralmente para afastar a papila do osso subjacente. Essa técnica é usada ao longo de toda a extensão da gengiva livre. Se houver difi culdade para descolar o tecido em um determinado ponto, é porque a incisão, prova- velmente, está incompleta, e aquela área deve ser incisada mais uma vez. Uma vez que toda a margem livre do retalho tenha sido descolada com a extremidade cortante do destaca periósteo, a extremidade maior é usada para descolar o retalho mucoperiós- tico até a extensão desejada. Se for usado um retalho triangular, o descolamento inicial é feito com a extremidade cortante do destaca periósteo no 9 so- mente na primeira papila. Após iniciar o descolamento, a parte mais larga do instrumento é inserida na parte mediana do reta- lho, e a dissecção é realizada com um empurrão no sentido pos- terior e apical. Isso facilita o descolamento rápido e sem trauma do retalho de tecido mole (Fig. 8-13). Depois de o retalho ter sido descolado na extensão desejada, o destaca periósteo pode ser usado como afastador para manter o retalho na posição adequada de descolamento. Para que isso seja feito com sucesso, o afastador é mantido perpendicularmente ao FIGURA 8-8 A incisão em Y é útil no palato para acesso adequado na remoção do torus palatino. As duas extremidades anteriores ser- vem como incisões de alívio para fornecer maior acesso. FIGURA 8-7 Incisão semilunar, planejada para evitar a gengiva in- serida marginal quando se trabalha no ápice da raiz. Ela é mais útil quando é necessário apenas um pequeno volume de acesso. FIGURA 8-10 A lâmina no 15 é usada para incisar o sulco gengival. FIGURA 8-9 O cabo do bisturi é segurado como uma caneta para conseguir máximo controle e sensibilidade tátil. CAPÍTULO 8 • Princípios de Exodontia mais Complexa 133 osso, apoiado em osso sadio e sem mucosa entre o afastador e o osso. O destaca periósteo é, portanto, mantido na sua posição apropriada sem tensionar a mucosa (Fig. 8-14). O descolador de Seldin ou o afastador de Minnesota ou de Austin podem ser usa- dos de modo semelhante quando for necessária uma exposição mais ampla. Ele não deve ser forçado contra os tecidos moles na tentativa de puxá-los para fora do campo. Em vez disso, é posi- cionado no local adequado e mantido fi rmemente contra o osso. Dessa maneira, o cirurgião pode concentrar-se, principalmente, no campo cirúrgico e não no afastador, e há menos chance de lesões inadvertidas ao retalho. A B FIGURA 8-13 Quando se usa um retalho triangular, somente a pa- pila anterior é afastada com uma extremidade cortante de destaca periósteo. Depois, utiliza-se a extremidade mais larga para empurrar o retalho, elevando-o no sentido póstero-superior. FIGURA 8-11 A, A porção cortante da lâmina é ligeiramente angulada em direção ao dente e corta os tecidos moles, inclusive o periósteo, até a crista óssea. B, A incisão inicia-se posteriormente e é levada em direção anterior, tomando-se cuidado para incisar completamente através da papila interdentária. FIGURA 8-12 O descolamento do retalho inicia-se quando a ex- tremidade cortante do destaca periósteo é introduzida na papila in- terdentária. FIGURA 8-14 O destaca periósteo (elevador de Seldin) é usado para rebater um retalho mucoperióstico. O instrumento é colocado de modo perpendicular ao osso e é mantido no local, sendo fi rme- mente empurrado contra o osso, e não apicalmente contra o tecido mole. 134 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA Princípios de Sutura Uma vez completado o procedimento e cuidadosamente irrigada e debridada a ferida, o retalho deve voltar à sua posição original ou ser levado a uma nova posição, se necessário, por meio de uma sutura. Esta possui várias funções. A mais óbvia e impor- tante delas é a de servir para coaptar as margens da ferida, isto é, para manter o retalho na posição e aproximar as duas bordas da ferida. Se a margem da ferida é nítida e sofreu trauma míni- mo, o mais provável é a cicatrização por primeira intenção. Se o espaço existente entre as duas bordas da ferida for pequeno, a cicatrizaçãoserá rápida e completa. Se existirem lacerações ou trauma excessivo nas margens da ferida, a cicatrização será por segunda intenção. A sutura também ajuda na hemostasia. Se o tecido subjacen- te estiver sangrando, a mucosa ou pele não deve ser suturada, porque o sangramento pode persistir e resultar na formação de hematoma. A sutura de superfície ajuda na hemostasia, mas so- mente como um tamponamento, em uma área de gotejamen- to generalizado como o alvéolo dentário. Os tecidos de reves- timento nunca devem ser suturados de forma muito apertada na tentativa de obter hemostasia em um alvéolo que ainda está sangrando. A sutura ajuda a manter o retalho de tecido mole sobre o osso. Esta é uma função extremamente importante, uma vez que o osso necrosa quando não é coberto por tecidos moles, e ne- cessita de mais tempo para cicatrizar. Quando os retalhos mu- coperiósticos são afastados do osso alveolar, é importante que a extensão do osso descoberta se cubra na reposição do retalho. A menos que se utilizem técnicas de suturas apropriadas, o retalho pode retrair, deixando o osso exposto e resultando em demora na cicatrização. A sutura pode ajudar na manutenção de um coágulo sanguí- neo no alvéolo. Um ponto especial, como a sutura em oito, pode fornecer uma barreira para o deslocamento do coágulo (Fig. 8-15). Porém, deve-se enfatizar que a sutura que cruza uma feri- da aberta desempenha um papel menor na manutenção do coá- gulo sanguíneo do alvéolo dentário. O instrumental necessário inclui um porta-agulha, uma agu- lha, uma agulha de sutura e o material de sutura. O porta-agulha de escolha tem 15 cm de comprimento e cabo em cremalheira. Segura-se esse porta-agulha com o polegar e o dedo anelar nos anéis do cabo e com o dedo indicador ao longo do comprimento do porta-agulha para dar estabilidade e controle (Fig. 8-16). A agulha de sutura comumente utilizada na boca é pequena, de 1/2 a 3/8 círculo com uma borda cortante reversa. A borda cor- tante ajuda a agulha a passar através do retalho mucoperióstico que é relativamente resistente. O tamanho e a forma das agulhas são designados por números. As formas de agulhas mais comu- mente usadas em cirurgia oral são 1/2 a 3/8 círculo (Fig. 8-17). A técnica usada para suturar é, enganosamente, difícil. O uso do porta-agulha e a técnica necessária para passar a agulha curva através dos tecidos são difíceis de aprender. A discussão a seguir apresenta a técnica empregada na sutura; é preciso prática para que se possa suturar com habilidade e fi nesse. Quando o retalho em envelope é reposicionado no lugar corre- to, ele é mantido com suturas feitas somente através das papi- las. As suturas não são feitas cruzando completamente o alvéolo, A B FIGURA 8-15 A, Sutura em oito, ocasionalmente colocada sobre o alvéolo para ajudar na hemostasia. B, Esta é comumente realizada para ajudar a manter a celulose oxidada no alvéolo dentário. A B FIGURA 8-17 A agulha usada em cirurgia oral possui 3/8 de círculo e é cortante. A de cima é PS-2, a do meio é FS-2, e a de baixo é X-1. FIGURA 8-16 Segura-se o porta-agulha com os dedos polegar e anular. (A) O dedo indicador estende-se ao longo do instrumento para oferecer estabilidade e controle (B). CAPÍTULO 8 • Princípios de Exodontia mais Complexa 135 visto que as bordas da ferida não estariam apoiadas em osso sa- dio (Fig. 8-18). Ao reaproximar o retalho, passa-se o fi o, primei- ro, através do tecido móvel (em geral, o vestibular); a agulha é, novamente, presa pelo porta-agulha e passada através da mucosa inserida da papila lingual. Como as duas margens da ferida são fechadas juntas, o cirurgião experiente pode ser capaz de inserir a agulha nas duas margens com uma única passagem. Porém, na maioria dos casos, é melhor usar a técnica das duas passagens (Fig. 8-19). Ao passar a agulha através do tecido, ela deve penetrar na su- perfície da mucosa em ângulo reto para fazer um orifício mínimo na mucosa (Fig. 8-20). Se a agulha atravessa os tecidos obliqua- mente, o fi o lacera a camada superfi cial do retalho quando é dado o nó, resultando em maior traumatismo aos tecidos moles. Ao passar a agulha através do retalho, o cirurgião deve asse- gurar-se de que aprisionou uma quantidade adequada de tecido para evitar que o fi o escape do retalho. Como o retalho que está sendo suturado é mucoperióstico, ele não deve ser suturado com muita força, pois apenas uma pequena quantidade de tecido é necessária. A quantidade mínima de tecido entre o fi o de sutura e as bordas do retalho deve ser de 3 mm. O fi o de sutura é pas- sado da parte móvel do retalho para o tecido lingual inserido e é amarrado com um nó feito com um instrumento (Fig. 8-21). O cirurgião deve lembrar que o objetivo do nó é, simplesmen- te, o de reaproximar os tecidos, e, portanto, o fi o de sutura não deve ser apertado de modo exagerado. As suturas muito aper- tadas causam isquemia das margens do retalho e resultam em necrose dos tecidos com laceração da sutura. Portanto, suturas muito apertadas resultam, com mais frequência, em deiscência que suturas mais frouxas. Como referência clínica, não deve ha- ver clareamento ou óbvia isquemia nas margens da ferida. Se isso ocorrer, a sutura deve ser removida, e uma nova deve ser feita. O nó não deve ser colocado sobre a linha de incisão, porque causa pressão adicional na incisão; por isso, ele deve ser posicionado ao lado da incisão. A B A B C D FIGURA 8-19 Ao reposicionar um retalho na mucosa, a sutura passa pelas bordas do alvéolo em dois tempos, uma borda de cada vez. A, O porta-agulha segura a agulha e passa a papila, em geral, primeiro o lado que está solto. B, O porta-agulha é liberado da agulha; ele torna a pegar a agulha por baixo do tecido e volta através do retalho. C, A agulha passa pela outra papila de maneira semelhante. D, Finalmente, o porta-agulha pega a agulha no lado oposto para completar a passagem da sutura por ambos os lados da mucosa. FIGURA 8-18 A, Retalho mantido no lugar com suturas nas papi- las. B, Vista da sutura em corte transversal. 136 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA A B C D A B C D FIGURA 8-20 A, Ao passar através da mucosa, a agulha deve penetrar a superfície de tecido, fazendo um ângulo reto. B, O porta-agulha deve ser girado até que a agulha passe facilmente pelos tecidos em um ângulo reto. C, Se a agulha penetra nos tecidos moles formando um ângulo agudo e é empurrada, em vez de girada, pelos tecidos, é provável que ocorra laceração da mucosa com a agulha ou com o fi o de sutura (D). FIGURA 8-21 A maioria das suturas intraorais realizadas na boca é atada com instrumentos. A, O fi o de sutura é puxado através do tecido até que reste apenas uma pequena quantidade de fi o (15 a 20 cm aproximadamente). O porta-agulha é segurado horizontalmente pela mão direita na preparação do nó. B, A mão esquerda enrola depois a extremidade mais longa do fi o de sutura ao redor do porta-agulha, duas vezes no sentido dos ponteiros do relógio para fazer dois laços de sutura. C, O cirurgião, então, abre o porta-agulha e pega a extremidade curta do fi o de sutura perto da ponta. D, As extremidades do fi o de sutura são puxadas para apertar o nó. O porta-agulha não deve, de modo algum, ser puxado até que o nó esteja quase apertado para evitar estiramento dessa parte do fi o. Se for utilizado um retalho triangular, o fi nal vertical da in- cisão deve ser fechado separadamente. Em geral, são necessá- rias duas suturas para fechar o fi nal vertical do modo adequado. Antes de inserir as suturas, deve-se usar o destaca periósteo no 9 para elevar, ligeiramente, o lado fi xo da incisão, liberando a margem para facilitar a passagem da agulha pelos tecidos (Fig. 8-22). A primeira sutura é feita cruzando a papila, onde foi feita a incisão relaxante. Este é oponto de referência conhecido e fa- cilmente identifi cável, muito importante quando se reposiciona um retalho triangular. O restante da porção envelope da incisão CAPÍTULO 8 • Princípios de Exodontia mais Complexa 137 é, então, fechado, após o fechamento do componente vertical da incisão. O suave descolamento do lado fi xo da incisão facilita muito a realização da sutura. Suturas podem ser confi guradas de diferentes maneiras. A sutura simples interrompida é uma das mais comumente usadas na cavidade oral. Ela vai através de um lado da ferida e aparece através do outro lado da ferida e é amarrada em um nó no topo. Essas suturas podem ser feitas rapidamente, e a tensão em cada sutura pode ser ajustada individualmente. Se uma sutura se rom- pe, as suturas remanescentes permanecem em posição. Uma técnica de sutura que é útil para unir duas papilas adja- centes com um único ponto é chamada de colchoeiro horizontal (Fig. 8-23). Uma ligeira variação desse modo é a sutura em oito, que mantém as duas papilas em posição e faz um cruzamento sobre o alvéolo que ajuda a manter o coágulo sanguíneo no lugar (Fig. 8-15). Se a incisão for longa, um método de sutura contínuo pode ser usado efi cientemente. Quando se usa essa técnica, o nó não precisa ser feito para cada ponto, o que torna muito mais rápida a sutura de uma incisão longa e deixa poucos nós para armazenar G H JI E F FIGURA 8-21, continuação A maioria das suturas intraorais realizadas na boca é atada com instrumentos. E, Fim do primeiro passo para a realização do nó de cirurgião. Note que as duas voltas de fi o no porta-agulha resultaram em um nó de laçada dupla. Isso aumenta o atrito do nó e ajuda a manter juntas as margens da ferida até que seja realizado o segundo nó. F, O porta-agulha é, então, liberado da extremidade curta do fi o e mantido na mesma posição de quando se iniciou o procedimento do nó. A mão esquerda, então, dá a volta simples no fi o do porta-agulha na direção contrária ao movimento dos ponteiros dos relógios. G, O porta-agulha depois prende a extremidade mais curta do fi o perto da ponta. H, Essa parte do nó é completada ao se puxar essa laçada fi rmemente para baixo contra a parte previamente realizada. I, Isso completa o nó do cirurgião. A laçada dupla do primeiro passo mantém os tecidos aproximados até que o segundo passo do nó qua- drado possa ser atado. J, A maioria dos cirurgiões adiciona uma terceira laçada ao seu porta-agulha quando utiliza um material reabsorvível. O porta-agulha é reposicionado na posição original, e o fi o é enrolado no porta-agulha na direção do movimento dos ponteiros do relógio. A parte curta do fi o é agarrada e apertada fi rmemente para baixo a fi m de formar o segundo nó quadrado. A laçada fi nal dos três nós é apertada com fi rmeza. (Nota: com fi ns de demonstração, o primeiro nó foi deixado frouxo aqui, mas apertando o nó atualmente, o 1o nó é apertado antes da criação do 2o nó.) 138 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA detritos. A sutura contínua simples pode ser em cadeia ou não (Fig. 8-24). A sutura em colchoeiro horizontal também pode ser usada de forma contínua. A desvantagem de uma sutura contí- nua é que, se um ponto for perdido, perde-se toda a sutura. As suturas permanecem no local por cerca de 5 a 7 dias. Após esse tempo, elas não são úteis e, na verdade, podem aumentar a contaminação da submucosa. A sutura é, então, cortada usando- se uma tesoura de ponta fi na afi ada e removida puxando-se o fi o na direção da linha de incisão (não longe da linha de sutura). PRINCÍPIOS E TÉCNICAS DA EXTRAÇÃO ABERTA A extração cirúrgica ou aberta de um dente erupcionado é uma técnica que não deve ser reservada para situações extremas. A técnica de extração aberta empregada com prudência pode ser mais conservadora e causar menos morbidade operatória que uma extração fechada. Uma técnica de extração a fórceps que exija grande força pode resultar não apenas na remoção do den- te, mas também de grandes quantidades de osso, e, ocasional- mente, do assoalho do seio maxilar (Fig. 8-25). Se for realizado um retalho e removida uma quantidade apropriada de osso ou se o dente for seccionado, a perda de osso pode ser menor. Os riscos dos fragmentos ósseos literalmente arrancados do maxilar pela técnica conservadora excedem de longe os riscos da extra- ção cirúrgica controlada. Indicações para Extração Aberta É prudente que o cirurgião avalie com cuidado cada paciente e cada dente a ser removido para examinar a possibilidade de uma extração aberta. Mesmo quando a maioria das decisões seja favorável a uma extração fechada, o cirurgião deve estar sempre consciente de que a extração aberta pode ser a menos traumática das duas. Como regra geral, os cirurgiões devem considerar executar uma extração cirúrgica eletiva sempre que perceberem a possí- vel necessidade de força excessiva na extração de um dente. O termo excessivo signifi ca que a força, provavelmente, resultará em uma fratura óssea, em uma fratura de raiz, ou em ambas. Em qualquer dos casos, a excessiva perda óssea, a necessidade de cirurgia adicional para recuperação da raiz, ou ambas podem trazer desnecessária morbidade. A seguir, encontram-se alguns exemplos de situações em que a extração fechada pode requerer o uso de força excessiva. O cirurgião deve considerar seriamente a realização de uma extração aberta quando as tentativas iniciais de uma extração a fórceps não obtiveram êxito. Em vez de aplicar grande quanti- dade de força que pode ser descontrolada, o cirurgião deve, sim- plesmente, fazer um retalho mucoperióstico, seccionar o dente, remover algum osso e extrair o dente em segmentos. Nessas si- tuações, a fi losofi a de “dividir e conquistar” resulta no tipo mais efi ciente de extração. Se a avaliação pré-operatória revela que o paciente tem osso espesso ou, especialmente, denso, principalmente na cortical vestibular, a extração cirúrgica deve ser considerada. A extração da maioria dos dentes depende da expansão da cortical vestibu- lar. Se esse osso for especialmente espesso, então uma expansão adequada é pouco provável de ocorrer, sendo mais provável a fra- tura da raiz. Enquanto no paciente mais jovem encontra-se osso mais elástico e mais provável de expandir com força controlada, nos idosos o osso é, em geral, mais denso, muito mais calcifi cado e, portanto, é mais difícil obter-se a expansão adequada durante a luxação dentária. A precaução deve ser maior nos casos de osso mais denso encontrado em pacientes mais idosos. Ocasionalmente, o dentista trata de um paciente que tem co- roas clínicas muito pequenas, com evidência de atrição grave. Se atrição for resultado de bruxismo, ou do hábito de apertar os dentes, é provável que esse dente esteja cercado por osso denso e 1 2 3 4 A B 1 4 3 2 A B FIGURA 8-22 A, Para fazer mais facilmente a sutura de um reta- lho triangular, utiliza-se o destaca periósteo para descolar pequena quantidade de tecido inserido até que a sutura possa ser passada através da espessura total do mucoperióstico. B, Quando o retalho triangular é reposicionado, a primeira sutura é feita na extremidade oclusal da incisão de alívio vertical. (1) As papilas são, depois, sutu- radas sequencialmente (2 e 3) e, por fi m, sutura-se a parte superior da incisão de alívio, se necessário (4). FIGURA 8-23 A, A técnica de sutura de colchoeiro horizontal é usada, algumas vezes, para fechar feridas dos tecidos moles. Seu uso diminui o número de suturas individuais a serem feitas, mas o mais importante é que comprime, suavemente, as margens da ferida ao mesmo tempo em que faz a reversão de suas margens. B, Uma única sutura do tipo colchoeiro horizontal pode ser feita, cruzando ambas as papilas do alvéolo dentário e funcionando como duas suturas in- dividuais.CAPÍTULO 8 • Princípios de Exodontia mais Complexa 139 espesso com forte inserção do ligamento periodontal (Fig. 8-26). O cirurgião deve ter extrema cautela se a remoção de tal dente ocorrer pela técnica fechada. Uma técnica aberta resulta, em ge- ral, em uma extração mais rápida e mais fácil. A revisão cuidadosa das radiografi as pré-operatórias pode re- velar se as raízes dentárias oferecem alguma difi culdade, caso o dente seja extraído pela técnica rotineira, a fórceps. Uma con- dição comumente observada entre os pacientes mais idosos é a hipercementose. Nessas situações, o cemento continua a ser depositado no dente e forma uma raiz larga e bulbosa, difícil de ser removida através da abertura disponível do alvéolo dentário. A grande força usada para expandir o osso pode resultar na fra- tura da raiz ou da cortical vestibular e em um procedimento de extração mais difícil (Fig. 8-27). Raízes amplamente divergentes, em especial as raízes do pri- meiro molar superior (Fig. 8-28) ou as que têm grave dilacera- ção ou ganchos, são também difíceis de serem removidas sem que haja fratura de uma ou mais raízes (Fig. 8-29). Ao se realizar um retalho mucoperióstico e ao se dividirem as raízes com uma broca, pode-se realizar uma extração mais controlada e planeja- da, com menor risco global. Se ocorreu expansão do seio maxilar a ponto de incluir as raízes dos molares superiores, a extração do dente pode resultar na remoção de parte do assoalho do seio maxilar que está em contato com o dente. Se as raízes são divergentes, essa situação é ainda mais provável de acontecer (Fig. 8-30). Dentes com coroas destruídas por cáries, especialmente cárie radicular, ou com grandes restaurações de amálgamas, são can- didatos à extração aberta (Fig. 8-31). Embora o dente seja abar- cado pelo fórceps, principalmente, pela raiz, uma parte da força é aplicada à coroa. Tais pressões podem esmagar ou despedaçar a coroa dos dentes que possuem cárie extensa ou grandes res- taurações. A extração aberta pode evitar a necessidade de força excessiva e resultar em uma extração mais fácil e mais rápida. Os dentes com coroas totalmente destruídas por cárie e que se apre- sentam como raízes residuais também devem ser considerados para extração aberta. Se houver extensa doença periodontal ao redor desses dentes, é possível extraí-los com facilidade usando uma alavanca reta ou de Cryer. Porém, se o osso ao redor do dente estiver fi rme e não existir doença periodontal, o cirurgião deve considerar uma extração aberta. A B C D FIGURA 8-24 Quando se fazem suturas múltiplas, a incisão pode ser fechada com uma sutura contínua. A, Primeiro, a papila é aproximada e o nó é atado da maneira usual. A extremidade longa do fi o de sutura é presa e a papila adjacente é suturada sem se atar o nó, mas apenas ajustando-o, puxando-o fi rmemente através dos tecidos. B, As papilas são sucessivamente suturadas até que a última seja suturada e o nó atado. A aparência fi nal da sutura é a de uma sutura que cruza cada alvéolo vazio. C, O ponto contínuo em cadeia pode ser feito passando-se a extremidade longa do fi o de sutura por baixo da laçada antes de ela ser puxada através dos tecidos. D, Essa técnica coloca a sutura em uma superfície profunda da mucosa e do periósteo diretamente através da papila, e pode ajudar em uma posição mais direta dos tecidos. FIGURA 8-25 A extração a fórceps desses dentes resultou na remo- ção de osso e dente, em vez de apenas dente. FIGURA 8-26 Dentes que exibem evidência de bruxismo podem ter osso mais denso e um ligamento periodontal inserido mais forte, que faz com que eles sejam mais difíceis de extrair. 140 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA Técnica para Extração Aberta de Dentes Unirradiculares A técnica de extração aberta para dentes unirradiculares é relati- vamente simples, mas requer atenção aos detalhes, uma vez que várias decisões precisam ser tomadas durante a cirurgia. Dentes unirradiculares são aqueles que resistiram a prévias tentativas de extração pelo método fechado ou que sofreram fraturas na linha cervical e existem, portanto, apenas como uma raiz. A técnica é essencialmente a mesma para ambos. O primeiro passo é providenciar visualização e acesso ade- quados através de um retalho mucoperióstico sufi cientemente amplo. Na maioria das situações, um retalho em envelope, com extensão de dois dentes anteriores e um dente posterior ao dente a ser removido, é o bastante. Se for necessária uma incisão de alívio, ela deve ser localizada, no mínimo, em um dente anterior ao sítio da extração (Fig. 8-2). Uma vez que um retalho adequado foi destacado e mantido na posição por um destaca periósteo, o cirurgião deve examinar a necessidade de remoção óssea. Existem várias opções para essa etapa. Primeiro, o cirurgião deve tentar recolocar o fórceps sob visão direta, alcançando, assim, maior vantagem mecânica e re- movendo o dente sem remover o osso (Fig. 8-32). A segunda opção é colocar a ponta ativa do fórceps sob a cor- tical bucal para obter maior vantagem mecânica e abarcar a raiz do dente. Isso permitirá que o cirurgião luxe o dente o bastante para removê-lo sem qualquer remoção adicional de osso (Fig. 8-33). Uma pequena quantidade de osso bucal é removida junto com o dente. A terceira opção é usar a alavanca reta empurrando-a para baixo ao longo do espaço do ligamento periodontal do dente (Fig. 8-34). O dedo indicador do cirurgião deve guiar a força da alavanca para que o movimento total seja controlado e não ocor- ram deslizes do instrumento. Um pequeno movimento de rota- ção deve ser feito para ajudar e expandir o espaço do ligamento periodontal, permitindo que uma alavanca reta pequena penetre no espaço e atue como uma cunha, deslocando a raiz no sentido oclusal. Essa abordagem continua com o uso de destaca periós- teo reto maiores, até que o dente seja luxado adequadamente. A quarta e última opção é prosseguir com remoção óssea so- bre a área do dente. A maioria dos cirurgiões prefere uma broca FIGURA 8-30 Os molares superiores “dentro” do assoalho do seio maxilar aumentam o risco de fratura do assoalho do seio, resultando em perfuração. FIGURA 8-27 A hipercementose da raiz difi culta a extração a fórceps. FIGURA 8-28 Raízes amplamente divergentes aumentam a proba- bilidade de fratura óssea, radicular, ou ambas. FIGURA 8-29 A acentuada dilaceração das raízes pode resultar em fratura radicular, ao menos que se faça uma extração cirúrgica. CAPÍTULO 8 • Princípios de Exodontia mais Complexa 141 para remoção óssea. A largura de osso bucal a ser removida é essencialmente a mesma da dimensão mesiodistal do dente (Fig. 8-35). No sentido vertical, a remoção óssea deverá ser aproxi- madamente 1/2 a 2/3 do comprimento da raiz (Fig. 8-36). Essa quantidade de remoção óssea reduz bastante a força necessária para luxar o dente e torna a remoção relativamente fácil. Tanto uma pequena alavanca reta (Fig. 8-37) como um fórceps podem ser usados para extrair o dente (Fig. 8-38). Se o dente ainda está difícil de ser extraído após a remoção do osso, pode-se fazer um ponto de apoio na raiz com uma bro- ca na porção mais apical da área de remoção óssea (Fig. 8-39). Cuidados devem ser tomados para limitar a remoção de osso, apenas o necessário para remover a raiz, para preservar o osso para possível colocação de implante. O orifício deve ter cerca de 3 mm de diâmetro e profundidade sufi ciente para permitir a in- serção de um instrumento. Uma alavanca mais forte, como a api- cal de Crane, pode ser usada como um elevador ou para retirar o dente do alvéolo (Fig. 8-40, A). O tecido mole é reposicionado e suturado (Fig. 8-40, B). As margens ósseas devem ser examinadas; se estiverem cor- tantes, devem ser alisadas com uma lima óssea. Essa verifi cação é realizada colocando-se o retalhona posição e palpando-o de- licadamente com o dedo. O clínico pode verifi car sua aspereza. Raramente, indica-se a remoção do osso com uma pinça goiva, pois esse instrumento tende a remover muito mais osso. Após a extração, todo o campo cirúrgico deve ser irrigado com grande quantidade de soro. Atenção especial deve ser dedicada à porção inferior do retalho (onde ele se une ao osso), porque esta é uma localização comum para o depósito de detritos, espe- cialmente nas extrações mandibulares. Se os detritos não forem cuidadosamente removidos por curetagem ou irrigação, pode haver uma demora na cicatrização ou, até mesmo, um abscesso subperiosteal nas três ou quatro semanas seguintes. O retalho é, então, colocado em sua posição original e suturado com fi o de seda preta 3.0. Se a incisão for propriamente planejada e executa- da, a linha de sutura será apoiada em osso sadio e intacto. Técnica para Extração Aberta de Dentes Multirradiculares Se for tomada a decisão de realizar uma extração aberta para dentes multirradiculares, como molares mandibulares ou maxi- FIGURA 8-31 Cáries profundas ou extensas restaurações podem levar à fratura da coroa do dente e, portanto, a uma extração mais difícil. FIGURA 8-32 Um pequeno retalho em envelope pode ser desco- lado para expor uma raiz fraturada. Sob visão direta, o fórceps pode ser colocado mais apicalmente dentro do ligamento periodontal, eli- minando a necessidade de remoção óssea. FIGURA 8-33 Se a fratura da raiz ocorreu no nível do osso, a ponta ativa vestibular do fórceps pode ser usada para remover pequena porção de osso ao mesmo tempo em que apreende a raiz. 142 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA FIGURA 8-38 Depois de removido o osso e luxada a raiz dentária com uma alavanca reta, pode-se usar o fórceps para remover a raiz. FIGURA 8-34 Pode-se usar uma alavanca pequena como calçadeira para luxar uma raiz fraturada. Ao usar uma alavanca reta nessa po- sição, a mão deve estar, fi rmemente, apoiada nos dentes adjacentes para evitar deslizes inadvertidos do instrumento e posterior trauma- tismo dos tecidos adjacentes. FIGURA 8-35 Ao remover osso da superfície bucal do dente ou raiz dentária para facilitar a remoção dessa última, a largura mesiodistal da remoção óssea deve ter, aproximadamente, a mesma dimensão mesiodistal da própria raiz a ser removida. Isso permite um caminho desimpedido para se remover a raiz na direção bucal. FIGURA 8-36 O osso é removido com uma broca para osso após descolamento de um retalho tipo envelope-padrão. A remoção óssea deve ser, aproximadamente, de 1/2 a 2/3 do comprimento da raiz. FIGURA 8-37 Uma vez removida a quantidade adequada de cor- tical vestibular, utiliza-se uma alavanca apical no lado palatino do dente para deslocar a raiz no sentido vestibular. É importante re- lembrar que, quando se usa uma alavanca nesse sentido, a mão do cirurgião deve estar, fi rmemente, apoiada nos dentes adjacentes para evitar deslizes do instrumento e traumatismo dos tecidos moles ad- jacentes. lares, a mesma técnica cirúrgica empregada para dentes unirra- diculares costuma ser usada. A principal diferença é que o dente pode ser dividido com uma broca, para converter um dente mul- tirradicular em dois ou três dentes unirradiculares. Se a coroa do dente estiver intacta, ela é seccionada de modo a facilitar a remoção das raízes. Porém, se não existir coroa, mas apenas raiz residual, o objetivo é separar as raízes, facilitando sua remoção com o uso das alavancas. A remoção de um primeiro molar inferior com a coroa intac- ta é, em geral, realizada através da secção do dente no sentido CAPÍTULO 8 • Princípios de Exodontia mais Complexa 143 vestíbulo-lingual e, portanto, dividindo o dente em duas meta- des, uma mesial (com a raiz mesial e metade da coroa) e outra distal. Realiza-se, também, uma incisão em envelope, e remove- se pequena quantidade de osso da crista alveolar. Após o dente ser seccionado, ele é luxado com uma alavanca reta, iniciando o processo de luxação. O dente seccionado é tratado como um pré-molar inferior e removido com um fórceps universal inferior (Fig. 8-41). O retalho é reposicionado e suturado. A técnica cirúrgica inicia-se com o descolamento de um reta- lho adequado (Fig. 8-42, A e B). O cirurgião seleciona um retalho em envelope ou um retalho triangular, de acordo com as necessi- dades de acesso e sua preferência. A avaliação da necessidade de seccionar as raízes e remover osso é feita nesse estágio, como o foi para o dente unirradicular. Ocasionalmente, o fórceps, a ala- vanca, ou ambos são posicionados com visão direta para se obter vantagem mecânica e remover o dente sem remover o osso. Porém, na maioria das situações, uma pequena quantidade de crista óssea deverá ser removida, e o dente, dividido. O sec- cionamento do dente costuma ser feito com uma peça de mão reta munida de uma broca reta, como brocas esféricas de no 8, ou com uma broca de fi ssura, como as brocas no 557 ou no 703 (Fig. 8-42, C). Após a secção do dente, utiliza-se a alavanca reta pequena para luxar e mobilizar as raízes seccionadas (Fig. 8-42, D). A alavanca reta pode ser usada até mesmo para liberar o dente sec- cionado e luxado (Fig. 8-42, E). Se a coroa do dente for seccio- nada, usam-se fórceps universais superiores ou inferiores, a fi m de remover porções individuais do dente seccionado (Fig. 8-42, F). Se não houver coroa, as alavancas retas e triangulares são empregadas para elevar a raiz do alvéolo. A B FIGURA 8-39 Se a raiz dentária estiver completamente fi rme no osso, pode-se remover a cortical óssea vestibular e fazer um ponto de apoio para a inserção de uma alavanca. FIGURA 8-40 A, Uma alavanca triangular, tipo de Crane, é inserida no ponto de apoio, e o dente é elevado do alvéolo. B, O retalho é reposicionado e suturado. A B FIGURA 8-41 Se o molar inferior é de difícil extração, pode-se seccioná- lo e transformá-lo em unirradicular. A, Uma incisão em envelope é desco- lada, e pequena quantidade de osso da crista alveolar é removida para expor a bifurcação. A broca é usada para seccionar o dente em duas me- tades, mesial e distal. B, O fórceps universal inferior é usado para remo- ver, separadamente, as duas porções de coroa-raiz do dente. 144 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA Algumas vezes, uma raiz remanescente pode ser difícil de ser removida, podendo ser necessária a remoção de osso adicional (como a descrita para dentes unirradiculares). Nesse caso, é pre- ciso preparar um ponto de apoio com a broca e usar uma alavan- ca, como a alavanca apical de Crane, para elevar a raiz residual. Depois que os dentes e todas as raízes forem removidos, o retalho é reposicionado e a área cirúrgica é palpada para ver se há margens cortantes. Caso haja, elas devem ser alisadas com lima óssea. A ferida é irrigada por completo e removem-se fragmentos de dente, osso, cálculo e outros resíduos. O retalho é novamente reposicionado e suturado da maneira usual (Fig. 8-42, G). Um método alternativo para a extração do primeiro molar in- ferior consiste em realizar um retalho e remover uma quantidade sufi ciente de osso vestibular até expor a bifurcação. Utiliza-se, então, uma broca para seccionar a raiz mesial do dente e trans- formar o molar em um dente unirradicular (Fig. 8-43). A coroa com a raiz mesial intacta é extraída com o fórceps para molar inferior no 17. A raiz mesial remanescente é elevada do alvéolo com uma alavanca Cryer. A alavanca é colocada no alvéolo vazio e girada usando o princípio de roda e eixo. A ponta cortante da alavanca encaixa-se no cemento da raiz, que é elevada do alvéolo na direção oclusal. Se o osso inter-radicular for espesso, uma ou duas rotações com a alavanca de Cryer remove o osso, fazendo com que a alavanca se encaixe no cementodo dente na segunda ou na terceira rotação. Se o molar mandibular não tiver coroa, o procedimento inicia- se com o descolamento de um retalho em envelope e a remoção de uma pequena quantidade de osso alveolar. A broca é usada para dividir as duas raízes em componentes mesial e distal (Fig. 8-44, A). A alavanca reta pequena é usada para mobilizar e luxar a raiz mesial, que é liberada do alvéolo pela inserção da ala- vanca de Cryer no encaixe preparado pela broca (Fig. 8-44, B). A B C D E G F FIGURA 8-42 A, Este segundo molar decíduo não pode ser remo- vido pela técnica fechada devido à inclinação dos dentes adjacentes no nível do trajeto de remoção oclusal e na alta probabilidade de anquilose. B, Faz-se uma incisão em envelope que se estende desde dois dentes anteriores até um dente posterior ao segundo molar. C, Remove-se pequena quantidade de osso da crista alveolar, e o dente é seccionado com uma broca em duas partes. D, Usa-se uma alavanca reta pequena para luxar e liberar a porção mesial da coroa e a raiz mesial. E, A porção distal é luxada com uma alavanca reta pequena. F, O fórceps no 151 é usado para remover a parte restante do dente. G, A ferida é irrigada e o retalho reaproximado, com um fi o de sutura cat-gut nas papilas. CAPÍTULO 8 • Princípios de Exodontia mais Complexa 145 A B C A B C FIGURA 8-43 A, O método alternativo de seccionamento consiste em usar uma broca para remover a raiz mesial do primeiro molar. B, O fórceps no 178 prende a coroa do dente e remove a coroa e a raiz distal. C, Depois, a alavanca de Cryer é usada para remover a raiz mesial. A ponta da alavanca é inserida no alvéolo vazio da raiz distal e girada de acordo com o princípio de roda e eixo, com a extremidade cortante encaixada no osso interseptal e na raiz, elevando a raiz mesial do seu alvéolo. FIGURA 8-44 A, Quando a coroa do molar inferior não está presente devido à fratura ou à cárie, afasta-se pequeno retalho em envelope e remove-se pequena quantidade de osso da crista alveolar. Utiliza-se, então, a broca para seccionar o dente em duas raízes individuais. B, Após ter usado uma alavanca reta pequena para mobilizar as raízes, utiliza-se a alavanca de Cryer a fi m de elevar a raiz distal. A ponta da alavanca é colocada dentro de uma ranhura preparada pela broca, e a alavanca é girada para liberar a raiz. C, A outra alavanca do par de alavancas de Cryer é, então, usada para liberar a raiz remanescente, usando o mesmo tipo de movimento de rotação. 146 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA A alavanca de Cryer é girada do modo de roda e eixo, e a raiz mesial é liberada do alvéolo na direção oclusal. O instrumental oposto do par de alavancas de Cryer é inserido no alvéolo vazio e girado pelo osso inter-radicular para encaixar-se na raiz rema- nescente e liberá-la (Fig. 8-44, C). A extração de molares maxilares com raízes vestibular e pala- tina amplamente divergentes que exigem força excessiva durante a extração pode ser feita de forma mais cautelosa, dividindo-se a raiz em várias partes. Esses dentes trirradiculares devem ser divi- didos em um padrão diferente daqueles birradiculares, como os molares mandibulares. Se a coroa do dente está intacta, as duas raízes vestibulares são seccionadas do dente e a coroa, removida junto com a raiz palatina. Descola-se um retalho em envelope-padrão, e remove-se pe- quena quantidade de osso da crista alveolar para expor a área de trifurcação. Utiliza-se a broca para seccionar as raízes mesioves- tibular e distovestibular (Fig. 8-45, A). Com pressão oclusoves- tibular suave, mas fi rme, o fórceps para molar superior libera a coroa e a raiz palatina no sentido do longo eixo da raiz (Fig. 8-45, B). Não se deve fazer força na direção palatina com o fór- ceps próximo à coroa, pois isso resulta em fratura da raiz palati- na. Toda a força de extração deve ser na direção vestibular. Uma alavanca reta pequena é, então, usada para luxar as raízes ves- tibulares (Fig. 8-45, C), que podem, depois, ser removidas tan- to com uma alavanca de Cryer usada da maneira convencional (Fig. 8-45, D) como uma alavanca reta. Se o cirurgião usar ala- vancas retas, deve lembrar que o seio maxilar pode estar muito próximo dessas raízes, por isso a força na direção apical deve ser, mínima e cuidadosamente, controlada. A força total da alavanca reta deve ser na direção mesiodistal ou em direção ao palato, e apenas delicada pressão deve ser feita na direção apical. Se a coroa do molar maxilar estiver destruída ou fraturada, as raízes devem ser divididas em duas raízes vestibulares e uma raiz palatina. O mesmo método geral já descrito é usado. Um retalho em envelope é descolado e afastado com um destaca periósteo. Remove-se uma quantidade moderada de osso vestibular a fi m de expor o dente para seccionamento (Fig. 8-46, A). As raízes são dividas em duas raízes vestibulares e uma raiz palatina. Em seguida, as raízes são luxadas com uma alavanca reta e extraídas com alavancas de Cryer de acordo com a preferência do cirurgião (Fig. 8-46, B e C). Ocasionalmente, existe acesso sufi ciente para que um fórceps de raiz maxilar ou um universal superior possa ser usado e extrair as raízes independentemente (Fig. 8-46, D). Por fi m, extrai-se a raiz palatina após removerem-se as raízes A B C D FIGURA 8-45 A, Quando um molar maxilar precisa ser dividido para a realização de uma remoção criteriosa (p. ex., nos casos de grande divergência das raízes), realiza-se pequena incisão em envelope e remove-se pequena quantidade de osso. Isso permite que a broca seja usada para separar as raízes vestibulares da coroa e do dente. B, Depois, um fórceps para molares superiores é usado a fi m de remover a coroa do dente junto com a raiz palatina. O dente é liberado no sentido buco-oclusal, e não se faz pressão palatina, já que isso, provavelmente, causaria fratura da raiz palatina da porção da coroa. C, Uma alavanca reta é depois usada para mobilizar as raízes vestibulares e pode, ocasionalmente, ser utilizada para a extração dessas raízes. D, A alavanca de Cryer pode ser empregada da maneira usual, colocando-se a sua ponta dentro do alvéolo vazio e girando-a para liberar a raiz remanescente. CAPÍTULO 8 • Princípios de Exodontia mais Complexa 147 vestibulares. Uma alavanca reta pequena pode ser efi cientemente usada para isso, já que, nessa etapa, costuma haver muita perda de osso inter-radicular. A alavanca é forçada para baixo no espa- ço do ligamento periodontal, do lado palatino, com movimentos de deslocamento delicados e controlados, levando ao desloca- mento do dente na direção vestíbulo-oclusal (Fig. 8-46, E). Remoção de Fragmentos da Raiz e dos Ápices Radiculares Caso ocorra fratura do terço apical (3 a 4 mm) da raiz durante uma extração fechada, deve-se usar um procedimento metódico para remover o fragmento da raiz do alvéolo. As primeiras tenta- tivas devem ser para extrair o ápice pela técnica fechada, mas o cirurgião deve iniciar uma técnica cirúrgica caso a técnica fecha- da não tenha sucesso imediato. Qualquer que seja a técnica es- colhida, dois requisitos para a extração são de uma importância crítica: excelente iluminação e excelente sucção, de preferência com ponta aspiradora de pequeno diâmetro. É impossível remo- ver um pequeno fragmento de raiz sem que o cirurgião possa claramente visualizá-lo. É também importante que uma seringa de irrigação esteja disponível para sangue e detritos em volta da raiz, de modo que o fragmento possa ser visto com clareza. A técnica fechada para recuperação de fragmento radicular é defi nida como qualquer técnica que não necessite de retalho mu- coperióstico e remoção de osso. As técnicas fechadas são mais úteis quando o dente estava bem luxado e com mobilidade antes de ocorrer a fratura do ápice. Se houve luxação sufi ciente antesda fratura, o fragmento radicular ainda está móvel e pode ser re- movido pela técnica fechada. Porém, se o dente não estava com muita mobilidade antes da fratura, a técnica fechada terá menos sucesso. A técnica fechada é também menos provável de obter sucesso caso exista uma raiz com hipercementose ou com in- terferências ósseas que impeçam a extração do ápice radicular. Do mesmo modo, diversas dilacerações apicais também podem contraindicar o uso da técnica fechada. Uma vez ocorrida a fratura, o paciente deve ser reposicionado para que se consigam visualização (com iluminação adequada), irrigação e aspiração apropriadas. O alvéolo deve ser irrigado com vigor, e a sucção deve ser feita com pequena ponta aspira- dora, pois pequenos fragmentos dentários luxados podem, oca- sionalmente, ser removidos do alvéolo pela irrigação. Uma vez determinadas a irrigação e a sucção, o cirurgião deve examinar o alvéolo com cuidado para ver se a raiz foi removida. O dente extraído pode, também, ser examinado para ver quando o resto radicular foi deixado ou o quanto de raiz fi cou. Se a técnica de irrigação-sucção não surtir efeito, o passo seguinte consiste em movimentar o ápice luxado para fora do alvéolo com uma alavanca apical. Esse instrumento é delicado e, ao contrário da alavanca de Cryer, não pode ser usado para A B C D E FIGURA 8-46 A, Caso a coroa do molar superior tenha sido destruída por cárie ou fraturada nas raízes, pequena incisão em envelope é descolada e remove-se pequena quantidade de osso da crista alveolar. Depois, utiliza-se uma broca para dividir as três raízes em partes inde- pendentes. B, Após se terem luxado as raízes com uma alavanca reta pequena, extrai-se a raiz mesiovestibular com uma alavanca tipo Cryer colocada na ranhura preparada pela broca. C, Uma vez removida a raiz mesiovestibular, a alavanca de Cryer é usada, novamente, para extrair a raiz distovestibular. A ponta da alavanca de Cryer é colocada dentro do alvéolo vazio da raiz mesiovestibular e girada da maneira usual para extrair a raiz. D, O fórceps para raiz maxilar pode, ocasionalmente, ser usado para prender e extrair a raiz remanescente. Depois, a raiz palatina pode ser extraída com a alavanca reta ou com a alavanca de Cryer. A alavanca reta deve ser colocada entre a raiz e o osso palatino e, delicadamente, movimentada na tentativa de deslocar a raiz palatina no sentido vestíbulo-oclusal. E, A alavanca reta pode ser usada para elevar e deslocar uma raiz residual do terceiro molar maxilar no sentido vestíbulo-oclusal com uma delicada pressão de deslocamento. 148 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA remover osso e elevar raízes inteiras. A alavanca apical é inserida no espaço do ligamento periodontal e a raiz escavada é empur- rada para fora do alvéolo (Fig. 8-47). Não se deve aplicar força apical ou lateral excessivas na alavanca. A força apical excessi- va pode resultar em deslocamento do fragmento radicular para dentro de outras estruturas anatômicas, como o seio maxilar. A força lateral pode resultar em um encurvamento ou em fratura da extremidade desse tipo de alavanca. O ápice radicular também pode ser removido com a alavanca reta pequena. Essa técnica é mais frequentemente indicada para fragmentos maiores que para pequenas pontas de raiz. A técnica é semelhante àquela da alavanca para ápice, já que a alavanca reta pequena é introduzida no espaço do ligamento periodontal, onde age como uma cunha para liberar o fragmento dentário em direção ao plano oclusal (Fig. 8-48). Deve-se evitar pressão apical forte, o que pode forçar a raiz para o interior dos tecidos subjacentes. Isso é mais provável de ocorrer nas áreas de pré-molares e molares maxilares, onde essas raízes podem ser deslocadas para dentro do seio maxilar. Quando a alavanca reta é usada assim, a mão do cirurgião deve estar sempre apoiada em um dente adjacente ou em uma proeminência óssea. Esse apoio permite que o cirurgião libere com cuidado, com força contro- lada e diminui a possibilidade de deslocamento do fragmento dentário ou do instrumento para um lugar indesejado. O cirur- gião deve visualizar, claramente, o topo da raiz fraturada para poder ver o espaço do ligamento periodontal. A alavanca reta deve ser inserida nesse espaço e não simplesmente empurrada às cegas para o fundo do alvéolo. Se a técnica fechada não obtiver sucesso, o cirurgião deve substituí-la sem demora pela técnica aberta. É importante para o cirurgião reconhecer que a recuperação de um fragmento ra- dicular através de uma técnica aberta realizada de forma cui- dadosa, efi caz e correta é menos traumática que uma tentativa prolongada, inconveniente e frustrante de recuperação pela téc- nica fechada. São duas as técnicas abertas mais usadas para remover peque- nos fragmentos radiculares. A primeira consiste, basicamente, em uma extensão da técnica descrita para a remoção cirúrgica de dentes unirradiculares. Um retalho mucoperióstico é descolado e afastado com um destaca periósteo. O osso é removido com um cinzel ou uma broca para expor a superfície vestibular da raiz, liberada com uma alavanca reta pequena. A ferida é irrigada e o retalho é reposicionado e suturado (Fig. 8-49). Pode-se realizar uma modifi cação da técnica aberta descrita anteriormente para extrair o fragmento radicular sem remover toda a cortical óssea vestibular sobre o dente. Essa técnica é co- nhecida como técnica da janela aberta. Um retalho de tecidos moles é descolado da maneira usual, e a área apical do fragmento radicular é localizada. O osso sobre o ápice do dente é removido com uma broca, expondo o fragmento radicular. Em seguida, um instrumento é inserido na janela, e o dente é deslocado para fora do alvéolo (Fig. 8-50). É preferível usar a técnica de retalho triangular, já que há necessidade de maior exposição das áreas apicais. Tal técnica é particularmente indicada quando o osso da crista alveolar bucal deve ser preservado, um exemplo é remover os pré-molares ma- xilares para fi ns ortodônticos, especialmente em adultos. Critérios para Permanência de Fragmentos Radiculares Quando um ápice radicular fraturar, os métodos fechados de re- moção não tiverem êxito e um método aberto puder ser muito traumático, o cirurgião deve pensar em deixar a raiz no lugar. Como em qualquer outro procedimento cirúrgico, o cirurgião A B FIGURA 8-47 A, Quando uma pequena parte (2 a 4 mm) do ápice da raiz é fraturada, pode-se usar uma alavanca apical para removê- la. B, A ponta da alavanca é introduzida no espaço do ligamento periodontal e usada para luxar, cuidadosamente, o ápice radicular do alvéolo. A B FIGURA 8-48 A, Quando grande parte da raiz permanece no alvéo- lo após a extração do dente, pode-se, algumas vezes, usar pequena alavanca reta como cunha, para deslocar a raiz no sentido oclusal. É importante lembrar que a pressão aplicada deve ter movimentos de suaves deslocamentos; não se deve aplicar pressão excessiva. B, A pressão excessiva no sentido apical resulta em deslocamento da raiz para dentro de locais indesejáveis como o seio maxilar. CAPÍTULO 8 • Princípios de Exodontia mais Complexa 149 deve pesar os benefícios da cirurgia contra os riscos. Em algumas situações, os riscos de se remover um pequeno fragmento do ápice fraturado podem sobrepor-se aos benefícios. Devem existir três condições para que uma raiz seja deixa- da no processo alveolar. Primeira, o fragmento da raiz deve ser pequeno, em geral com não mais de 4 a 5 mm de comprimen- to. Segunda, a raiz deve estar, profundamente, inserida no osso e não superfi cial, para evitar que a reabsorção óssea posterior venha a expor a raiz, interferindo com a prótese que será cons- truída na área edêntula. Terceira, o dente envolvido deve estar livre de infecção e não deve apresentar áreas radiolúcidas ao re- dordo ápice radicular. Isso reduz a probabilidade de infecção subsequente decorrente do fato de se deixar a raiz no lugar. Se essas três condições estiverem presentes, deve-se considerar a possibilidade de deixar a raiz no processo alveolar. Para que o cirurgião deixe no lugar um fragmento de raiz pequeno, profundamente inserido no osso e não infectado, o risco da cirurgia deve ser maior que o seu benefício. O risco é considerado maior se houver uma das três condições a seguir. Primeira, o risco é bem maior se a remoção da raiz for causar destruição excessiva do tecido circunvizinho, isto é, caso seja necessário remover grande quantidade de osso para remover a raiz. Por exemplo, para se alcançar um pequeno fragmento de raiz palatina do primeiro molar da maxila, pode ser necessária a remoção de grande quantidade de osso. Segunda, o risco é muito maior se a remoção da raiz põe em risco estruturas importantes, geralmente o nervo alveolar infe- rior, tanto na área do forâmen mentoniano como ao longo do curso do canal. O cirurgião deve considerar, seriamente, a pos- sibilidade de deixar a raiz no processo alveolar se a remoção ci- rúrgica da raiz correr alto risco de uma anestesia permanente, ou mesmo temporária, do nervo alveolar inferior. Finalmente, o risco se sobrepõe ao benefício se as tentati- vas de remoção da raiz residual puderem deslocá-la para dentro dos espaços teciduais ou para dentro do seio maxilar. As raízes mais frequentemente deslocadas para o interior do seio maxilar são as dos molares maxilares. Se na radiografi a pré-operatória observa-se que a camada de osso sobre as raízes é delgada e que a separação entre o dente e o seio maxilar é pequena, o cirurgião cauteloso decidirá abandonar o pequeno fragmento de raiz em vez de correr o risco de deslocá-la para dentro do seio maxi- lar. Da mesma forma, as raízes do segundo e terceiro molares mandibulares podem ser deslocadas para o interior do espaço submandibular durante as tentativas de removê-las. Durante a remoção de qualquer fragmento de raiz, a pressão apical pode deslocar os dentes para dentro dos espaços teciduais ou para o interior do seio. Caso o cirurgião prefi ra deixar a raiz no lugar, deve seguir um rigoroso protocolo. O paciente deve ser informado de que, de acordo com o julgamento do cirurgião, deixar a raiz no lugar será menos arriscado que a cirurgia. Além disso, deve-se obter e manter nos registros do paciente uma documentação radiográfi - ca da presença e da posição do fragmento radicular. O fato de o paciente ter sido informado sobre a decisão de se deixar a raiz no lugar deve ser registrado em seu prontuário. Deve-se, também, fazer o controle do caso, convocando-se o paciente para acom- panhamento nos anos seguintes. Deve-se instruir o paciente para que contacte o cirurgião imediatamente, caso ocorra qualquer problema na área da raiz residual. EXTRAÇÕES MÚLTIPLAS Se for necessária a extração de múltiplos dentes em uma única consulta, devem-se fazer ligeiras modifi cações no procedimento rotineiro de extração, a fi m de facilitar uma transição suave do estado dentado para o edêntulo e garantir a reabilitação adequa- da com prótese removível ou fi xa. Essas modifi cações são discu- tidas nesta secção. Plano de Tratamento Na maioria das situações nas quais múltiplos dentes serão ex- traídos, um plano pré-cirúrgico referente à reabilitação oral dos dentes a serem removidos é necessário. Essa reabilitação consiste na colocação de uma prótese total ou parcial ou, tal- vez, a colocação de implantes múltiplos ou unitários. Antes de os dentes serem extraídos, o cirurgião e o dentista devem co- municar-se e estabelecer como será a intervenção pós-cirúrgica imediata. A discussão deve considerar a necessidade de alguma outra intervenção cirúrgica nos tecidos moles, como redução da tuberosidade e remoção de torus em áreas críticas. Se os im- plantes dentários são colocados um tempo depois da cirurgia, é desejável evitar desgaste ósseo e a compressão do alvéolo. Em algumas situações, os implantes podem ser colocados imedia- tamente quando os dentes são removidos, o que requer a pre- paração de um guia cirúrgico para o alinhamento apropriado dos implantes. A B FIGURA 8-49 A, Caso a raiz não possa ser recuperada pela téc- nica fechada, desloca-se um retalho dos tecidos moles e realiza-se com uma broca a remoção do osso que cobre a raiz. B, Em seguida, utiliza-se uma alavanca reta pequena para luxar a raiz no sentido vestibular. A alavanca é usada como cunha dentro do espaço do li- gamento periodontal. 150 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA Extrações Sequenciais A ordem em que múltiplos dentes são extraídos merece alguma discussão. Os dentes maxilares devem, em geral, ser extraídos antes por vários motivos. O primeiro deles é que uma técnica anestésica infi ltrativa tem início mais rápido, mas também de- saparece mais rapidamente; isso signifi ca que o cirurgião pode iniciar o procedimento cirúrgico logo após aplicar a injeção, e que a cirurgia não deve ser atrasada, pois a anestesia profunda se perde mais rapidamente na maxila. Além disso, os dentes ma- xilares devem ser removidos antes porque, durante o processo de extração, resíduos como porções de amálgama, coroas frag- mentadas e lascas de osso podem cair dentro do alvéolo vazio do dente inferior caso a cirurgia inferior tenha sido realizada antes. Além disso, o principal componente da remoção dos dentes ma- xilares é a força vestibular; ao contrário do que acontece nas extrações mandibulares, há pouca ou nenhuma força de tração vertical na remoção dos dentes maxilares. Por isso, as extrações maxilares são mais fáceis de ser executadas. A única desvanta- gem para a extração de dentes maxilares primeiramente é que, se a hemorragia da maxila não for controlada antes da extração dos dentes inferiores, ela pode interferir na visualização durante a cirurgia mandibular. A hemorragia não é, em geral, um problema de grande importância, já que a hemostasia costuma ser obtida em uma área antes de o cirurgião voltar a atenção para outra área cirúrgica, e o auxiliar cirúrgico deve manter o campo cirúrgico livre de sangue por meio de aspiração adequada. Geralmente, o procedimento se inicia com a extração de den- tes mais posteriores. Isso permite o uso mais efetivo das alavan- cas para luxar e mobilizar os dentes antes de se usar o fórceps para extraí-los. Os dentes molar e canino são os dois mais difíceis de ser removidos e devem ser extraídos por último. Remoção de dentes de ambos os lados enfraquece o osso alveolar dos lados mesial e distal desses dentes, tornando a extração posterior bem mais fácil. Em resumo, por exemplo, se todos os dentes dos quadrantes esquerdos maxilar e mandibular tiverem que sofrer extrações, a ordem recomendada é a seguinte: (1) dentes maxilares posterio- res, deixando o primeiro molar; (2) dentes maxilares anteriores, deixando o canino; (3) primeiro molar maxilar; (4) canino maxi- lar; (5) dentes posteriores inferiores, deixando o primeiro molar; (6) dentes anteriores inferiores, deixando o canino; (7) primeiro molar inferior; (8) canino inferior. Técnica para Extrações Múltiplas O procedimento cirúrgico para a extração de múltiplos dentes adjacentes tem ligeiras modifi cações. O primeiro passo para a remoção de um único dente consiste em descolar os tecidos mo- les inseridos ao redor do dente ao realizar extrações múltiplas, o descolamento dos tecidos é ligeiramente estendido até formar um pequeno retalho em envelope para expor a crista óssea alveo- lar (Fig. 8-51, A até C). Os dentes são luxados com uma alavanca reta (Fig. 8-51, D) e removidos com fórceps de maneira usual. A B C FIGURA 8-50 A, A técnica de abrir uma janela no osso para remover a raiz é indicada quando o osso da crista alveolar vestibular precisaser mantido. Um retalho triangular é descolado do osso para expor a área que cobre o ápice do fragmento radicular a ser removido. B, Em seguida, usa-se uma broca para descobrir o ápice da raiz e permitir acesso necessário à inserção da alavanca reta. C, Uma alavanca reta é, então, usada para deslocar o dente para fora do alvéolo. CAPÍTULO 8 • Princípios de Exodontia mais Complexa 151 Se a remoção de qualquer um dos dentes exigir força excessiva, o cirurgião deve remover pequena quantidade de osso vestibular para evitar fratura e perda óssea. Após concluídas as extrações, as corticais vestibular e lingual são pressionadas juntas com fi rme pressão. O tecido mole é repo- sicionado, e o cirurgião palpa o rebordo para determinar se exis- tem áreas de espículas ósseas cortantes. Se uma prótese total ou dentadura completa está planejada ou existam interferências ós- seas, a pinça goiva é usada para removê-las e uma lima para osso é utilizada para alisar as espiculas ósseas cortantes (Fig. 8-51, E e F). A área é abundantemente irrigada com soro fi siológico estéril. O tecido mole é examinado para verifi car se existe tecido de gra- nulação excessivo. Se existir, ele deve ser removido, porque sua presença pode prolongar a hemorragia pós-operatória. Em segui- da, o tecido mole é aproximado, e verifi ca-se que há excesso de FIGURA 8-51 A, Estes dentes remanescentes precisam ser extraídos. Observa-se ampla área de gengiva inserida em uma profundidade vesti- bular adequada. B, Após obtida a anestesia adequada, a inserção dos tecidos moles ao redor do dente é incisada com a lâmina no 15. A incisão é realizada ao redor do colo dos dentes e através da papila interdentária. C, O destaca periósteo é usado para descolar o tecido mole labial próximo à crista óssea alveolar labial. D, Uma alavanca reta pequena é usada para luxar os dentes antes da aplicação do fórceps. Observa-se que a mão oposta do cirurgião está afastando os tecidos moles e estabilizando a mandíbula. Os dentes adjacentes ao canino são extraídos primeiramente, o que torna a extração do canino remanescente muito fácil. gengiva. Se os dentes tiverem de ser removidos devido a uma do- ença periodontal grave com perda óssea, é comum que os tecidos moles se sobreponham causando um excesso de tecidos. Nessas situações, a gengiva deve ser aparada até não haver mais tecido sobreposto quando os tecidos são justapostos. Porém, se não há tecido em excesso, o cirurgião não deve tentar obter fechamento primário na área do alvéolo. Se isso for feito, a profundidade do vestíbulo diminui, o que pode interferir na confecção e no des- gaste da dentadura. Finalmente, as papilas são suturadas em posi- ção (Fig. 8-51, G). Suturas interrompidas e contínuas são usadas dependendo da preferência do cirurgião, planejando removê-las em cerca de uma semana (Fig. 8-51, H e I). Em alguns pacientes, é necessária uma alveoloplastia mais extensa após as extrações múltiplas. O Capítulo 13 apresenta uma discussão mais aprofundada dessa técnica. A B C D 152 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA FIGURA 8-51, cont. E, Pinças goivas são usadas para remover apenas o osso que está afi lado e que protrui por sobre o tecido mole que foi reaproximado. F, As corticais alveolares são comprimidas com fi rmeza, ao mesmo tempo, para restabelecer a largura vestíbulo-lingual pré-cirúrgica do processo alveolar. Devido à doença periodontal branda, há excesso de tecido mole, que deve ser aparado para evitar excesso de tecido na crista do rebordo. G, Depois que o tecido ósseo foi aparado e as projeções ósseas adelgaçadas, o tecido é verifi cado mais uma vez na fi nalização da cirurgia de tecido mole. O tecido é fechado com pontos interrompidos com seda preta pela papila, mas deixa o alvéolo dentário aberto. Tecido mole não é mobilizado para se conseguir um fechamento primário, porque isso tenderá a reduzir a altura do vestíbu- lo. H e I, Paciente retorna para remoção. Uma ampla faixa de tecido inserido permanece na crista de maneira similar a que existia na situação pré-operatória (ver Figura A). FE G H I 153 CAPÍTULO SUMÁRIO DO CAPÍTULO INDICAÇÕES PARA REMOÇÃO DE DENTES IMPACTADOS Prevenção de Doença Periodontal Prevenção de Cáries Dentárias Prevenção de Pericoronite Prevenção da Reabsorção Radicular Dentes Impactados sob Próteses Dentárias Prevenção de Cistos e Tumores Odontogênicos Tratamento de Dores sem Origem Aparente Prevenção de Fraturas Mandibulares Facilitação do Tratamento Ortodôntico Otimização da Saúde Periodontal CONTRAINDICAÇÕES PARA REMOÇÃO DE DENTES IMPACTADOS Extremos de Idade Condição Médica Comprometida Dano Excessivo às Estruturas Adjacentes Possível Sumário SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO DE DENTES IMPACTADOS Angulação Relação com a Margem Anterior do Ramo Relação com o Plano Oclusal Sumário MORFOLOGIA RADICULAR Tamanho do Saco Folicular Densidade do Osso Circunjacente Contato com o Segundo Molar Inferior Relação com o Nervo Alveolar Inferior Natureza do Tecido Suprajacente MODIFICAÇÃO DO SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO PARA DENTES MAXILARES IMPACTADOS REMOÇÃO DE OUTROS DENTES IMPACTADOS PROCEDIMENTO CIRÚRGICO MANEJO PERIOPERATÓRIO DO PACIENTE um dos pré-molares, geralmente o segundo pré-molar, manter- se-á não-erupcionado e tornar-se-á impactado ou erupcionará em posição vestibular ou lingual em relação ao arco dental. Como regra geral, todos os dentes impactados devem ser re- movidos a menos que esta remoção seja contraindicada. A exo- dontia deve ser realizada assim que o dentista determinar que o dente é impactado. A remoção de dentes impactados torna-se mais difícil com o avanço da idade. O dentista não deve reco- mendar que dentes impactados fi quem no local a menos que causem difi culdade. Se o dente é deixado no local até que pro- blemas apareçam, o paciente pode sofrer um aumento na inci- dência de morbidade tecidual local, perda ou dano de dentes e osso adjacentes, e lesão potencial a estruturas vitais adjacentes. Adicionalmente, se a remoção dos dentes impactados é adiada até que estes causem problemas mais tarde ao longo da vida, é muito provável que a cirurgia seja complicada e arriscada pelo fato de o paciente poder ter doenças sistêmicas comprometedo- ras e o osso circundante poder vir a ser mais denso. Uma regra fundamental da fi losofi a da odontologia é que problemas devem ser prevenidos. A odontologia preventiva dita que dentes impac- tados devem ser removidos antes que complicações apareçam, a menos que a remoção cause problemas mais sérios. Esse capítulo discute o tratamento de dentes impactados; porém, não é uma discussão completa e profunda de aspectos técnicos da remoção cirúrgica da impacção. Ao contrário, o obje- tivo é promover a informação necessária para o tratamento apro- priado e como base para prever a difi culdade da cirurgia. 9 Princípios do Tratamento de Dentes Impactados JAMES R. HUPP Um dente impactado é aquele que não conseguiu erupcionar na arcada dentária dentro do tempo esperado. Ele se torna impacta- do devido aos dentes adjacentes, recobrimento por osso denso, excesso de tecido mole, ou uma anormalidade genética que evita a erupção. Uma vez que os dentes impactados não erupcionam, são mantidos por toda a vida dos pacientes a menos que sejam removidos cirurgicamente ou expostos em virtude da reabsorção do tecido de recobrimento. O termo não-erupcionado inclui den- tes impactados e dentes que estão em processo de erupção. Os dentes normalmente tornam-se impactados devido ao ina- dequado comprimento dos arco dental e espaço em que erupcio- nam; ou seja, o comprimento total do arco ósseo alveolar é menor que o comprimento total do arco dental. Os dentes impactados mais comuns são os terceiros molares maxilares e mandibulares, seguidos pelos caninos maxilarese pré-molares mandibulares. Os terceiros molares, em geral, são os mais impactados porque são os últimos dentes a erupcionarem; consequentemente, são os mais sujeitos à impacção, por terem espaço inadequado para erupção. Na região anterior da maxila, o canino também é comumente impedido de erupcionar devido ao apinhamento de outros den- tes. Ele quase sempre erupciona após os incisivos laterais supe- riores e primeiro pré-molar superior. Se o espaço for inadequado para permitir a erupção do canino, este tornar-se-á impactado ou erupcionará labialmente no arco dental. Na região anterior da mandíbula uma situação similar afeta os pré-molares inferio- res, devido a estes erupcionarem após o primeiro molar e canino inferior. Entretanto, se o espaço para a erupção for inadequado, 154 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA INDICAÇÕES PARA REMOÇÃO DE DENTES IMPACTADOS Todos os dentes impactados devem ser considerados para remo- ção tão logo o diagnóstico seja feito. A idade média para com- pletar a erupção dos terceiros molares é 20 anos, entretanto, a erupção pode continuar até a idade de 25 anos. Durante o de- senvolvimento normal, o terceiro molar inferior começa a uma angulação horizontal; como o dente se desenvolve e a mandíbu- la cresce, a angulação muda de horizontal para mesioangular e para vertical. Falha na rotação mesioangular para direção verti- cal é a causa mais comum de os terceiros molares se tornarem impactados. O segundo maior fator é a dimensão mesiodistal do dente versus o comprimento da mandíbula, assim como o espaço inadequado existente no processo alveolar anterior em relação à margem anterior do ramo para permitir a erupção do dente em sua posição. Como mencionado anteriormente, alguns terceiros molares continuam a erupcionar depois dos 20 anos, particularmente em homens, chegando em sua posição fi nal aos 25 anos. Múltiplos fatores são associados à erupção continuada. Quando a erupção tardia ocorre, o dente não-erupcionado está quase sempre co- berto apenas por tecido mole ou de modo muito leve, por osso. Esses dentes estão quase sempre na posição vertical e são relati- vamente posicionados de forma superfi cial em relação ao plano oclusal do segundo molar adjacente, e o desenvolvimento com- pleto da raiz é tardio. Finalmente, e possivelmente o mais importante, existe a ne- cessidade de espaço sufi ciente entre a margem anterior do ramo e o segundo molar para permitir a erupção.1-2 Do mesmo modo, se o dente não erupciona depois dos 20 anos, o recobrimento com osso é mais provável. Em adição, possivelmente o dente está em impacção mesioangular e localizado abaixo do processo alveolar, próximo ao nível cervical do segundo molar adjacente. Por esta razão, o dentista pode usar esses parâmetros para predizer se o dente irá erupcionar no arco ou permanecerá impactado. A remoção precoce reduz a morbidade pós-operatória e per- mite uma melhor cicatrização.3-6 Pacientes jovens toleram bem o procedimento, recuperam-se mais rapidamente e com menos interferência em seus cotidianos. A saúde periodontal é melhor em pacientes jovens devido à melhor e mais completa regenera- ção dos tecidos periodontais distais ao segundo molar. Acontece o mesmo, na recuperação do nervo em pacientes jovens, quando lesionado. Além disso, o procedimento é mais fácil de ser rea- lizado em pacientes mais jovens porque o osso é menos denso e a formação da raiz está incompleta. O momento ideal para a remoção dos terceiros molares impactados é quando as raízes estão com 1/3 formado e antes de dois terços estarem formados, geralmente durante os últimos anos da adolescência, idade entre 17 e 20 anos. Se dentes impactados são deixados no processo alveolar, é altamente provável que resultarão em um ou mais de muitos problemas.7,8 Prevenção de Doença Periodontal Dentes erupcionados adjacentes a dentes impactados são predis- postos à doença periodontal (Figs. 9-1 e 9-2). A simples presen- ça de um terceiro molar inferior impactado reduz a quantidade de osso distal ao segundo molar adjacente. Devido à grande difi - culdade da superfície do dente ser mantida limpa em seu aspecto distal do último dente da arcada, os pacientes comumente têm infl amação gengival com migração apical da junção gengival na FIGURA 9-2 Radiografi as mostrando variações do terceiro molar inferior impactado contra o segundo molar, com grave perda óssea resul- tante de doença periodontal e do terceiro molar. FIGURA 9-1 Radiografi a do terceiro molar inferior impactado con- tra o segundo molar, com perda óssea resultante da presença do ter- ceiro molar. CAPÍTULO 9 • Princípios do Tratamento de Dentes Impactados 155 face distal do segundo molar. Mesmo com gengivite, as bacté- rias causadoras têm acesso a uma grande porção da superfície radicular, que resulta em formação radicular precocemente com- prometida pela periodontite. Pacientes com terceiros molares inferiores impactados frequentemente têm bolsas periodontais profundas na região distal do segundo molar, ainda que tenham profundidade sulcular normal no restante da boca. O problema periodontal acelerado que resulta da impacção do terceiro molar é especialmente sério na maxila. Assim como as bolsas periodontais se expandem apicalmente, elas começam a envolver a bifurcação distal do segundo molar superior. Isso ocorre relativamente cedo, acarretando avanços mais rápidos e sérios na doença periodontal. Em adição, o tratamento da doen- ça periodontal ao redor do segundo molar superior é mais difícil devido ao envolvimento da bifurcação distal. Pela remoção precoce de terceiros molares impactados, a do- ença periodontal pode ser prevenida e a probabilidade de reparo ósseo e preenchimento ósseo ideal na área previamente ocupada pela coroa do dente é maior.4-6 Prevenção de Cáries Dentárias Quando um terceiro molar está impactado ou parcialmente im- pactado, a região distal do segundo molar pode ser exposta a bactérias que causam a cárie dentária. Igualmente, em situações onde nenhuma comunicação óbvia entre a boca e o dente im- pactado exista, essa poderá ser uma comunicação sufi ciente para permitir o início da cárie (Figs. 9-3 a 9-5). Prevenção de Pericoronite Quando a raiz está parcialmente impactada com grande quanti- dade de tecido mole em excesso na superfície axial e oclusal, o paciente frequentemente tem um ou mais episódios de pericoro- nite.9 Esta é uma infecção do tecido mole que circunda a coroa de um dente parcialmente impactado e é quase sempre causada pela fl ora oral normal. Para a maioria dos pacientes as bactérias e as defesas do hospedeiro mantêm uma harmonia delicada, mas esse equilíbrio normal das defesas do hospedeiro não pode ser eliminado por bactérias (Fig. 9-6). Se as defesas do hospedeiro estão comprometidas (p. ex., durante uma doença simples, como gripe ou uma infecção das vias aéreas superiores, ou em decorrência de drogas imunocom- prometedoras), a infecção pode ocorrer. Deste modo, apesar de o dente impactado ter estado presente por algum tempo sem infecção, se o paciente sentir uma redução das defesas do hos- pedeiro, mesmo que branda e transitória, comumente resultará FIGURA 9-3 Radiografi a de cárie no segundo molar inferior resul- tante da presença do terceiro molar impactado. FIGURA 9-4 Radiografi a de cárie no molar inferior impactado. FIGURA 9-5 Radiografi a de cárie no terceiro molar impactado e no segundo molar. FIGURA 9-6 Pericoronite na área do dente 48 impactado exibindo sinais clássicos da infl amação com eritema e edema. Se o dente 18 estiver erupcionado, comumente serão encontradas marcas nessa área de edema quando os dentes forem levados à oclusão, causando assim mais dor e edema. 156 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA em pericoronite e poderá ter consequência mesmo sem nenhum problemaimunológico. A pericoronite também pode aparecer seguida de traumas menores causados por um terceiro molar superior. O tecido mole que recobre a superfície oclusal de um terceiro molar inferior parcialmente erupcionado (conhecido como opérculo) pode ser traumatizado e tornar-se intumescido. Frequentemente o tercei- ro molar superior favorece o trauma no opérculo já aumentado e, além disso, causa um aumento do edema, que agora pode ser traumatizado com mais facilidade. Esse ciclo de trauma e edema é frequentemente interrompido somente pela remoção do tercei- ro molar superior. Outra causa comum de pericoronite é o acúmulo de comi- da embaixo do opérculo. Durante a alimentação, fragmentos de comida podem se alojar na bolsa entre o opérculo e o dente im- pactado. Por essa bolsa não poder ser limpa, as bactérias a colo- nizam e resultam em pericoronite. Estreptococos e uma grande variedade de bactérias anaeróbias (bactérias que habitam, usualmente, o sulco gengival) causam pericoronite. A pericoronite pode ser inicialmente tratada por limpeza mecânica da bolsa periodontal que existe embaixo do opérculo com uma solução para irrigação com peróxido de hidro- gênio. Este de forma mecânica não somente remove as bactérias com uma ação espumante, mas também reduz o número de bac- térias anaeróbias pela liberação de oxigênio dentro de uma bolsa que quase sempre apresenta um envolvimento anaeróbio. Outras soluções irrigantes, assim como clorexidina e iodóforos, também podem reduzir a contagem de bactérias na bolsa. Até mesmo a solução salina, quando aplicada com pressão, com uma seringa, pode reduzir o número de bactérias e limpar detritos de comida. A pericoronite pode se apresentar como uma infecção mo- derada ou grave que requer hospitalização do paciente. Assim como a intensidade da infecção varia, o tratamento e a conduta desse problema variam de moderado a agressivo. Em sua forma moderada, a pericoronite é um edema tecidual localizado e doloroso. Para pacientes com infecção moderada, a irrigação e a curetagem pelo dentista, e algumas irrigações casei- ras pelo próprio paciente, quase sempre são sufi cientes. Numa infecção ligeiramente mais grave com uma grande quantidade de edema tecidual local traumatizado pelo terceiro molar superior, o dentista deve considerar, imediatamente, a ex- tração do terceiro molar superior em adição à irrigação local. Para pacientes que têm (em adição ao edema local e dor) ede- ma facial moderado, trismo moderado resultando da infl amação que se estendeu no interior dos músculos da mastigação, ou um baixo grau de febre, o dentista deve considerar a administração de um antibiótico, juntamente com a irrigação aplicada sob pres- são, e a extração. O antibiótico de escolha é a penicilina ou, em casos de alergia a esta, a clindamicina. A pericoronite pode levar a sérias infecções dos espaços fas- ciais. Em virtude de a infecção começar na região posterior da boca, ela pode se difundir rapidamente nos espaços fasciais do ramo mandibular e lateral do pescoço. Se um paciente possui trismo (com uma inabilidade de abrir a boca de mais de 20 mm), a temperatura superior a 38°C, edema facial, dor e mal-estar, o paciente deve ser acompanhado a um cirurgião oral e maxilofa- cial, que esteja apto a internar o paciente no hospital para admi- nistração de antibiótico parenteral e monitoramento cuidadoso. Pacientes que tenham tido um episódio de pericoronite, mes- mo que tratados com sucesso por esses métodos, são altamente propensos a continuar a apresentar episódios de pericoronite, a menos que o terceiro molar inferior lesionado seja removido. O paciente deve ser informado de que o dente deve ser removido o mais breve possível a fi m de prevenir a recorrência da infec- ção. Entretanto, o terceiro molar inferior não deve ser retirado até que os sinais e sintomas de pericoronite tenham se resolvido completamente. A incidência de complicações pós-operatórias, especifi camente alveolite e infecção pós-operatória, aumenta se o dente for removido durante o período de atividade da infec- ção do tecido mole. Maior sangramento e cicatrização mais lenta também podem ocorrer quando um dente é extraído diante de uma pericoronite. A prevenção da pericoronite pode ser alcançada pela remo- ção de terceiros molares impactados antes que eles atravessem a mucosa oral e se tornem visíveis. Embora a excisão do tecido mole circunjacente, ou operculectomia, tenha sido defendida como um método para a prevenção da pericoronite sem a remo- ção do dente impactado, é doloroso e quase sempre inefi caz. O excesso de tecido mole tende a voltar porque ele recobre o dente impactado e causa crescimento do opérculo. A bolsa gengival distal também se mantém profunda depois da operculectomia. O envolvimento da maioria dos casos de pericoronite pode ser prevenida somente com a extração do dente. Prevenção da Reabsorção Radicular Ocasionalmente, um dente impactado causa pressão sufi ciente na raiz de um dente adjacente a ponto de causar reabsorção (Fig. 9-7). Apesar de o processo que ocorre na reabsorção radicular não ser bem defi nido, este aparenta ser similar ao processo de reabsorção dos dentes decíduos sofrido durante o processo erup- tivo de sucessão dos dentes. A remoção de dentes impactados pode resultar no salvamento de dentes adjacentes pela reparação do cemento. A terapia endodôntica pode ser requerida para sal- var esses dentes. Dentes Impactados sob Próteses Dentárias Quando um paciente tem uma área edêntula restaurada, existem muitas razões para que os dentes impactados nessa área sejam removidos antes que aparelhos protéticos sejam construídos. Após a extração dos dentes, o processo alveolar vagarosamente sofre reabsorção. Isso é particularmente verdadeiro com próte- ses mucossuportadas. Deste modo, o dente impactado torna-se próximo da superfície do osso, dando aparência de erupção. A dentadura pode comprimir o tecido mole contra o dente impac- tado, que já não está muito coberto com osso; o resultado é uma ulceração do tecido mole de recobrimento e o início de uma in- fecção odontogênica (Fig. 9-8). Dentes impactados devem ser removidos antes que uma pró- tese seja confeccionada, porque se o dente impactado for remo- vido após a confecção, o processo alveolar poderá ser alterado pela extração e a prótese tornar-se-á sem atrativos e menos fun- cional (Fig. 9-9). Em adição, se a remoção do dente impactado em áreas edêntulas é realizada antes de a prótese ser confeccio- nada, o paciente estará, provavelmente, com uma boa condição física. Esperar até que o osso de recobrimento tenha reabsorvido e ocorra ulceração com infecção, resulta em uma situação não favorável para a extração. Caso a extração seja adiada, deve-se lembrar que o paciente estará mais velho e terá, provavelmente, uma saúde mais pobre. Além disso, a mandíbula poderá ter se tornado atrófi ca, o que aumenta a possibilidade de fratura durante a extração do dente (Fig. 9-10). Caso sejam planejados implantes próximos à posi- ção do dente impactado, a remoção será justifi cada a fi m de eli- minar o risco de interferência no procedimento de implantação. Prevenção de Cistos e Tumores Odontogênicos Quando o dente impactado está completamente retido no pro- cesso alveolar, o saco folicular associado quase sempre também CAPÍTULO 9 • Princípios do Tratamento de Dentes Impactados 157 está retido. Apesar de na maioria dos pacientes o folículo dental se manter em seu tamanho original, ele poderá sofrer degenera- ção cística e tornar-se um cisto dentígero ou um ceratocisto. Se o paciente estiver sendo acompanhado de perto, o dentista poderá diagnosticar o cisto antes de atingir grandes proporções (Fig. 9-11). Todavia, cistos não monitorados podem atingir tamanhos enormes (Fig. 9-12). Como regra geral, se o espaçofolicular em volta da coroa do dente é superior a 3 mm, o diagnóstico pré- operatório de cisto dentígero é aceitável. Da mesma forma que os cistos odontogênicos podem aparecer em volta dos dentes impactados, os tumores odontogênicos po- dem se originar do epitélio contido no folículo dental. O tumor odontogênico mais comum de ocorrer nessa região é o ameloblas- toma. Usualmente, o ameloblastoma nessa área deve ser agressi- vamente tratado por excisão do tecido mole de recobrimento e, no mínimo, uma porção da mandíbula. Ocasionalmente, outros tumores odontogênicos podem ocorrer em conjunto com dentes impactados (Fig. 9-13). Apesar de em todas as áreas a incidência de cistos e tumores odontogênicos em volta da coroa de dentes impactados não ser alta,10 a esmagadora maioria de condições patológicas de tercei- ros molares inferiores é associada a dentes não-erupcionados. Portanto, é recomendado que dentes impactados sejam removi- dos para que se previna a ocorrência de cistos e tumores. Tratamento de Dores sem Origem Aparente Ocasionalmente, pacientes vêm ao dentista queixando-se de dor na região retromolar da mandíbula sem nenhuma razão óbvia. Se condições como dor e disfunção miofascial e outros distúrbios de dores faciais forem excluídos e se o paciente tiver um dente não-erupcionado, a remoção do dente, às vezes, resultará na re- solução da dor. Prevenção de Fraturas Mandibulares Um terceiro molar impactado na mandíbula ocupa o espaço que usualmente seria ocupado por osso. Essa redução da mandíbula confere maior susceptibilidade à fratura no local do dente im- pactado (Fig. 9-14). Se a fratura mandibular se encontra através da área do terceiro molar impactado, este é, usualmente, remo- vido antes de a fratura ser reduzida e a fi xação intermaxilar é aplicada (Cap. 24). Facilitação do Tratamento Ortodôntico Quando pacientes necessitam de retração do primeiro ou segun- do molar por técnicas ortodônticas, a presença de terceiro molar impactado pode interferir no tratamento. Consequentemente, recomenda-se a remoção do terceiro molar antes que o tratamen- to ortodôntico seja iniciado.11,22 Alguns tratamentos ortodônticos para má oclusão benefi - ciam-se da colocação de implantes retromolares para fornecer ancoragem distal. Quando isso é planejado, a remoção do tercei- ro molar inferior é necessária. Otimização da Saúde Periodontal Como mencionado anteriormente, uma das mais importantes indicações para a remoção de terceiros molares impactados é na preservação da saúde periodontal do segundo molar adjacente. Grande parte de atenção tem sido dada aos dois parâmetros pri- mários da saúde periodontal após a cirurgia de terceiro molar, isto é, altura óssea e nível de inserção periodontal na face distal do segundo molar. Estudos recentes têm fornecido informações sobre os prin- cípios fundamentais dos indícios da saúde ideal do tecido periodontal.13-15 Os dois fatores mais importantes têm sido de- monstrados: extensão do defeito infraósseo pré-operatório na face distal do segundo molar e a idade do paciente no momento da cirurgia. Se uma grande quantidade de osso distal é perdida em virtude da presença de um dente impactado e do folículo associado, é menos provável que a bolsa infraóssea possa ser re- duzida. Do mesmo modo, se o paciente é mais velho, também é provável que a cicatrização óssea ideal diminua. Pacientes cujos terceiros molares sejam removidos antes dos 25 anos de idade têm, provavelmente, melhor reparação óssea que aqueles cujos dentes impactados são removidos após os 25 anos. Em pacientes B A FIGURA 9-7 A, Reabsorção radicular do segundo molar como re- sultado do terceiro molar impactado. B, Reabsorção radicular do in- cisivo lateral superior como resultado do canino impactado. 158 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA FIGURA 9-8 Dente impactado retido sob dentadura. O dente está, agora, na superfície e está causando infecção. FIGURA 9-9 Dente impactado sob ponte fi xa. O dente deve ser removido e, por esta razão, pode prejudicar a ponte. FIGURA 9-10 Impacção em mandíbula atrófi ca, que pode resultar em fratura mandibular durante a extração. FIGURA 9-11 Pequeno cisto dentígero aparecendo em volta do dente impactado. FIGURA 9-12 Grande cisto dentígero que se estende do processo coronóide até o forame mentual. O cisto causou o deslocamento do terceiro molar impactado para a margem inferior da mandíbula. CAPÍTULO 9 • Princípios do Tratamento de Dentes Impactados 159 mais jovens, não somente a saúde periodontal inicial é melhor mas, a longo prazo, a regeneração contínua do periodonto é cla- ramente melhor.14 Como mencionado previamente, dentes não-irrompidos po- dem continuar a erupcionar até os 25 anos. Em virtude de a porção terminal do processo de erupção ocorrer lentamente, a chance de desenvolver pericoronite aumenta e, então, põe fi m ao contato entre o terceiro e o segundo molares. Ambos os fatores reduzem a possibilidade de saúde periodontal ideal. Entretanto, deve ser notado que terceiros molares impactados assintomáti- cos completamente intraósseos em pacientes com mais de 30 anos não devem ser extraídos a menos que se desenvolva alguma condição patológica específi ca. A remoção de terceiros molares impactados completamente assintomáticos em pacientes mais idosos resulta, de forma bastante clara, em bolsas profundas e perda de osso alveolar, que são maiores em relação ao dente que é deixado no lugar. CONTRAINDICAÇÕES PARA REMOÇÃO DE DENTES IMPACTADOS Todos os dentes impactados devem ser removidos a menos que contraindicações específi cas justifi quem deixá-los na posição em que se encontram. Quando o potencial de benefício é maior que o potencial de complicações e riscos, o procedimento deve ser realizado. Similarmente, quando os riscos são maiores que o po- tencial de benefícios, o procedimento deve ser adiado. Contraindicações para a remoção de terceiros molares envol- vem, primariamente, a condição física do paciente. Extremos de Idade O germe dos terceiros molares pode ser visualizado radiografi ca- mente na idade de 6 anos. Alguns cirurgiões pensam que a remo- ção do germe dentário na idade entre 7 e 9 anos de idade pode ser realizada com morbidade cirúrgica mínima e, por essa razão, pode ser executada ainda nessa idade. Entretanto, a maioria dos cirurgiões acredita que não é possível predizer exatamente se o terceiro molar em formação será impactado. O consenso é que a remoção muito precoce de terceiros molares deve ser adiada até que um correto diagnóstico de impacção possa ser feito. A contraindicação mais comum para a remoção de dentes im- pactados é a idade avançada. Como a idade dos pacientes, o osso torna-se altamente calcifi cado e, dessa forma, menos fl exível e menos provável de se submeter a forças na extração do dente. O resultado é que mais osso deve ser removido cirurgicamente para deslocar o dente do seu alvéolo. De modo semelhante, de acordo com a idade dos pacientes, eles respondem menos favoravelmente e com mais sequelas pós- operatórias. Um paciente de 18 anos de idade pode ter 1 ou 2 dias de desconforto e edema após a remoção de um dente impac- tado, enquanto que um procedimento similar pode resultar em 4 ou 5 dias de recuperação para um paciente de 50 anos de idade. Finalmente, se o dente tem estado retido no processo alveo- lar por muitos anos sem doença periodontal, cárie ou degenera- ção cística, é improvável que essas sequelas adversas ocorrerão. Entretanto, em pacientes mais velhos (usualmente com mais de 35 anos) e com um dente impactado que não demonstrem ne- nhum sinal de doença e que têm, radiografi camente, uma ca- mada detectável de recobrimento ósseo, o dente não deve ser removido (Fig. 9-15). O dentista cuidadoso com seu paciente deve checar o dente impactado radiografi camentea cada 1 ou 2 anos para assegurar que nenhuma consequência adversa ocorra. Se o dente impactado mostra sinais de formação cística ou doença periodontal envolvendo o dente adjacente ou o dente impactado, se um único dente impactado embaixo de uma pró- tese com fi no osso de recobrimento, ou se tornam sintomáticos como resultado de infecção, o dente deve ser removido. FIGURA 9-14 Fratura de mandíbula que ocorreu em virtude da localização do terceiro molar inferior. FIGURA 9-13 Ameloblastoma associado à coroa do terceiro molar impactado. (Cortesia do Dr. Frances Gordy.) FIGURA 9-15 Terceiro molar superior direito impactado em um paciente de 63 anos de idade. Este molar não deve ser extraído por- que está profundamente posicionado e não estão presentes sinais de doença. 160 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA Condição Médica Comprometida A condição médica comprometida pode contraindicar a remo- ção de dentes impactados. Frequentemente, a condição médi- ca comprometida e a idade avançada andam em conjunto. Se o dente impactado é assintomático, a remoção cirúrgica deve ser vista como eletiva. Caso a função cardiovascular ou respiratória do paciente ou a defesa do hospedeiro para combater infecção estejam seriamente comprometidas ou, caso o paciente tenha sé- rias coagulopatias adquiridas ou congênitas, o cirurgião deverá considerar deixar o dente no processo alveolar. Entretanto, se o dente se torna sintomático, o cirurgião deve pensar em trabalhar com o médico do paciente para planejar a remoção do dente com o mínimo de sequelas médicas pós-operatórias. Dano Excessivo às Estruturas Adjacentes Possível Se o dente impactado encontra-se em uma área onde sua remo- ção possa arriscar seriamente nervos adjacentes, dentes, ou pon- tes protéticas previamente construídas, pode ser prudente deixar o dente no seu local. Quando o dentista toma a decisão de não remover um dente, razões devem pesar contra o potencial de futuras complicações. Para pacientes jovens que possam sofrer as sequelas de dentes impactados, pode ser compreensiva a re- moção do dente enquanto são tomadas medidas especiais para prevenir dano às estruturas adjacentes. Entretanto, para pacien- tes mais idosos com nenhum sinal iminente de complicações, e ao qual a probabilidade de alguma complicação é baixa, o dente impactado não deve ser removido. Um exemplo clássico de um caso de pacientes mais idosos com um forte potencial de defeito periodontal na face distal do germe do segundo molar, é aque- le onde a remoção do terceiro molar resultaria, certamente, na perda do segundo molar. Nessa situação o dente impactado não deve ser removido. Sumário A discussão precedente de indicações e contraindicações para a remoção de terceiros molares impactados tem sido intencional para chamar a atenção de que existem vários riscos e benefícios para a remoção de dentes impactados em pacientes. Pacientes que têm um ou mais sintomas patológicos ou problemas devem ter seus dentes impactados removidos. A maioria dos sintomáticos, problemas patológicos que resultam de terceiros molares impacta- dos, ocorrem em decorrência de dentes parcialmente impactados e, com menos frequência com uma completa impacção óssea. Menos claramente é o que deve ser feito com dentes impac- tados antes que eles causem sintomas ou problemas. Na toma- da de decisão de como um terceiro molar deve ser removido, deve-se considerar uma variedade de fatores. Primeiro, o espaço disponível no arco no qual o dente possa erupcionar deve ser considerado. Se o espaço adequado existe, então o clínico pode optar por adiar a remoção até a completa erupção. Uma segun- da consideração é a condição do dente impactado e a idade do paciente. É crucial lembrar que a média de idade de completa erupção é de 20 anos, mas a erupção pode continuar a ocorrer além dos 25 anos. Um dente que aparece numa impacção mesio- angular aos 17 anos pode, eventualmente, erupcionar na boca. Se existe espaço insufi ciente para acomodar o dente e o opérculo de tecido mole há na face posterior, então as sequelas patológicas provavelmente ocorreram. Apesar de haver alguns aspectos para fazer prognóstico muito precoce de quando o dente tornar-se-á impactado, essas tentati- vas não têm, ainda, resultado em um modelo preditivo confi ável. Entretanto, até lá o paciente que atinge 18 anos, o dentista pode, sensatamente, predizer se existirá espaço adequado em que o dente possa erupcionar com sufi ciente espaço livre na parte an- terior do ramo a fi m de prevenir a formação do opérculo de teci- do mole. Desta vez, se a remoção cirúrgica é escolhida, a cicatri- zação de tecido mole e tecido ósseo ocorrerão em nível máximo. Entre 18 ou 19 anos, se o diagnóstico de espaço inadequado para erupção funcional for obtido, então o terceiro molar assintomáti- co poderá ser removido e a saúde periodontal, a longo prazo, do segundo molar será maximizada. SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO DE DENTES IMPACTADOS A remoção de dentes impactados pode ser relativamente fácil ou extremamente difícil, mesmo para cirurgiões experientes. Para determinar o grau de difi culdade pré-operatória, o cirur- gião pode examinar circunstâncias clínicas de forma metódica. O fator primário determinante de difi culdade de remoção é a acessibilidade. Esta é determinada pelo dente adjacente ou ou- tras estruturas que estejam prejudicando o acesso ou o trajeto de remoção, e a facilidade de exposição do dente, de preparação do trajeto para a remoção, e preparação ou uso da vantagem do ponto de apoio pré-existente. Com a cuidadosa classifi cação de dentes impactados usando uma variedade de sistemas, o cirur- gião pode se aproximar da cirurgia prevista com um prognóstico anterior caso alguma abordagem cirúrgica extraordinária seja necessária ou se o paciente poderá enfrentar problemas pós- operatórios verdadeiros. A maioria dos esquemas de classifi cação é baseada na análise de radiografi as. A radiografi a panorâmica mostra a imagem mais acurada da anatomia total da região e é a escolha para o plane- jamento de terceiros molares impactados. Em algumas circuns- tâncias uma radiografi a periapical bem posicionada é adequada, desde que a maior parte do dente impactado esteja visível junto à importante anatomia adjacente. Quando as raízes de terceiros molares inferiores aparecem muito próximas ou sobrepostas ao canal alveolar inferior na radiografi a panorâmica, uma tomogra- fi a computadorizada (TC) cone-beam pode ser útil. Essa técnica de imagem pode, verdadeiramente, mostrar a relação das raízes e do canal. Para cada paciente o cirurgião deve analisar cuidadosamente os fatores discutidos nessa seção. Com a associação desses fato- res, o dentista pode avaliar a difi culdade da cirurgia e escolher o dente impactado a ser extraído dentro do seu grau de habilidade. Entretanto, para o bem-estar do paciente e para a tranquilidade do dentista, o primeiro deve ser referenciado a um especialista se o dente apresentar uma situação de difi culdade cirúrgica ou o den- tista não puder oferecer controle ideal da dor e da ansiedade. Angulação O sistema de classifi cação mais comumente utilizado com rela- ção ao plano de tratamento usa a determinação da angulação do longo eixo do terceiro molar impactado, tendo como referência o longo eixo do terceiro molar adjacente. Dentes com certas in- clinações têm trajetos feitos para a remoção, ao passo que tra- jetos de dentes com outras inclinações requerem a remoção de quantidades substanciais de osso. Esse sistema de classifi cação promove uma avaliação inicial da difi culdade das extrações, mas isso não é sufi ciente para defi nir, sozinho, a difi culdade da re- moção do molar. A impacção geralmente conhecida como a que possui mí- nima difi culdade de impacção para remoção é a mesioangular, particularmentequando parcialmente impactado (Fig. 9-16). O dente impactado de modo mesioangular é inclinado em direção CAPÍTULO 9 • Princípios do Tratamento de Dentes Impactados 161 ao segundo molar, numa direção mesial. Esse tipo de impacção é visto com mais frequência, compondo aproximadamente 43% de todos os dentes impactados. Quando o longo eixo do terceiro molar é perpendicular ao segundo molar, o dente impactado é considerado horizontal (Fig. 9-17). Esse tipo de impacção usualmente é considerado de maior difi culdade para remover em se comparando com a impacção mesioangular. Impacções horizontais ocorrem menos frequentemente, sendo vistas em aproximadamente 3% de todas as impacções mandibulares. Na impacção vertical, o longo eixo de dentes impactados posiciona-se paralelo ao longo eixo do segundo molar. Essa im- pacção é a segunda mais frequente, contabilizando aproximada- mente 38% de todas as impacções, e é a terceira em difi culdade de remoção (Fig. 9-18). Finalmente, a impacção distoangular é aquela que possui o dente com angulação mais difícil para remoção (Fig. 9-19). Neste tipo de impacção o longo eixo do terceiro molar é distal ou posteriormente angulado distante do segundo molar. A im- pacção é a mais difícil de remover em virtude de o dente ter um trajeto de retirada que corre por dentro do ramo mandibular, requerendo esta remoção uma intervenção cirúrgica signifi can- te. Impacções distoangulares raramente ocorrem e contam com somente 6% de todos os terceiros molares impactados. Terceiros molares erupcionados podem estar numa posição distoangular. Quando isso ocorre, eles são muito mais difíceis de remover que outros dentes erupcionados. A razão é que as raízes dos terceiros molares estão muito próximas das raízes do segundo molar. Em adição à relação entre a angulação do longo eixo dos segundo e terceiro molares, os dentes também podem ser an- gulados na direção vestibular, lingual ou palatina. Quando abordamos terceiros molares inferiores, a possível presença da alta proximidade do nervo lingual ainda mantém apropriada a abordagem vestibular, mesmo que o dente esteja inclinado em direção lingual. Raramente um dente está em impacção transversal, isto é, numa posição absolutamente horizontal na direção vestíbulo- lingual. A superfície oclusal do dente pode se apresentar na direção vestibular ou lingual. Para determinar acuradamente a versão vestibular ou lingual, o dentista deve usar um fi lme oclu- sal perpendicular. Entretanto, essa determinação quase nunca é necessária, visto que o cirurgião pode ter essa identifi cação FIGURA 9-17 A, A impacção horizontal — incomum e mais difícil de remover que a impacção mesioangular. B, A superfície oclusal do ter- ceiro molar impactado está quase sempre imediatamente adjacente à raiz do segundo molar, que com frequência produz doença periodontal precoce e grave. A B A B FIGURA 9-16 A, Impacção mesioangular — a mais comum e mais fácil impacção de remover. B, A impacção mesioangular usualmente está na proximidade do segundo molar. 162 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA precocemente na operação e a posição vestibular ou lingual do dente não infl uencia muito no acesso cirúrgico. Relação com a Margem Anterior do Ramo Outro método para classifi car terceiros molares impactados está baseado na quantidade de dente impactado que está coberta com osso no ramo mandibular. Essa classifi cação é conhecida como a classifi cação de Pell e Gregory e, algumas vezes, são atribuídas as classes 1, 2 e 3 de Pell e Gregory. Para esta classifi cação é impor- tante que o cirurgião examine cuidadosamente a relação entre o dente e a parte anterior do ramo. Se o diâmetro mesiodistal da coroa estiver completamente anterior à margem anterior do ramo mandibular, essa será uma relação classe 1. Se o dente estiver an- gulado numa direção vertical, as chances de o dente erupcionar na posição normal serão boas se a formação radicular estiver in- completa (Fig. 9-20). Se o dente estiver posicionado posteriormente de maneira que aproximadamente metade esteja coberta pelo ramo, a rela- ção do dente com o ramo será classe 2. Nas situações de classe 2 o dente não pode erupcionar completamente livre para fora do osso além da coroa e da face distal devido a uma pequena saliência de osso posicionado na porção distal do dente (Fig. 9-21). A relação classe 3 entre o dente e o ramo ocorre quando o primeiro é completamente localizado dentro do ramo mandi- bular (Fig. 9-22). Obviamente, a relação classe 1 promove maior acessibilidade ao dente impactado e, consequentemente, o dente torna-se mais fácil de remover. A relação classe 3 promove a pior acessibilidade e, por conseguinte, apresenta também a maior di- fi culdade. Relação com o Plano Oclusal A profundidade do dente impactado, comparada à altura do se- gundo molar adjacente, fornece o próximo sistema de classifi ca- ção para determinar a difi culdade da remoção da impacção. Esse sistema de classifi cação também era sugerido por Pell e Gregory e é chamado de classifi cação de Pell e Gregory A, B e C. Nessa clas- sifi cação o grau de difi culdade é medido pela espessura do osso de recobrimento, isto é, o grau de difi culdade aumenta quando a profundidade do dente impactado também aumenta. Como o dente torna-se menos acessível, também se torna mais difícil de A B A B FIGURA 9-19 A, Impacção distoangular — incomum e a mais difícil dos quatro tipos para remover. B, Superfície oclusal da impacção dis- toangular em geral está localizada no interior do ramo da mandíbula e exige remoção signifi cativa de osso para a remoção. FIGURA 9-18 A, Impacção vertical — segunda impacção mais comum e segunda mais difícil de remover. B, Impacção vertical é frequente- mente recoberta na face posterior com osso da parte anterior do ramo da mandíbula. CAPÍTULO 9 • Princípios do Tratamento de Dentes Impactados 163 seccioná-lo e de preparar o ponto de apoio, além de aumentar substancialmente a difi culdade da operação. Uma impacção classe A é aquela na qual a superfície oclusal do dente impactado está à altura ou próxima do nível do plano oclusal do segundo molar (Fig. 9-23). Uma impacção classe B é aquela onde há um dente impactado com a superfície oclusal entre o plano oclusal e a linha cervical do segundo molar (Fig. 9-24). Finalmente, a impacção classe C é aquela na qual a super- fície oclusal do dente impactado está abaixo da linha cervical do segundo molar (Fig. 9-25). Sumário Os três sistemas de classifi cação discutidos aqui são usados em conjunto para determinar a difi culdade de uma extração. Por exemplo, uma impacção mesioangular com um ramo classe 1 e uma profundidade classe A quase sempre é mais fácil de ser re- movida (Fig. 9-26). Entretanto, na mudança de relação do ramo para classe 2 e da profundidade de impacção para classe B, o grau de difi culdade torna-se muito maior. Uma impacção hori- FIGURA 9-23 Impacção classe A de Pell e Gregory. Plano oclusal do dente impactado está no mesmo nível do plano oclusal do se- gundo molar. FIGURA 9-20 Impacção classe 1 de Pell e Gregory. Terceiro molar mandibular tem espaço sufi ciente ântero-posterior (ou seja, anterior para a borda anterior do ramo) para erupcionar. FIGURA 9-21 Impacção classe 2 de Pell e Gregory. Aproximada- mente metade está coberta pela porção anterior do ramo da man- díbula. FIGURA 9-22 Impacção classe 3 de Pell e Gregory. Terceiro molar impactado está completamente submerso no osso do ramo da man- díbula. FIGURA 9-24 Impacção classe B de Pell e Gregory. Plano oclusal do dente impactado está entre o plano oclusal e a linha cervical do segundo molar. 164 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA zontal com uma relação com o ramo classe 2 e uma profundida- de classe B é uma extração com difi culdade moderadae uma das práticas mais experimentadas e que não necessita de experiência (Fig. 9-27). Finalmente, a mais difícil de todas as impacções é a impacção distoangular com a relação classe 3 com o ramo e na relação classe C de profundidade. Mesmo sob o ponto de vista dos especialistas, a remoção desse dente é um desafi o cirúrgico (Fig. 9-28). MORFOLOGIA RADICULAR Assim como a morfologia da raiz de dentes erupcionados tem uma infl uência maior no grau de difi culdade de uma extração fechada, a morfologia radicular representa uma função maior na determinação do grau de difi culdade de remoção de dentes im- pactados. Muitos fatores devem ser considerados quando avalia- mos a estrutura morfológica da raiz. A primeira consideração é o seu comprimento. Como dis- cutido anteriormente, o momento ideal para a remoção de um dente impactado é quando a raiz está com 1/3 ou 2/3 formados. Quando esse é o caso, os fi nais das raízes são rombos (Fig. 9-29). Se o dente não for removido durante o estágio de for- mação e o comprimento da raiz se desenvolver inteiramente, aumentará a possibilidade de morfologia anormal da raiz e de fratura de ápice radicular durante a extração, ou ápices radi- culares impedindo a remoção da raiz. Se o desenvolvimento radicular está limitado (ou seja, menos de 1/3 completo), o dente será muito mais difícil de remover porque tenderá a ro- dar no seu alvéolo como uma bola de gude, evitando a elevação de rotina (Fig. 9-30). O próximo fator a ser avaliado é se as raízes são fusionadas em uma só, se são cônicas (Fig. 9-31) ou se separadas ou diferentes. As raízes fusionadas e cônicas são mais fáceis de remover do que aquelas raízes bastante separa- das (Fig. 9-32). A curvatura da raiz do dente também representa uma parte da difi culdade da extração. Raízes muito curvas ou dilaceradas são mais difíceis de remover do que raízes retas e ligeiramente curvas (Fig. 9-32). O cirurgião deve examinar cuidadosamente a área apical de dentes impactados na radiografi a a fi m de avaliar a presença de raízes pequenas, anormais e as com curvas agudas que provavelmente fraturarão se o cirurgião não tiver atenção especial. A direção da curvatura da raiz do dente também é importante para examinar pré-operatoriamente. Durante a remoção de uma impacção mesioangular, as raízes que são ligeiramente curvas FIGURA 9-25 Impacção classe C de Pell e Gregory. Dente impacta- do está abaixo da linha cervical do segundo molar. FIGURA 9-26 Impacção mesioangular com relação no ramo classe 1 e profundidade classe A. Todas as três classifi cações fazem desse tipo de impacção a mais fácil de ser removida. FIGURA 9-27 Impacção horizontal com relação no ramo classe 2 e profundidade classe B fazem-na moderadamente difícil de ser re- movida. FIGURA 9-28 Impacção distoangular com relação no ramo classe 3 e profundidade classe C tornam-na extremamente difícil de remover com segurança. CAPÍTULO 9 • Princípios do Tratamento de Dentes Impactados 165 na direção distal (seguindo longitudinalmente a direção da ex- tração) podem ser removidas sem a força que pode fraturar as raízes. Entretanto, se as raízes da impacção mesioangular são retas ou mesialmente curvas, comumente fraturam caso o dente não seja seccionado antes de ser removido. A extensão total das raízes na direção mesiodistal deve ser comparada com a largura do dente na linha cervical. Se a exten- são da raiz do dente é maior, a extração deverá ser mais difícil. Mais osso deverá ser removido, ou o dente deverá ser seccionado antes da extração. Finalmente, o cirurgião deve avaliar o espaço do ligamento periodontal. Apesar de a maioria dos pacientes ter um espaço do ligamento periodontal com dimensões normais, algumas vezes é mais amplo ou mais estreito. O espaço do ligamento periodontal mais amplo geralmente é mais fácil para remoção do dente (Fig. 9-33). Entretanto, pacientes mais idosos, especialmente aqueles com mais de 40 anos, tendem a ter o espaço do ligamento pe- riodontal muito mais estreito, o que aumenta a difi culdade da extração. Tamanho do Saco Folicular O tamanho do folículo em volta do dente impactado pode ajudar a determinar a difi culdade da extração. Se o saco folicular for grande (quase um tamanho cístico), muito menos osso deverá ser removido, fazendo com que o dente seja extraído com mais facilidade (Fig. 9-34). (Pacientes jovens são mais propensos a ter grandes folículos, que é outro fator para fazer extrações menos complexas em pacientes jovens.) Entretanto, se o espaço foli- cular em volta da coroa do dente for reduzido ou não existir, o cirurgião deverá criar espaço em volta da coroa, aumentando a difi culdade do procedimento e, também o tempo requerido para remover o dente. Densidade do Osso Circunjacente A densidade do osso circunjacente ao dente desempenha um papel na determinação da difi culdade da extração. Embora al- guns indícios possam ser vistos nas radiografi as, variações na densidade da radiografi a e angulação conferem interpretações não confi áveis da densidade óssea baseadas nestas radiografi as. A densidade óssea é mais bem determinada pela idade do pa- ciente. Pacientes que estão com 18 anos de idade ou menos têm densidade óssea favorável para a remoção do dente. O osso é FIGURA 9-32 Raízes divergentes com curvatura acentuada. Tais raízes são mais difíceis de remover. FIGURA 9-29 Raízes que estão com seus 2/3 formados, que são menos difíceis de remover. FIGURA 9-30 Falta de desenvolvimento radicular. Se a extração for tentada, a coroa irá, muitas vezes, rolar dentro do alvéolo, tornan- do-o difícil de remover. FIGURA 9-31 Raízes fusionadas com formato cônico. 166 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA menos denso, é mais provável de ser maleável, se expandir e fl e- xionar um pouco, permitindo que o alvéolo seja expandido com alavanca ou por forças de luxação aplicadas no próprio dente. Adicionalmente, o osso menos denso é mais fácil de ser cortado com brocas e pode ser removido mais rapidamente do que no osso mais denso. De modo inverso, pacientes que com mais de 35 anos têm osso muito mais denso e, portanto, suas fl exibilidade e habilida- de de se expandirem estão reduzidas. Nesses pacientes o cirur- gião deve remover todas as interferências ósseas, uma vez que não é possível expandir o osso alveolar. Em adição, assim como o osso aumenta na densidade, isso torna mais difícil a remoção com brocas e o processo de remoção óssea torna-se mais longo. Além disso, o excesso de força tem maior probabilidade de fratu- rar o osso muito denso quando comparado ao osso menos denso de um corte transversal similar. Contato com o Segundo Molar Inferior Caso haja espaço entre o segundo molar e o terceiro molar im- pactado, a extração será mais fácil devido ao dano ao segundo molar ser menos provável. Entretanto, se o dente estiver em im- pacção distoangular ou horizontal, frequentemente estará em contato direto com o segundo molar adjacente. Para remover o terceiro molar com segurança sem lesionar o segundo molar, o cirurgião deverá ser cauteloso com a pressão das alavancas ou com a broca ao remover o osso. Se o segundo molar possui cárie ou restauração extensa, ou tenha sido endodonticamente trata- do, o cirurgião deverá ter especial atenção para não fraturar a restauração ou a porção da coroa cariada. O paciente deverá fi car imóvel para evitar essa possibilidade (Fig. 9-17, B). Relação com o Nervo Alveolar Inferior Terceiros molares inferiores impactados frequentemente têm raí- zes que estão superpostas no canal alveolar inferior nas radiogra- fi as. Apesar de o canal estar quase sempre na face distal do dente, ele ainda pode estar na proximidade das raízes. Por esta razão uma das potenciais sequelas da remoção do terceiro molar infe- rior é o dano ao nervo alveolar inferior.Isso comumente resulta em alguma alteração da sensação (parestesia ou anestesia) do lá- bio inferior e mento no lado lesionado. Apesar de essa alteração da sensação geralmente ser breve (duração de somente poucos dias), ela pode se estender por semanas ou meses e, em casos raros, pode ser permanente. A duração depende da extensão do dano ao nervo. Se o fi nal da raiz do dente aparece próximo ao canal alveolar inferior na radiografi a, o cirurgião deve tomar cui- dado especial para evitar lesão ao nervo (Fig. 9-35), que aumen- ta muito a difi culdade do procedimento. A crescente viabilidade da tomografi a computadorizada cone-beam fará a avaliação pré- operatória da relação da raiz e do canal mais fácil de visualizar, ajudando em decisões como se fora um guia cirúrgico. Natureza do Tecido Suprajacente O sistema precedente classifi ca fatores que fazem a extração de terceiros molares mais fácil ou difícil. O sistema de classifi cação agora discutido não se ajusta a essas categorias. Entretanto, essa classifi cação é o sistema usado pela maioria das companhias de seguro e é o encargo fi nanceiro do cirurgião para os serviços. As companhias de seguro dental separam os tipos de impac- ção de terceiros molares em três categorias. Os três tipos de im- pacção são: (1) de tecido mole, (2) óssea parcial, e (3) óssea completa. A impacção é defi nida como de tecido mole quando a altura do contorno do dente está acima do nível do osso alveolar e a porção superfi cial do dente está coberta somente por tecido mole (Fig. 9-36). Para remover a impacção de tecido mole, o cirurgião deve incisá-lo e rebater o retalho para obter acesso ao dente e elevá-lo de seu alvéolo. A impacção de tecido mole em geral é a mais fácil das três extrações, mas pode ser complexa se baseada nos fatores discutidos nas seções anteriores. A impacção óssea parcial ocorre quando a porção superfi cial do dente está coberta por tecido mole, mas ao menos uma porção da altura do contorno do dente está abaixo do nível do osso alveolar circunjacente (Fig. 9-37). Para remover o dente o cirurgião deve incisar o tecido mole, rebater o retalho e remover o osso acima da altura do contorno. O cirurgião pode necessitar dividir o den- te em adição à remoção óssea. A impacção óssea parcial comu- mente é mais difícil de remover que a impacção óssea completa a do terceiro molar impactado. A impacção óssea completa é uma impacção dentária comple- tamente revestida por osso e, que quando o cirurgião rebate o re- talho, nenhum dente é visível (Fig. 9-38). Para remover o dente, extensa quantidade de osso deve ser removida e o dente quase sempre requer seccionamento. Embora essa classifi cação seja extensamente usada, frequen- temente não tem relação com a difi culdade da extração ou pro- FIGURA 9-33 Espaço do ligamento periodontal amplo. O aumento do espaço faz o processo de extração menos difícil. FIGURA 9-34 Saco folicular grande. Quando o espaço do saco é grande, a quantidade necessária de remoção de osso é reduzida. CAPÍTULO 9 • Princípios do Tratamento de Dentes Impactados 167 A B FIGURA 9-35 A, Vista radiográfi ca do terceiro molar inferior que sugere proximidade ao nervo alveolar inferior. B, Orifício através da raiz do terceiro molar vista na radiografi a depois da remoção. Du- rante a remoção, o feixe neurovascular alveolar inferior foi rompido. (Cortesia do Dr. Edward Ellis III.) FIGURA 9-36 Impacção de tecido mole onde a coroa do dente está coberta somente por tecido mole e pode ser removida sem retirada de osso. FIGURA 9-37 Impacção óssea parcial na qual parte do dente, usu- almente a face posterior, está coberta com osso e requer remoção óssea ou seccionamento do dente para a extração. FIGURA 9-38 Impacção óssea completa em que o dente está com- pletamente coberto com osso e requer remoção extensa de osso para a remoção. 168 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA váveis complicações (Quadros 9-1 e 9-2). Os parâmetros de an- gulação, relação com o ramo, morfologia radicular e idade do paciente são mais relevantes para o plano de tratamento que o sistema usado pelas operadoras de seguro dental. O cirurgião deve usar todas as informações disponíveis para determinar a difi culdade da cirurgia proposta. MODIFICAÇÃO DO SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO PARA DENTES MAXILARES IMPACTADOS Os sistemas de classifi cação de terceiros molares superiores im- pactados são essencialmente os mesmos que os utilizados para terceiros molares inferiores impactados. Entretanto, várias dis- tinções e adições devem ser feitas para avaliar mais acuradamen- te a difi culdade da remoção durante a fase de plano de tratamen- to do procedimento. Com relação à angulação, os três tipos de terceiros molares maxilares são: (1) a impacção vertical (Fig. 9-39, A), (2) a im- pacção distoangular (Fig. 9-39, B) e (3) a impacção mesioangu- lar (Fig. 9-39, C). A impacção vertical ocorre aproximadamente em 63% dos casos, a distoangular em aproximadamente 25%, e a posição mesioangular em aproximadamente 12% dos casos. Raramente outras posições, como transversa, invertida ou posi- ção horizontal, são encontradas, sendo essas posições não usuais contabilizadas em menos de 1% dos terceiros molares superiores impactados. As mesmas angulações nas extrações de terceiros molares in- feriores causam graus opostos de difi culdade para as extrações de terceiros molares superiores. Impacções verticais e distoan- gulares são menos complexas para remover, ao passo que im- pacções mesioangulares são de maior difi culdade (exatamente o oposto nos terceiros molares inferiores impactados). Impacções mesioangulares são mais difíceis de remover porque o osso que recobre a impacção requer remoção ou expansão na face poste- rior do dente e é muito mais grosso do que na impacção vertical e distoangular. Em adição, acessar o dente posicionado de modo mesioangular é mais difícil se um segundo molar erupcionado estiver no lugar. A posição do terceiro molar superior na direção vestibulopa- latina também é importante para a determinação da difi culdade da remoção. A maioria dos terceiros molares superiores está an- gulada em direção à face vestibular do processo alveolar, isso faz com que o osso de recobrimento dessa área seja fi no e, por conseguinte, fácil de remover ou expandir. Ocasionalmente, o terceiro molar superior impactado está posicionado em direção à face palatina do processo alveolar, o que torna dente mais difícil de ser extraído devido à maior quantidade de osso que deve ser removida para que se obtenha o acesso ao dente subjacente; o acesso na face palatina apresenta riscos a nervos e vasos no fora- me palatino. A combinação de avaliação radiográfi ca e palpação digital clínica da área da tuberosidade pode, usualmente, ajudar a determinar se o terceiro molar superior está na posição vesti- bulopalatina. Se o dente está posicionado em direção vestibular, um abaulamento palpável é encontrado na área; se o dente está A B C FIGURA 9-39 A, Impacção vertical de terceiro molar superior. Essa angulação representa 63% das impacções. B, Impacção distoangular de terceiro molar superior. Essa angulação contabiliza 25% das impacções. C, Impacção mesioangular de terceiro molar superior. Essa angulação representa 12% das impacções. QUADRO 9-2 Fatores que Fazem a Impacção Cirúrgica mais Difícil 1. Distoangular 2. Ramo classe 3 3. Profundidade classe C 4. Raízes finas, longas* 5. Raízes curvas divergentes 6. Ligamento periodontal estreito 7. Folículo pequeno* 8. Osso inelástico, denso* 9. Contato com o segundo molar 10. Proximidade do canal alveolar inferior 11. Impacção óssea completa* *Presente em pacientes mais velhos. QUADRO 9-1 Fatores que Fazem a Impacção Cirúrgica Menos Difícil 1. Posição mesioangular 2. Ramoclasse 1 3. Profundidade classe A 4. Um terço ou 2/3 da raiz formada* 5. Raízes cônicas fusionadas 6. Ligamento periodontal amplo* 7. Folículo grande* 8. Osso elástico* 9. Separação do segundo molar 10. Separação do nervo alveolar inferior* 11. Impacção em tecido mole *Presente em pacientes jovens. CAPÍTULO 9 • Princípios do Tratamento de Dentes Impactados 169 posicionado palatalmente, um defeito ósseo é encontrado nessa região. Se uma posição mais palatal é determinada pelo exame clínico, o cirurgião deve antecipar um procedimento mais longo e com mais envolvimento. O fator mais comum a causar difi culdade na remoção do terceiro molar superior é a raiz fi na, não fusionada, com cur- vatura inadequada (Fig. 9-40). A maioria dos terceiros molares superiores tem raízes fusionadas que são cônicas. Entretanto, o cirurgião deve examinar a radiografi a pré-operatória cuidadosa- mente a fi m de assegurar que um padrão de raiz não usual não esteja presente. O cirurgião deve checar também o ligamento periodontal, visto que no ligamento periodontal mais amplo a remoção do dente é menos difícil. Em adição, semelhante ao que ocorre no terceiro molar inferior, o espaço do ligamento perio- dontal tende a diminuir com a idade do paciente. O folículo circunjacente à coroa do dente impactado também tem uma infl uência na difi culdade da extração. Se o espaço fo- licular é amplo, o dente será mais fácil de ser removido do que quando comparado ao espaço folicular fi no ou inexistente. Densidade óssea também é um importante fator na remoção de impacções superiores e está diretamente relacionada com a idade do paciente. No paciente mais jovem, o osso circundante é mais elástico e expansível no terceiro molar impactado. A relação do segundo molar adjacente também infl uencia na difi culdade da extração. Esta extração pode requerer remoção de osso adicional para deslocar o dente encoberto na altura do contorno próximo ao segundo molar adjacente. Em adição, uma vez que o uso das alavancas é comum na remoção de terceiros molares superiores, o cirurgião deve estar atento à existência de grandes restaurações ou cárie no segundo molar adjacente. O uso imprudente das alavancas pode resultar em fratura de res- taurações ou coroas dentárias frágeis. O tipo de impacção, com relação ao tecido de recobrimento, também deve ser considerado nos terceiros molares superiores. O sistema de classifi cação usado pelas operadoras de seguro para terceiros molares superiores é o mesmo utilizado para dentes inferiores: impacção de tecido mole, impacção óssea parcial e impacção óssea completa. As defi nições desses tipos de impac- ção são, precisamente, as mesmas daquelas usadas para terceiros molares inferiores. Dois fatores adicionais infl uenciam na difi culdade de remo- ção de terceiros molares superiores, mas não existem para os terceiros molares inferiores. Ambos os fatores estão relacionados com a estrutura e a posição do seio maxilar. Primeiro, o seio maxilar está em íntimo contato com as raízes dos molares e, fre- quentemente, o terceiro molar superior forma, verdadeiramente, a porção posterior da parede sinusal. Nesses casos, a remoção de terceiros molares superiores resulta em complicações no seio ma- xilar, como sinusite ou fístula oroantral. A presença do seio maxilar não necessariamente torna a remoção do dente impacta- do mais difícil, mas pode aumentar a probabilidade de complica- ções e morbidade pós-operatórias. Finalmente, na remoção do terceiro molar superior, a tube- rosidade na parte posterior da maxila pode ser fraturada. Isso é uma verdade mesmo quando o terceiro molar está erupcionado ou caso um segundo molar erupcionado esteja como o dente re- manescente mais distal. Tais fraturas são possíveis, especialmente quando o osso existente é denso e inelástico, como acontece nos pacientes mais velhos. Em adição, um seio maxilar amplo torna o osso alveolar circundante fi no e mais susceptível à fratura quan- do é aplicada força excessiva. A morfologia radicular com raízes divergentes requer grande força para remover e pode provocar a fratura óssea com maior probabilidade. Além disso, impacções mesioangulares aumentam a possibilidade de fratura (Fig. 9-39, C). Nessas situações o recobrimento da tuberosidade é mais for- te, mas o osso circunjacente é quase sempre mais fi no. Quando o cirurgião prepara o ponto de apoio na linha mesiocervical, a fratura da tuberosidade torna-se um risco maior se (1) o osso é não elástico (em pacientes mais velhos), (2) o dente é multirra- dicular, com grandes raízes dilatadas (como em pacientes mais velhos), (3) o seio maxilar é grande e amplamente pneumatiza- do para incluir as raízes do terceiro molar impactado, ou (4) o cirurgião usa força excessiva para remover o dente. A conduta em fraturas da tuberosidade é discutido no Capítulo 11. REMOÇÃO DE OUTROS DENTES IMPACTADOS Depois dos terceiros molares inferiores e superiores, o dente mais comumente impactado é o canino maxilar. Se o dentista decidir pela remoção do dente, dever-se-á ir de- terminar se o dente está posicionado vestibularmente ou em di- reção palatal, ou no meio do processo alveolar. Se o dente estiver na face vestibular, um retalho de tecido mole poderá ser rebatido para permitir a remoção do osso que recobre o dente. Entretanto, se o dente estiver na face palatina ou na posição intermediária vestibulopalatina, sua remoção será muito mais difícil. Por esta razão, quando o canino maxilar impactado é acessado para re- moção, a avaliação mais importante para o cirurgião é a da posi- ção vestibulopalatina do dente. Considerações similares são necessárias para outras impac- ções, como pré-molares inferiores e dentes supranumerários. O dente supranumerário na linha média da maxila, chamado de mesiodente, é quase sempre encontrado no palato e deve ser abordado na direção palatina para remoção. Quando um canino encoberto está posicionado de forma que a manipulação ortodôntica possa auxiliar no próprio posiciona- FIGURA 9-40 O terceiro molar superior tem a formação radicular mais errática e variável de todos os dentes. 170 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA mento, o dente poderá ser exposto e então colado um bracket. Um retalho é criado a fi m de permitir que o tecido mole seja re- posicionado apicalmente, podendo ser necessário para máxima queratinização do tecido manipulado. O tecido ósseo de reco- brimento é então removido com o número de brocas necessário. Logo que a área seja desbridada, a superfície do dente deverá ser preparada pelos procedimentos usuais para aplicação do ácido e o adesivo. O bracket é então fi xado na superfície do dente. Um fi o de aço pode ser usado para conectar o bracket ao aparelho ortodôntico ou, mais comumente, uma corrente de ouro é fi xada ao bracket ortodôntico e ao fi o do arco ortodôntico. A corrente de ouro promove elevado grau de fl exibilidade e a incidência de ruptura da corrente é muito menor que a do fi o de aço. O tecido mole é então suturado de forma a prover o máximo de cobertu- ra ao tecido exposto com tecido queratinizado. Assim como o dente é tracionado para o lugar com o aparelho ortodôntico, o tecido mole circundante do dente, novamente posicionado deve ter tecido queratinizado adequado e o dente deve estar em uma posição ideal. Se o dente estiver posicionado em direção à face palatina, o dente poderá ser reposicionado ou removido. Se o dente for reposicionado, será cirurgicamente exposto e guiado de forma ortodôntica para sua posição. Nesse procedimento o tecido de recobrimento será excisado e retalhos não serão necessários para obter tecido aderido. Por ser o osso do palato mais espesso, uma broca é quase sempre necessária para remover o osso de reco- brimento. O dente exposto é então manejado damesma forma como o dente posicionado vestibularmente (Fig. 9-41). PROCEDIMENTO CIRÚRGICO Os princípios e passos para a remoção de dentes impactados são os mesmos para outras extrações cirúrgicas. Cinco passos básicos compõem a técnica: o primeiro passo é ter adequada exposição da área do dente impactado. Isso signifi ca que o retalho de teci- do mole deve ser de dimensão adequada a fi m de permitir que o cirurgião retraia o tecido mole e realize a cirurgia necessária sem sérios danos ao retalho. O segundo passo é avaliar a neces- sidade de remoção óssea e retirar a quantidade sufi ciente de osso para expor o dente para qualquer secção necessária e remoção. O terceiro passo, quando necessário, é dividir o dente com bro- ca para permitir a extração sem remover, desnecessariamente, grande quantidade de osso. O ponto de apoio também deve ser localizado nesse passo. No quarto passo, o dente seccionado ou não é removido do processo alveolar com alavancas apropriadas. Finalmente, no quinto passo o osso na área da elevação é alisado com uma lima para osso; a ferida é copiosamente irrigada com solução fi siológica estéril, e o retalho é reaproximado com sutu- ras. A discussão a seguir aperfeiçoa esses passos de remoção de terceiros molares impactados. A C B D FIGURA 9-41 A, Canino superior impactado posicionado palatinamente. O dente deve ser exposto ao posicionamento apical do retalho para preservar a gengiva inserida. B, Retalho mucoperiosteal é contornado, permitindo o reposicionamento da mucosa queratinizada sobre o dente exposto. Quando o retalho é rebatido, um fi no osso de recobrimento é removido. C, O tecido é retraído e unido ao dente com um fi o de aço ou uma corrente de ouro. O retalho é suturado apicalmente ao dente. D, Depois de 6 meses, o dente exposto está na posição desejada, com uma extensa faixa de gengiva inserida. (Cortesia do Dr. Myron Tucker.) CAPÍTULO 9 • Princípios do Tratamento de Dentes Impactados 171 Apesar de o procedimento cirúrgico para remoção de dentes impactados ser similar a outras extrações cirúrgicas, é importan- te ter em mente diferenças distintas. Por exemplo, a típica extra- ção cirúrgica de dente ou raiz do dente requer a remoção de uma quantidade de osso relativamente pequena. Entretanto, quando um dente impactado (especialmente um terceiro molar inferior) é extraído, a quantidade de osso que tem que ser removida para a extração do dente é substancialmente maior. Esse osso também é muito mais denso do que o de extrações cirúrgicas típicas, e a remoção requer melhor instrumentação e maior grau de habili- dade cirúrgica. Dentes impactados frequentemente requerem seccionamen- to, enquanto outros tipos de extrações dentárias não o neces- sitam. Embora os molares erupcionados superiores e inferiores ocasionalmente sejam divididos para remoção, não é um pro- cedimento rotineiro na extração desses dentes. Entretanto, com terceiros molares inferiores impactados é necessário que o ci- rurgião divida o dente numa substancial maioria dos pacientes. O cirurgião deve, por esta razão, ter o equipamento necessário para seccionar e habilidade e experiência para dividir o dente longitudinalmente ao plano correto. Diferente da maioria dos outros tipos de extrações cirúrgi- cas, para a remoção de um dente impactado o cirurgião deve ser capaz de avaliar o grau de remoção óssea e seccionamento. Essencialmente, todos os dentes impactados podem ser removi- dos sem seccionamento se uma grande quantidade de osso for removida. Entretanto, a remoção excessiva de osso prolonga o período de cicatrização desnecessariamente e deve resultar no enfraquecimento mandibular. Consequentemente, o cirurgião deve remover mais osso de terceiros molares impactados somen- te após seccioná-los. Todavia, a remoção de uma quantidade pe- quena de osso com múltiplas divisões do dente pode ser motivo de o processo de seccionamento dentário levar um tempo exces- sivamente longo, deste modo prolongando a operação sem ne- cessidade. O cirurgião deve remover uma quantidade adequada de osso e seccionar o dente dentro de um número apropriado de fragmentos, tanto para acelerar a cicatrização quanto para mini- mizar o tempo do procedimento cirúrgico. Passo 1: Descolamento adequado do retalho para acessibilidade. A difi - culdade da remoção de um dente impactado depende de sua acessibilidade. Para obter acesso à área e visualizar o osso de recobrimento que deve ser removido, o cirurgião deve re- bater um retalho mucoperiosteal adequado. O rebatimento deve ser de uma dimensão adequada o sufi ciente para permi- tir a colocação e a estabilização de afastadores e instrumentos para a remoção de osso. Na maioria das situações o retalho em envelope é a técnica preferida. O retalho em envelope é mais rápido para fechar e cicatriza melhor que o retalho de três ângulos (retalho em enve- lope com uma incisão de alívio). Contudo, se o cirurgião neces- sitar de maior acesso a dentes em áreas mais apicais, onde a força de tensão possa dilacerar o retalho em envelope, o cirurgião deve considerar o uso de um retalho de três ângulos. A incisão ideal para remoção de terceiros molares inferiores impactados é a incisão em envelope que se estende da papila mesial do primeiro molar inferior, circunda a cervical dos dentes em direção à linha distovestibular no ângulo do segundo mo- lar e, então, posterior e lateralmente à margem anterior do ramo mandibular (Fig. 9-42, A). A incisão não deve continuar posteriormente em linha reta, pois a mandíbula desvia-se lateralmente. Uma incisão que se es- tende de modo reto, e, posteriormente, cai fora do osso e dentro do espaço sublingual, podendo causar dano ao nervo lingual, que está na proximidade da área do terceiro molar inferior. Se o nervo for traumatizado, o paciente provavelmente sentirá anes- tesiado o nervo lingual, o que é extremamente incômodo para os pacientes. A incisão deve sempre se manter sobre o osso, e por esta razão o cirurgião deve palpar cuidadosamente a área retro- molar antes de iniciar a incisão. O retalho é rebatido lateralmente para expor a linha oblíqua externa com um descolador mucoperiosteal (Fig. 9-42, B). O cirurgião não deve rebater mais que uns poucos milímetros de- pois da linha oblíqua externa porque isso resulta em aumento da morbidade e do número de complicações após a cirurgia. O afastador é posicionado na saliência vestibular, próximo à late- ral da linha oblíqua externa, e é estabilizado pela aplicação de pressão contra o osso. Isso resulta em um afastador estável e que não traumatiza continuamente o tecido mole. Os afastado- res de Austin e Minnesota são os mais comumente usados para o afastamento do retalho quando removemos terceiros molares inferiores. Se o terceiro molar inferior está profundamente submerso no osso e requer a remoção mais ampla do mesmo, uma incisão de alívio pode ser útil (Fig. 9-42, C e D). O retalho criado por esta incisão pode ser rebatido mais apicalmente, sem risco de dilace- rar o tecido. A incisão recomendada para terceiros molares superiores também é a incisão em envelope. Ela se estende posteriormente à tuberosidade distal do segundo molar, e anteriormente à face mesial do primeiro molar (Fig. 9-43, A e B). Em situações nas quais é necessário maior acesso (p. ex., em impacções profun- das), uma incisão de alívio se estendendo da face mesial do se- gundo molar pode ser usada (Fig. 9-43, C e D). Na remoção de terceiros molares é vital que o retalho seja grande o sufi ciente para o acesso adequado e a visibilidade do sítio cirúrgico. O retalho deve ter uma base ampla se a incisão de alívio for usada. Uma incisão suave deve ser feita com um bisturi que deve ser mantido em contato com o osso por toda a incisão de modo que a mucosa e o periósteo estejam completa- mente incisados. Issopossibilita que o retalho mucoperiosteal de espessura total seja rebatido. A incisão deve ser planejada de forma que possa ser fechada sobre osso íntegro (e não sobre um defeito ósseo). Isso é obtido pela extensão da incisão pelo menos um dente anterior ao sítio cirúrgico quando uma incisão vertical de alívio for usada. A incisão deve evitar estruturas anatômicas vitais. Somente uma única incisão de alívio deve ser usada. Passo 2: Remoção do osso de recobrimento. Uma vez que o tecido mole é elevado e rebatido, fazendo com que o campo cirúr- gico possa ser visualizado, o cirurgião deve fazer um julga- mento com relação à quantidade de osso a ser removida. Em algumas situações o dente pode ser seccionado com uma bro- ca e removido sem retirada de osso. Na maioria dos casos, entretanto, alguma remoção óssea é requerida. O osso na face oclusal, na vestibular e na distal abaixo da linha cervical do dente impactado deve ser removido de modo inicial. A quantidade de osso que deve ser removida varia com a profundidade da impacção, morfologia das raízes e angulação do dente. O osso não deve ser removido na face lingual da mandí- bula em virtude da probabilidade de dano ao nervo lingual. As brocas que são usadas para remover o osso de recobri- mento do dente impactado variam conforme a preferência dos cirurgiões. Uma broca de grande circunferência, como a de no 8, é desejável por ser uma broca de corte fi nal e pode ser usada, efetivamente, para desgaste com um movimento de pressão. A ponta da fenda da broca, como a de no 703, não corta bem, mas a extremidade remove osso rapidamente e secciona dentes pronta- mente quando usada na direção lateral. Note que a peça de mão, assim como a utilizada para dentística restauradora, nunca deve ser usada para remover osso em torno dos terceiros molares a fi m de seccioná-los. 172 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA A C B D FIGURA 9-42 A, A incisão em envelope é a mais comumente usada para rebater o tecido mole para a remoção de terceiros molares impac- tados. A extensão posterior da incisão deve divergir lateralmente para evitar lesão do nervo lingual. B, Incisão em envelope é lateralmente rebatida para expor o osso de recobrimento do dente impactado. C, Quando um retalho de três pontas é obtido, uma incisão de alívio é feita na face mesial do segundo molar. D, Quando o retalho de tecido mole é rebatido por meio de uma incisão de alívio, maior visibilidade é possível, especialmente na parte apical do campo cirúrgico. A B C D FIGURA 9-43 A, A incisão em envelope é mais usada para a remoção de terceiros molares superiores impactados. B, Quando o tecido mole é rebatido, o osso de recobrimento do terceiro molar é facilmente visualizado. C, Se o dente está profundamente impactado, uma incisão de alívio na vestibular poderá ser usada para obter maior acesso. D, Quando um retalho de três pontas é rebatido, a porção mais apical torna-se mais visível. CAPÍTULO 9 • Princípios do Tratamento de Dentes Impactados 173 A típica remoção de osso para extração de dente inferior im- pactado é ilustrada na Figura 9-44. O osso na face oclusal do dente é removido primeiro, para expor a coroa do dente. Então, o osso cortical, na face vestibular do dente, é removido abaixo da linha cervical. A seguir, a broca pode ser usada para remover, o osso entre o dente e a cortical óssea na área medular do osso, por meio de uma manobra chamada canaleta. Isso promove aces- so para as alavancas com o objetivo de obter pontos de apoio e trajeto para a saída do dente. Nenhum osso é removido na face lingual de modo a proteger o nervo lingual de lesões. Para dentes superiores a remoção óssea é quase sempre desne- cessária, mas quando preciso o osso é removido, primariamente, na face vestibular do dente, abaixo da linha cervical, para expor a coroa clínica inteira. Usualmente a remoção de osso pode ser realizada com descolador de periósteo, e não com uma broca. Em geral o osso adicional deve ser removido na face mesial do dente para permitir um adequado ponto de apoio à alavanca para saída do dente. Passo 3: Seccionamento do dente. Quando uma quantidade sufi cien- te de osso foi removido em torno do dente. Odontosecção permite que porções do dente sejam removidas separada- mente com alavancas através da abertura proporcionada pela remoção de osso. A direção na qual o dente impactado deve ser dividido depen- de, primariamente, da angulação do dente impactado. Embora modifi cações menores sejam necessárias para dentes com raízes divergentes ou para dentes que são mais ou menos profunda- mente impactados, o determinante mais importante é a angula- ção do dente. O seccionamento dentário é realizado com uma broca e o den- te é dividido em 3/4 em direção à face lingual. A broca não deve ser usada para seccionar o dente completamente de lado a lado, na direção lingual, porque é mais provável que haja lesão ao ner- vo lingual. Uma alavanca reta é inserida no desgaste feito pela broca e rotacionada para dividir o dente. A impacção inferior mesioangular é quase sempre a menos difícil para remover dos quadros tipos básicos de angulação. Depois que uma quantidade sufi ciente de osso tenha sido remo- vida a metade distal da coroa é seccionada na canaleta vestibular, logo abaixo da linha cervical, na face distal. Essa porção é remo- vida. O restante do dente é removido com uma alavanca no 301 posicionada na face mesial da linha cervical. Uma impacção me- sioangular também pode ser removida preparando-se um ponto de apoio no dente com uma broca e usando-se uma alavanca de Crane para elevar o dente do alvéolo (Fig. 9-45). A próxima impacção mais difícil de remover é a impacção horizontal. Depois da adequada remoção de osso abaixo da li- nha cervical expor a face superior da raiz distal e a maioria da superfície vestibular da coroa, o dente então é seccionado por di- visão da coroa do dente das raízes na linha cervical. A coroa do dente é removida e as raízes são deslocadas com uma alavanca de Cryer para dentro do espaço previamente ocupado pela coroa. Se as raí zes de um terceiro molar são divergentes, elas podem necessitar de seccionamento nas duas porções para que sejam removidas individualmente (Fig. 9-46). A impacção vertical é uma das duas impacções mais difíceis de remover. Os procedimentos de remoção óssea e seccionamento são similares na impacção mesioangular, isto é, remoção do osso nas posições oclusal, vestibular e distal. A metade distal da coroa é seccionada e removida, e o dente é elevado por aplicação de uma alavanca na face mesial da linha cervical do dente. Esse é mais difícil que a remoção mesioangular porque o acesso ao redor do segundo molar mandibular é difícil de obter e requer remoção substancial de mais osso no lado vestibular e distal (Fig. 9-47). O dente mais difícil de remover é a impacção distoangular. Depois que osso sufi ciente é removido dos lados vestíbulo-oclu- sal e distal do dente, a coroa é seccionada das raízes logo acima da linha cervical. A coroa inteira é quase sempre removida porque in- terfere na visibilidade e acesso à estrutura radicular do dente. Se as raízes estão fusionadas, uma alavanca de Cryer ou uma alavanca reta pode ser usada para elevar o dente no espaço previamente ocupado pela coroa. Se as raízes são divergentes, elas em geral são seccionadas em dois pedaços e individualmente removidas. A extração dessa impacção é difícil porque muito mais osso dis- tal deve ser removido e o dente tende a ser distalmente elevado e na direção da porção do ramo mandibular (Fig. 9-48). Dentes superiores impactados raramente são seccionados de- vido ao osso de recobrimento ser quase sempre fi no e relativa- mente elástico. Em situações nas quais o osso é mais espesso ou em pacientes mais velhos (e, consequentemente, o osso nãotão elástico), a extração do dente, geralmente realizada por remoção óssea de modo preferível ao seccionamento dentário. Em geral, dentes impactados em outra parte da boca são qua- se sempre seccionados somente na linha cervical. Isso permite a remoção da porção da coroa do dente, deslocamento da porção da raiz para dentro do espaço previamente ocupado pela coroa, e remoção da porção radicular. Passo 4: Remoção do dente seccionado com alavanca. Uma vez que quantidade adequada de osso tenha sido removida para ex- por o dente e este tenha sido seccionado de forma apropriada, o dente é removido do processo alveolar com alavancas. Na mandíbula, as alavancas mais frequentemente usadas são as retas, o par de alavancas de Cryer e de Crane. Uma importante diferença entre a remoção de terceiros mola- res inferiores impactados de um dente em outra parte da boca é que quase nenhuma luxação de dente ocorre com o propósito de expansão da tábua óssea vestibular ou lingual. Em seu lugar, o osso é removido e dentes são seccionados para preparar uma via sem obstáculos para a saída do dente. A aplicação de força excessiva pode resultar em uma fratura desfavorável do dente, com excesso de osso vestibular, do se- gundo molar adjacente ou possibilidade de fratura completa da mandíbula. A B FIGURA 9-44 A, Depois de o tecido mole ter sido rebatido, o osso de recobrimento da superfície oclusal do dente é removido com uma broca. B, O osso na face vestibulodistal do dente impactado é então removida com a broca. 174 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA A alavancas são desenhadas não para aplicar força excessiva, mas para encaixar no dente ou raiz dentária e aplicar força na di- reção apropriada. Alguns cirurgiões altamente habilidosos usam a cureta periapical ou elevador apical radicular para remover raízes seccionadas de seus alvéolos. Devido ao dente impactado nunca ter sustentado forças oclusais, os ligamentos periodontais são frágeis e permitem deslocamento da raiz dentária se uma correta porção de osso é removida e são empregadas forças na direção correta. CAPÍTULO 9 • Princípios do Tratamento de Dentes Impactados 175 A retirada de terceiros molares superiores é realizada com ala- vancas retas, que luxam o dente de modo distovestibular. Alguns cirurgiões preferem alavancas curvas, como a de Potts, Miller ou Warwick, que ajudam na obtenção de acesso ao dente impacta- do. A ponta da alavanca é inserida na área mesial da linha cervi- cal e é aplicada força para deslocar o dente na direção distoves- tibular (Fig. 9-49). O cirurgião deve ser cauteloso com relação à aplicação de pressão excessiva anteriormente, a fi m de evitar dano à raiz do segundo molar superior. Em adição, pressão é aplicada para deslocar o dente posteriormente; o cirurgião deve manter um dedo na tuberosidade da maxila (especialmente se a impacção for mesioangular) para que, caso ocorra uma fratura, possam ser tomadas, providências para recuperar a tuberosidade da maxila, mantendo o tecido mole aderido. Passo 5: Preparando o fechamento da ferida. A lima para osso é usa- da para alisar qualquer ponta aguçada, margem áspera de osso, particularmente onde uma alavanca esteve em contato ósseo. O cirurgião deve direcionar a próxima atenção para a remoção de todos os fragmentos de osso particulado e resí- duos para fora da ferida. Isso é feito com irrigação vigorosa com solução salina estéril. Especial cuidado deve ser tomado para irrigar a fundo, embaixo do retalho de tecido mole reba- tido. Um hemostato mosquito pode ser usado para remover qualquer remanescente de folículo, se presente. Uma vez que o folículo é apreendido, ele é levantado com uma pressão len- ta e constante e deverá ser puxado para fora do tecido duro circunjacente e do tecido mole. Uma irrigação fi nal e uma inspeção completa devem ser realizadas antes que a ferida seja fechada. O cirurgião deve checar a hemostasia adequada. Hemorragia pode ocorrer de um vaso no retalho, do osso medular que tenha sido cortado com uma broca, ou os vasos alveolares inferiores. Pontos específi cos de hemorragia devem ser controlados caso eles existam. Caso seja observado sangramento vivo generali- zado depois que forem feitas as suturas, o cirurgião deverá apli- car pressão fi rme com uma pequena porção de gaze umedecida. Hemorragia pós-operatória até certo grau ocorre com alguma frequência após extrações de terceiros molares, mas é quase sempre autolimitante se for realizada a hemostasia adequada no momento da operação. Nesses casos muitos cirurgiões utilizam um antibióticos como a tetraciclina para ajudar a prevenir, no alvéolo de tercei- ros molares inferiores, a ocorrência de alveolite. O fechamento da incisão feita para um terceiro molar impacta- do em geral é um fechamento primário. Se o retalho foi bem dese- nhado e não foi traumatizado durante o procedimento cirúrgico, ele será adaptado dentro da sua posição original. A sutura inicial deve ser posicionada de um extremo ao outro no tecido aderido na face posterior do segundo molar. Suturas adicionais são posi- cionadas posteriormente àquela posição, e anteriormente, atra- vés da papila, no lado mesial do segundo molar. Usualmente, duas ou três suturas são necessárias para fechar uma incisão de envelope. Se uma incisão de alívio foi usada, deve ser direcio- nada atenção especial para o fechamento daquela porção da in- cisão igualmente. Se o retalho para um terceiro molar superior encontra-se passivamente na posição de modo posterior, suturas poderão não ser necessárias. MANEJO PERIOPERATÓRIO DO PACIENTE A remoção do terceiro molar impactado é um procedimento cirúrgico que normalmente está associado ao grau elevado de BA C FIGURA 9-47 A, Quando da remoção de impacção vertical, o osso da face oclusal, vestibular e distal da coroa é removido e o dente é sec- cionado em partes mesial e distal. Se o dente tem uma raiz única fusionada, a porção distal da coroa é seccionada de forma similar àquela descrita para a impacção mesioangular. B, A face posterior da coroa é elevada primeiro com uma alavanca de Cryer inserida no pequeno ponto de apoio na parte distal do dente. C, Pequena alavanca reta no 301 é então utilizada para elevar a parte mesial do dente por movimento de rotação e elevação. 176 PARTE II • PRINCÍPIOS DE EXODONTIA ansiedade do paciente. Em adição, esse procedimento cirúrgico pode envolver barulhos e sensações desagradáveis. Como resul- tado, o cirurgião que rotineiramente remove terceiros molares impactados em geral recomenda aos seus pacientes algum tipo de controle profundo da ansiedade, como uma sedação profunda intravenosa ou anestesia geral. A escolha da técnica é baseada na preferência do cirurgião, entretanto, os objetivos são atingir um nível de consciência do paciente que permita ao cirurgião trabalhar efi cientemente e li- mitar o número de lembranças desagradáveis ao paciente. Para aumentar a necessidade de controle de ansiedade, uma variedade de medicações é usada para controle de sequelas de cirurgias de extrações de terceiros molares. O uso de um anesté- sico de longa duração deve ser considerado na mandíbula. Esses anestésicos promovem ao paciente um período de 4 a 8 horas sem dor, podendo ser sufi cientes as prescrições de analgésicos. Estes devem ser iniciados quando o paciente começa a reco- nhecer o retorno da sensação. Alguns cirurgiões, igualmente, têm pacientes que iniciam analgésicos antes de qualquer retor- no da sensação. O cirurgião deve considerar fazer uma prescri- ção de um potente analgésico oral para todo paciente subme- tido à remoção cirúrgica de um terceiro molar impactado, e se o cirurgião separar uma consulta para anotações, aí ele deverá prescrever medicações para que o paciente e seu acompanhante não necessitem parar no caminho de casa apóso procedimento. Doses sufi cientes devem ser prescritas para o fi m, de no míni- mo, 3 ou 4 dias. Combinações de codeína, congêneres desta ou oxicodone com aspirina ou acetominofeno comumente são usa- dos. Drogas anti-infl amatórias não esteróides, como o ibuprofe- no, podem ser valiosas para os pacientes quando o desconforto é menos signifi cante. Para minimizar o edema comum depois da remoção de ter- ceiros molares impactados, alguns cirurgiões ministram corticói- des parenterais. Administração intravenosa de esteroides gli- cocorticóides promove controle da atividade anti-infl amatória sufi ciente para limitar enormemente o edema. Embora muitos regimes diferentes e protocolos para administração de esteróides intravenosos existam, um relativamente comum é a administra- ção de dose única de 8 mg de dexametasona antes da cirurgia. A dexametasona é um esteróide de longa duração e sua efi cácia no controle do edema pós-operatório de terceiros molares está documentada. Essa droga pode, então, ser continuada em doses orais de 0,75 a 1,25 mg, 2 vezes ao dia, por 2 ou 3 dias para continuar o controle do edema. Posto que esteróides dados dessa maneira apresentam alguns efeitos adversos e contraindicações, a fi losofi a geral de avaliação de riscos e benefícios da administra- ção da droga deve ser cuidadosamente observada antes da deci- são de ministrar qualquer droga de forma rotineira. Alguns cirurgiões recomendam o uso de compressas de gelo no rosto para ajudar a prevenir o edema pós-operatório, ainda que estudos mostrem que é improvável que o gelo tenha mui- to efeito na prevenção e na limitação do edema. Entretanto, os pacientes frequentemente referem que o gelo os fazem se sentir mais confortáveis. O uso de gelo também promove ao paciente a oportunidade de participar de seus cuidados pós-operatórios, o que é importante para muitos pacientes. Outra medicação que algumas vezes é usada é um antibió- tico. Se um paciente tem uma pericoronite ou um abscesso C A B FIGURA 9-48 A, Para impacção distoangular, osso oclusal, vestibular e distal é removido com broca. É importante lembrar que mais osso na distal deve ser removido do que na impacção vertical e mesioangular. B, A coroa do dente é seccionada com broca e a coroa é removida com uma alavanca reta. C, Um ponto de apoio é colocado na raiz remanescente na parte do dente e as raízes são removidas com uma alavanca de Cryer, com um movimento tipo roda e eixo. Se as raízes divergem, pode ser necessário, em alguns casos, separá-las em porções independentes. CAPÍTULO 9 • Princípios do Tratamento de Dentes Impactados 177 pré-existente, é comum a prescrição de antibiótico por alguns dias depois da cirurgia. Entretanto, se o paciente é saudável e os achados clínicos não apresentam indicação sistêmica para anti- bióticos ou infecção local pré-existente, os antibióticos sistêmi- cos usualmente não são indicados. O uso de antibiótico tópico, como a tetraciclina, tem, cientifi camente, demonstrado a baixa incidência de alveolite no sítio de extrações de molares inferio- res. Um quarto do conteúdo de uma cápsula de 250 mg é ade- quado para fornecer a proteção desejada. A experiência pós-operatória normal de um paciente após a remoção de um terceiro molar impactado é mais complicada que uma extração de rotina. O paciente pode esperar uma quantida- de moderada de edema na área da cirurgia por 3 ou 4 dias, com a dissipação deste edema após, aproximadamente, 5 a 7 dias. A quantidade de edema depende do grau de trauma ao tecido mole e variabilidade entre pacientes do seu potencial de edemaciar. Uma quantidade moderada de desconforto quase sempre é seguida ao procedimento, com grau que depende da quantidade de trauma cirúrgico para a remoção dos dentes. Esse desconforto pode ser efetivamente controlado com analgésicos orais potentes. Pacientes normalmente necessitam de analgésicos potentes por 2 ou 3 dias rotineiramente e, de modo intermitente (particularmen- te ao deitar) por mais alguns dias. O paciente pode ter alguma sensibilidade suave por mais de 2 ou 3 semanas após a cirurgia. Pacientes que tenham tido terceiros molares inferiores ci- rurgicamente removidos frequentemente têm trismo de suave a moderado. Essa inabilidade de abrir a boca interfere na higiene normal do paciente e em seus hábitos alimentares. Os pacientes devem ser advertidos de que eles não serão capazes de abrir suas bocas normalmente depois da cirurgia. O trismo gradualmente se resolve e a habilidade para abrir a boca deve retornar ao nor- mal 7 a 10 dias após a cirurgia. Se dor, edema e trismo não melhorarem bastante cerca de 7 dias após a cirurgia, o cirurgião deverá investigar o porquê. Todas as sequelas da remoção cirúrgica de dentes impactados são de menor intensidade nos jovens e pacientes saudáveis, e de maior intensidade em pacientes mais velhos e mais debilitados. Mesmo pacientes saudáveis, com idade entre 35 e 40 anos, têm uma difi culdade signifi cantemente maior depois da extração de terceiros molares impactados do que os pacientes adolescentes mais saudáveis. Ver o Capítulo 10 para uma descrição mais detalhada dos cuidados pós-operatórios. REFERÊNCIAS 1. Venta I, Murtomaa H, Turtola L et al: Assessing the eruption of lower third molars on the basis of radiographic features, Br J Oral Maxillofac Surg 29:259-262, 1991. 2. Venta I, Murtomaa H, Turtola L et al: Clinical follow-up study of third molar eruption from ages 20 to 26 years, Oral Surg Oral Med Oral Pathol 72:150-153, 1991. 3. Bruce RA, Frederickson GC, Small GS: Age of patients and morbi- dity associated with mandibular third molar surgery, J Am Dent Assoc 101:240, 1980. 4. Marmary J, Brayer L, Tzokert A et al: Alveolar bone repair following extraction of impacted mandibular third molars, Oral Surg Oral Med Oral Pathol 61:324, 1986. 5. 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Nota-se que na maioria das circunstâncias a remoção óssea com broca não é ne- cessária quando da remoção do terceiro molar superior impactado. Esta página foi intencionalmente deixada em branco