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Jéssica N. Monte Turma 106 P1 Micologia Micoses Superficiais 1. Piedra Negra: Agente etiológico: Piedraia hortai. Forma nódulos escuros ao longo dos pelos, especialmente nos fios de cabelo da cabeça. Não prejudica os pelos, mas estes podem quebrar caso haja um crescimento fúngico muito acentuado. É uma micose assintomática. Sua área endêmica no Brasil é a região amazônica. O contágio com o fungo se dá a partir do solo. Seu nódulo é duro, negro e firmemente aderido ao pelo. O nódulo é formado por um emaranhado de hifas que protegem os ascos presentes em seu interior. Cada asco é formado por oito ascósporos longos e afilados nas extremidades e que tem a forma de uma curva sigmoide. Os ascósporos podem ser visualizados no exame laboratorial de KOH (potassa). O tratamento para piedra negra consiste em cortar o cabelo o mais curto possível, usar solução com formalina ou shampoo com imidazólicos. Deve ser realizado um diagnóstico diferencial entre piedra negra e lêndeas de piolhos. No diagnóstico laboratorial, no exame KOH é possível se verificar nódulos escuros formados por hifas ramificadas e septadas, unidas por um cimento negro. Em meio de cultura, o fungo cresce em colônia negra no Mycosel ou no Ágar Sabouraud, e é identificado pela sua micromorfologia. Entretanto, o exame de cultura não é necessário para o diagnóstico. 2. Piedra Branca: Agente etiológico: fungos do gênero Trichosporon. Ocorre a formação de nódulos claros ao longo e na extremidade dos pelos, especialmente da cabeça (como barba, cílios e sobrancelha), da axila e de áreas crurais. Ocorre mais frequentemente na extremidade dos fios, e mais raramente ao longo deles. Os fios do couro cabeludo raramente são atingidos. Ocorre mais na América do Sul e no Oriente, sendo raro nos Estados Unidos. O nódulo é visível a olho nu com coloração branco- amarelada. Não é uma doença infecciosa. Pode apresentar recidivas. O diagnóstico laboratorial em KOH permite a observação de uma massa de leveduras retangulares ou ovoides. A cultura ocorre bem em Ágar Sabouraud, na qual se evidencia as hifas, os artroconídios e os blastoconídios. Na cultura apresentam colônias de rápido crescimento, entre três e cinco dias, com pregas radiais. Para identificação fenotípica definitiva é requerido estudo micromorfológico e bioquimismo nas provas de assimilação a fontes de carbono e de nitrogênio. Deve haver diagnóstico diferencial com lêndeas, além da piedra negra, tricomicose nodular de Castelani e da tricorrexis nodosa. Tratamento: a melhora da higiene e a depilação dos pelos infectados são eficazes e podem refutar a necessidade de tratamento clínico, que consiste na utilização de azóis tópicos. 3. Tinea Nigra: Causada pelos fungos Hortaea wernecki no Brasil e Stenella araguata na Venezuela. O significado do seu nome é “podridão negra”. É uma doença assintomática. É caracterizada por máculas marrons ou negras no estrato córneo (camada mais externa e superior da epiderme). Uma mácula consiste em uma lesão superficial, circunscrita (com bordas definidas), sem sinais inflamatórios, não descamativa. Sua pigmentação fica mais escura próximo às bordas. O local mais comumente afetado é a palma das mãos, mas lesões plantares também podem acontecer. A maioria dos casos ocorre em pessoas com menos de 19 anos, podendo ocorrer a qualquer idade. Pode haver auto-cura. No diagnóstico laboratorial de KOH, observam- se hifas septadas, fuliginosas (sujas), e células leveduriformes. Seu meio de cultura é o Ágar Sabouraud, com crescimento lento. O microcultivo é fundamental para a observação de células conidiogênicas em forma de anelídeo. Deve haver diagnóstico diferencial entre tinea nigra e melanoma maligno, dermatite de contato, nevus (pintas), melanose pós-inflamatória, pigmentação de Addison e pigmentação por produtos químicos. O tratamento deve ser feito por agente queratinolíticos. 4. Ptiríase Versicolor: Agente etiológico: leveduras lipofílicas do gênero Malassezia, da família Cryptococcaceae, da classe Blastomycetes da divisão Deuteromycotina. São fungos lipofílicos que fazem parte da microbiota do couro cabeludo. A Malassezia pachidermatis acomete animais, causando otite, e não causa ptiríase. Pode ser chamada de Tinea Flava. Jéssica N. Monte Turma 106 P1 Micologia É uma infecção superficial branda que é frequentemente recorrente na pele. Ocorre o desenvolvimento de máculas furfuráceas, assimétricas, indolores, hiper ou hipopigmentadas em relação a cor da pele, que descamam com facilidade. O termo ptiríase significa descamação e o termo versicolor remete a apresentar duas tonalidades. Ocorre mundialmente, especialmente em regiões de clima tropical. Predomina no sexo masculino (proporção de três homens para duas mulheres), em indivíduos de pele branca e principalmente em adultos jovens, entre 20 e 30 anos (devido a maior produção de gordura pelas glândulas sebáceas). O agente etiológico da ptiríase versicolor é pouco presente em crianças e idosos, devido à presença de poucos lipídios na pele. Acontece mais comumente nas costas, no pescoço e no tórax. Geralmente as máculas hiperpigmentadas acontecem em pessoas de pele mais clara, e as hipopigmentadas em pessoas de pele mais escura, entretanto, essa não é uma regra. Além disso, os dois tipos da lesão podem ocorrer na mesma pessoa. Em indivíduos claros, as lesões hipopigmentadas são recentes, enquanto as hiperpigmentada são crônicas. A hipopigmentação, típica da ptiríase versicolor, ocorre devido ao fato de os fungos produzirem ácidos dicarboxílicos que, ao serem absorvidos pela pele, determinam a parada do funcionamento dos melanócitos. Após o tratamento, as máculas apenas irão desaparecer sob novo estímulo dos melanócitos, podendo demorar de seis meses a um ano para acontecer. Fatores como a má higiene, a desnutrição, a gravidez e o uso de corticoides podem favorecer o crescimento do fungo. A transmissão do fungo é possível, embora não ocorra. O diagnóstico clínico pode ocorrer por meio da Lâmpada de Wood, que consiste em luz negra, sob a qual as lesões fúngicas ficam fluorescentes. No entanto, caso o fungo não fluoresça, não se deve destacar totalmente a hipótese de uma infecção fúngica, pois os pigmentos dos fungos são hidrossolúveis e, portanto, podem sair no banho. A partir disso, deve-se seguir para o exame micológico. Para o diagnóstico laboratorial, faz-se um raspado das lesões, por meio de um swab (algodão) com éter (elimina a gordura natural da pele e a descama). No exame de KOH, verificam-se hifas grossas, curtas e ramificadas ao lado de esporos que se dispõem em cadeias. Sua forma ideal de cultivo (que não é útil para o diagnóstico diferencial, uma vez que a Malassezia sp está presente na microbiota normal da pele) consiste em Mycosel somado a óleo de oliva à 37ºC, ou ainda no meio de Dixon e suas fórmulas modificadas. O tratamento da ptiríase versicolor deve ser feito apenas por meio de medicamentos tópicos com enxofre presente (pois esse é um elemento descamativo que retira os microorganismos), como o sulfato de selênio. Deve ser feito o diagnóstico diferencial de ptiríase versicolor com outras doenças como a tinha circinada (lesão causada pela tinea unguium), a ptiríase rósea (que não tem aparência semelhante à ptiríase versicolor), o eritrasma (que é uma infecção bacteriana), a sífilissecundária (que é uma infecção bacteriana que pode causar erupções cutâneas), pintas (oriunda de bactérias do gênero Treponema), o vitiligo (que é uma doença genética) e a ptiríase alba. OBS: A ptiríase rósea começa com um medalhão, ou seja, com uma lesão única, que dá origem a uma série de pápulas eritematosas (lesões elevadas e avermelhadas). Tem etiologia viral, ocorrendo somente uma vez, devido à formação de anticorpos. Ocorre no tronco, principalmente em mulheres, e dura de duas a três semanas, sumindo espontaneamente. Já a ptiríase alba consiste em uma manifestação transitória que acontece em crianças durante o estirão do crescimento, quando ocorre algum desequilíbrio nutricional, e gera manchas brancas no rosto. Além da ptiríase versicolor, existem outras importantes manifestações clínicas causadas pela Malassezia: 4.1. Foliculite Ptirospórica: Consiste em leveduras que crescem nos folículos pilosos e nas glândulas sebáceas. São lesões eritematosas (avermelhadas) com a presença de pústulas (bolinhas elevadas na pele contendo pus) ou pápulas (caroço pequeno, elevado e mole na pele). As lesões estão distribuídas nas costas, nos ombros, no tórax e no membro superior. Seu agente mais frequente é a bactéria Staphylococcus aureus. Entretanto, em pacientes imunocomprometidos, pode ser causada pela Malassezia. Sua condição predisponente é o uso prolongado de antimicrobianos ou de corticoides. Sua evolução pode levar a uma cura espontânea ou à formação de um abcesso (coleção de pus na intimidade do tecido). Um dos tratamentos é o uso de pomadas que contenham bacitracina e neomicina, como o Nebacetin. Jéssica N. Monte Turma 106 P1 Micologia 4.2. Dacriocistite Obstrutiva: É a colonização do saco lacrimal causando seu aumento de tamanho, e consequente obstrução. 4.3. Dermatite Seborreica: Ocorre em indivíduos com superprodução de lipídios, a qual causa um aumento da carga fúngica. A Malassezia produz lipases que geram ácidos graxos livres, os quais são irritantes para a pele. O organismo, então, reconhece os fungos como antígenos, ativando a via alternativa do sistema complemento para que ocorra o processo inflamatório. Aos serem mortos pelo sistema imune, a pele descama de forma acentuada, provocando o que conhecemos por caspa. Portanto, a Malassezia age como mecanismo de sensibilização. É importante lembrar que a Malassezia não é o único agente determinante da dermatite seborreica. 4.4. Infecções sistêmicas causadas por Malassezia: Essas infecções são chamadas de fungemias. São relatadas principalmente em pacientes com cateteres que recebem alimentação parental rica em lipídios por tempo prolongado. O exame requer hemocultura de sangue coletado diretamente do cateter. O exame do cateter geralmente mostra colonização por Malassezia furfur, que tem origem da pele do próprio paciente ou de seus cuidadores. Além disso, reiterando, a espécie Malassezia pachidermatis acomete animais, causando otites. Entretanto, essa espécie de Malassezia não causa ptiríase em humanos. Dermatofitoses As dermatofitoses são tipos de infecções fúngicas que se enquadram nas micoses superficiais. As dermatofitoses são causadas por fungos dermatofíticos queratinofílicos. Esses fungos são especializados em decompor a queratina, atacando a pele, os pelos e as unhas. Nas infecções de pele, os dermatófitos atacam somente o estrato córneo, que é a camada superior e mais externa da epiderme. As doenças causadas por dermatófitos que atacam a pele são chamadas de dermatofitoses propriamente ditas. As que atacam os pelos são chamadas de tricofitoses. Por fim, as que atacam as unhas são chamadas de onicomicoses. As várias formas de dermatofitoses são chamadas de “Tineas” e são nomeadas de acordo com o local do corpo que atacam. Os agentes etiológicos das dermatofitoses são: Microsporum (atacam pele e pelo), Tricophyton (atacam pele, pelo e unhas) e Epidermophyton (atacam pele e unhas). Existem 40 espécies de dermatófitos conhecidos, sendo 27 deles patogênicos, 15 encontrados no Brasil, e 7 comuns no Rio Grande do Sul. A evolução dos dermatófitos se iniciou a partir do solo (geofílicos), depois passaram a atacar animais (zoofílicos), e posteriormente começaram a atacar os seres humanos (antropofílicos). Os fungos zoofílicos são os que mais produzem conídios, enquanto que os antropofílicos são os que menos os produzem. Muitos dermatófitos vivem em situação de equilíbrio com seu hospedeiro, o que é chamado de saprofitismo, e, devido a isso, não causam doenças no hospedeiro. Entretanto, quando esse equilíbrio é alterado, como em um novo hospedeiro, episódio de quebra de barreira ou alguma situação de fragilidade, os fungos podem causar infecções. Nos homens, os dermatófitos antropofílicos causam infecções brandas (uma vez que já estão adaptados ao estrato córneo). Já os dermatófitos zoofílicos e geofílicos determinam respostas inflamatórias agudas, uma vez que são interpretados pelo sistema imune como antígenos nunca antes reconhecidos. Lesões causadas por dermatóficos antropofílicos geram lesões descamativas, quase sem prurido (coceira), hiperqueratósicas (com excesso de queratina) e com curso crônico. Já as lesões causadas por dermatófitos geofílicos ou zoofílicos determinam inflamações com pústulas, vesículas e infiltrações inflamatórias. O fungo Tricophyton rubrum é a espécia queratinófila mais comum em humanos. Os dermatófitos antropofílicos mais comuns são: E. floccosum, T. rubrum, T. mentagrophytes var. interdigitale, T. schoenleinii, T. tonsurans e T. violaceum. Os dermatófitos zoofílicos mais comuns são: M. canis, T. mentagrophytes var. mentagrophytes, T. verrucosum, T. equinum, M. galinae e T. simii. Jéssica N. Monte Turma 106 P1 Micologia Os dermatófitos geofílicos mais comuns são: M. gypseum, M. nanum, M. cookei, T. ajelloi, T. terrestre e M. persicolor. A espécie mais comum no Brasil é a Tricophyton rubrun. Acima de São Paulo, as espécies mais comuns são a Tricophyton tonsurans e a Tricophyton violaceum, sendo ambas raras na região sul. Em regiões com muita relação com bovinos e produção leiteira, a espécie mais comum é a Tricophyton verrucosum. Já a espécie Tricophyton concentricum ataca somente indígenas do Brasil central e aborígenes. Além disso, em focos isolados, também se pode encontrar o Tricophyton schoenleinii e o Tricophyton megnini. O conjunto de espécies de dermatófitos é chamado de espectro dermatofítico. “As dermatofitoses ocorrem porque os hospedeiros têm diferentes padrões de queratina e os dermatófitos têm diferentes queratinases, que determinam infecções, acionam o tecido linfoide e geram resposta inflamatória ativando linfócito T, que resulta em hipersensibilidade, causando a descamação.” Uma mesma espécie pode causar vários tipos clínicos e a mesma forma clínica pode ser causa por diferentes tipos de fungos. Tipos de dermatofitoses: 1. Tinea Capitis: É a “tinha do couro cabeludo”. Acontece somente em crianças, pois elas não possuem lipídios protetores no couro cabeludo. Pacientes com HIV podem apresentar esse tipo de dermatofitose devido à imunossupressão. As lesões da tinea capitis podem se apresentar de três formas distintas: 1.1. Forma tonsurante: É causada pelo Microsporum canis, peloTricophyton tonsurans e pelo Tricophyton violaceum. É o tipo mais comum de tinea capitis. Consistem em lesões descamativas e secas com cotos pilosos, pois o cabelo cresce somente até 2mm e se quebra. Pode se diferenciar em dois tipos: a) Tipo Microspórica: apresenta uma lesão única e geralmente grande. b) Tipo Tricofícia: apresenta várias placas de lesão. 1.2. Forma de Kérion ou supurativa: É causada por fungos geofílicos e zoofílicos, como o Microsporum gypseum, o Tricophyton mentagrophytes e o Tricophyton verrucosum. Gera intensa reação inflamatória de aspecto esponjoso, que possui crosta, é fluida, e causa dor. 1.3. Forma fávica: É causada pelo fungo Tricophyton schoenleinii. Ocorre tanto em adultos quanto em crianças. Acomete o folículo piloso, causando alopecia permanente (o pelo não volta a crescer no local atingido). Sua lesão é chamada de escútula fávica. Nos cabelos, os dermatófitos se evidenciam como hifas ou cadeias de artroconídios, podendo se aderir aos fios de três formas diferentes: 1. Ectotrix: quando se dispõe fora do pelo, lado a lado ou ao redor dele. Os ectotrix pequenos são chamados de ectotrix micróide, como o Microsporum canis e o Tricophyton mentagrophytes. 2. Endotrix: quando se localizam no interior do fio. São de tamanho médio, como o Tricophyton tonsurans e o Tricophyton violaceum. 3. Fávico: quando são hifas intracapilares. É o caso do Tricophyton schoenleinii. 2. Tinea Corporis: O agente etiológico principal é o Tricophyton rubrum. As lesões reaparecem em intervalos regulares. Ocorre em áreas desprovidas de pelos, como o tórax e as costas. É a “tinha da pele glabra”. Suas lesões podem ser de quatro tipos: eritemato- vesico-crostosas, foliculite, placas de quérion ou granulomatosa profunda. Pode se curar sozinha. Pode haver reinfecção. As lesões eritemato-vesico-crostosas com bordas avermelhadas e bem definidas, com formato arredondado e que podem coalescer são chamadas de herpes cincinado. Seu possível causador é o Microsporum canis. OBS: herpes cincinado não tem nada a ver com os outros tipos de herpes, que tem origem viral. Quando o dermatófito adentra o tecido subcutâneo, forma-se o granuloma de Majocchi. Na AIDS, as lesões da tinea corporis são muito grandes, com extensa área. Além disso pode haver infecções de vários tipos de tineas ao mesmo tempo. Jéssica N. Monte Turma 106 P1 Micologia O tratamento da tinea corporis é tópico, com produtos derivados de imidazólicos, haloprogrina e griseofulvina. 3. Tinea Umbricata: É causada pelo Tricophyton concentricum. É um tipo de tinea corporis. Acomete somente indígenas específicos do Brasil central e da América Latina. Tem baixa infectividade, mas sua cura é difícil. Suas lesões são concêntricas e espiraladas. 4. Tinea Cruris ou Inguinal: Os agentes etiológicos mais comuns são o Tricophyton rubrum, o Epidermophyton floccosum e o Tricophyton mentagrophytes. Acomete a região crural (virilha, períneo e região genital). É mais comum em homens e raramente ocorre em mulheres. Ocorre com maior frequência nos trópicos, pois as condições de umidade levam à maceração da pele da região inguinal. É uma infecção que pode ser aguda ou crônica, com apresentação intensa de prurido. Pode tomar proporções epidêmicas, uma vez que pode ser transmitida por roupas de cama e toalhas de banho, por exemplo. As lesões são do tipo arciformes com bordos eritemato-vésico-crostosos, chamadas de Eczema Marginado de Hebra. As lesões podem se manifestar também sob a forma de foliculite, placas infiltradas ou área eritematosa úmida de bordos descolados. As lesões tendem a se espalhar para a região abdominal e glútea. Os fatores predisponentes para o desenvolvimento da tinea cruris são a umidade, a transpiração, a maceração da pele por irritação com as roupas, obesidade e diabetes. 5. Tinea Unguium: O agente etiológico mais comum é o Tricophyton rubrum. Nas unhas dos pés, a infecção pode acontecer devido (além do Tricophyton rubrum) ao Trycophiton mentagrophytes e ao Epidermophyton floccosum. É um tipo de onicomicose (infecção fúngica das unhas). Toda tinea unguium é uma onicomicose, mas nem toda onicomicose é uma tinea unguium. É a “tinha das unhas”. Essa dermatofitose acontece quando a lesão vai da borda livre da unha para o seu interior. Pode ser dividida em dois tipos clínicos: 5.1. Dermatofitose sub-ungueal invasiva: A lesão se inicia com a destruição do bordo livre da lâmina ungueal. Essa destruição provoca o espessamento e a deposição de uma substância branca, semelhante ao requeijão, entre a unha e o leito ungueal. Com a evolução da doença ocorre destruição total da lâmina ungueal. Nesse tipo de tinea unguium ocorre o deslocamento da região sub-ungueal, e a unha se descola do leito. Acontece mais em idosos e pode ser porta de entrada para outras doenças bacterianas. Em pessoas com estase venosa ela se torna ainda mais grave, pois as bactérias se instalam e se espalham mais facilmente, podendo levar a uma bacteremia. 5.2. Leuconiquia micótica: A lesão se inicia com uma área opaca, esbranquiçada e circunscrita. Pode se estender por toda a unha ou permanecer restrita. Geralmente é assintomática, pois como é superficial, não entra em contato com os tecidos e, consequentemente, não desencadeia resposta inflamatória. 6. Tinea Barbae: Os agentes etiológicos mais envolvidos são os dermatófitos zoofílicos Tricophyton mentagrophytes e o Tricophyton verrucosum. Além disso, pode ser causada também por dermatófitos antropofílicos como o Tricophyton rubrum e o Tricophyton schoenleinii. A infecção ocorre na região da barba, da face e do pescoço. É a “tinha da barba”. É restrita a homens adultos. Ocorre mais frequentemente em zonas rurais. As lesões podem ser de três tipos: eczema anular ou tinea circinada, foliculite, e placa de quérion. 7. Tinea Manum: Os principais agentes etiológicos são o Tricophyton rubrum, o Tricophyton mentagrophytes e o Epidermophytos floccosum. Possui os mesmos agentes etiológicos que a tinea pedis. Jéssica N. Monte Turma 106 P1 Micologia É um dos tipos de dermatofitoses mais comuns. Acomete a palma das mãos e as áreas interdigitais. É a “tinha das mãos”. É necessário um diagnóstico diferencial entre a tinea manum e a psoríase, a dermatite de contato, a neurodermatite, a sífilis secundária, a dermatocandidíase e as mícides ou dermatofítides. As mícedes ou dermatofítides são erupções secundárias que acontecem em pacientes os quais já estão sensibilizados pela circulação de alergênicos oriundos de um foco primário de infecção. Por exemplo, pacientes com tinea pedis comumente apresentam lesões nos dedos das mãos. Entretanto, na mão são observadas apenas as lesões (papulares, vesiculares e raramente pustulosas), mas é nos pés que se encontra o fungo. 8. Tinea Pedis: Os agentes etiológicos mais comuns são o Tricophyton mentagrophytes, o Tricophyton rubrum e o Epidermophytos floccosum. Acomete os pés, incluindo os dedos e a sola. Ocorre com maior frequência em homens. Também é chamada de pé de atleta. É a “tinha dos pés”. O prognóstico e o tratamento da tinea pedis, em geral, regride com terapêutica local. Além disso, devem ser considerados cuidados de higiene e controle de infecçõesbacterianas secundárias. Apresenta três formas clínicas: 8.1. Forma Intertriginosa Crônica: É a forma mais comum da tinea pedis. Ocorre maceração e fissura entre o terceiro e o quarto espaço interpodálicos. 8.2. Forma Crônica Escamosa: São lesões descamativas, róseas e bilaterais. São semelhantes à dermatite esfoliativa. 8.3. Forma Vesiculosa ou Disidrosiforme: É uma forma inflamatória e pruriginosa. Apresenta reagudização periódica. Possui vesículas drenando um líquido claro. Diagnóstico laboratorial de dermatofitoses: No exame direto, em KOH (que clarifica o fungo), o material deve ser extraído preferencialmente da borda da lesão, no limite entre o tecido saudável e o tecido doente. Nesse exame são verificadas as hifas hialinas, septadas e ramificadas. Quando as hifas estão desarticuladas, verificam- se as cadeias de artroconídios. Quando se trata de fios de cabelo, são verificadas as hifas e as cadeias de artroconídeos de acordo com suas formas três formas possíveis de parasitismo: ecotrix, endotrix e fávico. No exame cultural, o meio de cultivo padrão é o Mycobiotics (Ágar Sabouraud + cloranfenicol + ciclohexemide), pois esse meio impede o crescimento de saprófitas (organismos que se alimentam de matéria orgânica em decomposição) sem prejudicar os dermatófitos. Para o crescimento da cultura são necessários em média 14 dias (de dez dias a três semanas), sob a temperatura de 25ºC. Características Macroscópicas e Microscópicas dos Dermatófitos: 1. Microsporum canis: Sua colônia é de crescimento rápido (de 4 a 5 dias). Macroscopicamente tem reverso amarela/laranja, superfície branca aveludada e periferia amarela brilhante. Microscopicamente se observa macroconídios em forma de fuso, septados (15 septos), paredes espessas e rugosas, protuberâncias nas extremidades e poucos microconídios. 2. Microsporum gypseum: Sua colônia é de crescimento rápido (uma semana). Macroscopicamente a colônia é pulvurulenta (“cheia de pó”), de cor café-com-leite/camurça/bege. O reverso tem coloração creme. Microscopicamente se observa macroconídios elipsoides mais curtos e mais largos que os macroconídios observados no Microsporum canis. 3. Microsporum nanum: Macroscopicamente apresenta colônia camurça, semelhante à observada no Microsporum gypseum. Microscopicamente se observa microconídios clavados em forma de pêra. É semelhante ao Chrisosporium sp., mas difere dele por crescer em ágar e em cabelo. Também pode ser confundido com o Epidermophyton floccosum. 4. Epidermophyton floccosum: Sua colônia é de crescimento rápido. Macroscopicamente possui superfície que varia de cor entre amarelo-esverdeado e oliváceo. Jéssica N. Monte Turma 106 P1 Micologia Microscopicamente são macroconídios em forma de clava dispostos em forma de leque. Nunca há microconídios nessa cultura. 5. Tricophyton rubrum: Macroscopicamente é uma colônia de superfície branca e reverso vinho. Microscopicamente é uma colônia com muitos microconídios dispostos alternadamente em torno da hifa, parecendo um ramo com folhas, além de macroconídios finos e claviformes. 6. Tricophyton mentagrophytes: Macroscopicamente a variedade antropofílica é semelhante ao Tricophyton rubrum, com colônia algodonosa, mas sem a cor vinho. Já a variedade zoofílica apresenta colônia granular e esbranquiçada. Microscopicamente apresenta hifas em espiral, com microconídios isolados em gota ou agrupados em pinha. Micoses Subcutâneas 1. Esporotricose: Agente etiológico: Sporothrix schenckii. É uma infecção crônica. Caracteriza-se por lesões no tecido cutâneo e, mais comumente, no tecido subcutâneo. Pode ocorrer na forma pulmonar sistêmica. O Sporothrix schenckii está presente no solo, em vegetais em decomposição e em espinhos de plantas. O Sporothrix schenckii é um fungo termodismórfico. Em temperatura ambiente esse fungo é filamentoso. Já no tecido humano (a 37ºC) é uma levedura pleomórfica. Determina uma resposta muito eosinofílica. As lesões são nodulares e ulcerativas e se desenvolvem ao longo dos vasos linfáticos que drenam o sítio primário de inoculação. A maioria dos pacientes acometidos por esporotricoses são adultos jovens, de 10 a 29 anos, e do sexo masculino. A contaminação ocorre na maioria das vezes por inoculação traumática na pele, ou ainda por inalação, quando na forma pulmonar. Essa doença está muito relacionada à caça de tatu no Uruguai e no Rio Grande do Sul. Acomete trabalhadores de soja e de cana. É uma doença relacionada a hábitos culturais. Gatos e tatus apresentam o Sporothrix schenckii em suas unhas. No Rio de Janeiro há uma epidemia zoonótica de esporotricose devido aos gatos. Evolução da inoculação: trauma → nódulo ulcerado (cinco dias) → cancro esporotricótico (nódulo pequeno e descorado – forma necrótica) → lesão cutânea fixa ou nódulos linfocutâneos. Formas clínicas da esporotricose: 1.1. Esporotricose linfocutânea: É a forma mais comum de esporotricose, abrangendo 75% dos casos. O fungo penetra por uma lesão na pele. No começo determina uma lesão inicial de pápula. Os primeiros sinais começam a aparecer cerca de cinco dias depois da infecção. Os sinais são: nódulo pequeno e descorado, cranco esporotricótico (forma necrótica) e, semanas após a lesão primária, surgem múltiplos nódulos ao longo dos vasos linfáticos. A esporotricose linfocutânea é caracterizada pelo fato de o fungo realizar sua trajetória na pele. Além disso, há associação com o estado de baixa imunidade. A presença de úlceras nos dedos ou no punho, mais a tumefação e o edema na cadeia ascendente de vasos linfáticos são os patognomônicos da esporotricose linfocutânea, ou seja, são os sinais particulares cuja presença significa que uma determinada doença está presente além de qualquer dúvida. 1.2. Esporotricose cutânea fixa: Ocorre em indivíduos com certa imunidade à infecção. Apresenta apenas a lesão. O sistema imune possui anticorpos para a espécie, assim o fungo não consegue fazer a sua trajetória na pele. As lesões podem apresentar crostas ou serem ulcerativas, verrucosas, acneiformes, placas eritematosas ou somente escamosas. Pode ser semelhante às micobacterioses cutâneas. 1.3. Esporotricose mucocutânea: Recebe esse nome quando há envolvimento da boca, faringe, nariz, ânus, entre outros. A infecção primária é rara. Ocorre mais comumente na boca. A contaminação pelo ânus ocorre quando se faz a limpeza após evacuações com folhas, determinando o contato com o fungo. Jéssica N. Monte Turma 106 P1 Micologia 1.4. Esporotricose extracutânea disseminada: É uma forma rara da esporotricose. Ocorre em consequência da disseminação hematogênica de outras formas da esporotricose, ou seja, transmitida por vias sanguíneas, independente de sua causa inicial ou do seu surgimento. A disseminação pode ocorrer a partir de uma lesão cutânea ou pulmonar. Pode ocorrer também por meio de inoculação direta em um dos órgãos atingidos. Os casos mais comuns da esporotricose extracutânea disseminada acontecem no tecido ósseo e sinovial, contemplando 80% dos casos, e sendo descrito como artrite destrutiva com lesão óssea. As doenças sistêmicas são raras, mas podem ocorrer em pacientes imunocomprometidos. Alterações nos olhos, sinusóidese meninges são ainda mais raras. 1.5. Esporotricose pulmonar: Resulta da inalação de propágulos fúngicos com desenvolvimento de lesão primária no lobo superior dos pulmões. Raramente é diagnosticada. Predomina em alcoólatras. Pode ser de dois tipos: a) Crônica: determina cavitação e se localiza nos ápices pulmonares, sugerindo tuberculose. b) Aguda: envolve linfonodos hilares, podendo causar obstrução dos brônquios devido à magnitude da linfadenopatia. Deve ser realizado diagnóstico diferencial da esporotricose pulmonar com cromoblastomicose, micetomas, leishmaniose e nocardiose. Histopatologia da esporotricose A histopatologia da esporotricose envolve a combinação entre granuloma e reação piogênica (neoplasia/tumor vascular aparente em mucosas ou na pele). Difere do granuloma da tuberculose porque não evidencia fibroblastos. Diagnóstico laboratorial da esporotricose 1. Exame direto: a) KOH: Aplicasse potassa no pus das lesões. Como o pus é pobre em elementos, o resultado será negativo. Esse exame é utilizado para descartar outras infecções, como a cromoblastose. Quando realizado no homem, os elementos fúngicos são raros. Já quando realizado nos gatos, os elementos fúngicos estão presentes. b) Gram: Permite a observação da forma leveduriforme com brotamento do fungo Sporothrix schenckii. A forma leveduriforme com brotamento consiste em elementos naviculares gram positivos. c) Giemsa: Cora somente o citoplasma, permitindo ver a forma leveduriforme com brotamento polar, mas não permite a visualização do corpo asteroide. São observados elementos extracelulares em formas de navete ou charuto. d) Cortes histológicos: Em coloração por hematoxilina e eosina se tem uma difícil visualização dos elementos fúngicos. 2. Exame cultural: É obrigatório para a esporotricose. Os meios de cultivo são o Ágar Sabouraud e o Ágar Mycobiotic. As colônias são inicialmente brancas e membranosas, tornando-se sulcadas e mais escurecidas com o tempo. A micromorfologia do Sporothrix schenckii é de hifas hialinas, septadas, muito finas e delicadas. Em suas extremidades os conídios se dispõem em pétalas de flor (simpoduloconídios). A reversão acontece em ágar-sangue ou em BHI sangue, incubados de 35ºC e 37ºC. A 25ºC o fungo cresce em saprofitismo (se alimenta de matéria orgânica), determinando a fase M (mould), que significa bolor. São os simpoduloconídios e as hifas. A 37ºC o fungo cresce em parasitismo, se transformando na fase Y (yeast), na qual se caracteriza pela forma navicular com brotamento. Esse processo caracteriza o seu dimorfismo térmico. O diagnóstico histopatológico para a esporotricose é corado pelo PAS, apresentando células redondas e naviculares. O tratamento da esporotricose é feito por meio de azólicos (como o itraconazol), de iodetos (como o IK via oral ou intravenosa, que não permitem o desenvolvimento de resistência, mas apresentam efeitos colaterais desagradáveis) e de anfotericina B endovenosa ou intralesão nas formas graves. Jéssica N. Monte Turma 106 P1 Micologia 2. Doença de Jorge Lobo: Agente etiológico: fungos do gênero loboi como Loboa loboi, Laccazia loboi e Paracoccidioides loboi. Ocorre inoculação direta do fungo na pele, gerando uma reação granulomatosa com fibrose. É uma micose subcutânea caracterizada por lesões cutâneas, infiltradas, nodulares e verrucosas. As lesões são indolores e podem ser nodulares, ulcerosas, cicatriciais, tumorais, queloidianas, gomosas e verrucosas. Em 86% dos casos o fungo acomete homens. O fungo vive na água, no solo e nos vegetais de regiões de clima quente e úmido. Tem sido registrada no Brasil, na Venezuela, na Colômbia, nas Guianas, no México, no Panamá e na Costa Rica. Possui evolução crônica e lenta, que pode durar de um a dois anos. Não possui disseminação visceral, não atingindo cadeias ganglionares ou vísceras. Predomina nas áreas expostas do corpo e costuma acometer o pavilhão auricular. Deve ser realizado diagnóstico diferencial com hanseníase, esporotricose, cromomicose, tuberculose ganglionar e dermatofibrossarcoma. Na histopatologia se observa um granuloma histiocitário caracterizado pela abundância de células gigantes, histiócitos e células do fungo. Não se observa necrose ou supuração, mas sim fibrose. Não há tratamento específico para a Doença de Jorge Lobo, pois os antifúngicos disponíveis não são resolutivos. Por isso, o mais recomendado é a excisão cirúrgica. No diagnóstico laboratorial com KOH são observadas células arredondadas de paredes duplas, isoladas ou dispostas em cadeias, ligadas umas as outras por tubos interconectantes com aspecto de 8. Nos cortes histopatológicos observam-se longas cadeias ao lado de macrófagos. Além disso, também pode ser visualizado o fenômeno Splendore-Hoeppli (bainha eosinofílica em volta das hifas). 3. Rinosporidiose: Agente etiológico: Rhinosporidium seeberi (fungo ainda não isolado e classificado). É uma infecção granulomatosa crônica nos tecidos subcutâneos. Linfonodos regionais não costumam ser atingidos. Caracteriza-se pelo aparecimento de pólipos hiperplásicos, altamente vascularizados, friáveis, sésseis ou pedunculados. Em quase todos os casos o fungo está limitado ao pólipo. Essa doença pode ser chamada também de “micose de Seeber” ou de “granuloma rinosporidiótico”. Em 88% dos casos ocorre em zonas endêmicas como a Índia e o Sri Lanka. No Brasil acontece no Maranhão e no Piauí. Esporadicamente ocorre em todo o mundo. O Rhinosporidium seeberi ataca seres humanos, cavalos, mulas e bovinos. O local mais frequente da infecção, em 70% dos casos, é o nariz (daí o nome rinosporidiose). Em 25% dos casos há envolvimento dos olhos e em 5% a doença envolve outros sítios. a) Doença nasal: O trauma inicial pode predispor a infecção. O local mais comum de infecção é a membrana mucosa do septo. Inicialmente as lesões são sésseis e depois se tornam pedunculadas. Com o crescimento do pólipo há obstrução da passagem de ar. Sangramentos e epistaxes são frequentes e graves. O pólipo passa de róseo para vermelho devido à grande vascularização. Além disso, ele apresenta pontos brancos, que são as esférulas do fungo. b) Doença ocular: Acredita-se que o pó seja o principal responsável pela infecção nos olhos, além de funcionar como vetor para o fungo. Ocorre em regiões mais específicas como o Irã e a Índia. c) Lesões em outras áreas: Podem ocorrer em outras áreas como a laringe, a vagina, a úvula, a vulva e o ânus. Deve ser realizado diagnóstico diferencial entre a rinosporidiose e hemangiomas, condilomas e neoplasias. O tratamento se dá por remoção cirúrgica e injeção local de anfotericina B. O uso de Dapsona ajuda a evitar recidivas. Na histopatologia em HE, observam-se elementos esféricos em vários estágios de maturação. Os elementos menores são unicelulares e os elementos maduros são chamados de esférulas e têm parede espessa com milhares de endósporos nos seus interiores. O exame direto em KOH a partir do raspado ou macerado da lesão mostra esporângios e esporos. O exame de cultura não é realizado. Jéssica N. Monte Turma 106 P1 Micologia 4. Entomoftoromicose ou Zigomicose Subcutânea: Agentes etiológicos: Basidiobolus ranarum, Basidiobolus haptosporum,Conidiobolus coronatus e Conodiobolus incongruus. É uma micose granulomatosa crônica restrita aos tecidos subcutâneos da mucosa nasal ou aos tecidos subcutâneos em geral. Raramente ocorre na forma sistêmica. A resistência natural a essa infecção é alta, portanto a doença é rara. Não há procedimentos sorológicos satisfatórios para o diagnóstico. Os agentes da forma subcutânea são zigomicetos da ordem Entomophtorales. Os agentes da forma sistêmica são zigomicetos da ordem Mucorales. Os fungos causadores vivem na matéria vegetal em decomposição e são muito sensíveis ao frio. A doença ocorre na Nigéria, na Uganda e no norte equatorial do Brasil. O Basidiobolus ranarum acomete mais crianças, enquanto o Conidiobolus coronatus acomete mais adultos. Formas clínicas da Entomoftoromicose: 4.1. Basidiobolomicose: A infecção se inicia como um nódulo subcutâneo que aumenta de tamanho. A pele tende a mudar sua pigmentação, mas sem ulcerações. Caracteriza-se por massas subcutâneas palpáveis, endurecidas, bem delimitadas, móveis e cobertas por pele normal. As regiões mais atingidas são o tronco, as nádegas e os membros. Acredita-se que o fungo entre por picada de insetos ou por via intestinal. 4.2. Micose causada pelo Conidiobolus coronatus ou Rinoentomoftoromicose: Tumefação subcutânea na mucosa nasal que se estende aos tecidos subjacentes. É recoberta por pele eritematosa e tem consistência dura. Pode haver obstrução nasal ao fluxo de ar. Há pouca dor. 4.3. Entoftoromicose sistêmica: É causada pelo Basidiobolus haptosporus e pelo Conidiobolus incongruus. As lesões do Basidiobolus podem se estender aos pulmões e órgãos abdominais. O Conidiobolus é causador de mediastinite granulomatosa e de manifestações sistêmicas generalizadas. Deve haver diagnóstico diferencial entre a basidiobolomicose e neoplasias e elefantíase. Deve haver diagnóstico diferencial entre a rinoentomoftoromicose e mucormicose rino-cerebral, neoplasias, abcesso piogênico, dracunculíase e oncocercose. O diagnóstico correto é estabelecido por exame histopatológico e cultura do tecido infectado. No exame histopatológico, as características histopatológicas da entomoftoromicose e da mucormicose são muito semelhantes. No entanto, o fenômeno Splendore-Hoeppli (bainha eosinofílica encontrada em volta das hifas) acontece na entomoftoromicose e não acontece na mucormicose. A invasão vascular está presente na mucormicose e ausente na entomoftoromicose. As hifas septadas estão presentes na mucormicose, enquanto na entomoftoromicose a septação é esparsa. No exame laboratorial direto em KOH se observam hifas largas, de paredes finas, septadas e ramificadas. Antes da cultura o material deve ser macerado em solução que contenha penicilina e estreptomicina. Semeia-se em Ágar Sabouraud 2% e incuba-se à temperatura de 25ºC a 30ºC. Não se pode utilizar meios que contenham ciclohexemide. Na cultura, o Basidiobolus ranarum apresenta colônias planas ou rugosas, cinzentas e de consistência pegajosa. Cresce entre 48 e 72 horas. Já o Conidiobolus coronatus apresenta colônia plana, marrom clara e com numerosos esporangíolos. O que diferencia as duas espécies na cultura é a papila proeminente do Conidiobolus coronatus. Jéssica N. Monte Turma 106 P1 Micologia 5. Cromoblastomicose: Agentes etiológicos: Phialophora verruosa, Fonsecaea pedrosoi, Fonsecaea compacta, Cladosporium carrionii e Rhinochladiella acquaspersa. São fungos da família Dematiaceae que se caracterizam por apresentarem hifas acastanhadas. São infecções micóticas causadas por fungos adaptados à temperatura corporal. Inicia-se a partir de um ferimento na pele que evolui para doença no tecido subcutâneo. Também é conhecida como cromomicose, micose de Lane Pedroso ou dermatite verrucosa. Os fungos são encontrados no solo e nos restos vegetais, no mundo todo. Ocorre com maior frequência em regiões intertropicais. Acomete principalmente homens, e no meio rural. No Brasil a doença ocorre de forma endêmica e tem como principal agente a Fonsecaea pedrosoi. As áreas do corpo mais atingidas são os pés, as pernas e locais desprotegidos como as mãos e braços, além de eventualmente ocorrer nas nádegas, no tronco e no abdome. As lesões se desenvolvem no sítio de inoculação e são limitadas ao tecido cutâneo e subcutâneo. Duram de meses a anos. As lesões tem aspecto verrucoide com hiperplasia do tecido. Podem ser ou não pedunculadas, com aspecto de couve-flor. As lesões geralmente são unilaterais e nos membros inferiores. As lesões podem ser únicas ou se disseminar para outras áreas da pele. A lesão inicial é uma pápula que ulcera e assume dois tipos clínicos: a) Tipo tumoral: ocorre quando a pessoa tem a doença há anos. É uma lesão grande, que cobre grandes áreas, com nódulos duros e secos e com superfície verrucosa. Ao comprimir as lesões, ocorre a exsudação de secreção purulenta. Pequenos microabcessos podem ser vistos nos bordos de crescimento das lesões. b) Tipo placa: ocorre quando a lesão inicial tem crescimento excêntrico. É uma lesão achatada que se estende, deixando uma placa central cicatricial coberta por pele lisa e brilhante. Os bordos são pouco elevados, pouco escamosos e finamente verrucosos. Além desses dois tipos clínicos, as lesões também podem ser psoriformes, tuberculoides, sifiloides e micetomatoides. Podem ocorrer infecções secundárias provocando linfadenite com linfoestase, que geram um quadro semelhante à elefantíase. Existe uma alta resistência natural à infecção, mas a doença ocorre quando há repetidas exposições ao agente. Deve haver diagnóstico diferencial entre a cromoblastomicose e a esporotricose cutânea fixa. Além dela, o diagnóstico diferencial deve ser estabelecido com lobomicose, blastomicose, paracoccidioidomicose, feohifomicose, rinosporidiose, prototecose, hanseníase, sífilis terciária, tuberculose verrucosa, micetomas, leishmaniose, esporotricose e bouba. Por isso, o exame micológico é fundamental para estabelecer o diagnóstico. A histopatologia é de um granuloma de corpo estranho com microabcessos. O fungo é facilmente visualizado por HE. No exame direto com KOH a 10% examina-se o pus. Os agentes apresentam-se como estruturas globosas com paredes acastanhadas espessas. Há elementos não septados, unisseptados e septados em dois planos, os quais são chamados de corpo esclerótico, demáceo ou talo muriforme. Somente a presença de hifas não estabelece o diagnóstico. Nos cortes histológicos corados em HE visualiza- se a mesma estrutura de talo muriforme. O exame de cultura deve ser realizado para confirmar os achados do exame direto e determinar o agente etiológico. Semeia-se em Mycosel, a 25ºC, com crescimento lento. As colônias apresentam hifas e conidióforos e têm aspecto marrom-escuro, negro ou oliváceo. A diferenciação entre os cinco agentes etiológicos possíveis se dá com base nas características do aparelho conidiano, que pode ser fiálide (quando parece um vaso de flor), rinocladiela (quando parece um cacto) ou cladósporo (quando é muito segmentado). O Fonsecaea predosoi possui as três formas de aparelho conidiano. Não existe um tratamento ideal para a cromoblastomicose. Pode ser realizada excisão cirúrgica, utilização de laser ou nitrogênio,amputação (rara), aplicação de antifúngicos como o itraconazol e a flucitosina, e uso de anfoterecina B associado à flucitosina. Jéssica N. Monte Turma 106 P1 Micologia 6. Micetomas: Os agentes etiológicos podem ser fungos verdadeiros (eumicóticos) ou bactérias do grupo dos actinomicetos (actinomicóticos). Entre os micetomas actinomicóticos se destaca o Nocardia brasiliensis e o Nocardia caviae. Já entre os micetomas eumicóticos se destaca o Acremonium falciforme e o Acremonium recifei. É uma micose subcutânea, deformante, supurativa, que envolve o tecido cutâneo, subcutâneo, a fáscia e os ossos. As características clínicas dos micetomas são: a) Tumefação: responsável pelo caráter deformante. b) Fistulização: a massa tumoral se abre para o exterior em fístulas, drenando exsudato sanguinolento. O pus faz pressão nos nervos e gera dor. c) Grãos: são macrocolônias fúngicas nas quais as hifas são enoveladas e compactas formando grãos. Todos os agentes estão isolados do solo, exceto o Actinimyces israelli. A tolerância à temperatura os torna patogênicos ao homem. A maior endemia de micetomas ocorre na África equatorial e em segundo lugar no México. No Brasil o agente mais frequente é o Nocardia brasiliensis (bactéria). A doença predomina em homens. O agente se implanta por traumatismo, e em 80% dos casos a lesão é no pé. Há sempre um longe período entre o trauma e o aparecimento das lesões. A lesão primária é localizada e com pouca dor. A presença de tumefação evolui para severa tumefação subcutânea, com muita dor, comprometendo o tecido subcutâneo, fáscia e ossos. Não atinge tendões e músculos. Externamente formam-se fístulas e abcessos que drenam exsudato serossanguinolento rico em grãos. O diagnóstico diferencial deve ser estabelecido entre micetomas e cromoblastomicose, esporotricose, elefantíase e doenças tumorais. A doença é rara, a resistência natural dos indivíduos é alta e a patogenicidade da doença é baixa. Os micetomas actinomicóticos são mais sensíveis ao tratamento, e este é feito com sulfametoxazol + trimetropirn. Já os micetomas eumicóticos são mais refratários, e o tratamento é feito com anfotericina B ou azólicos. Na histopatologia em HE, observa-se um grão no centro de um abcesso agudo rodeado por neutrófilos em decomposição. Externamente há uma grande área de fibrose. No diagnóstico laboratorial o grão é o determinante do diagnóstico. Os grãos podem ser encontrados no pus, no exsudato, no material de biópsia e na bandagem que recobre os abcessos. O exame microscópico pode ser preparado com KOH, Gram e coloração Kinyoum. Para a cultura, os grãos são obtidos preferencialmente de partes profundas da biópsia. Eles devem ser lavados, esmagados e semeados em Ágar Sabouraud com extrato de levedura e isento de ciclohexemide. Cada grão deve ser semeado em dois tubos, entre 30ºC e 37ºC. Bactérias Nocardia sp. apresentam grãos pequenos, brancos, branco-amarelados e colônia laranja-cenoura. São gram-positivas e ácido-álcool resistentes. A Actinomadura pelletieri tem grãos vermelho- coral. O Pseudallescheria boydii tem grãos brancos com o centro do grão vazio e com a periferia com trama de hifas hilinas. Os micetomas eumicóticos têm grãos pretos ou brancos.
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