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Cheque: Lei, Doutrina e Jurisprudência

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DIREITO
CAMILA A. CAMPOS - RA: C66583-5
DAVI FRAGOSO BUENO - RA: C468CA-8
DENIS COSTA SAMPAIO - RA: C66GIB-0
LUANA… 
RONEY NERI BOTURA - RA: C635GE-3
 
 
 
 
 
 
CHEQUE
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo
2016
DIREITO
CAMILA A. CAMPOS - RA: C66583-5
DAVI FRAGOSO BUENO - RA: C468CA-8
DENIS COSTA SAMPAIO - RA: C66GIB-0
LUANA… 
RONEY NERI BOTURA - RA: C635GE-3
 
 
 
 
 
 
CHEQUE
 
 
 
Trabalho apresentado à Universidade Paulista - UNIP, como requisito parcial de aprovação do 4° semestre do curso de Direito de 2016.
 
 
 
São Paulo
2016
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A riqueza de uma nação se mede pela riqueza do povo e não pela riqueza dos príncipes”.
 
Adam Smith
RESUMO
 
O presente estudo está elaborado com uma abordagem acerca de uma das modalidades de títulos de créditos mais conhecida do nosso ordenamento jurídico, o cheque. Procuraremos nesta modalidade abordar as suas características legais, fundamentos positivos, doutrinas, jurisprudências e costumes. Verificaremos as questões legais e o seu conceito de acordo com o direito positivado, usando como subsídio a Lei do Cheque (Lei n°7.357/85), e demais textos que elencam e regulamentam o uso e prática no Brasil. No entanto, para fazer uma correta interpretação, visando o costume nacional, tomaremos conhecimento também de práticas enraizados acerca da sua circulação e demais atos que o caracterizam, é fundamental analisar todos estes fatores a luz da jurisprudência de diversos foros brasileiros que entendem como pacíficos algumas aplicações acerca do cheque, e também, a luz da doutrina que não se fez omissa diante de tais fatos. No mesmo sentido e complexidade, apresentaremos uma questão litigiosa sobre um ato jurídico envolvendo a emissão de um cheque, como ordem de pagamento, com diversos aspectos a serem analisados sobre o caso concreto. Para isso, nos valeremos dos embasamentos da lei, posições jurisprudenciais, costumes solidificados e arguições doutrinárias. De tal sorte que, apresentaremos uma solução incontestável acerca da lide em questão. E finalmente apresentaremos considerações que versam sobre os aspectos deste modesto estudo.
 
 
Palavras-chave: Cheque, Costume, Doutrina, Jurisprudência, Lei do Cheque
ABSTRACT
 
This study is prepared with an approach on one of the categories of best known credit titles of our legal system, the check. We will speak of this modality addressing their legal characteristics, positive fundamentals, doctrines, jurisprudence and customs. Let's define a legal matter and the concept according to the law positive using as subsidy the Cheque Law (Law No. 7,357 / 85), and other texts that we list and regulate it’s use and practice in Brazil. However, to make a correct interpretation, aimed at national custom, we will take knowledge also practices rooted on their movement and other acts that characterize it , and it is crucial to analyze all these factors in light of the case of several Brazilian forums who understand as peaceful some applications on the check, and also the light of doctrine that made ​​her not silent in the face of such facts. In the same sense and complexity, we present a contentious issue on a legal act concerning the issuance of a check as a payment order with various aspects to be analyzed on the case. For this, we will use the law of soffits, jurisprudential positions solidified customs and doctrinal daily graded recitations . So much so that we will present an undeniable solution on the dispute in question. And finally present considerções that deal with aspects from modest study.
 
Keywords: Check, Costume, Doctrine, Jurisprudence, Cheque Law
 
INTRODUÇÃO	1
1 - DEFINIÇÃO DE CHEQUE E A LEI QUE REGULA ESTE TÍTULO DE CRÉDITO	3
2 - FUNDAMENTOS QUE SUSTENTAM A UTILIZAÇÃO DE CHEQUES “PRÉ-DATADOS” NO BRASIL	5
3 - MOTIVOS QUE TORNARAM COMUM O USO DE CHEQUE “PRÉ-DATADO” NO BRASIL	8
4 - ENTENDIMENTO DOS TJs A RESPEITO DE CHEQUE “PRÉ DATADO”	10
4.1 - JURISPRUDÊNCIAS ACERCA DE CHEQUE “PRÉ-DATADO”	11
Súmula 370 - STJ	11
5 - ENTENDIMENTO DO STJ ACERCA DO CHEQUE PRÉ-DATADO	12
6 - CASO CONCRETO APRESENTADO	14
CONSIDERAÇÕES FINAIS	16
REFERÊNCIAS	17
INTRODUÇÃO
	
Neste estudo, falaremos de um título de crédito de grande circulação no Brasil, o cheque, e com bastante esforço vamos declinar sobre esta matéria abordando suas principais características, fundamentações legais, jurisprudenciais, e costumes que regem a circulação desde título de crédito, assim denominado cheque, definido como uma ordem direta e incondicional de pagamento.
	Preliminarmente, discutiremos acerca da definição de cheque, esclarecendo o seu conceito, não apenas pelo texto da lei, mas observando também a doutrina, a jurisprudência e àquilo que concerne aos costumes acentuados na concretude que envolve o direito cambiário no Brasil. 
Não obstante, não deixaremos de observar estas posições paralelamente à lei que versa sobre esta matéria e regula a circulação deste título de crédito. Logo, traremos o texto asseverado pela lei 7.357 de 02 de setembro de 1985 (Lei do Cheque).
	Ao que será secundado, pelo tema que abrange questões sobre os fundamentos que sustentam a prática da utilização de cheques “pré-datados”, ou “pós-datados” como definem alguns doutrinadores. 
Para o tanto, será de fundamental importância esclarecer e evidenciar os motivos que levaram o uso do cheque “pré-datado” a se tornar algo tão habitual nas relações cambiárias do Brasil. 
Ainda neste sentido, apresentaremos o entendimento dos Tribunais de Justiça a respeito desta matéria. Mostraremos, assim, qual a percepção pacífica que reje majoritariamente sentenças e acórdãos nos casos de litigância que envolvem a matéria abordada neste estudo. E de uma forma clara, vamos expor ao menos três jurisprudências sobre o assunto. 
Concomitante ao que já foi apresentado, vamos clarificar a respeito do que versa o STJ (Superior Tribunal de Justiça) sobre esta matéria. O cheque “pós-datado”, assim definido pelo colegiado, é uma prática costumeira nas relações comerciais no Brasil e assim deve ser observado.
Vencida esta etapa, apresentaremos um caso concreto, no qual será exposta a utilização do cheque como ordem de pagamento relacionada a um ato jurídico. Assim, vamos tomar análise dos fatos, das partes, e do direito material e processual para então entender, interpretar e apresentar a solução ideal para o conflito, levando em consideração todos os aspectos aqui apresentados.
E por acreditarmos veemente na honra do poder judiciário, e confiarmos plenamente na veracidade do saber científico, deixamos finalmente destacado que este estudo encontra-se livre de qualquer reflexo de doxologia, afastando, assim, nossas opiniões pessoais, deixando puramente expresso em nossas palavras aquilo que a luz da ciência nos traz à tona, amparados pelo ordenamento jurídico brasileiro e com base na sábia doutrina, na fiel jurisprudência e no texto de norma positiva no seu sentido estrito.
 
1 - DEFINIÇÃO DE CHEQUE E A LEI QUE REGULA ESTE TÍTULO DE CRÉDITO
	
O cheque é uma modalidade de título de crédito que encontra sua regulamentação na Lei 7.357 de 02.09.1985. Esta com certeza é uma das modalidades mais comuns no Brasil. E por ser tão usual, adquiriu com o tempo algumas particularidades que se estendem além da literalidade da Lei que o regulamenta, ou seja, o costume, a jurisprudência e a doutrina concederam a esta modalidade de título de crédito especialidades não previstas no direito positivado, como veremos mais adiante.
Neste sentido, temos a lição do ilustre Professor Fábio Bellote Gomes¹ que conceitua a definição de cheque da seguinte forma: 
“O cheque é uma ordem direta e incondicional de pagamento emitida pelo titular de conta corrente mantida em instituição financeira (banco sacado) e dirigida a essa mesma instituição, no qual o emitente tenha fundos disponíveis (dinheiro ou uma linha de crédito- cheque especial, por exemplo) a fim de que o banco sacado efetue o pagamento do valor literalmente expresso no título a determinada pessoa (beneficiário).
O cheque está disciplinado no Brasil pela Lei 7.357, de 02.09.1985 (Lei do Cheque)” (Fábio Bellote Gomes, Manual de Direito Comercial, p. 167, 2° ed., 2007)
São partes nesta modalidade de título de crédito: a) o emitente, também chamado de passador ou sacador, que é o titular da conta corrente em instituição financeira, autorizado a emitir ordens de pagamento através da cártula (cheque); b) o sacado que é a instituição financeira ou agente pagador. Necessário, neste momento, ficar claro que a instituição financeira não é a parte devedora, mas simplesmente a parte obrigada a pagar, segundo a ordem de pagamento, até o limite de fundo ou crédito disponível na conta do sacado; c) o beneficiário, também chamado de tomador, se caracteriza por ser aquele em favor do qual o cheque (ordem de pagamento) deve ser pago, que neste caso pode ser terceiro e até mesmo o próprio emitente.
O cheque possui características próprias, tais como, não precisar de aceite, apesar de ser uma ordem de pagamento, pois é emitida pelo próprio devedor. Portanto, mesmo que no cheque contenha qualquer escrita que verse sobre o seu aceite, será considerado “não escrita” tal declaração, conforme assevera o art. 6° da Lei do Cheque (Lei 7.357/85): “o cheque não admite aceite considerando-se não escrita qualquer declaração neste sentido”
O sacado, no caso o banco, não é considerado devedor, ou seja, sua obrigação é cumprir a ordem de pagamento, desde que dentro dos limites de fundo ou crédito do emitente, e igualmente, desde que a cártula atenda aos requisitos de validade. Sendo assim, é vetado ao sacado endossar o cheque, ou dar aval sobre o mesmo.
Além do mais, considera-se o cheque um título de crédito formal que segue um modelo padronizado que encontra-se sob a disciplina do CMN (Conselho Monetário Nacional) e do BCB (Banco Central do Brasil) de acordo com o que aduz o art. 69 da Lei do cheque.
Existem ainda alguns requisitos que são essenciais ao cheque, por exemplo, a denominação “cheque” deve constar na cártula do próprio título e na língua vernácula da redação. É preciso constar a ordem incondicional de pagamento da quantia determinada na cártula no seguinte modelo: “Pague por este a quantia de R$... a tal pessoa… ou à sua ordem”. É necessário também que o banco, ou sacado, seja identificado no cheque. A data e o local da emissão devem constar na literalidade da cártula, bem como o local de pagamento e a assinatura do emitente ou seu mandatário. Observando ainda que o emitente deve ser indicado pelo nome completo, obrigatoriamente acompanhado pelo número de sua cédula de identidade, cadastro de pessoas físicas, título eleitoral ou carteira profissional.
 É necessário observar ainda os prazos para apresentação do cheque, questões sobre o pagamento e o não pagamento do cheque, e as modalidades de cheque (cheque visado, cheque administrativo, cheque de viagem, cheque cruzado e cheque a ser depositado em conta) conforme a Lei 7.357/85 (Lei do Cheque).
2 - FUNDAMENTOS QUE SUSTENTAM A UTILIZAÇÃO DE CHEQUES “PRÉ-DATADOS” NO BRASIL
	
O uso do cheque pré-datado, ou pós-datado, como preferem alguns doutrinadores, apesar de não encontrar previsão legal na Lei do Cheque (7.357/85), é amplamente comum. 
De acordo com a previsão legal, o cheque é uma ordem direta de pagamento incondicional e à vista. Sendo assim, qualquer ordem escrita em contrário deve ser desconsiderada pelo banco, ou sacado. 
No entanto, a jurisprudência e a doutrina vem dando um sentido de existência ao cheque pós-datado. No sentido doutrinário, temos a lição do professor Fábio Bellote Gomes¹ que, recorrendo a lição de Amador Paes de Almeida nos ensina o seguinte:
“Apesar de a Lei do Cheque não contemplar o cheque pré-datado, a jurisprudência atualmente tem amparado a sua existência, sendo considerado como mera promessa de pagamento, de modo que o emitente deverá apresentar saldo disponível em sua conta-corrente apenas na data pactuada com o beneficiário para a apresentação do título.
A doutrina comercialista costuma também referir-se ao cheque pós-datado, que é aquele no qual é inserida a data futura como a data de emissão, convencionando-se como data de apresentação do título para pagamento aquela constante como data de emissão.
Note-se a respeito a lição de Amador Paes de Almeida (Teoria e prática dos títulos de crédito, p. 137-8):
‘O cheque pós-datado, vulgarmente denominado ‘cheque pré-datado’ é aquele com data posterior à data em que efetivamente foi emitido. 
A sua crescente adoção pelo sistema de crediário em lojas e congêneres ampliou sensivelmente a sua circulação, antes restrita à agiotagem.
Contudo, em casos tais, os cheques assim emitidos têm alterada sensivelmente a sua função a rigor perdendo a sua natureza de cheques, transformando-se em mera promessa de pagamento, conquanto mantenha a sua eficácia executiva extrajudicial.” (Fábio Bellote Gomes, Manual de Direito Comercial, p.175, 2° ed., 2007)
Logo, entendemos que o cheque pré-datado, ou pós-datado, apesar de não ter previsão legal, existe de fato e é fundamentado pela doutrina como uma função específica de ser ofertada como uma modalidade de crediário a mais no mercado.
Já no sentido jurisprudencial, o cheque pré-datado vem sendo considerado como uma prática de fato nas relações cambiárias do Brasil e, desta forma, o entendimento tem sido pacífico no sentido de aceitação desta modalidade no mercado nacional. 
Apesar de não achar sustentação legal, por ser uma prática muito difundida no Brasil, o uso de cheque pré-datado tem sido aceito por Tribunais de Justiça e ganhou especial relevo com uma súmula do Superior Tribunal de Justiça.
Um dos fundamentos usados pelo judiciário brasileiro é que uma prática tão usual não pode ser descartada pelo fato de não ter previsão legal positivada, uma vez que, em nosso ordenamento, os costumes são fontes secundárias de direito, e neste sentido, já se encontra inserida de forma explícita a prática cambial do cheque pré-datado ou pós-datado. 
Outrossim, já se posicionou o STJ no sentido de que o “acordo entre cavalheiros”, na prática do uso de cheque pós-datado, deve ser cumprido, sob pena de reparação por danos morais. Logo, este acordo entre as partes, para o STJ, fundamenta o uso do cheque pós-datado. Mas é necessário que se observe a responsabilidade objetiva que, nestes casos, se restringe ao sacador e ao emitente, deixando livre de responsabilidade a instituição financeira (sacado) nos casos em que houver descumprimento deste acordo de vontades.
É fundamentado também pelo STJ e demais Tribunais de Justiça o uso do cheque pré-datado diante do seguinte entendimento: desde que acordado entre as partes, o estabelecimento de uma data futura para pagamento do cheque gera uma obrigação para o sacador, devendo ele cumprir o acordo entre ambos.
Por fim, e não menos importante, é fundamentado o uso de cheque pré-datado para a doutrina e também para o judiciário, pois diante do fato de ter uma data futura acordada entre as partes, tal fato gera, além da obrigação em que o sacador deve cumprir a data aprazada, como também a obrigação em que o emitente deve pagar nesta data o acordo de vontade entre as partes expresso pelo modo “CHEQUE PRÉ OU PÓS DATADO”, pois trata-se então de uma promessa de pagamento.
3 - MOTIVOS QUE TORNARAM COMUM O USO DE CHEQUE “PRÉ-DATADO” NO BRASIL
	O uso do cheque “pré-datado” no Brasil se deu principalmente pela facilidade que o comércio observou em oferecer crédito aos seus clientes, diminuindo a burocracia e aumentando, assim, a venda de mercadorias e a circulação de bens que muitas vezes eram “impossíveis” de serem alcançadas por pessoas que não apresentassem uma carta de crédito com o aval do mercado financeiro.
	Outro dos principais motivos que tornaram o cheque “pré-datado” tão usual no Brasil, foram os costumes do mercado que sustentaram a prática de talato jurídico. A facilidade de crédito e a praticidade com que os negócios jurídicos são efetuados por meio dos cheques “pré-datados”, movimentaram o comércio por muito tempo, bem como a economia, uma vez que os cheques “pré-datados” circulavam como moeda de troca entre os comerciantes.
	Ainda hoje a prática do cheque “pré-datado” é muito utilizada no mercado pela facilidade e por ser um acordo de vontade entre as partes, dispensando toda uma burocracia necessária, para um financiamento bancário, e mantendo uma tradição, a da confiança numa ordem de pagamento. Dentre as pessoas que se utilizam de cheque “pré-datado” o seu controle é feito de diversas formas, mas as mais utilizadas são a velha e boa caderneta de anotações, agendas, o canhoto do cheque e as planilhas de computador, e isso serve tanto para o sacador como para o tomador (beneficiário).
	Para quem se utiliza do cheque “pré-datado” ao efetuar negócios jurídicos os principais fatores que justificam essa prática, ao invés de qualquer outra forma de pagamento, de acordo com pesquisa publicada no site do jornal digital do Correio do Sul², em 7 de junho de 2016, é a possibilidade de obter um maior prazo para o pagamento, a falta de crédito na modalidade cartão de crédito e por vezes o parcelamento. Os itens mais comercializados com cheques “pré-datados” são sem dúvida alguma os produtos de consumo pessoal tais como, vestuário, eletrodomésticos e eletroeletrônicos. O cliente fica satisfeito e o comerciante, para escapar da taxa de uso do cartão de crédito prefere o risco do cheque.
Entre os possuidores de cheque, muitos jamais utilizaram o mesmo, alegando a falta de praticidade, a preferência pelo pagamento à vista e principalmente a segurança obtida quando utilizando-se de outras modalidades de forma de pagamento. Nas capitais a diminuição pelo uso do cheque “pré-datado” é mais evidente do que no interior.
4 - ENTENDIMENTO DOS TJs A RESPEITO DE CHEQUE “PRÉ DATADO”
Neste item vamos demonstrar como 3 (três) diferentes Tribunais de Justiça do Brasil vêm lidando com o tema CHEQUE PRÉ-DATADO ou como a doutrina e jurisprudência classificam CHEQUE PÓS-DATADO.
O TJSP (São Paulo) tem uma posição clara de que esse tipo de ordem de pagamento é válido e muito utilizado, porém para que tenha efeito concreto e evite qualquer tipo de dano, seja ao sacador ou ao tomador, a data futura deve estar expressa no campo determinado para tal e não em outro lugar, com outro dizer, conforme usualmente o mercado se utiliza, “bom para”. Dessa forma os prazos determinados em lei, para o protesto de um cheque, não deixam dúvidas quanto ao tempo, o que se deve levar em conta é a data da emissão escrita no campo correspondente.
Já o TJPR (Paraná) nos passa a ideia da indenização quando um cheque pré-datado é descontado antes da data estabelecida pelas partes.
“Desconto antecipado de cheque pré-datado gera o dever de indenizar
Lojas Renner S.A. foi condenada a pagar R$ 2.000,00, a título de dano moral, a um cliente (E.A.S.) por ter depositado um cheque pré-datado antes da data estipulada. O autor da ação (E.A.S.) devia à ré (Lojas Renner S.A.) a quantia de R$ 447,00 e emitiu, para pagamento, três cheques pré-datados, um deles no valor de R$ 171,14, com data de apresentação para o dia 22/07/09, o qual foi descontado, antecipadamente, no dia 05/05/09.
Essa decisão da 9.ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Paraná reformou a sentença do Juízo da 4.ª Vara Cível de Maringá que julgou improcedente a ação de indenização por danos morais ajuizada por E.A.S. contra Lojas Renner S.A.
O relator do recurso de apelação, desembargador Renato Braga Bettega, consignou em seu voto: "Sobre o desconto de cheque pré-datado antecipadamente, até mesmo em face da Súmula 370 do STJ (‘Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado'), a situação enseja em danos morais ao emitente do título, notadamente no caso em tela".” (Apelação Cível n.º 855962-6) CAGC (4)
4.1 - JURISPRUDÊNCIAS ACERCA DE CHEQUE “PRÉ-DATADO”
Súmula 370 - STJ
Processo:	AgRg no AREsp 825041 MG 2015/0309890-9
	Relator(a):	Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI
	Julgamento:	19/04/2016 
	Órgão Julgador:	T4 - QUARTA TURMA
	Publicação:	DJe 25/04/2016
	
Ementa
	AGRAVO INTERNO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. REEXAME DE PROVAS. SÚMULA N. 7/STJ. DANO MORAL. APRESENTAÇÃO ANTECIPADA DE CHEQUE PRÉ-DATADO. SÚMULA N. 370/STJ.
	1. Os temas relativos à existência de rasura no cheque, sua apresentação antecipada, e à inexistência de inscrições prévias do nome do autor foram decididos por meio da análise do conteúdo fático dos autos, que se situa fora da esfera de atuação desta Corte, nos termos do enunciado 7 da Súmula do STJ.
	2. A apresentação antecipada de cheque pré-datado gera o dever de indenizar por dano moral, conforme o enunciado 370 da Súmula desta Corte.
	3. Agravo interno a que se nega provimento.
	
Acórdão
	A Quarta Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo interno, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Antonio Carlos Ferreira, Marco Buzzi, Luis Felipe Salomão e Raul Araújo votaram com a Sra. Ministra Relatora.
5 - ENTENDIMENTO DO STJ ACERCA DO CHEQUE PRÉ-DATADO
“03/05/2016 - SEGUNDA SEÇÃO ESTABELECE TESE SOBRE CHEQUES PÓS-DATADOS”
Para que os cheques pós-datados (vulgarmente marcados com a expressão “bom para”) tenham o prazo de apresentação à instituição financeira ampliado, é necessário que a pós-datação conste no campo específico destinado à data na ordem de pagamento.
De acordo com a Lei 7.357/85 (conhecida como Lei do Cheque), é de 30 dias o prazo de apresentação de cheque no local onde foi emitido e de 60 dias o período de apresentação em outras localidades do Brasil ou do exterior. A tese foi estabelecida pela Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
O colegiado definiu a tese de que sempre será possível o protesto do cheque dentro do prazo de execução — seis meses, conforme a Lei do Cheque —, devendo ser indicado o emitente como o devedor. Ambas as teses foram formadas sob o rito dos recursos repetitivos (tema 945).
Costume - O relator do caso no STJ, ministro Luis Felipe Salomão, reconheceu que, apesar de o cheque ser uma ordem de pagamento à vista, é costumeira a emissão do cheque pós-datado, tanto que a própria legislação não nega validade ao estabelecimento de datas de apresentação futuras.
Todavia, o ministro registrou que deve ser assinalado “no campo próprio referente à data de emissão o dia acordado para que seja apresentado o cheque à instituição financeira sacada”.
Protesto - Em relação à possibilidade de protesto do cheque após o prazo de apresentação, mas dentro do período para ajuizamento de processo de execução, o ministro Salomão ressaltou que o prazo prescricional de seis meses é contado a partir do encerramento do período de apresentação (30 ou 60 dias, de acordo com os casos estabelecidos na legislação), “tenha ou não sido apresentado ao sacado dentro do referido prazo”.
Ao garantir a possibilidade de protesto dentro do prazo para ajuizamento do processo de execução, o ministro ressaltou que “caracterizando o documento levado a protesto título executivo extrajudicial, dotado de inequívoca certeza e exigibilidade, não se concebe possa o credor de boa-fé se ver tolhido quanto ao seu lídimo direito de resguardar-se quanto à prescrição, no que tange ao devedor principal; visto que, conforme disposto no art. 202, III, do Código Civil de 2002, o protesto cambial interrompe o prazo prescricional para ajuizamento de ação de execução”.
Indenização - No processo levado a julgamento pelo STJ como recurso repetitivo, um comerciante buscava indenização por danos morais após emitir um cheque em 9 de fevereiro de 2010, com data de pagamento prevista para o dia 25 de abril de 2010, mas ver o documento levado a protesto no dia 31 de maio de 2010.
Em primeira instância, o juiz julgou improcedente o pedido de indenização. O magistrado entendeu que era de 60 dias o prazo de apresentaçãodo cheque, pois a cártula fora emitida em São Cristóvão do Sul (SC), mas apresentada para pagamento em Curitibanos (SC). A sentença também registrou que o prazo de protesto deveria ser contado a partir da data efetiva de pagamento (25 de abril).
Na segunda instância, todavia, houve reforma da sentença pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC). O tribunal catarinense considerou apenas a data de emissão para contagem do prazo para protesto (09 de fevereiro) e, assim, entendeu haver dano moral devido ao registro posterior.
Com a adoção da tese de possibilidade de protesto dentro do prazo para início do processo de execução, a Segunda Seção acolheu o recurso e restabeleceu a sentença de primeiro grau. No caso concreto analisado, o ministro Salomão entendeu que “é fora de dúvida que o réu procedeu ao apontamento do protesto no prazo para a ação cambial de execução, isto é, na ocasião o cheque mantinha caráter de título executivo”.
6 - CASO CONCRETO APRESENTADO
No problema apresentado, em decorrência ao descumprimento do acordo referente a compra da moto, o réu, repassou os cheques pré-datados do Otavio Cesar a terceiros que este, antecipou em 20 dias da data combinada à apresentação do último cheque. Neste período o mesmo não tinha fundos para quitação e acabou voltando e imediatamente o credor possuidor do cheque protestou.
Essa antecipação gerou muitos constrangimentos há Otávio, seu nome foi incluso nos órgãos de proteção ao crédito (SPC e SERASA) e consequentemente a perda de possível um emprego. 
No que tange o problema apresentado devido à quebra de um acordo, invoca-se a regra do princípio “exceptio non adimpleti contractus”, isto é, já que o vendedor não cumpriu com a sua obrigação, logo o mesmo não poderá exigir do outro a contraprestação devida, no que se refere o pagamento do cheque.
 
6.1 - A RESPONSABILIDADE CIVIL NO CASO APRESENTADO
Com a violação a boa-fé objetiva onde, e de acordo com a Súmula 370 do STJ, “Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado. Lei nº 7.357/1985.” 
"Art.32 O cheque é pagável à vista. Considera-se não escrita qualquer menção em contrário.
Parágrafo único: O cheque apresentado para pagamento antes do dia indicado como data de emissão é pagável no dia da apresentação."
Otávio César, encontra-se respaldado para ingressar com uma ação de Danos Morais, materiais e pleitear uma indenização quanto ao a perda do emprego. 
Nas regras e princípios do Código de Defesa do Consumidor–Lei 8.078/90: sendo uma relação costumeira, deve a pessoa que apresentou o cheque responsabilizar-se pelo depósito antes da data acordada com o emitente-comprador.
Quando o vendedor/terceiro efetuou o depósito antecipado do título, violou a regra e ficando responsável pelo pagamento de indenização ao emitente do cheque. Enquadra-se no art. 159 do Código Civil, caput:
"Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem fica obrigado a reparar o dano".
CONSIDERAÇÕES FINAIS
 
Como vimos e destacamos neste breve estudo que se passou, o cheque encontra-se regulado por lei específica, no entanto, a sábia doutrina e a fiel jurisprudência têm aceitado algumas modalidades e exceções não expressas no ordenamento positivo. Acerca disto, o STJ, o STF, e demais Tribunais de Justiça têm o entendimento pacífico e majoritário de aceitação ao uso e a prática de modalidades cheque não previstas no rol do direito brasileiro. 
Desta forma, é necessário observar que o uso do cheque pré datado tem especial relevo social, pois permitiu uma nova modalidade de compra a prazo beneficiando o consumidor e abrindo um leque a mais de opções para os empresários. E, por ter este caráter social tão abrangente, entendemos que não é necessária a sua positivação para que, desde já, seja observada normas de caráter contratual entre as partes que acordam em usar este título de crédito, que seria uma ordem de pagamento à vista, a prazo. 
Concluímos, assim, no que tange ao cheque pré datado e ao caso apresentado, que apesar de não regulado por norma expressa, sua existência é real e não pode ser ignorada, e portanto, deve-se seguir fielmente o acordo entre as partes que optam por utilizá-lo. E no que diz respeito ao seu caráter social, deixamos amplamente claro a sua importância no contexto atual. 
Ao abordarmos o contexto normativo do cheque e sua função social, deixamos claro a sua importância. Hoje, ele é elencado no rol do nosso ordenamento, além de fazer parte de diversos contextos cambiários e por isso teve especial atenção pelo STF e demais Tribunais.
No contexto atual, após reiteradas práticas de seu uso, o cheque pré datado tomou proporções gigantescas na realidade cambiária, de tal sorte que, hoje, não é mais possível que ele seja ignorado.
REFERÊNCIAS
1 - GOMES, Fábio Bellote, Manual de Direito Comercial, Ed. 2007, Editora Manole
2 - Site do jornal digital do Correio do Sul, acessado no dia 13/set/2016, http://www.grupocorreiodosul.com.br/jornal/quase-metade-dos-brasileiros-que-possuem-cheque-nunca-usam-pre-datado-mostra-spc-brasil/
3 - Fonte: Superior Tribunal de Justiça (3) http://www.tjsp.jus.br/Institucional/Nurer/RepercussaoEmDestaque/Comunicado.aspx?Id=7303 – acesso no dia 14/09/2016 
4 - COELHO, Fábio Ulhoa, Manual de Direito Comercial, 27º Edição, 2015, Editora Saraiva.
5 - Fonte: Superior Tribunal de Justiça https://ww2.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj-revista-sumulas-2013_33_capSumula370.pdf, acesso em 14/11/2016.
6 - Código Civil, 2º Edição, 2016, Editora Manole.
7 - Código de Defesa do Consumidor, 6º Edição, 2016, Editora Manole.

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