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CURSO AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA KLEYTON CAETANO OAB GO

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AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA 
Dr. Kleyton Carneiro Caetano 
 
Evolução Histórica 
 Prisão em Flagrante se eternizava. 
 Art. 310, CPP. Alterado pela Lei 12.403/2011. 
- De 1940 até 2011: Juiz recebia o flagrante e só concedia 
liberdade provisória se, de imediato, verificasse que o agente 
praticou o fato em: I- caso de necessidade; II- em legítima 
defesa ou III- em estrito cumprimento do dever legal ou no 
exercício regular de um direito (art. 19, CP original). 
- O juiz também deveria conceder a liberdade provisória caso 
não estivessem presentes os requisitos do art. 311 e 312 
(prisão provisória), mas na prática isso nunca ocorria. 
Previsão Normativa 
 Duas convenções internacionais das quais o Brasil é signatário. 
 Convenção Americana sobre Direitos Humanos – Pacto de São 
José da Costa Rica - CELEBRADO EM 1969 – tendo o Brasil como 
signatário, internalizado por meio do Decreto nº 678/92. 
 Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos – CELEBRADO 
EM 1966 - Brasil como signatário, internalizado por meio do 
Decreto nº 592/92. 
Convenção Americana sobre Direitos Humanos 
 “ARTIGO 7. Direito à liberdade pessoal 
5. toda pessoa presa, detida ou retida deve ser conduzida, sem 
demora à presença de um juiz ou outra autoridade autorizada 
por lei a exercer funções judiciais e tem o direito de ser julgada 
em prazo razoável ou de ser posta em liberdade, sem prejuízo 
de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condiciona a 
garantias que assegurem o seu comparecimento em juízo”. 
POLÊMICA 01 - sem demora 
POLÊMICA 02 - outra autoridade autorizada por lei a exercer 
funções judiciais 
 
Pacto Internacional de Direitos Civis e 
Políticos 
 “ARTIGO 9 
3. Qualquer pessoa presa ou encarcerada em virtude de 
infração penal deverá ser conduzida, sem demora, à 
presença do juiz ou de outra autoridade habilitada por lei a 
exercer funções judiciais e terá o direito de ser julgada em 
prazo razoável ou de ser posta em liberdade. A prisão 
preventiva de pessoas que aguardam julgamento não deverá 
constituir a regra geral, mas a soltura poderá estar 
condicionada a garantias que assegurem o comparecimento 
da pessoa em questão à audiência, a todos os atos do 
processo e, se necessário for, para a execução da sentença”. 
23 anos depois da Carta de Ratificação... 
 Omissão Legislativa. 
PL 156/2009 – Novo CPP – Traz a figura do Juiz de 
Garantias. 
PL 554/2011 – Altera o Art. 306 do CPP, instituindo o §5º: 
“No prazo máximo de 24 horas após a lavratura do auto 
de prisão em flagrante, o preso será conduzido à 
presença do juiz para ser ouvido...”. 
 Vácuo de Poder? 
 Estado de Coisas Inconstitucional – (ADPF 347) – Sistema 
Penitenciário. 
 
 O Estado Brasileiro violava sistematicamente o artigo 7, parágrafo 5, do 
Pacto de São José da Costa Rica e o artigo 9, parágrafo 3, do Pacto 
Internacional de Direitos Civis e Políticos. 
 Encaminhava-se cópia do Auto de Prisão em Flagrante para o juiz que 
analisava a legalidade e necessidade da manutenção dessa prisão cautelar 
(art. 306, CPP). 
 Essa previsão legislativa mostrou-se insuficiente. Tanto para um efetivo 
controle judicial da legalidade e necessidade da prisão provisória quanto 
para verificar eventual prática de violência ou desrespeito aos direitos da 
pessoa presa. O contato entre o preso e o juiz ocorria meses após a 
prisão, apenas na audiência de instrução e julgamento. 
 Coube ao CNJ, por meio da Resolução 213/15, e ao STF (ADPF 347, ADI 
5240-SP) a implementação e normatização do tema. 
DEFINIÇÃO 
 CNJ - Trata-se da apresentação do autuado preso em flagrante* 
delito perante um juiz, permitindo-lhes o contato pessoal, de 
modo a assegurar o respeito aos direitos fundamentais da pessoa 
submetida à prisão. Decorre da aplicação dos Tratados de 
Direitos Humanos ratificados pelo Brasil. 
 ROGÉRIO SANCHES – Instrumento processual que determina que 
todo preso em flagrante* deva ser levado à presença de 
autoridade judicial no menor prazo possível para que esta 
autoridade judicial avalie a legalidade da prisão e a necessidade 
de sua manutenção. 
POLÊMICA 03 - *Somente prisão em Flagrante? 
 
 CAIO PAIVA - A audiência de custódia consiste, portanto, na condução do 
preso, sem demora, à presença de uma autoridade judicial, que deverá, 
a partir de prévio contraditório estabelecido entre o Ministério Público e 
a Defesa, exercer um controle imediato da legalidade e da necessidade 
da prisão, assim como apreciar questões relativas à pessoa do cidadão 
conduzido, notadamente a presença de maus tratos ou tortura. 
 AURY LOPES JR. - A audiência de custódia, ou audiência de 
apresentação*, é o instituto que visa apresentar o preso em flagrante de 
imediato à autoridade judiciária, permitindo um contraditório prévio a 
ser exercido pelo Ministério Publico, pela defesa e pelo próprio 
custodiado, de modo que, o magistrado, em sede de cognição sumária, 
irá analisar a legalidade da prisão em flagrante, a necessidade da 
conversão em preventiva ou a aplicação das medidas cautelares 
alternativas da prisão, além de aferir e resguardar a integridade física e 
psíquica do preso. 
FUNÇÕES 
 A Audiência de Custódia imprime-se como instrumento 
zelador das GARANTIAS Constitucionais e Internacionais 
assumidas pela República Federativa do Brasil. 
 A audiência de custódia é entendida como obrigatória pela 
CIDH. 
 Prevenção de Tortura e violência física e psicológica 
praticada em desfavor do preso. 
 Combate ao encarceramento em massa. 
Posição Hierárquica TIDH 
 Hierarquia definida pelo STF - HC 95967/MS, RE 349.403/RS, entre 
outros. 
 DIREITO PROCESSUAL. HABEAS CORPUS. PRISÃO CIVIL DO DEPOSITÁRIO INFIEL. 
PACTO DE SÃO JOSÉ DA COSTA RICA. ALTERAÇÃO DE ORIENTAÇÃO DA 
JURISPRUDÊNCIA DO STF. CONCESSÃO DA ORDEM. 1. A matéria em julgamento 
neste habeas corpus envolve a temática da (in)admissibilidade da prisão civil 
do depositário infiel no ordenamento jurídico brasileiro no período posterior ao 
ingresso do Pacto de São José da Costa Rica no direito nacional. 2. Há o caráter 
especial do Pacto Internacional dos Direitos Civis Políticos (art. 11) e da 
Convenção Americana sobre Direitos Humanos - Pacto de San José da Costa Rica 
(art. 7°, 7), ratificados, sem reserva, pelo Brasil, no ano de 1992. A esses 
diplomas internacionais sobre direitos humanos é reservado o lugar específico 
no ordenamento jurídico, estando abaixo da Constituição, porém acima da 
legislação interna. O status normativo supralegal dos tratados internacionais de 
direitos humanos subscritos pelo Brasil, torna inaplicável a legislação 
infraconstitucional com ele conflitante, seja ela anterior ou posterior ao ato de 
ratificação. (HC95967/MS, Rel:Min.ELLEN GRACIE, 2ªT, j:11/11/2008, DJe-227). 
 
AS PREVISÕES DESTES TRATADOS 
INTERNACIONAIS SÃO DE APLICAÇÃO 
OBRIGATÓRIA? 
 SIM. Neste sentido, prescinde de previsão legal específica 
em lei ordinária sobre audiência de custódia, para que o 
preso seja obrigatoriamente levado, sem demora, à 
autoridade judicial. 
Ainda que existisse previsão legal em contrário, tal previsão 
não estaria acima da Convenção Internacional. Porém, 
dispositivos destes Tratados não seriam aplicados se 
contrariassem a Constituição Federal. 
A AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA ESTÁ EM 
CONFORMIDADE COM A CONSTITUIÇÃO? 
 SIM - CONSTITUIÇÃO FEDERAL – ART. 5º: 
 
 III – ninguém será submetido a tortura nem a 
tratamento desumano ou degradante. 
(perfeita consonância, eis que uma das finalidades da 
audiência de custódia é a prevenção da tortura) 
 
 XXXV – a lei não excluirá da apreciação doPoder Judiciário 
lesão ou ameaça a direito. 
(direito de liberdade foi cerceado pelo flagrante, portanto o 
dever de apresentar o preso ao Juiz, sem demora, está de acordo 
com a Constituição Federal, levando à apreciação do Poder 
Judiciário a efetiva lesão ao direito de ir e vir do preso imposta 
pela prisão) 
 XLIX – é assegurado aos presos o respeito à integridade física 
e moral. 
(se a audiência de custódia tem a função de prevenir tortura, 
coação psicológica, agressão física, ela está adequada ao 
dispositivo citado) 
 
 LXII – a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre 
serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à 
família do preso ou à pessoa por ele indicada. 
(a comunicação é feita pelo Auto de Prisão em Flagrante e também pela 
apresentação do preso ao juiz, e o contato direto do preso com o juiz dá 
efetividade plena à garantia de comunicação com a autoridade judicial) 
 LXIII – o preso será informado de seus direitos, entre os quais 
o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência 
da família e do advogado*. 
(assim é obrigatória a presença do advogado ou defensor público no momento 
da audiência de custódia) 
POLÊMICA 04 - interrogatório em delegacia sem a presença do 
advogado – Art. 7º XXI Lei 8.906/94. 
 LXV – a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela 
autoridade judiciária. 
(nada mais correto do que apresentar o preso diante do juiz, pois 
proporciona os melhores meios para aferir sobre a legalidade da prisão e 
se considerada ilegal, cumpre o preceito constitucional possibilitando à 
autoridade judiciária relaxar imediatamente a prisão) 
 
 LXVI – ninguém será levado à prisão ou nela mantido, 
quando a lei admitir a liberdade provisória com ou sem 
fiança. 
(conforme o próprio CNJ, dentre os resultados possíveis da audiência de 
custódia está justamente a concessão de liberdade provisória com ou sem 
fiança, demonstrando mais uma vez que o instituto tem plena 
conformidade com o texto constitucional) 
 
Resolução 213/2015 - CNJ 
 Art. 1º Determinar que toda pessoa presa em flagrante delito*, 
independentemente da motivação ou natureza do ato, seja 
obrigatoriamente apresentada, em até 24 horas da 
comunicação do flagrante*, à autoridade judicial competente, 
e ouvida sobre as circunstâncias em que se realizou sua prisão 
ou apreensão. 
 
POLÊMICA 01 - sem demora = 24 HORAS (48 horas na 
verdade). 
O Delegado tem 24 horas para comunicar a prisão em 
Flagrante - Art. 306, § 1º, CPP. Depois, mais 24 horas para a 
realização da audiência de Custódia. X PL 554/2011 – 
lavratura. X ADPF 347 – Prisão. 
 
STF - ADI 5240 – SP 
 Julgou improcedente o pedido, mantendo o provimento 3/2015 TJSP, 
que determina a apresentação de pessoa detida, até 24 horas após a 
sua prisão, ao juiz competente, para participar de audiência de 
custódia no âmbito daquele tribunal. 
 
 Apresentação ao juiz no referido prazo estaria intimamente ligada à 
ideia da garantia fundamental da liberdade, qual seja, o “habeas 
corpus”. A essência deste remédio constitucional, portanto, estaria 
justamente no contado direito do juiz com o preso, para que o 
julgador pudesse, assim, saber do próprio detido a razão pela qual 
fora preso e em que condições e encontra encarcerado. Instrumento 
com previsão legal art. 656 CPP. Esta em consonância com a 
convenção internacional e Interpretação teleológica do CPP. 
 
STF – ADPF 347 
 No dia 10 de setembro de 2015, os Ministros do Supremo Tribunal 
Federal (STF) determinaram a implantação do “Projeto Audiências 
de Custódia” no prazo máximo de noventa dias em todo o território 
nacional, como uma das medidas necessárias para acabar com o 
Estado de Coisas Inconstitucional em que se encontra o sistema 
penitenciário brasileiro. 
 Estado de Coisas Inconstitucional relativamente ao sistema 
penitenciário brasileiro, indicando a audiência de custódia como uma 
das medidas a serem tomadas para sanar as violações a preceitos 
fundamentais sofridas pelos presos em decorrência de ações e 
omissões dos poderes da União, Estados e DF. E determinou o 
comparecimento do preso perante a autoridade judiciária no prazo 
máximo de 24 horas contados do momento da prisão. 
 Nesta decisão, o STF constatou a crise do sistema carcerário 
nacional e adotou uma nova tese importada do direito comparado, 
o Estado de Coisas Inconstitucional. O sistema prisional caótico 
brasileiro foi considerado inconstitucional pelas constantes 
violações aos direitos e garantias dos presos, devendo ser adotadas 
várias medidas para remediar esses transtornos, entre elas, a 
instituição das audiências de custódia/apresentação nas unidades 
da federação e a motivação das decisões encarceradoras, 
justificando-se a não aplicação das medidas alternativas do 
cárcere, não se limitando a fundamentações genéricas. 
 Entra em cena a audiência de custódia, não como política pública 
ou como solução para todos os problemas do encarceramento, mas 
como instituto jurídico garantidor dos direitos fundamentais e 
capaz de frear as prisões em massa. 
STF - ADPF 347 MC / DF - DISTRITO FEDERAL 
MEDIDA CAUTELAR NA ADPF 
 CUSTODIADO – INTEGRIDADE FÍSICA E MORAL – SISTEMA 
PENITENCIÁRIO – ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE 
PRECEITO FUNDAMENTAL – ADEQUAÇÃO. Cabível é a 
arguição de descumprimento de preceito fundamental 
considerada a situação degradante das penitenciárias no 
Brasil. SISTEMA PENITENCIÁRIO NACIONAL – SUPERLOTAÇÃO 
CARCERÁRIA – CONDIÇÕES DESUMANAS DE CUSTÓDIA – 
VIOLAÇÃO MASSIVA DE DIREITOS FUNDAMENTAIS – FALHAS 
ESTRUTURAIS – ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL – 
CONFIGURAÇÃO. Presente quadro de violação massiva e 
persistente de direitos fundamentais, decorrente de falhas 
estruturais e falência de políticas públicas e cuja modificação 
depende de medidas abrangentes de natureza normativa, 
administrativa e orçamentária, deve o sistema penitenciário 
nacional ser caraterizado como “estado de coisas inconstitucional”. 
FUNDO PENITENCIÁRIO NACIONAL – VERBAS – CONTINGENCIAMENTO. 
Ante a situação precária das penitenciárias, o interesse público 
direciona à liberação das verbas do Fundo Penitenciário Nacional. 
AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA – OBSERVÂNCIA OBRIGATÓRIA. Estão 
obrigados juízes e tribunais, observados os artigos 9.3 do Pacto 
dos Direitos Civis e Políticos e 7.5 da Convenção Interamericana 
de Direitos Humanos, a realizarem, em até noventa dias, 
audiências de custódia, viabilizando o comparecimento do preso 
perante a autoridade judiciária no prazo máximo de 24 horas, 
contado do momento da prisão. (ADPF 347 MC, Relator(a): Min. 
MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 09/09/2015, PROCESSO 
ELETRÔNICO DJe-031 DIVULG 18-02-2016 PUBLIC 19-02-2016). 
POLÊMICA 02 - outra autoridade autorizada por lei a exercer 
funções judiciais. 
 O DELEGADO DE POLÍCIA não é autoridade habilitada por lei a 
exercer funções judiciais. 
 O preso (em geral pela Polícia Militar - polícia ostensiva) deve 
ser imediatamente apresentado ao Delegado de Polícia (polícia 
judiciária). 
 O delegado: 
- classifica o caso (tipificação); 
- analisa se cabe ou não o flagrante (art. 302, CPP); 
- caso não entenda pelo flagrante: relaxamento (art. 304, CPP). 
- caso entenda pelo flagrante: pode arbitrar fiança. Se paga, 
liberta-se o preso(art. 322, CPP). 
 
 No Brasil, a atividade de polícia judiciária é função policial, 
não função jurisdicional. Delegado de Polícia é Autoridade 
Policial, NÃO É AUTORIDADE JURISDICIONAL e não pode 
realizar audiência de custódia. 
 Na prática, muitas violações ao livre exercício da advocacia são 
praticadas nas Delegacias de Polícia. Exemplos: 
- Acesso aos autos (7º XIII);- Entrevista com o cliente (7º III); 
- Acompanhamento de produção de provas (7º, VI, ‘c’); 
- Ingressar livremente (7º, VI, ‘b’). 
 Somente o Juiz de Direito pode atuar em Audiência de 
Custódia, posição extraída da interpretação do Pacto de 
São José da Costa Rica, Artigo 8, e da CF, art. 5º, LXII, bem 
como do próprio CPP. 
 
 Destaca-se que algumas associações representativas de 
Delegados de Polícia buscaram, sem sucesso, o 
cancelamento da implementação das Audiências de 
Custódia. 
 
POLÊMICA: 03 – Somente prisão em Flagrante? 
 NÃO. O próprio art. 13 da Resolução 213/15 prevê 
expressamente sua realização nos demais casos de prisão. 
Art. 13. A apresentação à autoridade judicial no prazo de 24 horas 
também será assegurada às pessoas presas em decorrência de 
cumprimento de mandados de prisão cautelar ou definitiva, aplicando-
se, no que couber, os procedimentos previstos nesta Resolução. 
Parágrafo único. Todos os mandados de prisão deverão conter, 
expressamente, a determinação para que, no momento de seu 
cumprimento, a pessoa presa seja imediatamente apresentada à 
autoridade judicial que determinou a expedição da ordem de custódia 
ou, nos casos em que forem cumpridos fora da jurisdição do juiz 
processante, à autoridade judicial competente, conforme lei de 
organização judiciária local. 
 
Estatísticas 
Brasil – 2016 
 
 Total de audiências de custódia realizadas: 81.439 (83.634 autuados) 
 Casos que resultaram em liberdade: 39.709 (47,48%) 
 Casos que resultaram em prisão preventiva: 43.925 (52,52%) 
 Casos em que houve alegação de violência no ato da prisão: 4.646 (5,56%) 
 Casos em que houve encaminhamento social/assistencial: 9.272 (11,09%) 
 
 Fonte: CNJ - 2017 
 
Ano 1990 
90 mil presos – 140 milhões de habitantes 
 
2013 – 581 mil presos / 2014 – 622 mil presos 
 
Ano 2017 
726 mil presos para 386 mil vagas / 40% provisórios e 64% negros 
 
Ano 2018 
* 800 mil presos 
* 215 milhões de habitantes 
 
 De 1990 até 2018 a população carcerária aumentou 900% 
enquanto a população total sequer dobrou. 
 Com mais gente presa, a sensação de segurança aumentou? 
 Com penas cada vez maiores, o cometimento de crime 
diminuiu? 
DE 1940 ATÉ 2015 MAIS DE 150 NOVAS LEIS PENAIS 
 “E quanto mais o povo acredita na magia da lei penal mais 
severa, mais ele é vitimizado pelos políticos e governantes 
demagogos, aproveitadores e aduladores da vontade popular” 
(Luiz Flavio Gomes). 
 
Estado de Goiás 
 1ª Audiência de Custódia foi realizada em 10/08/2015 
 
Audiência de Custódia em Goiás 
 Implantação: RESOLUÇÃO Nº 35, DE 22 DE JULHO DE 2015 – Corte 
Especial do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás. 
Modifica parcialmente a competência da Sétima Vara Criminal da 
Comarca de Goiânia e institui o Projeto Audiência de Custódia no 
âmbito da mesma Comarca. 
TÍTULO I 
DO PROJETO AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA 
Art. 1°. Fica instituído na comarca de Goiânia, o Projeto Audiência 
de Custódia, em virtude do qual toda pessoa presa em flagrante 
deverá ser apresentada, sem demora*, ao juiz competente. 
* Em 09/09/2015 foi julgada a Medida Cautelar na ADPF 347 – 24 
horas. 
 
Art. 2°. O segundo juiz de direito da Sétima Vara Criminal da comarca 
de Goiânia passa a ter competência exclusiva para: 
I – realizar as audiências de custódia e nelas deliberar acerca das 
medidas previstas nos artigos 310, 318 e 319 do CPP (...) exercer o 
controle da sua legalidade e salvaguardar os direitos individuais (...). 
II – exercer o controle de legalidade dos demais APF, nos quais a pessoa 
não seja mantida presa pela autoridade policial; 
III – apreciar e decidir todos os procedimentos penais constitucionais, 
cautelares e contracautelares protocolizados antes da distribuição do 
inquérito policial, procedimento de investigação criminal ou peças de 
informação (...) criminais da comarca de Goiânia. 
§1º (...) não prejudica a apreciação de pedidos cautelares e 
contracautelares pelos juízes que estiverem em plantão judiciário. 
 Depois de realizada a Audiência de Custódia, os autos eram 
distribuídos eletronicamente. 
 
Art. 2º, §2º - NÃO serão realizadas audiências de custódia 
durante os plantões judiciais ordinários e de fins de semana. 
 
 Até Julho de 2017 não eram realizadas audiências de custódia 
aos finais de semana, até que a Dra. Maria Socorro, diretora do 
foro da Comarca de Goiânia, baixou portaria determinando a 
realização de audiência de custódia durante os finais de 
semana. PORTARIA N° 404, 05 de junho de 2017. 
 
 Até Dezembro de 2017 não eram realizadas audiências de 
custódia durante o Plantão do Recesso Forense, até que a Dra. 
Maria Socorro, diretora do foro da Comarca de Goiânia, baixou 
portaria determinando a realização de audiência de custódia 
durante o Recesso Forense. PORTARIA N°844/2017. 
 
Consequências de um Projeto Estruturado 
Reincidência no Brasil 
 70% são presos novamente (criminógena). 
 24,4% são condenados novamente em menos de 5 anos (legal). 
Fonte CNJ/IPEA 2015. 
Reincidência Lei Maria da Penha período Dr. Oscar 
 360 presos passaram pelos cursos na CAP (Grupo Reflexivo para 
Autores de Violência Doméstica) e desses somente 01 foi preso 
novamente. 
 0,27% de reincidência! 
 
Até que.... 
 Muitos Juízes do TJGO são declaradamente contra as 
Audiências de Custódia. Aparentemente, a visibilidade e 
competência direcionada para o 2º Juiz da 7ª Vara Criminal 
de Goiânia causou desconforto. 
 Será que é interessante aos Agentes do Sistema a 
resolução dos problemas de Segurança Pública? 
 Comissão de DH da OAB-GO 2010. 
Resolução nº 86, de 25 de abril de 2018 
PROAD 201611000021617 
 Corte Especial do TJGO - Altera a Resolução nº 35/2015 e dá 
outras providências. 
 Fere diversos princípios e direitos do Magistrado, em especial a 
inamovibilidade. 
Art.4º As comunicações de flagrantes serão distribuídas entre 
os juízes com competência criminal da Comarca de Goiânia e 
os processos terão curso na respectiva unidade, inclusive 
para realização da Audiência de Custódia em até 24 horas, 
contadas do momento da prisão. 
 
Art.5º O segundo juiz de direito da 7ª Vara Criminal da 
Comarca de Goiânia passa a ter competência exclusiva para: 
I – a execução das penas dos presos recolhidos nas unidades 
estaduais de Formosa e Planaltina, na forma da Lei Estadual 
nº 19.962/2018, em cumprimento de pena no regime 
fechado; 
II – a execução das penas no regime semiaberto e aberto, 
concorrente e equitativamente com a competência 
jurisdicional da 2ª Vara de Execução Penal de Goiânia. 
Parágrafo único. A metade do acervo de processos referentes 
aos presos em regime aberto e semiaberto, bem como os 
seus incidentes, em curso na 2ª Vara de Execução Penal, será 
redistribuída para o segundo juiz da 7ª Vara Criminal da 
Comarca de Goiânia, por sorteio. 
 
Violência Policial 
 A Audiência de Custódia possibilita a diminuição dos casos 
de Tortura e violência policial. 
 Sabendo que toda pessoa presa será apresentada a um juiz 
rapidamente, a Audiência de Custódia funciona como 
impeditivo de eventuais condutas de violência ou tortura 
de policiais. 
 Casos Concretos: 
 
Função do Advogado na Audiência de Custódia 
 
1º Função do Advogado: 
Conhecer o Juiz que realizará a Audiência de 
Custódia 
 
 
 
2º Função do Advogado: 
Relaxar o Flagrante. Art. 310, I, CPP 
 Provar que não estava em situação flagrancial – Art. 302 CPP. 
Não estava cometendo a infração; ou acabado de cometê-la; 
ou perseguido logo após; oucom instrumentos, armas ou 
objetos que presumam ser o autor da infração. 
 
 Fato é atípico. 
 
 Negativa de autoria 
 
 
3º Função do Advogado: 
Prisões Especiais 
 Filhos: Mulher: Provar gravidez / filho menor de 12 anos / filho 
deficiente. Para homem, provar que é o único responsável pelo filho. 
Art. 304, §4º, CPP – Art. 318, IV, V, VI, CPP – Lei 13.257/16 
(Estatuto da Primeira Infância) 
PODERÁ X DEVERÁ – vide STF - Habeas Corpus (coletivo) nº 
143.641/SP. A 2ª Turma do STF concedeu a ordem para determinar 
a substituição da prisão preventiva por domiciliar de mulheres 
presas, em todo o território nacional, que sejam gestantes ou 
mães de crianças de até 12 anos ou de pessoas com deficiência. 
 Doença mental. 
 Prerrogativas do custodiado – Cela Especial e Estado Maior – 
Constar*. 
 
4º Função do Advogado: 
Liberdade Provisória e Cautelares 
 Comprovante de Residência Fixa. 
 Comprovante de Emprego Lícito. 
 Comprovante de vida social, filhos que dependem do custodiado. 
 Não estão presentes os requisitos da Prisão Preventiva – Art. 312 CPP. 
 Concessão de liberdade provisória, com ou sem fiança - Art. 310, III, 
CPP. 
 Aplicação das Medidas Cautelares do Art. 319 do CPP. 
 Demonstrar a desproporcionalidade da prisão preventiva: 
regime equivalente ao fechado, comparar com a provável 
pena em caso de condenação, pois a prisão cautelar não pode 
ser a punição mais gravosa, haveria ilegal antecipação de 
pena. 
 
 Crime cometido com violência, em especial os patrimoniais: 
decreto de prisão não fundamentado: revogação em HC 
 
5º Função do Advogado: 
Prerrogativas e Regras de Mandela 
 Exigir Entrevista pessoal e reservada (art. 7º, III). 
 Constar no termo o uso de algemas (Súmula Vinculante nº 11 STF). 
 Nulidade do ato: interrogatório no APF sem advogado. Art. 7, XXI Lei 
8.906/94, com fulcro na teoria da prova ilícita por derivação – 
constar em ata. 
 Juiz não pode adentrar no mérito do crime – Usar da expressão “Pela 
Ordem” e fazer constar em Ata – gravar ARt. 367, §5º, CPC. 
- Audiência de Custódia não faz prova para o mérito. 
- Não pode haver interrogatório judicial nessa audiência. 
- Não pode haver a juntada deste depoimento aos autos principais: 
seria prova ilícita. 
RECURSOS POSSÍVEIS – HABEAS CORPUS* 
 Audiência de Custódia não realizada em 24 horas 
- Habeas Corpus para determinar a realização, em sede liminar 
- Prisão Ilegal: requer relaxamento de imediato. 
- Cabe Reclamação junto ao STF, em desfavor do juízo* que não 
promoveu a Audiência de Custódia. 
 Prisão Preventiva decretada sem Audiência de Custódia 
- Jurisprudência pacífica: Não cabe Habeas Corpus alegando a 
nulidade da prisão preventiva decretada 
- O Título é outro, que está superado, que a realização da 
Audiência de Custódia não está no art. 312 do CPP como 
requisito da cautelar. 
FUNDAMENTO PARA HABEAS CORPUS 
 Obrigação do Poder Judiciário na implementação total do 
instituto: 
Não estando a realização dentro da discricionariedade do 
Magistrado. ADPF 347 - AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA – 
OBSERVÂNCIA OBRIGATÓRIA do comparecimento do 
preso perante a autoridade judiciária no prazo máximo 
de 24 horas. 
 Ausência de oportunidade de produção de provas que 
infirmem a necessidade da preventiva, gerando prejuízo ao 
custodiado. 
 
 Os requisitos de validade para a homologação do Auto de 
Prisão em Flagrante incluem a prévia realização da 
Audiência de Custódia, por força da resolução 213/15 do 
CNJ, sendo absolutamente nulo o APF homologado sem que 
seja realizada tal audiência, contaminando todos os atos 
posteriormente produzidos, em especial, o decreto de 
prisão preventiva, com fulcro na teoria da prova ilícita por 
derivação (frutos da árvore envenenada), de plena 
aplicação no ordenamento jurídico brasileiro. 
Dr. Kleyton Carneiro Caetano 
OAB-GO 26.073 
Advogado Criminalista 
Especialista em Direito Penal 
Especialista em Direito Processual Penal 
Especialista em Criminologia 
Membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB-GO 
Secretário da Comissão de Direitos e Prerrogativas da OAB-GO 
 
Fone: (62) 9 9227-9751 
Instagram: kleytoncaetano 
Email: kleyton.advogado@gmail.com

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