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Obstetrícia Veterinária – Norberto 19-01-17 Obs. A prova será realizada 06/02 (Segunda-feira), às 19h no DMV-1. AULA - ESTÁTICA FETAL # 1 - INTRODUÇÃO - Manobras obstétricas para retirada de feto, fetotomia (fragmentação) e cesariana (com histeriotomia) são as 3 abordagens mais comumente utilizadas para se corrigir uma distocia. - Distocia é uma alteração que impede que o parto (nascimento) ocorra de forma normal. - As manobras obstétricas variam de acordo com a necessidade do filhote e da mãe. O primeiro passo para realizarmos uma manobra é conhecer a estática fetal adequada. (A manobra deve ser uma CONSEQUÊNCIA dela) - Em alguns casos, estáticas eutócicas também podem resultar em distocias. Ex: Distocias de origem materna, como a restrição do tamanho da pelve ou desproporção materno-fetal ou feto-pélvica. Alterações na morfologia da mãe ou fetos muito grandes para o canal do parto são causa importantíssima de distocia em bovinos, principalmente nas raças leiteiras (cerca de 50% das distocias nestes animais ocorrer por desproporção feto-pélvica) - Nas éguas a maior parte das distocias são de causa materna. # 2 - ABORDAGENS - Em primeiro lugar, devemos PARAR DE USAR A PALAVRA “POSIÇÃO” DE MANEIRA COLOQUIAL EM SE TRATAR DE OBSTETRÍCIA VETERINÁRIA. A “posição” que usamos no dia-a-dia não tem o mesmo sentido que o termo técnico relacionado a matéria. - Em casos que você normalmente diria “posição”, passe a trocar a palavra para “estática fetal” Ex: A vaca não conseguiu parir sozinha, então o vizinho ajudou o produtor corrigindo a estética fetal e tracionando o bezerro. - A estática fetal é dividida em 3 abordagens. 2.1. APRESENTAÇÃO Refere-se ao eixo longitudinal do filhote em relação a face cranial ou caudal do filhote exposta na abertura da vulva da paciente obstétrica. - Se está aparecendo a traseira do filhote (“de bunda”) = APRESENTAÇÃO LONGITUDINAL POSTERIOR OU CAUDAL. POSIÇÃO EUTÓCICA - Se está aparecendo a cabeça (“de frente”) = APRESENTAÇÃO LONGITUDINAL ANTERIOR OU CRANIAL POSIÇÃO EUTÓCICA * Ambas apresentações Longitudinal Caudal e Cranial são eutócicas nos bovinos e equinos, embora a mais comum seja a Cranial. - Se está transversal (“torto”, não vejo bem a cabeça nem o rabo, atravessado) = APRESENTAÇÃO TRANSVERSAL. POSIÇÃO DISTÓCICA! Precisa corrigir. A forma mais comum de encontrar a apresentação transversal é o filhote com as quatro patas para fora. Pode ser que o filhote esteja transversal em qualquer direção. Não há como classificar em cranial ou caudal neste caso. (Quando vai se detalhar, é em relação a cabeça ou ventre em relação ao Íleo) * Como mencionado antes, mesmo um animal eutócico pode não conseguir nascer, não só por questão da mãe, mas também pode ser um problema na postura. Ex: pata anterior flexionada. * O importante é que o conjunto permita o nascimento. Se estiver “errado” (distócico) em alguma das etapas, vai ser necessária a intervenção do Veterinário. 2.2. POSIÇÃO Refere-se a relação da região dorso-lombar do filhote com o osso coxal (pelve) da mãe. - Há diferentes formas de descrever “posição”. Uma mais completa é descrever em duas palavras qual a posição do dorso do filhote em relação ao osso da mãe mais próximo na pelve. Ex: Bezerro em apresentação longitudinal cranial, dorso-ilíaca direita. * Se o dorso do filhote está para o sacro da fêmea (retinho longitudinal), então o nome da posição é “dorso-sacral”. * Se o filhote está de “barriga pra cima”, deitado “de cabeça pra baixo”, o nome da posição é “dorso-púbica” - Outra possibilidade é, em vez de ser específico e falar a posição do filhote em relação a nomenclatura da região óssea da mãe, é dividir a abertura da pelve em “duas grandes áreas”: dorsal e ventral. Dessa maneira, ou o filhote está em posição dorso-dorsal ou dorso-ventral. Essa outra forma de nomenclatura é útil para facilitar a comunicação com outras pessoas na hora de resolver casos obstétricos, porém é bem mais resumida (de 8 possibilidades pelo menos passam a ser só 2 nomes). De maneira geral, se dividirmos a abertura da pelve em duas porções, a porção dorsal seria “Eutócica”, a porção ventral seria “Distócica” e a região do meio seria uma transição, em que o parto poderia ser eutócico ou ser interrompido e requerer intervenção. Poderia-se também generalizar as posições em dorso-coxal e dorso púbica. O primeiro termo sempre é em relação ao filhote (Dorso) e o segundo em relação a referência óssea na mãe (Coxal/púbica, ileal, sacral, etc). 2.3. POSTURA (ATITUDE) - Refere-se as alterações de estática relacionada a membros, pescoço e cabeça (extremidadades) Tem relação com a capacidade estender e flexionar os membros e o conjunto cabeça-pescoço. Ex. Cabeça estendida e membros flexionados. - Deve-se classificar os membros visíveis. Por exemplo, se é uma apresentação longitudinal cranial, com postura dorso-sacral, devo ver com estão os membros torácicos. Os pélvicos não vão importar nesse momento pois estão dentro do útero e não posso vê-los. Esta é uma avaliação imediata durante o exame físico obstétrico para determinar uma manobra de acordo com a estática. Na prática, apenas descrevemos o que está distócico. Ex. Apresentação longitudinal cranial, postura dorso-sacral e um membro está flexionado e o outro estendido, só precisa dizer quem é o flexionado. Ex. Apresentação longitudinal caudal, posição dorso-ílio-isquiádica esquerda, membro pélvico esquerdo flexionado. - Pode ser que nem todos os elementos da estática estão “errados”, mas um distócico pode já comprometer a ocorrência natural do parto. Ex. Apresentação longitudinal cranial, posição dorso-sacral e postura (atitude) cabeça e membro flexionados Tem que corrigir o problema postural. * Os problemas posturais (Vulgo “patas dobradas”) são mais comuns nos partos de vacas do que em éguas. # 3 - Manobras Obstétricas - Grande parte dos problemas são resolvidos com retropulsão (“devolver o feto”), reposicionar e tracionar. - De maneira geral, a grande maioria das manobras obstétricas são facilitadas e precisam ser precedidas pela Retropulsão. - Se há patas flexionadas na postura, precisam ser estendidas A Extensão é uma manobra extremamente utilizada. - A terceira manobra mais usada é a Tração, para retirada do feto. Durante o procedimento de tração, o maior risco em relação ao animal (a fêmea) é a ruptura/trauma do útero e canal do parto, como laceração uterina, vaginal, vulvar, vestibular, etc. - Para fazer a manobra obstétrica, tem que pensar no material adequado para não levar contaminação para o útero, que é um ambiente bem limpo, quase estéril. Materiais como cordas sujas, peias e qualquer corda da fazenda são um grande problema. É importante também higienizar o períneo e usar material limpo e desinfectado. - Há possibilidade de usar algum recurso anestésico específico para facilitar o processo. (Ex. Epidural facilita muitas manobras, pois alivia a dor da mãe e permite manipulação) - O material mínimo que o obstetra precisa são correntes obstétricas (possibilidade de usar corrente do tipo enforcador de cão NOVA), fetótomo, componentes de lubrificação (essencial para manobrar) e material cirúrgicos (possíveis cesáreas) - Naturalmente, o parto teria 2 lubrificantes do organismo. Líquido alantoideano: primeiro a ser liberado. É mais fluido, lava e remove sujidades do canal do parto. Líquido amniótico: mais viscoso, faz o papel de uma mucilagem. - Ao usar lubrificante, o ideal é espalhar dentro do útero, depois fazer a retropulsão para então iniciar as manobras. (Alguns espalham direto no filhote, as não é o melhor jeito). - Se o feto está em posição dorso-pélvica, o primeiro passo é a retropulsão. Em seguida, é feito rotação com luneta e depois “arrumá-lo” inserindo uma mão no útero. A Rotação é uma manobra mais complicada do que as comentamos até então. - A manobra Versão consiste em “arrumar” o feto transversal e deixa-lo longitudinal. - Durante a tração, o mais importante é a FORMA que ela é feita do que ea LINHA (ângulo) que você impõe do que a força. Lembrar que o canal do parto NÃO É UMA LINHA RETA. O feto sobe para depois descer. (“A saída do feto é como tirar uma vírgula do canal do parto”) Os maiores problemas durante a tração é força exagerada, como arrastar o filhote com carros, carroças, talhas em árvores, etc. Além disso, esses métodos causam um ângulo inadequado e podem traumatizar a fêmea e o feto. - Para fazer uma tração adequada, o primeiro passo é avaliar a compatibilidade do feto com a pelve. Em seguida, devem ser corrigidos problemas de estática fetal que por ventura estejam presentes. Estes dois passos já resolvem 90% dos problemas de distocia. - Em terceiro lugar, para tracionar é preciso que haja um ângulo de tração compatível com o trato reprodutivo da fêmea. Por fim, deve haver uma força ADEQUADA para fazer tração. (Não quer dizer que não se deve “fazer força”, mas não pode ser exagerada) - Em casos que está difícil palpar o feto ou o canal do parto, pode ser que algum tecido mole esteja obstruindo a saída. Ex: se a vulva está no caminho, a solução é fazer uma episiotomia. - Se o limitante da saída é a pelve, não adianta tracionar, melhor partir logo para a cesárea. - A força feita pode ser direta ou indireta, usando muletas de tração. Sempre conferindo se a força e a tração estão compatíveis. - Idealmente a tração deve ser alternada, principalmente quando feita em membros torácicos (para os pélvicos influencia menos): com isso, um dos membros é desviado para tracionar, diminuindo o “comprimento” do feto e facilitando sua passagem. A Linha de tração deve respeitar a anatomia do animal. - A laçada dupla no feto em geral tem um risco bem menor de traumatiza-lo do que a laçada simples na hora da tração. Lembrar que correntes tem várias vantagens sobre as cordas, incluindo que são: mais fáceis de esterilizar, limpar, posicionar no indivíduo e não têm o risco de provocar lesão por gangrena.
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