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MOTA Introdução ao Brasil um banquete no trópico Vol 1

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O objetiVO deste livro é introduzir o 
le1tor ao conhecimento do Brasil - sua 
formação histórica, seu povo, sua socie-
dade, sua cultura, sua economia. suas 
instituições. O caminho escolhido para 
isso foi apresentar. na forma de exten· 
sas resenhas, feitas por renomados es· 
pecialistas, um conjunto de dezenove 
obras dássicas - desde os fermões, do 
padre Vieira, até A rerolufio burguesa 
M lrlsil, de Florestan Fernandes. pas-
sando, entre outras, por Os sertões. de 
Eudid da Cunha. úsa-jrande I sen-
- de GHb rto Freire, Raízes do 8ras1~ 
· luarque de Htlanda. forma-
~ deCaio 
,., «<nlmia do 
Introdução ao BraJi! 
UM B.\ 'QUE.TJ~ o TRÓPICO 
II !H(III) lld '>111.11 
n I 111 
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O objetiVO deste livro é introduzir o 
le1tor ao conhecimento do Brasil - sua 
formação histórica, seu povo, sua socie-
dade, sua cultura, sua economia. suas 
instituições. O caminho escolhido para 
isso foi apresentar. na forma de exten· 
sas resenhas, feitas por renomados es· 
pecialistas, um conjunto de dezenove 
obras dássicas - desde os fermões, do 
padre Vieira, até A rerolufio burguesa 
M lrlsil, de Florestan Fernandes. pas-
sando, entre outras, por Os sertões. de 
Eudid da Cunha. úsa-jrande I sen-
- de GHb rto Freire, Raízes do 8ras1~ 
· luarque de Htlanda. forma-
~ deCaio 
,., «<nlmia do 
Introdução ao BraJi! 
UM B.\ 'QUE.TJ~ o TRÓPICO 
II !H(III) lld '>111.11 
n I 111 
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2 15 
(,JL l'J I I IRE 
r.a " J:rande & Jtllwla 
LlldeRu .Jl Ba t•J 
235 
257 
(. I' A(J(J) (JP. 
F01711ajáo dr; Bra ;/ (rm!m.J,r;rtÍT/tfJ 
273 
c 
2~3 
315 
Cf·l.'i<J fURTAIXJ 
Frmna(ãr; e{f)1rfmtica do Brasil 
hanci~co de Oliveira 
335 
RAYMUNOO fAORO 
Os d()llOS de poder 
Laura de Mello c Souza 
357 
A TO 10 CA :DIDO 
Formação da llltratura brasileira 
BenjaJnJn Abdala Junior 
381 
jost HoN6~ RODRIGUES 
C()nállafáD e ref()l'7fl(J no Brasil 
Alberto da ÜKta e Sdva 
393 
Fwn.HA fLa A oes 
A rewluçiio burgutJa no Brasrl 
GabneiCohn 
413 
Sobre os autores 
Nota do Editor 
O Brasil- instituições, economia, cultura, história -é o tema que reúne 
dezenove estudiosos para apresentar o trabalho de meaba que, ao pen r a 
nacionalidade, foram decisivos para compreen~-la. de seus primórd alé 
hoje. 
Com rimas, coincidências e discordâncias, as obras h'atadaJ que dos 
Sennões aos Sertõe1, de ClUa-gronde & seltZJlÚl a Formaçílo econômi 
do Bra.sí/, aqui se visitam, referem-se uma à outra, nsalimenram-se criand 
elos que iluminam DOIIOS SOO Ala. U-las é um modo de partJc.ípar da 
discus ão .oote esse país meatiço localizado no trópioo 
Sem colocar ponto final no aMUDID, pois se trata de uma · mrod 
este livro pretende estimular o contato direto com texU» 
cançado e se objetivo, a Editora Seoac Sio Paulo já eed euniiJI'Íiio 
papel, dilatando os horizontes de conhecimenco da DOMa real 
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2 15 
(,JL l'J I I IRE 
r.a " J:rande & Jtllwla 
LlldeRu .Jl Ba t•J 
235 
257 
(. I' A(J(J) (JP. 
F01711ajáo dr; Bra ;/ (rm!m.J,r;rtÍT/tfJ 
273 
c 
2~3 
315 
Cf·l.'i<J fURTAIXJ 
Frmna(ãr; e{f)1rfmtica do Brasil 
hanci~co de Oliveira 
335 
RAYMUNOO fAORO 
Os d()llOS de poder 
Laura de Mello c Souza 
357 
A TO 10 CA :DIDO 
Formação da llltratura brasileira 
BenjaJnJn Abdala Junior 
381 
jost HoN6~ RODRIGUES 
C()nállafáD e ref()l'7fl(J no Brasil 
Alberto da ÜKta e Sdva 
393 
Fwn.HA fLa A oes 
A rewluçiio burgutJa no Brasrl 
GabneiCohn 
413 
Sobre os autores 
Nota do Editor 
O Brasil- instituições, economia, cultura, história -é o tema que reúne 
dezenove estudiosos para apresentar o trabalho de meaba que, ao pen r a 
nacionalidade, foram decisivos para compreen~-la. de seus primórd alé 
hoje. 
Com rimas, coincidências e discordâncias, as obras h'atadaJ que dos 
Sennões aos Sertõe1, de ClUa-gronde & seltZJlÚl a Formaçílo econômi 
do Bra.sí/, aqui se visitam, referem-se uma à outra, nsalimenram-se criand 
elos que iluminam DOIIOS SOO Ala. U-las é um modo de partJc.ípar da 
discus ão .oote esse país meatiço localizado no trópioo 
Sem colocar ponto final no aMUDID, pois se trata de uma · mrod 
este livro pretende estimular o contato direto com texU» 
cançado e se objetivo, a Editora Seoac Sio Paulo já eed euniiJI'Íiio 
papel, dilatando os horizontes de conhecimenco da DOMa real 
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I! 
e E e os que teram 
ua formação da laera· 
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I! 
e E e os que teram 
ua formação da laera· 
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l"'liWIJlt,', ll 
l~r 11 1 llt"r.tlur .t, ,utt:s, polttic,t. estudos sobre nossa lormaçao - tudo pa sa 
p•u 111ntnt n •ttr.tlulho Jc rdlcxiio, contestaçao c revisão. Retrato do /Jra-
il d
1 
l';mlo Pr.tdtl, que partictpar.t ativamente da Semana, é parte desse 
lotoyíl M.1 o pc sinusmn desse livro, ressaltado desde o início pelos críti-
co., prim:lp.ilrucnll: por ~uJ insist~ncia na tese da tristeza brasileira c na 
lllt cn~ttl.ldc c n.r fm ma com que a luxúria c a cobiça teriam marcado nossa 
1 nnaç.1o no pcrítJdo coloni.d. faz com que ele ainda permaneça em boa 
111 dida t11bnt.u1o do pas~aJo. Mesmo que Paulo Prado não tenha atribuído 
\JIIll ncg.1t1\0 .r mi cigcnação, como era comum nos estudiosos que o ante-
~:cdcra!ll. I· mt· mo que stw dura crítica às nossas elites, no "Post scriptum", 
,timl.t m mt nhot w1 várias passagens perturbadora atualidade. Marco Auré-
lto Nogucii.J com.h11 em sua resenha: 
MJt~ qu~ um tlt.tgnó\ttCn, tr~t~va- ~de um veredito pesado, amargo, categórico, que 
tolhtJ ao c~mlnr qualquer chance de c r llcxf\CI, de. c perguntar. por exemplo, se essa 
" trnn r rJ e pcctal" nao: n.t c alr tJÚo mJt~ i arde, adqumdooutros traços. atenua-
do ua' uulêncl.t 
publ!caçao dl! (aw-grmule & ~cn::ala, em 1933, põe abaixo dois 
mtto teimosos - o., ddcrminisrnos geográfico e racial, segundo os quais, 
unphflcat.lann:ntc. a maim ia dl: nossos males tinha suas raízes no fato de 
s •nno um p.tís tropical c rm:~ttço. No caso da geografia, uma condenação 
in.lp~la~cl. Da nu tura de raças, isto é, da innuência "negativa" principal-
mente d,t população Jtcgra, ó o ''branqueamento" poderia, quem sabe, a 
longuís~imo pnuo, quando se completasse, redimir o Brasil. Gilberto Freire 
m~1stra cntao "~·r .wtktcntífica "afirmação da superioridade ou da inferiori-
dade de uma raça ob1c a outra. construindo sua reflexão sobre a anteriori-
daJe c plicati\'a d.t cu ltura. Afirma que a formação social brasileira se deve 
,10 africano c que tndo brasileiro é racial ou culturalmente negro", diz Elide 
Ru •,u B.tstos E m.11,. Freire "atribui uma função social diferente da conven-
wnalm~nll' .rtrihuída ao negro na formação brasileira, a partir da qualifica-
Ç.tt t.lck conw coluni;:ador. isto é, dando ênfase ao papel civilizador por ele 
' l' ·nta il1". Ou seja, não apenas somos racial ou culturalmente negros 
t:omo es ·,1 lont.liçüo nada tem de inferior. Casa-grande representa "uma 
\' rdadcii .1 revolução nos estudos sociais no país" não só por isso como pelo 
' lutk> que faz da influência da família patriarcal na formação brasileira e 
pür .\;i rio nutro aspectos apontados por E lide Rugai Bastos. Nem os que 
lç.J ltam I ,HJtrov rtiJa tese da democracia racial, deduzida dessa e de ou-
tr" obra 'l .tutor, negam o caráter revolucionário de Casa-grQI'Ide. Gil· 
16 
1-(liJRENÇO OI\ TI\S MOTA 
bcrto Freire supera as contorções e vacilações de Euclides da Cunhae po -
sibilita ao bra~1h!1ro d i. ar de se lamentar por ser como é e reconcth r-se 
consigo mesmo. Com seu livro, o Brasil se liberta da pesada herança a que 
se refere Walnice Nogueira Galvão, a do "racismo aceito e aprovado pr ci-
samcnte por aqueles que ele discrimina". 
Brasílio Sal! um Jr., logo no início de sua resenha de Raizes do Brasrl, d 
Sérgio Buarque de Holanda- o segundo livro da trilogia lembrada por Francts-
co de Oliveira-, adverte que esse não é um livro de história, mas que "u a a 
matéria legada pela história para identificar as amarras que bloqueiam no pre-
sente o nascimento de um futuro melhor". E tratando de um dos capítulos mais 
famosos e discutidos de Rafzes, o do "homem cordial", mostra que para Sérgio 
Buarque o indivíduo formado em um ambiente dominado pelo patriarcali mo, 
como é o caso do brasileiro, "dificilmente conseguirá distinguir entre o domínio 
privado e o domínio público". Para ele, diz Sal! um, 
aqui quase sempre predominou, tanto na admimstraçlo pdbhca como em outras 
áreas, o modelo de relações gerado na vida domésuca- a esfera dos laço a~ uvos e de 
parentesco. Vale sublinhar que essa concepção de patrimonialismo dtz respctto a uma 
forma de domlnio polftico em que agrupamentos enra1zado em grupos panrculan~tas 
da sociedade- a famnia e seus desdobramentos- produzem um viés na esfera púhlt 
ca. submelem o Estado. e o interesse geral, ao seu parllculansmo. 
Esse é apenas um exemplo de amarra que dificulta a transformação da 
sociedade. Quanto à cordialidade do brasileiro, que ainda se presta a muitas 
interpretações apressadas, ela é, lembra Sallum, 
tentattva de recon truçlo fora do ambiente famrliar, no plano societário, do mesmo 
Upo de sociabtlidadc da famflta patrian:al, de um Upo de soctabllidldc dependente de 
laços comumtários. Seriam exemplos disso algumas formas de IIDJuaacm. de xpre -
slo religiosa, c: até o horror às hierarquias e a busca de inumldldc no tratamento 
di pcn ado à autoridade. 
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l"'liWIJlt,', ll 
l~r 11 1 llt"r.tlur .t, ,utt:s, polttic,t. estudos sobre nossa lormaçao - tudo pa sa 
p•u 111ntnt n •ttr.tlulho Jc rdlcxiio, contestaçao c revisão. Retrato do /Jra-
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l';mlo Pr.tdtl, que partictpar.t ativamente da Semana, é parte desse 
lotoyíl M.1 o pc sinusmn desse livro, ressaltado desde o início pelos críti-
co., prim:lp.ilrucnll: por ~uJ insist~ncia na tese da tristeza brasileira c na 
lllt cn~ttl.ldc c n.r fm ma com que a luxúria c a cobiça teriam marcado nossa 
1 nnaç.1o no pcrítJdo coloni.d. faz com que ele ainda permaneça em boa 
111 dida t11bnt.u1o do pas~aJo. Mesmo que Paulo Prado não tenha atribuído 
\JIIll ncg.1t1\0 .r mi cigcnação, como era comum nos estudiosos que o ante-
~:cdcra!ll. I· mt· mo que stw dura crítica às nossas elites, no "Post scriptum", 
,timl.t m mt nhot w1 várias passagens perturbadora atualidade. Marco Auré-
lto Nogucii.J com.h11 em sua resenha: 
MJt~ qu~ um tlt.tgnó\ttCn, tr~t~va- ~de um veredito pesado, amargo, categórico, que 
tolhtJ ao c~mlnr qualquer chance de c r llcxf\CI, de. c perguntar. por exemplo, se essa 
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do ua' uulêncl.t 
publ!caçao dl! (aw-grmule & ~cn::ala, em 1933, põe abaixo dois 
mtto teimosos - o., ddcrminisrnos geográfico e racial, segundo os quais, 
unphflcat.lann:ntc. a maim ia dl: nossos males tinha suas raízes no fato de 
s •nno um p.tís tropical c rm:~ttço. No caso da geografia, uma condenação 
in.lp~la~cl. Da nu tura de raças, isto é, da innuência "negativa" principal-
mente d,t população Jtcgra, ó o ''branqueamento" poderia, quem sabe, a 
longuís~imo pnuo, quando se completasse, redimir o Brasil. Gilberto Freire 
m~1stra cntao "~·r .wtktcntífica "afirmação da superioridade ou da inferiori-
dade de uma raça ob1c a outra. construindo sua reflexão sobre a anteriori-
daJe c plicati\'a d.t cu ltura. Afirma que a formação social brasileira se deve 
,10 africano c que tndo brasileiro é racial ou culturalmente negro", diz Elide 
Ru •,u B.tstos E m.11,. Freire "atribui uma função social diferente da conven-
wnalm~nll' .rtrihuída ao negro na formação brasileira, a partir da qualifica-
Ç.tt t.lck conw coluni;:ador. isto é, dando ênfase ao papel civilizador por ele 
' l' ·nta il1". Ou seja, não apenas somos racial ou culturalmente negros 
t:omo es ·,1 lont.liçüo nada tem de inferior. Casa-grande representa "uma 
\' rdadcii .1 revolução nos estudos sociais no país" não só por isso como pelo 
' lutk> que faz da influência da família patriarcal na formação brasileira e 
pür .\;i rio nutro aspectos apontados por E lide Rugai Bastos. Nem os que 
lç.J ltam I ,HJtrov rtiJa tese da democracia racial, deduzida dessa e de ou-
tr" obra 'l .tutor, negam o caráter revolucionário de Casa-grQI'Ide. Gil· 
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1-(liJRENÇO OI\ TI\S MOTA 
bcrto Freire supera as contorções e vacilações de Euclides da Cunha e po -
sibilita ao bra~1h!1ro d i. ar de se lamentar por ser como é e reconcth r-se 
consigo mesmo. Com seu livro, o Brasil se liberta da pesada herança a que 
se refere Walnice Nogueira Galvão, a do "racismo aceito e aprovado pr ci-
samcnte por aqueles que ele discrimina". 
Brasílio Sal! um Jr., logo no início de sua resenha de Raizes do Brasrl, d 
Sérgio Buarque de Holanda- o segundo livro da trilogia lembrada por Francts-
co de Oliveira-, adverte que esse não é um livro de história, mas que "u a a 
matéria legada pela história para identificar as amarras que bloqueiam no pre-
sente o nascimento de um futuro melhor". E tratando de um dos capítulos mais 
famosos e discutidos de Rafzes, o do "homem cordial", mostra que para Sérgio 
Buarque o indivíduo formado em um ambiente dominado pelo patriarcali mo, 
como é o caso do brasileiro, "dificilmente conseguirá distinguir entre o domínio 
privado e o domínio público". Para ele, diz Sal! um, 
aqui quase sempre predominou, tanto na admimstraçlo pdbhca como em outras 
áreas, o modelo de relações gerado na vida domésuca- a esfera dos laço a~ uvos e de 
parentesco. Vale sublinhar que essa concepção de patrimonialismo dtz respctto a uma 
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da sociedade- a famnia e seus desdobramentos- produzem um viés na esfera púhlt 
ca. submelem o Estado. e o interesse geral, ao seu parllculansmo. 
Esse é apenas um exemplo de amarra que dificulta a transformação da 
sociedade. Quanto à cordialidade do brasileiro, que ainda se presta a muitas 
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Upo de sociabtlidadc da famflta patrian:al, de um Upo de soctabllidldc dependente de 
laços comumtários. Seriam exemplos disso algumas formas de IIDJuaacm. de xpre -
slo religiosa, c: até o horror às hierarquias e a busca de inumldldc no tratamento 
di pcn ado à autoridade. 
Scanned by CamScanner
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r 
L TRODl (AO 
, 01101 wnam 1110 4u,·, nmfcrc wltHliJ, de cumpm o papel de ~1mples f orne-
' dor.l de rnodulll' 1 rop 1 1 ~ 1' para o mcrc .ulos europeus, va1 a seu \er tran~cender a 
In t~nlla pohuc.l do 1 ~!ad• • , h'nlullsla português para idenllflcar-sc com a própna 
11J, da ,1 •nl.ldc wlom.d c l'lllulnlinUidaJc da soucdade nac•onal, o que exphcana a 
'"' ,1 d 110 11, 1 m nw d poiS de promu' 1Ja a independência em 1822, permane-
c 11011 1 \llllll IJillhl tO!nmal, que nm lllil'fl!lllla c nos Wll\lrange nas lentaliVas de 
rompm1 nlu 11ua ·<tU f.ll.llm lll' lblinada~ ao fra.:asso pela própna Óliea que o 
)u.mto 1 oc1 d.tdc org.mizad.t, diz Amaral Lapa, "o autor privilegia o 
r.llld.: Jnnmuo, on !c'.: c ·ntr.to ela d.t família patriarcal. Esse tipo de família. 
, 0111 o · 1 ah1 111 ntc pt,dcr,..: m.tis a Igreja em patamar menos proeminente, 
pot · t.1 puJc . UJe ttJr·\e .tqu~ l.t, constituem as duas vigasem que se funda-
m nt.t ,, 1 1 d.tth.:. 
I m C< lllll< liww, , n\1/c/a ,. l 'oto, ao estudar um dos fenômenos mais 
1111pnrt.1nt d.t pt,lill .llt .t iletr.t,Vítor Nunes Leal contraria a idéia então do-
flllll.IIH • (ltm d 1 d..:~. tLI.1 de -tO) d.: qu.: o coroneli mo decorreria da pujança 
' , 1.tl d l.ttt fu mho, que e sohn:pona ao próprio poder político. 
T!Pii\.u I .1mount.:r em ua resenha-. 
I OURF. ÇO DANTAS MOT 
0 drsafw ~ ntral c forma políll'a no Brasil é de enhar tn•lltu 
capal c d n ulralttar, ou pelo mcno~ rcduztr por meto de um 1 l ma d 
t·ontrape m. a mOuêncta adversa do e pínto de clã Cnar um amh te h. t1 
poltuca pm all\ta. pcrsonall\la c patnmomallsta do clã é ondtç 1 pr 
llbcrd Je, democracia c progresso Para ter ê:(I!O, a reforma polfuc • m 
enfraquecer u complexo de clã. não pode '1olentar a cultura e num nto 
mas a, raJão pela qual de\ c ser gradativa c moderada Não hâ de ~on 1 r 
hhcral: preu~a recorrer a uma certa coação 
Em 1958 c 1959 são publicados outros três livros que trazem no o 
importantes elementos para a compreensão do Brasil. O primeiro, de 1958. é 
Os donos do poder, no qual Raymundo Faoro aprofunda a análi e do 
patrimoniahsmo português e brasileiro c inova com a aplicação a no a r 11-
dade htstôrica.: política do conceito de cstamento de Max Wcber. dtferente do 
de class.: - "os estamentos governam, as classes negociam". E plica Laura 
de Mello c Souza. expondo o pensamento do autor, que "o e lamento é uptco 
das sociedades em que a economia não é totalmente dominada pelo merc do, 
como a feudal e, no caso português, a patrimonial. Contudo. encontra- e t m-
bém, de forma residual, nas sociedades capitalistas. Representa um freio n-
servador, voltado para si mesmo e preocupado em assegurar a ba e do pod r" 
Daí a conclusão: 
De D Joll.o I a Getdho Vargas, numa &agem de sets cuJos uma e trutu 
soc1al r ~1stm a todas as transfonnações fundamentais aos des.:lio ma1 pr 
travcs"a do oceano largo Durante todo esse tempo, o patnmon ah mo 
mdllle\ . os olhos voltados para a especulaçilo, o lucro, a a entura pnnc p 
t rí ltca do Estado patnmomal fot a predonunlncia do quadro adnum t 1 
loco upcnor d pod r: o estamento evolu1u de an toclitico para b 
dando- !>C às mudanças sem alterar as estruturas. O patnmon1 1 
pó!' sando de pe soai para e tatal, amoldando- u transformaç 
mudanças sa compauhJluladc entre capital mo mode1110equadro trlll(liCIIOil:al c un•o~ 
das chaves para a compre nslo do fen&neno bislórico pcc r 
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L TRODl (AO 
, 01101 wnam 1110 4u,·, nmfcrc wltHliJ, de cumpm o papel de ~1mples f orne-
' dor.l de rnodulll' 1 rop 1 1 ~ 1' para o mcrc .ulos europeus, va1 a seu \er tran~cender a 
In t~nlla pohuc.l do 1 ~!ad• • , h'nlullsla português para idenllflcar-sc com a própna 
11J, da ,1 •nl.ldc wlom.d c l'lllulnlinUidaJc da soucdade nac•onal, o que exphcana a 
'"' ,1 d 110 11, 1 m nw d poiS de promu' 1Ja a independência em 1822, permane-
c 11011 1 \llllll IJillhl tO!nmal, que nm lllil'fl!lllla c nos Wll\lrange nas lentaliVas de 
rompm1 nlu 11ua ·<tU f.ll.llm lll' lblinada~ ao fra.:asso pela própna Óliea que o 
)u.mto 1 oc1 d.tdc org.mizad.t, diz Amaral Lapa, "o autor privilegia o 
r.llld.: Jnnmuo, on !c'.: c ·ntr.to ela d.t família patriarcal. Esse tipo de família. 
, 0111 o · 1 ah1 111 ntc pt,dcr,..: m.tis a Igreja em patamar menos proeminente, 
pot · t.1 puJc . UJe ttJr·\e .tqu~ l.t, constituem as duas vigas em que se funda-
m nt.t ,, 1 1 d.tth.:. 
I m C< lllll< liww, , n\1/c/a ,. l 'oto, ao estudar um dos fenômenos mais 
1111pnrt.1nt d.t pt,lill .llt .t iletr.t,Vítor Nunes Leal contraria a idéia então do-
flllll.IIH • (ltm d 1 d..:~. tLI.1 de -tO) d.: qu.: o coroneli mo decorreria da pujança 
' , 1.tl d l.ttt fu mho, que e sohn:pona ao próprio poder político. 
T!Pii\.u I .1mount.:r em ua resenha-. 
I OURF. ÇO DANTAS MOT 
0 drsafw ~ ntral c forma políll'a no Brasil é de enhar tn•lltu 
capal c d n ulralttar, ou pelo mcno~ rcduztr por meto de um 1 l ma d 
t·ontrape m. a mOuêncta adversa do e pínto de clã Cnar um amh te h. t1 
poltuca pm all\ta. pcrsonall\la c patnmomallsta do clã é ondtç 1 pr 
llbcrd Je, democracia c progresso Para ter ê:(I!O, a reforma polfuc • m 
enfraquecer u complexo de clã. não pode '1olentar a cultura e num nto 
mas a, raJão pela qual de\ c ser gradativa c moderada Não hâ de ~on 1 r 
hhcral: preu~a recorrer a uma certa coação 
Em 1958 c 1959 são publicados outros três livros que trazem no o 
importantes elementos para a compreensão do Brasil. O primeiro, de 1958. é 
Os donos do poder, no qual Raymundo Faoro aprofunda a análi e do 
patrimoniahsmo português e brasileiro c inova com a aplicação a no a r 11-
dade htstôrica.: política do conceito de cstamento de Max Wcber. dtferente do 
de class.: - "os estamentos governam, as classes negociam". E plica Laura 
de Mello c Souza. expondo o pensamento do autor, que "o e lamento é uptco 
das sociedades em que a economia não é totalmente dominada pelo merc do, 
como a feudal e, no caso português, a patrimonial. Contudo. encontra- e t m-
bém, de forma residual, nas sociedades capitalistas. Representa um freio n-
servador, voltado para si mesmo e preocupado em assegurar a ba e do pod r" 
Daí a conclusão: 
De D Joll.o I a Getdho Vargas, numa &agem de sets cuJos uma e trutu 
soc1al r ~1stm a todas as transfonnações fundamentais aos des.:lio ma1 pr 
travcs"a do oceano largo Durante todo esse tempo, o patnmon ah mo 
mdllle\ . os olhos voltados para a especulaçilo, o lucro, a a entura pnnc p 
t rí ltca do Estado patnmomal fot a predonunlncia do quadro adnum t 1 
loco upcnor d pod r: o estamento evolu1u de an toclitico para b 
dando- !>C às mudanças sem alterar as estruturas. O patnmon1 1 
pó!' sando de pe soai para e tatal, amoldando- u transformaç 
mudanças sa compauhJluladc entre capital mo mode1110equadro trlll(liCIIOil:al c un•o~ 
das chaves para a compre nslo do fen&neno bislórico pcc r 
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. Vll como " conomia 
11.1 h1ti1IUI,tl,• ·" 
o tn cno h fll, fotiii<~Çcio ela lacratura brasilt'ira - Momelltos deci-
'" t''• d,·, nl• nitll'.mdithl,ltllllou- c logo um clás ico. elemento indi pensável 
.1 , t>lllpr,· n ;1•, 1lo k nonwno que ·studa. Ele "não con titui a pena um livro 
,,hr ·o~ lll<ltm·ntn luntl.lmcnl .lisda f,mna ãode no a literatura, noarcadismo 
·no m111.11111smo". \r.·gundo lk•njamin Abdala Junior. "É obretudo uma fixa-
~ml, ,111 •1\l\ d.1 li h.! I .ttura . do. tr.tço~ marcantes de como nos imaginávamos no 
monwnl•, de no"·' Jfmnaçao como nação politicamente independente." A 
inl\'11\·1" h1 .wtnr, ~~· ·undo de mesmo diz. é "c tudar a formação da literatura 
bt.tsik 11.1 Ullllll sint '\c r.k l l' tHl ~ nc tas uni ver alistas c particularistas", procu-
t.mdotnnsll ,11 "o jn{!o de sas forç.1 .uni-.crsal c nacional, técnica e emocional, 
JUl' ,1 pla ~m.u;~mcnmn p 'J mancntc mi stur.t d.1 tradição européia e das desco-
lx·n.t. d11 Br.tsll". E\plic.t Benjamin Abdala Junior que 
J.lf·'·' ••mpt~•n ,\lHk sal<>ttnaç~o~nccc âno,!>Cgundooautor,dlstinguirmanifts-
r,,1 c' /ao ,,11 d•llfr'tntwtpr<•priJmcnlc dua I .. ) AntomoCandidonloconsidera 
lan 111trr1. 111.1 mrtlll}t llriÇril'l lu, r.u w1, produ\Oes anteriore . Faltana a elas esse 
l".\1 lrr 1 t•nmn tlllfrltt'l,l'.ll rl<'rllandoJC\tSI netadeumavidahtcliria;pdbl/cos, 
p rmu1nlln u,, ,, .. ·la\ ao, c rrud,~,w. r 1t.1 dar lOnllnutdade ao repenóno litelirio. 
,\ """"/1 ''''li'< 1 /Hrl<lll•l.l fl11oll<'ll1 us produçt c do século XVI at~ meados do 
\ ' lll ~lu 'llllu.llH.t~ llt'll.t w cnnt1gura na sc:~unda metade do ~cuJo XVIII. ga· 
IX , quando o ~islema se consolida. propictando 
um t.lllltd.td • hl<'ra• 1.1 r,· •ul;u 
Complct.un o quadro dois li\'ros- Conciliaçtio e refonna no Brasil, de 
Jo ~ l hllll'tlll Rtldrigu~~. c A n• t·oluçcio burgtusa no Bra i/, de Florestan 
r 111.111 l l 11) • U.l h:~.:nha. lbcrto da Costa c Silva observa:J ~ H nôno R•>Jnp1 ., rc unuu nos escnto que compõem Conc:lliaçcfo t rtforma 
r /)ra' 't' qtk tT\lu:>.c dc ·ua~ c~a1ações no passado e procurou re elar-nos-edaf 
n n"aJ ·,t l11ro -n~··gredod ·orno fi z mosccontinuamosafazcranossa 
,h 1 c p.tr.to:nt ·nJ~r· no - screve ele -é ac:onclliaçio. Mas biconciliaçlo 
20 
I OI RE ÇO D NTAS MOTA 
Papel d • i h o po itivo foi o das "m iori s qu 
indtgcnas. o negro ali\o"o mesti osdetod as ores'. 
ção efetuada no s iodo po o d vemos o ter o Brasil. d d do dei ado de 
er 'uma caricatura de Portugal' no. trópico , e pos uir um sub trato novo". 
Já no seio da elites 
a concilinçlio mvcnlivn c fecunda cria rara em no a hi lóna.\. I A oonc•haçikl pela 
mércia scmpr~ empumnt para o futuro o grandes prohlem nacional~ S o~ enfren 
tamos. temerosos c prudenles. quando nllo hâ mais jCito de ev11 ·lo C001 llTande 
atra~o. portanto, c. em geral, com soluções e remt!dto quej4perderam a lic ll8 o 
se huscn a concórdia pelo rc peito à d1verstdnde das id~ias e pela a ellaç o de que 
governe um partido e de que os outros del discordem. O que se procura é d1lutr ou, 
se possfvcl, anular o disscnso. 
Em A revolução burguesa 110 Brasil - livro comple o, mai que todos 
os demais aqui apresentados, preso ao rigor da linguagem acadêmica , Flore tan 
Fernandes sustenta, como explica Gabriel Cohn, que 
numa sociedade capitalista dependente como a brasileira verifi n·se "uma forte 
dissociação pmgmdlica entre desenvolvimento capitalista e democracia, ou uma forte 
associação racional entre desenvolvimento cnpitali ta au1ocrac1a". Em uma. o 
regime compalfvel com a natureza peculiar da revoluçllo burgue a no Bra 11 tru o 
timbre de uma classe dommante que, nllo obstanl e tar in cnla hi toncamenle num 
rroces o de transfonnaçllo da sociedade, não supona a polarizaçlo (e portanto tam 
bém o conflito de classes) e, sob presslo, recua para a acomodaçlo econômica e stX.tal 
e para o despotismo polftlco. 
E conclui mais udiant Gabriel Cohn: 
O que Florestan nos d1z é que, deixada a burauesla numa SOCiedade como a bm ·tletra 
Mlha c à sua própria orte, ua revoluçlo, aquela que lava a confonnar a sociedade l'l 
Ull Imagem e semelhança. nlo tem como ser de~ a mu sempre estarli sob o 
encanto da oluçlio autocrática. Portanto, n1o revoluçlo bWJueaa e mu1to meno 
revoluçlo democr4tux>-burguesa, mu revolu;lo lllltOCdlic:o-bw'&uesa. Enio avanço 
autônomo e progressivo das clasaea btJrauaw.. mu ace1tt*Çio num a rçwto fechado. 
qu.e ex1ge outras forças históricas para 10 lbJk, 
Bste conjunto de obma mostra coartlltll vjiiMi·.e 
história. Levanta as graadeapeqifli!• .f!- l• · 
que lhes demo& - SQl.a o.-;••-'~•l• ~killo 
o& obstfoulos que ••ltt Qlll4\'j_.l,táj·~·-~ 
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. Vll como " conomia 
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o tn cno h fll, fotiii<~Çcio ela lacratura brasilt'ira - Momelltos deci-
'" t''• d,·, nl• nitll'.mdithl,ltllllou- c logo um clás ico. elemento indi pensável 
.1 , t>lllpr,· n ;1•, 1lo k nonwno que ·studa. Ele "não con titui a pena um livro 
,,hr ·o~ lll<ltm·ntn luntl.lmcnl .lisda f,mna ãode no a literatura, noarcadismo 
·no m111.11111smo". \r.·gundo lk•njamin Abdala Junior. "É obretudo uma fixa-
~ml, ,111 •1\l\ d.1 li h.! I .ttura . do. tr.tço~ marcantes de como nos imaginávamos no 
monwnl•, de no"·' Jfmnaçao como nação politicamente independente." A 
inl\'11\·1" h1 .wtnr, ~~· ·undo de mesmo diz. é "c tudar a formação da literatura 
bt.tsik 11.1 Ullllll sint '\c r.k l l' tHl ~ nc tas uni ver alistas c particularistas", procu-
t.mdotnnsll ,11 "o jn{!o de sas forç.1 .uni-.crsal c nacional, técnica e emocional, 
JUl' ,1 pla ~m.u;~mcnmn p 'J mancntc mi stur.t d.1 tradição européia e das desco-
lx·n.t. d11 Br.tsll". E\plic.t Benjamin Abdala Junior que 
J.lf·'·' ••mpt~•n ,\lHk sal<>ttnaç~o~nccc âno,!>Cgundooautor,dlstinguirmanifts-
r,,1 c' /ao ,,11 d•llfr'tntwtpr<•priJmcnlc dua I .. ) AntomoCandidonloconsidera 
lan 111trr1. 111.1 mrtlll}t llriÇril'l lu, r.u w1, produ\Oes anteriore . Faltana a elas esse 
l".\1 lrr 1 t•nmn tlllfrltt'l,l'.ll rl<'rllandoJC\tSI netadeumavidahtcliria;pdbl/cos, 
p rmu1nlln u,, ,, .. ·la\ ao, c rrud,~,w. r 1t.1 dar lOnllnutdade ao repenóno litelirio. 
,\ """"/1 ''''li'< 1 /Hrl<lll•l.l fl11oll<'ll1 us produçt c do século XVI at~ meados do 
\ ' lll ~lu 'llllu.llH.t~ llt'll.t w cnnt1gura na sc:~unda metade do ~cuJo XVIII. ga· 
IX , quando o ~islema se consolida. propictando 
um t.lllltd.td • hl<'ra• 1.1 r,· •ul;u 
Complct.un o quadro dois li\'ros- Conciliaçtio e refonna no Brasil, de 
Jo ~ l hllll'tlll Rtldrigu~~. c A n• t·oluçcio burgtusa no Bra i/, de Florestan 
r 111.111 l l 11) • U.l h:~.:nha. lbcrto da Costa c Silva observa: 
J ~ H nôno R•>Jnp1 ., rc unuu nos escnto que compõem Conc:lliaçcfo t rtforma 
r /)ra' 't' qtk tT\lu:>.c dc ·ua~ c~a1ações no passado e procurou re elar-nos-edaf 
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I OI RE ÇO D NTAS MOTA 
Papel d • i h o po itivo foi o das "m iori s qu 
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ção efetuada no s iodo po o d vemos o ter o Brasil. d d do dei ado de 
er 'uma caricatura de Portugal' no. trópico , e pos uir um sub trato novo". 
Já no seio da elites 
a concilinçlio mvcnlivn c fecunda cria rara em no a hi lóna.\. I A oonc•haçikl pela 
mércia scmpr~ empumnt para o futuro o grandes prohlem nacional~ S o~ enfren 
tamos. temerosos c prudenles. quando nllo hâ mais jCito de ev11 ·lo C001 llTande 
atra~o. portanto, c. em geral, com soluções e remt!dto quej4perderam a lic ll8 o 
se huscn a concórdia pelo rc peito à d1verstdnde das id~ias e pela a ellaç o de que 
governe um partido e de que os outros del discordem. O que se procura é d1lutr ou, 
se possfvcl, anular o disscnso. 
Em A revolução burguesa 110 Brasil - livro comple o, mai que todos 
os demais aqui apresentados, preso ao rigor da linguagem acadêmica , Flore tan 
Fernandes sustenta, como explica Gabriel Cohn, que 
numa sociedade capitalista dependente como a brasileira verifi n·se "uma forte 
dissociação pmgmdlica entre desenvolvimento capitalista e democracia, ou uma forte 
associação racional entre desenvolvimento cnpitali ta au1ocrac1a". Em uma. o 
regime compalfvel com a natureza peculiar da revoluçllo burgue a no Bra 11 tru o 
timbre de uma classe dommante que, nllo obstanl e tar in cnla hi toncamenle num 
rroces o de transfonnaçllo da sociedade, não supona a polarizaçlo (e portanto tam 
bém o conflito de classes) e, sob presslo, recua para a acomodaçlo econômica e stX.tal 
e para o despotismo polftlco. 
E conclui mais udiant Gabriel Cohn: 
O que Florestan nos d1z é que, deixada a burauesla numa SOCiedade como a bm ·tletra 
Mlha c à sua própria orte, ua revoluçlo, aquela que lava a confonnar a sociedade l'l 
Ull Imagem e semelhança. nlo tem como ser de~ a mu sempre estarli sob o 
encanto da oluçlio autocrática. Portanto, n1o revoluçlo bWJueaa e mu1to meno 
revoluçlo democr4tux>-burguesa, mu revolu;lo lllltOCdlic:o-bw'&uesa. Enio avanço 
autônomo e progressivo das clasaea btJrauaw.. mu ace1tt*Çio num a rçwto fechado. 
qu.e ex1ge outras forças históricas para 10 lbJk, 
Bste conjunto de obma mostra coartlltll vjiiMi·.e 
história. Levanta as graadeapeqifli!• .f!- l• · 
que lhes demo& - SQl.a o.-;••-'~•l• ~killo 
o& obstfoulos que ••ltt Qlll4\'j_.l,táj·~·-~ 
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l~TRODU~· \0 
('onjunt(· que não se pretende completo. que tem, como foi dito acima, os 
ddeitos inevitáveis de qualquer seleção. Insistir em evi tá-los só redundaria em 
dcbatcs infind{ivl.!is 1.! tornaria inviável o projeto. A solução encontrada foi dei-
xar para um segundo volume o preenchimento das lacunas do primeiro. Nunca 
é dt:rnai5 in ·istir que este livro é apenas aquilo que diz seu título- uma introdu-
ção. para ~rvir de estímulo ao contato com os textosoriginais. Ele não pode 
t.:r c não tem nenhuma outra ambição além dessa. Leitores que porventura 
p ·nsarcrn o contrário cometerão um grave erro. Nada pode substituir, para a 
plena compr..:cnsão desses livros. o contato íntimo com o desenvolvimento e a 
trama da Jrgumentação de seus autores, sua complexidade e riqueza de su-
gestão, que ~ão insuscetíveis de resumo. Isso é ainda mais verdadeiro no caso 
de li\ 10~ como Serm6es, Casa-grande & senzala c Os sertões - para citar 
apenas três e)(emplos -,que são obras-primas literárias. Atente-se para o que 
dzl Amaral Lapa a certa altura de seu trabalho sobre Fomzação do Brasil 
('(J/1/cmporfmt'o .. Sente-se aí o caráter seminal deste livro, cujas colocações 
muitas vezes breves. ponteadas como resultado conclusivo, só possível depois 
de longa pcsqui a e reflexão e de extraordinária capacidade de leitura, provo-
caram te es comprobatórias , extensas e intensas, de repercussão, cuja nas-
culle ját 11111/lll.\ re:::e1 um ou dois parágrafos redigidos por Caio Prado 
Júnior"( grifo meu). Um ou dois parágrafos que não constam de resenhas e, se 
constas em. perderiam seu poder de sugestão fora do contexto. Resenhas são 
um onviLe e uma útil introdução à leitura, não são a leitura. 
22 
pADRE ANTóNIO VIEIRA 
Sermões 
João Adolfo Hansen 
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l~TRODU~· \0 
('onjunt(· que não se pretende completo. que tem, como foi dito acima, os 
ddeitos inevitáveis de qualquer seleção. Insistir em evi tá-los só redundaria em 
dcbatcs infind{ivl.!is 1.! tornaria inviável o projeto. A solução encontrada foi dei-
xar para um segundo volume o preenchimento das lacunas do primeiro. Nunca 
é dt:rnai5 in ·istir que este livro é apenas aquilo que diz seu título- uma introdu-
ção. para ~rvir de estímulo ao contato com os textos originais. Ele não pode 
t.:r c não tem nenhuma outra ambição além dessa. Leitores que porventura 
p ·nsarcrn o contrário cometerão um grave erro. Nada pode substituir, para a 
plena compr..:cnsão desses livros. o contato íntimo com o desenvolvimento e a 
trama da Jrgumentação de seus autores, sua complexidade e riqueza de su-
gestão, que ~ão insuscetíveis de resumo. Isso é ainda mais verdadeiro no caso 
de li\ 10~ como Serm6es, Casa-grande & senzala c Os sertões - para citar 
apenas três e)(emplos -,que são obras-primas literárias. Atente-se para o que 
dzl Amaral Lapa a certa altura de seu trabalho sobre Fomzação do Brasil 
('(J/1/cmporfmt'o .. Sente-se aí o caráter seminal deste livro, cujas colocações 
muitas vezes breves. ponteadas como resultado conclusivo, só possível depois 
de longa pcsqui a e reflexão e de extraordinária capacidade de leitura, provo-
caram te es comprobatórias , extensas e intensas, de repercussão, cuja nas-
culle ját 11111/lll.\ re:::e1 um ou dois parágrafos redigidos por Caio Prado 
Júnior"( grifo meu). Um ou dois parágrafos que não constam de resenhas e, se 
constas em. perderiam seu poder de sugestão fora do contexto. Resenhas são 
um onviLe e uma útil introdução à leitura, não são a leitura. 
22 
pADRE ANTóNIO VIEIRA 
Sermões 
João Adolfo Hansen 
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Entre 1624, quando escreveu a Carta !mUil em que relata a im.aÇo 
holandesa da Bahia. e 1697, quando morreu em Salvador. deixando i na h do 
o manuscrito de um texto profético. Clavis prophetarum. o jesuíta Antômo 
Vieira produziu a obra espantosa que faz dele um dos autores maiores do 
século XVII. A finalidade de toda ela é promover a integração harmoniosa do 
indivíduos. estamentos e ordens do império português, desde os prfncipe da 
casa real e cortesãos aristocratas até os mais humildes escra\OS e índios bra-
vos do mato, visando a sua redenção coletiva como um "corpo místíco" unifi-
cado. Ao sacramentar Portugal como nação eleita para estabelecer o Império 
de Deus na Terra, o retorno do Messias, Vieira sacraliza a dinastia dos 
Bragança, estabelecendo ponderações agudas e misteriosas entre o ritual ca-
tólico e a monarquia absoluta definida como instrumento da divindade. Em seu 
projeto salvífico, o papel do Novo Mundo é essencial. 
Para tratar de representações dele em sua obra, primeiramente é preciso 
lembrar que, em seu tempo, "Brasil" nomeava o Estado do Brasil, um terrítóno 
correspondente à Bahia e às capitanias sob a jurisdição do governador-geral 
sediado em Salvador. O Estado do Brasil formava então o domínio colonial 
português na América, juntamente com o Estado do Maranhão e Grão-Pará. 
Este último, criado por um decreto real em 13 de junho de 1621, correspondia 
aproximadamente ao território dos atuais estados do Ceará, Piauí. Maranhão. 
Pará e partes de Tocantins e Amazonas. Ambos os estados. Brasil e Maranhão 
e Grão-Pará. transcendem os limites político-administrativos regionais e me-
tropolitanos, pois são regiões por assim dizer "espirituais", concebidas por Victra 
como o espaço-tempo de uma práxis sociaP fundamentada na metafísica c ris· 
Em segundo I ugar, como é necessário falar da sua biografia, pois a concep-
%iO jesuítica de ação não dissocia "vida" e "obra", é preciso dizer que, no 
caso, o "eu" de Vieira não é uma categoria psk:ológica, ma uma posição 
l:bit~rárqui,ca ("jesuíta", "chefe de missão", "réu da Inquisição", "diplomata", 
~)llSielhc:iro do rei", "orador da Capela Real", etc.) preenchida por repre en-
que são partes do todo social objetivo. Por isso. em &ercciro lugar, é 
especificar a natureza e J t\u1çio da a obra ap seu tempo. Ele 
seus sermões do "cho~" wmparava aos "palácios" 
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Entre 1624, quando escreveu a Carta !mUil em que relata a im.aÇo 
holandesa da Bahia. e 1697, quando morreu em Salvador. deixando i na h do 
o manuscrito de um texto profético. Clavis prophetarum. o jesuíta Antômo 
Vieira produziu a obra espantosa que faz dele um dos autores maiores do 
século XVII. A finalidade de toda ela é promover a integração harmoniosa do 
indivíduos. estamentos e ordens do império português, desde os prfncipe da 
casa real e cortesãos aristocratas até os mais humildes escra\OS e índios bra-
vos do mato, visando a sua redenção coletiva como um "corpo místíco" unifi-
cado. Ao sacramentar Portugal como nação eleita para estabelecer o Império 
de Deus na Terra, o retorno do Messias, Vieira sacraliza a dinastia dos 
Bragança, estabelecendo ponderações agudas e misteriosas entre o ritual ca-
tólico e a monarquia absoluta definida como instrumento da divindade. Em seu 
projeto salvífico, o papel do Novo Mundo é essencial. 
Para tratar de representações dele em sua obra, primeiramente é preciso 
lembrar que, em seu tempo, "Brasil" nomeava o Estado do Brasil, um terrítóno 
correspondente à Bahia e às capitanias sob a jurisdição do governador-geral 
sediado em Salvador. O Estado do Brasil formava então o domínio colonial 
português na América, juntamente com o Estado do Maranhão e Grão-Pará. 
Este último, criado por um decreto real em 13 de junho de 1621, correspondia 
aproximadamente ao território dos atuais estados do Ceará, Piauí. Maranhão. 
Pará e partes de Tocantins e Amazonas. Ambos os estados. Brasil e Maranhão 
e Grão-Pará. transcendem os limites político-administrativos regionais e me-
tropolitanos, pois são regiões por assim dizer "espirituais", concebidas por Victra 
como o espaço-tempo de uma práxis sociaP fundamentada na metafísica c ris· 
Em segundo I ugar, como é necessário falar da sua biografia, pois a concep-
%iO jesuítica de ação não dissocia "vida" e "obra", é preciso dizer que, no 
caso, o "eu" de Vieira não é uma categoria psk:ológica, ma uma posição 
l:bit~rárqui,ca ("jesuíta", "chefe de missão", "réu da Inquisição", "diplomata", 
~)llSielhc:iro do rei", "orador da Capela Real", etc.) preenchida por repre en-
que são partes do todo social objetivo. Por isso. em &ercciro lugar, é 
especificar a natureza e J t\u1çio da a obra ap seu tempo. Ele 
seus sermões do "cho~" wmparava aos "palácios"Scanned by CamScanner
de suas obras proféticas. I Ioje. estas são praticamente ilegíveis e valorizamos 
o~ sermões, ainda que por rnões quase sempre apenas estéticas, de modo 
ba~tantc diverso do seu, po1s os entendia C>lmo instrumentos salvíficos imedia-
tamente praticos. No prólogo da edição dos Sermões. de 1677, escreveu que, 
~em a voz que os tinha animado no púlpito, ainda ressuscitados eram cadáve-
res. IJoje, só os conhecemos "ressuscitados" como textos escritos. Na leitura, 
não mais ex1stc a acuo ou a dramatização deles pela voz e pelo corpo do 
padrc. Mas é essa primitiva natureza oral que especifica historicamente a prá-
tica de Vieira como "solução" católica para a questão do contato do fiel com 
Deus 
I m 1517. em uma das teses de Wittenbcrg, Martinho Lutero afirmou que 
ba.~la ao fiel ter uma Bíblia c lê-la individualmente, em silêncio, para pôr-se em 
contato com Deus. A tese lutcrana da sola scriprura, "apenas a Escritura", 
pressupoc <l possl: da Ríhlirt e a alfabetização dos fiéis. Ela toma evidentemente 
desm·cess.iria a mediação do clero c dos ritos visíveis da Igreja. Na sessão de 8 
dt ahnf de I 5 J(, do ( "onc ílio de Trcnto. n:unido para combater a Reforma protes-
tante, teólogos Jesuítas c dominicanos declararam a tese da sola scriptura heré-
tica, ddin1ndo c delimitando a traditio, a ''tradição" (ritos, cerimônias, magistério, 
nini\t(llo t' poverno) c o~ textos canúnicos da Igreja. Logo depois, em 17 de 
r• nho, determinaram il ohri~ra toricdadc de pregar a verdade revelada a toda cria-
turt~, 'vi .mdo "tudo que é necessário para a salvação". Nos países católicos, a 
p<K c pa1 tit•llar da !Jíhltr1 c a sua leitura individual foram proibidas. A Igreja 
rcconfmnou a nt:cessidadc do~ ritos vbívcis c da cspctacularização dos sacra-
l!ltlllo . unpondo" audlç<m coletiva d:t pregação. Contra Lutero, o interior dos 
tciiiJllm tornou •,c tllil c\pa~o tiL' luxo c pompa, envolvendo os sentidos dos fiéis 
~.:om ,1 p10fus.m d~: 1111 ~t·ns, mthicas, perfumes, pregações. O púlpito passou 
a ocupar urna po~içao elevada, significando a autoridade do pregador sobre a 
audiéntla Rl.'novou ~c o calendário Jittí1gico c novas festa5 e novos santos pus-
aram a· er u~khradlls. J·m Portugal c no Brasil, a Companhia de Jesus, recém-
lundíllfa cn1 J 'i 10, le\IXlllsahi li;ou··Sc pelo l'nsino da cloqtlência sacra em seus 
rolé)'ill~ adotando to mo d11u trina c exemplo as ohras retóricas de Aristóteles. 
1 )ulnttli.lflo, < 'ícL 1 o, Sên<'La e mais autmes latinos c medievais. Na dcwJtio mo-
d, 111o c,u • dt·\oç.to n1~)duna" da Companhia, a pregação foi definida como 
llll r\ 11~.1<, t fct1va na vida pdtica dos ti~is. 
Como o termo latino \t'llllfl indica, o sem1ãoé uma fala; noca o jesuítico, 
um.~ t.d.t lh.tm.lll;ad.t pdo p1"l'gador para a audição e a visão de um público 
qu do v~ ~l·r per .uadido da v ·rdadc c v;~Jidadc universal da doutrina 
I> modo .ti, o ~~.:1m~o . acro jc!>uítico tem &eis part s -exórdio, 
J0..\0 ADOLFO HANSE."i 
ção, divisiio. confinnaçüo, peroração c epflogo - cuja teoria não é po. sí-
vel fazer aqui. Os de Vieira repartem-se pelos três grandes gêneros omtórios 
da retórica aristotélica: deliberativos, propõem a decisão sobre algo futuro; 
judiciais, julgam personagens ou eventos passados; epidítiws. celebram (ou 
atacam) personagens e ações no presente. Em todos os gêneros. Vil:ira sem-
pre transmite um conteúdo doutrinário dogmático, letrado, culto c erudito, para 
ouvintes muitas vezes iletrados e incultos, como colonos, índios, negros. 
mamelucos e mulatos do Brasil e do Maranhão c Grão-Pará. Ele torna o con-
teúdo dogmático não só compreensível, adaptando-o ao auditório, mas princi-
palmente eficaz, traduzindo os dogmas em uma argumentação capaz de ensinar. 
agradar e comover os ouvintes. Seu sermão é simultaneamente didático. teoló-
gico c político. Segue a lição de Marciano Capela, estabelecendo relações 
entre o tema, o assunto dogmático ou canônico interno ao discurso. e o consilium. 
a intenção exterior dele. Como lembrou Margarida Vieira Mendes, na oratória 
sagrada do século X VIl o tema era totalmente imposto pelo calendário litúrgico 
e pela obrigação de tratar textos bíblicos prévios, com conteúdos religiosos 
específicos.2 Quase invariavelmente, Vieira conduz os temas para as questões 
políticas e econômicas que mais lhe interessam, conforme o ccmsiliwn. Evi-
dentemente, tem de tratar dos assuntos circunstanciais subordinando-o~ aos 
discursos dogmáticos impostos como tema. O que faz por meio de conceitos 
predicáveis e concordâncias. 
O conceito predicável é um texto- palavra ou sentença -extraído do 
Velho ou do Novo testamemo comentado pelo orador. No século XVH, era 
costume usar caderninhos para colecionar conceitos predicáveis específicos 
das várias datas litúrgicas e adaptá-los com sentido profético às circuu tância~ 
da pregação. A adaptação, chamada de concordância, consistia em dcmons 
trar semelhanças proféticas entre o sentido da vida de homens c acontccnneu-
tos da Bfblia c o sentido da vida de homens e eventos do presente. A semelhança 
era interpretada como presença providencial de Deu orientando uns e outros 
no passado e no presente. Por exemplo, no "Sermão pelo hc m . uc~ ~o da 
armas de Portugal contra as de Holanda", pregado em maio ou junho d l 640, 
~ f)tlacrva-:se a semelhança entre Moiaés. guiando os hebreus em fuga do Egrto. 
próprio Vieira, pregando aos católicos da Bahia. Ou entr Vieira pedmdo a 
que auxilie os portugu~ o o Jti O.v.i. nnplorando a Jeová que •enha 
$OCorro dos hebreus. A 6 .saH!ocida por uma proporção 
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de suas obras proféticas. I Ioje. estas são praticamente ilegíveis e valorizamos 
o~ sermões, ainda que por rnões quase sempre apenas estéticas, de modo 
ba~tantc diverso do seu, po1s os entendia C>lmo instrumentos salvíficos imedia-
tamente praticos. No prólogo da edição dos Sermões. de 1677, escreveu que, 
~em a voz que os tinha animado no púlpito, ainda ressuscitados eram cadáve-
res. IJoje, só os conhecemos "ressuscitados" como textos escritos. Na leitura, 
não mais ex1stc a acuo ou a dramatização deles pela voz e pelo corpo do 
padrc. Mas é essa primitiva natureza oral que especifica historicamente a prá-
tica de Vieira como "solução" católica para a questão do contato do fiel com 
Deus 
I m 1517. em uma das teses de Wittenbcrg, Martinho Lutero afirmou que 
ba.~la ao fiel ter uma Bíblia c lê-la individualmente, em silêncio, para pôr-se em 
contato com Deus. A tese lutcrana da sola scriprura, "apenas a Escritura", 
pressupoc <l possl: da Ríhlirt e a alfabetização dos fiéis. Ela toma evidentemente 
desm·cess.iria a mediação do clero c dos ritos visíveis da Igreja. Na sessão de 8 
dt ahnf de I 5 J(, do ( "onc ílio de Trcnto. n:unido para combater a Reforma protes-
tante, teólogos Jesuítas c dominicanos declararam a tese da sola scriptura heré-
tica, ddin1ndo c delimitando a traditio, a ''tradição" (ritos, cerimônias, magistério, 
nini\t(llo t' poverno) c o~ textos canúnicos da Igreja. Logo depois, em 17 de 
r• nho, determinaram il ohri~ra toricdadc de pregar a verdade revelada a toda cria-
turt~, 'vi .mdo "tudo que é necessário para a salvação". Nos países católicos, a 
p<K c pa1 tit•llar da !Jíhltr1 c a sua leitura individual foram proibidas. A Igreja 
rcconfmnou a nt:cessidadc do~ ritos vbívcis c da cspctacularização dos sacra-
l!ltlllo . unpondo" audlç<m coletiva d:t pregação. Contra Lutero, o interior dos 
tciiiJllm tornou •,c tllil c\pa~o tiL' luxo c pompa, envolvendo os sentidos dos fiéis 
~.:om ,1 p10fus.m d~: 1111 ~t·ns, mthicas, perfumes, pregações. O púlpito passou 
a ocupar urna po~içao elevada, significando a autoridade do pregador sobre a 
audiéntla Rl.'novou ~c o calendário Jittí1gico c novas festa5 e novos santos pus-
aram a· er u~khradlls. J·m Portugal c no Brasil, a Companhia de Jesus, recém-
lundíllfa cn1 J 'i 10, le\IXlllsahi li;ou··Sc pelol'nsino da cloqtlência sacra em seus 
rolé)'ill~ adotando to mo d11u trina c exemplo as ohras retóricas de Aristóteles. 
1 )ulnttli.lflo, < 'ícL 1 o, Sên<'La e mais autmes latinos c medievais. Na dcwJtio mo-
d, 111o c,u • dt·\oç.to n1~)duna" da Companhia, a pregação foi definida como 
llll r\ 11~.1<, t fct1va na vida pdtica dos ti~is. 
Como o termo latino \t'llllfl indica, o sem1ãoé uma fala; noca o jesuítico, 
um.~ t.d.t lh.tm.lll;ad.t pdo p1"l'gador para a audição e a visão de um público 
qu do v~ ~l·r per .uadido da v ·rdadc c v;~Jidadc universal da doutrina 
I> modo .ti, o ~~.:1m~o . acro jc!>uítico tem &eis part s -exórdio, 
J0..\0 ADOLFO HANSE."i 
ção, divisiio. confinnaçüo, peroração c epflogo - cuja teoria não é po. sí-
vel fazer aqui. Os de Vieira repartem-se pelos três grandes gêneros omtórios 
da retórica aristotélica: deliberativos, propõem a decisão sobre algo futuro; 
judiciais, julgam personagens ou eventos passados; epidítiws. celebram (ou 
atacam) personagens e ações no presente. Em todos os gêneros. Vil:ira sem-
pre transmite um conteúdo doutrinário dogmático, letrado, culto c erudito, para 
ouvintes muitas vezes iletrados e incultos, como colonos, índios, negros. 
mamelucos e mulatos do Brasil e do Maranhão c Grão-Pará. Ele torna o con-
teúdo dogmático não só compreensível, adaptando-o ao auditório, mas princi-
palmente eficaz, traduzindo os dogmas em uma argumentação capaz de ensinar. 
agradar e comover os ouvintes. Seu sermão é simultaneamente didático. teoló-
gico c político. Segue a lição de Marciano Capela, estabelecendo relações 
entre o tema, o assunto dogmático ou canônico interno ao discurso. e o consilium. 
a intenção exterior dele. Como lembrou Margarida Vieira Mendes, na oratória 
sagrada do século X VIl o tema era totalmente imposto pelo calendário litúrgico 
e pela obrigação de tratar textos bíblicos prévios, com conteúdos religiosos 
específicos.2 Quase invariavelmente, Vieira conduz os temas para as questões 
políticas e econômicas que mais lhe interessam, conforme o ccmsiliwn. Evi-
dentemente, tem de tratar dos assuntos circunstanciais subordinando-o~ aos 
discursos dogmáticos impostos como tema. O que faz por meio de conceitos 
predicáveis e concordâncias. 
O conceito predicável é um texto- palavra ou sentença -extraído do 
Velho ou do Novo testamemo comentado pelo orador. No século XVH, era 
costume usar caderninhos para colecionar conceitos predicáveis específicos 
das várias datas litúrgicas e adaptá-los com sentido profético às circuu tância~ 
da pregação. A adaptação, chamada de concordância, consistia em dcmons 
trar semelhanças proféticas entre o sentido da vida de homens c acontccnneu-
tos da Bfblia c o sentido da vida de homens e eventos do presente. A semelhança 
era interpretada como presença providencial de Deu orientando uns e outros 
no passado e no presente. Por exemplo, no "Sermão pelo hc m . uc~ ~o da 
armas de Portugal contra as de Holanda", pregado em maio ou junho d l 640, 
~ f)tlacrva-:se a semelhança entre Moiaés. guiando os hebreus em fuga do Egrto. 
próprio Vieira, pregando aos católicos da Bahia. Ou entr Vieira pedmdo a 
que auxilie os portugu~ o o Jti O.v.i. nnplorando a Jeová que •enha 
$OCorro dos hebreus. A 6 .saH!ocida por uma proporção 
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po 111 \ a lo1s \ CD.tviJ. Vieira:· hcbreus: portugueses. Ou negativa-Fa6 
((inlia ). ;-.J .t ,au :egípciOs (ti listcus): holandeses. No "Senn!o pelo bomsu-
cc u. ", ú•ngindo c a lku~ com muita veemência, ooradorexigequeaiJXille. 
0 t.H<'•Iico contra os calvinistas. Com palavras de Davi, interpela Deus 
" !·1utt•c <JIIIIIt' ubdormi.\, Domine?"l ("Acorda, por qu donncs, Senhor?''), 
dnmando que, se não awrdar a tempo de int rvir em favor dos católicos, 
11 •ara ,, prcípt ia Pro\ idência, que rege a história, e o mundo dirá "Deus está 
hollllult;\·• ou \eja. "Deus está calvini ta". A interpelação~ certam nte &U• 
d ll iO'J , ma\ també m ortodoxa. O próprio Vieira adverte que seu modelo é o 
• Salmo ~r. úc Davi. 
O tc rn.t d,, pregação sacra empre "Pele a Palavra de Deus 
no h:xto L.UIÚnJco~; por isso, o sermão aparece para o pregador 
puhl11.:o W lllll Ulll ÚÍ\Uif O csscncJaJ. 0 jeSUÍtaS dO século XVH de:finlhUill 
~~ ~m. to cmnn tlll'alnm• 1acrum, ''teatro sacro", concebendoaparen6tióa. 
ri pr • •Jr, como úr.un.ltitaçuo das verdade sagradas. Aqui, o eadlode 
cnconlt .t ~ ua ra7ao d~.: c r: hnjc ele é conhectdo como .. conceptlsta .. 
c " mas, em ~cu tempo, quando ainda não havia sido inventad&O COlllCedfO:I 
' h.mow", era um c til o a •udo, engenhoso, florido. esqui ito, CCJIIlC~It'ti~'O~ 
.1 ,,111 o Apro xun.t wrll:t:Ho~ distantes e os funde em image011 lplll'êilfem&!IUI 
1.mt.1 tic.1 e inrongtuenh.: • mas sempre fundamentadasnamaisod04i;Jlt~IIJ 
lo •t.t 11.1 rn.t is strll.t ltígll.t. O poder espiritual e o poder temporal 
flat,1dr n~k <.:orno um<tllllldade de teologia e de polftica tecn'bcada}IICW"iilidl 
bn Ul111 c,lft.J de 1(, 1J para n re i D. Afonso VI, afirma que: "[,-J·.Qilpr!~DI 
c m,uoiL'S in \ lrumcnto\ da con~crvação e aumento desta IDilmt~-rttlié'~ 
1111111\fl()•, d.i PIL'gaçao c rrnpagação da Fé, para que Deu a tn 
tnu no mundo", 
f 11.1 'D ·lesa do li\ro int itulado 'Quinto Impéno"',de l8D~UifCID,tJDI! 
que n JMpa t' os pregadores evangé licm, "varões llpoltdtic••.alo-'lf~IJJUIISI 
tn> tml'Jtato\" d.1 co111 crs.to do mundo, JUntamente COI!n1lltn'11•11111•t4JJBJ 
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po 111 \ a lo1s \ CD.tviJ. Vieira:· hcbreus: portugueses. Ou negativa-Fa6 
((inlia ). ;-.J .t ,au :egípciOs (ti listcus): holandeses. No "Senn!o pelo bomsu-
cc u. ", ú•ngindo c a lku~ com muita veemência, ooradorexigequeaiJXille. 
0 t.H<'•Iico contra os calvinistas. Com palavras de Davi, interpela Deus 
" !·1utt•c <JIIIIIt' ubdormi.\, Domine?"l ("Acorda, por qu donncs, Senhor?''), 
dnmando que, se não awrdar a tempo de int rvir em favor dos católicos, 
11 •ara ,, prcípt ia Pro\ idência, que rege a história, e o mundo dirá "Deus está 
hollllult;\·• ou \eja. "Deus está calvini ta". A interpelação~ certam nte &U• 
d ll iO'J , ma\ també m ortodoxa. O próprio Vieira adverte que seu modelo é o 
• Salmo ~r. úc Davi. 
O tc rn.t d,, pregação sacra empre "Pele a Palavra de Deus 
no h:xto L.UIÚnJco~; por isso, o sermão aparece para o pregador 
puhl11.:o W lllll Ulll ÚÍ\Uif O csscncJaJ. 0 jeSUÍtaS dO século XVH de:finlhUill 
~~ ~m. to cmnn tlll'alnm• 1acrum, ''teatro sacro", concebendoaparen6tióa. 
ri pr • •Jr, como úr.un.ltitaçuo das verdade sagradas. Aqui, o eadlode 
cnconlt .t ~ ua ra7ao d~.: c r: hnjc ele é conhectdo como .. conceptlsta .. 
c " mas, em ~cu tempo, quando ainda não havia sido inventad&O COlllCedfO:I 
' h.mow", era um c til o a •udo, engenhoso, florido. esqui ito, CCJIIlC~It'ti~'O~ 
.1 ,,111 o Apro xun.t wrll:t:Ho~ distantes e os funde em image011 lplll'êilfem&!IUI 
1.mt.1 tic.1 e inrongtuenh.: • mas sempre fundamentadasnamaisod04i;Jlt~IIJ 
lo •t.t 11.1 rn.t is strll.t ltígll.t. O poder espiritual e o poder temporal 
flat,1dr n~k <.:orno um<tllllldade de teologia e de polftica tecn'bcada}IICW"iilidl 
bn Ul111 c,lft.J de 1(, 1J para n re i D. Afonso VI, afirma que: "[,-J·.Qilpr!~DI 
c m,uoiL'S in \ lrumcnto\ da con~crvação e aumento desta IDilmt~-rttlié'~ 
1111111\fl()•, d.i PIL'gaçao c rrnpagação da Fé, para que Deu a tn 
tnu no mundo", 
f 11.1 'D ·lesa do li\ro int itulado 'Quinto Impéno"',de l8D~UifCID,tJDI! 
que n JMpa t' os pregadores evangé licm, "varões llpoltdtic••.alo-'lf~IJJUIISI 
tn> tml'Jtato\" d.1 co111 crs.to do mundo, JUntamente COI!n1lltn'11•11111•t4JJBJ 
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p ·~ em_-; de dezembro de 1633 
· e d s Homen Pretos de um engenho 
!:Lu ·a de "liberdade''. É a mesma que 
bre .:7ra' idão dos índios pregado em 
e Lt' a entre 16"2 1662. É ana ronismo confundir essa 
~ " r id 1 democrático. datado da segunda metade do século 
fi: ''hberdd .. como autodeterminação fundada na igualdade 
1 1reit humano . . ·o ca o. nenhum fundamento divino é necessá-
no p.1ro J de 1 raç:io dos direito democráticos que fazem todos os homens 
ltHe • , ai . Bem di•ersa é a concepção de Vieira: para ele, desde que o 
índt u o n~.:gro foram escravizados e receberam o batismo, entraram para o 
m1o r.IJ hurrumtdade cristã. pas ando por isso mesmo a ter deveres para 
com o EstJJo Alcir Pécora define a tuncepção neo-esco1ástica de "liberda-
d .. com e atidão: "( . . ) J liberdade cristã é [ ... ].acima de tudo, pelo conheci-
mento tio bem. impossibilidade de pecar: o pecado. e não o cativeiro temporal, 
aractenza es enci .. tlrnente a escravidão".9 
Como diz Vieira no "Sermão da Epifania", pregado em 1662 na Capela 
Jktl de L1 boa. não é sua intenção que não haja escravos, mas demonstrar 
que o l!fcatos dos cativeiros ilícitos de índios são pecados. No caso dos escra-
'' negros. também s.to pecados ou crimes contra naturam os excessos dos 
senhores 4ue ferem a lei natural : 
Se o senhor mandasse ao c\cravo, ou quase5~C da escrava, cousa que ofenda gravemen· 
te a alma, c a conscacncaa; assam como ele o nào pode querer, nem mandar, assim o 
c cravo é obngado a não obedecer. Dtzei constantemente, que não haveis de ofender 
a Deu~ . c s~ por as~o vos ameaçarem c castigarem, ~ofre a ammosa e cristll.mente, ainda 
que \C )a por toda a vada, que es es casugos são manfnos.'0 
A danação das almas de escravos que morreram pagãos e que fazetll 
companhm no inferno às almas dos senhores que não se preocuparam eJll 
ári " b:ttuá-los e o pior efeito da escravidão. Assim, no "Sermão XIV do Ros O 
ScrnMt X VIl do Ro,áno", em Samões, v XII, cit, p. 331. 
' < f AI r '<cou "\'tctra, o índio e o corpo mú;tico", em Adauto Novaes (org.), Tt mpo t 
l~Jn I' I Scctc t~ria \lunicipal de ( ultura 1 Companhia das Letras, 1992), p. 432. 
nnl '11 d•> ~o,ário ", em Strmtlts. v. XII, ctl., p. 341. 
O Lf'O H E 
Vieira afirma à · ud'ên ia africana que n ngenho d a ú. ar o scra 
certamente sofre ma1 q J•su Cri to, ma que d e r pa l'nte e \er na 
servidão um "nulag "ou signo da Providência diVIna. P·l 
dência liHou alma do inferno para onde cenamenl iria e permanece se 
livre e gentio na sua terra de origem: 
Oh! s a gente preta, urada das brenhas da sua Etiópia. e pa~ a.b o Br ai. onhecera 
bem quanto de; e a Deus c a sua Santíssima Mãe por c te ue pod par~ r d tcrro. 
catl\·ciro e de graça, e não~ senão malagre, e grande mtlagre? Dtl et-mc o. os pats 
que nasceram nas trevas da gcntilidade, c nela va~ m acabam a ; d m lume da f 
nem conhectmcnto de Deus, aonde vão depois da monc' Todo . mo crede e 
confessais, vão ao inferno, e lá e~tão ardendo e arderão por toda ct muladc. " 
Muitos anos depois, em 1691 , quando foi consultado pela Juntadas Mi -
-.sões acerca das medidas a serem tomadas quanto a Palmares, a nação dos 
quilombolas chefiados por Zumbi que atacava as fazendas c os engenhos de 
'Pernambuco, Vieira apresentou cinco razões para a destruição do quilombo c 
oextenníniodos seus habitantes. Depois de ponderar, na primeira. que talvez; 
ja possível enviar padres naturais de Angola como embaixadores ao 
palmarinos, afirma, na segunda, que provavelmente serão tidos por t! ptõcs do 
governo ponuguês, concluindo, na terceira, que por isso serão monos "por 
peçonha". Assim, na quana razão, afmna que, embora possam cessar o~ a • 
saltos contra os colonos, os negros de Palmares nunca deixarão de asilares-
cravos fugitivos. Na quinta razão, a mais forte de todas, declara que "( ... I 
sendo rebelados e cativos, estão e perseveram em pecado contínuo e atual, de 
que não podem ser absoltos, nem receber a graça de Deus. sem se restituírem 
ao serviço e obediência de seus senhores, o que de nenhum modo hão de 
fazer".' 2 
Provavelmente, hoje essas afirmações decepcionam c escandalizam o 
-~1·~;tt,r Como foi dito, Vieira não é um iluminista. Jesuíta contra-reformado. não 
-.ec>nc•ebe doutrina dissociada das coisas práticas, considerando que estas tam-
são atravessadas pela sacralidade da presença de Deus, por isso. a es-
o batismo dos escravos e a salvação das alma cativas n o !>e 
do seu projeto de conquista da hegemonia polui o-econômica no 
Sul. A hegemonia catóüca da JfhUtica e da economia de Ponugal so 
ca 1920), p 372. 
Scanned by CamScanner
p ·~ em_-; de dezembro de 1633 
· e d s Homen Pretos de um engenho 
!:Lu ·a de "liberdade''. É a mesma que 
bre .:7ra' idão dos índios pregado em 
e Lt' a entre 16"2 1662. É ana ronismo confundir essa 
~ " r id 1 democrático. datado da segunda metade do século 
fi: ''hberd d .. como autodeterminação fundada na igualdade 
1 1reit humano . . ·o ca o. nenhum fundamento divino é necessá-
no p.1ro J de 1 raç:io dos direito democráticos que fazem todos os homens 
ltHe • , ai . Bem di•ersa é a concepção de Vieira: para ele, desde que o 
índt u o n~.:gro foram escravizados e receberam o batismo, entraram para o 
m1o r.IJ hurrumtdade cristã. pas ando por isso mesmo a ter deveres para 
com o EstJJo Alcir Pécora define a tuncepção neo-esco1ástica de "liberda-
d .. com e atidão: "( . . ) J liberdade cristã é [ ... ].acima de tudo, pelo conheci-
mento tio bem. impossibilidade de pecar: o pecado. e não o cativeiro temporal, 
aractenza es enci .. tlrnente a escravidão".9 
Como diz Vieira no "Sermão da Epifania", pregado em 1662 na Capela 
Jktl de L1 boa. não é sua intenção que não haja escravos, mas demonstrar 
que o l!fcatos dos cativeiros ilícitos de índios são pecados. No caso dos escra-
'' negros. também s.to pecados ou crimes contra naturam os excessos dos 
senhores 4ue ferem a lei natural : 
Se o senhor mandasse ao c\cravo, ou quase5~C da escrava, cousa que ofenda gravemen· 
te a alma, c a conscacncaa; assam como ele o nào pode querer, nem mandar, assim o 
c cravo é obngado a não obedecer. Dtzei constantemente, que não haveis de ofender 
a Deu~ . c s~ por as~o vos ameaçarem c castigarem, ~ofre a ammosa e cristll.mente, ainda 
que \C )a por toda a vada, que es es casugos são manfnos.'0 
A danação das almas de escravos que morreram pagãos e que fazetll 
companhm no inferno às almas dos senhores que não se preocuparam eJll 
ári " b:ttuá-los e o pior efeito da escravidão. Assim, no "Sermão XIV do Ros O 
ScrnMt X VIl do Ro,áno", em Samões, v XII, cit, p. 331. 
' < f AI r '<cou "\'tctra, o índio e o corpo mú;tico", em Adauto Novaes (org.), Tt mpo t 
l~Jn I' I Scctc t~ria \lunicipal de ( ultura 1 Companhia das Letras, 1992), p. 432. 
nnl '11 d•> ~o,ário ", em Strmtlts. v. XII, ctl., p. 341. 
O Lf'O H E 
Vieira afirma à · ud'ên ia africana que n ngenho d a ú. ar o scra 
certamente sofre ma1 q J•su Cri to, ma que d e r pa l'nte e \er na 
servidão um "nulag "ou signo da Providência diVIna. P·l 
dência liHou alma do inferno para onde cenamenl iria e permanece se 
livre e gentio na sua terra de origem: 
Oh! s a gente preta, urada das brenhas da sua Etiópia. e pa~ a.b o Br ai. onhecera 
bem quanto de; e a Deus c a sua Santíssima Mãe por c te ue pod par~ r d tcrro. 
catl\·ciro e de graça, e não~ senão malagre, e grande mtlagre? Dtl et-mc o. os pats 
que nasceram nas trevas da gcntilidade, c nela va~ m acabam a ; d m lume da f 
nem conhectmcnto de Deus, aonde vão depois da monc' Todo . mo crede e 
confessais, vão ao inferno, e lá e~tão ardendo e arderão por toda ct muladc. " 
Muitos anos depois, em 1691 , quando foi consultado pela Juntadas Mi -
-.sões acerca das medidas a serem tomadas quanto a Palmares, a nação dos 
quilombolas chefiados por Zumbi que atacava as fazendas c os engenhos de 
'Pernambuco, Vieira apresentou cinco razões para a destruição do quilombo c 
oextenníniodos seus habitantes. Depois de ponderar, na primeira. que talvez; 
ja possível enviar padres naturais de Angola como embaixadores ao 
palmarinos, afirma, na segunda, que provavelmente serão tidos por t! ptõcs dogoverno ponuguês, concluindo, na terceira, que por isso serão monos "por 
peçonha". Assim, na quana razão, afmna que, embora possam cessar o~ a • 
saltos contra os colonos, os negros de Palmares nunca deixarão de asilares-
cravos fugitivos. Na quinta razão, a mais forte de todas, declara que "( ... I 
sendo rebelados e cativos, estão e perseveram em pecado contínuo e atual, de 
que não podem ser absoltos, nem receber a graça de Deus. sem se restituírem 
ao serviço e obediência de seus senhores, o que de nenhum modo hão de 
fazer".' 2 
Provavelmente, hoje essas afirmações decepcionam c escandalizam o 
-~1·~;tt,r Como foi dito, Vieira não é um iluminista. Jesuíta contra-reformado. não 
-.ec>nc•ebe doutrina dissociada das coisas práticas, considerando que estas tam-
são atravessadas pela sacralidade da presença de Deus, por isso. a es-
o batismo dos escravos e a salvação das alma cativas n o !>e 
do seu projeto de conquista da hegemonia polui o-econômica no 
Sul. A hegemonia catóüca da JfhUtica e da economia de Ponugal so 
ca 1920), p 372. 
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. .,. 111 1J 1 !'t·l~' uwnop,,lio ponugu ·s do tráfico negreiro e da mão-de-• \ tl.l ~1 l .. , ' 
, 11 ,1 .llth~~111 , 1 t ~~,. qu.mdl' .1tinna o dl·ver de obédiência dos escravos ao 
,.,111 , • 11 , til' UlX' • mtl-rnt' it'S t'n~enhos de · ·úcar. Vieira pressupõe que a 
. ,·r.1, td.1, · u p1 ., t~t.l r-:t.1 l r wid2nda para ua rátria. Dizia, por exemplo, 
qu. ,, lkt~iltmh.l'' .:.'rP'' 11.1 Anwrka 'a alma na Africa. Ou que sem Angola 
ll.ll h,l\ IJ l't.l~tl 
p '. :.1 pim·ir f.l~ • qu • c''inddc com as guerras holandesas. também 
,· J,·, · 1 •mht .1r l' t •nu da mis <il h L tórica do portugueses no mundo, que 
\ 1 ·ira 1 • .,,. ·m :ua )l:>ra prof'tica, e o da rc ponsabilidade divina na guerra 
• •1t .• 1 Ht l.wd.l. comi.'' se I\ no" cnnão de Santo Antônio", de 13 de junho 
J.r~u ·<:o l n:. e nu~ ·r:h L que e tácadadia mendigandocomosuorde 
F.·, r. uc ~ · :><·rd ·u ,, B 1':1 tl. c1 porque se perde o mundo. e os castigos 
rx1r dt.ml • ' ] Jbets ror que nos dá Deus as vitórias de mãos lavadas? 
= toJ ~ que ne·tes dtas ttvemo ; porque matando sempre tantos 
h •l.mJ, • .. Ja no ~a pm' entn: todos. apenas. se contam quatro ou cinco 
• :. 1 rqu e 1o'[ .]porqucsclavaramasmãos;porquehálimpezade 
uc ~ n1."1 tm!!em a,. mjos no angue do povo, por isso as vemos ensan-~ 'orw,amcnt~ no ~angue dos inrm1gos: por isso tudo luz; por isso tudo 
r 1 ,,, tudo' por diant . c como por falta di to se perdeu o Brasil. assim 
h d • rc:uperar [ ... ] 
RESTALRAÇÀO, 1641-1651 
,;unJa "fa e" da obras de Vieira pode ser datada de 1641 a 1651 
t:p Hc fundamentalmente do temas da Restauração. No que se 
BrJ ti, .cu mamr objeti\ o é a restauração de Pernambuco, Clo,minat;u: 
· holande~es do Sradtlrolder Maurício de Nassau. Nesse tempo, 
em S.r ~' ,. 11 . ,·ic, pp. 97-98 
JOAO ADOLFO HANSEN 
famosíssimo e poderosíssimo. como pregador da Capela Real. conselheiro e 
confessor do rei D. João IV e da rainha D. Luísa de Gusmão. fazendo jus ao 
anexim inventado por D. Francisco Manuel de Melo, "mandar lançar tapete de 
madrugada em São Roque para ouvir o padre Vieira". 
A função do pregador da Capela Real era interpretar religiosamente even-
tos, como vitórias em guerras, pestes, fomes, aparições de cometa, e ocasiões 
festivas e fúnebres da família real e da nobreza. Provavelmente, seu primeiro 
sermão dessa fase foi o "Sermão dos bons anos", pregado em 1° de janeiro de 
1642. Como em sermões e cartas anteriores, aqui o Novo Mundo é referido 
como parte essencial do projeto divino para Portugal. Na peroração, quando 
comenta o versículo do Pai Nosso, adveniat Regnum Tuum, "venha o Teu 
Reino", profetiza que o rei vivo e presente, D. João IV. dá continuidade ao rei 
e ausente, D. Sebastião, cumprindo a promessa feita por Deus a D. 
Henriques na batalha de Ourique. No momento em que prega. diz. já 
o Reino que Portugal já foi, mas ainda está para chegar o Reino que 
há de ser, o Quinto Império. 14 (Os impérios anteriores foram o assírio, 
o grego e o romano.) Para o advento do Quinto Império. o Brasil e o 
1!118Jranlllão são essenciais, pois a catequese dos povos selvagens realizada pela 
IJWiiSãC> Je:sun:tca está prevista por Deus como aumento e redenção universal da 
ll'l"illtarldaele. Logo, era necessário começar por libertar o Bra il dos hereges 
calvinistas. Como a Companhia Ocidental holandesa pedisse três milhões de 
cruzados pela restituição de Pernambuco aos portugueses. Vieira pretendia 
levantar o dinheiro junto aos comerciantes judeus de Flandres e França. Viajou 
em 1646 a Paris; nada conseguindo, foi para a Holanda, em abri I de 1646. onde 
visitou Haia, em traje civil de escarlata e espadim. Em março de 164 7. de volta 
em Lisboa, redigiu um documento pelo qual D. João IV se comprometia a 
os três milhões, em prestações anuais de seiscentos mil. recebendo em 
Pernambuco e outros territórios ocupados pelos holandeses no Nordeste 
Brasil, e na África, em Angola e São Tomé. Data desse tempo sua 
~flelisiSinl8 e perigosíssima proposta de abrandamento dos "estilos" usado 
Inquisição contra os cristãos-no os e judeus em troca dos emprésllmos de 
capitais. Em agosto de 1647, foi de novo à França, avi tando-se com o 
Mazarino. Seu plano era contratar .Q casamento de D. Tecxiósio. filho 
de D. Joio Iv, com ~k de Montpensier, filha d duque de 
Se desse certo D. Joio-lV a~ 'tinha para o Bras ti, enquanto 
da noiva seria .regane de P~ menoridade do Príncipe. O 
Scanned by CamScanner
fN\f<) J I' 
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. ,·r.1, td.1, · u p1 ., t~t.l r-:t.1 l r wid2nda para ua rátria. Dizia, por exemplo, 
qu. ,, lkt~iltmh.l'' .:.'rP'' 11.1 Anwrka 'a alma na Africa. Ou que sem Angola 
ll.ll h,l\ IJ l't.l~tl 
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J.r~u ·<:o l n:. e nu~ ·r:h L que e tácadadia mendigandocomosuorde 
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RESTALRAÇÀO, 1641-1651 
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t:p Hc fundamentalmente do temas da Restauração. No que se 
BrJ ti, .cu mamr objeti\ o é a restauração de Pernambuco, Clo,minat;u: 
· holande~es do Sradtlrolder Maurício de Nassau. Nesse tempo, 
em S.r ~' ,. 11 . ,·ic, pp. 97-98 
JOAO ADOLFO HANSEN 
famosíssimo e poderosíssimo. como pregador da Capela Real. conselheiro e 
confessor do rei D. João IV e da rainha D. Luísa de Gusmão. fazendo jus ao 
anexim inventado por D. Francisco Manuel de Melo, "mandar lançar tapete de 
madrugada em São Roque para ouvir o padre Vieira". 
A função do pregador da Capela Real era interpretar religiosamente even-
tos, como vitórias em guerras, pestes, fomes, aparições de cometa, e ocasiões 
festivas e fúnebres da família real e da nobreza. Provavelmente, seu primeiro 
sermão dessa fasefoi o "Sermão dos bons anos", pregado em 1° de janeiro de 
1642. Como em sermões e cartas anteriores, aqui o Novo Mundo é referido 
como parte essencial do projeto divino para Portugal. Na peroração, quando 
comenta o versículo do Pai Nosso, adveniat Regnum Tuum, "venha o Teu 
Reino", profetiza que o rei vivo e presente, D. João IV. dá continuidade ao rei 
e ausente, D. Sebastião, cumprindo a promessa feita por Deus a D. 
Henriques na batalha de Ourique. No momento em que prega. diz. já 
o Reino que Portugal já foi, mas ainda está para chegar o Reino que 
há de ser, o Quinto Império. 14 (Os impérios anteriores foram o assírio, 
o grego e o romano.) Para o advento do Quinto Império. o Brasil e o 
1!118Jranlllão são essenciais, pois a catequese dos povos selvagens realizada pela 
IJWiiSãC> Je:sun:tca está prevista por Deus como aumento e redenção universal da 
ll'l"illtarldaele. Logo, era necessário começar por libertar o Bra il dos hereges 
calvinistas. Como a Companhia Ocidental holandesa pedisse três milhões de 
cruzados pela restituição de Pernambuco aos portugueses. Vieira pretendia 
levantar o dinheiro junto aos comerciantes judeus de Flandres e França. Viajou 
em 1646 a Paris; nada conseguindo, foi para a Holanda, em abri I de 1646. onde 
visitou Haia, em traje civil de escarlata e espadim. Em março de 164 7. de volta 
em Lisboa, redigiu um documento pelo qual D. João IV se comprometia a 
os três milhões, em prestações anuais de seiscentos mil. recebendo em 
Pernambuco e outros territórios ocupados pelos holandeses no Nordeste 
Brasil, e na África, em Angola e São Tomé. Data desse tempo sua 
~flelisiSinl8 e perigosíssima proposta de abrandamento dos "estilos" usado 
Inquisição contra os cristãos-no os e judeus em troca dos emprésllmos de 
capitais. Em agosto de 1647, foi de novo à França, avi tando-se com o 
Mazarino. Seu plano era contratar .Q casamento de D. Tecxiósio. filho 
de D. Joio Iv, com ~k de Montpensier, filha d duque de 
Se desse certo D. Joio-lV a~ 'tinha para o Bras ti, enquanto 
da noiva seria .regane de P~ menoridade do Príncipe. O 
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EN\IOES 
plano gorou e Vieira nO\ a mente foi à Holanda. com papéis que agora o autori-
ZJ\am a fazer o embaixador ponuguê em Haia. Francisco de Sousa Coutinho, 
trocar Pernambuco pela paz no Brasil e na Africa. Nesse tempo, mante e 
·ontato com o judeu da inagoga de Amsterdam. como Manassés-ben-Is-
rael. que em 1640 e creY ra um texto profético. Esperança de Israel. que em 
1659 Vieira imitou em eu Esperanças de Portugal. escrito quando estava na 
AmJ.Z0nia. ~ C m o ami.,o jud u, discute o destino das tribos perdidas de Is-
t!l. ~restituição de Judá e o advento de Cristo. temas que aparecem em suas 
can e obra proféticas posteriores em que trata do papel providencial a ser 
de empenhado pelo.· oYo ~tundo e pelos índios brasileiros antes do retomo do 
).1essia_. . - H !anda. porém. as negociações da compra de Pernambuco fa-
lh ram no' am nte. Em outubro de 164 . \ inte propostas de Vieira referentes 
ao ne.,. .. ios com a Holanda foram apreciadas e rejeitadas em várias instân-
cia· da C rte. o Tribunal do Desembargo do Paço. a Mesa de Consciência e 
Ord ns. Crmra de Li boa. o Conselho da Guerra. o Conselho da Fazenda, 
JOÃO ADOLFO HA ' E 
simultaneamente con pi r contra a Espanha. tentando uble r o Remo e 
ápoles então domin do por Madri. O plano foi descobeno c emba.i~•ldor 
espanhol. duque do lnfantado. ameaçou Vieir-.t de mort • intimando o geral da 
Companhia de Jesus a fazer com que abandonas e Roma às pressas, p ra 
salvar a pele. Em junho de 1650. voltou para Ponugal. • meado hefe da 
missão do Maranhão e Grão-Pará, dei ou a barra de Li boa m :!5 de n em-
bro de 1651. Em 16 de janeiro de 1652, depoi de parar em C bo \erde. he-
gou a São Luís do iaranhão.1 
MISSÀO ,'OMARA. HÀOEGRÃo-P RA.l65--1662 
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EN\IOES 
plano gorou e Vieira nO\ a mente foi à Holanda. com papéis que agora o autori-
ZJ\am a fazer o embaixador ponuguê em Haia. Francisco de Sousa Coutinho, 
trocar Pernambuco pela paz no Brasil e na Africa. Nesse tempo, mante e 
·ontato com o judeu da inagoga de Amsterdam. como Manassés-ben-Is-
rael. que em 1640 e creY ra um texto profético. Esperança de Israel. que em 
1659 Vieira imitou em eu Esperanças de Portugal. escrito quando estava na 
AmJ.Z0nia. ~ C m o ami.,o jud u, discute o destino das tribos perdidas de Is-
t!l. ~restituição de Judá e o advento de Cristo. temas que aparecem em suas 
can e obra proféticas posteriores em que trata do papel providencial a ser 
de empenhado pelo.· oYo ~tundo e pelos índios brasileiros antes do retomo do 
).1essia_. . - H !anda. porém. as negociações da compra de Pernambuco fa-
lh ram no' am nte. Em outubro de 164 . \ inte propostas de Vieira referentes 
ao ne.,. .. ios com a Holanda foram apreciadas e rejeitadas em várias instân-
cia· da C rte. o Tribunal do Desembargo do Paço. a Mesa de Consciência e 
Ord ns. Crmra de Li boa. o Conselho da Guerra. o Conselho da Fazenda, 
JOÃO ADOLFO HA ' E 
simultaneamente con pi r contra a Espanha. tentando uble r o Remo e 
ápoles então domin do por Madri. O plano foi descobeno c emba.i~•ldor 
espanhol. duque do lnfantado. ameaçou Vieir-.t de mort • intimando o geral da 
Companhia de Jesus a fazer com que abandonas e Roma às pressas, p ra 
salvar a pele. Em junho de 1650. voltou para Ponugal. • meado hefe da 
missão do Maranhão e Grão-Pará, dei ou a barra de Li boa m :!5 de n em-
bro de 1651. Em 16 de janeiro de 1652, depoi de parar em C bo \erde. he-
gou a São Luís do iaranhão.1 
MISSÀO ,'OMARA. HÀOEGRÃo-P RA.l65--1662 
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, 1 HI!ÔI ~ 
liv 1 0~ h 1 hli~os de [);nm:l c baJ.JS. as Tml'rls do sapateiro de Trancoso, Gonçalo 
Ane:, B.mdo.~ rra, o texltl Ut· pmCtllflllda. do jesuíta peruano José de Aco ta, 
c11 tre ou11 LJS. fornecem matéria a Vieira para interpretar profeticamente o sen-
tido tran cemknte da rcvelaç:io da palavra divina para os índios brasileiros 
rco.~l11ada pelm jesuítas de~de o século XVI. Segundo sua interpretação, a mis-
·•n c ,, ratrqucsc ~;1o um mistério da Providi!ncia divina, que faz a Igreja 
avan~.u e'-pirllualmcnl~.: ,, redenção humana quando inclui o Novo Mundo no 
grê111io cn'-lac• (~ JU stamente porqu~.: é ~clvagcm ou "boçal" que o fndio deve 
cr amurn~.tllJl! n t L' conduzido a superar s~.:u estado de barbárie; quando os 
colono• o esc1.1viza rn, também são culpados pela descr~.:nça. E a não-conver-
s.to 1mp!Jca a perda das almas para Satanás. Nesse sentido, a Coroa portugue-
'·'..: ant d Kada pm ~eu papel apo~tólico de patrocinadora da missão jesuítica, 
que rea liza no tempo o projeto sobrenatural. dando testemunho da Graça. 
A\ COJ\Js nao cram tão espirituais em São Luí do Maranhão quando 
Vt.:ira aí che)!ou Uma ordem r~gi.t que libertava os índios escravizados causa-
v,, cnt .to talt umultn l ntrc os colono · que ele e os padres recém-desembarca-
diJs qiiJ\L' l'orn m •·xpulsns. O· coloniais argumentavam, com total razão, que 
•t,un pobre~ d~ nJaÍ\ p.1ra compmr escravos africanos c que a economia do 
Mat,llth.tu (h' p\:nd ia diretamente U<l brJço indígena, Também alegavam queoa 
1ndio cl.tlll b,irhaJo' c que loua scrvitlão era legitima. Fundamentavam-se em 
11111.1 JLk ,,, tl.t l'flhtrm ari stot~ lica, então corrente. que afirma ser próprio do 
mknor. uhnnl 111ar : l ' ao superior. No" sermões dessa fase, como o "Sermio 
d.t pnmcir 1 domin l.!a da QuarL·srna", pr~:gado em São Luís em 16 dejaneirode 
I ()'i'· conhecido como "'\crmão das tl·ntaçÕl!s", Vieira parece querer intimidar 
os colonos com o nll'do da pcrdiçao da alma. fazendo uma perfeita demonstra· 
~·ao silog•~tJca dot•rrn em que vivem. 
'h'Uil o hnm~m. que dele ~<'li 1\'0. nu ltbc1dadc .tlhcta. l' pt1Liendo-a rcMlluir. nllo 
tc,llllll, t' n ttu <JUl' se rondcn.t todos, ou qua ,. todos os homens do Maranhlo

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