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Direito Administrativo II Prof. Silvio Teixeira Unidade I LICITAÇÕES Tema da aula: 1.1 Noções Introdutórias sobre licitação 1.2 Princípios da licitação Licitação 1. CONSIDERAÇÕES GERAIS • O Poder Público não tem a liberdade que possuem os particulares para contratar, seja para atender as suas necessidades ou as da coletividade. Ao celebrar contratos o Poder Público deve preservar o interesse público, observando dois valores distintos: • isonomia: o administrador público deve tratar igualmente os administrados e, em especial, os que tenham interesse em contratar; Licitação • probidade: o Poder Público deve sempre escolher a melhor alternativa para a garantia dos interesses públicos, seja em razão do preço ou da técnica necessária. • Extraímos, desses valores que a licitação possui duas finalidades: a) permitir a melhor contratação possível (seleção da proposta mais vantajosa); b) possibilitar que qualquer interessado possa validamente participar da disputa pelas contratações. Licitação 2. CONCEITO • Licitação é o procedimento administrativo por meio do qual o Poder Público, mediante critérios preestabelecidos, isonômicos e públicos, busca escolher a melhor alternativa para a celebração de um ato jurídico (conceito amplo, que envolve tanto os atos administrativos quanto os contratos). • Observação: Não faz diferença a designação se “processo” ou “procedimento” licitatório, porquanto ambos são aceitos na doutrina (a Constituição emprega a expressão “processo de licitação”). Licitação 3. OBJETO • De acordo com o artigo 1.º da Lei n. 8.666/93, constituem objeto possível para o certame licitatório obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações, locações, concessões e permissões, quando contratadas pela Administração. Licitação 4. COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR EM MATÉRIA DE LICITAÇÃO • A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 22, inciso XXVII, estabelece que compete privativamente à União legislar sobre normas gerais em matéria de licitações. • A União não possui competência privativa para legislar sobre normas específicas. Todos os entes federativos têm competência para legislar sobre normas específicas, desde que não extrapolem os limites das normas gerais, ou seja, a edição de leis sobre licitação deve obedecer às normas traçadas pela União. Licitação 4. COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR EM MATÉRIA DE LICITAÇÃO • A competência para legislar em matéria de licitação é concorrente. • As normas legislativas provenientes da União são de âmbito nacional, são normas que abarcam uma generalidade maior do que a da lei comum. Disso se extrai que a norma geral traz um comando genérico, permitindo que outra norma trate do mesmo assunto. • O legislador estabeleceu, na Carta Magna, as normas gerais de caráter essencial para a licitação, tendo em vista a existência de entes federativos díspares. Com isso, visou unificar a licitação em todo o país. Licitação 5. LICITAÇÃO E ATO LICITATÓRIO • No Direito brasileiro, o ato licitatório (contrato) não faz parte do procedimento da licitação. • O vencedor da licitação pode não ser contratado, pois tem apenas uma expectativa de direito. • A Administração pode realizar uma revogação motivada do procedimento licitatório, frustrando a expectativa do vencedor. Licitação 6. FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS DA LICITAÇÃO • O inciso XXI, do artigo 37, da Constituição Federal, consagra o dever de licitar. A Administração direta ou indireta tem o dever de efetivar a licitação, para contratar regularmente. • “Art. 37.(...) • XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.” Licitação 6. FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS DA LICITAÇÃO • O artigo 173, § 1.º, inciso III, da Constituição Federal, impõe sobre o dever de licitar para as sociedades de economia mista e empresas públicas que exploram atividades econômicas. • O caput do artigo 175 da Constituição Federal afirma que as concessões e as permissões de serviços públicos devem ser antecedidas de licitação. Licitação 7. LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL DA LICITAÇÃO • A Lei n. 8.666/93 é quem disciplina as normas gerais da licitação. • Crítica à lei: O problema da lei é que ela é centrada em licitações de obras públicas e serviços de engenharia tratando, superficialmente, de obras não públicas e serviço que não de engenharia. Também não possui sistematização, sendo alguns assuntos tratados no início, no meio e no fim da lei. Licitação 7. LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL DA LICITAÇÃO • Pergunta: A quem se aplica essa lei (Lei n. 8.666/93)? • Resposta: O artigo 1.º da Lei n. 8.666/93 dispõe que a lei estabelece normas gerais que se aplicam no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. • Estados, Municípios e o Distrito-Federal devem legislar, adaptando suas normas às normas gerais previstas na Lei n. 8.666/93. Licitação 7. LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL DA LICITAÇÃO • As normas gerais são as de conteúdo amplo, como as que indicam o procedimento, as modalidades, os tipos de licitação, as hipóteses de dispensa e de inexigibilidade, as regras contratuais, dentre outras. • Assim, o Estado-membro não pode legislar para ampliar as hipóteses de contratações diretas, mas poderá legislar para restringi-las. Licitação 8. PRINCÍPIOS GERAIS DA LICITAÇÃO • O artigo 3.º da Lei n. 8.666/93 estabelece os princípios da licitação (legalidade, impessoalidade, moralidade, igualdade, publicidade, probidade administrativa, vinculação ao instrumento convocatório e julgamento objetivo) e termina sua redação observando: “... e dos princípios que lhe são correlatos”. • Verifica-se que o rol de princípios previstos nesse dispositivo não é exaustivo. Licitação 8.1. Princípio da Legalidade, da Impessoalidade, da Publicidade e da Moralidade • O artigo 3.º, caput, da Lei n. 8.666/93 faz referência aos princípios da legalidade, impessoalidade, publicidade e moralidade, não relacionando o princípio da eficiência porque, quando do surgimento da lei, em 1993, ainda não existia no caput do artigo 37 da Constituição Federal a sua menção, que somente apareceu em 1998, com a Emenda Constitucional n. 19. O que não implica dizer que tal princípio não deva ser observado. Licitação 8.2. Princípio da Isonomia (Igualdade Formal, ou Igualdade) • Previsto no caput do artigo 5.º da Constituição Federal. • Esse princípio não se limita ao brocardo “os iguais devem ser tratados igualmente; os desiguais devem ser tratados desigualmente, na medida de suas desigualdades”. • O fato de se exigir licitação para a celebração de negócios com particulares não representa simplesmente o anseio estatal de alcançar o melhor serviço ou produto com menores ônus, mas também, na obrigação de conceder aos particulares a oportunidade de disputar em igualdade de condições, como já ressaltado. Licitação 8.2. Princípio da Isonomia (Igualdade Formal, ou Igualdade) • Para o Professor Celso Antonio Bandeira de Mello, é errado imaginar que o princípio da isonomia veda todas as discriminações. Discriminar (retirando seu sentido pejorativo) é separar um grupo de pessoas para lhes atribuir tratamento diferenciado do restante, assim assevera: “Isonomia é igualdade entre os iguais, isto é, entre os que preencham as mesmas condições ou se encontram em situações comparáveis”. • Pergunta: Quando a discriminaçãoda norma é compatível com o princípio da isonomia? • Resposta: Deve-se confrontar o fato, discriminado pela norma, com a razão jurídica pela qual a discriminação é feita, a fim de verificar se há ou não correspondência lógica e respeito ao princípio da isonomia. MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 14.ª ed. Malheiros Editores, 2002. p. 58. Licitação 8.2. Princípio da Isonomia (Igualdade Formal, ou Igualdade) • Exemplos didáticos: • Abertura de concurso público para o preenchimento de vagas no quadro feminino da polícia militar. Qual é o fato discriminado pela norma? É o sexo feminino. Qual é a razão jurídica pela qual a discriminação é feita? A razão jurídica da discriminação é o fato de que, em determinadas circunstâncias, algumas atividades policiais são exercidas de forma mais adequada por mulheres. Há, portanto, correspondência lógica entre o fato discriminado e a razão pela qual a discriminação é feita, tornando a norma compatível com o princípio da isonomia. • Uma licitação é aberta, exigindo de seus participantes um determinado equipamento. Qual é o fato discriminado pela norma? É o determinado equipamento. Qual é a razão jurídica pela qual a discriminação é feita? Responde-se com outra indagação: o equipamento é indispensável para o exercício do contrato? Se for, a discriminação é compatível com o princípio da isonomia. Licitação 8.3. Princípio da Probidade • Veicula o princípio da moralidade administrativa e obriga a todos: o administrador que necessita contratar e o particular que quer ou pretender ser contratado. Ser probo nas licitações é escolher objetivamente a melhor alternativa para os interesses públicos, não gerando prejuízo ou não se aproveitando da incúria do administrador. Por isso, a lei também reprime o ajuste entre os participantes da licitação, a fraude ou devassa das propostas etc. A probidade, como dito, obriga a todos. Licitação 8.4. Princípio da Vinculação ao Instrumento Convocatório • O instrumento convocatório é o ato administrativo que chama os interessados a participarem da licitação; é o ato que fixa os requisitos da licitação. É nomeado, por alguns autores, de “lei daquela licitação”, ou de “diploma legal que rege aquela licitação”. Geralmente vem sob a forma de edital (princípio da vinculação ao edital - artigo 41 da Lei n. 8.666/93), exceção é o convite. “Geralmente vem sob a forma de edital, contudo, há uma exceção: o convite (uma das modalidades de licitação que é diferente).” • O processamento de uma licitação deve estar rigorosamente de acordo com o estabelecido no instrumento convocatório. Os participantes da licitação têm a obrigação de respeitá-lo. Licitação 8.5. Princípio do Julgamento Objetivo da Proposta • Esse princípio afirma que as licitações não podem ser julgadas por critérios subjetivos e discricionários. Os critérios de julgamento da licitação devem ser objetivos e uniformes para as pessoas participantes (v. artigo 45 da Lei n. 8.666/93). • Exemplo: em uma licitação é estabelecido o critério do menor preço. A definição do que seja o menor preço deve atender a critérios técnicos, objetivos e capazes de serem alcançados por todos os participantes. Licitação 8.6. Princípio do Procedimento Formal • Estabelece que as formalidades prescritas para os atos que integram as licitações devem ser rigorosamente obedecidas. Constitui direito público subjetivo a sua fiel observância. A realização do certame segundo as regras legais não interessa apenas à Administração ou aos participantes, mas a qualquer cidadão ou a toda coletividade. (art. 4º, §único) Licitação 8.7. Princípio da Adjudicação Compulsória • Esse princípio tem denominação inadequada. • Afirma que, se em uma licitação houver a adjudicação, esta deverá ser realizada em favor do vencedor do procedimento (artigo 50 da Lei n. 8.666/93). • A impropriedade da nomenclatura encontra-se no fato de que nem sempre a licitação leva à adjudicação, na medida em que pode o contrato não vir a ser celebrado. Afinal, o licitante vencedor não tem direito adquirido à futura contratação, possui apenas uma expectativa de direito em relação a ela. • Importante ressaltar que o licitante vencedor tem a obrigação de manter os termos da proposta inicialmente formulada durante o prazo de 60 dias, contados da data de sua entrega. A adjudicação indica, assim, que em havendo contratação o vencedor terá direito a celebrá-la. Licitação 8.8. Princípio do sigilo das propostas • Estabelece que as propostas de uma licitação devem ser apresentadas de modo sigiloso, sem que se dê acesso público aos seus conteúdos. (art. 3º, §3) • “Devassar” conteúdo de proposta apresentada é crime (Lei n. 8.666/93, artigo 94) e, ainda, prática de ato de improbidade administrativa (Lei n. 8.429/92, artigo 10, inciso VIII). • O princípio está diretamente relacionado a outro (o da probidade) e quer evitar a fraude realizada pelos participantes com ou sem o conluio de agentes públicos. Licitação 8.9. Princípio da competição ou competitividade • Trata da impossibilidade de serem colocadas cláusulas e regras em uma licitação com o intuito de eliminar ou reduzir o âmbito normal de competição de um procedimento licitatório. • Quanto maior a competição melhor para a Administração Pública. Licitação 8.10. Princípio da Ampla Fiscalização da Licitação • A fiscalização é essencial para a garantia de todos os princípios expostos, e pode ser feita não apenas pelos participantes da licitação como por qualquer cidadão ou órgão público. • A manutenção de respeito ao procedimento formal (visto anteriormente) constitui direito público de todos, e admite toda forma de fiscalização. Assim, qualquer pessoa que demonstrar legítimo interesse poderá examinar os autos do procedimento administrativo em que se realiza a licitação e, eventualmente, impugnar os atos praticados. • A fiscalização instrumentaliza, sobretudo, o controle externo da atividade administrativa. Licitação Objeto da licitação e Obrigatoriedade de licitação Objetos da licitação • Objeto imediato: selecionar a proposta que melhor atende aos interesses da licitação. • Objeto mediato: obtenção bens, obras, serviços, alienação etc, que resultarão da contratação a ser realizada. Licitação Obrigatoriedade de licitação: •Adm. Pública / Poderes > Art. 1º lei 8666 •Conselhos de classes > Lei 9649 (art. 58) •OAB > ADI 3026 STF • Terceiro Setor • SEM/EP Licitação Obrigatoriedade de licitação: • OS e OSCIP: Decreto 6.170/2007, art. 11: “(...) a aquisição de produtos e a contratação de serviços com recursos da União transferidos a entidades privadas sem fins lucrativos deverão observar os princípios da impessoalidade, moralidade e economicidade, sendo necessária, no mínimo, a realização de cotação prévia de preços no mercado antes da celebração do contrato” Licitação Empresas estatais exploradoras de atividade econômica • Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei. • § 1º A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços, dispondo sobre: • III - licitação e contratação de obras, serviços, compras e alienações, observados os princípios da administração pública; Licitação Petrobrás: • Lei 9.478/1997, art. 67: Os contratos celebrados pela PETROBRÁS, para aquisição de bens e serviços, serão precedidos de procedimento licitatório simplificado, a ser definido em decreto do Presidente da República. •Decreto Presidencial nº 2.745/98
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