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apostila crim

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Introdução
CONSIDERAÇÕES DE ASPECTO GENÉRICO
É bíblico o ensinamento de que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança e que, ao colocá-lo no Jardim do Éden, fez-lhe esta advertência: “De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore da ciência do bem e do mal não comerás, porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás”.
Houve a desobediência posterior e, por sua cobiça, o homem foi condenado a conhecer o bem e o mal.
A conduta do homem em uma ou outra direção, ou seja, caminhando rumo ao bem ou ao mal, por si só, determina a existência de diferenças fundamentais na forma de viver do ser humano.
É inerente à homogênese, portanto, a desigualdade do comportamento social dos indivíduos.
Entregue à todos os seus temores e fraquezas, o homem é sempre chamado, na correnteza da vida, a decidir entre o bem e o mal em meio às tentações da ambição, do poder, do “ter” ao invés do “ser”. Concomitantemente, estará ele, respirando os ares da inveja, da ira, do orgulho, da vaidade, da prepotência, das paixões desenfreadamente destruidoras, tudo a emaranhá-lo na possibilidade, sempre presente, do retrocesso moral e espiritual e na própria queda ao abismo da criminalidade.
Ora, a criminalidade é considerada como um fato normal da vida em sociedade, justamente porque a vida grupal, a existência comunitária, não implica em que cada indivíduo aja em acordo com a vontade dos demais e, não raro, isso acarreta divergências e choques pessoais; e se esses desacordos não são contornados pelas vias da conciliação ou do ajuste, só restará a alternativa do conflito propriamente dito, e este, quando não resolvido legalmente, fatalmente redundará em confronto, em diferentes tipos de agressão, sucedendo que muitos deles vão desembocar na senda do crime.
Apesar da criminalidade ser reputada como um fenômeno social normal, da mesma forma não é analisada a figura do criminoso, considerado um “fenômeno anormal”, na expressão de Israel Drapkin (Manual de Criminologia). Contudo, os autores Newton e Valter Fernandes (Criminologia Integrada), discordam de Drapkin, pois, se aceita a criminalidade como um processosocial normal, porque o ato do criminoso deve ser entendido como um fenomeno anormal? Para tais doutrinadores, tanto a criminalidade quanto o indivíduo que a exercita não podem ser considerados normais, porque o crime não é ato normal em sociedade e, por sua vez, as peculariedades do fenômeno da delinquência não podem se apartar de seu agente desencadeador, intrinsicamente a ela ligado.
Outra não é a razão da Criminologia ter por escopo o estudo do fenômeno criminal, suas causas geradoras e o conhecimento completo dos seres humanos que exercem um papel no palco cênico do delito, ou seja, a pessoa do criminoso e, porque não dizer, a pessoa da própria vítima.
CONSIDERAÇÕES DE ASPECTO ESPECÍFICO
Interessa-se especificamente a Criminologia em pôr a claro tudo o que contribui ou concorre para a existência da criminalidade.
Para que o crime venha a eclodir é indispensável que ocorra uma intenção ou um ato humano. Por isso, a par do fenômeno em si da criminalidade, o estudo do comportamento humano deve ser basilar da Criminologia, pois, sendo o homem o agente do ato delituoso, é principalmente sobre ele que devem ser concentradas as pesquisas mais relevantes, já que sobre seus ombros atuam múltiplas causas, muitas delas desconhecidas até a ocorrência do crime, mas com acentuado pesona caracterização da origem do fato e do caráter ou da verdadeira natureza da vontade do criminoso.
Ao longo do tempo, a Criminologia tem sido subdividida em segmentos que compreendem a Biologia Criminal, a Sociologia Criminal, a Psicologia Criminal, a Psiquiatria Criminal, a Endocrinologia Criminal, etc. De entender que tais repartimentos só se prestam ao aspecto didático-pedagógico de seu ensinamento, visto que o ideal é a fusão de todas essas partes em uma só, daí advindo uma única Criminologia, forte, pujante, e definitiva em sua própria nomenclatura e no seu conteúdo doutrinário (opinião de Newton e Valter Fernandes).
CONCEITO E DEFINIÇÃO
A palavra Criminologia deriva do latim “crimen” (delito) e do grego “logos” (tratado). Em resumo, seria o “Tratado do Crime”.
Foi utilizada, pela 1ª vez, em 1885, pelo italiano Rafael Garófalo (designando-a como a “ciência do crime”), contudo, já havia sido muito estudada e utilizada (embora não com esta denominação) pelos igualmente italianos Cesare Lombroso e Enrico Ferri.
Para alguns, a Criminologia é o estudo do homem que delinque. Definindo a criminologia como o tratado do delito, confundi-la-emos com o Direito Penal, que trata do delito, do delinqüente e da pena. Aliás, qualquer matéria sobre criminalidade deve abranger esses três elementos.
A Criminologia, como não poderia deixar de ser, não é definida de maneira uniforme, existindo muitas e variadas definições.
- Nelson Hungria: “Criminologia é o estudo experimental do fenômeno crime, para pesquisar-lhe a etiologia e tentar a sua debelação por meios preventivos ou curativos”.
- Jean Merquiset: “Criminologia é o estudo do crime como fenômenos social e individual e de suas causas e prevenção”.
- Kinberg: “Criminologia é a ciência que tem por objeto não somente o fenômeno natural da práticado crime, como também o fenômeno da luta contra o crime”.
- Edwin H. Sutherland: “Criminologia é um conjunto de conhecimentos que estudam o fenômeno e as causas da criminalidade, a personalidade do delinqüente, sua conduta delituosa e a maneira de ressocializá-lo”.
Trata, pois, a Criminologia, da aplicação das ciências sociais e humanas no controle e ressocialização do criminoso, com vistas á prevenção da delinquência.
A partir dessas afirmações, é possível e verdadeiro dizer-se que o fim último da Criminologia é a promoção do homem ou a ascenção da condição humana.
Poder-se-ia enumerar diversos outros conceitos de Criminologia que foram formulados pelos mais variados autores.
Porém, na análise de Newton Fernandes e Valter Fernandes todos os conceitos até hoje formulados pecam por não incluírem na Criminologia o estudo da vítima, também denominado de vitimologia, uma vez que, a Criminologia se ocupa não apenas do crime e do criminoso, mas, igualmente, da vítima.
Assim, na definição desses dois autores, “Criminologia é a ciência que estuda o fenômeno criminal, a vítima, as determinantes endógenas e exógenas, que isolada ou cumulativamente atuam sobre a pessoa e a conduta do delinquente, e os meios laborterapêuticos ou pedagógicos de reintegrá-lo ao agrupamento social”.
Em sentido lato, a Criminologia vem a ser a pesquisa científica do fenômeno criminal, das suas causas e características, da sua prevenção e do controle de sua incidência.
A Criminologia é a ciência que pesquisa: as causas e concausas da criminalidade; as manifestações e os efeitos da criminalidade e da periculosidade preparatória da criminalidade; a política a opor, assistencialmente, á etiologia da criminalidade e á periculosidade preparatória da criminalidade.
- Em resumo: “Criminologia é o estudo do crime, do criminoso, da vítima e das causas e fatores da criminalidade”.
 
OBJETO
Das várias colocações até agora feitas, verifica-se que a Criminologia representa:
a) o estudo dos fatores individuais (personalidade) e sociais (ambiente) básicos da criminalidade;
b) o estudo dos fatores básicos e do fenômeno natural da luta contra o crime (tratamento e profilaxia), objetivando a ressocialização do delinqüente e a prevenção da criminalidade.
Assim, podemos dizer que o objeto da Criminologia é:
“O estudo do fenômeno natural, considerando os fatores individuais (personalidade) e os fatores sociais (ambiente), e ao mesmo tempo, a luta contra o crime, levando em conta a necessidade de ressocialização do delinqüente (tratamento) e de prevenção do crime (profilaxia)”.
Em resumo, o objeto da Criminologia é, pois, o crime e o criminoso, o que a confunde, muitas vezes, com o Direito Penal, já que este também tem por objeto o crime e o criminoso.Já chegou-se até mesmo a firmar que a Criminologia seria apenas uma parte do Direito Penal, portanto, dependente deste.
Sabe-se, contudo, que embora o Direito Penal e a Criminologia estudem ambos o crime, são duas ciências autônomas e independentes, e o enfoque dado por uma e por outra, relativamente ao delito, é diferente.
O Direito Penal tem por objeto o crime como uma regra anormal de conduta, contra o qual estabelece o gravame, o castigo, a punição. O Direito Penal é, por assim dizer, a ciência de repressão social ao crime, através de regras punitivas que ele mesmo elabora. O seu objeto, portanto, é o crime como um ente jurídico, e como tal, passível de sanções.
Já a Criminologia é uma ciência que tem por objeto a incumbência de não só se preocupar com o crime, mas também de conhecer o criminoso, montando esquemas de combate á criminalidade, desenvolvendo meios preventivos e formulando empenhos terapêuticos para cuidar dos delinqüentes a fim de que eles não venham a reincidir.
Enquanto o Direito Penal é uma ciência normativa, de repressão social contra o delito, através de regras jurídicas coibitórias cuja transgressão implica em sanções, a Criminologia é uma ciência causal-explicativa, essencialmente profilática, visando o oferecimento de estratégicas, por intermédio de modelos operacionais, de molde a minimizar os fatores estimulantes da criminalidade, bem como, o emprego de táticas estribadas em fatores inibidores do conjunto do crime.
O Direito Penal se preocupa com as ações e omissões que constituem delito e á Criminologia importa saber as causas pelas quais devam ser consideradas como delitos.
Conseqüentemente, a primeira diferença entre o Direito Penal e a Criminologia, é que enquanto o primeiro nos indica que os atos merecem uma pena, a segunda nos indica a causa desses atos.
Como segunda diferença, temos que considerar que, enquanto ambas as ciências estudam o delinqüente, o Direito Penal só indaga o grau de responsabilidade do mesmo (autor, co-autor, partícipe); enquanto que á Criminologia interessa conhecer o homem delinqüente, aspecto que mais tem preocupado as escolas filosóficas, ou seja, trata de compreender a personalidade do homem delinqüente.
Assim, no que se refere ao crime, a Criminologia tem toda uma inequívoca atividade de verificação, de análise da conduta anti-social, de pesquisa das causas geradora do delito, e do efetivo estudo e tratamento do criminoso, na expectativa de que ele não se torne recidivista.
O objeto da criminologia é o delito isolado, a criminalidade como fenômeno comunitário, além das causas do crime como fenômeno individual e o embate contra a delinqüência. Por conseguinte, o homem somente diz respeito ao objeto da criminologia quando é o homem delinqüente, antes não.
Porque delinqüente o homem e as causas porque o faz, são as matérias essenciais com que preocupa a Criminologia.
Exato afirmar, então, que o Direito Penal e a Criminologia trabalham em cima da mesma matéria prima, mas a forma de operação, de elaboração do trabalho, é bem diferenciada, o que torna legítimo concluir que o objeto de uma ciência não é o mesmo da outra.
Estas diferenças não significam que ambas as disciplinas não possam entender-se; pelo contrário, completam-se, pois estão unidas por uma finalidade única, que é conhecer e estudar o delinqüente.
A Criminologia não é, pois, um capítulo do Direito Penal, porque é essencialmente biológica, experimental e dedutiva, enquanto que o Direito Penal é uma ciência normativa e valorativa.
A Criminologia vem injetando no Direito Penal um sentido biológico. A paixão irresistível, a força coercível, a coação, o louco ou alienado, etc, são conceitos médico-biológicos da Criminologia adotados pelo Direito Penal. É o que se tem denominado “o sentido biológico do Direito Penal”.
MÉTODO
Em seu livro Criminologia Biológica, Sociológica e Mesológica, ensina Vitorino Prata Castelo Branco:
“Em geral, método é o meio empregado pelo qual o pensamento humano procura encontrar a explicação de um fato, seja referente á natureza, ao homem ou á sociedade”.
E prossegue:
“Só o método científico, isto o é, sistematizado, por observações e experiências, comparadas e repetidas, pode alcançar a realidade procurada pelos pesquisadores”.
Diz, ainda, Vitorino Prata:
“O campo das pesquisas será, na Criminologia, o fenômeno do crime como ação humana, abrangendo as forças biológicas, sociológicas e mesológicas que o induziram ao comportamento reprovável, etc.”.
Analisando-se, ainda que perfunctoriamente, as palavras deste gabaritado criminólogo, deflui, que em termos de pesquisas criminológicas, dois seriam os métodos utilizados:
a) biológico;
b) sociológico
De fato, quando o referido autor fala em forças sociológicas e mesológicas, no fundo significam a mesma coisa, ou seja, algo ligado ao meio ambiente, ao meio social.
Abordando o assunto em sua obra Manual de Criminologia, Israel Drapkin, argumenta dizendo, inicialmente, que a Criminologia efetivamente usa os métodos biológico e sociológico.
E, como não poderia deixar de ser a uma disciplina que estuda o crime como um fato biopsicosocial e o criminoso, a Criminologia não fica adstrita a um só terreno científico, porque este não teria, por si só, o condão de conseguir explicar o fenômeno delinquencial e a vasta caudal de causas delituógenas, dentre elas aquelas de natureza social, biológica, psicológica, psiquiátrica, etc.
Por isso, a Criminologia constrói seus métodos, mas também, se utiliza dos métodos de outras ciências.
Logo, a nova metodologia criminológica vai assentar-se na constituição da equipe criminológica – “team work” – (médico, psiquiatra, psicólogo, assistente social, educador, enfermeiro, etc., que tenham recebido treinamento criminológico).
Os métodos de análise utilizados pela Criminologia são:
a) relativamente aos fatores sociais, os da Sociologia;
b) relativamente aos fatores individuais, os da Biologia, Psicologia, Psiquiatria, Endocrinologia,etc.
 
A CRIMINOLOGIA COMO CIÊNCIA
Genericamente, considera-se ciência o conjunto de conhecimentos relativos á um determinado objeto, em especial os obtidos mediante a observação, a experiência dos fatos e um método próprio.
Para os filósofos, há dificuldades e divergências acerca do que deve ser considerado ciência. Muitos exigem que para uma disciplina de conhecimentos poder ser considerada uma ciência, deve ter um objeto específico, seguir um método determinado e ter uma aplicação universa.
Em decorrência disso, discute-se se a Criminologia seria ou não uma ciência, sob a alegação de que não possui objeto, não tem um método determinado, tampouco é universal.
Para os que não consideram a Criminologia como ciência, esta carece de objeto, porquanto estuda o delito, que pertence ao Direito Penal. Porém, sabemos que não é bem assim, pois como visto ambas as disciplinas enfocam o delito de ângulos diferentes.
Com relação ao método, os contrários afirmam não ser a Criminologia uma ciência, por não ter um método determinado, uma vez que ela se vale de dois métodos, o biológico e o sociológico. Abordando o assunto em sua obra Manual de Criminologia, Israel Drapkin argumenta dizendo, inicialmente, que a Criminologia efetivamente usa os métodos biológicos e sociológicos e exemplifica:
“se a Biologia é uma ciência, não há razão para que não o seja a Criminologia, que usa o seu método”. E acresce: “A Criminologia usa o método experimental, naturalístico, indutivo, para o estudo do delinqüente, o que não basta para conhecer as causas da criminalidade. Por isso, recorremos aos métodos estatísticos, históricos e sociológicos”.
O fato da Criminologia usar vários métodos pode tirar-lhe a categoria de ciência? É claro que não. A Criminologia não é um campo de conhecimento empírico, que vive a carecer de método científico para a comprovação de suas experiências e experimentos. Ao contrário, ao invés de um, a Criminologia possui dois métodos de trabalho: o biológico e o sociológico.Por último, aqueles que negam o caráter científico à Criminologia, que esta não é universal, pois o que num país pode ser estabelecido como uma verdade incontestável, noutro poderá ser diferente, a ponto de existirem a chamada Criminologia nórdica, européia, americana, etc., que guardariam aspectos diferentes entre si.
Contudo, quanto á condição de não universalidade da Criminologia, para ser considerada uma ciência, de recordar que, em Congresso Internacional de Criminologia realizado há menos de 20 anos em Belgrado, no país então chamado Iuguslávia, consensuou-se o seguinte: “A delinqüência é um fenômeno social complexo que tem suas próprias leis e que aparece num meio sociocultural determinado, não podendo ser tratada com regras gerais, mas particulares a cada região”. Diante dessa conclusão a que chegaram mais de 700 criminólogos, representando cerca de meia centena de países no Congresso Internacional antes mencionado, de aceitar ser inteiramente desnecessário o requisito da aplicação universal para erigir a Criminologia á categoria de ciência.
A esse respeito, aliás, é oportuno citar ainda uma vez Vitorino Prata, que reconhecendo a condição de ciência da Criminologia, sublinha:
“Embora o homem seja o mesmo em qualquer parte do mundo, os crimes têm características diferentes em cada continente, devido á cultura e á história própria de cada um. Há, pois, uma Criminologia brasileira, como uma Criminologia chinesa, uma Criminologia iuguslava, enfim, uma Criminologia própria de cada raça ou nacionalidade”.
Destarte, malgrado alguns que lhe neguem o caráter científico, aflora pacífico que a Criminologia é ciência. Ciência que aborda o acontecimento delitivo em seus aspectos individual e anti-social e na sua causação, inclusive destacando seus provocativos no intento de atenuar a incidência delituosa
RELAÇÃO DA CRIMINOLOGIA COM OUTRAS CIÊNCIAS
Não haverá qualquer exagero em afirmar que a Criminologia praticamente se relaciona com todas as ciências e áreas do conhecimento humano, desde que propiciadoras de maior percepção ao fenômeno do cometimento criminal e a personalidade do delinquente.
Verdadeiramente, a Criminologia se vincula a todas as demais ciências que se ocupam do crime, do criminoso e da pena. Por isso, todas essas ciências, e inclusive a Criminologia, compõem a chamada “Enciclopédia das Ciências Penais” que, consoante a lúcida compreensão de Luis Jimenez de Asúa, subdivide-se em 4 grupos, a saber:
a) Ciências Histórico-Filosóficas: História do Direito Penal, Filosofia do Direito Penal e Direito Penal Comparado;
b) Ciências Causal-Explicativas: Criminologia, Antropologia Criminal, Sociologia Criminal, Biologia Criminal, Psicologia Criminal e Psicanálise Criminal;
c) Ciências Jurídico-Repressivas: Direito Penal, Direito Processual Penal e Direito Penitenciário;
d) Ciências Auxiliares e de Pesquisa: Penologia, Política Criminal, Medicina Legal, Psiquiatria Forense, Polícia Judiciária Científica, Criminalística, Psicologia Judiciária e Estatística Criminal.
As disciplinas integradoras da Enciclopédia das Ciências Penais, ou “Síntese Criminológica”, destinam-se à perquirição, enfrentamento e aplicação interativa dos princípios e normas dos três elementos do episódio criminal propriamente dito, a saber: o crime, o criminoso e a pena.
Não será despiciendo recordar a conceituação sucinta das ciências que integralizam a “Síntese Criminológica”. Vejamos:
a) Ciências Histórico-Filosóficas:
- História do Direito Penal: Vem a ser a pesquisa conexa dos fenômenos jurídico-penais de cada povo;
- Filosofia do Direito Penal: se resuma na análise e crítica do Direito Penal naquilo pertinente ao sseus princípios, causas e modificações;
- Direito Penal Comparado: é a pesquisa sistematizada e em cotejo das legislações penais dos diversos países;
b) Ciências Causal-Explicativas:
- Criminologia: é a ciência que estuda a causação do fenômeno criminal;
- Antropologia Criminal: perquire as características orgânicas e biológicas do delinqüente;
- Biologia Criminal: estuda o crime como acontecimento da vida do indivíduo;
- Sociologia Criminal: pesquisa o fenômeno delituoso sob o prisma da influencia ambiental na conduta criminosa;
- Psicologia Criminal: estuda os caracteres psíquicos do delinqüente que influem na gênese do crime;
- Psicanálise Criminal: atenta para a personalidade do criminoso e para os processos íntimos que oexcitam á prática delitiva.
c) Ciências Jurídico-Repressivas:
- Direito Penal: é a ciência jurídica de reação social contra o crime;
- Direito Processual Penal: é a atividade estatal de tutela penal através de normas próprias;
- Direito Penitenciário: representa o compacto de regras jurídicas reguladoras da atividade jurídico-carcerária.
d) Ciências Auxiliares e de Pesquisa:
- Política Criminal: tem por finalidade a análise e a crítica das leis penais a partir de propostas criminológicas;
- Penologia: tem por objeto o estudo da pena, das medidas de segurança e da funcionalidade das instituições destinadas á readaptação dos egressos dos presídios;
- Medicina Legal: tem por propósito a aplicação dos conhecimentos científicos na esfera da Justiça Criminal;
- Criminalística: estuda as formas como se cometem os delitos, cuidando da aplicação dos recursos técnicos para sua constatação e perquirição;
- Psiquiatria Forense: tem por mira o estudo dos distúrbios mentais ensejadores de problemas jurídico-penais;
- Psicologia Judiciária: estuda o comportamento do indivíduo acusado da perpetração do crime;
- Polícia Judiciária Científica: se incumbe da pesquisa dos vestígios e indícios encontradiços no palco típico;
- Estatística Criminal: tem por fim a observação etiológica do delito com vistas ao planejamento e avaliação do desempenho institucional contra a criminalidade.
Depreende-se do anteriormente explicitado, quando se fala em “Enciclopédia das Ciências Penais”, que a expressão galardoa a própria Criminologia, naquilo que é ela considerada uma ciência que abrange praticamente todas as disciplinas criminais.
A Criminologia teria, por assim dizer, uma concepção enciclopédica, eis que se utiliza do campo de labor de outras ciências criminais. Daí também ser chamada “ciência de síntese”, porque sua base científica está fincada nas contribuições proporcionadas pelas denominadas ciências do homem (Antropologia, Biologia, Sociologia, Psicologia, Psiquiatria, etc.) quando voltadas para a pesquisa do delito.
Efetivamente, para atender sua finalidade, a Criminologia não pode atuar isoladamente, havendo que recorrer ao objeto de outras ciências, mesmo porque o conhecimento não se confina nos limitativos de uma única ciência.
Mas qual a relação da Criminologia com todas estas ciências?
a) Criminologia e Direito Penal: É ponto pacífico que a Criminologia se relaciona fundamentalmente com o Direito Penal, eis que, embora autônomas, são ciências acentuadamente correlatas, limítrofes e, quiçá, complementares. A par disso, é o Direito Penal que delimita o objeto da Criminologia, fornecendo-lhe, até, o juízo valorativo do fato criminoso.É a Criminologia, por outro lado, que oferta ao Direito Penal os subsídios para o julgamento do fato criminoso. Destarte, a Criminologia é ciência propedêutica do Direito Criminal. Não obstante, enquanto o Direito Penal tem como objeto a culpabilidade, o objeto da Criminologia é a periculosidade. Enquanto o Direito Penal encara o crime como fato antijurídico, a Criminologia o vê como uma conduta anti-social. Enfim, o Direito Penal é ciência cultural, valorativa, normativa e finalista. A Criminologia é ciência causal-explicativa,de observação, de síntese, de pesquisa teórica.
b) Criminologia e Direito Processual Penal: Tem ligação com este na medida em que ele regulamenta a verificação do ato delituoso e faz o exame da personalidade do autor típico.
Cesare Bonesana, o Marquês de Becaria, dizia que a Justiça para ser justa deve ser rápida, mas quando se vê um homem chegar na penitenciária condenado há 5 anos, depois de haver estadono cárcere no decorrer de um processo que durou 4 anos, esta Justiça não pode ser justa.
É preciso meditar sobre a imensa injustiça que significa uma absolvição depois de muitos anos de cárcere, pois se bem que existe uma indenização de caráter constitucional (art. 107 da CF), na realidade esta só existe teoricamente. Embora existem não poucos casos de prisões ilegais, raramente é requerida e concedida indenização, como no processo dos “Irmãos Naves”, injustamente condenados por homicídio em que a suposta vítima apareceu viva após muitos anos,tendo um dos irmãos condenados morrido na prisão. Foi concedida a indenização, confirmada pelo STF. Mas na grande maioria dos casos, as pessoas sofrem as injustiças sem nada pleitear.
c) Criminologia e Direito Penitenciário: Nascido na Itália, com Giovanni Novelli, este Direito é muito novo e refere-se à aplicação da pena. Pretende exercer todas as medidas destinadas á aplicação individual da lei penal, a cada delinquente em particular, objetivando a ressocialização do delinquente.
d) Criminologia e Antropologia Criminal: Pesquisando a exigência de leis que regem a criminalidade e também a influência de fatores individuais na gênese do delito, a Criminologia obrigatoriamente tem de invocar a Antropologia Criminal, que permite totalizar o fenômeno delinquencial em seus múltiplos aspectos, desde os biológicos aos psicossociais, como um todo. A Antropologia é a base da Criminologia, mormente agora que foi revigorada pela Endocrinologia e pela Genética.
e) Criminologia e Biotipologia Criminal: Esta projeta uma constituição delinquencial. Semelhante á Antropologia.
f) Criminologia e Sociologia Criminal: A Sociologia nos ensina a organização dos grupos sociais, que são diferentes de acordo com a época e a localização, o que também é uma fase importante para o conhecimento do homem delinquente. Assim, a Criminologia relaciona-se com a Sociologia na medida em que aquela demonstra que a personalidade criminosa é o somatório de fatores biológicos e sociológicos em seu mais amplo sentido, integrados numa unidade psicossomática. 
A Sociologia Criminal é a ciência que cogita do fenômeno social da criminalidade.
Tão grande afinidade há entre a Sociologia e a Criminologia, que uma das principais teorias criminológicas, a que busca explicar a gênese dos delitos, leva o título de Teoria Sociológica. Entende esta teoria que as pressões e as influencias do ambiente social geram o comportamento delinqüente. A Sociologia Criminal toma o crime como um “fato natural da vida em sociedade”, estudando-o como expressão de certas condições do grupamento social, ocupando-se com os fatores exógenos na causação do delito, bem como, suas conseqüências para a coletividade.
g) Criminologia e Psicologia Criminal: A Psicologia Criminal propõe-se desvendar o caráter e as tendências do criminoso, indicando os rumos necessários à avaliação de sua periculosidade e estudando a incidência da fenomenologia psíquica da Criminalidade. Como a causa dos crimes reside, grande número de vezes, em transtornos mentais, transitórios ou permanentes, as alterações psíquicas interessam á Criminologia (psicoses, neuroses, psicopatias, oligofrenias, etc), fornecendo á Criminologia matéria para o estudo dos transtornos mentais dos criminosos.
h) Criminologia e Psiquiatria Criminal: A função da Psiquiatria Criminal centraliza-se na terapia, uma vez que a profilaxia é mais cabível à Psicologia Criminal.
i) Criminologia e Endocrinologia: É de vital importância a pesquisa da interação endócrino criminal, permissível pela ocorrência de anomalias endócrinas dos criminosos.
j)Criminologia e Demografia: A Criminologia busca nos movimentos da massa humana (nascimentos, casamentos, óbitos) as causas que influem sobre a personalidade do homem delinquente.
l)Criminologia e História: A História é uma ciência que nos serve para compreender o presente e o futuro, baseando-se no passado; através dela conhecemos o passado, compreendemos o presente e vislumbramos o futuro.
A SOCIEDADE A E NATUREZA DO DELITO COMO FENOMENO INDIVIDUAL E COLETIVO
a) O aparecimento da vida e do homem
A doutrina do pecado original é um dos princípios mais poderosos da crença hebraico-cristã. Segundo a concepção cristã, o homem era inocente e bom e o mundo um jardim (do Éden), um paraíso. Mas o homem foi tentado, sucumbiu e nunca mais irá recuperar sua inocência original.
São Paulo declarou que o homem é carnal e pecador, acrescentando: “em sua carne habitam coisas ruins e o pecado habita nele”. Aliás, essa idéia da maldade como uma das características do ser humano se encontra também no campo da Biologia com Charles Darwin, como ainda no da Psicologia e da Psicanálise, com Sigmund Freud.
Contestando a perspectiva cristã do aparecimento da vida e do homem, e do próprio deusismo, Darwin estabelece outra hipótese sobre a origem do homem, defendida em suas obras On the origen of Species e The Descent of Main, escritas em 1859 e 1871, respectivamente. Darwin entendia que o homem evoluiu a partir de animais não humanos, sofrendo mutações e percorrendo um longo caminho até chegar ao estágio humano. É o que prega em sua “Teoria da Evolução”, contestada veemente pelos representantes da igreja, mas cuja influencia na classe intelectual até hoje é bastante razoável.
Conquanto não aceita a teoria darwiniana sobre a origem do homem, também existe uma certa controvérsia em se admitir cegamente que a espécie humana está imersa em pecado devido á sua herança de Adão e Eva.
Importa, em suma, que o universo é resultado de uma criação de Deus com finalidade.
b) A Sociedade e o Crime
Durkhein afirmava que “os fenômenos sociais são fatos naturais e devem ser estudados pelométodo natural, isto é, pela observação e, quando for possível, pela experimentação”.
Ora, o crime é um fenômeno social e a criminalidade depende do estado social. Tenha o crime na sua gênese um fator exclusivamente endógeno (biológico) ou exclusivamente exógeno (meio ambiente), ou a combinação de ambos os fatores, é inegável que o crime é uma manifestação de vida coletiva, não fosse a existência de apenas duas pessoas considerada um grupo social.
Não pode existir criminalidade fora de um estado social qualquer.
Sendo o homem um animal gregário, sua vida em sociedade não implica, porém, em que não haja uma unidade de consciência social, pois esta nada mais é que a resultante das consciências individuais, que vão compor a maioria da unidade social.
A noção de uma igualdade humana, dentro do grupo, é radicalmente falsa. A natureza animal não conhece a igualdade e toda filosofia zoológica repousa na desigualdade dos seres vivos e, entre eles, as desigualdades mais acentuadas são as que se verificam no ser humano.
A desigualdade social é que induz á situações de conflitos, que podem terminar em criminalidade, entendo-se esta como todos os atos que constituem infração penal.
A criminalidade, que não se concebe fora da vida grupal, nasce e se desenvolve dos interesses colidentes de seus componentes. É como se a criminalidade fosse uma oposição do indivíduo á sociedade. Por isso que também deriva de interesses personalíssimos.
O crime, social na sua etiologia, visto que suscitado pela existência em sociedade, é antisocial nos seus efeitos.
Distingue-se, assim, a criminalidade, por firmar um conflito de vontades: de um lado a vontade da sociedade, soma das vontades de seus integrantes ou resultado da volição da maioria, e, de outro lado, a vontade individual de quem perpetra o crime, ou seja o delinqüente.
O crime, portanto, é o produto de dois fatores: o indivíduo (criminoso) e a sociedade.
c) O Fato criminoso
E. Glover, na obra The Roots of Crime, abordando o criminoso nato, comenta: “o crime representa uma das parcelas do preço pago pela domesticação de um animal selvagem por natureza(o homem), ou, é o resultado de sua domesticação mal sucedida”.
Infere-se, desse conceito, que o homem, não sendo tratado como ser humano, transforma-se no mais violentoe perigoso dos animais, posto que é o único que raciocina.
Incontestável é que o crime emana, primordialmente, de fatores sociais e, como tal, adquire a imagem de uma fenomenologia individual e coletiva.
d) O crime como fenômeno individual e coletivo
As causas imediatas do crime se resumem nas condições do meio em que ele se verificou e na personalidade de seu autor no momento da ação.
As condições ambientais e circundantes, na ocasião do crime, abrangem as circunstancias que permitiriam o desencadeamento do próprio ato, entre elas aquelas que tornaram permissível o seu cometimento e, por isso, prevalentes, como também as que teriam funcionado como inibidora do evento, mas que foram reprimidas. Assim, a miséria (que via de regra é a responsável por grande gama de delitos, figurando quase sempre como preponderante sobre circunstancias outras) pode, em determinada situação, não prevalecer, como o simples fato do indivíduo que iria praticar o crime e, á última hora, deixou de fazê-lo por temor ao respectivo castigo ou pena que, uma vez descoberto,viria a sofrer. O castigo funcionou, aí, como freio inibidor.
A outra causa do crime, ou seja, a personalidade do indivíduo na ocasião em que comete o crime, consiste naquilo que permite uma predição de como uma pessoa agirá em uma determinada situação. Essa personalidade do homem, com suas vivencias atuais e, de outra forma, sempre condicionada pelo modo de ser relativamente constante ou habitual do indivíduo, aí residindo as características dessa decantada personalidade. No fato, por exemplo, do marido que surpreende a mulher em adultério, a reação difere de um para outro indivíduo. Existem aqueles que reagem violentamente (matando um ou ambos), e aqueles que enfrentam a tragédia passivamente (separação, perdão, reconciliação).
Todos esses mais diversos comportamentos são comportamentos justificados pelas vivências e pela forma de ser de cada um desses indivíduos, resumidas na personalidade de cada um. Essas capacidades ou predisposições, ou tendências, denominam-se disposições individuais. É evidente que se a disposição daquele que optou pelo crime, no caso do adultério, por exemplo, for de tal monta que revela tendência para a prática futura de outros delitos, ele deve ser encarado como um indivíduo perigoso para a sociedade. Mas, nem sempre é assim, pois, o homicida por adultério, tem um prognóstico relativamente favorável no terreno da criminalidade, visto que sua infração resultou de um forte abalo moral que, provavelmente, não repetir-se-á. O mesmo não se pode dizer do estelionatário habitual, no qual a mentira fraudulenta praticamente passou a fazer parte de sua segunda natureza e até de sua personalidade.
De frisar que, na eclosão do crime, a personalidade e suas disposições que conduzem á prática do crime, são o resultado de uma evolução complexa, que vem desde o nascimento do indivíduo, o qual passa a possuir certas disposições, chamadas de tendências hereditárias, vindo a desenbocar na criminalidade hereditária.
Goring sustentou que o elemento herdado não é a criminalidade como tal, mas sim, a inteligência deficiente.
Na realidade, não há provas de que exista o denominado “criminoso nato”. Ninguém tem uma hereditariedade tal que deva ser inevitavelmente um criminoso, independentemente das situações em que é colocado ou das influencias que sobre ele exercem. Um temperamento fleugmático, que permite supor ser herdado, pode preservar uma pessoa de ser criminosa num ambiente, e torná-la criminosa noutro. Na formação da causalidade devem ser incluídos tanto o traço individual como a situação; nem um nem outra atuam isoladamente na produção do delito. Toda pessoa é um “criminoso potencial”, mas são imprescindíveis contatos e direção de tendências para torná-la criminosa ou desrespeitadora da lei.
Ressalte-se, então, que as tendências hereditárias, constituídas por um mecanismo endógeno, têm a influenciá-las, por outro lado, o meio ambiente, isso ao longo de toda a vida do indivíduo. No campo da atuação do meio sobre as tendências hereditárias, devem ser consideradas, principalmente, a alimentação, a educação no lar e na escola, a influencia de parentes e outras pessoas, a convivência comunitária, a condição econômica, etc. A par disso, de realçar as influencias cósmicas, do clima, os hábitos de higiene e as condições de vida, as intoxicações, o alcoolismo, enfim, o chamado meio de desenvolvimento do indivíduo.
Tratado o crime como fenômeno individual, assinale-se que a vida do homem em grandes centros urbanos implica em que ali sejam perpetrados inúmeros crimes. Isso demonstra, indesmentivelmente, o caráter de fenômeno coletivo da criminalidade. Isso aponta a criminalidade como fenômeno da vida societária, pouco valendo o argumento daqueles que, procurando combater o caráter de fenômeno coletivo da delinqüência, aduzem que esta outra coisa não é senão a somados crimes individuais.
Divisão e História da Criminologia
DIVISÃO DA CRIMINOLOGIA:
CRIMINOLOGIA TRADICIONAL:
1º - Escola Clássica
2º - Escola Positiva
3º - Escola Socialista
CRIMINOLOGIA NOVA (CRÍTICA)
1º - Microcriminalidade e Macrocriminalidade:
- Crime Organizado
- Crime do Colarinho Branco
- Crime de Lavagem de Dinheiro
2º - Teoria do Labelling Approach
3º - Teoria das Janelas Quebradas (Broken Windows Theory)
CRIMINOLOGIA TRADICIONAL:
HISTÓRIA DA CRIMINOLOGIA:
1º - ESCOLA CLÁSSICA:Vigora o Direito Natural (Jusnaturalismo), pautado na fé e na crença nos deuses. O homem tem o livre arbítrio, ou seja, somente comete o crime se quiser. O crime atenta a ira dos deuses e, portanto, a pena, aqui, é uma espécie de castigo, de punição, de penalidade.
Esta Escola apresenta 2 Fases:
1ª) FASE EMPÍRICA OU MITOLÓGICA (ATÉ O SÉCULO XV):
Não pretendemos localizar a gênese da Criminologia na época pré-histórica, porque até 1875, (quando Cesare Lombroso dá início á Antropologia Criminal, publicando a famosa obra L”Uomo Delinqüente) o seu estudo não tem importância maior. O que se tem, até então, são idéias de pensadores, algumas válidas até os dias de hoje. (Platão, em uma de suas obras, já se referia ao furto famélico).Este período pode subdividir-se em:
Este período pode subdividir-se em:
a) Antiguidade remota;
b) Antiguidade grega (Hipócrates, Platão e Aristóteles);
c) Idade Média. Teólogos e sacerdotes (especialmente S. Tomás de Aquino). Ciências Ocultas.
a) Antiguidade remota 
Nesta época não se encontra nada de concreto sobre Criminologia, nem entre hindus, sírios, fenícios, hebreus, etc. Somente existem algumas normas, como os “Tabu”, que deviam ser aplicadas para a segurança do grupo. Diante da transgressão de qualquer dessas normas surgia a reação instintiva de defesa, que correspondia á pena atual.
Destaque deve ser dado ao famoso Código de Hamurabi (Babilônia), do Imperador Hamurabi (1728-1686 a.C), que possuía dispositivo punindo o delito de corrupção praticado por altos funcionários públicos.
Possuindo alguns aspectos punitivos, também destaca-se a legislação de Moisés (séc. XVI a.C), parte integrante dos lIvros da Bíblia.
Confúcio (551-478 a.C) com a reflexão: “tem cuidado de evitar os crimes para depois não ver-te obrigado a castigá-los”, demonstra o conhecimento da pena como gravame á uma má ação, o que, induvidosamente, no mínimo, implica no entendimento de algo que, bem mais tarde, viria a ser preocupação da Criminologia.
b)Antiguidade grega (ou pagã)
Entre os gregos citam-se muitos pensadores que emitiram opiniões ou conceitos de inegável fundamento ou inspiração criminológica:
- Protágoras (485-415 a.C) sustentou o caráter preventivo da pena, falando no seu aspecto de servir de exemplo e não de expiação ou castigo, opinião que faz por conferir-lhe, talvez, a condição de precursor da Penologia, um dos ramos da Criminologia, que se ocupa com o fundamento e aplicação das penas como medida de repressão e defesa da sociedade.
- Sócrates (470-399 a.C), pregador e grande oráculo grego, possuvelmenteo homem mais importante que o mundo já conheceu mercê de sua sabedoria e humildade, e que, infelizmente, não legou nenhuma obra escrita para a posteridade, disse, através de Platão, divulgador de seus pensamentos, que “se devia ensinar aos indivíduos que se tornavam criminosos como não reincindirem no crime, dando a eles a instrução e a formação de caráter de que precisavam”.
Hipócrates (460-355ª.C), conhecido como o “Pai da Medicina”, em sua obra Aforismos, emitiu conceito irretorquivelmente criminológico, ao dizer que “todo o vício é fruto da loucura”, afirmando, pois, que “todo o crime é fruto da loucura”. O delito, para Hipócrates, era um desvio anormal da conduta humana.
- Platão (427-347 a.C), ao afirmar que “o ouro do homem sempre foi o motivo de seus males”, na obra A República, também emitiu conceito criminológico, ao pretender demonstrar que a ambição, a cobiça, a cupidez davam origem á criminalidade, ou seja, fatores econômicos são desencadeantes de crimes. Fundamentava a criminalidade em causas econômicas.
Apregoava, outrossim, Platão, que o meio, as más companhias, os costumes dissolutos, podem converter as pessoas inexperientes, os jovens , em criminosos. Portanto, o criminoso é um produto do ambiente.
Dizia que o criminoso era muito parecido com um doente, e que por isso, deveria ser tratado a fim de ser reeducado ou curado, se possível; e eliminá-lo do pais, se não fosse possível a cura. 
Platão foi o 1º a enfatizar o aspecto intimidativo da pena. Não se castiga porque alguém delinquiu, mas para que ninguém delinqua.
- Aristóteles, em sua obra Política, tal como Platão, fundamentava a criminalidade em causas econômicas. Também afirmava que os delitos maiores não são cometidos para adquirir o necessário, mas o supérfluo. Isto, podemos constatar na vida diária como uma verdade incontestável.
Em sua obra Retórica, Aristóteles estudou o caráter dos delinquentes, observando uma freqüente tendência á reincidência.
c) Idade Média
Inicia-se com a queda do Império Romano do Ocidente, em 476 d.C, quando os denominados povos bárbaros o conquistaram, até a tomada de Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente, pelos turcos, em 1453, durante, portanto, nove séculos.
Nesta época os escolásticos e os “doutores da igreja” não se preocupavam com o problema da criminalidade, até o surgimento de São Tomás de Aquino (1226-1274), aquele que viria a ser o grande criador da chamada “Justiça Distributiva” (que manda dar a cada um aquilo que é seu, segundo uma certa igualdade) e que, na Summa Contra Gentiles, afirmara que “a pobreza geralmente é uma incentivadora do roubo” e, na Summa Theológica, defendeu o chamado “furto famélico” que, nos dias atuais, na legislação penal brasileira, é consagrado como “estado de necessidade”, uma das quatro excludentes de crime.
No século XIII, Afonso X, O Sábio, no Código das 7 Partidas, dá uma definição de assassintao e fala do crimen proditorium (premeditado) e do crimen sicatorium (mediante remuneração).
Hoje, tais circunstâncias atuam como qualificadoras do delito de homicídio ou como agravantes: 
Vejamos.
Art. 121, § 2º, CP (Homicídio Qualificado)
I- mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe (crimen sicatorium)
IV- á traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima.
Art. 61 CP. São circunstancias que sempre agravam a pena, quando não constituírem ou qualificarem o crime:
II. ter o agente cometido o crime:
a) por motivo fútil ou torpe;
c) á traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima.
- Ciências Ocultas: Durante o período de transição da Idade Média para os chamados Tempos Modernos, ou seja, do século XIV ao século XVI, cita-se a influencia das denominadas “ciências ocultas” sobre as concepções do que viria a ser, bem mais tarde, conhecida como Criminologia.
Em seu livro, Manual de Criminologia, chamando-as de “pseudo-ciências”, Israel Drapkin relaciona as seguintes “ciências ocultas”: a Astrologia, a Oftalmoscopia, a Metoposcopia, a Quiromancia, a Fisiognomia, a Frenologia e a Demonologia. Vejamos cada uma delas:
- Astrologia: estuda o destino e o comportamento do homem pela movimentação das constelações localizadas na faixa do Zodíaco;
- Oftalmocospia: antecessora da Oftalmologia e da Irilogia, estuda o caráter do homem pela íris;
- Metoposcopia: estuda o caráter do indivíduo pelo exame e observação das rugas da fronte;
- Quiromancia: estuda o caráter do indivíduo com base na análise de seu passado, o que é feito pela “leitura” das linhas das mãos, prevendo, então, o futuro do indivíduo.
- Fisiognomia: estuda o caráter do indivíduo pelo traços fisionômicos (rosto).
- Frenologia: Originada da Fisiognomia, estuda o caráter do indivíduo pela conformação craneana. Recorda, á esse respeito, Israel Drapkin que, em Nápoles, o Marquês de Moscardi decidia, em última instância, os processos que até ele chegavam; a pena que sempre aplicava era de morte ou de prisão perpétua e terminava as sentenças com os seguintes dizeres: “ouvidas acusação e defesa e examinada a tua face e cabeça”, e prolatava, sem seguida, a sentença condenatória.
- Demonologia: estuda os indivíduos pretensamente possuídos pelo demônio. Esta ciência propiciou o aparecimento, na Idade Média, da Psiquiatria. Naquela época, eram considerados como possuídos pelo demônio os loucos e os portadores de alienação mental (esquizofrênicos, epiléticos, etc), que eram sistematicamente caçados e encarcerados, quando não sacrificados pelos terríveis Tribunais da Inquisição espalhados pelo mundo. O mau comportamento do homem ou a sua má conduta, era interpretado como um morbus diabolicus, uma enfermidade diabólica, e os acometidos por ela tinham por remédio a queima pelo fogo purificador de uma fogueira humana.
2ª)FASE DOS PRECURSORES DE LOMBROSO (RENASCIMENTO ATÉ 1875)
Antes do aparecimento de Lombroso, que dá início ao período da Antropologia Criminal, do século XV até 1875, houve uma enorme gama de autores que podem ser considerados precursores da Criminologia. Entre eles destacam-se:
1- Filósofos e pensadores, especialmente dos séculos XVI, XVII, XVIII;
2- Penólogos e penitenciaristas;
3- Fisiognomistas;
4- Frenólogos;
5- Psiquiatras e médicos de prisões.
1- Filósofos e pensadores:
a) Thomas Morus (1478-1535): publicou Utopia (obra de grande importância para estudos e consultas até os dias de hoje), onde descreve a enorme onda de criminalidade que assolava a Inglaterra nessa época. Em sua obra, Morus imaginava uma sociedade idílica (e essa era sua utopia), onde um governo organizado da melhor maneira proporcionaria boas condições de vida a um povo, que assim seria equilibrado e feliz. Morus dizia que em um país, quando o povo é miserável, a opulência e a riqueza ficam em poder das classes superiores e essa situação economicamente antípoda faz gerar um maior nº de crimes. Portanto, Morus já sinalizava o fator econômico como uma das causas da criminalidade. Morus propugnava por penas menos rigorosas e que elas fossem correspondentes á natureza dos delitos. Ele foi o 1º a expor a necessidade de graduar as penas proporcionalmente aos delitos.
b) Martinho Lutero: influenciador de muitas revoltas camponesas na Alemanha, foi o 1º autor a distinguir uma criminalidade rural e outra urbana.
c) Francis Bacon: admitia como causas determinantes da criminalidade, fenômenos socioeconômicos, no que foi acompanho por René Descartes.
2-Penólogos e Penitenciaristas
No início do século XVIII, não existiam propriamente prisões e as que havia mantinham-se em péssimas condições. Os juízes eram unilaterais e arbitrários. A confissão era a rainha das provas (regina probatione), obtida através de torturas. Os primeiros aspectos de prisões, que podem ser considerados como precursores das atuais, estabeleceram-se em Amsterdam (Holanda) em 1611. Os detentos eram submetidosà trabalhos forçados sem nenhuma utilidade prática, como moer pedras, extrair areia, etc. Contra este estado de coisas levantaram-se filósofos e humanistas, dentre eles:
a) Montesquieu: escreveu a famosíssima obra O Espírito das Leis (L’esprit des lois), onde proclamava que o bom legislador era aquele que se empenhava na prevenção do delito, não aquele que simplesmente se contentasse em castigá-lo. “Ao invés de funcionar como castigo, a pena deveria ter um sentido reeducador”, dizia ele.
b) Jean Jacques Rousseau: em sua obra de maior importância e divulgação, Contrato Social, assevera que, se o Estado for bem organizado,existirão poucos delinquentes e na obra Enciclopédia, diz que “a miséria é a mãe dos delitos”.
c) Voltaire: dizia que o roubo e o furto são os delitos do pobre. Foi um dos primeiros a advogar o trabalho para os apenados.
d) Jeremias Bentham: é o criador da doutrina do “utilitarismo, cujo lema é: “o maior bem estar para o maior número”. Nesta doutrina está envolvida a maior parte dos princípios da profilaxia da criminalidade. Bentham foi o 1º a referir-se á certas medidas preventivas do delito (substitutivos penais).
e) John Howard: preocupou-se com especial devoção à melhoria das prisões. Visitou inúmeras prisões pela Europa, vindo a falecer de uma peste que adquiriu em uma delas. Escreveu uma importante obra sobre as prisões, denominada “The state of prison”, O Estado das Prisões. Howard é considerado o criador do sistema penitenciário.
f) César Bonesana, “Marquês de Beccaria” (1738-1794):
Escreveu a famosa obra Dos Delitos e das penas (Dei Delliti, Delle Pene), obra clássica e de leitura obrigatória nos dias atuais à todos aqueles que se interessam por criminologia.
Beccaria nasceu em Milão, Itália, e teve a audácia, aos 27 anos de idade, de afrontar os costumes penais e as arbitrariedades da Justiça Criminal de seu tempo, publicando a obra Dos Delitos e das Penas na cidade de Livorno, de forma clandestina, temendo possíveis represálias. Tal livro causou muito impacto, sendo veemente atacado por todos aqueles que, de uma forma ou de outra, foram por ele atingidos ou porque não concordassem com suas proposições.
Sua obra é um protesto contra o injusto, cruel e arbitrário procedimento da Justiça Criminal. Em um dos capítulos finais, dizia: “Para que todo o castigo não seja um ato de violência exercido por um só ou por muitos contra um cidadão, deve essencialmente ser público, pronto, necessário, proporcional ao delito, ditado pelas leis e o menos rigoroso possível, atendidas todas ascircunstancias do caso”.
Seus principais postulados são:
- A atrocidade das penas opõe-se ao bem público (Princípio da humanização das penas);
- As acusações não podem ser secretas (Princípio da Publicidade);
- As penas devem ser proporcionais aos delitos (Princípio da Proporcionalidade das Penas);
- As penas devem ser moderadas;
- As penas devem ser previstas em lei (Princípio da Legalidade, da Anterioridade ou da Reserva Legal);
- Somente os magistrados é que podem julgar os acusados (Princípio da Jurisdicionalidade);
- Não se pode admitir a tortura do acusado por ocasião do processo (Princípio da Proibição de tortura, da Humanidade e da Dignidade);
- O réu jamais poderá ser considerado culpado antes da sentença condenatória (Princípio da Presunção de Inocência);
- Mais útil que a repressão penal é a prevenção dos delitos;
- Não tem a sociedade o direito de aplicar a pena de morte nem de banimento.
- O objetivo da pena não é atormentar o acusado e sim impedir que ele reincida e servir de exemplo para que os outros não venham a delinqüir;
3- Fisiognomistas:
Trata-se de uma ciência que procura estudar o indivíduo pela análise de suas expressões fisionômicas, ou seja, de seu rosto. Entre os principais fisiognomistas, destaca-se Charles Darwin(1809-1822), criador da famosa “Teoria da Evolução” (a evolução modifica o homem), e que trouxe inegável importância no que diz respeito á origem do homem, sendo que suas idéias foram influências para Lombroso, sobretudo quando este aborda sobre o atavismo, o qual é um conceito darwiniano.
4 - Frenólogos:
A Frenologia é uma ciência que estuda o indivíduo não só com base nas expressões fisionômicas, mas, também, com base na configuração do crânio. O criador da Frenologia tem sido Joseph Gaspard Lavater, porém, mais importante que ele para a Frenologia, é Johan Frans Gall, que foi o 1º a relacionar a personalidade do delinqüente com a natureza do delito por ele praticado.
5- Psiquiatras e Médicos de Prisões:
Eles foram verdadeiros precursores de Lombroso em sua tarefa de estudar o delinquente. Entre os psiquiatras devemos mencionar como grande figura de Felipe Pinel (1745-1826), criador da moderna Psiquiatria, que foi o 1º que conseguiu elevar o alienado da situação de pátria (excluído) á categoria de doente. Antes dele, o louco era considerado possuído pelo demônio e era acorrentado, torturado e banido do país.
2ª - ESCOLA POSITIVA: Estuda as causas do crime. Afirma que este é o resultado de deformações e malformações congênitas, biológicas, físicas e psicológicas. O homem delinque não porque quer e sim porque é doente. Logo, a pena, aqui, não é castigo, e sim, tratamento. O homem é um criminoso nato, já nasce com tendência a delinquir, a violar as leis e é identificado pelo seu perfil físicobiológico.
Este período é conhecido como Período da Antropologia Criminal ou Período de Lombroso.
Vejamos:
PERÍODO DA ANTROPOLOGIA CRIMINAL (LOMBROSO - 1875-1890)
a) LOMBROSO:
Lombroso foi o criador da chamada Antropologia Criminal (ou Biologia Criminal, como a consideram os alemães), ciência que difere-se da Antropologia Geral, pois não estuda apenas o ser humano, mas sim o ser humano delinquente, ou seja, o homem criminoso, procurando analisar, também, os fatores individuais do crime (nele compreendendo os endógenos e os exógenos).
Conhecer o homem é conhecer a razão humana, a essência dessa razão, o que o move através da História. Afinal, como dizia Marx, “o primeiro objeto do homem é o homem”. 
Lombroso preocupou-se com esses aspectos da História humana e estudou o homem, que através de suas ações, de seu comportamento, é considerado delinquente e, a esse homem, Lombroso conferiu caracteres morfológicos, como saliente em sua obra L’uomo Delinqüente, onde diz: “o estudo antropológico sobre o homem criminoso deve necessariamente basear-se nas suascaracterísticas anatômicas”.
Lombroso nasceu em 1835, em Verona. Na juventude foi estudante de Medicina, havendo interessado-se especialmente pela Psiquiatria. Apenas formou-se em Medicina, ingressou no exército como médico militar e ao visitar os cárceres teve o primeiro contato com os criminosos. Depois ingressou nas prisões para criminosos alienados, chegando a ser médico do “manicômio judiciário” de Pesaro, onde praticou a autópsia em grandes delinquentes da Calábria e Sicília, chamados “grassatori”, tendo examinado muitos destes. O primeiro que lhe chamou a atenção foi um tal de Vilella, em cuja autópsia observou uma terceira fosseta occipital. Esse foi o “eureca” de Lombroso.
Essa fosseta dá origem á sua teoria do “atavismo”, porque também é encontrada em alguns crânios de homens primitivos.
De 1871 a 1876, Lombroso continua trabalhando com esses elementos e publica uma séria de folhetos sob o nome de “L’uomo Delinqüente”, que adquiriram tam importância e desenvolvimento, que a 6ª edição, publicada em Turim, em 1901, compreende 4 volumes e 1 atlas.
Lombroso é considerado o “Pai da Criminologia Moderna”. Seu grande mérito foi ter desviado a atenção da Justiça para o homem que delinqüe.
- Teoria de Lombroso:
Lombroso criou a “teoria do criminoso nato”, ou seja, um indivíduo que já nasce criminoso segundo seu aspecto físico, suas mal formações congênitas. Assim, para Lombroso, o criminoso já nasce criminoso, ou seja, é um delinquente nato, de acordo com sua aparência externa, biológica, antropológica. Ou seja, o criminoso, para Lombroso,tem cara de criminoso e já nasce com essa cara.
O criminoso nato se explica, segundo esta teoria, pelo chamado “atavismo” que é o aparecimento, em um descendente, de um caráter não presente em seus ascendentes imediatos, mas sim em remotos, como por exemplo, se um membro de determinada família apresente uma polidatilia, que é a anomalia congênita de possuir dedos a mais que o normal, e não existir nessa família ninguém nas mesmas condições, dir-se-á que é uma malformação atávica. Lombroso chegou ao atavismo após fazer a autópsia no cadáver de Vilella, onde encontrou a terceira fosseta occipita lou média, a qual é encontrada também, em alguns crânios de homens primitivos.
Lombroso julgou, também, ter encontrado relação entre a epilepsia e a chamada “moral insanity” (insanidade moral), ou seja, para ele todo o epilético era um criminoso nato e, pois, um doente mental.
Segundo Lombroso, no delito epilético há algumas características que o distingue:
- Ferocidade e multiplicidade extraordinária das lesões. O delinqüente epilético não provoca somente um ferimento, mas muitos;
- O delinquente epilético não tem cúmplices; age sozinho, pois o faz fora de si;
- Perde a lembrança do ato, esquece-o; pode lembrá-lo, ás vezes, porém, com imprecisão.
- Características do homem delinquente para Lombroso:
Lombroso, foi no fundo, um fisiognomista, pois imaginou ter encontrado, no criminoso, em sentido natural-científico, uma variedade especial de homo sapiens, que seria caracterizada por sinais (stigmata) físicos e psíquicos. Tais estigmas do criminoso nato, foram classificados em “taras”.
Vejamos:
1-Taras Anatômicas: São estas:
- Fosseta occipital mediana (um pequeno crânio e, portanto, uma cabeça igualmente pequena). Acreditava, Lombroso, que quanto menor o volume e o peso do cérebro menos inteligência o indivíduo tinha e, portanto, seria um criminoso;
- Maxilar inferior procidente (mandíbula grande);
- Molares muitos grandes (dentuço);
- Orelhas de abano;
- Fartas sobrancelhas;
- Dessimetria corporal;
- Grande envergadura dos braços e dos pés, etc.
2-Taras Degenerativas Fisiológicas (funcionais) - São estas:
- Daltonismo;
- Mancinismo (surdez);
- Insensibilidade á dor (tatuagens);
- precocidade sexual, etc.
Ao observar as tatuagens, chegou á conclusão rápida de que em vista das tatuagens, os delinqüentes teriam insensibilidade á dor, já que os delinqüentes seriam, em sua imensa maioria, tatuados.
3-Taras Psicológicas – São estas:
- Vaidade;
- Ações impulsivas;
- Tendências alcoólicas;
- Negligência;
- Superstições;
- Uso de gírias;
- Imprevidência;
- Crueldade;
- Instabilidade;
- Indolência, etc.
Classificação do homem delinqüente para Lombroso:
Cesare Lombroso classificava os criminosos consoante se segue:
- Criminoso nato: era por ele encontrado entre 30% e 35% da massa delinquente, ou seja, num termo médio de 33%.
- Criminalóide: conceito puramente lombrosiano, que se refere ao meio delinquente, similar ao “meio louco”. Considerava-se aqui, os pseudo-delinquentes que já tivessem tido contato nos cárceres com os criminoso natos e que já não podiam ser considerados pseudo-delinquentes, porque já possuíam certa malícia criminal.
Nos seus estudos para definir o criminoso nato, Lombroso primeiro o comparou á um selgavem, por ser a conduta do criminoso nato parecida com a dos homens das cavernas; depois comparou-o com a criança, baseado no egocentrismo desta, por sua vaidade e egoísmo. Mais tarde, sem abandonar essas teorias, referiu-se á loucura moral e, somente no final dos estudos, focalizou a epilepsia.
Consequências da teoria de Lombroso
As consequências da teoria lombrosiana foram, em sua época, extraordinárias. Não houve ramo do Direito Penal onde não se fez sentir-se a influencia da teoria de Lombroso. Estremeceu o edifício do Dto. Penal até os seus alicerces.
Sustentava que ao criminoso nato, por sua própria natureza, não cabia a aplicação de pena, e se é encarcerado, comete-se uma injustiça, porque para Lombroso o criminoso nato é um doente.
Foi Lombroso quem 1º falou da necessidade de segregá-lo da sociedade, isolando-o, para que deixasse de ser perigoso, quer dizer, torná-lo inofensivo. Esta seria uma medida preventiva, como as que agora são adotadas relativamente aos alienados (medidas de segurança).
Lombroso recomenda certos tipos de penas para o criminoso, como duchas frias, trabalhos pesados, exercícios exaustivos; porém, prescreve de forma categórica o uso da tortura. Para os alienados recomendava o “manicômio judiciário”. Para os velhos, propunha a internação em hospícios, não aceitando para eles a prisão, por considerá-los incapazes de continuar cometendo delitos. Só aceitava a pena de morte em casos graves, por julgá-la muito dolorosa.
No campo da Política Criminal, a contribuição mais importante de Lombroso, foi recomendar a segregação do delinquente como defesa social, mesmo antes que cometa seus delitos, quer dizer, enuncia o conceito de periculosidade pré-delituosa. Dizia Lombroso que, diante de um delinqüente nato, não se deve esperar que este cometa um delito, mas deve ser segregado da sociedade antes que o faça.
Críticas à teoria de Lombroso
Após um certo período de apogeu (sobretudo com a publicação de sua famosa obra O Homem Delinquente), os adversários de suas ideias, a começar por seu sucessor na cátedra da Universidade de Turim, Francesco Carrara e outros integrantes da chamada Escola Clássica de Direito Penal (Filangieri, Fuerbach, etc) trouxeram à colação todos os aspectos falhos da Antropologia Criminal, culminando, através de inúmeras pesquisas que empreenderam, por fulminarcom a figura do criminoso nato.
Principais críticas feitas á teoria de Lombrosiana:
1ª- Avaliar a criminalidade com base na aparência física. Para Lombroso, todo o indivíduo que tivesse as características já mencionadas era um criminoso nato. Contudo, é certo que há delinqüentes que apresentam os traços lombrosianos; mas também encontramos esses traços em homens inteligentes não delinquentes, ou mesmo em débeis mentais não delinquentes, como também, há criminoso que não apresentam tais traços. As características anatômicas das anormalidades morfológicas são próprias tanto dos delinquentes como dos não delinquentes;
2ª- Avaliar a criminalidade com base na epilepsia. Para Lombroso, todo o epilético era um criminoso em potencial. Comprovou-se haver epiléticos delinquentes, da mesma maneira que não delinquentes;
3ª- Avaliar a criminalidade com base em taras degenerativas (daltonismo, surdez, precocidade sexual, tatuagens, etc.) ou taras psicológicas (vaidade, crueldade, uso de gírias, tendências alcoólicas, etc). Se é verdade que nos criminoso observam-se muitas destas taras, não é menosverdade que há indivíduos normais que também as apresentam e criminosos que não apresentam nenhuma.
4ª- Declarar a incapacidade de reeducação e readaptação do homem “tarado” (delinquente). No entanto, atualmente sabemos que quando essas “taras” são desviadas a tempo, podem ser evitadas e é possível conseguir-se a readaptação e reeducação dos tarados.
Não obstante as inúmeras críticas que são feitas, a teoria de Lombroso tem o mérito extraordinário – que imortalizará seu nome- de haver desviado a atenção do fato delituoso para o homem delinquente.
b) ENRICO FERRI (1856-1929)
Publicou sua obra Sociologia Criminal em 1914, sendo considerado o criador da Sociologia Criminal, malgrado esteja ele incluído na Escola de Antropologia Criminal, até porque, foi o que mais fez pelo prestígio da Antropologia Criminal.
Enrico Ferri deu relevo não só aos fatores biológicos, como também aos sociológicos, além dos físicos. Salientou, ele, a existência do trinômio causal do delito, composto por fatores antropológicos, sociais e físicos.
Foi também quem 1º classificou as causas dos delitos em três grupos: biológicas, físicas e sociais:
- Causas Biológicas: a herança, a constituição genética, etc;
- Causas Físicas: omeio ambiente (clima, umidade, etc);
- Causas Sociais: o ambiente social.
Agrupa, pois, os fatores mencionados em 2 grupos: endógenos e exógenos.
- Endógenos: causas biológicas
- Exógenos: causas físicas e sociais.
A polêmica mais importante que se originou foi estabelecer quais os fatores que mais influem na conduta do indivíduo criminoso: os endógenos ou os exógenos? O criminoso nasce ou é feito? Lombroso, Ferri e Garófalo eram partidários dos fatos endógenos (ele nasce criminoso).
Para Ferri o importante não é castigar e sim prevenir.
Ferri teria sido o criador da expressão “criminoso nato”, isto em 1881. É o que ele próprio admite em seu livro “Os Criminosos na Arte e na Literatura”, onde, em determinado trecho, expõe: “os delinquentes a que eu dava, em 1881, o nome de criminosos natos”.
Classificação do homem delinquente para Ferri:
Classificou os criminoso em 5 tipos, a saber:
- Nato: tipo instintivo de criminoso, descrito por Lombroso,com seus estigmas de degeneração;
- Louco: não só o alienado mental, como, também, os semi-loucos, os fronteiriços;
- Ocasional: aquele que eventualmente comete um delito;
- Habitual: o indivíduo que faz do crime a sua profissão;
- Passional: aquele que é levado ao crime pelo ímpeto, pelo arrebatamento. Cometem o delito impulsionados por uma paixão que explode como cólera, em virtude de um amor contrariado, de uma honra ofendida. Geralmente são mulheres e cometem o crime sem premeditação. São indivíduos que têm alguma coisa de louco.
c) RAFAEL GARÓFALO (1852)
O magistrado Garófalo foi o criador do termo “Criminologia”, para quem seria a ciência da criminalidade, do delito e da pena.
Em razão de sua orientação naturalista e evolucionista, o ponto de partida de sua doutrina é a conceituação do que chamou de “delito natural”. Examinou em sua obra, também, a classificação de criminosos, que acabou por formular. Seu livro data de 1884, já com o nome de Criminologia.
Garófalo era um jurista, tendo sido ministro da Corte de Apelação de Nápoles. Elaborou sua concepção de delito natural partindo da idéia lombrosiana do criminoso nato e, assim sendo, afirmava que, se existia um criminoso nato, deveria, necessariamente, existirem delitos que fossem considerados como tal, em qualquer lugar ou época.
Para chegar á definição de delito natural, Garófalo procurou a parte mais profunda e essencial dos sentimentos humanos.
Observou que tanto Lombroso como Ferri evitaram definir o que consideravam delito. Garófalo propôs-se a isto. Passou a observar grupos sócias de diferentes épocas e chegou á conclusão de que o conceito de delito era completamente diferente entre povos distintos. Assim, o fato de causar a morte de um indivíduo, que é o crime de homicídio, em outras épocas foi somente um costume.
Em vista disto, encaminhou suas investigações em outro sentido, buscando quais éramos sentimentos indispensáveis para a conveniência social e chegou á essa conclusão: são indispensáveis a piedade e a probidade, definindo, então, o seu “delito natural”:
- Delito Natural: “Ofensa aos sentimentos altruístas fundamentais de piedade e probidade, namedida média em que os possua um determinado grupo social”.
Classificação do homem delinqüente para Garófalo:
Baseado nesse conceito, Garófalo fez a sua própria classificação dos delinqüentes:
- aqueles que vão contra o sentimento de piedade: assassinos.
- aqueles que vão contra o sentimento de probidade: os ladrões.
- aqueles que atentam contra ambos os sentimentos: os salteadores, “grassatori”.
- aqueles que atentam contra os costumes: criminoso sexuais ou cínicos.
Para Garófalo, há duas maneiras de se tratar os delinqüentes:
- Os que cometem delitos legais, estabelecidos em textos positivos como Códigos, regulamentos,etc: bastaria uma simples advertência e a obrigação de reparar o dano;
- Os que cometem delitos naturais, ou seja, próprios de criminosos natos: pena de morte ou expulsão do país.
Tais fatores levantaram uma onda de indignação contra ele.
4º - ESCOLA SOCIOLÓGICA (1890-1905): O crime é produto do meio social, sobretudo de fatores econômicos.
O período sociológico compreende todas as teorias que se ergueram para combater a teoria lombrosiana, calcada nos fatores endógenos como causadores de criminalidade, ao passo que, as doutrinas sociais e do meio ambiente, sustentavam que os fatores exógenos eram efetivamente os mais importantes ocasionadores do delito.
A Sociologia Criminal surgiu em meados do século XIX e teve a influência de Augusto Comte e Adolphe Quetelet.
a) Augusto Comte:
É considerado o fundador da Sociologia Moderna (ciência abstrata que tem por fim a investigação de leis gerais que regem os fenômenos sociais).
b) Adolphe Quetelet:
Foi o criador da Estatística Científica, dando origem ao aparecimento da Estatística Criminal.
Escreveu Física Social, em 1835, no qual formula 3 princípios:
- o delito é um fenômeno social;
- os delitos se cometem ano após ano com total precisão;
- vários fatores influenciam no cometimento do crime, como a miséria, o analfabetismo, o clima, etc.
Fulcrado nesses 3 princípios, ele estabeleceu as chamadas “Leis Térmicas de Quetelet:
I- no inverno se cometem mais delitos contra a propriedade, donde se deduz que nesta época do ano são maiores as necessidades para a sobrevivência do homem;
II- no verão se cometem mais crimes contra a pessoa, devido á efervescência maior das paixões humanas, provocada pelo aquecimento pelo sol;
III- os delitos sexuais são mais freqüentes na primavera, considerando a exacerbação da atividade sexual nessa época.
Doutrinas sociais que prevaleceram nesse período:
1º) Teorias Antropo-Sociais
Pretendem relacionar, de certo modo, os princípios de Lombroso com os sociais.
Segundo estas teorias, o meio social influi sobre o delinqüente antropologicamente nato, predispondo-o á cometer delitos. Entendem que o criminoso pode nascer comcerta predisposição ao crime, porém, sem chegar a aceitar o delinqüente nato, preferindo o termo “predisposto”.
Assim, aceitam a influencia de fatores endógenos que predispõe o indivíduo a cometer crimes.
São tais teorias sustentadas por Lacassagne e Manouvrier.
- Lacassagne , no primeiro Congresso de Antropologia Criminal de Roma, em 1885, combateu as teorias lombrosianas. Escreveu duas obras de importância, as quais têm repercussão, até hoje, em todo o mundo.
A primeira enunciava: “À maior desorganização social, maior criminalidade; á menor desorganização social, menor criminalidade”.
Foi o autor dessa conhecida frase: “As sociedades têm os criminosos que merecem”.
Na segunda, comparava a sociedade com um meio de cultivo, e afirmava que “a sociedade é um meio de cultivo que abriga em seu seio uma série de micróbios que são os delinqüentes e que estes não desenvolverão se o meio não lhes for propício”.
Resumindo, podemos dizer que para Lacassagne, os fatos sociais atuam sobre o sujeito “predisposto”; substituiu o conceito de nato pelo de predisposto.
- Manouvrier : Professor de Antropologia da Universidade de Paris, não tem outro mérito que não seja ter sido o braço direito de Lacassagne na sua luta contra as doutrinas de Lombroso.
2ª) Teorias Sociais Propriamente Ditas
É eliminado todo o fator endógeno e se dá importância exclusiva aos fatores exógenos (meio social), ou seja, o criminoso não nasce criminoso, mas transforma-se em um por influencia do meio social. Dentre os vários autores destaca-se Gabriel Tarde.
- Gabriel Tarde publicou 3 obras importantíssimas: “A Criminalidade Comparada”, publicada em 1886, “As Leis da Imitação”, publicada em 1890 e “A Filosofia Penal”, publicada em 1890.
“A Criminalidade Comparada”: Tarde demonstra que há indivíduos que são inadaptáveis ao meio em que vivem e essa inadaptação decorre de 3 causas:
- A inércia (dolce far niente);
- A facilidade de reações impulsivas: por falta de convivência social;
- A incapacidade para um trabalho regular e sistemático:a rotina da nossa época é algo que destrói ao indivíduo melhor organizado. Nunca se enfatizou o quanto a rotina influi em nós. Temos que possuir uma constituição especial, sujeita a um conceito moral e um respeito extraordinário pela comunidade para que possamos viver neste mundo.
“As Leis da Imitação”: Tarde diz que a delinqüência é um fenômeno fundamentalmente social e que o moto que ativa o conglomerado social é a imitação. Observou o seu mundo contemporâneo, verificando que 90% das pessoas não possuem espírito de iniciativa. Os restantes 10% são os que possuem alguma iniciativa e, somente 1% têm espírito verdadeiramente inovador. O restante, ou seja, a esmagadora maioria, seja por fraqueza, seja por incapacidade de afastar-se do meio, seja por comodismo, não é capaz de sobrepor-se ás forças centrípedas que dominam o meio social.
“A Filosofia Penal”: Tarde sustenta que a responsabilidade penal baseia-se em dois elementos: a identidade pessoal e a semelhança pessoal.
1-Identidade Pessoal – somente pode ser considerado penalmente responsável quem guarde semelhança estreita entre o ato cometido e a sua personalidade, ou seja, quem antes, durante ou depois do delito seja o mesmo sujeito. Se um indivíduo apresenta, depois do delito, uma falta de similitude com a sua personalidade anterior ao delito, não é um indivíduo normal e estaremos diante de um provável transtorno mental. Este em sido o conceito que tem servido de base para a fixação das circunstancias atenuantes da responsabilidade criminal que os Códigos estabelecem em favordos alienados.
2-Semelhança Social: não pode ter responsabilidade penal o indivíduo que não tem relação com o grupo social em que convive, como o inadaptado, que possui um instinto impulsivo irrefreável e que não mantem nenhuma conexão com o grupo. Para o inadaptado social propõe medidas preventivas.
3ª) Teorias Socialistas
O século XIX caracteriza-se pelo aparecimento da mecanização (Revolução Industrial) e começa-se a estudar a influencia das máquinas e da economia na delinquencia.
A doutrina de Lacassagne de que “cada sociedade tem os criminosos que merece”, foi transformada pela doutrina de Karl Marx de que ”cada sistema de produção tem os delinqüentes que merece”. É o método de produção que dá uma modalidade própria á criminalidade.
A miséria, a pobreza, para os teóricos socialistas tem influencia na criminalidade, mas o que lhes interessa é a influencia do sistema econômico em geral, e não um aspecto parcial.
Pregam que um sistema econômico no qual houvesse uma melhor distribuição de riqueza e um máximo de estabilidade do próprio regime, excluiria a criminalidade.
4ª) Período da Política Criminal (1905 até o dias atuais).
A característica especial desse período é uma espécie de trégua na discussão inflamada entre as escolas italiana e francesa sobre as teorias lombrosianas.
A escola italiana (positivista) baseando o crime apenas em fatores endógenos e a escola francesa (socialista) baseando o crime apenas em fatores exógenos.
Essa trégua se manifestou em várias escolas, tais como:
1- A Terza Scuola;
2- A Escola Espiritualista;
3- A Escola da Política Criminal, que é a que dá o nome á esse período da Criminologia.
4- Criação dos Institutos de Criminologia e Gabinetes Penitenciários de Antropologia
5- Criação de Organismos Internacionais
1- A Terza Scuola:
É uma escola de Direito Penal e apresenta e postulados:
- Que o Dto. Penal deve manter-se como ciência independente, de vez que a teoria lombrosiana tinha a tendência de incluí-lo dentro da Criminologia.
- Que o delito tem várias causas, tanto endógenas como exógenas;
- Que os penalistas, junto com os sociólogos, devem fazer o possível para obter as reformas sociais mais necessárias, tendentes a modificar as condições em que vive a massa.
2- A Escola Espiritualista:
Sustenta que cada indivíduo tem o livre arbítrio de fazer o que lhe dá prazer, ou seja, prevalece apenas a vontade própria de cada indivíduo, sem qualquer limitação.
Esse conceito não foi aceito e logo surgiu a escola Neo-Espiritualista.
- Escola Neo-Espiritualista: Afirma que se é verdade que o homem tem liberdade, ela não existe no sentido amplo, mas tem certas limitações impostas pelo meio ambiente. A liberdade é um conceito filosófico e político, que analisado com critério realista, nos demonstra que somos escravos da hora, do dever, das conveniências sociais, da rotina, dos comentários alheios, etc.
3 - A Escola da Política Criminal:
A Política Criminal é de proporções tão vastas, que se pode chegar a confundi-la com a prórpia Criminologia.
Vejamos algumas definições de Política Criminal:
- Quintiliano Saldanã: “Política Criminal é o estudo científico da criminalidade, suas causas e os meios para combatê-la”.
- Manzini: “Política Criminal é o conjunto de conhecimentos que podem levar a realizar um plano real e não utópico”. (Tratado de Direito Penal)
- Feuerbach: “ Política Criminal é o saber legislativo do Estado em matéria de criminalidade”.
- Guillerno Portella: “Política Criminal é o conjunto de ciências que estudam o delito e a pena, com o fim de descobrir as causas da delinqüência e determinar seus remédios”.
- Franz Von Liszt: “Política Criminal é o conjunto sistemático de princípios, segundo os quais o Estado e a sociedade devem organizar a luta contra o crime”. Liszt é considerado o “Pai da PolíticaCriminal”, tendo publicado importante obra (Princípios de Política Criminal) em 1889.
Vemos, portanto, que de acordo com o exposto pelos autores:
“Política Criminal nada mais é que os princípios, produtos da investigação científica e da experiência sobre os quais o Estado deve se basear, para prevenir e reprimir a delinqüência”.
Há discussões á respeito da origem da Política Criminal. A tendência mais aceita é ser atribuída á Von Liszt, por ter este determinado com maior exatidão o que é Política Criminal; mas, a denominação “Política Criminal”, aparece escrita muito anteriormente á Von Liszt e Feuerbach.
Diversos autores trabalharam com Política Criminal, dentre eles:
- Na Itália: Beccaria, Manzini, Filanghieri
- Na França: Voltaire
- Na Inglaterra: Jeremias Bentham
- Na Alemanha: Franz Von Liszt e Feuerbach.
Diferenças entre Política Criminal e Criminologia:
Embora ambas sejam muito parecidas, não devem, pois, serem confundidas.
- Criminologia: estuda as causas da criminalidade, o delinqüente e procura a maneira de readaptá-lo.
- Política Criminal: é um ramo do Direito Penal. Não estuda o delinqüente, deixando isto á cargo da Criminologia. Baseia-se nos resultados obtidos por esta para elaborar os meios de repressão e prevenção á delinqüência. Baseia-se, também, na Antropologia Criminal (que estuda o delinqüente) e na Estatística Criminal (que traduz em cifras os fenômenos da criminalidade num determinado espaço de tempo). Assim, a Política Criminal é a aplicação pelo Estado das medidas necessárias para a prevenção e repressão da criminalidade, ou seja, a aplicação das medidas que fluem da investigação científica do fenômeno da criminalidade. A liberdade condicional, a liberdade provisória, a proteção á infância, etc. são resultados práticos dos princípios da Política Criminal.
4 - Criação dos Institutos de Criminologia e Gabinetes Penitenciários de Antropologia
O 1º Instituto de Criminologia do mundo foi criado em 1906, em Buenos Aires, pelo médico argentino José Ingenieros e pelo Diretor da Penitenciária de Buenos Aires, Antônio Ballvé. Já o 1º Gabinete Penitenciário de Criminologia foi fundado na Bélgica, por Luis Vervaeck.
5 - Criação de Organismos Internacionais
- União Internacional de Direito Penal: Pretendeu uma posição eclética. Aceitava o delito como um fenômeno natural e social, admitindo a influencia dos fatores endógenos e exógenos. Não era adepto do conceito do delinqüente nato, mas da “predisposição”, da qual falavam os defensores da Escola Francesa.
- Comissão Internacional Penal e Penitenciária:

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