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Focus Concursos NOÇÕES DE DIREITO PENAL Conflito Aparente de Normas Parte I

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Direito Penal | Material de Apoio 
Professor Antonio Pequeno.
CONFLITO APARENTE DE NORMAS PENAIS 
1- CONCEITO:
Segundo Guilherme de Souza Nucci: “É a situação que ocorre quando ao mesmo fato parecem ser aplicáveis duas ou
mais normas, formando um conflito apenas aparente entre elas”.
Já para o Professor Cleber Masson: “Ocorre quando a um único fato se revela possível, em tese, a aplicação de dois
ou mais tipos legais, ambos instituídos por leis de igual hierarquia e originárias da mesma fonte de produção, e
também em vigor ao tempo da prática da infração penal”.
2- PRESSUPOSTOS DO CONFLITO APARENTE DE NORMAS
A) UNIDADE DE FATO
B)PLURALIDADE DE NORMAS SIMULTANEAMENTE VIGENTES.
3- FINALIDADE
A) ASSEGURAR A HARMONIA E A COERÊNCIA DO SISTEMA E, AO MESMO TEMPO,
B) EVITAR A POSSIBILIDADE DO “BIS IN IDEM” QUE PODERIA OCORRER CASO DUAS NORMAS INCIDISSEM SOBRE O
MESMO FATO.
4- PRINCÍPIOS PARA SOLUÇÃO DO CONFLITO APARENTE
A) PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE - Cuida-se daquela lei cuja previsão reproduz, de modo expresso ou elíptico, a da
lei geral, tornando-a especial pelo
acréscimo de outros elementos, denominados especializantes. Visualiza-se na especialidade uma relação lógica de
dependência própria de uma situação de subordinação legislativa, eis que toda conduta que atende ao tipo especial
realiza também, necessariamente e de forma simultânea, o crime previsto na lei geral, o que não ocorre em sentido
diverso. Há entre as leis relação de gênero e espécie, ou seja, todos os elementos descritos pela lei geral são
reproduzidos pela lei especial. Por tal razão a primeira é excluída quando comparada com a última. O princípio da
especialidade impõe sejam os delitos genérico e específico praticados em absoluta contemporaneidade, no mesmo
contexto fático. As disposições genérica e específica podem ser integrantes de um mesmo diploma legal (ex.:
homicídio – art. 121 do CP – e infanticídio – art. 123 do CP) ou constar de leis distintas (ex.: contrabando – art. 334-A
do CP – e tráfico internacional de drogas – art. 33, caput, da Lei 11.343/2006). As leis podem ter sido promulgadas
ao mesmo tempo ou em épocas diversas, e, nesse caso, tanto pode ser posterior a lei geral como a especial. Sua
aferição se estabelece em abstrato, ou seja, para saber qual lei é geral e qual é especial, prescinde-se da análise do
fato praticado. É suficiente a comparação em tese das condutas definidas nos tipos penais. Finalmente, a lei especial
pode contemplar crime mais grave ou menos grave do que o previsto na lei geral. A questão não repousa na
gravidade, e sim na especialidade.
B) PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE - Estabelece que a lei primária tem prevalência sobre a lei subsidiária (lex
primaria derogat legi subsidiarie). Há subsidiariedade entre duas leis penais quando se trata de estágios ou graus
diversos de ofensa a um mesmo bem jurídico, de forma que a ofensa mais ampla e dotada de maior gravidade,
descrita pela lei primária, engloba a menos ampla, contida na subsidiária, ficando a aplicabilidade desta
condicionada à não incidência da outra. O crime tipificado pela lei subsidiária, além de menos grave do que o
narrado pela lei primária, dele também difere quanto à forma de execução, já que corresponde a uma parte deste.
Assim, a lei subsidiária exerce função complementar diante da principal. De fato, somente se aplica quando esta
última (lei principal) não puder incidir no tocante ao fato punível. Corolário disso, ao contrário do que se opera na
especialidade, aqui o fato tem de ser apreciado em concreto, para aferir qual a disposição legal em que se enquadra.
Na subsidiariedade não existem elementos especializantes, mas descrição típica de fato mais abrangente e mais
grave. Na hipótese de restar configurada a lei primária, instituidora de fato apenado mais gravemente, jamais terá
incidência a lei subsidiária, com conduta sancionada mais levemente. Esta somente será utilizada na impossibilidade
daquela, atuando como verdadeiro “soldado de reserva”
B.1) SUBSIDIARIEDADE EXPRESSA OU EXPLÍCITA - nas situações em que este caráter é declarado pela própria lei
(exemplo: CP, art. 163, parágrafo único, II)
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B.2) SUBSIDIARIEDADE TÁCITA OU IMPLÍCITA - nas hipóteses em que a lei não declara expressamente seu caráter 
subsidiário, mas esta circunstância é extraída da análise do caso concreto, a exemplo da relação entre estupro (CP, 
art. 213) e constrangimento ilegal (CP, art. 146). 
 
C) PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO OU ABSORÇÃO - De acordo com o princípio da consunção, ou da absorção, o fato mais 
amplo e grave consome os demais fatos menos amplos e graves, os quais atuam como meio normal de preparação 
ou execução daquele, ou ainda como seu mero exaurimento. Por tal razão, aplica-se somente a lei que o tipifica: lex 
consumens derogat legi 
consumptae. A lei consuntiva prefere a lei consumida. Pressupõe, entre as leis penais em conflito, relação de magis 
para minus, ou seja, de continente para conteúdo, de forma que a lei instituidora de fato de mais longo espectro 
consome as demais. Como decorrência da sanção penal prevista para a violação do bem jurídico mais extenso, 
torna-se prescindível e inaceitável a pena atribuída à violação do bem jurídico mais restrito, evitando-se a 
configuração do bis in idem, daí decorrendo a sua indiscutível finalidade prática. Seus fundamentos são claros: o bem 
jurídico resguardado pela lei penal menos vasta já está protegido pela mais ampla, e a prática de um ilícito definido 
por uma lei penal é indispensável para a violação de conduta tipificada por outra disposição legal. Ao contrário do 
que se dá no princípio da especialidade, aqui não se reclama a comparação abstrata entre as leis penais. 
Comparam-se os fatos, inferindo-se que o mais grave consome os demais, sobrando apenas a lei penal que o 
disciplina. A distinção com o princípio da subsidiariedade também é evidente. Na regra da subsidiariedade, em 
função do fato concreto praticado, comparam-se as leis para saber qual é a aplicável. Por seu turno, na consunção, 
sem buscar auxílio nas leis, comparam-se os fatos, apurando-se que o mais amplo, completo e grave consome os 
demais. O fato principal absorve o acessório, sobrando apenas a lei que o disciplina. E, em oposição ao que se 
visualiza nos princípios da especialidade e da subsidiariedade, na consunção não há um fato único buscando 
amoldar-se em uma ou outra lei, mas uma sucessão de fatos em que o mais amplo e mais grave absorve os menos 
amplos e menos graves. A consunção pode ter sua origem tanto em virtude da expressa declaração da lei como 
também na sua zelosa interpretação, utilizando-se para tanto de elementos de ordem gramatical, lógica, histórica e 
sistemática na apreciação jurídica do caso concreto. O princípio da consunção se aplica em quatro situações: 
 
C.1) CRIME PROGRESSIVO - É o que se opera quando o agente, almejando desde o início alcançar o resultado mais 
grave, pratica, mediante a reiteração de atos, crescentes violações ao bem jurídico. Pressupõe necessariamente a 
existência de um crime plurissubsistente, isto é, uma única conduta orientada por um só propósito, mas fracionável 
em diversos atos. O ato final, gerador do evento originariamente desejado, consome os anteriores, que produziram 
violações mais brandas ao bem jurídico finalmente atacado, denominados de crimes de ação de passagem.Possui 
como requisitos, portanto, a unidade de elemento subjetivo e de conduta, composta de vários atos, e a 
progressividade no dano ao bem jurídico. Desde o início de sua empreitada, o crime mais grave é desejado pelo 
sujeito, que vem a praticar uma única conduta, decomposta em vários executórios, lesando gradativamente o bem 
jurídico que se propôs a lesionar. Imagine-se a hipótese em que alguém, desejando eliminar um desafeto, começa a 
golpeá-lo em váriasregiões do corpo, iniciando o processo de matá-lo, vindo finalmente a atingi-lo na cabeça, 
ceifando sua vida. As diversas lesões corporais, necessárias para a execução do homicídio, ficam por este absorvidas. 
 
C.2) PROGRESSÃO CRIMINOSA - Dá-se quando o agente pretende inicialmente produzir um resultado e, depois de 
alcançá-lo, opta por prosseguir na prática ilícita e reinicia outra conduta, produzindo um evento mais grave. 
Exemplo: O agente que, após praticar vias de fato, opta por produzir lesões corporais na vítima, e, ainda não 
satisfeito, acaba por matá-la responde exclusivamente pelo homicídio. O sujeito é guiado por uma pluralidade de 
desígnios, havendo alteração em seu dolo, razão pela qual executa uma diversidade de fatos (mais de um crime), 
cada um correspondente a uma vontade, destacando-se a crescente lesão ao bem jurídico. Por tal motivo, a resposta 
penal se dará somente para o fato final, mais grave, ficando absorvidos os demais. Com a punição do crime final, o 
Estado também sanciona os anteriores, efetuados no mesmo contexto fático. A penalização autônoma constituiria 
indisfarçável bis in idem, tendo em vista que seriam castigados como parte do resultado final e também de maneira 
independente. 
 
C.3) “ANTEFACTUM” IMPUNÍVEL - são os que funcionam como meios de execução do tipo principal, ficando por este 
absorvidos. No caso do roubo da bolsa da vítima que se encontra no interior de um automóvel, eventual destruição 
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do vidro não acarreta na imputação ao agente do crime contido no art. 163, caput, do Código Penal. Em 
conformidade com a definição do princípio da consunção, o fato anterior componente dos atos preparatórios ou de 
execução apenas será absorvido quando apresentar menor ou igual gravidade quando comparado ao principal, para 
que este goze de força suficiente para consumir os demais, englobando-os em seu raio de atuação. Nesse contexto, 
manifesto o equívoco técnico da Súmula 17 do Superior Tribunal de Justiça, assim redigida: “Quando o falso se 
exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido”. O enunciado jurisprudencial destina-
se, precipuamente, às hipóteses em que o sujeito, com o escopo de praticar estelionato, falsifica materialmente uma 
cártula de cheque, documento particular equiparado a documento público por expressa determinação legal, nos 
termos do art. 297, § 2º, do Código Penal. Ora, tal crime é punido com reclusão de dois a seis anos, e multa. Sendo o 
fato mais amplo e grave, não pode ser consumido pelo estelionato, sancionado de forma mais branda. 
 
C.4) “POSTFACTUM” IMPUNÍVEL - são visualizados quando, depois de realizada a conduta, o sujeito pratica nova 
ofensa contra o mesmo bem jurídico, buscando alguma vantagem com o crime anterior. O exaurimento deve ser 
aferido em consonância com a lógica do razoável, pois não há dúvida de que, exemplificativamente, o larápio 
usualmente vende os bens subtraídos, visando lucro financeiro. Se o furto ou roubo se deu por força de ânimo de 
lucro, não seria correto puni-lo mais uma vez por ter lucrado. Cuida-se de previsível exaurimento, ficando 
consumidos os atos posteriores. 
 
C.5) CRIME COMPLEXO OU COMPOSTO - É a modalidade que resulta da fusão de dois ou mais crimes, que passam a 
desempenhar a função de elementares ou circunstâncias daquele, tal como se dá no roubo, originário da união entre 
os delitos de furto e ameaça ou lesão corporal, dependendo do meio de execução empregado pelo agente. Indicado 
por relevante parcela doutrinária como hipótese da consunção, parece-nos não ser esta a melhor escolha. Em 
apertada síntese, alegam seus defensores que o crime complexo absorve os delitos autônomos que compõem a sua 
estrutura típica, razão pela qual prevalece a lei responsável pela sua definição. Na verdade, o crime complexo 
constitui verdadeiro concurso de crimes, ainda que, pela escolha técnico-legislativa, exista a opção de castigar a 
atuação do agente pela figura final, que deverá prevalecer, por estabelecer uma valoração conjunta dos fatos em 
concurso. Destarte, não se desnatura o concurso de crimes existente no complexo delitivo, convertendo-o em 
conflito aparente de leis penais. É óbvio, contudo, que o conflito aparente se realizará entre a figura complexa, de 
um lado, e as figuras simples, do outro. Além disso, é fundamental que no conflito aparente todas as leis penais 
devem qualificar os mesmos fatos, atentatórios do mesmo bem jurídico, 
 
D) PRINCÍPIO DA ALTERNATIVIDADE - Seu conceito, em consonância com as posições fornecidas pela doutrina, deve 
levar em conta dois pontos de partida distintos. Inicialmente, a alternatividade é definida como a situação em que 
duas ou mais disposições legais se repetem diante do mesmo fato (alternatividade imprópria). De outro campo, 
notam-se também autores que entendem configurada a alternatividade na hipótese em que o tipo penal contém em 
seu corpo vários fatos, alternativamente, como modalidades de uma mesma infração penal (alternatividade própria). 
Assim, praticados pelo mesmo sujeito um ou mais núcleos, sucessivamente, restará configurado crime único.22 São 
os chamados tipos mistos alternativos, de ação múltipla ou de conteúdo variado, identificados assim quanto à 
conduta, ao modo de execução, ao resultado naturalístico, ao objeto material, aos meios de execução, às 
circunstâncias de tempo, às circunstâncias de lugar, ou ainda perante outras situações apontadas pelo legislador. O 
princípio da alternatividade não é aceito por relevante parcela da doutrina como útil para a solução do conflito 
aparente de leis penais. Na alternatividade imprópria existe, na verdade, uma situação de falta de técnica legislativa, 
a ser resolvida pelas regras que disciplinam o conflito de leis no tempo. De outro lado, na alternatividade própria, 
opera-se um conflito na própria lei penal, e não entre leis penais, e sua função é esvaziada pelo princípio da 
consunção. 
 
 
 
 
 
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