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Avaliação de Empresas e Governança Corporativa Marcelo Cerqueira Silva APRESENTAÇÃO É com satisfação que a Unisa Digital oferece a você, aluno(a), esta apostila de Avaliação de Empresas e Governança Corporativa, parte integrante de um conjunto de materiais de pesquisa voltado ao apren- dizado dinâmico e autônomo que a educação a distância exige. O principal objetivo desta apostila é propiciar aos(às) alunos(as) uma apresentação do conteúdo básico da disciplina. A Unisa Digital oferece outras formas de solidificar seu aprendizado, por meio de recursos multidis- ciplinares, como chats, fóruns, aulas web, material de apoio e e-mail. Para enriquecer o seu aprendizado, você ainda pode contar com a Biblioteca Virtual: www.unisa.br, a Biblioteca Central da Unisa, juntamente às bibliotecas setoriais, que fornecem acervo digital e impresso, bem como acesso a redes de informação e documentação. Nesse contexto, os recursos disponíveis e necessários para apoiá-lo(a) no seu estudo são o suple- mento que a Unisa Digital oferece, tornando seu aprendizado eficiente e prazeroso, concorrendo para uma formação completa, na qual o conteúdo aprendido influencia sua vida profissional e pessoal. A Unisa Digital é assim para você: Universidade a qualquer hora e em qualquer lugar! Unisa Digital SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................... 5 1 AVALIAÇÃO E VALOR DE EMPRESA - VALUATION .......................................................... 7 1.1. Análise Detalhada do Risco da Atividade Empresarial .....................................................................................9 1.2 Fatores Determinantes do Risco das Empresas ...................................................................................................9 1.3 Visita às Empresas .........................................................................................................................................................13 1.4 Importância da Avaliação de Empresas ...............................................................................................................15 1.5 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................15 1.6 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................16 2 METODOLOGIAS DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS ......................................................... 17 2.1 Metodologia do Valor Contábil ...............................................................................................................................18 2.2 Metodologia do Valor Patrimonial e de Mercado ............................................................................................22 2.3 Metodologia do Valor de Liquidação ....................................................................................................................23 2.4 Metodologia do Preço por Lucro (P/L) .................................................................................................................23 2.5 Metodologia de Capitalização dos Lucros ..........................................................................................................24 2.6 Metodologia do Valor Presente Líquido ..............................................................................................................25 2.7 Taxa Interna de Retorno (TIR) ...................................................................................................................................27 2.8 Período Payback (PP) ................................................................................................................................................27 2.9 Metodologia dos Fluxos de Caixa Descontados ..............................................................................................30 2.10 Resumo do Capítulo .................................................................................................................................................32 2.11 Atividades Propostas ................................................................................................................................................32 3 ANÁLISE DOS ATIVOS INTANGÍVEIS ...................................................................................... 33 3.1 O Fator Humano na Gestão do Negócio ..............................................................................................................33 3.2 Goodwill ............................................................................................................................................................................35 3.3 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................36 3.4 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................36 4 ALAVANCAGEM NAS EMPRESAS ............................................................................................. 37 4.1 Alavancagem Financeira ............................................................................................................................................37 4.2 Alavancagem Operacional ........................................................................................................................................40 4.3 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................43 4.4 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................43 5 CUSTO DE CAPITAL ............................................................................................................................ 45 5.1 Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC) ......................................................................................................46 5.2 Custo Líquido do Capital de Terceiros (CLCT) do Capital Próprio (CAPM) .............................................47 5.3 Cálculo do CMPC ......................................................................................................................................................48 5.4 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................50 5.5 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................50 6 POLÍTICA DE DIVIDENDOS ........................................................................................................... 51 6.1 Procedimentos para o Pagamento de Dividendos ..........................................................................................52 6.2 Datas para o Pagamento dos Dividendos ...........................................................................................................52 6.3 Planos de Reinvestimentos de Dividendos ........................................................................................................53 6.4 Teoria Residual de Dividendos ...............................................................................................................................54 6.5 Tipos de Políticas de Dividendos ...........................................................................................................................55 6.6 Distribuição de Dividendos como Consequência da Faltade Projetos ...................................................58 6.7 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................59 6.8 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................59 7 AVALIAÇÃO DE EMPRESAS COM EVA ................................................................................... 61 7.1 Cálculo do Valor Econômico Agregado (EVA) ....................................................................................................62 7.2 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................66 7.3 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................66 8 AVALIAÇÃO DE EMPRESAS COM MVA ................................................................................. 67 8.1 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................69 8.2 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................69 9 TEORIA DA AGÊNCIA ........................................................................................................................ 71 9.1 Conflitos de Interesse ..................................................................................................................................................72 9.2 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................73 9.3 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................73 10 GOVERNANÇA CORPORATIVA ................................................................................................ 75 10.1 Medida de Governança Corporativa e do Impacto no Valor e Desempenho ....................................78 10.2 Conceitos de Governança Corporativa ..............................................................................................................82 10.3 Modelos de Governança Corporativa no Mundo ..........................................................................................83 10.4 Governança Corporativa no Brasil .......................................................................................................................87 10.5 Novo Mercado .............................................................................................................................................................88 10.6 Atuação do BNDEs ...................................................................................................................................................90 10.7 Resumo do Capítulo .................................................................................................................................................91 10.8 Atividades Propostas ................................................................................................................................................92 RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS ..................................... 93 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................. 99 Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 5 INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), O objetivo geral do curso é o de oferecer-lhe subsídios para um estudo sobre o processo de Ava- liação de Empresas, analisando os principais fatores de risco presentes na atividade empresarial e des- tacando a importância do gerenciamento efetivo de alguns desses fatores como forma de manter a so- brevivência das organizações. Além disso, esta apostila e a disciplina, como um todo, buscam apresentar a importância da Governança Corporativa para as empresas no Brasil e no mundo como fonte de trans- missão da confiabilidade aos diferentes stakeholders presentes no dia a dia das empresas. Além disso, apresentamos informações sobre os diferentes métodos de avaliação de empresas. Dentro dessa perspectiva, o conteúdo está organizado de forma a promover sempre o seu apren- dizado através da fundamentação de conceitos a partir dos mais renomados autores. Dessa forma, ana- lisaremos a importância da aplicação dos diferentes métodos de avaliação de empresas destacando a importância da composição dos ativos intangíveis e do fator humano nas organizações. Posteriormente, discutiremos a composição e o custo de capital para as empresas; a contribuição do EVA e MVA; a utilização do mecanismo da alavancagem financeira como fonte de crescimento da organização; e a distribuição dos resultados obtidos pelas empresas na forma de dividendos. Por fim, buscaremos a avaliação do seu aprendizado propondo a resolução de alguns exercícios. será um prazer acompanhá-lo ao longo deste trajeto. Marcelo Cerqueira Silva Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 7 AVALIAÇÃO E VALOR DE EMPRESA - VALUATION 1 Caro(a) aluno(a), Neste capítulo, apresentaremos algumas das principais formas de se determinar o valor econô- mico de uma empresa. Trataremos também sobre quanto a realização de visitas à empresa é um re- curso complementar e fundamental para a deter- minação do valor justo do negócio. Através desse recurso, os avaliadores podem levantar informa- ções complementares e/ou esclarecer dúvidas gerais sobre a atividade operacional da empresa. Por fim, descrevem-se as principais informações da atividade operacional de uma empresa, que devem ser conhecidas pelos avaliadores de uma organização. Vamos iniciar a discussão? A determinação do valuation – ou o valor econômico de uma empresa – é uma mis- tura de ciência e arte. As transações de compra e venda envolvendo pequenas e médias empresas possuem um compor- tamento bastante distinto das transações com grandes empresas, pois muitas vezes o histórico de receitas e lucros apresenta variações significativas que dificultam ou mesmo inviabilizam certos métodos de avaliação. (sANTOs, 2008). De acordo com Rosseti (2004), a determina- ção do valor econômico de uma empresa pode ser feita genericamente por três famílias de meto- dologias: a do Fluxo de Caixa Descontado (DCF – Discounted Cash Flow), a do Valor Patrimonial, e a Avaliação Relativa ou por Múltiplos. Outras meto- dologias relevantes são o cálculo do Valor Econô- mico Adicionado (EVA – Economic Value Added), o cálculo do Valor de Liquidação e o cálculo do Valor de Reposição. santos (2008) menciona ainda que a meto- dologia EVA pode ser vista como uma derivação do cálculo do Fluxo de Caixa Descontado, e os cálculos do Valor de Liquidação e de Reposição como derivações do cálculo do Valor Patrimonial. A metodologia utilizada com maior frequ- ência é a do Fluxo de Caixa Descontado, seguida pela Avaliação com uso de Múltiplos, que muitas vezes é usada como complemento da primeira. Porém, ao tratarmos de transações com empre- sas pequenas e médias, a volatilidade inerente a esses negócios faz com que os cálculos com base no Valor Patrimonial ganhem grande importân- cia, pois representam uma referência mais tan- gível para o cálculo de valor da empresa, princi- palmente quando os fluxos futuros de receita e lucros apresentam um elevado grau de incerteza. Gitman (2000) afirma que os métodos patri- moniais de avaliação tipicamente são utilizadosquando o comprador percebe valor mais signifi- cativo nos ativos do que no potencial de geração de lucros através desses ativos. Dentro dos mé- todos patrimoniais de avaliação há três cálculos importantes que podem ser realizados: o Valor do Patrimônio Líquido Contábil, o Valor de Reposi- ção e o Valor de Liquidação. O patrimônio líquido contábil é um valor fácil de ser apurado e corresponde à diferença entre os ativos e os passivos da empresa. Ao abrir- mos uma empresa, esse valor é bastante preciso e equivale ao valor econômico da empresa, porém ao longo do tempo o valor do patrimônio líquido contábil e o valor econômico vão se distanciando, pois fatores, como obsolescência, envelhecimen- to dos ativos e inflação, passam a distorcer os va- lores constantes dos livros. Portanto, em muitos casos o Valor do Patrimônio Líquido é somente Marcelo Cerqueira Silva Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 8 referencial, não possuindo vínculo direto com a realidade operacional do negócio, o que o torna, portanto, em muitas situações, um parâmetro de baixa relevância na avaliação do valor econômico de uma empresa. Em diversas negociações, é comum apurar- -se o Valor do Patrimônio Líquido Ajustado, con- siderando reavaliações e contingências, portanto, gerando o chamado Valor de Reposição. Mas, o que significa o Valor de Reposição? Ele representa os recursos financeiros necessários para construir uma empresa idêntica à que está sendo avalia- da, excetuando-se o valor dos ativos intangíveis, como a reputação da empresa, a qualidade do seu corpo gerencial, sua marca e sua carteira de clientes. segundo Brigham (2000), em transações de fusão de empresas, com ativos intangíveis de va- lor comparável e negócios com características e níveis de rentabilidade similares, a determinação do Valor de Reposição é extremamente útil para calcular rapidamente o quanto cada parte está contribuindo para o novo negócio. Finalmente, o valor de liquidação é aque- le que representa o valor da empresa caso esta necessite ser fechada. Esse é o valor mínimo que pode ser obtido por uma empresa através da ven- da dos ativos tangíveis e do pagamento das obri- gações com os credores, e é normalmente consi- derado o valor de piso em qualquer negociação. Essa metodologia de cálculo de valor é indicada para casos em que o comprador está interessado somente nos ativos da empresa, desprezando a capacidade de geração de lucros futuros que os ativos ainda venham a possuir. É o caso típico dos processos de falência. Copeland (2002) menciona que além do cálculo do Valor Patrimonial, frequentemente discute-se o valor do goodwill, ou um valor intan- gível que represente a capacidade da empresa de gerar lucros futuros com base nos ativos existen- tes. Tecnicamente, o goodwill é a diferença entre o valor pago em uma transação de compra e venda de uma empresa e seu valor contábil. O cálculo do goodwill é sempre estimado. seu valor depende de fatores como o apetite do comprador, a definição do valor de um prêmio pelo controle da empresa, entre outros. O goodwill é uma representação econô- mica dos ativos intangíveis da empresa, tais como seu patrimônio intelectual, suas marcas, seus recursos humanos e suas relações externas potencialmente geradoras de valor. (PINHEIRO, 2007). A metodologia DCF (Demonstração do Fluxo de Caixa) tenta amarrar o cálculo do goodwill a uma estimativa bem embasada de potencial de contri- buição de lucros do negócio. Porém, em pequenas e médias empresas, muitas vezes não há um sólido histórico de fluxo de caixa que permita uma proje- ção de fluxos futuros com baixo nível de incerteza. O uso do DCF nessas situações equivale a construir um castelo de cartas: se as bases não são firmes, a construção cai facilmente perante os argumentos mais triviais. Nessas situações, a identificação do goodwill tende a ser um balanço entre o apetite do comprador e sua percepção de payback do investimento. De acordo com Padoveze (2000), o payback é um cálculo simples que o comprador faz e que indica em quantos anos seu investimento deverá retornar. Paybacks entre 3 e 5 anos são comuns na aquisição de pequenas e médias empresas. Pay- backs acima de 5 anos tendem a gerar desinteres- se e relutância por parte do comprador. Na prática, segundo securato (1993), nem todas as pequenas e mesmo médias empresas possuem o mesmo rigor na apuração e gestão de seus balanços patrimoniais. Em vários casos, o ba- lanço é construído informalmente, no momento da negociação, considerando a informação dis- ponível, a experiência e a boa-fé das partes. AtençãoAtenção Todas as metodologias de avaliação servem a um propósito principal: propor um valor econômico para o negócio que possa ser racionalmente de- fendido, permitindo com isso uma base consis- tente para a negociação (SANTOS, 2008). Avaliação de Empresas e Governança Corporativa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 9 Todas as metodologias de avaliação servem a um propósito principal: propor um valor econô- mico para o negócio que possa ser racionalmente defendido, permitindo com isso uma base consis- tente para a negociação. sem essa base, muitas operações de compra e venda tornam-se inviá- veis, uma vez que inexiste uma perspectiva cla- ra dos parâmetros de avaliação de cada uma das partes. No procedimento de avaliação de empre- sas, conforme santos (2007), entende-se por va- lor o mais alto preço que poderia ser obtido se as cotas ou ações de uma empresa fossem vendidas em uma transação real de mercado. Nesse caso, um comprador, para reduzir ou eliminar a com- petição, obter uma economia de escala e/ou uma sinergia em seu negócio, poderia pagar um preço maior do que outros compradores. A estimativa do valor justo de uma empresa visa a orientar os investidores em suas estratégias de comprar e vender ativos. Trata-se de uma das principais e mais difíceis tarefas realizadas pelos profissionais da área financeira, uma vez que de- pende da disponibilidade de informações deta- lhadas da atividade operacional da empresa. 1.1. Análise Detalhada do Risco da Atividade Empresarial 1.2 Fatores Determinantes do Risco das Empresas Conforme a Figura 1, verifica-se uma série de dados fundamentais para a realização da estimati- va adequada do valor financeiro de uma empresa. A seguir, descrevem-se as principais informações da atividade operacional de uma empresa, que devem ser conhecidas pelos avaliadores a partir das variáveis da Figura 1. Figura 1 – Dados para análise detalhada do risco da atividade operacional. Marcelo Cerqueira Silva Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 10 Os riscos presentes em cada uma das variá- veis são respectivamente: ♦ Objeto social: É fundamental conhecer a natureza da atividade operacional da empresa, ou seja, quais são os seus produtos e serviços – além de seus níveis de rotatividade em épocas de crescimento, estabilidade ou recessão econômi- ca. Trata-se de informação importante para a pro- jeção de resultados, uma vez que o consumo de produtos essenciais ou de primeira necessidade é menos afetado por fatores econômicos do que os classificados como supérfluos ou de segundo necessidade. Na primeira categoria de produtos, destaca-se, por exemplo, itens do setor alimentí- cio e de higiene e limpeza, os quais, com ou sem recessão, continuam gerando fluxos de caixa. Em contrapartida, a venda de produtos de segunda necessidade sofre redução significativa em épo- cas de recessão ou de queda do nível de ativida- de econômica, uma vez que a redução de receita (total ou parcial) influencia os consumidores a postergar a compra de bens não imediatamente essenciais, como os procedentes dos setores de calçados e têxtil. ♦ Quadroadministrativo: Conhecer a administração é o ponto de partida para a ava- liação (qualitativa e quantitativa) dos resultados financeiros da empresa. Entre as informações referentes aos gestores do negócio e proprietá- rios, destacam-se as relacionadas à experiência, à sucessão administrativa e à idoneidade. Quanto à experiência, é fundamental verificar a data de início da atividade operacional da empresa e o respectivo tempo de atuação dos administrado- res no negócio; em relação à sucessão administra- tiva, é necessário saber se as decisões estratégicas sempre foram tomadas por uma única pessoa ou se por um quadro de administradores também experientes; já no que diz respeito à idoneidade, é preciso estabelecer se os administradores hon- ram pontualmente suas dívidas pessoais no mer- cado de crédito. Embora as causas de dificuldades finan- ceiras sejam numerosas, muitas falências são atribuíveis, direta ou indiretamente, às falhas da administração das próprias empresas, em suas estratégias de investimento, financiamento e cria- ção de riqueza. Geralmente, problemas não finan- ceiros levam a perdas que, por sua vez, resultam em dificuldades financeiras e, eventualmente, na falência. Dificilmente, uma única decisão errada constitui a causa da dificuldade; em geral, a causa é composta por uma série de erros, e a dificulda- de vai aumentando gradativamente. A competência dos proprietários, aliada à idade do negócio, representa uma importante informação no processo de avaliação de empre- sas. Em estudo desenvolvido com esse fim, esse autor chegou à constatação de que a maioria das insolvências ocorre na faixa de três a seis anos da data de fundação. Comparativamente, um estu- do apresentado por Barrickman (1995) concluiu que 50% das empresas norte-americanas recém- -formadas quebram nos primeiros cinco anos de atividade e 80% quebram nos primeiros dez anos. Acrescenta-se que as empresas novas, cuja potencialidade ainda é desconhecida, possuem níveis de risco superiores ao observado em em- presas já maduras, cuja posição está consolidada no mercado. Aos riscos de intangibilidade de um novo produto, acresce-se o de pouca experiência gerencial do empresário (ou pequeno grupo de empresários) e da possível insuficiência de garan- tias reais. Ou seja, os riscos administrativos e de mercado são maiores (e com menores possibili- dades de diversificação) nas empresas menores, reduzindo-se à medida que a empresa cresce. Em estudo realizado por uma das mais tra- dicionais empresas no setor de informações so- bre crédito, a Dun & Bradstreet, constatou-se que, dentre as causas responsáveis pela falência de empresas, a principal relacionou-se à inadequada gestão administrativa – observada em 89,9% dos casos pesquisados. ♦ Quadro funcional: Dados sobre os de- mais funcionários da administração, produção e comercialização devem ser obtidos de forma detalhada, para se conhecer os desembolsos sa- lariais, benefícios complementares (como planos de carreira, gastos com alimentação, educação, transporte etc.) e índice de rotatividade funcio- Avaliação de Empresas e Governança Corporativa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 11 nal. Além disso, deve-se analisar a relação custo- -benefício em contratos de terceirização de mão de obra; e os resultados da atuação de sindicatos de categorias profissionais da região. ♦ Carteira de clientes: A abertura da cartei- ra de clientes possibilita o conhecimento do grau de diversificação e concentração de negócios da empresa. O ideal é que as vendas sejam detalha- das em termos de produtos, valores, regiões ge- ográficas, direcionamento (setores privado e pú- blico e mercados interno e externo) e formas de recebimento. Quanto maior for a diversificação desses itens, menor será a exposição aos riscos sistemáticos, ou seja, aqueles de natureza exter- na e, por isso, não controláveis, como os decor- rentes de ações econômicas, governamentais e concorrenciais. Riscos sistemáticos oriundos de ações econômicas incluem aumento de inflação, taxa de juros e câmbio, que podem reduzir a ge- ração de fluxos de caixa das empresas; ações de natureza governamental incluem a intervenção do governo na atividade econômica, por meio da redução do prazo de crédito, abertura de merca- do e aumento da carga tributária – as duas pri- meiras visam ao controle inflacionário, enquanto a terceira, a maior arrecadação de recursos; ações de caráter concorrencial compreendem medidas que afetam imediatamente o fluxo de caixa das empresas, tais como redução de preços e aumen- to de prazos no crédito para aumentar a carteira de clientes. ♦ Carteira de fornecedores: similarmente, a abertura da carteira de fornecedores possibi- lita o conhecimento do grau de diversificação e concentração de negócios da empresa. O ideal é que as compras sejam detalhadas em termos de produtos, valores, regiões geográficas, direcio- namento (mercados interno e externo) e formas de pagamento. Quanto maior for a diversificação desses itens, menor será a exposição aos riscos sistemáticos, como os representados pela oscila- ção cambial e escassez de matéria-prima ou mer- cadoria no mercado. ♦ Participação de mercado: Avaliações baseiam-se no monitoramento da participação histórica de mercado da empresa diante de seus principais concorrentes. Além da constatação de evolução, manutenção ou involução da partici- pação de mercado, é indispensável o diagnóstico preciso das causas, para que os cenários e proje- ções sejam simulados corretamente. Quadro 1 – Índices de desempenho. Índices Conceito Liquidez Capacidade de pagamento de dívidas com recursos financeiros disponíveis e contas a receber. Endividamento Montante de Dívidas ou passivos financiando os investimentos. Imobilização Montante de recursos financeiros permanentes (de longo prazo) que está sendo investido em ativos produtivos (máquinas, equipamentos, veículos, instalações etc.). Lucratividade Margens de lucratividade obtidas no gerenciamento da atividade operacional. Cobertura Capacidade de pagamento de dívidas com a geração de lucro e fluxo de caixa operacional. Rotatividade Período médio de conversão de estoques em vendas e duplicatas a receber em caixa. Além disso, mostra o período médio de pagamento de dívidas com os fornecedores. Rentabilidade Margens de retorno obtidas sobre os investimentos totais e o capital dos proprietários. Marcelo Cerqueira Silva Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 12 ♦ Situação financeira: Compreende o levantamento e a análise da situação contábil- -financeira da empresa (retrospectiva e prospec- tiva), baseando-se em informações extraídas do Balanço Patrimonial, da Demonstração de Resul- tados e da Demonstração do Fluxo de Caixa do Exercício. ♦ Dívidas contingenciais: Dívidas ou res- ponsabilidades contingenciais são exigibilida- des que podem ou não ocorrer, decorrentes de eventos que acontecerão no futuro. Nesse item, enquadram-se os avais, ações legais, garantias prestadas em favor de terceiros (como bancos, fornecedores etc.). Embora representem riscos assumidos por assinaturas em contratos, podem afetar significativamente a situação financeira da empresa, quando os valores são desembolsados do caixa. Por isso, o investidor deve avaliar o ris- co do negócio sempre considerando dívidas “fora balanço”, ou seja, não presentes numericamente nas demonstrações financeiras. ♦ Ativos intangíveis: Ativos intangíveis são recursos não materiais controlados pela empresa, capazes de trazer benefícios futuros ao negócio. Esses ativos não estão refletidos nas demonstra- ções financeiras, mas se transformam em bene- fícios quando estão associados à atividade ope- racionalda empresa. são exemplos tradicionais de ativos intangíveis: marcas, patentes, softwares, direitos autorais, razão social, franquias, localiza- ção, conhecimento técnico, capacidade de ino- vação do capital humano etc. Em alguns casos, o valor atribuído aos ativos intangíveis é superior ao valor dos ativos tangíveis (refrigerantes Coca- -Cola, por exemplo). Por isso, a sua quantificação é indispensável para a determinação do valor to- tal da empresa, uma vez que, juntamente com os demais ativos de natureza tangível, contribuem para a geração de fluxo de caixa futuros. A partir do conhecimento detalhado do ris- co da atividade operacional da empresa, de seus índices de desempenho, de seu custo de capital, e das expectativas relacionadas aos rumos da ma- cro e microeconomia, são projetados os resulta- dos para as vendas, custos e despesas, conside- rando os cenários de crescimento, estabilidade e recessão econômica. Para isso, são feitas análises de sensibilida- de para simular o impacto de fatores sistemáticos sobre o fluxo de caixa das empresas. Por exemplo, aumentos sucessivos da taxa de juros podem de- sencadear redução do nível de atividade econô- mica e até recessão. Como resultado, as empresas geram fluxos de caixa líquidos cada vez menores, o que compromete a capacidade de pagamento de dívidas com todos os seus supridores de capital (fornecedores, funcionários, governos, instituições financeiras e acionistas). Para suportarem reduções de faturamento, as empresas se veem forçadas à reestruturação e reposicionamento no mercado, o que inclui o corte de funcionários e de investimen- tos em novos produtos e imobilizações. Outras situações adversas que devem ser levadas em consideração pelos avaliadores são: As crises financeiras em economias de países (desenvolvidos e emergentes) que mantêm relacionamento comercial significativo com o Brasil. Nesse caso, ocorre redução de negócios entre em- presas, governos e investidores; A guerra de incentivos fiscais entre go- vernos pode acarretar desemprego e fechamento de empresas, quando seus principais clientes decidem transferir suas instalações (administrativas e ope- racionais) para outros locais, visando à redução de custos, aumento de receita e benefícios fiscais. As valorizações da moeda local em rela- ção ao dólar. Para as empresas exporta- Saiba maisSaiba mais O custo histórico possui diversas limitações como conceito a ser aplicado na avaliação patrimonial e sua aceitação ampla ocorre de preferência no âm- bito da contabilidade tradicional (princípio contábil aceito), dada a sua relação bastante próxima com a receita realizada na operação do resultado contábil (ASSAF NETO, 2003). Avaliação de Empresas e Governança Corporativa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 13 doras, trata-se de condição desfavorável, uma vez que seus produtos tornam-se mais caros que os de concorrentes sedia- dos em países cujas moedas mantêm-se estáveis em relação ao dólar; As desvalorizações da moeda local em relação ao dólar. Para as empresas im- portadoras, trata-se de condição desfa- vorável, uma vez que o produto impor- tado torna-se mais caro. Saiba maisSaiba mais O valor de realização de mercado determina o valor possível dos ativos da empresa de serem realizados individualmente em condições normais de transa- ções dentro de um mercado organizado, ou seja, o preço razoável que se pode obter na alienação de cada um deles. Além das dificuldades naturais de avaliação, esse método não leva em consideração a possível sinergia dos ativos (ASSAF NETO, 2003). A realização de visitas à empresa é um recur- so complementar e fundamental para a determi- nação do valor justo do negócio. segundo santos (2007), por meio desse recurso, os avaliadores po- dem levantar informações complementares e/ou esclarecer dúvidas gerais sobre a atividade opera- cional da empresa, como as descritas a seguir: Acionistas/Quotistas: • Quem são os principais controlado- res da empresa? • Qual é a experiência dos proprietá- rios no negócio? • Quais são as causas das alterações no capital social? Sucessão administrativa: • Existência de plano de sucessão ad- ministrativa; • Identificação e idoneidade dos su- cessores; Riscos sistemáticos: • Quais são os principais fatores exter- nos de risco à atividade operacional? • Quais são as medidas mitigadoras de riscos? Número de funcionários: • Causas da redução ou aumento do quadro funcional; Qualificação e motivação dos recur- sos humanos: • Quais são os programas de desen- volvimento profissional? • Quais são os benefícios oferecidos? • Rotatividade dos funcionários (da administração e da produção); • Retorno por funcionário; Principais produtos: • Distribuição por natureza (1. neces- sidade e 2. necessidade); • Distribuição do faturamento por produto e/ou serviço; • sazonalidade; • Descrição dos produtos mais rentá- veis; • Participação no mercado; • Distribuição geográfica; • Prazo médio de estoques; • Causas da alteração no prazo mé- dio de estoques; Instalações administrativas e produ- tivas: • situação dos imóveis (próprios e/ ou alugados); • Tecnologia utilizada; Principais clientes: • situação da carteira de clientes em 1.3 Visita às Empresas Marcelo Cerqueira Silva Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 14 valor e em concentração percentual; • Concentração de negócios com empresas privadas e públicas; • Carteira de pedidos; • Prazo médio de recebimento; • Causas da alteração do prazo mé- dio de recebimento; • Causas da melhora ou deterioração da inadimplência; • Distribuição percentual da negocia- ção das vendas (à vista e a prazo); • Distribuição e abertura do fatura- mento por clientes (nacionais e es- trangeiros); Principais fornecedores: • situação da carteira de fornecedo- res em valor e em concentração percentual; • Identificação dos fornecedores (na- cionais e estrangeiros); • Prazo médio de pagamento; • Causas da alteração do prazo mé- dio de pagamento; • Distribuição percentual da negocia- ção das compras (à vista e a prazo); Principais concorrentes por linha de produtos: • Participação de mercado; • Causas da conquista ou perda de participação de mercado; Capacidade instalada: • Nível de ociosidade; • Causas do aumento ou da redução do nível de ociosidade; • Idade dos itens componentes das instalações; Informações contábeis e financeiras: • Causas da alteração na capacidade de pagamento (liquidez); • Causas da alteração no endivida- mento; • Causas da alteração na imobilização; • Causas da alteração nas margens de lucratividade e rentabilidade; • Critérios adotados na projeção de resultados; Endividamento bancário: • Valor; • Modalidades; • Garantias vinculadas; • Prazo de amortização; • Causas do aumento ou da redução; Investimentos realizados: • Previsão de novos investimentos; • Finalidade; • Montante; • Forma de financiamento; Empréstimos com empresas do grupo: • Montante; • Finalidade; • Prazos de amortização; Informações contábeis e financeiras do grupo empresarial: • Capital de giro, endividamento e lucratividade das principais empre- sas; • Causas da alteração na situação fi- nanceira; • Alterações significativas (fusões, aquisições, vendas e desinvesti- mentos); Situação tributária: • Impostos realizáveis ou a receber – modalidades e datas previstas de recebimento; • Impostos exigíveis ou a pagar – modalidades e datas previstas de pagamento; Processos judiciais contra ou favorá- veis à empresa, sócios e acionistas: • Causas; • Valor envolvido;• Previsão de conclusão; Planejamento estratégico: • Principais ações estratégicas adota- das e resultados; • Ações estratégicas a implementar; • Benefícios financeiros de novas ações estratégicas; • Forma de financiamento de novas ações estratégicas; Avaliação de Empresas e Governança Corporativa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 15 A avaliação de empresas por meio da coleta e análise de informações detalhadas no negócio visa a prover sinergias, reduzir impostos, garantir melhor economia de escala, melhorar as condi- ções competitivas e expandir a participação de mercado da empresa investidora. Conforme Ross (2000), isso representa um meio para a empresa se fortalecer diante da cres- cente internacionalização das operações corpora- tivas. O processo de avaliação de empresas para fins de fusão também tem por objetivo possibili- tar a conquista de mercados externos, como, por exemplo, a associação entre as cervejarias Ambev e a Interbrew, em 2004. Outros exemplos destaca- dos de fusões no mercado brasileiro foram: Banco Francês e Brasileiro e Banco Itaú, em 1995: o Banco Itaú fortaleceu sua posição de mercado ao comprar uma carteira de clientes de pessoas físicas de alta renda; Antártica e Brahma, em 1999: visou à re- dução de custos em função dos ganhos previstos na sinergia das empresas; Arisco e Best Foods, em 2000: a empresa compradora (Best Foods) desejava sim- plesmente acabar com um nome que lhe roubava clientes, fortalecer o seu produto e até mesmo adquirir as faci- lidades de produção (máquinas e rede de insumos) e a cadeia de distribuição; Tam e Varig, em 2003: objetivava gerar economia de escala. Ambas buscavam uma saída para a situação financeira ruim que apresentavam por meio da re- dução da capacidade ociosa. Fundamental é que o mercado reaja favo- ravelmente à associação entre empresas, ao ma- ximizar o preço de suas ações – essa condição se traduz em expectativas favoráveis quanto aos be- nefícios da sinergia e maior geração de fluxos de caixa operacionais. 1.4 Importância da Avaliação de Empresas 1.5 Resumo do Capítulo Caro(a) aluno(a), Neste capítulo estudamos que a avaliação de empresas por meio da coleta e análise de informações detalhadas no negócio tem como objetivos prover sinergias, reduzir impostos, garantir melhor economia de escala, melhorar as condições competitivas e expandir a participação de mercado da empresa inves- tidora. Isso representa um meio para a empresa se fortalecer diante da crescente internacionalização das operações corporativas. Verificamos ainda os principais fatores de risco que envolvem as empresas, e por fim a importância de visitar a empresa que está sendo avaliada. Espero que tenha compreendido. Vamos, agora, avaliar a sua aprendizagem. Marcelo Cerqueira Silva Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 16 1. Explique a importância da realização da análise detalhada do risco da atividade empresarial. 2. Explique a importância da realização de visitas à empresa como um recurso complementar e fundamental para a determinação do valor justo do negócio. 3. Explique a importância da participação de mercado de uma empresa como instrumento para sua avaliação de risco. 1.6 Atividades Propostas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 17 Caro(a) aluno(a), Neste capítulo, trataremos das circunstân- cias especiais em que se faz necessária a estimati- va (total ou parcial) do valor de mercado de uma empresa, e apresentaremos as diferentes meto- dologias existentes para a realização do processo de avaliação de uma empresa; entre elas, a Meto- dologia do Valor Contábil, Valor de Liquidação, do Preço/Lucro, Capitalização dos Lucros, Valor Pre- sente Líquido, da TIR e do Payback. Vamos iniciar a discussão? Nossa discussão inicia-se ressaltando que nos cursos de finanças ocorrem circunstâncias especiais em que se faz necessária a estimativa (total ou parcial) do valor de mercado de uma em- presa. Entre elas destacam-se: compra ou venda; partilha entre herdeiros; determinação do valor das participa- ções sociais; fusão de duas ou mais empresas; divisão de uma sociedade em duas ou mais empresas; privatização; dissolução societária. Além de todas essas situações específicas que, vez por outra, ocorrem no curso normal dos negócios empresariais, exigindo definição do valor de um empreendimento, uma situação se destaca pela sua importância: realizar periodi- camente a avaliação de empresas com o intuito de verificar se está ocorrendo maximização da ri- queza dos proprietários e demais supridores de capital. Entre as diversas metodologias de ava- liação de empresas, muitas vezes utilizadas em conjunto para determinação do valor do negócio, destacam-se as seguintes: Metodologia do Valor Contábil; Metodologia do Valor Patrimonial de Mercado; Metodologia do Valor de Liquidação; Metodologia do Preço/Lucro; Metodologia de Capitalização dos Lu- cros; Metodologia dos Múltiplos de Fatura- mento; Metodologia do Valor Presente Líquido; Metodologias da TIR e do Payback Metodologia do Fluxo de Caixa Descon- tado. METODOLOGIAS DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS2 AtençãoAtenção Devido à falta de informação necessária, avaliação das decisões e o planejamento empresarial, mui- tas empresas não têm obtido resultados necessá- rios para o seu desenvolvimento, causando gran- des transtornos para os gestores (SANTOS, 2008). Marcelo Cerqueira Silva Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 18 Para Martins (2008), a avaliação de uma empresa normalmente se inicia pela leitura das demonstrações contábeis. Todavia, por causa da adoção dos princípios contábeis e da influência da legislação tributária, elas geralmente são incapazes 2.1 Metodologia do Valor Contábil de refletir, isoladamente, o valor econômico de um empreendimento. Essa metodologia assume que o Valor da Empresa (VE) corresponde ao valor do Pa- trimônio Líquido registrado no Balanço Patrimonial (Quadro 2). Quadro 2 – Estrutura de um balanço patrimonial. ATIVO CIRCULANTE Caixas e bancos Aplicações financeiras Duplicatas a receber Estoques Adiantamento a fornecedores Recursos conversíveis em caixa no curto prazo (até 360 dias) PASSIVO CIRCULANTE Fornecedores Empréstimos bancários salários Impostos e contribuições Adiantamento a clientes Dívidas amortizáveis no curto prazo (até 360 dias) ATIVO REALIZÁVEL EM LONGO PRAZO Recursos conversíveis em caixa no longo prazo (superior a 360 dias) PASSIVO EXIGÍVEL EM LONGO PRAZO Dívidas amortizáveis em longo prazo (superior a 360 dias) ATIVO PERMANENTE Imobilizado Diferido Investimentos Ativo imobilizado, gastos com pesquisas, desenvolvimentos e investimentos em outras empresas PATRIMÔNIO LÍQUIDO Capital Reservas Lucros acumulados Capital dos proprietários Ativo Total = Passivo Total + Patrimônio Líquido Baseando-se nessa metodologia, o valor da empresa é expresso pela equação: Valor da Em- presa (Patrimônio Líquido) = Valor do Ativo To- tal – Valor do Passivo Total. Como se trata de metodologia baseada no valor de custo, apresenta deficiências por descon- siderar as condições de mercado para a realização dos ativos e amortização das dívidas. Outra falha desse método é que os valores contábeis não refle- tem os avanços da tecnologia que tanto alteram o valor de ativos, e não consideram as necessidades de investimento em capital de giro e imobilizações para a manutenção da capacidade competitiva da empresa para o próximo período. De acordo com Martins (2008), como essa metodologia assume que o Patrimônio Líquidorepresenta o valor contábil da empresa, deve-se monitorar continuamente a capacidade de finan- ciamento próprio da empresa por meio de índi- ces de desempenho relacionados à Rentabilidade Avaliação de Empresas e Governança Corporativa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 19 do Patrimônio Líquido, Rotatividade das Vendas, Rotatividade do Lucro Operacional, Imobilização com Recursos Próprios, Alavancagem e Cobertu- ra de Juros com o Patrimônio Líquido. Rentabilidade do Patrimônio Líquido (RPL) Mensura a eficiência global da empresa em gerar lucros com os investimentos realizados pe- los proprietários. Calcula-se pela fórmula: RPL = LUCRO LÍQUIDO ÷ PATRIMÔNIO LÍQUIDO Quadro 3 – Cálculo e interpretação do RPL. ÍNDICE Ano 1 Ano 2 Situação Técnica Retorno sobre o Patrimônio Líquido 27% 34% Favorável Retorno Sobre o Patrimônio Líquido Para cada $ 1,00 investido pelos proprietários, a empresa gerou um retorno líquido de $ 0,34 ou 34%. Tecnicamente, sua situação melhorou em relação ao ano 1. Rotatividade das Vendas (RVpl) Mostra a contribuição do Patrimônio Líqui- do para a geração do Faturamento ou Receita Lí- quida da empresa. Calcula-se pela fórmula: RVpl = RECEITA LÍQUIDA DE VENDAS ÷ PATRIMÔNIO LÍQUIDO Quadro 4 – Cálculo e interpretação do índice de Rotatividade das Vendas. ÍNDICE Ano 1 Ano 2 Situação Técnica Rotatividade das Vendas 1,90 2,50 Favorável Rotatividade das Vendas Cada $ 1,00 de capital próprio financiado, o ativo está contribuindo, proporcionalmente, para a geração de $ 2,50 de receita líquida de vendas. Tecnicamente, sua situação melhorou em relação ao ano 1. Marcelo Cerqueira Silva Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 20 Rotatividade do Lucro Operacional (RLOpl) Mostra a contribuição do Patrimônio Líqui- do na geração do Lucro Operacional da empresa. Calcula-se pela fórmula: RLOpl = LUCRO OPERACIONAL ÷ PATRIMÔNIO LÍQUIDO Quadro 5 – Cálculo e interpretação do índice de Rotatividade do Lucro Operacional. ÍNDICE Ano 1 Ano 2 Situação Técnica Rotatividade do Lucro Operacional 0,50 0,60 Favorável Rotatividade do Lucro Operacional Cada $ 1,00 de capital financiado, o ativo está contribuindo, proporcionalmente, para a geração de $ 0,60 de lucro operacional. Tecnicamente, sua situação melhorou em relação ao ano 1. Imobilização com Recursos Próprios (Ipl) Mostra em que proporção o capital próprio está financiando as imobilizações, ou seja, máqui- nas, equipamentos, veículos e instalações. Calcu- la-se pela fórmula: IPL = (ATIVO IMOBILIZADO BRUTO – DEPRECIAÇÃO ACUMULADA) ÷ PATRIMÔNIO LÍQUIDO O índice de Imobilização com Recursos Pró- prios somente é considerado satisfatório quando constatado que investimentos em ativos imobili- zados estão gerando contrapartida de aumento do lucro operacional e dos fluxos de caixa livres, durante e após o período de recuperação do ca- pital investido (Período Payback). Avaliação de Empresas e Governança Corporativa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 21 Quadro 6 – Cálculo e interpretação do índice de Imobilização. ÍNDICE Ano 1 Ano 2 Imobilização 0,75 0,79 Imobilização Para cada $ 1,00 de recursos próprios, $ 0,79 ou 79% estão investidos em imobilizações. Caso a empresa gere contrapartida de aumento do lucro operacional nos períodos seguintes, será verificado que se trata de investimento viável. Alavancagem (Apl) Mostra a proporção entre dívidas e capital dos proprietários no financiamento dos ativos. Calcula-se pela fórmula: APL = PASSIVO TOTAL ÷ PATRIMÔNIO LÍQUIDO Quadro 7 – Cálculo e interpretação do índice de Alavancagem. ÍNDICE Ano 1 Ano 2 Situação Técnica Alavancagem 1,15 0,80 Favorável Alavancagem Para cada $ 1,00 de capital dos proprietários financiando o ativo, a proporção é de $ 0,80 de recursos de terceiros. Tecnicamente, sua situação melhorou em relação ao ano 1. Cobertura de Juros com o Patrimônio Líquido (CJpl) Mostra quantas vezes o capital próprio co- bre o pagamento dos juros ou despesas financei- ras. Calcula-se pela fórmula: CJ = PATRIMÔNIO LÍQUIDO ÷ DESPESAS FINANCEIRAS Quadro 8 – Cálculo e interpretação do índice de Cobertura de Juros. ÍNDICE Ano 1 Ano 2 Situação Técnica Cobertura de juros 2,50 4,00 Favorável Cobertura de Juros O capital próprio cobre quatro vezes as despesas financeiras. Tecnicamente, sua situação melhorou em relação ao ano 1. Marcelo Cerqueira Silva Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 22 Caso essa metodologia venha a ser utiliza- da para a determinação do Valor da Empresa (VE), a condicionante é que os valores contábeis do Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido sejam com- patíveis ou muito próximos aos seus valores de mercado. Isso pressupõe a reavaliação e/ou atua- lização do valor dos ativos e passivos, consideran- do efeitos de variáveis, como depreciação, amor- tização, exaustão, inflação, taxa de juros, paridade cambial etc. As três primeiras variáveis aplicam-se aos elementos do ativo imobilizado: Depreciação: quando corresponder à perda do valor dos direitos que têm por objeto bens físicos sujeitos a desgastes 2.2 Metodologia do Valor Patrimonial e de Mercado Saiba maisSaiba mais Ao administrar a estrutura de ativo da empresa, na realidade ele está determinando a formação do lado esquerdo de seu Balanço. Ao administrar sua estrutura financeira, está elaborando o lado direito do Balanço da empresa (GITMAN, 1997). ou perda de utilidade por uso, ação da natureza ou obsolescência; Amortização: quando corresponder à perda do valor do capital aplicado na aquisição de direitos da proprieda- de industrial ou comercial e quaisquer outros com existência ou exercício de duração limitada, ou cujo objeto sejam bens de utilização por prazo legal ou contratualmente limitado; Exaustão: quando corresponder à perda do valor, decorrente da sua ex- ploração, de direitos cujo objeto seja recursos minerais ou florestais, ou bens aplicados nessa exploração. Os ajustes da inflação, taxa de juros e a pari- dade cambial são aplicados tanto em itens do ati- vo quanto do passivo até a data de publicação do balanço. Por exemplo, as obrigações em moeda estrangeira, com cláusula de paridade cambial, serão convertidas em moeda nacional à taxa de câmbio em vigor na data do balanço. Baseando-se nessa metodologia, o valor de mercado da empresa é expresso pela equação: VALOR DA EMPRESA (PL) = VALOR DO ATIVO TOTAL AJUSTADO – VALOR DO PASSIVO TOTAL AJUSTADO Avaliação de Empresas e Governança Corporativa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 23 Muitas dessas decisões são impostas por necessidade, mas algumas exigem uma análise profunda das alternativas disponíveis, de seus custos e de suas implicações em longo prazo. Assista ao filme Wall Street – Poder e Cobiça. O filme aborda uma série de situa- ções presentes no mercado de ações que ajudará no seu aprendizado. A histó- ria se passa em Nova York, 1985, onde Bud Fox é um jovem ambicioso corretor que trabalha no mercado de ações. O personagem Gordon Gekko é um inescrupuloso bilionário proprietário de uma corretora de valores que não mede esforços para obter informações privilegiadas que lhe proporcionam vantagem na tomada de decisão sobre a compra e venda de ações. Atores: Daryl Hannah, Michael Douglas, Charlie Sheen. Ano de lançamento: 1987. MultimídiaMultimídia Assume que o Valor da Empresa (VE) corres- ponde ao preço possível de eventual venda dos bens e direitos no mercado, no estado em que se encontrarem, caso as atividades sejam encerradas. Martins (2008) menciona que, nessa situ- ação,comumente verificam-se que os ativos da empresa são realizados em valores inferiores aos registrados nos relatórios gerenciais e demons- trações contábeis. Isso decorre do poder de bar- ganha dos compradores e necessidades imedia- tas de caixa dos proprietários. 2.3 Metodologia do Valor de Liquidação 2.4 Metodologia do Preço por Lucro (P/L) A premissa dessa metodologia baseia-se na condição de que, se duas empresas atuam no mesmo setor e possuem estrutura e porte seme- lhantes (material, humana e financeira), poderá ser realizada uma comparação direta entre os seus resultados e indicadores de desempenho – neste caso, o índice Preço/Lucro ou P/L. O índice P/L mensura quanto os investido- res estão dispostos a pagar por unidade de lucro divulgado, e é calculado pela fórmula: Marcelo Cerqueira Silva Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 24 IPL = PREÇO DE MERCADO POR AÇÃO ÷ LUCRO CONTÁBIL POR AÇÃO LPA = LUCRO LÍQUIDO ÷ NÚMERO DE AÇÕES EMITIDAS Quadro 9 – Cálculo e interpretação do Preço/Lucro. ÍNDICE Ano 1 Ano 2 Situação Técnica Preço/Lucro 2,00 3,00 Favorável Preço/Lucro Para cada $ 1,00 de lucro contábil, o investidor paga $ 3,00, ou o preço de mercado de ação corresponde a 3 vezes o valor contábil por ação. Isso sugere que os investidores estão considerando a empresa menos arriscada e, portanto, estão projetando perspectivas favoráveis sobre a capacidade de geração de fluxos de caixa futuros. segundo Martins (2001), apesar de aceito pelo mercado, observam-se, nessa metodologia, as seguintes limitações: considera o lucro contábil (limitações já comentadas); ignora o valor do dinheiro no tempo e os riscos; considera implícita a ideia de eficiência de mercado. O Valor da Empresa (VE) é calculado por meio da ponderação média e capitalização dos lucros históricos por uma taxa de retorno ou custo de capital (i) que corresponda ao risco do negócio e reflita as incertezas de mercado. Em seguida, soma-se o valor dos ativos não operacio- nais ao valor operacional, para se chegar ao valor total da empresa. Aqui, podem-se assumir dois valores para a empresa: o primeiro baseado na capitalização do lucro operacional (lucro antes dos juros e imposto de renda) e o segundo baseado na capitalização do lucro líquido (lucro após o imposto de renda). O exemplo baseia-se no lucro operacional, uma vez que corresponde à geração de receitas diretamente relacionadas à atividade principal da empresa. A M&M gerou os seguintes lucros operacio- nais nos últimos cinco anos: 2.5 Metodologia de Capitalização dos Lucros Lucro (milhões) Ano 1 Ano 2 Ano 3 A no 4 Ano 5 Histórico 105,70 111,41 117,65 124,47 131,32 Avaliação de Empresas e Governança Corporativa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 25 Considerando uma taxa de capitalização histórica ou custo de capital de 12,50% e Ativos Não Operacionais avaliados em $ 34,00, teríamos o seguinte valor estimado para a M&M: 2.6 Metodologia do Valor Presente Líquido Período (1) Lucro Operacional (2) Fator de Ponderação (3 = 1 x 2) Lucro Ponderado Ano 1 105,70 1,0 105,70 Ano 2 111,41 2,0 222,82 Ano 3 117,65 3,0 352,95 Ano 4 124,47 4,0 497,88 Ano 5 131,32 5,0 656,60 Soma dos Lucros Operacionais Ponderados 1.835,95 ÷ soma dos Fatores de Ponderação 15,00 = Lucros Operacionais Médios Ponderados 122,40 ÷ Taxa de capitalização Histórica 12,50% = Valor Operacional da Empresa (122,40 ÷ 0,1250) 979,20 + Ativos Não Operacionais 34,00 = Valor total da Empresa 1.013,20 A principal limitação atribuída a essa me- todologia é que ela parte do lucro apurado pela contabilidade tradicional. De acordo com a teoria tradicional de orça- mento de capital, o Valor Presente Líquido (VPL) de um projeto é o valor presente de seus fluxos de caixa livres esperados no futuro, descontados a uma taxa que reflita o risco do negócio e as in- certezas de mercado. Algebricamente, o VPL é encontrado sub- traindo-se o investimento inicial (FCL0) de um projeto do valor presente de suas entradas de caixa (FCLn), descontadas a uma taxa (i) igual ao custo de capital da empresa. VPL = Valor Presente das Entradas de Caixa – Investimento Inicial se o VPL é positivo, então, o projeto deve ser aceito, uma vez que os fluxos de caixa livres atualizados foram mais que suficientes para co- brir o custo do investimento. A Indústria Montadora de Veículos s.A. está analisando a viabilidade de aquisição de uma empresa produtora de autopeças, no final do Ano 1. O investimento é estimado em $ 250 milhões, com expectativa de geração dos seguintes fluxos de caixa livres para os próximos cinco anos. Marcelo Cerqueira Silva Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 26 FCLs (milhões) Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6 Projetado 12,00 12,96 13,93 14,95 15,98 Para o período pós-projetado, a empresa assumiu uma taxa de crescimento constante de 6,25%. Com isso, seu Valor Residual para o final do último ano projetado é de $ 485,11, considerando um custo de capital de 9,75%: VR ano 6 = (15,98 x 1,0625) ÷ (0,0975 – 0,0625) = $485,11 milhões Valor da Empresa (VE) para o final do ano 1 é de $357,23 milhões. VE ano 1 = 12,00 + 12,96 + 13,93 + 14,95 + (15,98 + 485,11) = 357,23 (1,0975) (1,0975) (1,0975) (1,0975) (1,0975) VPL para o final do ano 1 é de $ 107,23 milhões. VPL ano 1 = $ 357,23 - $ 250,00 = $ 107,23 O resultado positivo recomenda o investi- mento, uma vez que as entradas atualizadas de caixa ($ 357,23 milhões) são superiores ao de- sembolso com a aquisição da empresa ($ 250 milhões). A viabilidade do projeto também seria reforçada pela sinergia entre as atividades opera- cionais das empresas, que possibilitaria redução de custos. Ao comprar uma empresa produtora de autopeças, a montadora reduziria a depen- dência de fornecedores e teria acesso mais rápido e barato às matérias-primas. A principal deficiência da Metodologia do VPL é não levar em consideração as atitudes que podem ser tomadas depois que o projeto tenha sido aceito e colocado em operação e que podem fazer com que os fluxos de caixa mudem. Tratam-se das respostas imediatas ou adap- tações às mudanças nas condições de mercado de- correntes de efeitos de fatores sistemáticos, como recessão, desemprego, alterações nas taxas de risco (inflação, juros e câmbio), ações da concorrência (redução do preço, alongamento do prazo do crédi- to, lançamento de novos produtos etc.), avanços da tecnologia, ações do governo (aumento da carga tributária, abertura de mercado etc.), entre outras. De acordo com Martins (2008), tais eventos podem influenciar os investidores a tomar atitu- des diferenciadas, como encerrar e reiniciar ativi- dades, adiar seu início, expandi-las, contraí-las ou abandoná-las. Apresentaremos a seguir as ferra- mentas complementares à avaliação de empre- sas, Taxa Interna de Retorno (TIR) e do Período de Pagamento (Período Payback). Avaliação de Empresas e Governança Corporativa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 27 É a taxa de desconto que leva o valor presen- te das entradas de caixa de um projeto a se iguala- rem ao valor presente das saídas de caixa. Trata-se da taxa de rentabilidade periódica de um investi- mento, geralmente definida para períodos anuais. Para analisar a viabilidade de um projeto, a TIR deve ser comparada com o custo de oportu- nidade vigente, ou seja, a taxa de retorno mínima exigida em face do risco do investimento. Essa taxa mínima também é conhecida como de capital da empresa. Conforme Gitman (2000), é muito simples avaliar a viabilidade de projetos com a utilização da TIR, adotando-se os seguintes critériosde decisão: se a TIR for maior que o custo de capital, recomenda-se aceitar o projeto; se a TIR for menor que o custo de capi- tal, recomenda-se rejeitar o projeto. Isoladamente, esses critérios garantem que a empresa ganhe pelo menos seu retorno exigi- do, o que contribuiria para o aumento de seu va- lor de mercado. 2.7 Taxa Interna de Retorno (TIR) 2.8 Período Payback (PP) O Período de Payback (PP), também conhe- cido como período de recuperação, é o tempo exigido para a empresa recuperar seu investimen- to inicial em um projeto. Ao medir com que rapi- dez a empresa recupera seu investimento inicial, o Período de Payback também considera implici- tamente o timing dos fluxos de caixa e, portanto, o valor do dinheiro no tempo. Quanto mais amplo for o horizonte de tem- po considerado, maior será o grau de incerteza nas previsões. Desse modo, propostas de investi- mento com menor prazo de retorno – mantidas as outras variáveis constantes – podem apresen- tar maior liquidez e, consequentemente, menor risco. O período máximo aceitável de Payback é determinado pela alta administração da empre- sa. Inicialmente, propostas que ultrapassem esse limite de tempo são rejeitadas. O cálculo do Perí- odo de Payback é simples: 1° Passo: identifica-se o custo inicial ou valor atualizado do investimento para t0; 2° Passo: descontam-se os fluxos de caixa projetados para t1, t2, t3,...tn, ao custo de capital ou taxa de desconto que represente o risco do negócio; 3° Passo: somam-se os fluxos de caixa atualizados ano a ano; 4° Passo: verifica-se até que ano a em- presa recuperou a predominância do investimento inicial; 5° Passo: calcula-se quanto falta recu- perar e em que período ocorrerá; 6° Passo: soma-se o número de anos necessários para a recuperação da pre- dominância do investimento inicial ao resultado da divisão entre a quantia restante a recuperar e o valor do fluxo de caixa atualizado do período em que ocorrerá a recuperação do total do in- vestimento inicial. Marcelo Cerqueira Silva Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 28 Exemplo – Calcule o payback dos projetos abaixo: Meta para afirmação de viabilidade = 3 anos. Período Projeto A Projeto B 0 50.000 50.000 1 15.000 8.000 2 28.000 8.000 3 19.000 8.000 4 5.000 12.000 5 7.000 35.000 6 10.000 10.000 Projeto A = 15.000 + 28.000 = 43.000 50.000 – 43.000 = 7.000 7.000 19.000 = 0,36842 0,36842 x 12 = 4,42 Resposta: 2 anos e 4 meses (aproveitamos somente o valor do lado esquerdo da vírgula). Projeto B = 8.000 + 8.000 + 8.000 + 12.000 = 36.000 50.000 – 36.000 = 14.000 14.000 35.000 = 0,40 0,40 x 12 = 4,8 (aproveitamos somente o valor do lado esquerdo da vírgula) Resposta: 4 anos e 4 meses. Avaliação de Empresas e Governança Corporativa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 29 Resposta final de acordo com a meta do in- vestidor: de acordo com a meta proposta pelo in- vestidor, podemos afirmar, após a realização dos cálculos com a ferramenta Payback, que o Projeto A é viável, pois obtém a recuperação do investi- mento inicial de acordo com o prazo estabeleci- do pelo investidor, e que infelizmente o Projeto B não oferece viabilidade, pois o prazo de recupera- ção do investimento supera o prazo determinado pelo mesmo. Exemplo 2 – Calcule o payback dos proje- tos abaixo: Meta para afirmação de viabilidade = 4 anos. Período Projeto A Projeto B 0 150.000 150.000 1 45.000 38.000 2 28.000 57.000 3 19.000 28.000 4 35.000 72.000 5 7.000 35.000 6 12.000 19.000 7 30.000 10.000 8 10.000 22.000 Projeto A = 45.000 + 28.000 + 19.000 + 35.000 + 7.000 +... ...+ 12.000 = 146.000 150.000 – 146.000 = 4.000 4.000 ÷ 30.000 = 0,13333 0,13333 x 12 = 1,6 (aproveitamos somente o valor do lado esquerdo da vírgula) Resposta: 6 anos e 1 mês. Projeto B = 38.000 + 57.000 + 28.000 = 123.000 150.000 – 123.000 = 27.000 27.000 ÷ 72.000 = 0,375 0,3750 x 12 = 4,5 (aproveitamos somente o valor do lado esquerdo da vírgula) Resposta: 3 anos e 4 meses. Marcelo Cerqueira Silva Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 30 Resposta final de acordo com a meta do in- vestidor: de acordo com a meta proposta pelo in- vestidor, podemos afirmar, após a realização dos cálculos com a ferramenta Payback, que o Projeto B é viável, pois obtém a recuperação do investi- mento inicial de acordo com o prazo estabeleci- do pelo investidor, e que infelizmente o Projeto A não oferece viabilidade, pois o prazo de recupera- ção do investimento supera o prazo determinado pelo mesmo. O valor operacional da empresa é calculado a partir da capitalização dos fluxos de caixa livres da atividade principal (FCLs) descontados a uma taxa de retorno (i) que corresponda ao risco do negócio e reflita as incertezas de mercado. Em se- guida, soma-se o valor dos Ativos Não Operacio- nais ao Valor Operacional, para se chegar ao valor total da empresa. segundo santos (2008), essa taxa corres- ponde ao custo médio ponderado de capital, ou CMPC, que vem a ser justamente a média ponde- rada das diferentes formas de financiamento pre- sentes na estrutura de capital da empresa. Essa técnica é uma das mais utilizadas em cálculos de valor empresarial, porque incorpora os fatores que interessam na avaliação do valor: (1) fluxos de caixa (em vez de medidas contábeis) e (2) o custo de capital. 2.9 Metodologia dos Fluxos de Caixa Descontados O Valor da Empresa (VE) é, então, calculado considerando-se o Valor dos Ativos Não Opera- cionais (ano-ano 0) registrado no último ano de atividades da empresa (Ano 0), os Fluxos de Cai- xa Livres Projetados (FCLs) e o Valor Residual (VR) no último ano projetado – os dois últimos atuali- zados para o Ano 0 à taxa de desconto (i): Avaliação de Empresas e Governança Corporativa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 31 O Valor Residual representa o Valor da Em- presa no final do último ano projetado, ou seja, o valor presente dos fluxos de caixa livres após o período de previsão explícita. Em condições de crescimento constante para o período pós-proje- tado, o Valor Residual (VR) poderá ser calculado pelo Modelo de Gordon: Sendo: VR ano u = Valor Residual para o Último Ano do Período Projetado. FCL ano u = Fluxo de Caixa Livre do Último Ano Projetado. G = Taxa de Crescimento Constante para os Fluxos de Caixa Livres do Período Pós-Projetado. CMPC = Custo Médio Ponderado de Capital ou Taxa de Desconto. Alternativamente, Copeland, Koller e Mur- rin (2002) sugerem que o Valor Residual para o úl- timo ano projetado seja calculado considerando os Lucros Operacionais Ajustados (LOA): Sendo: LOA ano u = Lucro Operacional Ajustado do Último Ano Projetado. Exemplo de Cálculo do Valor da Empresa pela Metodologia dos Fluxos de Caixa Descon- tados – Considere que a empresa Apple s.A. ge- rou os seguintes fluxos de caixa livres nos últimos cinco anos: FCLs ($ Milhões) Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Histórico 94,00 100,58 106,82 112,90 120,47 Baseando-se em expectativas e em seu de- sempenho histórico, a empresa está projetando o crescimento dos fluxos de caixa livres a uma taxa de 5,5% para os próximos cinco anos. FCLs ($ Milhões) Ano 6 Ano 7 Ano 8 Ano 9 Ano 10 Projetado 127,10 134,09 141,46 149,24 157,45 Assim, têm-se os seguintes fluxos de caixa livres projetados: Para o período pós-pojetado, assuma uma taxa de crescimento constante de 5%. Com isso, seu Valor Residual para o final do último ano pro- jetado é de $ 2.543,41, considerando um custo de capital de 11,50%: Valor da Empresa (VE) para o final do Ano 5 é de $ 1.987,67 milhões. Marcelo Cerqueira Silva Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 32VE Ano 5 = $ 127,10 + $ 134,09 + $141,46 + $ 149,24 + ($ 157,45 + $ 2.543,41) = $ 1.987,67 (1,115)¹ (1,115)² (1,115)³ (1,115) (1,115) Caro(a) aluno(a), Neste capítulo estudamos as principais metodologias aplicadas no processo de avaliação de uma empresa. Entendemos a aplicação da técnica do Período de Payback (PP), também conhecido como pe- ríodo de recuperação e que é o tempo exigido para a empresa recuperar seu investimento inicial em um projeto, e a importância da utilização da metodologia dos fluxos descontados. Espero que tenham compreendido. Vamos agora avaliar a sua aprendizagem. 2.10 Resumo do Capítulo 2.11 Atividades Propostas 1. Explique o seu entendimento sobre o processo de avaliação de empresas através do método da capitalização dos lucros. 2. Explique o seu entendimento sobre o processo de avaliação de empresas através do método do Valor Presente Líquido. 3. Explique o seu entendimento sobre o processo de avaliação de empresas através do método da Taxa Interna de Retorno. Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 33 Caro(a) aluno(a), Neste capítulo, apresentaremos o concei- to dos ativos intangíveis. Apresentaremos ainda a sua importância para as empresas e diversos exemplos dessa modalidade de ativos. Observa- remos ainda a interferência do fator humano na gestão das empresas. Vamos iniciar a discussão? Os Ativos Intangíveis são recursos não ma- teriais controlados pela empresa, que têm proba- bilidade de trazer benefícios futuros ao negócio. Esses ativos não estão refletidos nas demonstra- ções financeiras, mas se transformam em benefí- cios quando estão associados a alguma atividade ou ação da companhia. são exemplos de ativos intangíveis: patentes de produtos; patentes de processos industriais; marcas de fábrica (Grife); marca registrada (Razão social); softwares; desenhos industriais; direitos autorais; contratos de transferência (Cessão de Tecnologia); franquias; Goodwill econômico etc. Esses ativos são pertencentes a um titular legal e possuem um valor decorrente dos direi- tos de propriedade a eles associados. Quando as empresas investem em ativos intangíveis, incor- rem em custos de curto prazo visando à geração de maiores fluxos de caixa futuros (médio e lon- go prazos). Embora possam envolver valores re- levantes desembolsados do caixa, a maioria dos gastos não é reconhecida como investimento na contabilidade das empresas. O que ocorre é um lançamento como custo operacional que, conse- quentemente, reduz o lucro e o pagamento do imposto de renda. Essa condição é muito questionada nas co- munidades acadêmica e empresarial, uma vez que, igualmente à função dos ativos tangíveis, vi- sam a contribuir para a geração de maiores fluxos de caixa futuros. 3.1 O Fator Humano na Gestão do Negócio ANÁLISE DOS ATIVOS INTANGÍVEIS3 Os preços das ações de uma empresa refle- tem as expectativas do mercado em relação à sua capacidade futura de gerar fluxos de caixa ope- racionais para pagamento de todas as suas dívi- das e maximização da riqueza dos proprietários. Para honrar tais compromissos, é indispensável que tanto os ativos tangíveis quanto os ativos intangíveis sejam utilizados eficientemente. Isso pressupõe a ação de profissionais qualificados, continuamente atentos ao comportamento dos fundamentos da economia e com ampla visão da saúde financeira da empresa e das necessidades potenciais de mercado. Marcelo Cerqueira Silva Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 34 Martins (2008) considera as pessoas como as principais responsáveis pelas estratégias de investimentos e financiamentos na gestão do negócio; dessa forma, fundamental seria que a elas fosse atribuído um valor nas demonstrações financeiras. De fato, são elas que criam ideias para o desenvolvimento de produtos, marcas, campa- nhas comerciais, campanhas publicitárias e pro- cessos produtivos. Além disso, são responsáveis pela contratação de funcionários, modernização tecnológica, captação de financiamentos e moti- vação de toda a estrutura (administrativa e opera- cional) para alavancar a lucratividade. Mas, como atribuir valor à competência das pessoas nas demonstrações financeiras? A resposta deveria se centrar na geração de fluxos de caixa que possibilitassem a maximização da riqueza dos proprietários e demais supridores de capital à empresa (funcionários, clientes, fornece- dores, bancos entidades governamentais etc.). se as estratégias traçadas para atender às necessidades de todos esses agentes forem bem- -sucedidas, a empresa receberá benefícios em contrapartida, como melhor reputação, maior credibilidade e menor custo para captar fundos para financiamento de capital de giro e imobili- zação. Isso favorece os resultados de seus vários projetos, contribuindo para torná-los viáveis fi- nanceiramente, ou seja, geradores de VPLs posi- tivos. Por exemplo, se a meta principal do perío- do consiste em aumentar em 10% o número de empresas participantes da carteira de clientes e esse resultado é alcançado, ou, melhor, ultrapas- sado, à equipe da área comercial caberia o rece- bimento de uma recompensa arbitrada (fora o salário) pela alta administração. Caso o aumento da base de clientes contribuísse para o aumen- to do faturamento, após análises qualitativas do risco de crédito, também seria atribuída uma re- compensa aos profissionais da área de crédito e financiamento – isso já ocorre, na realidade. E as- sim sucessivamente para as demais áreas da em- presa (marketing, recursos humanos, produção, controladoria etc.). Como podemos verificar, a quantificação desses resultados é possível, embora questioná- vel por depender das políticas orçamentárias de cada entidade. sendo o foco principal de toda e qualquer empresa gerar lucro operacional, temos como monitorar o desempenho desses resulta- dos periodicamente, por meio das demonstra- ções financeiras divulgadas. A partir disso, podemos calcular o lucro (exato, aproximado ou médio) por funcionário, departamento, divisão, diretoria, linha de negó- cio (produto ou serviço), segmento etc. Da mes- ma forma, podemos desmembrar do salário dos funcionários quanto representa a parcela fixa e a parcela variável. Apresentamos a seguir um exemplo co- mentado de Ativos Intangíveis para um Banco Comercial Múltiplo. Entre os ativos intangíveis O Banco ABC s.A., são destaques: sua marca, sua forte presença em todo o território brasileiro, sua expertise nos diversos mercados em que atua, seu sistema de gerenciamento de risco e, principal- mente, a capacidade de inovação do seu capital humano. À sua marca são vinculados atributos in- dispensáveis: tradição, confiança e solidez. A rede de distribuição do banco está posi- cionada estrategicamente em todo o território brasileiro, proporcionando grande capacidade para colocação e venda de produtos e serviços. A cultura interna do banco é voltada para o desen- volvimento de novas formas de relacionamento com parceiros e clientes, novos produtos e servi- ços e novos processos, o que confere ao banco a vantagem competitiva pela constante renovação de seus negócios. A expertise do banco nos mercados em que atua e a qualificação de seu capital humano o fa- zem um dos bancos mais inovadores do país, com a mais completa carteira de produtos e serviços do mercado brasileiro. Baseando-se em constantes AtençãoAtenção Na opinião de alguns autores, o reconhecimento da competência dar-se-ia pelo pagamento de prêmios ou bônus por metas atingidas (SANTOS, 2008). Avaliação de Empresas e Governança Corporativa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 35 gastos com pesquisas e desenvolvimento, a ins- tituição vem desenvolvendo
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