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E. MAGALHÃES NORONHA DIREITO PENAL VOL. 1 ÍNDICE GERAL INTRODUÇÃO CONCEITO DO DIREITO PENAL 1. Denominação..................................................................... .............................................. 3 2. Definição....................................................................... ................................................... 4 3. Caracteres...................................................................... ................................................. 4 4. Conteúdo........................................................................ ................................................. 7 5. Direito penal objetivo e direito penal subjetivo................................................................ 7 6. Caráter dogmático....................................................................... .................................... 8 7. Direito penal comum e direito penal especial................................................................. 9 8. Direito penal substantivo e direito penal adjetivo........................................................... 10 RELAÇÕES DO DIREITO PENAL 9. Relações do direito penal com as ciências jurídicas fundamentais.............................. 11 10. Relações do direito penal com os outros ramos jurídicos............................................. 12 11. O direito penal e a criminologia.................................................................... ................. 14 12. A penologia....................................................................... ............................................. 16 13. A política criminal........................................................................ ................................... 17 14. O direito penal e as disciplinas auxiliares...................................................................... 18 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS IDÉIAS PENAIS 15. Tempos primitivos...................................................................... .................................. 20 16. Vingança privada......................................................................... ................................. 20 17. Vingança divina.......................................................................... ................................... 21 18. Vingança pública......................................................................... .................................. 22 19. Período humanitário..................................................................... ................................. 24 20. Período criminológico................................................................... ................................. 26 DOUTRINAS E ESCOLAS PENAIS 21. Correntes doutrinárias.................................................................... .............................. 28 22. A Escola Clássica........................................................................ ................................. 30 23. A Escola Correcionalista................................................................. .............................. 33 24. A Escola Positiva........................................................................ .................................. 34 25. A Terceira Escola.......................................................................... ............................... 39 26. A Escola Moderna alemã........................................................................... ................. 40 27. Outras escolas e tendências. Conclusão..................................................................... 41 AS FONTES DO DIREITO PENAL 28. Fontes de produção ou materiais e fontes de conhecimento ou formais.................... 45 29. Fonte imediata: a lei. A lei penal. Caracteres e classificação. Norma penal em branco.......................................................................... ..................... 46 30. Fontes mediatas: a) o costume; b) a eqüidade; c) os princípios gerais do direito; d) a analogia. A doutrina. A jurisprudência. Os tratados e convenções....................... 50 HISTÓRIA DO DIREITO PENAL BRASILEIRO 31. O aborígine....................................................................... .......................................... 54 32. Brasil Colonial........................................................................ .................................... 55 33. O Império......................................................................... .......................................... 56 34. A República....................................................................... ........................................ 59 PARTE GERAL DA APLICAÇÃO DA LEI I ANTERIORIDADE DA LEI PENAL 35. Direito penal liberal. Reação ao princípio................................................................ 69 36. Interpretação da lei penal. Necessidade. O sujeito. Os meios. Os resultados...................................................................... ...................................... 72 37. A analogia. A analogia in bonam partem ............................................................... 74 II A LEI PENAL NO TEMPO 38. Irretroatividade da lei penal. Retroatividade benéfica........................................... 77 39. A lei mais benigna......................................................................... ........................ 78 40. Ultratividade da lei penal. Norma penal em branco............................................... 80 41. Do tempo do crime. Delitos permanentes e continuados...................................... 82 lll A LEI PENAL NO ESPAÇO E EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS. DISPOSIÇÕES FINAIS DO TÍTULO I 42. Direito penal internacional. Os princípios............................................................ 84 43. Territorialidade. Lugar do crime........................................................................... 85 44. Território...................................................................... ........................................ 86 45. Extraterritorialidade........................................................... .................................. 89 46. A lei penal em relação às pessoas e suas funções............................................ 91 47. Extradição...................................................................... ..................................... 93 48. Disposições finais do Título l............................................................................... 94 DO CRIME I CONCEITO DO CRIME 49. Conceitos do crime........................................................................... ................... 96 50. O conceito dogmático....................................................................... ................... 97 51. A ação............................................................................ .................................. 98 52. A tipicidade...................................................................... ................................. 99 53. A antijuridicidade................................................................ ..............................100 54. A culpabilidade................................................................... .............................. 103 55. A punibilidade.................................................................... .............................. 105 56. Pressupostos do crime e condições objetivas de punibilidade........................ 106 57. Ilícito penal e ilícito civil........................................................................... ......... 107 II DIVISÃO DOS CRIMES 58. Quanto à gravidade....................................................................... ................... 108 59. Quanto à forma de ação............................................................................ ....... 110 60. Outras categorias...................................................................... ........................ 111 III OS SUJEITOS E OS OBJETOS DO DELITO 61. O sujeito ativo........................................................................... ......................... 113 62. O sujeito passivo......................................................................... ...................... 114 63. O objeto jurídico........................................................................ ....................... 115 64. O objeto material........................................................................ ...................... 115 IV RELAÇÃO DE CAUSALIDADE 65. A ação e a omissão causais......................................................................... ..... 117 66. O resultado....................................................................... ................................. 118 67. As teorias......................................................................... ................................. 119 68. A teoria do Código. O nexo causal................................................................... 120 69. Superveniência causal.......................................................................... ........... 122 V DO CRIME CONSUMADO E DA TENTATIVA 70. A consumação...................................................................... ........................... 124 71. O iter criminis........................................................................ ............................ 124 72. A cogitação....................................................................... ................................ 125 73. Atos preparatórios e atos de execução........................................................... 125 74. Elementos da tentativa....................................................................... ............. 127 75. A pena da tentativa....................................................................... ................... 127 76. Inadmissibilidade da tentativa....................................................................... .. 128 77. Desistência voluntária, arrependimento eficaz e arrependimento posterior.... 130 78. Crime impossível. Crime de flagrante preparado. Crime provocado............... 133 VI O DOLO E A CULPA 79. O dolo............................................................................ ................................... 136 80. Espécies de dolo............................................................................ .................. 138 81. A culpa........................................................................... ................................... 140 82. Espécies de culpa........................................................................... .................. 143 83. A fórmula do Código.......................................................................... ............... 144 84. Compensação da culpa........................................................................... ......... 145 85. O preterdolo. Agravação pelo resultado.......................................................... 146 86. A responsabilidade objetiva........................................................................ ..... 147 87. A excepcionalidade do crime culposo.............................................................. 148 88. Actio libera in causa........................................................................... .............. 149 VII DA CULPABILIDADE A) O ERRO 89. Erro e ignorância. Erro de direito e erro de fato. Erro de tipo e erro de proibição....................................................................... ............................... 150 90. Erro de tipo............................................................................ ........................... 151 91. Da inescusabilidade do desconhecimento da lei. Erro de proibição................ 152 92. Erro determinado por terceiro e erro sobre a pessoa...................................... 154 93. Erro na execução........................................................................ ..................... 155 94. Descriminantes putativas fáticas..................................................................... 158 VIII DA CULPABILIDADE B) COAÇÃO IRRESISTÍVEL E OBEDIÊNCIA HIERÁRQUICA 95. Coação física e coação moral.......................................................................... 160 96. Causa excludente da culpabilidade................................................................. 161 97. Estrita obediência...................................................................... ....................... 162 98. Causa de exclusão de culpa........................................................................... . 163 IX DA CULPABILIDADE C) DOENÇA MENTAL E DESENVOLVIMENTO MENTAL INCOMPLETO OU RETARDADO 99. Imputabilidade e responsabilidade................................................................ .. 164 100. Inimputabilidade. Os critérios....................................................................... .. 165 101. Doença mental. Desenvolvimento mental incompleto ou retardado............... 166 102. Imputabilidade diminuída....................................................................... ......... 167 103. Medidas de segurança....................................................................... ............... 169 X DA CULPABILIDADE D) A MENORIDADE 104. Menor infrator........................................................................ ............................ 170 105. A legislação pátria.......................................................................... ................... 173 106. Estatuto da criança e do Adolescente (Lei n.8.069, de 13-07- 1990)................ 174 107. Legislação tutelar......................................................................... ..................... 176 XI DA CULPABILIDADE E) A EMOÇÃO E A PAIXÃO 108. A emoção e a paixão.......................................................................... ............... 179 109. A posição do Código.......................................................................................... 179 110. Actio libera in causa........................................................................... ............... 180 XII DA CULPABILIDADE F) A EMBRIAGUEZ 111. O alcoolismo...................................................................... ................................ 182 112. A orientação do Código.......................................................................... ........... 183 113. O fundamento: actio libera in causa.................................................................. 184 XIII DA ANTIJURIDICIDADE A) O ESTADO DE NECESSIDADE 114. Conceito e fundamento...................................................................... ............... 188 115. Requisitos...................................................................... .................................... 189 116. Exclusão do estado de necessidade................................................................ 192 117. Causas do estado de necessidade. Estado de necessidade putativo............. 193 118. Casos legais de estado de necessidade......................................................... 194 XIV DA ANTIJURIDICIDADE B) A LEGÍTIMA DEFESA 119. Definição. Fundamento e natureza. Requisitos................................................ 195 120. Agressão atual ou iminente e injusta............................................................... 196 121. Direito próprio ou alheio.......................................................................... ......... 198 122. Moderação no emprego dos meios necessários.............................................. 200 123. Legítima defesa de terceiro, recíproca e putativa. Legítima defesa e tentativa....................................................................... ......... 201 124. Estado de necessidade e legítima defesa......................................................... 202 XV DA ANTIJURIDICIDADE D) ESTRITO CUMPRIMENTO DE DEVER LEGAL. EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO 125. Estrito cumprimento de dever legal................................................................... 204 126. Exercício regular de direito. O costume............................................................ 205 127. Consentimento do ofendio. Violência nos desportes. Intervenção médico- cirúrgico....................................................................... ......................... 206 XVI DA ANTIJURIDICIDADE DO EXCESSO PUNÍVEL 128. Do excesso......................................................................... ............................... 208 129. Do excesso punível no estado de necessidade................................................ 208 130. Do excesso punível na legítima defesa............................................................ 209 131. Do excesso punível no estrito cumprimento de dever legal e no exercício regular de direito......................................................................... ....... 210 XVII DO CONCURSO SE PESSOAS 132. Noções.......................................................................... .................................... 211 133. As teorias......................................................................... ................................. 212 134. A teoria do Código.......................................................................... .................. 214 135. Causalidade física e psíquica........................................................................ ... 214 136. Co-participação e culpa........................................................................... ......... 216 137. Co-participação e omissão......................................................................... ...... 217 138. Da punibilidade. Causas de redução da pena: pequena participação e desvios subjetivos entre os partícipes............................................................. 217 139. Requisitos: concurso necessário e concurso agravante................................... 220 140. Comunicabilidade das circunstâncias................................................................ 220 141. Co-participação e inexecução do crime............................................................. 222 142. Autoria incerta......................................................................... ........................... 222 143. A multidão delinqüente..................................................................... ................. 223 DA PENA I CONSIDERAÇÕES GERAIS 144. Teorias. Conceito. Fundamento. Fins................................................................ 225 145. Caracteres e classificação................................................................... .............. 227 146. A pena de morte........................................................................... ..................... 230 II CLASSIFICAÇÃO ATUAL 147. Antecedentes históricos...................................................................... ............... 232 148. Classificação atual........................................................................... .................. 233 III DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE 149. Natureza........................................................................ .................................... 234 150. Formas de andamento. Sistema progressivo.................................................... 235 151. Sistemas penitenciários. Sistemas clássicos..................................................... 236 152. Do trabalho e remuneração..................................................................... .......... 237 153. Detração penal........................................................................... ..................... 238 154. Direitos e deveres do preso........................................................................... .. 239 155. O problema sexual.......................................................................... ................. 240 IV DA PENA RESTRITIVA DE DIREITO 156. Natureza jurídica........................................................................ ...................... 242 157. Características................................................................. ................................. 243 158. Espécies........................................................................ .................................. 244 V DA PENA DE MULTA 159. Natureza........................................................................ .................................. 247 160. Pagamento. Conversão. Revogação................................................................ 248 VI DA APLICAÇÃO DA PENA 161. Arbítrio judicial........................................................................ .......................... 250 162. O art. 59.............................................................................. .............................251 163. A personalidade do agente e a gravidade objetiva do crime........................... 251 164. Circunstâncias legais.......................................................................... ............. 253 165. Fixação da pena............................................................................ ................... 254 VII CIRCUNSTÂNCIAS AGRAVANTES 166. Considerações gerais.......................................................................... ............. 257 167. Circunstâncias agravantes...................................................................... ......... 259 168. A reincidência.................................................................... ............................... 264 VIII CIRCUNSTÂNCIAS ATENUANTES 169. Circunstâncias atenuantes...................................................................... ......... 266 IX CONCURSO DE CRIMES 170. Considerações gerais.......................................................................... ............. 270 171. Concurso material........................................................................ .................... 271 172. Concurso formal.......................................................................... .................... 271 173. Crime continuado...................................................................... ...................... 273 174. Sistemas de aplicação de penas..................................................................... 276 175. Multa........................................................................... .................................... 277 176. Limite das penas........................................................................... .................. 277 177. Concurso de leis............................................................................ ................. 278 X SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA 178. Considerações gerais.......................................................................... ........... 282 179. Histórico....................................................................... ................................... 283 180. Definição e natureza........................................................................ ................. 284 181. Pressupostos.................................................................... ................................ 285 182. Condições....................................................................... ................................. 286 183. Revogação....................................................................... ................................ 287 184. Inexecução da pena............................................................................ ............. 288 XI LIVRAMENTO CONDICIONAL 185. Considerações preliminares.................................................................... ......... 290 186. Definição. Natureza. Histórico....................................................................... ... 291 187. Pressupostos.................................................................... ................................ 292 188. Concessão do livramento condicional............................................................... 294 189. Revogação do livramento condicional.............................................................. 296 190. Incompatibilidade do livramento condicional. A expulsão de estrangeiro..................................................................... ............................... 297 XII DOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO 191. Considerações gerais.......................................................................... .............. 299 192. A sentença penal condenatória.................................................................... ..... 300 193. A sentença penal absolutória..................................................................... ........ 301 194. Efeitos genéricos. Indenização..................................................................... ...... 303 195. Confisco........................................................................ ...................................... 304 196. Registro da condenação...................................................................... ............... 306 197. Efeitos específicos..................................................................... ......................... 307 XIII DA REABILITAÇÃO 198. Considerações gerais. Conceito........................................................................ . 309 199. Pressupostos. Revogação....................................................................... ........... 311 DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA 200. Histórico....................................................................... ........................................ 313 201. Medida de segurança e pena............................................................................ .. 314 202. Legalidade da medida de segurança................................................................... 315 203. Pressupostos.................................................................... ................................... 316 204. Espécies........................................................................ ....................................... 317 DA AÇÃO PENAL I CONSIDERAÇÕES GERAIS 205. Considerações preliminares.................................................................... ............. 318 206. Notictia criminis........................................................................ ........................... 320 207. Espécies de ação............................................................................ .................... 321 208. Procedimento ex officio......................................................................... .............. 321 II A AÇÃO PÚBLICA 209. O Ministério Público......................................................................... ................... 323 210. Da iniciativa da ação............................................................................ ............... 327 III A AÇÃO DE INICIATIVA PRIVADA 211. Natureza e fundamento...................................................................... ................ 331 212. A queixa. Espécies de ação de iniciativa privada.............................................. 333 213. O ofendido e a ação penal........................................................................... ...... 336 214. Decadência. Renúncia. Perdão......................................................................... 338 215. A ação penal no crime complexo....................................................................... 342 DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE I CONSIDERAÇÕES GERAIS 216. Extinção da punibilidade.................................................................... ................ 345 217. Classificação...................................................................................................... 346 II DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE A) MORTE DO AGENTE 218. Morte do acusado e do condenado.................................................................... 349 III DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE B) DA CLEMÊNCIA SOBERANA 219. Considerações preliminares.................................................................... ........... 352 220. Anistia......................................................................... ........................................ 353 221. Graça e indulto......................................................................... .......................... 355 IV DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE C) DECURSO DO TEMPO 222. Novatio legis........................................................................... ............................ 358 223. Prescrição. Decadência. Perempção................................................................. 358 V DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE D) DECURSO DO TEMPO PRESCRIÇÃO 224. Conceito e fundamento...................................................................... ................ 361 225. Penas e prescrição...................................................................... ...................... 363 226. Prescrição retroativa...................................................................... ................... 364 227. Termo inicial da prescrição...................................................................... .......... 366 228. Causas suspensivas..................................................................... ...................... 369 229. Causas interruptivas................................................................... ........................ 370 230. Crimes de imprensa........................................................................ .................... 372 231. Crimes falimentares.................................................................... ........................ 373 VI DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE E) REPARAÇÃO 232. Retratação...................................................................... .................................... 376 233. Subsequens matrimonium..................................................................... ............. 377 VII PERDÃO JUDICIAL 234. Conceito........................................................................ ..................................... 380 235. Natureza jurídica........................................................................ ........................ 380 236. Extinção da punibilidade.................................................................... ............... 381 BIBLIOGRAFIA.................................................................... ...................................... 383 INTRODUÇÃO CONCEITO DO DIREITO PENAL SUMÁRIO: 1. Denominação. 2. Definição. 3. Caracteres. 4. Conteúdo. 5. Direito penal objetivo e direito penal subjetivo. 6. Caráter dogmático. 7. Direito penal comum e direito penal especial. 8. Direito penal substantivo e direito penal adjetivo. 1. Denominação. A denominação direito penal não é antiga. Segundo Mezger, parece que o primeiro a emprega-la foi um Conselheiro de Estado, Regnerus Engelhard, discípulo do filósofo Christian Wolff, em 1756. Atualmente, na Alemanha, é largamente usada. Omesmo se diga da Itália, não obstante o emprego também da expressão direito criminal, não sendo ocioso lembrar que a monumental obra de Carrara lhe deu preferência. Na Espanha e na França, parece-nos que as denominações derecho penal e dróit pénal são mais freqüentes que derecho criminal e droit criminel. Outros nomes tem sido lembrados: direito repressivo (Puglia), princípios de criminologia (De Luca), direito protetor dos criminosos (Dorado Monteiro), direito restaurador ou sancionador (Valdés), direito de defesa social (Martinez), denominação adotada pelo Código de Cuba. Outras expressões são ainda invocadas. Dentre as denominações tradicionais - direito penal e direito criminal - oscilam as preferências. Argumentam alguns que a primeira é imprópria, por não abranger as medidas de segurança cuja natureza preventiva as distingue da pena. Revidam outros que a punibilidade é a parte mais importante, de maior proteção e de efeitos mais graves. Consagradas pelo uso, qualquer uma das expressões pode ser empregada na denominação de nossa disciplina. Optamos, entretanto, pela de direito penal, em consonância com o Código, sendo marcante essa preferência dada pelo legislador, visto haver rejeitado a adotada por Alcântara Machado, em seu Projeto de Código Criminal. Isso dizemos, não abstante reconhecermos que esta última expressão é mais compreensiva. 2. Definição. Numerosas são as definições do direito penal, freqüentemente imperfeitas, lembrando-nos o famoso brocardo latino. Sinteticamente, Von Liszt define-o como "conjunto das prescrições emanadas do Estado, que ligam ao crime, como fato, a pena como conseqüência". Não se afasta muito dessa definição a de Mezger: " Direito Penal é o conjunto de normas jurídicas que regulam o poder punitivo do Estado, ligando ao delito, como pressuposto, a pena como conseqüência". Bem mais ampla é a de Asúa: "Conjunto de normas y disposiciones jurídicas que regulan el ejercicio Del poder sancionador y preventivo Del Estado, estabeleciendo el concepto Del delito como presupuesto de la acción estatal, así como la responsabilidad del sujeto activo, y asociando a la infracción de la norma una pena finalista o una medida aseguradora". Realmente, não se pode dizer que o direito penal se ocupa somente com o crime e a pena. Não só outras conseqüências oriundas do delito apresentam, como também mais vasto é o campo dessa disciplina. Aliás, o próprio Mezger, em seguida à sua definição, acentua que o direito penal do presente saltou o marco dessa denominação e que seu conteúdo se estende mais além dos limites que lhe assinala o sentido gramatical do nome. Já não se pode falar só da pena como conseqüência jurídica do crime. Resumidamente: direito penal é o conjunto de normas jurídicas que regulam o poder punitivo do Estado, tendo em vista os fatos de natureza criminal e as medidas aplicáveis a quem os pratica. 3.Caracteres. Pertence o direito penal ao direito público. Violada a norma penal, efetiva-se o jus puniendi do Estado, pois este, responsável pela harmonia e estabilidade sociais, é o coordenador das atividades dos indivíduos que compõem a sociedade. Os bens tutelados pelo direito penal não interessam exclusivamente ao indivíduo, mas a toda coletividade. A relação existente entre o autor de um crime e a vítima é de natureza secundária, já que ela não tem o direito de punir. Mesmo quando exerce a persecutio criminis, não goza daquele direito, pois o que lhe se transfere unicamente é o jus accusationis, cessando qualquer atividade sua com a sentença transitada em julgado. O delito é, pois, ofensa à sociedade, e a pena, conseqüentemente, atua em função dos interesses desta. Logo é o Estado o titular do jus puniendi, que tem, dessarte, caráter público. É o direito penal ciência cultural normativa, valorativa e finalista. Na divisão das ciências em naturais e culturais, pertence ele a esta classe, ou seja, à das ciênciasdo dever ser e não à do ser, isto é, à das ciências naturais. É ciência normativa, pois tem por objeto o estudo da norma, contrapondo- se a outras que são causas-explicativas. Tem a norma por objeto a conduta ou o que se deve ou não fazer, bem como a conseqüência advinda da inobservância do que impõe. As ciências causais-explicativas podem também estudar a norma, mas ocupam-se com o porquê e como de sua gênese, com os efeitos sociais, a causa de seu desaparecimento etc., como escreve Grispigni. É também o direito penal valorativo. Como efeito, o direito não empresta às normas o mesmo valor, porém este varia, de conformidade com o fato que lhe dá conteúdo. Nesse sentido, o direito valoriza suas normas, que se dispõem em escala hierárquica. Incumbe ao direito penal, em regra, tutelar os valores mais elevados ou preciosos, ou, se quiser, ele atua somente onde há transgressão de valores mais importantes ou fundamentais para a sociedade. Outro caráter seu é ser finalista. Embora alguns, como Kelsen, sustentem que o fim não pertence ao direito, mas à política ou à sociologia, tem o direito um escopo que se resume na proteção do bem ou interesse jurídico. Bem é tudo quanto pode satisfazer uma necessidade humana, e interesse é a relação que se estabelece entre o indivíduo e o bem. É freqüenteque as duas expressões sejam empregadas como sinônimas, o que não acarreta prejuízo, pois, se o interesse é o resultado da avaliação que o indivíduo faz da idoneidade de um bem, é claro que a norma, protegendo o bem, tutela igualmente o interesse. Esses bens e enteresses pertencem não só ao indivíduo, mas à sociedade, e de sua coordenação e harmonia resulta a ordem jurídica. É o direito penal sancionado. A origem desta opinião parece ter sido Rousseau, ao dizer que "as leis criminais, no fundo, antes que uma espécie particular de leis, são sanções de todas as outras". Não estamos, entretanto, em zona pacífica: numerosos autores afirmam ser ele constitutivo. Cremos, com Grispigni e outros, que o preceito primário penal é complemento e reforço de um extrapenal. Isso não importa que ele suceda sempre a este, no tempo, mas sim que lhe é logicamente posterior. Trata-se de sentido lógico e não cronológico. Acrescenta esse autor que bem se compreende que, por princípio de economia do direito, quando o Estado pode combater um mal com sanção menos grave, como a civil, não irá lançar mão da mais severa, que é a penal - a qual, lembramos nós, pode chegar até a supressão da vida humana. Conseqüentemente, compreende-se que, sob ponto de vista lógico- sistemático, a sanção penal seja posterior a outras. Reforçando seu ponto de vista, observa o eminente autor que todos os Códigos Penais contêm disposição excludente da antijuridicidade: quando o fato é praticado no exercício regular do direito (CP, art. 23, III ). Ora, se não há crime, quando o fato é praticado nessas condições, é porque, principalmente, ele há de ser vedado por outro ramo jurídico. Em suma: parece-nos difícil sustentar que um crime não é sempre um ilícito extrapenal. Há uma relação de mais para menos. Não obstante isso, não se lhe nega autonomia normativa, como escreve Maggiore: "In conclusione, dunque l'ordinamento penale há sempre valore sanzionatorio, perchè de sue norme, aderiscono o no a precetti posti da altri rami Del diritto, agiscono mediante quella particolare sanzione Che è la pena. Nè in tal modo esce menomata l'autonomia Del diritto penale, perchè in ogni caso la sanzione imprime uma nuova forma al precetto, anche se attinto ad altro ordinamento giuridico". O mesmo diz Grispigni:"Essa autonomia, no sistema das normas jurídicas, resulta, de um lado, do caráter específico da própria sanção (sanção criminal) e. de outro lado, do fato de que o Direito Penal determina, de modo todo autônomo, quais são as ações que constituem crime, os elementos deste etc., determinando, pois, com inteira autonomia o próprio Ipraeceptum legis". 4. Conteúdo. Não somente o crime e a pena dão corpo ao direito penal. A esses elementos outros se acrescentam, como o delinqüente. Erraria quem pensasse que a consideração do homem criminoso como objeto do direito penal é profissão de fé positivista. O crime é sobre tudo um fato humano, e, no estudo deste, não se pode olvidar o homem, para se permanecer em contemplação abstrata e formal da espécie delituosa. Ao contrário, há de se fazer o estudo jurídico do sujeito ativo e das situações jurídicas por ele criadas. Por outro lado, o direito penal não se exaure com o fim repressivo, mas deve valer-se de medidas de caráter preventivo. Mesmo quando pertencentes a outro ramo do direito, devem por ele ser consideradas. Ressalte-se também a importância que hoje têm as medidas de segurança, mesmo que sejam consideradas como sanções punitivas, compreendidas no conceito unitário da pena. E as próprias conseqüências que tradicionalmente são de natureza civil, como a indenização do dano causado pelo delito, superam a concepção exclusivamente privada, para adquirirem valorização nova que as aproxima de instituições de caráter público, pois o problema social que contêm transcende ao mero interesse individual, já pelo objetivo da prevenção, já como procedimento geral, para solucionar a questão econômica-social criada pelo conjunto dos prejudicados pela delinqüência. 5. Dirieto penal objetivo e direito penal subjetivo. Já tivemos ocasião de reproduzir definições de direito penal subjetivo, de Von Liszt, Mezger e Asúa (n. 2). Em resumo, constitui-se ele de preceitos legais que regulam a ação estatal, definindo crimes e impondo penas e outras medidas. Direito penal subjetivo é o jus puniendi, que se manifesta pelo poder de império do Estado. É este seu titular, o que se justifica por sua razão teleológica, que é a consecução do bem comum, em que pese às arremetidas do anarquismo puro, do anarquismo cristão de Tolstoi e do anarquismo conciliador de Solovief e Kropotkin, quiméricos e insuficientes. Compete ao Estado o direito de punir, porém não é este elimitado ou arbitrário. A limitação está na lei. Ao mesmo tempo em que ele diz ao indivíduo quais as ações que pode ou não praticar, sob ameaça de sanção - restringindo, dessarte, os interesses e faculdades individuais, em benefício da coletividade - vincula-se juridicamente a si mesmo. Com efeito, há autolimitação por ele ditada, através da lei, pois, quando baixa uma norma, impondo determinada conduta, concomitantemente está ditando o seu comportamento em relação a ela e criando direitos individuais contra ele mesmo. O direito penal subjetivo delimita-se, portanto, com o direito penal objetivo. 6. Caráter dogmático. Como ciência jurídica, tem o direito penal caráter dogmático, não se compadecendo com tendências causais-explicativas.Não tem por escopo considerações biológicas e sociológicas acerca do delito e do delinqüente, pois, como já se escreveu, é uma ciência normativa, cujo objeto é não o ser, mas o dever ser, o que vale dizer, as ordenações e os preceitos, ou antes, as normas legais, sem preocupações experimentais acerca do fenômeno do crime. Seu método é o técnico jurídico, cujos meios nos levam a conhecimento preciso e exato de norma. Orienta-nos no estudo das relações jurídicas, na elaboração dos institutos e formulação do sistema. Tal método é de natureza lógico- abstrata, o que bem se compreende, já que, se a norma jurídica tem por conteúdo deveres, para conhece-los bastam sua consideração e estudo, nada havendo para observar ou experimentar. Cumpre, entretanto, evitar excessosdo dogmatismo, pois a verdade é que, como reação ao positivismo naturalista, que pretendia reduzir o direito penal a um capítulo da sociologia criminal, excessos se têm verificado, entregando-se juristas a deduções silogísticas infindáveis, a distinções ociosas, a questões supérfluas, a temas de todo estranhos à teologia penal, a discussões terminológicas etc., desumanizando o ramo mais humano da ciência do direito. De que vale - pergunta, por exemplo, Massimo Punzo - escrever páginas e páginas, para se demonstrar ser a pena de morte desapropriação por utilidade pública? Esses exotismos, técnico- jurídicos é que devem cessar. Não aplaudimos, entretanto, os que trilham caminho oposto, reduzindo a dogmática penal à contemplação estática e estéril dos textos legais. Certo é que ela tem por objeto o jus positum, porém não se deve circunscrever a um positivismo jurídico mofino e débil. Não lhe está vedado o devassar de horizontes com o fim de propor meios mais eficazes de combate a criminalidade. A faina renovadora, que se verifica em outros ramos jurídicos, não teria razão de ausentar-se do direito penal. Com oportunidade, lembra Asúa que a dogmática é a reconstrução científica do direito vigente, não da simples lei. Devemos ter presente que o direito penal, mais que qualquer outro ramo jurídico, está em íntimo contato com o indivíduo e a sociedade, o que, se não basta para autorizar as extremadas pretensões do positivismo naturalidade desautoriza também os acanhados limites do raquítico positivismo jurídico. As reconstruções dogmáticas são formas jurídicas de conteúdo humano e social, donde o jurista não há de olvdar a realidade da vida, com suas manifestações, exigências e vibrações sócias. 7. Direito penal comum e direito penal especial. Delimitando o conceito do direito penal, os autores distinguem-no em comum e em especial, apresentando este várias subdivisões. A primeira é o direito penal disciplinar. É exercido pela administração e supõe, no destinatário da norma, relação de dependência de caráter administrativo ou de subordinação hierárquica, empregando sanções de caráter meramente corretivo. Ao contrário do direito penal comum, não se exterioriza em figuras típicas, mas as infrações são previstas de modo vago ou genericamente. Fala-se também em direito penal administrativo, conjunto de disposições que , mediante uma pena, tem em vista o cumprimento, pelo particular, de um dever seu para com a administração. Apontam alguns, como seu capítulo mais importante, o direito penal fiscal ou financeiro. Direito penal militar, aplicável somente a determinada classe de pessoas e por órgãos próprios. Direito penal político, em que atua justiça especialíssima, como no caso do impeachment. (CF, art. 86). Enumeram-se ainda o direito penal econômico, próprio dos regimes autoritários ou de economia dirigida; direito penal do trabalho ou corporativo, muito em voga no fascismo, mas desaparecido com ele; direito penal industrial e intelectual, a que se quis dar injustificada amplitude, abrangendo toda a propriedade intelectual, nas suas manifestações industrial, intelectual e artística; direito penal da imprensa, de autonomia não justificada, pois compreende crimes que apenas de diferenciam pelo modo de execução; direito penal eleitoral, cuja consideração à parte não procede, já porque sua justiça é constituída quase toda por juízes da comum, já porque os próprios crimes eleitorais são complementares da legislação penal ordinária. Geralmente, os autores se pronunciam pela autonomia do direito penal disciplinar, militar, político e administrativo. Asúa não aceita a deste. A nosso ver, o melhor critério que estrema o direito penal comum dos outros é o da consideração do órgão que os deve aplicar jurisdicionalmente. Como escreve José Frederico Marques: " Se a norma penal objetiva somente se aplica através de órgãos constitucionalmente previstos, tal norma agendi tem caráter especial; se sua aplicação não demanda jurisdições próprias, mas se realiza através da justiça comum, sua qualificação será a de norma penal comum". 8. Direito penal substantivo e direito penal adjetivo. Desde há muito, autores de renome, como Feuerbach e Carmignani, consideram o direito penal processual, então chamado adjetivo ou formal, como integrante do direito penal ou substantivo. A consideração não nos parece exata. Tem ele autonomia. Se mantém estreita relação com o direito penal, também íntima, senão talvez maior, é a com o processual civil. Não se deve esquecer, aliás, que ele se ocupa também de direitos essencialmente substantivos como o de ação. Consoante escreve Asúa, o fato de, em algumas Universidades, serem lecionadas ambas as disciplinas na mesma cátedra tem sido o motivo dessa conceituação; porém o direito penal processual possui indiscutível personalidade e conteúdo próprio, não podendo ser considerado elemento integrante do direito penal stricto sensul6. RELAÇÕES DO DIREITO PENAL! SUMÁRIO: 9. Relações do direito penal comas ciências jurídicas fundamentais. 10. Relações do direito penal com outros ramos jurídicos. 11. O direito penal e a criminologia. 12. A penologia. 13. A política criminal. 14. O direito penal e as disciplinas auxiliares. 9. Relações do direito penal com as ciências jurídicas fundamentais. Vincula-se o direito penal à filosofia do direito, pois esta lhe fornece princípios que não só circunscrevem seu âmbito como lhe definem as categorias e conceitos. Como lembra Maggiore, as noções de delito, pena, imputabilidade, culpa, dolo, ação, causalidade, liberdade, necessidade, acaso, normalidade, erro, e outros, são conceitos filosóficos antes de serem categorias jurídicas!. Quando a filosofia do direito descobre novas relações jurídicas, revela também novos objetos para a função punitiva. Acentuado, como foi, o caráter sancionador do direito penal, difícil é que transformações ou modificações de importância na legislação de um povo não atinjam também seu Código Penal. Exato é, outrossim, que não se pode elaborar o preceito penal, sem prévio juízo de valor - e por isso já se apontou também o caráter valorativo do direito penal - o que é operação ética, prendendo-se ele, igualmente, à filosofia moral. Por fim sabido é que a "filosofia entra em casa sem ser convidada", como lembra aquele jurista e, portanto, vão será qualquer esforço para se repudiar a filosofia jurídica no estudo do direito penal. Relação mantém ele com a teoria geral do direito, pois esta elabora conceitos e institutos jurídicos comuns a todos os ramos do direito. Há, portanto, entre eles, a relação que existe entre a ciência geral e a particular. Serve ela de vínculo entre a filosofia jurídica e o direito positivo, por ser por seu intermédio que a primeira coordena e sistematiza os princípios básicos do segundo. Tal se opera, sem identificação matemática de todos os conceitos jurídicos. O sentido de um conceito pode variar nos diversos ramos jurídicos, sem se quebrar a unidade substancial dos princípios gerais. Compreende-se o liame entre o direito penal e a sociologia jurídica. Esta estuda o ordenamento jurídico nas causas e na função social. Tem por objeto o estudo do fenômeno jurídico como fato social e resultante de processos sociais, ocupando-se ainda dos efeitos das normas jurídicas na sociedade. Concebe-se a relação entre eles quando se reflete que as normas penais outra coisa não são que realidades sociais, revestidas de forma jurídica. 10. Relações do direito penal com outros ramos jurídicos. Com o direito constitucional apresenta o penal afinidadesno tocante aos conceitos de Estado, direitos individuais, políticos, sociais etc. Subordina-se, evidentemente, ao Constitucional, já que um Código Penal não pode fugir à índole da Constituição. Se esta é liberal, liberal também será ele. Tal dependência é tão íntima que leva Asúa a dizer que toda nova Constituição requer novo Código Penal. O delito político sofre remarcada influência da Constituição do Estado. Nos regimes liberais não é ele tratado com a severidade dos autoritários. Entre nós, a Constituição Federal é fonte formal das normas penais, quando, v. g., dispõe sobre a amplitude de defesa (art. 5.°, LV) e o juiz natural (art. 5.°, LIII), a individualização da pena (art. 5.°, XLVI) e sua retroatividade (art. 5.°, XL), sua personalidade (art. 5.°, XLV) etc. Outros preceitos de índole liberal podiam ainda ser apontados. Relações também se manifestam entre os dois direitos, quando a Constituição dispõe sobre a competência da União para legislar sobre o direito penal, para conceder anistia etc. Estreito é o liame quando o Código Penal passa a definir os crimes contra o Estado e seus órgãos. Por outro lado, a Constituição Federal genericamente se refere a numerosos delitos, como os comuns, dolosos contra a vida, políticos etc. Enfim, tutelando os direitos fundamentais do homem e cuidando do funcionamento dos órgãos da soberania estatal, a Constituição traça limites, além dos quais as leis - e, portanto, as penais - não poderão ir, sob pena de inconstitucionalidade. Direito penal e direito administrativo também se conjugam, pois a função de punir é eminentemente administrativa, já que a observância da lei penal compete a todos e é exigi da pelo Estado. São suas relações manifestas porque, não poucas vezes, ambos tratam e se ocupam dos mesmos institutos. Assim, no tocante à execução das sanções impostas pela lei penal. Aliás, as medidas de segurança são, para muitos, providências de cunho administrativo - misure amministrative de sicurezza, dizem os italianos - não obstante serem capituladas nos Códigos Penais. Finalmente, a lei penal não olvida punir fatos em defesa da ordem e regularidade da administração pública, como ocorre entre nós. Íntima é a relação com o direito processual. Aliás, nas legislações de antanho, preceitos penais e processuais penais apareciam juntos. Divide-se o direito processual em civil e penal. Mesmo com o primeiro relaciona-se nossa disciplina, pois, não obstante a diferença de procedimento - penal e civil - ambos possuem normas comuns, como o ato processual e a sentença. Mais íntima é a relação com o processo penal. Enquanto no direito penal se consubstancia o jus puniendi, o processual o realiza com o se ocupar com a atividade necessária para apurar, nos casos concretos, a procedência da pretensão punitiva estatal. Defendendo a função dos órgãos encarregados daquela realização, o direito penal comumente pune fatos que a podem molestar ou ofender, ora se referindo exclusivamente ao processo penal (arts. 339, 340 e 341), ora ao civil (art. 358) e ora a ambos (arts. 342, 344, 346, 347 e 355). Com esse objetivo, os Códigos Penais costumam dispor de todo um capítulo que trata dos crimes contra a administração da justiça. Com a promulgação da Lei n. 10.028, de 19 de outubro de 2000, foi alterada a redação do art. 339 e acrescentou-se o Capítulo IV ao Título XI do Código Penal, com a denominação específica "Crimes contra as Finanças Públicas", complementando-se a tutela em relação às ofensas à administração da justiça. Em suma, é freqüente que problemas da maior importância interessem a ambos os ramos jurídicos, tal qual acontece com a tipicidade, cuja influência no terreno processual, hoje, não é lícito negar. Com o direito internacional público, relaciona-se também o penal, tanto que alguns autores chegam a falar num direito penal internacional, quando se trata de capítulo de direito internacional privado (n. 42). Atinências entre eles se verificam no tocante às leis penais no espaço. Cumpre, por fim, salientar o objetivo universal da luta contra a criminalidade, exigindo a conclusão de acordos de caráter internacional, como os relativos ao tráfico de brancas, objetos obscenos, extradição etc. Não é necessário acentuar a conjugação do direito penal com o penitenciário, chamado também executivo penal, considerado por muitos como ciência jurídica que se apartou daquele. Compõe-se de normas jurídicas que regulam a execução das penas e das medidas de segurança, desde o momento em que se toma exeqüível o título que legitima sua execução, consoante Novelli, o grande defensor de sua autonomia, reconhecida, aliás, pelo Congresso Penal Internacional de Palermo, em 1932. Nega-lhe Asúa o título de direito, que, ademais, segundo ele, estaria em elaboração. Vincula-se também o direito penal ao direito privado, pois, de natureza sancionatória, ele reforça a proteção jurídica contra os atos ilícitos. Títulos do Código Penal há em que o caráter sancionador do direito privado se patenteia, como ocorre nos crimes patrimoniais: furto, esbulho possessório, alteração de limites, apropriação indébita, estelionato, fraude no pagamento por meio de cheque, duplicata simulada, emissão irregular de warrant, fraudes ou abusos na fundação ou administração de sociedade por ações, para só citar alguns. Como conseqüência da intervenção estatal, tendente a evitar os excessos e desmandos do liberalismo econômico, protegendo o fraco contra o forte, é compreensível que se amplie cada vez mais o campo da ilicitude punível, passando para sua órbita o que dantes se confinava na esfera do ilícito civil. Tal se dá não apenas nos domínios econômicos. Vejam-se, por exemplo, figuras delituosas como o abandono de família (art. 244) e o perigo de contágio (art. 130), não considerados ilícitos penais pelos estatutos de 1830 e 1890. Contato íntimo com o direito privado revela quando nele vai o penal buscar conceitos para a definição de crimes: casamento, parentesco, direitos autorais, títulos de crédito, concorrência desleal, sociedades comerciais etc. 11. O direito penal e a criminologia. Delito, delinqüente e pena não são estudados exclusivamente sob o ponto de vista jurídico. Outras ciências com eles se ocupam e, dentre elas, a criminologia, denominação que comumente se atribui a Garofalo, mas que parece ter sido primeiramente empregada pelo antropólogo francês Topinard. É ela ciência causal-explicativa. Estuda as leis e fatores da criminalidade e abrange as áreas da antropologia e da sociologia criminal. Com o objetivo de estudar o delito e o delinqüente, encara os fatores genéticos e etiológicos da criminalidade, ao mesmo tempo que considera o crime em função da personalidade do criminoso. Acreditamos que sinceramente não se pode negar o valor da criminologia. Não só é uma realidade a existência de leis que regem a criminalidade, bem como real é também a influência de fatores individuais na gênese do delito. Existe conexão entre ela e a dogmática penal, como relação existe entre as ciências causais-explicativas e as de conteúdo ético, a cujo encargo fica o juízo valorativo, pois aquelas não firmam juízos de valor sobre o seu objeto, deixando essa função às ciências de natureza ética. Com o advento da primeira lei específica de execução penal (Lei n. 7.210), a criminologia ganhou a condição de matéria legislada com a introdução do exame criminológico. O binômio delito-delinqüente, numa interação de causa e efeito, em sentido investigatório, passou a ser elemento essencial para a execução da pena, como se constata dos arts.5.° e S. da lei específica. O citado art. 5.° fala em classificação dos condenados, para efeito de individualização da execução penal, "segundo seus antecedentes e personalidade", isto é, através do exame criminológico e do exame de personalidade. Vários outros dispositivos também se servem da criminologia como, a título de exemplo, o art. 112, parágrafo único, relativo ao regime para a execução da pena privativa de liberdade. A criminologia, como escreve López Rey y Arrojo, estuda a causação do crime, ficando a cargo do direito penal a causalidade, compreendida aquela como etiologia ou estudo das causas da delinqüência, e entendida esta como o processo de realização do delito, o estudo da relação que existe entre a manifestação da vontade e o evento produzidos. Em suma, embora ambos estudem o crime, fazem-no em campos diferentes, acentuando-se, contudo, que, não obstante ser autônoma, recebe a criminologia do direito penal o juízo valorativo do fato delituoso. Da criminologia, destaca-se a antropologia criminal que estuda o homem delinqüente. Deve-se seu aparecimento a César Lombroso. Hoje é também denominada biologia criminal. Tem por finalidade, com o estudo dos caracteres fisiopsíquicos do delinqüente, em conjunto com a influência externa, esclarecer a gênese do fato delituoso. Estudando o homem delinqüente, na sua unidade de corpo e espírito, ela se divide em três partes: morfologia (estudo dos caracteres orgânicos), endocrinologia (estudo dos caracteres humorais) e psicologia criminal (estudo dos caracteres psíquicos)6, não se vendo razão de destacar esta última, como coisa distinta, já que é antropologia criminal. Certo é que avulta em sua importância, mas não nos parece que se deva estremá-la da antropologia, como faz Asúa. Ocupa-se ela ainda com as influências físicas e sociais (fatores exógenos), já que o homem deve ser considerado juntamente com o meio em que vive. Capítulo importante da criminologia é a sociologia criminal, que tem por objeto o estudo do delito como fenômeno social. Deve-se o nome a Enrico Ferri, que sustentou ser ela a ciência enciclopédica do crime, concepção inaceitável mesmo por ardentes positivistas-naturalistas. Enquanto a antropologia estuda o crime atribuído ao indivíduo ou como fato individual, a sociologia ocupa-se com a criminalidade global, atribuída à sociedade em que se verifica. Aquela é a ciência do delinqüente; a outra é a da sociedade em relação ao delito, ou, como escreve Grispigni: "La scienza che studia Ia società daI punto di vista dei fenomeni criminosi che in essa si verificano". É, pois, a sociologia criminal o estudo da criminalidade como fenômeno social. Seu método é o estatístico. 12. A penologia. Como ramo da criminologia apontam ainda alguns a penologia. É que, como acentua Roberto Lyra, o estudo filosófico e sociológico da pena adquiriu tal vulto que se sustenta a necessidade de uma ciência que a encare não só sob aqueles prismas, mas ainda quanto ao histórico, científico e jurídico. Não se ocuparia somente da pena, mas também das medidas de segurança e das instituições destinadas à readaptação dos egressos. O vocábulo penologia foi empregado pela primeira vez em 1834 por Francis Lieber, publicista germânico que viveu nos Estados Unidos. Todavia não se definiu ainda com toda a precisão seu âmbito ou conteúdo. Alguns a denominam ciência penitenciária, que teria por objeto os sistemas penitenciários e as espécies de pena e de medida de segurança. Cremos, entretanto, que razão têm os que, como Asúa, lhe negam o caráter de ciência, por lhe faltar conteúdo próprio, já que, se a pena é encerrada sob o aspecto sociológico, compete à sociologia criminal seu estudo, como querem alguns, ou à sociologia penal, como propugna Grispigni; se é tomada como conseqüência do crime, entra no campo do direito penal; se se tem em vista sua execução, é objeto do direito penitenciário; se, enfim, se cogita da apresentação de iniciativas e providências para reforma do sistema punitivo, a matéria pertence à política criminal. 13. A política criminal. Tem ela tido maior desenvolvimento na Alemanha, conquanto geralmente se aponte como seu berço a Itália. Consideram-na alguns como o estudo dos meios de combater o crime depois de praticado; outros, entretanto, ampliam-lhe o conteúdo, para a conceituarem como crítica e reforma das leis vigentes. A maioria nega-lhe caráter científico, reduzindo-a antes à arte de legislar em determinado momento, segundo as necessidades do povo e de acordo com os princípios científicos imperantes. É ela crítica e reforma. Crítica quando examina e estuda as instituições jurídicas existentes, e reforma quando preconiza sua modificação e aperfeiçoamento. Vincula-a Grispigni à criminologia: deve ela, "com fundamento nas conclusões da Antropologia e da Sociologia Criminal, sugerir os meios mais idôneos para a prevenção e repressão dos crimes"". Entretanto, Asúa12, com exatidão, tem-na como parte do direito penal, visto ser corolário da dogmática, e exemplifica, dizendo que, se um dogmático, examinando o Código Penal de um país e não encontrando aí esposado o sursis, e, ciente de sua necessidade e eficácia pela dogmática, propuser a adoção, estará fazendo política criminal. Para o citado autor, ela é a arte de "traspasar en un momento determinado, a Ia legislación positiva, Ia aspiración proveniente de los ideales, ya realizable", finalizando por dizer não ser uma ciência, tampouco a moderna e promissora disciplina que Franz von Liszt pretendeu criar. Compreende-se sua estreita relação com a dogmática penal, porque pertence a esta a crítica objetiva da legislação vigente, e é dela que se há de partir para novas concepções e mesmo para a criação de um novo direito. 14. O direito penal e as disciplinas auxiliares. Ao lado do direito penal, disciplinas apresentam-se que lhe auxiliam a realização ou aplicação das normas. A medicina legal é considerada, por Afrânio Peixoto, como aplicação de conhecimentos científicos e misteres da justiça, advertindo o eminente professor que não é uma ciência autônoma, mas conjunto de aquisições de vária origem para fim determinado. Palmieri discorre, definindo-a como a aplicação de noções médicas e biológicas às finalidades da justiça e à evolução do direito. Compreende concomitantemente o estudo das questões jurídicas, que podem ser resolvidas exclusivamente com os conhecimentos biológicos e principalmente médicos, e o estudo dos fenômenos biológicos e clínicos que servem à solução dos problemas judiciários. Valioso é seu concurso no estudo dos crimes contra a vida, nos sexuais etc. Aplicações suas diariamente temos na investigação de crimes, com o exame das manchas, impressões, pegadas, sinais e outros. De sua importância, entre nós, fala bem alto a existência da cadeira de Medicina Legal, em nossas Faculdades de Direito. A psiquiatria forense, a rigor, integra-se na medicina legal; porém, dado seu desenvolvimento, é, hoje, considerada à parte. Tem por escopo o estudo dos distúrbios mentais, em face dos problemas jurídicos. Dupla é a tarefa do psiquiatra, ora colaborando com o legislador, na definição e solução de problemas do direito, ora com o magistrado, na aplicação da lei ao caso concreto. Quanto à segunda, deve limitar-se a, pelo estudo e observação do delinqüente psicopata, oferecer elementos seguros e necessários ao juiz, para decidir, e nunca opinar sobre a responsabilidade jurídica, tarefa do julgador. Com a adoção das medidas de segurança, mais se ampliou o campo da psiquiatria forense.A psicologia judiciária, ramo da psicologia aplicada, distingue-se da psicologia criminal (estudo dos caracteres psíquicos do delinqüente, a influírem na gênese do delito), e tem por objeto a obtenção da verdade no desenrolar do processo. Com esse fito, ocupa-se do acusado, juiz, ofendido, testemunhas etc. Sua importância, hoje, avulta, após os numerosos e acurados estudos da psicologia do testemunho, mostrando-nos suas imperfeições, deficiências etc., e, assim, patenteando a relatividade desse meio probatório. De modo geral, compreende-se sua importância para a avaliação da prova. A estatística criminal mantém íntima relação com a sociologia criminal. Tem por objeto revelar, por meio de dados numéricos, as relações causais entre os fatores endógenos e, principalmente, os exógenos e a criminalidade. Tem valor, entretanto, relativo, mesmo porque há elementos que influem na delinqüência e escapam de seu campo. A polícia científica consiste, segundo Grispigni: "No estudo dos meios sugeridos por diversas ciências como os mais adequados aos fins da polícia judiciária de apuração do crime e da autoria". Com essa finalidade, ela se vale dos conhecimentos que outras disciplinas, como a medicina legal, lhe fornecem. Asúa considera-a como ramo da criminalística, disciplina mais ampla, que não se circunscreve ao estudo dos métodos e meios de elucidar o crime e individualizar o autor, pois se ocupa dos conhecimentos que devem possuir todos os que intervêm na administração da justiça criminal, membros da polícia, advogados criminalistas etc. Capítulo de inegável importância da criminalística é o da especialização dos juízes do crime. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS IDÉIAS PENAIS SUMÁRIO: 15. Tempos primitivos. 16. Vingança privada. 17. Vingança divina. 18. Vingança pública. 19. Período humanitário. 20. Período criminológico. 15. Tempos primitivos. A história do direito penal é a história da humanidade. Ele surge com o homem e o acompanha através dos tempos, isso porque o crime, qual sombra sinistra, nunca dele se afastou. Claro é que não nos referimos ao direito penal como sistema orgânico de princípios, o que é conquista da civilização e data de ontem. A pena, em sua origem, nada mais foi que vindita, pois é mais que compreensível que naquela criatura, dominada pelos instintos, o revide à agressão sofrida devia ser fatal, não havendo preocupações com a proporção, nem mesmo com sua justiça. Em regra, os historiadores consideram várias fases da pena: a vingança privada, a vingança divina, a vingança pública e o período humanitário. Todavia deve advertir-se que esses períodos não se sucedem integralmente, ou melhor, advindo um, nem por isso o outro desaparece logo, ocorrendo, então, a existência concomitante dos princípios característicos de cada um: uma fase penetra a outra, e, durante tempos, esta ainda permanece a seu lado. 16. Vingança privada. Como se observa nas espécies inferiores, a reação à agressão devia ser a regra. A princípio, reação do indivíduo contra o indivíduo, depois, não só dele como de seu grupo, para, mais tarde, já o conglomerado social colocar-se ao lado destes. É quando então se pode falar propriamente em vingança privada, pois, até aí, a reação era puramente pessoal, sem intervenção ou auxílio dos estranhos. Entretanto, o revide não guardava proporção com a ofensa, sucedendose, por isso, lutas acirradas entre grupos e famílias, que, assim, se iam debilitando, enfraquecendo e extinguindo. Surge, então, como primeira conquista no terreno repressivo, o talião. Por ele, delimita-se o castigo; a vingança não será mais arbitrária e desproporcionada. Tal pena aparece nas leis mais antigas, como o Código de Hamurabi, rei da Babilônia, século XXIII a.C., gravado em caracteres cuneiformes e encontrado nas ruínas de Susa. Por ele, se alguém tira um olho a outrem, perderá também um olho; se um osso, se lhe quebrará igualmente um osso etc. A preocupação com a justa retribuição era tal que, se um construtor construísse uma casa e esta desabasse sobre o proprietário, matando-o, aquele morreria, mas, se ruísse sobre o filho do dono do prédio, o filho do construtor perderia a vida. São prescrições que se encontram nos § § 196, 197, 229 e 230. Outras legislações também adotaram o talião. Veja-se, por exemplo, a hebraica: o Êxodo (23, 24 e 25), o Levítico (17 a 21) e outros a consagrarem o "olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé". Conquista igualmente importante foi a composição, preço em moeda, gado, vestes, armas etc., por que o ofensor comprava do ofendido ou de sua família o direito de represália, assegurando-se a impunidade. Adotaram-na o Código de Hamurabi, o Pentateuco, o de Manu e outros, podendo dizer-se que permanece até hoje entre os povos, sob a forma de indenização, multa, dote etc. 17. Vingança divina. Já existe um poder social capaz de impor aos homens normas de conduta e castigo. O princípio que domina a repressão é a satisfação da divindade, ofendida pelo crime. Pune-se com rigor, antes com notória crueldade, pois o castigo deve estar em relação com a grandeza do deus ofendido. É o direito penal religioso, teocrático e sacerdotal. Um dos principais Códigos é o da Índia, de Manu (Mânava, Dharma, Sastra). Tinha por escopo a purificação da alma do criminoso, através do castigo, para que pudesse alcançar a bem- aventurança. Dividia a sociedade em castas: brâmanes, guerreiros, comerciantes e lavradores. Era a dos brâmanes a mais elevada; a última, a dos sudras, que nada valiam. Revestido de caráter religioso era também o de Hamurabi. Aliás, podemos dizer que esse era o espírito dominante nas leis dos povos do Oriente antigo. Além da Babilônia, Índia e Israel, o Egito, a Pérsia, a China etc. Ao lado da severidade do castigo, já apontada, assinalava esse direito penal, dado seu caráter teocrático, o ser interpretado e aplicado pelos sacerdotes. 18. Vingança pública. Nesta fase, o objetivo é a segurança do príncipe ou soberano, através da pena, também severa e cruel, visando à intimidação. Na Grécia, a princípio, o crime e a pena inspiravam-se ainda no sentimento religioso. O direito e o poder emanavam de Júpiter, o criador e protetor do universo. Dele provinha o poder dos reis e em seu nome se procedia ao julgamento do litígio e à imposição do castigo. Todavia seus filósofos e pensadores haveriam de influir na concepção do crime e da pena. A idéia de culpabilidade, através do livre arbítrio de Aristóteles, deveria apresentar-se no campo jurídico, após firmar-se no terreno filosófico e ético. Já com Platão, nas Leis, se ante vê a pena como meio de defesa social, pela intimidação - com seu rigor - aos outros, advertindo-os de não delinqüirem. Dividiam os gregos o crime em público e privado, conforme a predominância do interesse do Estado ou do particular. Certo é que, ao lado da vingança pública, permaneciam as formas anteriores da vindita privada e da divina, não se podendo, como é óbvio, falar em direito penal. Entretanto, situam, em regra, os historiadores, na Grécia, suas origens remotas. Roma não fugiu às imposições da vingança, através do talião e da composição, adotadas pela Lei das XII Tábuas. Teve também caráter religioso seu direito penal, no início, no período da realeza. Não tardaram muito, entretanto, a se separarem direito e religião, surgindo os crimina publica (perduellio, crime contra a segurança da cidade, e parricidium, primitivamente a morte do civis sui juris) e os delicta privara. A repressão destes era entregue à iniciativa do ofendido, cabendo ao Estado a daqueles.
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