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HISTÓRIA DA INFÂNCIA NO BRASIL

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ISSN 2176-1396 
 
 
HISTÓRIA DA INFÂNCIA NO BRASIL 
 
Angelica Cristina Henick
1
 - UNIOESTE 
Paula Maria Ferreira de Faria
2
 - SÃO BRAZ 
 
Grupo de Trabalho – Educação da Infância 
Agência Financiadora: não contou com financiamento 
 
Resumo 
 
O presente artigo elaborado para o Trabalho de Conclusão de Curso, nível de pós-graduação 
em Educação Infantil, na Faculdade São Braz, tem como objetivo apresentar um pouco da 
história da criança no Brasil, abordando sobre o processo de mudanças na concepção de 
infância, como ela era vista em meados do século XII, XIII e como é vista nos dias atuais. 
Percebem-se muitas mudanças, pois há muitos anos atrás a criança era vista como um “adulto 
em miniatura”, no qual a única diferença era o tamanho, sua estatura. Com o passar do tempo, 
a criança passou a ser vista como inocente e engraçadinha, e proporcionava aos seus pais e 
amas-de-leite divertimento e distração. No Brasil, é por volta do século XX que a criança 
começa a ter certo valor, sendo reconhecida na sociedade, e ter seus direitos minimante 
assegurados pelo Estado, onde são criadas leis trabalhistas e entre outras em prol da defesa da 
criança e adolescente. A trajetória da criança e adolescente no Brasil é marcada por diversas 
privações e dificuldades. Ao estudá-la evidenciam-se diversas consequências enfrentadas 
pelas crianças, como, maus tratos, abusos sexuais, mortalidade infantil, miséria, fome, 
crianças sem teto, sem família e escrava do trabalho. A concepção de infância de hoje é 
decorrente de constantes transformações socioculturais, na qual mudaram os valores, os 
significados, as representações e papéis das crianças e adolescentes dentro da sociedade. Para 
os estudos e compressões acerca do tema, utilizou-se de referenciais como Philipe Ariés 
(1978), Dourado (2009), Edson Passeti (s/a), Schultz e Barros (2011), Lima (2001), entre 
outros autores que discutem a temática. 
 
Palavras-chave: História da infância. Crianças e adolescentes. Brasil. 
 
1 Mestranda em Educação pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Cascavel. Pedagoga recém-formada 
no Núcleo de Estudos e Defesa dos Direitos da Infância e Juventude – NEDDIJ. E-mail: 
angelica.henick@hotmail.com 
2 Graduada em Psicologia pela Universidade Tuiuti. Especialista em Metodologia do Ensino na Educação 
Superior pelo Centro Universitário UNINTER. Especialista em Concepção Sistêmica com enfoque na área 
escolar pelo Centro Universitário Positivo (2005). Especialista em Psicopedagogia pela Pontifícia Universidade 
Católica do Paraná (2004). Graduanda em Pedagogia pelo Centro Universitário Claretiano (2014 - em curso). 
Professora orientadora Educacional na Faculdade São Braz, trabalhando com Ensino a Distância e correção de 
Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs). E-mail: paula.faria@saobraz.edu.br 
25825 
 
Introdução 
Na sociedade atual encontram-se crianças em diversas situações, como, estudando, 
brincando, viajando, e muitas outras sendo “paparicadas”. Mas e por volta do século XII, 
XIII, como ela era vista, quais eram suas necessidades, haviam diferenças entre as crianças 
das famílias dos brancos e dos negros? Quais as diferenças entre o adulto e a criança? 
Diante desses diversos questionamentos, propõe-se pesquisar e compreender a história 
da criança no Brasil, realizando apontamentos das dificuldades, misérias, abusos, falta de 
respeito, exploração que as crianças brasileiras sofreram até que foram vistas como seres com 
necessidades, com especificidades e que precisam de um atendimento diferenciado. 
Por volta do século XIX passando para o XX, é que a criança e seus comportamentos 
são cada vez mais objeto de estudo de pesquisadores da Psicologia, Sociologia, Antropologia, 
Educação e áreas afins, com o intuito de compreender as mudanças que ocorreram na 
concepção de infância (OLIVEIRA, 2002) 
Mas para entender e compreender essas mudanças e o espaço que a criança tem na 
sociedade de hoje é preciso realizar uma viagem no tempo, na história, buscando assim, a 
reconstrução do passado de diferentes crianças. 
Diante disso, propõe-se neste artigo abordar a história da infância através de uma 
busca bibliográfica sobre essa temática, buscando-se a compreensão de como foi se 
construindo a concepção e o sentimento pela criança com o passar dos anos. 
1.A concepção de Infância 
O sentimento pela infância nem sempre existiu. Por muitos anos as famílias 
encaravam a mortalidade infantil como algo natural, uma fatalidade, neste período os pais não 
tinham sentimento pelo filho que nasceu e logo morreu, pois sabiam que logo seria 
substituído por outro filho. 
A preocupação com a educação pedagógica e a inserção das crianças na sociedade são 
ideias e inquietações do fim do século XIX e início do século XX. 
Percebe-se a falta de sentimento pela infância no século XII, diante da citação de 
Ariés, o qual afirma que “[...] à arte medieval desconhecia a infância ou não tentava 
representá-la. É difícil crer que essa ausência se devesse a incompetência ou a falta de 
habilidade. É mais provável que não houvesse lugar para a infância nesse mundo” (ARIÉS, 
25826 
 
1978, p. 50). Ou seja, a família não percebia as necessidades específicas das crianças, não as 
via como um ser com peculiaridades e que precisavam de atendimento diferenciado. 
Neste período, a única diferença entre o adulto e a criança era o tamanho, a estatura, 
pois assim que apresentavam certa independência física, já eram inseridas no trabalho, 
juntamente com os adultos. Os pais contavam com a ajuda de seus filhos para realizar 
plantações, a produção de alimentos nas próprias terras, pescas, caças, por isso, assim que 
seus filhos tinham condições de se manterem em pé, já contribuíam para o sustento da 
família. 
Com essas condições, não passavam pela fase de brincar, estudar e se divertir como 
ocorre com crianças da sociedade atual, ou seja, não experimentavam o período da infância e 
juventude. A educação escolar era apenas de técnicas, de aprender o como fazer, assim, a 
criança tinha sua formação em meio aos adultos, realizando as mesmas tarefas que eles, 
carregando as mesmas quantidades que eles, sem diferenciação alguma. 
Nesse tempo, não se sentia a necessidade de escola, da educação formal, do ensino 
pela ciência, como temos hoje nas instituições de ensino. 
A partir do Renascimento Italiano no século XV, ocorre uma diferença quanto à 
descoberta da infância, no qual a criança passa a ser vista como, 
[...] um ser inacabado, vista como um corpo que precisa de outros corpos para 
sobreviver, desde a satisfação de suas necessidades mais elementares, como 
alimentar-se. Os primeiros anos de vida são para ela, o tempo das aprendizagens do 
meio que a cerca. Brinca com outras crianças da sua mesma idade e até maiores do 
que ela; arrisca-se em busca de saberes que lhe poderão ser úteis para viver em 
comunidade (PASSETTI, s/a. p. 1-2). 
Nesse período do século XV é que os adultos, os pais, a comunidade em geral começa 
a perceber que a criança precisa do momento de diversão, de se relacionar com pessoas da sua 
idade. 
Por volta do século XVI e XVII ocorre outra mudança em relação às crianças - um 
traje especial passa a distinguir as crianças dos adultos. Philippe Ariés afirma que 
Essa especialização do traje das crianças, e, sobretudo dos meninos pequenos, numa 
sociedade em que as formas exteriores e o traje tinham uma importância muito 
grande, é uma prova da mudança ocorrida na atitude com relação às crianças 
(ARIÉS, 1978, p. 157). 
Com essa “nova” forma de distinção das crianças e dos adultos, evidencia-se uma 
mudança significativa quanto ao sentimento da infância,assim sendo, a criança passa a ser 
25827 
 
vista como gentil, carismática, afetuosa e cheia de graça, passando a ser fonte de distração 
para os adultos, tanto para os pais como para as amas. 
Nesse momento, ocorre um novo sentimento pela criança, no qual ela passa a ser 
“paparicada”, ou seja, tratada com carinho e atenção, ganhando afago das pessoas ao seu 
redor. 
Verifica-se esse novo sentimento pela infância, com a afirmação de Ariés (1978, p. 
158) “(...) em que a criança, por sua ingenuidade, gentileza e graça se tornava uma fonte de 
distração e de relaxamento para os adultos, um sentimento que poderíamos chamar de 
“paparicação”. 
O autor Austero Fleury em “História Social da Criança e da Família” de Ariés define 
paparicação sendo 
Quando os adultos fazem-nas [as crianças] cair numa armadilha, quando elas dizem 
uma bobagem ao tirar uma conclusão acertada de um princípio impertinente que lhes 
foi ensinado, os adultos dão gargalhadas de triunfo por havê-las enganado, beijam-
nas e acariciam-nas como se elas tivessem dito algo correto [era a paparicação] [...] 
(ARIÉS, 1978, p. 159). 
Em meados do século XVII essa “paparicação” não se limitava apenas às crianças 
nascidas de famílias com maior poder financeiro, viam-se crianças de famílias de classes 
baixas sendo paparicadas. Ariés (1978, p. 163) alega que “as crianças dos pobres eram 
especialmente mal-educadas, pois só fazem o que querem, sem que os pais se importem (mas 
não por negligência), chegando mesmo a ser idolatradas; o que as crianças querem os pais 
também querem”. 
Evidencia-se o quanto a criança se tornou alvo de distração, momento em que os pais 
ou amas de leite se divertem vendo as brincadeiras e travessuras das crianças. 
No entanto nem todas as pessoas viam as crianças desta forma, algumas as viam como 
desperdiço de tempo e insuportável o tempo gasto em prol delas, era o lado negativo do 
sentimento de infância. 
Por volta do século XVII, forma-se outro sentimento de infância, no qual se 
desenvolveu entre os moralistas e educadores da época, inspirando a educação até o século 
XX. As distrações, brincadeiras e diversões que as crianças traziam até então, foram deixadas 
de lado, assim: 
25828 
 
[...] o apego à infância e à sua particularidade não se exprimia mais através da 
distração e da brincadeira, mas através do interesse psicológico e da preocupação 
moral. A criança não era nem divertida nem agradável: “Todo homem sente dentro 
de si essa insipidez da infância que repugna à razão sadia; essa aspereza da 
juventude, que só se sacia com objetos sensíveis e não é mais do que o esboço 
grosseiro do homem racional” (ARIÉS, 1978, p. 162). 
Agora a visão era de que “Só o tempo poderia curar o homem da infância e da 
juventude, idades da imperfeição sob todos os aspectos”, assim falava “el discreto de 
Balthazar Gratien, um tratado sobre educação de 1646[...]” (ARIÉS, 1978, p. 162). 
Assim percebe-se que vem ocorrendo uma diferença quanto ao sentimento da infância, 
no entanto para compreender dessa forma, é preciso analisar de acordo com o contexto da 
época, com a forma com que o povo desse período via até então a criança, pois como afirma 
Ariés, essas opiniões: 
já foram interpretadas por alguns historiadores como uma ignorância da infância. No 
entanto, devemos ver nelas o inicio de um sentimento sério e autêntico da infância. 
Pois não convinha ao adulto se acomodar à leviandade da infância: este fora o erro 
antigo (1978, p. 162). 
Posteriori será abordado mais especificamente sobre a infância no Brasil, apontando 
elementos importantes para a compreensão acerca deste tema, analisando o contexto histórico, 
político e social no qual estavam inseridas, e enfrentando diversas dificuldades para a 
sobrevivência. 
2.1 A infância no Brasil: sua história 
A trajetória da criança e adolescente no Brasil é marcada por diversas privações e 
dificuldades. Ao estudá-la evidenciam-se diversos problemas enfrentados por elas, tais como, 
maus tratos, abusos sexuais, mortalidade infantil, miséria, fome, crianças sem teto, sem 
família, escrava do trabalho, isso tudo sendo causado por negligência do Estado, da família e 
da sociedade em geral. 
No Brasil os primeiros modelos de crianças foram trazidos pelos Jesuítas, essas 
diferenciavam-se 
muito das crianças brasileiras; e muito pouco com as descobertas europeias sobre a 
infância. Neste contexto propagam-se duas representações infantis: uma mística 
repleta de fé, é o mito da criança-santa; a outra de uma criança que é o modelo de 
Jesus, muito difundida pelas freiras carmelitas. Inspirados por estas imagens, 
capazes de transcederem aos pecados terrenos, os jesuítas vêem nas crianças 
indígenas “o papel em blanco” que desejam escrever; antes que os adultos com seus 
maus costumes os contaminem. (PASSETI, s/a p. 3). 
25829 
 
Para os Jesuítas “A puberdade era entendida como o momento da passagem da 
inocência original da infância à idade perigosa do conhecimento do bem e do mal, em que a 
criança assumiria o comportamento do adulto” (NETO, 2000, p. 105). Assim, entendiam que 
a criança deveria receber “luz”, ser “modulada”, antes que atingisse a idade da puberdade, 
momento esse, que já seriam corrompidos pelos adultos que estão a sua volta. 
Diante dessa problemática, e para que pudesse “modular” as crianças e evitar que 
seguissem os costumes dos adultos, os Jesuítas criaram o projeto pedagógico de colonização 
jesuítica, no qual tinha como missão divulgar a fé cristã e catequisar os indígenas. Para os 
Jesuítas, “A infância é percebida como momento oportuno para a catequese porque é também 
momento de unção, iluminação e revelação [...] Momento visceral de renúncia, da cultura 
autóctone das crianças indígenas” (DEL PRIORI, 1995, apud PASSETI s/a, p. 4). 
Assim, as crianças que resistiam a esse projeto, que não queriam participar, os jesuítas 
dizia que estavam em “tentação demoníaca”, o mau já havia habitado neles. Os jesuítas viam 
a catequese como forma de “conservar a docilidade e a obediência da criança, mais uma 
forma de ação que acabava por negar a cultura indígena” (NETO, 2000, p. 106). Mas com 
essa prática pedagógica, aproveitavam também para explorar o trabalho dos indígenas e as 
riquezas naturais de suas terras (NETO, 2000). 
No entanto, mesmo com essa proposta pedagógica para as crianças, os jesuítas 
enfrentaram um grande problema, os quais não conseguiam enquadrar as crianças 
abandonadas, órfãs e migrantes em seu projeto pedagógico. Presenciavam por volta do século 
XVIII: 
[...] um estrondoso número de bebês abandonados que eram deixados pelas mães à 
noite, nas ruas sujas. Muitas vezes eram devorados por cães e outros animais que 
viviam nas proximidades ou vitimados pelas intempéries ou pela fome (NETO, 
2000, p. 107). 
Para diminuir as situações de abandono e sofrimento na época da Colônia e 
prosseguindo durante o império, é instalada no Brasil, uma instituição de origem medieval, 
chamada a Roda dos Expostos. 
De acordo com Passeti: 
25830 
 
Esta roda era uma espécie de dispositivos onde eram colocados os bebês 
abandonados por quem desejasse faze-lo. Apresentava uma forma cilíndrica, 
dividida ao meio, sendo fixada no muro ou na janela da instituição. O bebê era 
colocado numa das partes desse mecanismo que tinha uma abertura externa. Depois, 
a roda era girada para o outro lado do muro ou da janela, possibilitando a entrada da 
criança para dentro da instituição. Prosseguindo o ritual, era puxada uma cordinha 
com uma sineta, pela pessoa que havia trazido a criança, a fim de avisar o vigilante 
ou a rodeira dessa chegada, e imediatamente a mesma se retirava do local 
(PASSETI, s/a, p. 9).Esta foi uma forma encontrada para que as pessoas levassem os bebês não desejados 
para a roda, sendo garantido o anonimato do expositor, e assim não as deixando jogadas nas 
ruas, lixeiros, portas de igrejas e casas de outras famílias. 
O fenômeno de abandonar crianças é muito antigo, na época da Colônia muitas 
crianças eram largadas por diversos fatores, tais como falta de recursos financeiros, filhos fora 
do casamento, escravas que tinham filhos com seus senhores e entre outros, e então depois 
que nasciam as mulheres precisavam dar um “fim” na criança, momento o qual aconteciam os 
casos de bebes jogados em becos, lixeiras, nas portas de outras famílias, igrejas. 
Quanto à instalação da roda dos expostos, Passeti salienta que: 
a primeira foi aberta na Santa Casa de Misericórdia em Salvador, no ano de 1726. 
Ainda no período colonial, uma segunda e última roda é estabelecida em Recife. 
Mesmo, após a independência do Brasil, essas rodas continuaram a funcionar. Em 
1825, uma outra roda é instalada na Santa Casa de misericórdia de São Paulo 
(PASSETI, s/a, p. 10). 
No entanto, a Roda dos Expostos não perdurou por muito tempo, por volta do século 
XIX no Brasil essas instituições começaram a ser fechadas, pois passaram a serem 
consideradas contrárias aos interesses do Estado, as rodas começam a “receber críticas de 
médicos higienistas, que viam esta forma de assistencialismo como responsável pelas mortes 
prematuras de crianças” (PASSETI, s/a, p. 11). 
Com essas instituições fechadas, as crianças passaram a ser vistas como marginais, 
que estavam largadas a marginalidade e vadiagem nas ruas, diante desse cenário, era 
necessário alguma providência, sendo a educação como solução. Desta forma, “Caberia ao 
Estado implantar uma política de proteção e assistência à criança, a qual foi estabelecida por 
meio do Decreto 16.272, de novembro de 1923” (NETO, 2000, p. 110). 
Consequentemente, a criança deveria ter seus cuidados higiênicos, saúde e educação 
atendidas, buscando a reintegração da criança na sociedade. 
Mas é somente a partir dos anos de 1960, que começam fundas mudanças na 
concepção e formas de assistência às crianças abandonas, Neto afirma que 
25831 
 
No ano de 1964, o governo militar introduziu, mediante a Lei 4.513 de 1º de 
dezembro de 1964, a Política Nacional do Bem - Estar Social do Menor, cabendo a 
Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM) sua execução. Seus 
objetivos eram cuidar do menor carente, abandonado e delinquente, cujos desajustes 
sociais se atribuíam aos desafetos familiares (NETO, 2000, p. 111). 
Em vários Estados foram instaladas as FEBEM´s (Fundação Estadual para o Bem 
Estar do Menor) que tinham como objetivo, substituir os antigos "Aprendizados de Menores", 
para adequar a assistência que antes era quase exclusiva da Igreja, como exemplo as rodas dos 
expostos e as casas de misericórdia. Os Juizados passaram a encaminhar as crianças órfãs ou 
abandonadas para essas fundações, e que lá ficavam esperando ser adotadas, enquanto 
recebiam um ótimo tratamento e uma boa orientação pelas saudosas "damas de caridade", 
bondosas senhoras que se dedicavam voluntariamente. 
Posteriormente, houve a Constituição Cidadã de 1988, com a qual foram inseridos os 
Direitos Internacionais da Criança. 
Em 1990 o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) vêm para garantir os direitos das 
crianças e adolescentes, como consta no art. 4º o qual determina que 
 é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público 
assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos à vida, à saúde, à 
alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à 
dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária, entre 
outros mais que asseguram a criança e adolescentes de ter seu desenvolvimento na 
sociedade em que vive (DIGIÀCOMO; DIGIÀCOMO, 2013, p. 5, 6). 
A partir da Constituição, em 1993 tem-se a promulgação da Lei Orgânica da 
Assistência Social (LOAS), nº 8.742, que regulamenta e estabelece normas e critérios para a 
organização da assistência social em prol da infância, à adolescência e à velhice, o amparo às 
crianças e adolescentes carentes, a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de 
deficiência, entre outros que estão instituídos no documento. 
Com a implementação dessas e outras Leis, é que o Estado assume suas 
responsabilidades sobre a assistência de crianças e adolescentes, tornando-se sujeitos de 
Direitos. 
No entanto, mesmo com essas medidas e Leis a favor da criança, havia muitos casos 
de crianças abandonadas, o número de mortalidade também continuava a crescer, crianças 
largadas à própria sorte. Esse cenário se mantem há muitas décadas, onde se percebe que o 
Estado privilegia apenas as esferas privadas, as quais vão lhe render algo mais lucrativo do 
que as políticas sociais em prol das crianças. 
25832 
 
De acordo com Dourado (2009) os processos sociais e econômicos que sustentam e 
consolidam o capitalismo são fundamentais para as mudanças ocorridas em relação ao papel 
da criança na sociedade. Isso por que o valor econômico dos filhos das famílias ricas sofre 
alteração, pois as classes médias e altas entendiam que seus filhos deveriam dar continuidade 
aos seus projetos de acumulação econômica. Desta forma passaram a preocupar-se com a 
educação de seus descendentes. 
As famílias pobres que viviam no campo e passaram a viver na área urbana, sofreram 
na adaptação da mudança do campo para a cidade, pois se sentiam constrangidos por não 
conseguirem se sustentar na cidade, já que não tinham mais suas terrar para realizar as 
plantações e cultivos para se alimentar, que até então, contavam com a ajuda de suas crianças 
para cultivarem. 
As famílias ricas vendo suas crianças como importantes para darem segmento aos seus 
negócios percebem a necessidade de se construir um aparato pedagógico, para atender essas 
crianças que não poderiam mais ser educadas pelas famílias. 
Mesmo com a percepção da importância da educação para o desenvolvimento, a 
educação escolar no Brasil chegou tardiamente. De acordo com Del Priore (2013, p. 10) 
[...] tanto a escolarização quanto a emergência da vida privada chegaram com 
grande atraso. Comparado aos países ocidentais onde o capitalismo instalou-se no 
alvorecer da Idade Moderna, o Brasil, país pobre, apoiando incialmente no antigo 
sistema colonial e, posteriormente, numa tardia industrialização, não deixou muito 
espaço para que tais questões florescessem. Sem a presença de um sistema 
econômico que exigisse a adequação física e mental dos indivíduos a esta nova 
realidade, não foram implementados os instrumentos que permitiriam a adaptação a 
este novo cenário. 
Percebe-se que diante do cenário econômico, político, social e cultural em que o Brasil 
se encontrava não se sentia a necessidade de instrumentalizar e ensinar os sujeitos. 
No Brasil “o ensino público só foi instalado, e mesmo assim de forma precária, 
durante o governo do marquês de Pombal, na segunda metade do século XVIII” (DEL 
PRIORE, 2013, P. 10). Por muito tempo a educação dos filhos dos pobres foi o trabalho, 
momento no qual trabalhavam junto com seus pais, aprendendo a cultivar, plantar, colher e 
pescar. 
Neste tempo, os filhos dos pobres não tinham acesso ao saber como os filhos das 
elites, percebe-se essas diferenças na afirmação de Del Priore: 
25833 
 
no século XIX, a alternativa para os filhos dos pobres não seria a educação, mas a 
sua transformação em cidadãos úteis e produtivos na lavoura, enquanto os filhos de 
uma pequena elite eram ensinados por professores particulares (DEL PRIORE, 
2013, p. 10). 
A educação da sociedade brasileirafoi um fator de extrema importância, o qual serviu 
para separar as classes em empregados e patrões, colocando a disposição a educação que era 
necessária a cada um para exercer seu papel. Aos empregados a educação do aprender a fazer 
e para os filhos de patrões a escola que ensina a comandar, a mandar, a aumentar os lucros de 
uma empresa. 
Diante dessa forma de educação imposta para os brasileiros percebe-se a discrepância 
que existe na sociedade, percebe-se a que as crianças estão fadadas, ao sofrimento que 
enfrentam diante das desigualdades impostas para cada classe. 
Assim, conclui-se que são diversos fatores, eventos, culturas, momentos históricos e 
políticos que influenciaram na forma de perceber a criança e juventude, suas necessidades, 
seus sofrimentos, angústias, cada qual tratando a infância da forma em que a compreendiam. 
Assim, é preciso estudar a história das crianças para se compreender a forma como hoje são 
tratadas, o espaço que adquiriram, as leis que as defendem, tudo sendo um processo histórico, 
alavancado de contradições durante todo o período. 
Considerações Finais 
Com os estudos realizados sobre a infância, percebe-se que esta sempre foi alvo de 
abandono, miséria, sem seus direitos garantidos, tendo que enfrentar diversos desafios para 
sua sobrevivência, vivendo da própria sorte. 
Por muitos anos a criança foi vista como os adultos, sem distinção alguma, tendo que 
ajudar no trabalho pesado, sendo abusada, exploradas por diversos senhores capitalistas. 
No Brasil a concepção de infância tomou novos rumos a partir do século XX, onde se 
percebeu as necessidades específicas e peculiares para a sobrevivência da infância e 
juventude. Dando início às discussões em prol dos direitos das crianças, nos quais 
sindicalistas e a sociedade civil buscam efetivar ações de assistência e proteção à infância, 
como leis trabalhistas, pediatras e higienistas que desenvolviam trabalhos voltados para a 
saúde e bem-estar das crianças. 
O sentimento que se tem hoje de criança e infância é uma mistura de espanto, pena, 
amor, carinho, compreensão, a depender das condições de vida de cada uma. Algumas têm 
acesso a diversos recursos, enquanto outras não têm um mínimo para a sobrevivência. 
25834 
 
No entanto, a percepção e o sentimento pela infância, seus direitos e necessidades 
peculiares ao momento em que a criança se encontra, não nasceram de uma hora para outra 
nem seguiu uma linearidade, mas sim foi um longo processo de transformação cultural, 
histórica e política, o qual, os seres mais inocentes é que pagam e sofrem as consequências e 
brutalidades da sociedade. Assim, conclui-se que a concepção de infância de hoje é decorrente 
de constantes transformações socioculturais, na qual mudaram os valores, os significados, as 
representações e papéis das crianças e adolescentes dentro da sociedade. 
Mesmo diante dessas mudanças de concepção e visão acerca das crianças e 
adolescentes, é preciso se repensar as condições que o Estado, as famílias, escolas e sociedade 
em geral proporcionam as crianças, pois elas serão os adultos de amanhã. 
REFERÊNCIAS 
ARIÉS, Philippe. História Social da Criança e da Família. 2. Ed. Rio de Janeiro: Zahar 
Editores, 1978. 
DEL PRIORE, Mary. História das crianças no Brasil. 7ª ed., 1ª reimpressão. – São Paulo: 
Contexto, 2013. 
DIGIÁCOMO, Murilo José.; DIGIÀCOMO, Ildeara de Amorim. Estatuto da Criança e 
Adolescente; anotado e interpretado. Curitiba, SEDS, 2013. 
DOURADO, Ana Cristina Dubeux. História da Infância e Direitos da Criança. Edição 
Especial Salto para o Futuro. Ano 19 – Nº 10 – Setembro/2009. 
LIMA, Letícia Conceição de AlmeiDa e. A educação da criança no Brasil – (RE) Contando 
Histórias. Revista Paradoxa- Projetivas múltiplas em educação UNIVERSO, vol. 8, nº 
10/11, 2001. 
NETO, João Clemente de Souza. História da Criança e do Adolescente no Brasil. Revista 
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