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Sofrimento psíquico promovido pelo consumismo 1 Humanidades, v. 3, n. 2, jul. 2014. SOFRIMENTO PSÍQUICO PROMOVIDO PELO CONSUMISMO PSYCHIC SUFFERING PROMOTED BY THE CONSUMERISM Leonardo Augusto Couto Finelli 1 Lays Monike Gomes Vieira 2 Sheila Pereira Gonçalves² RESUMO O consumismo diz muito da relação dos sujeitos na sociedade atual regida pelo modelo capitalista. Tal aspecto social está presente no cotidiano das pessoas e influencia diretamente em seu modo de ser e pensar. As consequências do consumismo são variadas, onde é observável que em grande ou pequena escala ela pode trazer prejuízos à vida dos sujeitos. Nesse sentido, pesquisou-se na sala de espera de uma clínica escola de psicologia com 18 participantes mediante entrevista aberta com questões norteadoras e analisadas a partir do discurso dos sujeitos. Verificou-se que a crença do consumismo implica em gastos em excesso, onde a maioria não se reconhece como consumista, mas 94,45% já se sentiram arrependidos após terem realizado uma (ou mais) compra(s). Conclui-se que o consumismo pode trazer prejuízos a vida dos sujeitos quando estes comprometem de forma significativa sua renda (por exemplo, contraindo dívidas ou gastando de forma a não dispor de recursos para suprir necessidades básicas). Observou-se que o consumo de forma exagerada pode estar associado a emoções negativas. Apesar de consumir trazer bem estar durante e logo após a compra, esse é momentâneo. Palavras Chave: Consumismo. Sofrimento psíquico. Sujeito contemporâneo. Capitalismo. ABSTRACT Consumerism says a lot about an individual’s relation in the current society governed by the capitalist model. This societal trait is present in the people’s daily lives and it influences directly their way of thinking and being. The consequences of consumerism are wide-ranging, and it can be observed that in large or small scale it may bring harm to subjects’ lives. So, it was investigated in the waiting room of a psychology school clinical with 18 participants through an open interview with guiding questions and analyzed from the subjects' discourse. It was verified that the belief of consumption implies in excess expenses, where the majority of the respondents does not recognize themselves as consumerist, but 94.45% have already felt regretted after having made one (or more) purchase(s). It is concluded that consumerism can harm the lives of individuals when they significantly affect their income (for example, contracting debts or spending in a way that does not have the resources to meet basic needs). It was observed that exaggerated consumism may be associated with negative emotions. Although consuming bring well-being during and shortly after purchase, this is momentary. Keywords: Consumerism. Psychological distress. Contemporary individual. Capitalism. 1 Mestre em Psicologia. Graduado em Psicologia. Graduado em Pedagogia; Professor adjunto das Faculdades Integradas do Norte de Minas – FUNORTE. 2 Graduada em Psicologia. Faculdades Integradas do Norte de Minas – FUNORTE. Sofrimento psíquico promovido pelo consumismo 2 Humanidades, v. 3, n. 2, jul. 2014. INTRODUÇÃO O consumismo é um comportamento intrínseco à sociedade atual. Consumir se tornou tarefa cotidiana, já que ao realizar qualquer atividade, como sair com os amigos ou comemorar algum fato, o sujeito se depara com a necessidade de consumir. Tal fenômeno se tornou parte da condição humana e é permanente, sendo atemporal e historicamente mutável. Observa-se que o modelo que se apresenta em determinado período histórico é apenas uma forma renovada do modelo anterior de consumo de tal maneira que parece ter uma continuidade (BAUMAN, 2007). A história nos mostra como a forma de consumir muda de acordo com o momento sócio- histórico-cultural que o sujeito vivência. As relações estão se tornando mais heterogêneas, comparada a civilizações anteriores. O ser humano pode apreciar o mundo com outros olhares, sendo deixada de lado a hierarquização das relações. A orientação religiosa, cultural, política e a liberdade para criações subjetivas é desenvolvida por um processo de grandes reformas (MANCEBO, 2002). Uma das grandes mudanças da sociedade moderna foi a consolidação do modelo capitalista, o qual deu aos sujeitos igualdade diante do mercado e afetou pontualmente a subjetividade dos sujeitos da época (MARX, 1975 apud MANCEBO, 2002). É possível classificar algumas características como elementos que configuram a sociedade contemporânea. Tais como os grandes avanços tecnológicos, processos constantes de globalização, transformação das políticas econômicas, ascensão do poder privado, grandes instabilidades generalizadas, demasia de imagens como também de informações derivadas de várias fontes. Essas grandes modificações de caráter social mudam a percepção da temporalidade, da estabilidade e das antigas garantias que também se transformaram. O papel do sujeito na sociedade estabelece novas formas de subjetivação, que tem relação direta com o contexto sociocultural no qual é inserido. Assim são determinados novos modos de relacionamento entre os indivíduos, o trabalho, a família e a comunidade (CASADORE; HASHIMOTO, 2010). O consumo é necessário na sociedade capitalista, pois impulsiona a economia, possibilita também as relações entre as pessoas, o que faz com que participem socialmente e se integrem ao seu meio social como também no cultural. Consumir tornou-se uma maneira de inclusão, em uma sociedade individualista e excludente. Os discursos que a mídia impõe escolhem quem fará parte do grupo selecionado que pode consumir, o que gera exclusão, pois há a ilusão de igualdade e liberdade. Os produtos devem captar insignificantes mudanças, constituindo o mito da novidade permanente (OLIVEIRA, 2012). A sociedade de consumo baseia-se na afirmação de que todos os desejos humanos podem ser satisfeitos, de uma forma que nenhuma sociedade anterior teve capacidade, ou até mesmo sonhou. Mas tal promessa de satisfação só se mantém enquanto o desejo continua insatisfeito. A Sofrimento psíquico promovido pelo consumismo 3 Humanidades, v. 3, n. 2, jul. 2014. sociedade de consumo prospera enquanto torna permanente a insatisfação de seus membros. A forma de atingir este efeito é desvalorizar os produtos de consumo rapidamente, assim logo promover no desejo dos consumidores novas necessidades (BAUMAN, 2008). Observa-se ainda que a mídia impõe ao sujeito uma forma adequada de ser, manipulando assim o que seria uma identidade ideal. Essa, dita como o sujeito deve fazer uso de seu corpo, alma e vida. É possível observar esse movimento através de propagandas na mídia que atingem a subjetivação das pessoas. Através dos meios de comunicação são instaladas representações que contribuem para a criação da identidade do sujeito. Isso faz com que essas construam um estereotipo que acreditam que devem se encaixar, seja na forma de se vestir, ser ou a forma de se relacionar com os outros (GREGOLIN, 2007). Na sociedade de consumo os sujeitos exercem antes de tudo um papel de consumidor, orientados principalmente pela sedução. No contemporâneo, a velocidade, a rapidez, a incerteza e a mudança, fazem com que o sujeito desenvolva sua capacidade de adaptação. Essa instabilidade faz com que reflita na identidade subjetiva do indivíduo, ou nas suas constantes trocas (CASADORE; HASHIMOTO, 2010). Esta sociedade de consumidores promove, encoraja ou reforça a escolha de um determinado estilo de vida de forma estratégica consumista e rejeita todas as outras opções culturaisalternativas. Uma sociedade onde é prático seguir todos os preceitos determinados pela cultura do consumo e segui-los estritamente é a única escolha aprovada de forma incondicional, afinal é uma escolha plausível e viável (BAUMAN, 2008). A realidade vivenciada nos dias de hoje é resultado de um processo de transformação socioeconômico-político-social das sociedades capitalistas ocidentais, que marcou profundamente a vida diária dos indivíduos. As alterações vividas pela sociedade contemporânea, advindas da expansão da economia de mercado, da introdução do conhecimento científico e tecnológico à produção industrial, do crescimento da imigração, do crescimento de uma cultura de massa, são consideradas como processos complicados e atuantes de maneira contraditória, que gera conflitos e disfunções, incidindo sobre os sistemas sociais em grande escala, assim como, sobre contextos locais e dos grupos de diferentes regiões do mundo. (GUIMARÃES; CAMPOS, 2008). Séculos de práticas discursivas que somente sustentam a dominação social do corpo e do psiquismo tem como resultado o processo de objetificação do sujeito, cedendo a este apenas um pequeno espaço de manobra e existência. Neste processo de mercantilização que tudo se transforma em valor de troca, moeda e produção, o corpo, o psiquismo e os sujeitos se tornam prisioneiros das cultuadas novas tecnologias. Tudo está muito rápido, onde é necessário apreender o máximo de informação em uma velocidade alta para maior e melhor produção. Tais processos tem um alto Sofrimento psíquico promovido pelo consumismo 4 Humanidades, v. 3, n. 2, jul. 2014. custo, como a densidade própria do ser humano, esgotado de sua capacidade de subjetivar o mundo e, portanto, de caminhar contra a lógica daquilo que lhe é imposto (HOMEM, 2003). Muitas vezes o ato de consumir se dá através da influencia dos meios de comunicação, onde o sujeito não sabe discernir entre o que é necessidade e o que é desejo. O consumismo traz desconforto a existência do sujeito, já que para sofrer com tal aspecto não é preciso desenvolver alguma patologia. É clara a importância do significado social e a observação do comportamento do ser humano diante do consumismo. É de grande relevância compreender este processo social e suas implicações para o sujeito, tornando o seu ato cada vez mais consciente para a sociedade, dessa forma reduzindo o sofrimento do sujeito e suas vivencias relacionadas a tal processo. Considerando que a sociedade tende a aumentar suas estratégias de incentivo ao consumo, fazem-se necessários estudos que promovam reflexões sobre os efeitos desta influência na vida das pessoas. MÉTODO Trata-se de uma pesquisa de caráter qualitativo, de natureza descritiva, cujo delineamento utilizado foi a pesquisa de campo. A população escolhida foi de pacientes atendidos pelo serviço da Psicologia de uma Clínica-Escola do Norte de Minas Gerais. Na época da coleta a clínica contava com 45 pacientes em atendimento. A proposta inicial foi de realizar uma investigação censitária a partir dos critérios de inclusão (estar em atendimento pela Psicologia na Clínica-Escola no período da coleta de dados; ter mais de 18 anos; e possuir renda própria). A coleta se deu por entrevista aberta com perguntas norteadoras que ocorreu em local cedido pela instituição onde os entrevistados são atendidos. O procedimento ocorreu em média de 40 minutos e de forma individual, onde foram transcritas as respostas dos sujeitos na íntegra. Os resultados foram obtidos através da análise de discurso (FIORIN, 2002). A pesquisa seguiu orientada de acordo com os preceitos definidos pela Resolução CNS – 466/12 que dispõe sobre a pesquisa com seres humanos. Por se tratar de um tema atual observa-se que a pesquisa poderá trazer benefícios aos sujeitos, onde entendendo melhor seu comportamento frente ao consumismo, este poderá evitar possíveis sofrimentos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Apesar do convite a todos os 45 clientes da clínica escola, quatro sujeitos (8,89%) não se disponibilizaram a participar da pesquisa; 23 (51,11%) não atendiam aos critérios de inclusão em função da idade, ou de não possuir renda própria. Tratavam-se de crianças e a proposta da pesquisa foi dirigida a adultos. Assim, a pesquisa se deu, efetivamente, com 18 participantes. Esses contavam Sofrimento psíquico promovido pelo consumismo 5 Humanidades, v. 3, n. 2, jul. 2014. com idade entre 21 e 53 anos (M = 31,06 anos, DP = 8,51 anos), os quais 83,33% eram mulheres. Houve dificuldade em encontrar homens para a pesquisa, já que a maioria das pessoas atendidas pela clínica-escola eram mulheres e crianças. Mesmo dentre essas, poucas se enquadravam no critério de inclusão de possuir renda própria, o qual exigiu grande tempo de pesquisa para coletar o número de entrevistados necessário. Dos respondentes, todos possuíam renda própria, divididos entre 50,00% que eram autônomos, 38,89% funcionários fichados e 11,11% trabalhavam em regime estatutário. Muitos dos participantes dividem a renda com sua família totalizando 66,67% dos entrevistados, enquanto 27,78% utilizam sua renda apenas para gastos individuais e 5,56% ajudam familiares que não moram consigo. Quando questionados sobre o que acreditam ser consumismo 66,67% responderam que significava ter gastos em excesso ou sem necessidade (Sujeito 14 “Fazer compras exageradamente sem ter necessidade, movida pelo capitalismo, pela mídia.” Sic); 27,78% acreditam que seja o gasto com necessidades (Sujeito 02 “Comprar as coisas que precisa, alimento, essas coisas.” Sic.) e 5,56% classificaram o consumismo como algo bom. Observa-se que a maioria dos entrevistados corrobora com a ideia de que no consumismo está expressa não a qualidade, mas sim a quantidade de bens adquiridos, onde as pessoas compram produtos para além de sua capacidade financeira (OLIVEIRA, 2012). Já quando questionados se se consideravam consumistas 55,56% responderam que não. Desses, 40,00% alegam apenas comprar o necessário, já 50,00% dizem pensar antes de comprar alguma coisa e 10,00% relatam não possuir recursos para ser uma pessoa consumista. Dos que acreditam ser consumistas, 87,50% admitem comprar por desejo, os quais muitas vezes não pensam antes de adquirir algum produto (Sujeito 17 “Eu compro muito e não penso antes e muitas vezes compro sem necessidade.” Sic.), e 12,50% admitem comprar a mais por demandas sociais, como gostar de andar na moda. Quando inquiridos sobre os sentimentos após adquirir algum bem, 94,45% dos participantes dizem ficar alegres, ou satisfeitos (Sujeito 01 “Sentimento de realização. Fico feliz. Sinto prazer.” Sic.). Não obstante 83,33% disseram que já compraram alguma coisa que ao chegar em casa perceberam que não era de necessidade. Esses objetos eram em sua maioria de vestuário, onde 60,00% dos entrevistados relataram comprar sem necessidade roupas e/ou sapatos, enquanto eletrodomésticos são o segundo item mais comprado compondo 20,00% da amostra. Outros itens citados foram produtos de beleza com 13,34% e produtos para o lar com 6,66%. Dentre esses que já compraram algum produto que não era de necessidade 53,84% comprometeram mais de 20% de sua renda total. Sofrimento psíquico promovido pelo consumismo 6 Humanidades, v. 3, n. 2, jul. 2014. Ainda entre aqueles que compraram algum objeto sem necessidade, 46,66% alegam que costumam comprar apenas quando acreditam sentir necessidade, enquanto 20,00% declararam raramente comprar alguma coisa sem necessidade. Já 13,34% alegaram comprar alguma coisa quando tinham acesso a sua renda (Sujeito 01 “Quando recebo pagamento e vejo alguma loja.” sic), 13,34% compram quando a oportunidadeé confrontada (Sujeito 04 “Ás vezes dá vontade quando alguém te oferece.” Sic.), e 6,66% compram para melhorar a autoestima (Sujeito 08 “Quando a autoestima está baixa eu compro alguma coisa para ficar melhor.” Sic.). Considerando a frequência dos comportamentos consumistas, 80,00% dos respondentes dizem que pouco frequente ou raramente compram algum objeto que não seja necessário. Atualmente 33,33% dos entrevistados alegam estar endividados, onde destes 66,66% possuem uma dívida de longo prazo. Quando investigados se já se sentiram mal emocionalmente devido a alguma dívida, 61,11% dos participantes responderam que sim (Sujeito 13 “Fiquei preocupado, já acordava pensando na dívida.” Sic.). Ao serem solicitados para que explicassem sobre como foi este sentimento 44,46% sentimentos de preocupação ou ansiedade, 18,18% revelaram ter sentimentos de arrependimento, 18,18% sentimentos de culpa, 9,09% sentimentos de vergonha e 9,09% sentimentos de raiva. Dos entrevistados 61,11% alegaram que já se sentiram mal emocionalmente por não poder comprar algo que desejavam. Dentre estes 81,82% afirmaram considerar desnecessário o bem desejado, onde 81,82% classificaram o objeto como de pouca necessidade, 9,09% alega que o objeto não adquirido apresentava média importância em sua vida e 9,09% alegou o desejar muito (mesmo sem descrever se o mesmo era importante ou não). Observou-se que 66,67% dos entrevistados não têm o costume de realizar compras quando estão se sentindo mal emocionalmente, 22,22% realizam compras nessa situação (Sujeito 17 “Eu sinto necessidade de comprar quando estou triste, ansiosa, serve para preencher. Me sinto bem quando compro.” Sic) e 11,11% compram apenas ocasionalmente. Dentre aqueles que compram quando se sentem mal 83,33% manifestaram sentir sensação de alívio ao realizarem compras quando estão se sentindo mal emocionalmente, os demais alegaram que não houve mudança em seus sentimentos apesar da compra. A mídia através da propaganda direta e indireta das vias atuais de comunicação como televisão, internet, rádio, imprensa, convence o seu público-alvo, anunciando o modo de ser, estilo de vida, marca, etc, manipulando-o assim de forma explicita. Muitas vezes o produto se apresenta mais envolvido por suas características e qualidades do que o seu valor real de uso, algumas características agregadas ao produto como a marca, o modelo, a garantia de satisfação engrandecem o produto fazendo com que ele se torne mais desejado e necessário, mesmo não sendo a realidade. Sofrimento psíquico promovido pelo consumismo 7 Humanidades, v. 3, n. 2, jul. 2014. Dessa forma o sujeito se convence que além do produto irá também adquirir algumas vantagens e compra uma ilusão (CASADORE; HASHIMOTO, 2010). O Sujeito 04 relata: “Tem época, compro pra compensar o físico, porque sou gorda, né!” (sic). E ainda completa: “Compro achando que vai melhorar o físico, mas ai quando olho no espelho não mudou nada.” Sic. O Sujeito 10 conclui: “Me sinto melhor comprando alguma coisa que queria.” Sic. Ainda dentre aqueles que compram quando estão se sentindo mal emocionalmente 16,66% dos entrevistados revelaram comprar de forma recorrente e 83,34% apenas ocasionalmente. Foi possível perceber que 72,22% levam em consideração a qualidade e o preço ao adquirir algo, enquanto que 27,78% compram apenas no impulso do seu desejo (Sujeito 05 “O importante é se é parcelado. Compro muito no impulso.” Sic). Questionados se acreditavam que o consumismo poderia trazer algum tipo de sofrimento a sua vida 83,33% dos entrevistados responderam sim. Quando explicaram o motivo da resposta positiva, alguns dos entrevistados apresentaram razões variadas que levam a mais de uma categoria os quais 38,88% acreditam que a dívida seria um algo negativo promovido pelo consumismo (Sujeito 06 “Acabaria gastando muito e ficando endividado mais do que posso.” Sic.), enquanto 27,78% alegam que o sentimento de falta, de desejar e não poder comprar, causaria desconforto em sua vida (Sujeito 15 “Principalmente quando você quer comprar e não pode.” Sic.), 16,67% falam que sendo consumistas deixariam de comprar aquilo que é necessário, o que seria prejudicial (Sujeito 13 “Iria gastar compulsivamente e deixaria de gastar com os filhos, com a escola e gastaria com outras coisas que não tem necessidade.” Sic.), 11,11% definem o sentimento de culpa como resultado do consumismo (Sujeito 10 “Porque só ter não faz bem, faz bem só na hora, depois você vê que não é bom e a consciência pesa.” Sic.) e 5,56% relatam que o consumismo poderia acarretar problemas familiares. CONCLUSÃO Os resultados mostram que a maioria dos entrevistados entende o que é consumismo e não se consideram como pessoas consumistas, apesar de associarem o ato de consumir a um sentimento bom e já terem adquirido algo sem necessidade. Ainda que a maior parte dos entrevistados tenha relatado se sentir mal emocionalmente ao não poder adquirir algo que deseja e/ou quando reconheciam alguma dívida que possuíam. Predominou-se a opinião dos entrevistados de que o consumismo poderia trazer prejuízos a suas vidas. Conclui-se que o consumismo pode trazer prejuízos a vida dos sujeitos quando estes comprometem de forma significativa sua renda (por exemplo, contraindo dívidas ou gastando de Sofrimento psíquico promovido pelo consumismo 8 Humanidades, v. 3, n. 2, jul. 2014. forma a não dispor de recursos para suprir necessidades básicas). Observou-se que o consumo de forma exagerada pode estar associado a emoções negativas. Apesar de consumir trazer bem estar durante e logo após a compra, esse é momentâneo. Posteriormente tal sensação tende a se transformar em mal estar, quando esta atitude é feita de forma impensada, levando o sujeito a dívidas e a enfrentar dificuldades financeiras. Puderam-se conhecer as implicações psíquicas que o consumismo traz aos entrevistados, assim como levantar informações sobre o sofrimento psíquico promovido pelo consumismo. Tais aspectos foram observados nas falas dos sujeitos e sustentados pela bibliografia. Homem (2003) já havia verificado que cada vez mais a separação sujeito-objeto deixa de existir, onde o sujeito está imerso na cultura do consumo continuo e que não pode parar. A partir disto o sujeito passa a ter a necessidade de dar um fim a sua falta e instaurar o novo objeto e assim bloquear o acesso ao vazio. Este é o aspecto mais árduo da descartabilidade, o qual o sujeito fica preso a vários objetos e acaba por não exercer seu desejo, que fica perdido. O Sujeito 17 relata: “Eu sinto necessidade de comprar quando estou triste, ansiosa, serve para preencher. Me sinto bem quando compro.” Sic. O Sujeito 08 declara: “Comprar funciona como um alívio, uma válvula de escape.” Sic. Observou-se, por fim, que, mesmo os sujeitos entendendo do que se trata o consumismo, muitas vezes a realização de atos consumistas passa despercebido. É de grande importância que cada vez mais os sujeitos entendam sobre tal aspecto social, para que o sofrimento associado ao consumismo seja amenizado. Longe de esgotar o assunto, a presente pesquisa acredita ter contribuído quanto a construção da ciência no que tange a explicitação da percepção dos sujeitos sobre o que venha a ser o consumismo. Espera-se que tais resultados possam contribuir para pesquisas futuras e auxiliar na compreensão do fenômeno. REFERÊNCIA BAUMAN, Z. Vida para consumo: A transformação das pessoas em mercadorias. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. CASADORE, M. M., HASHIMOTO, F. À procura da felicidade plena na cultura consumista contemporânea. Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 7, n. 1, jan./jun. 2010.FIORIN, J. L. Elementos de análise do discurso. São Paulo: Contexto, 2002. GREGOLIN, M. R. Análise do discurso e mídia: a (re)produção de identidades. Comunicação, mídia e consumo, São Paulo, v. 4, n. 11, nov. 2007. Sofrimento psíquico promovido pelo consumismo 9 Humanidades, v. 3, n. 2, jul. 2014. GUIMARÃES, S. P., CAMPOS, P. H. F. Sociabilidade violenta: contemporaneidade e os novos processos sociais. Estudos, Goiânia, v. 35, n. 5, set./out. 2008. HOMEM, M. L. Entre próteses e prozacs: o sujeito contemporâneo imerso na descartabilidade da sociedade de consumo. 2003. Anais do Estados Gerais da Psicanálise: Segundo encontro mundial, Rio de Janeiro, 2003. MANCEBO, D. Modernidade e produção de subjetividades: breve percurso histórico. Psicologia, ciência e profissão, Brasília, v. 22, n. 1, mar. 2002. OLIVEIRA, M. R. F. A infância e a cultura do consumo na sociedade contemporânea. 2012. Anais do ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino, Campinas, 2012.
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