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5 SOFRIMENTO PSÍQUICO PROMOVIDO PELO CONSUMISMO

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Sofrimento psíquico promovido pelo consumismo 1 
Humanidades, v. 3, n. 2, jul. 2014. 
SOFRIMENTO PSÍQUICO PROMOVIDO PELO CONSUMISMO 
 
PSYCHIC SUFFERING PROMOTED BY THE CONSUMERISM 
 
Leonardo Augusto Couto Finelli
1
 
Lays Monike Gomes Vieira
2
 
Sheila Pereira Gonçalves² 
 
RESUMO 
O consumismo diz muito da relação dos sujeitos na sociedade atual regida pelo modelo capitalista. 
Tal aspecto social está presente no cotidiano das pessoas e influencia diretamente em seu modo de 
ser e pensar. As consequências do consumismo são variadas, onde é observável que em grande ou 
pequena escala ela pode trazer prejuízos à vida dos sujeitos. Nesse sentido, pesquisou-se na sala de 
espera de uma clínica escola de psicologia com 18 participantes mediante entrevista aberta com 
questões norteadoras e analisadas a partir do discurso dos sujeitos. Verificou-se que a crença do 
consumismo implica em gastos em excesso, onde a maioria não se reconhece como consumista, 
mas 94,45% já se sentiram arrependidos após terem realizado uma (ou mais) compra(s). Conclui-se 
que o consumismo pode trazer prejuízos a vida dos sujeitos quando estes comprometem de forma 
significativa sua renda (por exemplo, contraindo dívidas ou gastando de forma a não dispor de 
recursos para suprir necessidades básicas). Observou-se que o consumo de forma exagerada pode 
estar associado a emoções negativas. Apesar de consumir trazer bem estar durante e logo após a 
compra, esse é momentâneo. 
 
Palavras Chave: Consumismo. Sofrimento psíquico. Sujeito contemporâneo. Capitalismo. 
 
ABSTRACT 
 
Consumerism says a lot about an individual’s relation in the current society governed by the 
capitalist model. This societal trait is present in the people’s daily lives and it influences directly 
their way of thinking and being. The consequences of consumerism are wide-ranging, and it can be 
observed that in large or small scale it may bring harm to subjects’ lives. So, it was investigated in 
the waiting room of a psychology school clinical with 18 participants through an open interview 
with guiding questions and analyzed from the subjects' discourse. It was verified that the belief of 
consumption implies in excess expenses, where the majority of the respondents does not recognize 
themselves as consumerist, but 94.45% have already felt regretted after having made one (or more) 
purchase(s). It is concluded that consumerism can harm the lives of individuals when they 
significantly affect their income (for example, contracting debts or spending in a way that does not 
have the resources to meet basic needs). It was observed that exaggerated consumism may be 
associated with negative emotions. Although consuming bring well-being during and shortly after 
purchase, this is momentary. 
 
Keywords: Consumerism. Psychological distress. Contemporary individual. Capitalism. 
 
 
 
 
 
 
1
 Mestre em Psicologia. Graduado em Psicologia. Graduado em Pedagogia; Professor adjunto das Faculdades 
Integradas do Norte de Minas – FUNORTE. 
2
 Graduada em Psicologia. Faculdades Integradas do Norte de Minas – FUNORTE. 
Sofrimento psíquico promovido pelo consumismo 2 
Humanidades, v. 3, n. 2, jul. 2014. 
INTRODUÇÃO 
 
O consumismo é um comportamento intrínseco à sociedade atual. Consumir se tornou tarefa 
cotidiana, já que ao realizar qualquer atividade, como sair com os amigos ou comemorar algum 
fato, o sujeito se depara com a necessidade de consumir. Tal fenômeno se tornou parte da condição 
humana e é permanente, sendo atemporal e historicamente mutável. Observa-se que o modelo que 
se apresenta em determinado período histórico é apenas uma forma renovada do modelo anterior de 
consumo de tal maneira que parece ter uma continuidade (BAUMAN, 2007). 
A história nos mostra como a forma de consumir muda de acordo com o momento sócio-
histórico-cultural que o sujeito vivência. As relações estão se tornando mais heterogêneas, 
comparada a civilizações anteriores. O ser humano pode apreciar o mundo com outros olhares, 
sendo deixada de lado a hierarquização das relações. A orientação religiosa, cultural, política e a 
liberdade para criações subjetivas é desenvolvida por um processo de grandes reformas 
(MANCEBO, 2002). Uma das grandes mudanças da sociedade moderna foi a consolidação do 
modelo capitalista, o qual deu aos sujeitos igualdade diante do mercado e afetou pontualmente a 
subjetividade dos sujeitos da época (MARX, 1975 apud MANCEBO, 2002). 
É possível classificar algumas características como elementos que configuram a sociedade 
contemporânea. Tais como os grandes avanços tecnológicos, processos constantes de globalização, 
transformação das políticas econômicas, ascensão do poder privado, grandes instabilidades 
generalizadas, demasia de imagens como também de informações derivadas de várias fontes. Essas 
grandes modificações de caráter social mudam a percepção da temporalidade, da estabilidade e das 
antigas garantias que também se transformaram. O papel do sujeito na sociedade estabelece novas 
formas de subjetivação, que tem relação direta com o contexto sociocultural no qual é inserido. 
Assim são determinados novos modos de relacionamento entre os indivíduos, o trabalho, a família e 
a comunidade (CASADORE; HASHIMOTO, 2010). 
O consumo é necessário na sociedade capitalista, pois impulsiona a economia, possibilita 
também as relações entre as pessoas, o que faz com que participem socialmente e se integrem ao 
seu meio social como também no cultural. Consumir tornou-se uma maneira de inclusão, em uma 
sociedade individualista e excludente. Os discursos que a mídia impõe escolhem quem fará parte do 
grupo selecionado que pode consumir, o que gera exclusão, pois há a ilusão de igualdade e 
liberdade. Os produtos devem captar insignificantes mudanças, constituindo o mito da novidade 
permanente (OLIVEIRA, 2012). 
A sociedade de consumo baseia-se na afirmação de que todos os desejos humanos podem 
ser satisfeitos, de uma forma que nenhuma sociedade anterior teve capacidade, ou até mesmo 
sonhou. Mas tal promessa de satisfação só se mantém enquanto o desejo continua insatisfeito. A 
Sofrimento psíquico promovido pelo consumismo 3 
Humanidades, v. 3, n. 2, jul. 2014. 
sociedade de consumo prospera enquanto torna permanente a insatisfação de seus membros. A 
forma de atingir este efeito é desvalorizar os produtos de consumo rapidamente, assim logo 
promover no desejo dos consumidores novas necessidades (BAUMAN, 2008). 
Observa-se ainda que a mídia impõe ao sujeito uma forma adequada de ser, manipulando 
assim o que seria uma identidade ideal. Essa, dita como o sujeito deve fazer uso de seu corpo, alma 
e vida. É possível observar esse movimento através de propagandas na mídia que atingem a 
subjetivação das pessoas. Através dos meios de comunicação são instaladas representações que 
contribuem para a criação da identidade do sujeito. Isso faz com que essas construam um 
estereotipo que acreditam que devem se encaixar, seja na forma de se vestir, ser ou a forma de se 
relacionar com os outros (GREGOLIN, 2007). 
Na sociedade de consumo os sujeitos exercem antes de tudo um papel de consumidor, 
orientados principalmente pela sedução. No contemporâneo, a velocidade, a rapidez, a incerteza e a 
mudança, fazem com que o sujeito desenvolva sua capacidade de adaptação. Essa instabilidade faz 
com que reflita na identidade subjetiva do indivíduo, ou nas suas constantes trocas (CASADORE; 
HASHIMOTO, 2010). 
Esta sociedade de consumidores promove, encoraja ou reforça a escolha de um determinado 
estilo de vida de forma estratégica consumista e rejeita todas as outras opções culturaisalternativas. 
Uma sociedade onde é prático seguir todos os preceitos determinados pela cultura do consumo e 
segui-los estritamente é a única escolha aprovada de forma incondicional, afinal é uma escolha 
plausível e viável (BAUMAN, 2008). 
A realidade vivenciada nos dias de hoje é resultado de um processo de transformação 
socioeconômico-político-social das sociedades capitalistas ocidentais, que marcou profundamente a 
vida diária dos indivíduos. As alterações vividas pela sociedade contemporânea, advindas da 
expansão da economia de mercado, da introdução do conhecimento científico e tecnológico à 
produção industrial, do crescimento da imigração, do crescimento de uma cultura de massa, são 
consideradas como processos complicados e atuantes de maneira contraditória, que gera conflitos e 
disfunções, incidindo sobre os sistemas sociais em grande escala, assim como, sobre contextos 
locais e dos grupos de diferentes regiões do mundo. (GUIMARÃES; CAMPOS, 2008). 
Séculos de práticas discursivas que somente sustentam a dominação social do corpo e do 
psiquismo tem como resultado o processo de objetificação do sujeito, cedendo a este apenas um 
pequeno espaço de manobra e existência. Neste processo de mercantilização que tudo se transforma 
em valor de troca, moeda e produção, o corpo, o psiquismo e os sujeitos se tornam prisioneiros das 
cultuadas novas tecnologias. Tudo está muito rápido, onde é necessário apreender o máximo de 
informação em uma velocidade alta para maior e melhor produção. Tais processos tem um alto 
Sofrimento psíquico promovido pelo consumismo 4 
Humanidades, v. 3, n. 2, jul. 2014. 
custo, como a densidade própria do ser humano, esgotado de sua capacidade de subjetivar o mundo 
e, portanto, de caminhar contra a lógica daquilo que lhe é imposto (HOMEM, 2003). 
Muitas vezes o ato de consumir se dá através da influencia dos meios de comunicação, onde 
o sujeito não sabe discernir entre o que é necessidade e o que é desejo. O consumismo traz 
desconforto a existência do sujeito, já que para sofrer com tal aspecto não é preciso desenvolver 
alguma patologia. É clara a importância do significado social e a observação do comportamento do 
ser humano diante do consumismo. É de grande relevância compreender este processo social e suas 
implicações para o sujeito, tornando o seu ato cada vez mais consciente para a sociedade, dessa 
forma reduzindo o sofrimento do sujeito e suas vivencias relacionadas a tal processo. Considerando 
que a sociedade tende a aumentar suas estratégias de incentivo ao consumo, fazem-se necessários 
estudos que promovam reflexões sobre os efeitos desta influência na vida das pessoas. 
 
MÉTODO 
 
Trata-se de uma pesquisa de caráter qualitativo, de natureza descritiva, cujo delineamento 
utilizado foi a pesquisa de campo. A população escolhida foi de pacientes atendidos pelo serviço da 
Psicologia de uma Clínica-Escola do Norte de Minas Gerais. Na época da coleta a clínica contava 
com 45 pacientes em atendimento. A proposta inicial foi de realizar uma investigação censitária a 
partir dos critérios de inclusão (estar em atendimento pela Psicologia na Clínica-Escola no período 
da coleta de dados; ter mais de 18 anos; e possuir renda própria). 
A coleta se deu por entrevista aberta com perguntas norteadoras que ocorreu em local cedido 
pela instituição onde os entrevistados são atendidos. O procedimento ocorreu em média de 40 
minutos e de forma individual, onde foram transcritas as respostas dos sujeitos na íntegra. Os 
resultados foram obtidos através da análise de discurso (FIORIN, 2002). 
A pesquisa seguiu orientada de acordo com os preceitos definidos pela Resolução CNS – 
466/12 que dispõe sobre a pesquisa com seres humanos. Por se tratar de um tema atual observa-se 
que a pesquisa poderá trazer benefícios aos sujeitos, onde entendendo melhor seu comportamento 
frente ao consumismo, este poderá evitar possíveis sofrimentos. 
 
RESULTADOS E DISCUSSÃO 
 
Apesar do convite a todos os 45 clientes da clínica escola, quatro sujeitos (8,89%) não se 
disponibilizaram a participar da pesquisa; 23 (51,11%) não atendiam aos critérios de inclusão em 
função da idade, ou de não possuir renda própria. Tratavam-se de crianças e a proposta da pesquisa 
foi dirigida a adultos. Assim, a pesquisa se deu, efetivamente, com 18 participantes. Esses contavam 
Sofrimento psíquico promovido pelo consumismo 5 
Humanidades, v. 3, n. 2, jul. 2014. 
com idade entre 21 e 53 anos (M = 31,06 anos, DP = 8,51 anos), os quais 83,33% eram mulheres. 
Houve dificuldade em encontrar homens para a pesquisa, já que a maioria das pessoas atendidas 
pela clínica-escola eram mulheres e crianças. Mesmo dentre essas, poucas se enquadravam no 
critério de inclusão de possuir renda própria, o qual exigiu grande tempo de pesquisa para coletar o 
número de entrevistados necessário. 
Dos respondentes, todos possuíam renda própria, divididos entre 50,00% que eram 
autônomos, 38,89% funcionários fichados e 11,11% trabalhavam em regime estatutário. Muitos dos 
participantes dividem a renda com sua família totalizando 66,67% dos entrevistados, enquanto 
27,78% utilizam sua renda apenas para gastos individuais e 5,56% ajudam familiares que não 
moram consigo. 
Quando questionados sobre o que acreditam ser consumismo 66,67% responderam que 
significava ter gastos em excesso ou sem necessidade (Sujeito 14 “Fazer compras exageradamente 
sem ter necessidade, movida pelo capitalismo, pela mídia.” Sic); 27,78% acreditam que seja o gasto 
com necessidades (Sujeito 02 “Comprar as coisas que precisa, alimento, essas coisas.” Sic.) e 
5,56% classificaram o consumismo como algo bom. Observa-se que a maioria dos entrevistados 
corrobora com a ideia de que no consumismo está expressa não a qualidade, mas sim a quantidade 
de bens adquiridos, onde as pessoas compram produtos para além de sua capacidade financeira 
(OLIVEIRA, 2012). 
Já quando questionados se se consideravam consumistas 55,56% responderam que não. 
Desses, 40,00% alegam apenas comprar o necessário, já 50,00% dizem pensar antes de comprar 
alguma coisa e 10,00% relatam não possuir recursos para ser uma pessoa consumista. Dos que 
acreditam ser consumistas, 87,50% admitem comprar por desejo, os quais muitas vezes não pensam 
antes de adquirir algum produto (Sujeito 17 “Eu compro muito e não penso antes e muitas vezes 
compro sem necessidade.” Sic.), e 12,50% admitem comprar a mais por demandas sociais, como 
gostar de andar na moda. 
Quando inquiridos sobre os sentimentos após adquirir algum bem, 94,45% dos participantes 
dizem ficar alegres, ou satisfeitos (Sujeito 01 “Sentimento de realização. Fico feliz. Sinto prazer.” 
Sic.). Não obstante 83,33% disseram que já compraram alguma coisa que ao chegar em casa 
perceberam que não era de necessidade. 
Esses objetos eram em sua maioria de vestuário, onde 60,00% dos entrevistados relataram 
comprar sem necessidade roupas e/ou sapatos, enquanto eletrodomésticos são o segundo item mais 
comprado compondo 20,00% da amostra. Outros itens citados foram produtos de beleza com 
13,34% e produtos para o lar com 6,66%. Dentre esses que já compraram algum produto que não 
era de necessidade 53,84% comprometeram mais de 20% de sua renda total. 
Sofrimento psíquico promovido pelo consumismo 6 
Humanidades, v. 3, n. 2, jul. 2014. 
Ainda entre aqueles que compraram algum objeto sem necessidade, 46,66% alegam que 
costumam comprar apenas quando acreditam sentir necessidade, enquanto 20,00% declararam 
raramente comprar alguma coisa sem necessidade. Já 13,34% alegaram comprar alguma coisa 
quando tinham acesso a sua renda (Sujeito 01 “Quando recebo pagamento e vejo alguma loja.” sic), 
13,34% compram quando a oportunidadeé confrontada (Sujeito 04 “Ás vezes dá vontade quando 
alguém te oferece.” Sic.), e 6,66% compram para melhorar a autoestima (Sujeito 08 “Quando a 
autoestima está baixa eu compro alguma coisa para ficar melhor.” Sic.). 
Considerando a frequência dos comportamentos consumistas, 80,00% dos respondentes 
dizem que pouco frequente ou raramente compram algum objeto que não seja necessário. 
Atualmente 33,33% dos entrevistados alegam estar endividados, onde destes 66,66% possuem uma 
dívida de longo prazo. 
Quando investigados se já se sentiram mal emocionalmente devido a alguma dívida, 61,11% 
dos participantes responderam que sim (Sujeito 13 “Fiquei preocupado, já acordava pensando na 
dívida.” Sic.). Ao serem solicitados para que explicassem sobre como foi este sentimento 44,46% 
sentimentos de preocupação ou ansiedade, 18,18% revelaram ter sentimentos de arrependimento, 
18,18% sentimentos de culpa, 9,09% sentimentos de vergonha e 9,09% sentimentos de raiva. 
Dos entrevistados 61,11% alegaram que já se sentiram mal emocionalmente por não poder 
comprar algo que desejavam. Dentre estes 81,82% afirmaram considerar desnecessário o bem 
desejado, onde 81,82% classificaram o objeto como de pouca necessidade, 9,09% alega que o 
objeto não adquirido apresentava média importância em sua vida e 9,09% alegou o desejar muito 
(mesmo sem descrever se o mesmo era importante ou não). 
Observou-se que 66,67% dos entrevistados não têm o costume de realizar compras quando 
estão se sentindo mal emocionalmente, 22,22% realizam compras nessa situação (Sujeito 17 “Eu 
sinto necessidade de comprar quando estou triste, ansiosa, serve para preencher. Me sinto bem 
quando compro.” Sic) e 11,11% compram apenas ocasionalmente. Dentre aqueles que compram 
quando se sentem mal 83,33% manifestaram sentir sensação de alívio ao realizarem compras 
quando estão se sentindo mal emocionalmente, os demais alegaram que não houve mudança em 
seus sentimentos apesar da compra. 
A mídia através da propaganda direta e indireta das vias atuais de comunicação como 
televisão, internet, rádio, imprensa, convence o seu público-alvo, anunciando o modo de ser, estilo 
de vida, marca, etc, manipulando-o assim de forma explicita. Muitas vezes o produto se apresenta 
mais envolvido por suas características e qualidades do que o seu valor real de uso, algumas 
características agregadas ao produto como a marca, o modelo, a garantia de satisfação engrandecem 
o produto fazendo com que ele se torne mais desejado e necessário, mesmo não sendo a realidade. 
Sofrimento psíquico promovido pelo consumismo 7 
Humanidades, v. 3, n. 2, jul. 2014. 
Dessa forma o sujeito se convence que além do produto irá também adquirir algumas vantagens e 
compra uma ilusão (CASADORE; HASHIMOTO, 2010). 
O Sujeito 04 relata: “Tem época, compro pra compensar o físico, porque sou gorda, né!” 
(sic). E ainda completa: “Compro achando que vai melhorar o físico, mas ai quando olho no 
espelho não mudou nada.” Sic. O Sujeito 10 conclui: “Me sinto melhor comprando alguma coisa 
que queria.” Sic. 
Ainda dentre aqueles que compram quando estão se sentindo mal emocionalmente 16,66% 
dos entrevistados revelaram comprar de forma recorrente e 83,34% apenas ocasionalmente. Foi 
possível perceber que 72,22% levam em consideração a qualidade e o preço ao adquirir algo, 
enquanto que 27,78% compram apenas no impulso do seu desejo (Sujeito 05 “O importante é se é 
parcelado. Compro muito no impulso.” Sic). 
Questionados se acreditavam que o consumismo poderia trazer algum tipo de sofrimento a 
sua vida 83,33% dos entrevistados responderam sim. Quando explicaram o motivo da resposta 
positiva, alguns dos entrevistados apresentaram razões variadas que levam a mais de uma categoria 
os quais 38,88% acreditam que a dívida seria um algo negativo promovido pelo consumismo 
(Sujeito 06 “Acabaria gastando muito e ficando endividado mais do que posso.” Sic.), enquanto 
27,78% alegam que o sentimento de falta, de desejar e não poder comprar, causaria desconforto em 
sua vida (Sujeito 15 “Principalmente quando você quer comprar e não pode.” Sic.), 16,67% falam 
que sendo consumistas deixariam de comprar aquilo que é necessário, o que seria prejudicial 
(Sujeito 13 “Iria gastar compulsivamente e deixaria de gastar com os filhos, com a escola e gastaria 
com outras coisas que não tem necessidade.” Sic.), 11,11% definem o sentimento de culpa como 
resultado do consumismo (Sujeito 10 “Porque só ter não faz bem, faz bem só na hora, depois você 
vê que não é bom e a consciência pesa.” Sic.) e 5,56% relatam que o consumismo poderia acarretar 
problemas familiares. 
 
CONCLUSÃO 
 
Os resultados mostram que a maioria dos entrevistados entende o que é consumismo e não 
se consideram como pessoas consumistas, apesar de associarem o ato de consumir a um sentimento 
bom e já terem adquirido algo sem necessidade. Ainda que a maior parte dos entrevistados tenha 
relatado se sentir mal emocionalmente ao não poder adquirir algo que deseja e/ou quando 
reconheciam alguma dívida que possuíam. Predominou-se a opinião dos entrevistados de que o 
consumismo poderia trazer prejuízos a suas vidas. 
Conclui-se que o consumismo pode trazer prejuízos a vida dos sujeitos quando estes 
comprometem de forma significativa sua renda (por exemplo, contraindo dívidas ou gastando de 
Sofrimento psíquico promovido pelo consumismo 8 
Humanidades, v. 3, n. 2, jul. 2014. 
forma a não dispor de recursos para suprir necessidades básicas). Observou-se que o consumo de 
forma exagerada pode estar associado a emoções negativas. Apesar de consumir trazer bem estar 
durante e logo após a compra, esse é momentâneo. Posteriormente tal sensação tende a se 
transformar em mal estar, quando esta atitude é feita de forma impensada, levando o sujeito a 
dívidas e a enfrentar dificuldades financeiras. 
Puderam-se conhecer as implicações psíquicas que o consumismo traz aos entrevistados, 
assim como levantar informações sobre o sofrimento psíquico promovido pelo consumismo. Tais 
aspectos foram observados nas falas dos sujeitos e sustentados pela bibliografia. Homem (2003) já 
havia verificado que cada vez mais a separação sujeito-objeto deixa de existir, onde o sujeito está 
imerso na cultura do consumo continuo e que não pode parar. A partir disto o sujeito passa a ter a 
necessidade de dar um fim a sua falta e instaurar o novo objeto e assim bloquear o acesso ao vazio. 
Este é o aspecto mais árduo da descartabilidade, o qual o sujeito fica preso a vários objetos e acaba 
por não exercer seu desejo, que fica perdido. 
O Sujeito 17 relata: “Eu sinto necessidade de comprar quando estou triste, ansiosa, serve 
para preencher. Me sinto bem quando compro.” Sic. O Sujeito 08 declara: “Comprar funciona como 
um alívio, uma válvula de escape.” Sic. 
Observou-se, por fim, que, mesmo os sujeitos entendendo do que se trata o consumismo, 
muitas vezes a realização de atos consumistas passa despercebido. É de grande importância que 
cada vez mais os sujeitos entendam sobre tal aspecto social, para que o sofrimento associado ao 
consumismo seja amenizado. 
Longe de esgotar o assunto, a presente pesquisa acredita ter contribuído quanto a construção 
da ciência no que tange a explicitação da percepção dos sujeitos sobre o que venha a ser o 
consumismo. Espera-se que tais resultados possam contribuir para pesquisas futuras e auxiliar na 
compreensão do fenômeno. 
 
 
REFERÊNCIA 
 
BAUMAN, Z. Vida para consumo: A transformação das pessoas em mercadorias. Rio de Janeiro: 
Jorge Zahar, 2008. 
CASADORE, M. M., HASHIMOTO, F. À procura da felicidade plena na cultura consumista 
contemporânea. Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 7, n. 1, jan./jun. 2010.FIORIN, J. L. Elementos de análise do discurso. São Paulo: Contexto, 2002. 
GREGOLIN, M. R. Análise do discurso e mídia: a (re)produção de identidades. Comunicação, 
mídia e consumo, São Paulo, v. 4, n. 11, nov. 2007. 
Sofrimento psíquico promovido pelo consumismo 9 
Humanidades, v. 3, n. 2, jul. 2014. 
GUIMARÃES, S. P., CAMPOS, P. H. F. Sociabilidade violenta: contemporaneidade e os novos 
processos sociais. Estudos, Goiânia, v. 35, n. 5, set./out. 2008. 
HOMEM, M. L. Entre próteses e prozacs: o sujeito contemporâneo imerso na descartabilidade da 
sociedade de consumo. 2003. Anais do Estados Gerais da Psicanálise: Segundo encontro 
mundial, Rio de Janeiro, 2003. 
MANCEBO, D. Modernidade e produção de subjetividades: breve percurso histórico. Psicologia, 
ciência e profissão, Brasília, v. 22, n. 1, mar. 2002. 
OLIVEIRA, M. R. F. A infância e a cultura do consumo na sociedade contemporânea. 2012. Anais 
do ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino, Campinas, 2012.

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