Buscar

PENAL IV - Adm. publica

Prévia do material em texto

DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
PECULATO - Art. 312
CONCUSSÃO E EXCESSO DE EXAÇÃO - Art. 316
CORRUPÇÃO PASSIVA – art.317
PREVARICAÇÃO - Art. 319
NOÇÕES GERAIS 
O Código Penal cuida da tutela da Administração Publica. Tem-se em vista a probidade administrativa, ao mesmo tempo que se protegem o patrimônio público e privado. O bem jurídico protegido é a moralidade administrativa, sem o qual torna-se impossível o desenvolvimento regular do Estado.
Numa palavra, pretende-se proteger, com os crimes contidos no Título XI, do CP, o normal funcionamento da máquina administrativa, em todos os setores de sua atividade, contra condutas praticadas, tanto por funcionários públicos, como por particulares. 
 
PECULATO - Art. 312
Noçoes: É o mais grave dos crimes do capítulo, tratando-se, na verdade, de uma forma especial de apropriação indébita, desvio ou subtração de coisa móvel pública ou particular, perpetrada por funcionário público, em razão de seu cargo ou valendo-se dessa qualidade (Noronha). O agente faz sua ou desvia ou subtrai, em proveito próprio ou alheio, coisa móvel, pública ou particular a qual possui em razão cargo. 
Objetiva-se, com este tipo, a proteção do patrimônio público e, eventualmente, privado, além da probidade e moralidade administrativa. 
SUJEITO ATIVO: Só o funcionário público ou o agente a ele equiparado (crime próprio), contanto sua elementar é comunicável a extraneus, desde que saiba desta qualidade. 
SUJEITO PASSIVO: É o Estado. A Administração direta ou o ente paraestatal e, eventualmente, algum particular que sofre um prejuízo.
TIPO OBJETIVO: A conduta prevista no caput consiste na apropriação ou no desvio de coisa pública ou particular, de que tem a posse o agente em razão do seu cargo, em proveito próprio ou de outrem.
Apropriar é, tal como no art. 168, assenhorar-se, apossar-se, fazer a coisa sua (agir com animus ren sibi habendi - animus domini). É inverter o título da posse, passando a atuar como se fosse dono, alienando-a, acrescendo-a ao seu patrimônio etc.
Desviar é distrair, tirar a coisa do seu rumo, descaminhá-la em proveito próprio ou alheio. 
Proveito é entendido como qualquer vantagem material ou moral, não necessariamente econômica. Se o proveito foi em favor da Administração Pública, o fato poderá ser enquadrado no art. 315.
Objeto material: dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, de que tem a posse em razão do cargo. A posse não precisa necessariamente ser física, compreendendo a disponibilidade jurídica do recurso, vale dizer, a posse indireta 
TIPO SUBJETIVO: Na modalidade apropriação, consiste na consciência e vontade do funcionário de assenhorar-se da coisa, além do especial fim de obter proveito próprio ou alheio
No peculato-desvio, o dolo consiste na consciência e vontade de empregar a coisa em fim diverso daquele determinado, além do especial fim de agir, consistente, igualmente, no querer obter proveito próprio ou alheio.
CONSUMAÇÃO e TENTATIVA: Crime material que é, o peculato se consuma, na primeira figura, com a inversão do título da posse, passando a deter a coisa em nome próprio ou de outrem. Na segunda hipótese, a consumação se dá com a efetiva destinação diversa daquela prevista pela Administração Pública, visando o benefício indevido.
	EFEITO SECUNDÁRIO DA CONDENAÇÃO: PERDA DO CARGO
Nos crimes previstos no CP, a perda do cargo NÃO é automática, como se depreende do parágrafo unido do art. 92. Então, nos crimes dos arts. 312 a 316, o juiz precisa determinar a perda do cargo na sentença.
CONCEITO DE FUNCIONARIO PUBLICO PARA FINS PENAIS: Neste sentido, o artigo 327, em verdadeira interpretação autêntica, dá a definição de FP para o direito penal, predominando não o caráter permanente ou a remuneração pelo erário público, mas a natureza da função que é exercitada
CONCUSSÃO: art. 316.
NOÇOES: É uma espécie de extorsão (art. 158), só que é praticada pelo funcionário público (e sem violência ou grave ameaça).
TIPO OBJETIVO: A ação incriminada consiste em exigir vantagem indevida, direta ou indiretamente, em razão da função pública. 
Exigir é reclamar, intimar, ordenar ou impor como obrigação. A ação deve obrigatoriamente relacionar-se com o exercício da função pública que o agente desempenha ou que virá a desempenhar (na hipótese de não a ter ainda assumido), pois na base do ilícito está o metus publicae potestatis, ou seja, o temor de represália por parte da autoridade (Silva Franco). 
A exigência pode ser direta ou indireta. É direta quando o agente a formula perante a vítima ou de forma explícita. É indireta quando o agente a formula de forma implícita ou tácita. Esta é, aliás, a forma mais usual. A vantagem deve ser indevida, isto é, ilegal, e será em regra, de natureza econômica e patrimonial. Deve, em suma, beneficiar o próprio agente ou terceiro – não a Administração pública 
TIPO SUBJETIVO: É representado pelo dolo, consubstanciado na consciência e vontade de se exigir a vantagem, sabendo o agente ser ela indevida. 
 	DOLO + especial fim de agir (para si ou para outrem).
CONSUMAÇÃO : Trata-se de delito formal, pois a lei fala em exigir e não em receber. Portanto, consuma-se com a simples exigência da vantagem indevida, sendo a sua obtenção mero exaurimento do delito. 
CORRUPÇÃO PASSIVA
Tal qual na concussão, exige-se o nexo funcional: o agente solicita, recebe ou aceita uma vantagem indevida para realizar um ato específico de sua atribuição. A vantagem é uma contraprestação para a realização desse ato. Logo, se o agente solicitar, receber ou aceitar uma vantagem para realizar um ato que não seja de sua atribuição, não estará configurada a corrupção passiva.
TIPO SUBJETIVO: Dolo + finalidade especial
SUJEITO ATIVO: é o funcionário público, nos termos do art. 327, ainda que afastado de suas funções, por motivo de férias, licença etc., ou antes mesmo de a assumir. Tratando-se de crime funcional contra a ordem tributária, aplicar-se a norma do art. 3o, II, da Lei 8137/90
Por fim, tratando-se de testemunha, perito, tradutor ou intérprete judicial, realizada a corrupção em face de processo judicial ou administrativo, haverá o delito do art. 342, § 2o 
SUJEITO PASSIVO: é a Administração Pública e, eventualmente, o extraneus quando não pratica a corrupção ativa.
TIPO OBJETIVO: a primeira conduta é solicitar, ou seja, pedir, requerer, manifestar o desejo de receber a vantagem indevida. A solicitação pode ser, naturalmente, expressa ou tácita, predominando, contudo esta última. O solicitar denota um comportamento unilateral, a princípio.
A segunda conduta é receber, adquirir, tomar, obter, alcançar a vantagem ilícita. Aqui há a bilateralidade, ou seja, há corrupção passiva e ativa, estando, esta última, tipificada no art. 333.
A terceira é aceitar a promessa de vantagem, i.e., concordar, aderir, anuir à futura percepção de tal vantagem. Há, igualmente, a bilateralidade de delitos.
No solicitar, a iniciativa é do funcionário público; no receber, do corruptor. 
Pressuposto: a conduta do agente deve guardar relação com o exercício da função. 
CONSUMAÇÃO: Trata de crime formal, que independe da ocorrência do resultado pretendido, consumando-se, pois, com a mera solicitação da vantagem ou aceitação da promessa, ainda que esta não se concretize. Não havendo solicitação ou aceitação da promessa, consuma-se a corrupção passiva com o recebimento.
CORRUPÇÃO PASSIVA QUALIFICADA - Art. 317 § 1o: são casos de exaurimento que acarretam uma maior reprimenda, diante da maior lesão ao bem jurídico Administração Pública.
CORRUPÇÃO PASSIVA PRIVILEGIADA - Art. 317 § 2o: neste caso, o funcionário não mercadeja com a função pública; simplesmente, ele viola o dever de fidelidade funcional para atender a um pedido de terceiro influente ou não. Exige-se que haja pedido ou influência. É a “deferência” do sujeito ativo que dá origem ao delito (Damásio), que, no caso, aproxima-se bastante da prevaricação.317 – corrupção passiva 333 – corrupção ativa
Solicitar
Receber Oferecer 
 Aceitar Prometer
O objeto dos dois crimes é uma vantagem indevida. Se de um lado um agente público está recebendo uma vantagem indevida, do outro lado há alguém oferecendo. Da mesma forma, se de um lado um agente público está aceitando uma vantagem indevida, do outro lado há alguém prometendo.
A corrupção passiva se assemelha à concussão no verbo ”solicitar”: ambos são crimes próprios do funcionário público; em ambos, há a vantagem indevida; em ambos, exige-se o nexo funcional. Contudo, na concussão o verbo é “exigir”; já na corrupção passiva o verbo é “solicitar”. 
Cuidado: o que distingue um crime do outro não é o tom ameaçador que o agente emprega. Ele pode ser muito educado, mas ainda assim estar exigindo a vantagem indevida para praticar o ato. Nesse caso, não deixa de ser concussão.
Qual a diferença entre a corrupção passiva e a prevaricação? É o especial fim de agir. Na corrupção passiva, não há o especial fim de agir de satisfazer um interesse pessoal. O que há é o fim de obter uma vantagem indevida. Já na prevaricação, há o especial fim de agir de satisfazer um interesse pessoal.
Qual a diferença entre a corrupção passiva e o estelionato? É a razão que o agente tem para obter a vantagem.
Na corrupção passiva, o agente obtém a vantagem em razão do cargo que exerce. No estelionato, o agente obtém a vantagem em razão do emprego de fraude.
PREVARICAÇÃO: art. 319
NOÇOES: Consiste no ato do funcionário público retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa da lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal. Assim, nas hipótese de omissão ou retardamento do ato de ofício, ou na prática deste contra legem, guiado por motivação particular, configurado estará a figura da prevaricação.
Há, portanto, uma ofensa à Administração Pública, na medida em que o funcionário, apesar de não mercadejar com suas funções, trai suas obrigações, deixando-se levar por sentimento diverso do interesse público.
SUJEITO ATIVO: crime próprio, só o funcionário público, nos termos do art. 327 e § 1º 
SUJEITO PASSIVO: a Administração Pública e os entes a ela equiparados, ante a lesão ou perigo para com os interesses da máquina pública.
TIPO OBJETIVO: Trata-se de tipo de construção complexa, enfeixando três comportamentos distintos: 1o Retardar, quer dizer, prorrogar, protrair, ultrapassar os prazos legais e regulamentares; 2o Deixar de praticar, conduta tipicamente omissiva, é o não fazer o que lhe competia ser feito, violar o dever legal de agir; 3o Praticar ato contra disposição expressa em lei, é, contrariamente ao verbo anterior, agir, fazer, porém de forma diversa da estabelecida em lei.
TIPO SUBJETIVO: o primeiro é o dolo, a vontade consciente de retardar, não praticar ou praticar determinado ato, além da consciência da ilegitimidade do mesmo (ato indevido ou ilegal). 
O segundo elemento subjetivo do tipo compreende a expressão para satisfazer interesse ou sentimento pessoal. Sem esta finalidade específica a conduta é atípica. Interesse pessoal é a vantagem pretendida pelo funcionário público, seja moral ou material. 
DOLO + especial fim de agir
CONSUMAÇÃO: o delito atinge o momento consumativo com a realização de quaisquer dos referidos comportamentos. 
Relativamente aos verbos que denotam condutas omissivas não há de se falar na possibilidade de conatus.

Continue navegando