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AF Aula 4.2 A relação entre Educação Física e Esporte alguns mitos e verdades

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A relação entre Educação Física e Esporte:
alguns mitos e verdades
 
 
*Mestranda em Educação Física pela Universidade Estadual de Londrina.
**Graduando em Educação Física pela Universidade Paulista ­ Bauru.
(Brasil) 
 
 
Débora Alonso de Lima  
Ricardo Marques Monson
deborauel@pop.com.br 
 
 
 
 
 
Resumo
     O propósito deste artigo de revisão configura­se na delimitação de um perfil sobre a prática do esporte em si e suas relações com a educação, saúde, cidadania e democracia. O esporte sempre
trouxe com ele um status de poder e superioridade para aqueles que, por meio dele, conseguiram grandes feitos e marcas. Contudo os verdadeiros "heróis" que marcaram seus nomes na história
formam uma minoria que incentivam, direta ou indiretamente, aqueles que se propõe a praticar uma modalidade obcecadamente e não enxergam os limites e as conseqüências causadas pela
mesma. Conclui ­ se que tem ficado cada vez mais claro de que esporte não é saúde. Pode vir a ser um promotor de saúde, mas nem sempre irá produzi­la, como uma regra. Esporte só faz bem
dentro de seus fatores limitantes: bem empregado, bem trabalhado e sob uma perspectiva que esteja além do alto rendimento. 
    Unitermos: Esporte. Saúde. Educação. Cidadania. Democracia. 
 
 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital ­ Buenos Aires ­ Año 12 ­ N° 114 ­ Noviembre de 2007
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"O culto único do corpo, como hoje se apregoa, não satisfaz porque é bruto, insensível, não troca, não usufrui, não sente. É incapaz de diferenciar
mentalmente as nuances da vida, impotente diante da sensibilidade e percepção espiritual ­ bonecos, corpos esculturais, pedras híbridas de vida. 
A conjunção corpo ­ espírito ­ emoção é impossível sem passarmos pela ponte mente ­ a grande porta para o território das sensações" 
Nuno Cobra
Introdução
    Para Helal (1990), esporte é qualquer competição que inclua uma medida importante de habilidade física e que esteja subordinada a uma
organização mais ampla que escape ao controle daqueles que participam ativamente da ação.
        Os  pressupostos  básicos  que  caracterizam  o  esporte  estão  ligados  a  idéia  de  competição,  performance,  motivação  extrínseca  e
inflexibilidade das regras. Estes pressupostos aliados às influências externas da política, da psicologia, do marketing, da administração, da
sociologia, caracterizam o esporte como atividade peculiar (VERENGUER, 1989).
     A prática esportiva está presente desde os primórdios da humanidade, onde o seu verdadeiro sentido se transforma com a realidade
atual, esta mutação pode ocorrer, por exemplo, desde a busca por uma condição física até para a atividade competitiva em si.
    O esporte é na atualidade um dos principais fenômenos sociais e uma das maiores instituições do planeta. Ele tem refletido a forma como
a sociedade vem se organizando, espelhando as diferenças entre Estados, povos e classes sociais, além de se  tornar um dos principais
elementos  da  indústria  cultural  contemporânea,  matéria  prima  dos  meios  de  comunicação  de  massa  e  uma  das  poucas  formas,
reconhecidamente, honestas de rápida ascensão social (RÚBIO 2002).
Esporte e educação
    As crianças são mantidas imóveis enquanto "aprendem" porque ainda persiste o ranço de que o corpo que se movimenta não tem nada a
ver com a mente que  raciocina... a desordem é  ignorada no espaço da ordem. Uma não convive  jamais com a outra. Freire  (1991) As
pessoas são "educadas" como se fossem um espírito ou uma mente. O corpo fica do lado de fora das instituições. A caricatura das escolas é
um corpo minúsculo com uma imensa cabeça.
    Quando na escola a Educação Física se volta única e exclusivamente para a prática esportiva existe uma exclusão daqueles que mais
necessitariam  desenvolver­se.  O  profissional  da  área  se marginaliza  pelo  fato  de  só  saber  trabalhar  com  o  corpo,  desprezando  outros
aspectos do ser humano, como o cognitivo, afetivo, social e psicológico.
       Na concepção dos professores de Educação Física em determinadas ocasiões, o esporte é considerado como um conteúdo mínimo e
único, o que acaba se tornando a exclusiva prioridade a ser promovida entre seus alunos: aos que jogam bem, a oportunidade de praticar;
aos que possuem dificuldades, acabam como juiz, gandula ou ainda sentados no banco, só observando a turma jogar. Nestes casos, não há
saúde social, ou, sequer, saúde motora. Como deve se sentir o aluno que permanece sentado durante toda a atividade dos colegas? O que
ele acaba por representar? E sobre a prática de distribuir os alunos em dois times, onde são escolhidos um por vez, alternadamente: como
se sente o último a ser escolhido? Como "resto"? São estas as práticas a serem repensadas (BARRETO, 2003).
        Em  desacordo  com  a  percepção  de  estética,  os  PCN's  opõem  atividades  competitivas  a  recreativas  ­  como  se  tal  divisão  fosse
humanamente possível ­ afirmando que nas primeiras se valoriza a eficiência e nas segundas atividades a plasticidade estética. A harmonia
corporal conseguida para se atingir a perfeição atlética resulta num conjunto de movimentos esteticamente conseguidos, isto já para não
falar  das  modalidades  de  muita  estética,  tais  como  as  diversas  ginásticas,  principalmente  a  rítmica  e  a  aeróbica,  que  acabam  sendo
colocadas como de manutenção da saúde e não em um outro item de atividades rítmicas ou expressivas ou mesmo inseridas nas atividades
de competição. Existe a necessidade de dissociar a Educação Física escolar de treinamento esportivo. A inserção dos alunos obesos, lentos e
sem muita coordenação motora trará mais qualidade de vida ao conjunto, ensinando, não apenas, nossos limites, mas também em como
conviver com os limites alheios. Nas escolas, os pré­requisitos para os professores de Educação Física não devem ser grandes atletas que
sabem jogar, devem ser grandes professores que saibam ensinar. Do contrário, o Esporte deixa de ser um agente de inclusão social para
ser um fator de exclusão social, onde "quem joga bem, joga; quem não joga bem, que fique quieto e não atrapalhe" (BARRETO, 2003).
    Não tem como negar que o esporte é um facilitador para desenvolver atitudes de respeito, disciplina, companheirismo, a relação intra e
interpessoal e assimilação de vários conceitos. Contudo se a sua prática visa apenas o rendimento e grandes performances em competições
de  alto  nível,  fazendo  com  que  as  aulas  de  Educação  Física  escolar  se  transformem  em  treinos  que  propõem  apenas  o  rendimento
padronizado e permite que só uma minoria tenha sucesso sobre a grande maioria rotulando ­ os desde cedo de fracassados, o esporte,
dentro da escola, pecará no cumprimento de seus reais objetivos.
    Para uma educação satisfatória e de sucesso dentro da Educação Física é importante referir que a prática desportiva constitui um fator
principal na construção da cidadania,  já que especificamente compõe um dos  raros espaços de que o educando dispõe para vivenciar a
ludicidade. Soma­se a este aspecto o valor do esporte em poder incentivar a procura por hábitos saudáveis desde cedo, prevenindo males e
procurando combater o  sedentarismo. Esporte e  saúde, esporte e estilo de vida ativo,  esporte e participação, esporte e  inclusão  social,
esporte e cidadania, esporte e qualidade de vida: eis as questões que devem nortear a prática educativa através do esporte educacional. O
poder de crítica do educador, certamente, será fundamental para fazer da escola o espaço político onde o destaque não seja apenas pela
produção de riquezas, mas também como uma forma de permitir ao educando vivenciar a sua própria humanidade
Esporte e saúde
    Cada vez mais está sendo possível presenciar com freqüência termos como "stress" e "qualidade de vida" devido ao momento atual do
país  e  a  carga  árida  com a  qual  as  pessoas  estão  sendo  sobrecarregadas,  esobre  estes  termos  é  que  os  objetivos  e  os  fins  da  ação
educacional da Educação Física devem operacionalizar sua prática através do esporte orientado principalmente para o bem estar.
    Para Ribeiro (2001) saúde é alegria de viver. É estar encantado com a vida. É ter entusiasmo, alegria, vitalidade, disposição. Saúde é um
processo  de  equilíbrio  do  organismo.  São milhões  de mecanismos  interagindo  e movimentando  o  interior  do  seu  corpo  para  que  tudo
funcione adequadamente. A pessoa encantada pela vida tem o cérebro trabalhando na formação de hormônios de altíssima qualidade que
vão nutrir a perfeita elaboração da química interna nos bilhões de reações que ocorrem no organismo todo o tempo.
    Muitas vezes os esportes são praticados de forma incorreta, podendo representar desafios inatingíveis, níveis de exigência incompatíveis
com realidade atual, que acabam levando a situações de risco para a saúde ou mesmo na melhor das hipóteses a desistência de um projeto
que se mostrava promissor.
        A  prática  esportiva,  ainda  que  em  excesso,  não  mata  ninguém  isoladamente.  Mas  também  não  se  pode  negar  que  essa  prática
desmedida, muitas vezes cobrada dos atletas atualmente, tem papel decisivo na evolução de determinados quadros patológicos, tornando o
atleta mais vulnerável a determinadas complicações. Sendo assim, a situação só chegará a condições críticas se houver uma doença pré­
existente ­ o esporte não cria cardiopatias (MARQUES, 2004).
Esporte e democracia
    Para uma Educação Física e o Esporte realmente preocupados com o ser humano não basta concordar plenamente com a sociedade. É
necessário que se faça uma permanente crítica social; seja sensível às diversas formas de repressão a que as pessoas estão sujeitas e as
ajudem a entender os seus determinismos e superar os seus condicionamentos, tornando ­as cada vez mais  livres e humanas (MEDINA,
1989).
        Existe  a  predominância  da  racionalização  e  o  fenômeno  da  descorporalização,  e  a  exploração  do  corpo  do  trabalhador  no  sistema
capitalista, corpo separado do espírito, dominado pelas elites e devidamente controlado pelo Estado, que agiu nos corpos dos  indivíduos,
oprimindo­os e dominando­os. A abstração inerente ao modo de produção capitalista trouxe, assim, a ruptura das relações imediatas do ser
humano com seu corpo e com a natureza, gerando a valorização do  intelectual em detrimento do trabalho corporal e manual, destinado
sempre às classes dominadas. (GONÇALVES, 1994).
    Está cada vez mais claro que no sistema capitalista o real é o limite e os atos esportivos vão contra a relação entre os meios e os fins.
Neste modelo de sociedade, o esporte passou a  ser  regido pelo desempenho, pela  lógica da vitória a qualquer preço, por uma postura
mercantilista.  O  esporte  seria  uma mercadoria  como  qualquer  outra  e  os  esportistas,  produtos  a  serem  consumidos  por  um mercado
cobiçado  de  bons  negócios.  Deste modo,  é  com  esta  grande  competição  presente  na  sociedade  que  surgiram  novas  necessidades  que
devem merecer dos educadores reflexão e ação.
Esporte e cidadania
    O corpo, que antes era incentivado a se moldar de acordo com as necessidades das fábricas e dos meios de produção, agora passa a ser
influenciado a se enquadrar nos ideais de uma nova indústria, chamada Indústria Cultural, por ser capaz de modificar, produzir, ou orientar
a  criação  de  novas  tendências  de  comportamento  dentro  da  sociedade.  Em  busca  por  se  adequar  a  essa  nova  necessidade  de  "corpo
perfeito" vem criar um novo indivíduo que deixa de ter uma identidade própria, passando a expressar a identidade que as várias etiquetas
lhe concedem (SCHNEIDER, 1999).
    Dentro da relação corpo ­ sociedade existe um peso que influencia fortemente a estrutura sócio ­ econômica e que esta que define, de
cera forma, os limites e modelos da estrutura corpórea do brasileiro. Desde a gestação o ser humano é modelado pelos vários vigentes,
pela cultura, pela situação da classe social a qual pertence, e assim, dentro destas circunstâncias, nasce, cresce, vive, sobrevive, adoece e
morre.
    O mundo atual está ancorado em um modelo de existência em que o tempo e o fruto da ação humana constituem a matriz da convivência
em sociedade. Nestes dois pólos, o homem, sujeito de sua própria história, tem experimentado palpáveis estilos de vida jamais imaginados
e que não raro resultam por contrariar tudo aquilo que foi produzido como conhecimento e, desse modo, as verdades dos séculos XVIII,
XIX e XX foram abaladas em função da busca de um ser perfeito no que se diz respeito ao físico.
    Contudo, a Educação Física assim como a prática esportiva, apresenta evidências de que poderá participar do processo de crescimento e
desenvolvimento humano, desde que  se estruture a partir  da  caracterização da  concepção de  corpo que assume, da  conceitualização e
especificação de suas atividades próprias e de criar condições para humanizar, democratizar e organizar princípios que garantam a práxis
pedagógica,  tendo  em  vista  superar  a  concepção  de  homem,  de  mulher,  visto  como  um  corpo  máquina,  que  não  pensa,  não  vive
intensamente, limitado apenas a reproduzir o movimento que lhe é determinado (SILVA, 1995).
Conclusão
       Cada dia mais estamos considerando o corpo humano como uma verdadeira construção cultural, sendo comparável a um pedaço de
madeira que cada um esculpe de acordo com a sua própria vontade e satisfazendo os mais variados projetos individuais.
       O desporto,  na  sua  função de microcosmos da  sociedade,  há muito  que  se multiplicou  em  sentidos,  permitindo que outras  atitudes
perante si também se pluralizassem sem, contudo, renunciar à sua essência. Há muito que o desporto convocou para o seu seio a estética,
a construção corporal idealizada na beleza das formas, a auscultação de novas sensações corporais, como o risco, o prazer, a experiência
da subjetividade e, obviamente, a beleza.
    O homem tem a consciência que é um ser finito e essa consciência cada vez mais é nos proporcionado pelo corpo. Com efeito, o tempo
somatiza­se, modificando de tal forma os nossos corpos que basta a imagem destes para que consigamos perceber a idade do outro. Na
busca da eternidade, o homem moderno tudo faz para que o corpo não evidencie as inapagáveis marcas do tempo, tentando assim iludir
aquilo  que  é  inflexível  e,  até  hoje,  invencível.  Cresce  o  número  daquelas  pessoas  que  não  querem  ser  vistas  com  determinado  rótulo
exterior,  reflexo  do  tempo, mas  com um  outro, mesmo  que  o  interior  seja  completamente  diferente. Querem  ser  vistas  sem  o  tempo,
cristalizados num momento efêmero mas socialmente confortável, ou seja, querem permanecer jovens. O corpo associado a estas idades é
aquele onde tudo parece ser harmonia, onde a beleza se irradia com mais evidência, onde se atinge melhor a ilusão da idéia de perfeição
humana. É ainda o corpo com que muitos de nós gostaríamos de perpetuar para a eternidade. Para que tal aconteça é necessário construir
uma  imagem esteticamente agradável, valendo  tudo, mesmo o desporto, assumindo este um  importante papel para a consecução deste
processo de simulação (GARCIA, 1999).
Referências bibliográficas
BARRETO, Selva Maria Guimarães. Esporte e Saúde. Revista Eletrônica de Ciências ­ Número 22 ­ Outubro / Novembro / Dezembro
de 2003.
FREIRE João Batista. De corpo e alma: o discurso da motricidade. São Paulo: Summus, 1991.
GARCIA, R. Da desportivização à  somatização da  sociedade.  In:  BENTO,  J.; GARCIA,  R.; GRAÇA,  A. Contextos  da  pedagogia  do
desporto. Lisboa: Livros Horizonte, 1999. p. 113­63.
GONÇALVES, Maria Augusta Salin. Corporeidade e educação. Campinas: Papirus, 1994.
HELAL, Ronaldo George. O que é sociologia do esporte?. São Paulo: Brasiliense, 1990.
MARQUES, Renato. Esporteé Saúde? Universia.com.br
MEDINA, João Paulo Subirá. A Educação Física cuida do corpo... e "mente": bases para a renovação e transformação da Educação
Física. Campinas: Papirus, 1989.
RIBEIRO, Nuno Cobra. A semente da vitória. São Paulo: SENAC, 2001.
RUBIO, Kátia. Do olímpo  ao pós  ­  olimpismo:  elementos  para  uma  reflexão  sobre  o  esporte  atual. Revista  Paulista  de  Educação
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SCHNEIDER, Omar. O corpo: uma abordagem histórica. Grupo PET­ Educação Física. Sobre Educação Física. Vitória: UFES/CEFD,
1999.
SILVA, João Bosco da. Educação Física, esporte, lazer: aprender a aprender fazendo. Londrina: Lido, 1995.
VERENGUER, Rita de Cássia Garcia. Educação Física, Esporte, Dança, Lazer:  fenômenos distintos.  1989. Monografia  (mestrado)  ­
Universidade Estadual Paulista, Rio Claro.
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