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MICRO – AULA 9 – LEPTOSPIROSE - Zoonose de distribuição mundial – importante problema de saúde publica. - Doença infeciosa febril de início abrupto. - Homem: hospedeiro terminal e acidental. AGENTE ETIOLÓGICO - Bactéria espiralada: espiroqueta do gênero Leptospira. - Aeróbia obrigatória, helicoidal, flexível, móvel (2 flagelos) com extremidades em forma de gancho. - 2 espécies: Leptospira interrogans (patogênica) e Leptospira biflexa (saprófita). . Individualizadas em sorotipos/sorovares pelas suas características amtigênicas. . 2 ou mais sorovares antigenicamente relacionados formam um sorotipo. - L. interrogans: . 19 sorotipos e 180 sorogrupos. . Sororgrupos: Icterohaemorrhagiae (causa a leptospirose mais grave), Pomona, Canicola, Grippotyphosa. . Sobrevive no meio externo por até 180 dias, principalmente em água doce e solo úmido. . Ampla variedade de animais suscetíveis pode hospedar o microrganismo. EPIDEMIOLOGIA - Alta incidência em aglomerados urbanos com infra-estrutura sanitária inadequada e com infestação de roedores. - Estações chuvosas e inundações. - A letalidade das formas graves varia de 10 a 50%. - Surtos em regiões rurais (subnotificados) – estocagem de grãos TRANSMISSÃO - Principal reservatório: roedores sinantrópicos das espécies Rattus norvegicus (ratazana ou rato de esgoto), Rattus rattus (rato de telhado ou rato preto) e Mus musculus (camundongo ou catita). - Ao se infectarem, não desenvolvem a doença e tornam-se portadores, albergando a leptospira nos rins, eliminando-a viva no meio ambiente e contaminando água, solo e alimentos. - Outros reservatórios de importância são: caninos, suínos, bovinos, equinos, ovinos, caprinos e animais silvestres. - Os seres humanos são apenas hospedeiros acidentais e terminais dentro da cadeia de transmissão. - Animais infectados vão liberar Leptospira através da urina enquanto estiver vivo. - Infecção humana: . Exposição direta à urina de animais infectados – penetração do microrganismo em pele lesada ou mucosa da boca, narinas e olhos. . Exposição indireta à urina de animais infectados – pele íntegra quando imersa em água contaminada por longo tempo, ingestão de água e alimentos contaminados . Contato com sangue, tecidos e órgãos de animais infectados. Transmissão acidental em laboratórios. FISIOPATOGENIA - A penetração da leptospira ocorre através da pele, mucosa, ingestão ou aerossol. - Após a invasão, vai disseminar através do sangue para todos os órgãos, incluindo o SNC – muita dor nas pernas (panturrilha). a) Fatores de virulência: Luíza Paterline - Endotoxinas (LPS) – Sistema imune inato reconhece mal o LPS da leptospira. Elas atuam sobre ácidos graxos insaturados da pele. - Toxinas hemolíticas - Superantígenos – causa ativação de células T - Adesinas - Hialuronidase – destrói o cimento intracelular, facilitando a penetração. - Movimento saca-rolha – facilitam a penetração. b) Hospedeiro: - Fatores antigênicos – HLA DQ6 (susceptibilidade). - Liberação de toxinas. - Imunocomplexos. - Resultados: . Vasculite sistêmica mediada por citocinas e resposta inflamatória. . Suscetibilidade e imunidade. . A imunidade adquirida pós-infecção é sorovar-específica. FORMAS CLÍNICAS a) Leptospirose anictérica: - Evolução bifásica: .1º estágio/septicêmico (3-7dias): febre que vai e volta. Mialgia, cefaleia, dor abdominal, vômitos, injecção conjuntival, febre. . 2º estágio/imune (8dias – 1mes): febre vai e volta mais é mais branda. Meningite, uveite, exantema. - Incubação: 3-14dias. - Fase leptospiremia: 3-7dias. . Febre, calafrios, cefaleia, mialgia, artralgia, náuseas e vômitos, tosse seca ou produtiva, exantema muscular ou maculo-papular. - Defervecência em lise: 1-2dias. - Fase imune: 4-30dias → deposição de imunocomplexos, ou seja, não é a bactéria a responsável pelos sintomas dessa fase. . Febre, meningite, uveite, paralisia de nervos cranianos. - Duração de 1 a 4 semanas. b) Leptospirose ictérica: - Evolução monofásica: . Gravidade elevada. . 1º estágio/septicêmico (3-7dias) e 2º estágio/imune (18-30dias):Síndrome de Weil. - + icterícia rubínica (coloração alaranjada). - Sinais de gravidade comuns: . Insuficiência renal. . Manifestações hemorrágicas. - Duração de 3 a 4 semanas. - Síndrome de Weil – forma icterohemorrágica: . Icterícia rubínica (colestase)> . IRA – nefrite tubulointersticial . Fenômenos hemorrágicos: . Comprometimento cardíaco: miocardite e alterações eletrocardiográficas. . Tríade: icterícia, hemorragia, insuficiência renal. c) Sinais clínicos de alerta: - Dispeneia, tosse e taquipneia. - Alterações urinárias, geralmente oligúria. - Fenômenos hemorrágicos, incluindo hemoptise e escarros hemoptoicos. - Hipotensão. - Alterações dos níveis de consciência. - Vômitos frequentes – reposição volêmica é a primeira medida. - Arritmias. - Icterícia muito intensa. PERFIL LABORATORIAL - Hemograma: anemia, leucocitose com desvio a esquerda. - Transaminases normais ou elevadas (TGO, TGB) - Aumento de bilirrubina (direta). - CPX elevada. - Aumento de ureia e de creatinina. - K+ sérico normal ou diminuído (diferente de qualquer outra IR). - Reduzida reabsorção de Na+ (perda de canais de Na+ no epitélio tubular proximal, com consequente peso de Na+ e do volume do líquido), aumento do aporte distal, perda de K+. - TP alargado, fibrinogênio elevado. - Urina rotina: leucocitúria, proteinúria e cilindrúria (aglomerados de células provenientes do glomérulo). - Gasometria arterial: acidose metabólica (aumentada pela hipovolemia e ela hipopotassemia) e hipoxemia. DIAGNÓSTICO a) Sinais: - Suspeição clínica e epidemiológica. - Antecedentes de contato com ratos, exposição de enchentes e animais. - Mialgia na panturrilha (local onde a bactéria penetra, então é uma inflamação normal). - Icterícia rubínica. - Petéquias conjuntivas. - Exames gerais. - Bilirrubina direta muito elevada e TGO/TGP pouco elevadas/normal. - Ureia e creatinina elevadas com K+ baixo. - Plaquetopenia. - Leucocitose com desvio a esquerda. - Tempo de protrombina alargado. b) Exames confirmatórios: - Fase precoce: - Fase tardia: - Depende da fase evolutiva. c) Diagnóstico: - Métodos sorológicos: melhor alternativa. - Reação de microaglutinação (padrão-ouro) . Detecta os sorovares – aumento de 4x ou mais nos títulos de anticorpo – confirma o diagnóstico. . Alta sensibilidade. . Títulos maiores que: 1:800 - Reação de macroalgutinação – ideal coletar a partir do 7°dia; menos sensível, rápida execução. - Teste de ELISA IgM – detecção a partir do 7° dia de doença; permanece + ate 2meses. d) Diagnóstico diferencial: - Formas anictéricas: dengue, influenza, malária, riquetsioses, doença de chagas aguda, toxoplasmose, meningites, febre tifoide. - Formas ictéricas/graves: hepatite virais agudas, febre amarela (diferencia com nível de transaminase), sepse, dengue (FHD), colangites, malária (formas graves). TRATAMENTO - Formas moderadas: Doxicilcina (padrão-ouro), Amoxicilina. - Formas graves: Penicilina G cristalina, Ceftriaxona, Ampicilina, Cefotaxima. . Medida imediata: hidratação vigorosa EV e depois administra atb. . Furosemida se disfunção renal oligúrica. . Reposição de K+ se hipocalemia. . Terapia renal substitutiva, assistência ventilatória e transfusão de hemácias e plaquetas, se necessário. PREVENÇÃO - Controle de reservatórios. - Melhora de infra-estrutura. - Educação em saúde. - EPI para profissionais. - Vacinação dos animais: imunogenicidade limitada a alguns meses. Previne doença e não o estado do portador. - Profilaxia com Doxiciclina. OBS: Imunidade serovar-específica dificulta o desenvolvimento de vacinas para humanos. OUTRAS BACTPERIAS TRANSMITIDAS POR VETEROS E ZOONOSES - Febre maculosa, Doença de Lyme e Leptospirose - Zoonoese é uma doença de animais transmitida aos sereshumanos, que podem ser transmitidos por contato direto, aerossóis, mordeduras ou vetores. RIQUÉTSIAS - Bactérias intracelulares obrigatórias, pequenas, gram-, pleomórficas, patogênicas (Rickettsia e Orientia). - Estrutura celular: camada de peptidoglicano, circundada por uma camada limosa frouxamente aderente, LPS, ausência de flagelos. - Hospedeiros: roedores, outros animais e artrópodes (carrapatos, ácaros, piolhos e pulgas). - Não sobrevivem muito tempo fora do hospedeiro – justifica a necessidade de um vetor. - Danificam os capilares sanguíneos – erupção cutânea manchada característica. - Febre maculosa (R. rickettsii) – carrapato estrela que costuma parasitar animais silvestres. - Doenças: Erliquiose humana monocítica (Ehrlichia chaffensis, carrapato), Tifo endêmico murinho (R. typhi, pulgas e ratos), Febre maculosa (carrapato estrela). a) Febre maculosa: - No Brasil, em contato com carrapatos de animais silvestres. - A bactéria se adere as células endoteliais (OmpA), penetram na célula pela indução de fagocitose, lise do fagossoma, se multiplicam no citoplasma como núcleo, translocam de uma célula para outra adjacente. - Carrapato precisa estar aderido de 4-10h na pele. Também pode ocorrer se o carrapato for esmagado. - Incubação: 2-14dias - Inicialmente de forma inespecífica (febre alta, dor de cabeça, fadiga, náuseas e vômitos). Após 3 dias podem aparecer erupções cutâneas maculares. Essas manchas começam nas extremidades e vão migrando para o tronco. - Tratamento: Doxiciclina - Prevenção: Evitar áreas infestadas por carrapatos. Remover os carrapatos imediatamente. Controle de carrapatos em animais, assim como o uso de carrapaticidas. b) Erliquiose humana: - Riquetsias ou Ehrlichias via carrapato. - Parasitas intracelulares que parasitam granulócitos, monócitos, eritrócitos e plaquetas. - Sintomas comuns: início abrupto de uma doença semelhante à influenza com sintomas inespecíficos como febre, calafrios, mialgia, fraqueza, náuseas, vômitos e tosse. Cefaleia e mal-estar começam depois de 12 dias da picada. - Tratamento: Doxiciclina. ESPIROQUETAS - Helicoidais, flexíveis, delgadas e móveis. - 3 famílias: Treponema (sífilis e outras), Borrelia (Doença de Lyme e febre recorrente) e Leptospira (leptospirose). a) Doença de Lyme – Borrelia burgdorferi: - Artrite juvenil antecedida por picada de carrapatos de carapaça dura. - Lesão clássica: eritema migratório (redondo com o meio branco no local da picada). - Pode causar manifestações neurológicas e complicações cardíacas. - Patogenia bacteriana: . O crescimento da bactéria nos vetores e hospedeiros é regulado pela expressão gênica diferencial (OspA – especificidade de ligação ao intestino do carrapato; OspC – relacionado a fase de transmissão). . Não possuem toxinas reconhecidas e são eliminados pela resposta imune do hospedeiro. b) Febre recorrente: - Epidêmica: piolho humano. - Endêmica: carrapatos moles, podendo ter como reservatório roedores. - Grande numero de genes homólogos de genes OspC, mas apenas um desses genes é expresso de cada vez. c) Diagnóstico: - Sorologia, WB, PCR. d) Tratamento: - Fase inicial (EM + sintomas de gripe): Doxiciclina, Amoxicilina. - Fase avançada (artrite, bradicardia, meningite, neurorretinite, EM em outras áreas): Ceftriaxona, Doxiciclina. CHLAMYDOPHILA PSITTACI – PSITACOSE/ORNITOSE - Pisitacose – febre do papagaio. - Ornitose – quando o reservatório é outra ave. - Bactéria presente no sangue, nas fezes e nas penas das aves infectadas. - Incubação: 4-14 dias. - Transmissão: inalação da bactérias nas penas e nas fezes secas. - Sintomas: inicialmente brandos e inespecíficos (semelhantes a infecções de VA superior). - Sinais clínicos: febre, calafrios, cefaleia, mialgia, mal estar, tosse não produtiva acompanhada de dispneia. Em casos graves pode evoluir para uma pneumonia. - Diagnóstico: Sorologia (ELISA), títulos > 1:32. - Tratamento: Doxiciclina (adultos), Eritromicina (<7anos). FEBRE DE ORIGEM OBSCURA/INDERTEMINADA (FOI) - Presença de hipertemia (temp≥38,3°C) por mais de 8 dias, sem evidência etiológica apesar da cuidadosa investigação clínica e laboratorial. - Etiologia: infecções>neoplasias>colagenoses (reumáticas)>outras causas. CAUSAS: - Bacterianas: brucelose, endocardite, leptospirose, salmonelose, tuberculose, sinusite com mastoidite, tularemia, osteomielite. - Virais: CMV, EBV (mononucleose), Vírus da hepatite. - Parasitárias: malária, toxoplasmose, larva migrans visceral. - Neoplásicas: linfoma de Hodkin, leucemia/linfoma, neuroblastomas. - Reumatológicas: LES, poliarterite nodosa, artrite idiopática juvenil (AIJ). - Outras: febre factícia, D insipidus (origem central, febre medicamentosa, pancreatite, sarcoidose, eritema multiforme, doença de Chron, febre mediterrânea familiar. a) Febre medicamentosa: - 1-3 semanas após o inicio da medicação. - Desaparece 2-3 dias após a suspensão do uso. - Mais associada a ATB (β-lactâmicos – meropenem, cefalosporinas), agentes cardiovasculares (quinidina), antineoplásicos e dorgas de ação no SNC (fenitoína). DIAGNÓSTICO - Documentação da febre (excluir a febre factícia), anamnese, hemograma. - Hemocultura, VHS, Cultura de materiais como urina, escarro, líquore aspirado gástrico diurno (suspeita de tuberculose), Sorologia (de tudo), Raio-x de tórax, RNM (avalia SNC). - USG (rins, pâncreas e árvore biliar), FAN (kids>5anos), HIV, TC, punção lombar (pacientes com cefaleia-afastar meningite). OBS: População pediátrica: - 10-20% dos kids com FOI não apresentam causa identificada. O médico deve persistir no exame físico e avaliações constantes. - Kids devem sempre ser internadas. - O curso de uma FOI em kids é pior do que em adultos. PASSO A PASSO - Hist minuciosa + exame físico completo + confirmação de febre + retirada de drogas + rotina inteligente de exames + parecer especializado: . Indicam uma direção → Investigação específica . Sem indícios → Hemograma, Rx de tórax, HCTs, VHS, EAS, EFFs, AST/ALT, ác úrico, Sorologia para tudo, Eletroforese de ptns, ASLO, ASO, FAN, FR, ECO IT, TC, PSA, USG → . Indicam uma direção → Investigação específica. . Sem indícios iniciais → Sorologias (clmaidia, listeia, brucelose, coxsackie, criptococose, rodococose), EDA, Colonoscopia, Cintilografia, PET scam → . Indicam uma direção → Investigação específica . Sem indícios → Aspirado de Bx de M.O., Bx de artéria temporal uni ou bilateral → Sem diagnóstico → Avaliar gravidade: . Acompanhamento ambulatorial por até seis meses após sem febre. . Prova terapêutica. a) Prova terapêutica: - O uso indiscriminado de ATB retarda o esclarecimento. - O uso precipitado de corticoesteróides altera o comportamento de febre e modifica a evolução clínica de muitas doenças. - Os tratamentos empíricos e provas terapêuticas são muitas vezes utilizados após longa investigação das FPOO sem êxito, principalmente quando o estado clínico do paciente se agrava. - Há concordância entre muitos autores quando ao tratamento empírico em algumas situações. . Tratamento para tuberculose: granulomas em qualquer resultado histopatológico, mesmo em microorganismo isolado. . Presença de infiltrados pulmonares e derrames pleurais não esclarecidos, com PPD reator. . Quando somente há PPD reator, aos investigação exaustiva, e nenhuma conclusão, principalmente se há agravamento do quadro. - Há consenso na literatura também para os seguintes casos: . Tratamento empírico na suspeita de Doença de Still com slicilatos, fenilbutazona ou corticoide . Aspirina em dose anti-inflamatória na suspeita de febre reumática de apresentação atípica. . Uso de AAS e imunoglobulina com boa resposta é critério diagnóstico para Doença de Kawasaki. . Uso de colchicina com boa resposta é critério diagnóstico para Febre do Mediterrâneo.
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