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Aula 2 MODELO DE INSTITUIÇÕES

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1 
CEDERJ – CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA 
DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 
 
 
 
CURSO: Tecnólogo em Segurança Pública 
DISCIPLINA: Modelos e Instituições de Segurança Pública em Perspectiva 
Comparada 
 
CONTEUDISTA: Vívian Paes. 
 
 
Aula 2 – Modelos de polícia em países de língua inglesa 
 
O que é a polícia? Quais funções e papéis a polícia deve ter? Que direitos 
deve esta instituição promover e defender? Como são definidas as 
responsabilidades dos agentes destas instituições? Quais as estratégias de 
policiamento e seus efeitos no controle da criminalidade? Todas as instituições 
policiais agem e são definidas da mesma forma? 
Nesta e nas próximas aulas dessa disciplina serão abordadas essas 
questões, focalizando como as instituições policiais são concebidas e quais as 
suas práticas em vários países ocidentais. Para isso, serão apresentados estudos 
sobre as polícias de vários países ocidentais. Iniciaremos aqui com a exposição 
de obras reconhecidas sobre a polícia e o policiamento na Inglaterra, nos Estados 
Unidos e teremos os exemplos de outros países. 
Com isso, pretendemos familiarizar os alunos com a pluralidade de formas 
e práticas institucionais de policiamento, bem como sensibiliza-los quanto a 
origem das formas de controle social institucionalizado nas democracias 
contemporâneas. 
 2 
 
Meta 
 
Apresentar o histórico das instituições e modelos policiais e de policiamento em 
alguns países de língua inglesa, em especial, a Inglaterra e os Estados Unidos. 
Familiarizar os alunos com alguns debates chave referentes ao trabalho policial. 
 
 
Objetivos 
 
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: 
 
1. conhecer um pequeno histórico da polícia em países de língua inglesa; 
2. diferenciar o controle social difuso e o controle social institucionalizado; 
3. diferenciar as práticas de policiamento dos modelos de instituições policiais; 
4. considerar como diferentes formas de controle e avaliação podem influir 
numa melhor aperfeiçoamento das práticas policiais. 
 
Pré-requisitos 
 
Antes de iniciar a leitura desta aula, solicita-se que os alunos dominem o 
conteúdo administrado na aula anterior referente aos diferentes modelos jurídicos 
ocidentais, quais sejam: a civil law e a common law. 
 
 
Introdução 
 
A temática do controle social e do policiamento é muito mais ampla do que 
atentar para as instituições policiais. Quando falamos de controle social, devemos 
estar atentos que existem diversas formas de controle que uns fazemos com 
 3 
relação ao comportamento dos outros. Por exemplo, quando fazemos ironias ou 
fofocas sobre o comportamento de alguém, demostramos que reprovamos 
determinadas atitudes e não outras. A avaliação sobre os comportamentos 
depende, neste sentido, da avaliação moral que fazemos com relação aos outros 
e essa moralidade varia não só de um contexto a outro, mas varia de acordo com 
o grupo que pertencemos, podendo haver mesmo variações individuais. 
Uma das principais diferenças da avaliação e controle social difuso sobre os 
comportamentos dos outros e o controle social institucionalizado sobre o 
comportamento das pessoas vivendo juntas em uma comunidade política, é que 
nesta ultima supõe-se que existam comportamentos previstos em regulamentos 
como não adequados e que o conhecimento sobre o que nos é autorizado ou não 
fazer em determinadas sociedades é de conhecimento público e não é objeto de 
uma avaliação particularizada. Além disso, para a existência desse controle social 
institucionalizado, é preciso a previsão de instituições onde existam modelos onde 
seus profissionais tenham funções e procedimentos de atuação bem definidos e 
regulamentados. Assim, não só o comportamento não desejado e sua possível 
punição é objeto de regulamentação, como os procedimentos que devem ser 
levados a cabo pelas instituições a fim de identificar esses comportamentos, punir 
as pessoas responsáveis e dar respostas às vítimas, também estão previstos e 
normas e são objetos de controle. 
As instituições e seus agentes são sistematicamente submetidas a controle 
interno e externo, seja este realizado por outras instituições como ouvidorias, a 
justiça, a imprensa, pelos indivíduos que entram em contato com essas 
instituições e sociedade civil organizada. 
 Por ultimo, destacamos que o exercício do controle social existe em todas 
as sociedades humanas, mas que a polícia enquanto corpo organizado de 
profissionais que tem obrigações e responsabilidades especificas, como exemplo, 
no âmbito do controle da criminalidade e manutenção da ordem, é uma criação 
 4 
dos dois ou três últimos séculos (Bradford e Jackson, 2011). A origem dos 
principais modelos policiais que encontramos no mundo ocidental remonta à 
França e à Inglaterra do século XVIII, com grandes diferenças sendo identificadas 
como ponto de partida adotada em cada um desses dois países. Desde então, a 
polícia tornou-se uma instituição pública importante na maior parte dos países do 
mundo (Bradford e Jackson, 2011). 
Vejamos algumas definições sobre o que é a polícia. Segundo Bayley, a 
polícia constitui em um conjunto de “pessoas autorizadas por um grupo para 
regular as relações interpessoais dentro desse grupo através da aplicação da 
força física” (Bayley, 2006, p. 20). Robert Reiner apresenta uma definição de 
polícia referindo-se a um tipo particular de instituição social enquanto policiamento 
implica um conjunto de processos com funções sociais específicas (Reiner apud 
Carrabine et alli, 2004, p. 270). Sendo assim, policiamento é um termo mais amplo 
que engloba diferentes práticas de controle exercidas pela sociedade, pelas 
organizações policiais e por demais instituições. 
Dado que a polícia tem suas atividades voltadas ao exercício da autoridade 
e à regulação dos conflitos na sociedade, suas atividades são por vezes 
controversas e contestadas. A instituição policial tem como principais funções a 
ideia de manutenção da ordem ou administração da cidade pelo estado. A estas 
instituições, são autorizadas e legitimadas a adoção de práticas de controle e de 
policiamento, dentro dos limites regulamentares estabelecidos pelo estado. 
No entanto, a forma como cada estado relaciona-se com essas instituições 
pode assumir conotações bastante diversas. Vejamos a seguir, a forma como a 
instituição policial foi concebida na Inglaterra. 
 
A Polícia Inglesa 
Na Inglaterra, as origens históricas da polícia testemunham a resistência a 
criação de uma polícia padronizada que pudesse ser replicada e exercer suas 
atribuições em todo e qualquer contexto. Nos séculos XVIII e XIX, uma iniciativa 
 5 
de aumento da tributação fez com que a ideia da introdução de uma forca policial 
foi rejeitada pelos parlamentares cerca de cinco vezes. Havia resistência da 
adoção de um modelo policial tal como o adotado em outros países do continente 
europeu, concentrado no poder monárquico. No entanto, a ideia do 
desenvolvimento de uma força pública submetida a controles também locais foi se 
sustentando até que o Parlamento em 1829 estabelecesse por lei a fundação da 
Policia Metropolitana seguindo um modelo profissional e uniformizado visando 
realizar o policiamento preventivo nas ruas em contraste com as pequenas forças 
desorganizadas e descentralizadas até então existentes. Essas forças civis eram 
subordinadas aos comitês locais e cobriam quase todo o país, com exceção da 
cidade de Londres (Carrabine et alli, 2004, p. 271). Para evitar qualquer suspeita 
de que tratava-se de um modelo militarizado, o uniforme da polícia foi 
cuidadosamente escolhido: os novos policiais andavam desarmadose portavam 
ternos azuis de corte civil cos botões de metal onde havia a inscrição “polícia” e 
cartolas, estes eram os únicos sinais que identificava-os como força policial 
(Lyman, 1964, p. 152). Desde a criação dessa polícia o seu caráter civil foi 
enfatizado: serviço público, autocontrole e a importância de ganhar a confiança do 
público foram de suma importância (Lyman, 1964, p. 153). 
Estima-se que as forças locais foram adotadas inicialmente em 178 cidades 
e seu número cresceu de forma constante, em 1851, haviam cerca de 13.000 
policiais na Inglaterra e no País de Gales (fonte: 
http://www.parliament.uk/about/living-
heritage/transformingsociety/laworder/policeprisons/overview/metropolitanpolice/). 
 Esta lei foi a base para a criação de uma das primeiras forças policiais 
modernas com as seguintes características: a polícia personifica o poder coercitivo 
do estado, regulando as atividades cotidianas das pessoas ao exercer as funções 
de patrulha e vigilância (Carrabine et alli, 2004, p. 271). Os esforços policiais 
deveriam dirigir-se a manutenção da segurança das pessoas e dos bens, à 
preservação da tranquilidade pública, na detecção dos crimes e na punição dos 
infratores uma vez que os crimes foram cometidos. Foi ressaltado, todavia, que a 
 6 
ausência dos crimes seria considerada a melhor prova da eficiência da polícia, e 
não a produção de maior quantidade de detenções (Lyman, 1964, p. 153). A 
polícia britânica passa a ser avaliada principalmente pelos crimes que foram 
evitados e não apenas por ações reativas uma vez que os crimes foram 
cometidos. 
Inicialmente voltada para a prevenção do crime, essa polícia teve seu poder 
ampliado para outras formas de regulação da vida citadina. Nem todo setor da 
sociedade foi atingido da mesma maneira, pois os problemas sociais gerados 
pelos processos de industrialização, crescimento da população e urbanização 
acelerada foram utilizados como estopim para a criação de novos poderes 
legislativos, regulamentos e estatutos como o de comércio de rua que visavam 
controlar determinados grupos sociais em especifico que estavam na base da 
pirâmide social, como os sem teto, os sem trabalho, os mendigos, os vendedores 
ambulantes, as prostitutas (Carrabine et alli, 2004, p. 271-272). 
Assim, vemos que as expectativas de controle e policiamento não atingiam 
a toda sociedade da mesma maneira. Aliada às práticas policiais de manutenção 
da ordem, encontramos uma polícia cuja função simbólica visa representar e 
reforçar os valores dominantes em uma determinada sociedade. A introdução do 
patrulhamento de rua levou aos aumento do número de detenções por delitos 
menores geralmente associados a desordens urbanas, como embriaguez e jogos 
de azar (Storch, 1976 apud Carrabine et alli, 2004, p. 272). 
Inicialmente, a polícia inglesa não foi bem recebida pelo público, mas foi 
ganhando receptividade ao longo do tempo. O pós-guerra foi o ponto alto do apoio 
e da crença no policiamento público. A imagem acolhedora do prestativo e 
admirado bobby britânico estava presente na opinião pública e foi retratada em 
séries de televisão inglesas como Dixon of Dock Green (transmitido em 1855-
1976 na BBC) (Carrabine et alli, 2004, p. 272). A polícia inglesa é mundialmente 
reconhecida pela sua receptividade com o público e por não utilizar armas letais 
em suas atividades de policiamento, sendo a confiança que as pessoas depositam 
na polícia um importante critério utilizado para a avaliação constante do trabalho 
 7 
policial. Esta é uma polícia que leva em consideração a imagem que provoca no 
público como um importante critério para a avaliação de suas atividades, sendo 
levado até hoje em consideração em varias edições do British Crime Survey ( ver 
http://www.crimesurvey.co.uk). 
Autores ressaltam que o papel da policia vai além do simples fato de 
perseguir e prender os indivíduos que cometeram delitos. A policia pode 
influenciar seus cidadãos – os mesmos que são policiados – de uma maneira mais 
consensual e menos frontal: aprofundando sua legitimidade pelo respeito das 
regras da justiça e dos procedimentos, a polícia pode ser pedagógica e ensinar os 
cidadãos que é moralmente bom respeitar as leis. Nesse ponto, o Reino Unido é 
um exemplo interessante. Sob a forma dos dois símbolos mais importantes, o do 
Bobby que faz a sua ronda e o do Scotland Yard, o lugar importante da policia na 
vida politica e social britânica parece assegurada (Bradford e Jackson, 2011, p. 2). 
Segundo esses mesmos autores, as pesquisas mostram frequentemente que mais 
da metade das pessoas pesquisadas julgam que os policiais fazem um excelente 
ou um bom trabalho, estando entre as instituições que os cidadãos britânicos mais 
depositam confiança (Bradford e Jackson, 2011, p. 3) 
Ao analisar as atitudes do público para com a policia na Inglaterra e País de 
Gales, o Crime Survey de 2011/2012 
(http://www.ons.gov.uk/ons/dcp171778_289210.pdf) apontou como resultado que 
62% dos adultos acreditam que a polícia em sua área local estavam fazendo um 
trabalho bom ou excelente, e isso ocorreu por conta de uma maior visibilidade dos 
policiais em patrulha a pé. 
Historicamente, e no contexto contemporâneo a imagem pública da polícia 
tem sido predominantemente associado ao da luta contra o crime. Entretanto, 
entre ouras tarefas, as funções primárias da polícia envolvem a prevenção do 
crime, a detecção de criminosos e a preservação da ordem (Carrabine et alli, 
2004, p. 276). 
 8 
Na prática, uma boa parte do trabalho da polícia refere-se a resolução de 
problemas cotidianos e não referem-se diretamente à criminalidade. Uma boa 
parte do tempo da polícia é gasto cumprindo tarefas que não envolvem o controle 
do crime, mas em negociar conflitos e responder a uma gama de situações 
urgentes para as quais se demanda a intervenção dos policiais. De fato, muitos 
estudos clássicos desenvolvidos nos anos 1960 e 70 sobre o papel da polícia nos 
Estados Unidos e na Grã-Bretanha identificam que a polícia atua como um serviço 
social aberto vinte e quatro horas (Carrabine et alli, 2004, p. 277). A elucidação de 
crimes também é um importante critério levado em consideração para a avaliação 
do trabalho da polícia britânica. Em 2002/2003 as taxas de elucidação variaram de 
16% para roubo e receptação, 50% para crimes violentos cometidos contra a 
pessoa e 93% para delitos envolvendo drogas (Simon e Dodd, 2003 apud 
Carrabine et alli, 2004, p. 277). 
Um dos mais importantes autores sobre a polícia em países de língua 
inglesa relata que os principais critérios de avaliação do desempenho policial não 
devem ser o combate ao crime, pois não é possível confiar nas informações 
exatas sobre os crimes efetivos cometidos na sociedade - as estatísticas dão 
conta apenas dos crimes levados a conhecimento e relatados à polícia - , mas 
também devem ser levados em conta como critérios importantes para a avaliação 
do trabalho policial : a prevenção do crime, a melhoria da sensação de segurança 
pública; o respeito a lei; a ausência de comportamento imoral; a criação de 
confiança pública, a abertura da instituição a controle qualificado, a capacidade 
que a instituição tem de resolver problemas gerais, a proteção da integridade dos 
processos políticos e o tratamento igualitário que seus profissionais dedicam aos 
cidadãos (Bayley, 2006, p. 30). 
As estatísticas criminais da Inglaterra e Pais de Gales, recentemente 
divulgadas em julho de 2014 (http://www.ons.gov.uk/ons/dcp171778_371127.pdf), 
apontam como principais resultados um aumento do número de registros de 
crimes pela policia. Ao confrontar os dados oficiais produzidos por estas 
instituições e as pesquisas de vitimização(pesquisa que informa se as pessoas 
 9 
foram ou não vítimas de crimes e se notificaram ou não o crime de que foram 
vitimas e por quais razões, entre outros assuntos), observa que reduziu o numero 
de fatos que não chegam a conhecimento da policia. Uma das consequências 
observadas é o impacto de uma melhor conformidade dos padrões de registro de 
crimes e não necessariamente o resultado do aumento da criminalidade. Segundo 
o relatório, este aumento está relacionado com o efeito de uma campanha recente 
para que mais vitimas de ofensas sexuais sejam estimuladas a registrar os crimes 
nas policias e ao fato de que foram produzidas maior conformidade das formas de 
registro em algumas forças policiais (Office of National Statistics, 2014, p. 2, 10, 44 
e 48). 
 
Tabela 2.1. Tendências de registro de crimes pela polícia e pesquisas de 
vitimização, 1981-2013 
 
Fonte: OFFICE OF NATIONAL STATISTICS. Statistical Bulletin. Crime in England and Wales, Year 
Ending March 2014, p. 3. Disponível em: http://www.ons.gov.uk/ons/dcp171778_371127.pdf , 
consulta em 28 de outubro de 2014. 
 
 10 
 
Nesta tabela, as colunas representam as estatísticas da criminalidade 
oriundas dos registros policiais e a linha representa a evolução dos resultados das 
pesquisas de vitimização em uma série histórica. Ao comparar estas diferentes 
informações, sempre encontramos a informação de que existem mais crimes que 
as pessoas informam ser vitimas do que aqueles oficialmente registrados. Assim, 
nem todo crime que ocorre na sociedade é objeto de um registro e investigação 
pelas instituições policiais. Mas o que esses dados também nos mostram, é que a 
adoção de novas práticas e políticas pela polícia pode fazer com que os registros 
oficiais se aproximem cada vez mais da vitimização informada pelas pessoas nas 
pesquisas. Observamos que, quando existiam velhos padrões de registros, 
representados pelas colunas na cor azul, eram distantes os dados oriundos dos 
registros policiais das ofensas declaradas pela população. Ao longo do tempo, a 
partir da introdução de novas técnicas de registro representadas pelas colunas em 
cinza, as diferentes fontes de informação sobre a criminalidade tendem a se 
aproximar, o que indica não o aumento da criminalidade real, mas sim uma maior 
propensão da população em procurar a polícia e uma maior confiança produzida 
pelas medidas que foram adotadas. Essas e outras informações, como a evolução 
de registros por tipo de crime, podem ser consultadas com mais detalhe no dossiê 
supracitado. Mas o que é importante neste momento ressaltar é que o aumento de 
confiança pode influenciar se as pessoas irão chamar a policia em uma situação 
dada, na maneira de ler e de compreender as ações policiais, e nas 
consequências que tiramos delas (Bradford e Jackson, 2011, pp. 7-8). 
Observa-se que, na Inglaterra e no País de Gales, a confiança da 
população na polícia se tornou uma constante no debate sobre as questões da 
ordem pública, a tal ponto que o governo redefiniu os dispositivos de gestão do 
desempenho da policia fazendo da confiança da população o objetivo numero um, 
visando melhorar as relações dos cidadãos com a policia mas também a aumentar 
 11 
a cooperação da população na “luta contra a delinquência” (Bradford e Jackson, 
2011, p. 3-4). 
Mas além da confiança, a polícia deve ser capaz de produzir legitimidade. 
Sobre este tema, há uma proposta de se pensar em termos de justiça 
procedimental. Esse conceito foi inicialmente proposto por Tyler nos Estados 
Unidos, mas que também tem estimulado muitas pesquisas britânicas sobre a 
policia. A justiça procedimental significa um tratamento equitável e respeitoso dos 
profissionais ao obedecer a regras e chegar a decisões transparentes e 
compreensíveis, sendo este critério mais importante para que a população avalie a 
legitimidade da atuação da polícia do que a avaliação particular da obtenção de 
resultados julgados bons ou vantajosos. Nas relações diretas com os policiais, a 
qualidade do tratamento atribuído pelos profissionais destas instituições aos 
indivíduos que eles policiam é mais importante (Bradford e Jackson, 2011, p. 10). 
Há de se ressaltar ainda que a liberdade prevista na constituição inglesa contribuiu 
para moldar as funções da polícia naquele país enfatizando um modelo civil de 
policiamento em que práticas preventivas voltadas para a proteção da vida e da 
propriedade deveriam ser enfatizadas (Lyman, 1964, p. 135), representando ainda 
que a comunidade também tem responsabilidade na manutenção da ordem. 
Apesar disso, o policiamento da ordem pública não deixa de ser ambíguo. 
Algumas vezes, há denúncias de uso excessivo de força policial relacionados a 
abordagem discriminatória em vista de determinados grupos sociais, o que ainda 
gera muitas controvérsias. Além disso, desde o século XIX a polícia entra em 
conflito ao exercer o controle sobre as manifestações sociais e greves e outras 
lutas por direitos, mesmo quando em oposição aos próprios policiais (Carrabine et 
alli, 2004, p. 272). No século XX, a polícia tem se envolvido em confrontos com 
sindicatos e alguns protestos contra a construção de novas estradas, contra a 
exportação de animais vivos e com manifestações contra as consequências 
sociais do capitalismo multinacional e aumento da pobreza no mundo, com vistas 
a manter uma forma particular de "ordem". Assim, o policiamento da ordem 
 12 
pública realizada por funcionários autorizados representa a forma como o Estado 
relaciona-se com seus cidadãos, sendo uma atividade irredutivelmente política 
(Carrabine et alli, 2004, p. 274). 
Segundo autores, a policia britânica é um símbolo da nação e um símbolo 
de pertencimento. Mas, em toda sociedade multicultural, também pode acontecer 
que alguns indivíduos não tenham um sentimento de uma identidade comum com 
a policia. Pode ser que eles viveram relações de oposição com a policia ou que 
eles adiram a sistemas de valores que eles consideram, ou que a cultura 
dominante considera, como incompatíveis com aquela que a polícia representa 
(Bradford e Jackson, 2011, p. 12). Neste sentido, é importante estarmos atentos a 
que tipo de ordem pretende a polícia reproduzir. 
As organizações policiais também podem ser caracterizadas por sua cultura 
ocupacional. Isso não quer dizer que haja uma grande correspondência entre 
atitudes e comportamentos, pois muitas vezes os policiais, assim como outros 
profissionais, não conseguem implementar na prática aquilo que articularam na 
cantina ou nas entrevistas. A cultura policial também não é imexível e invariável a 
mudanças. Ela varia de acordo com o ponto de vista das elites policiais, com os 
estilos dos departamentos, com a forma de distribuição de poder em uma 
comunidade, com os diferentes padrões e problemas efetivos com os quais os 
policiais lidam nas suas práticas de policiamento, e situações especificas 
encontradas no ambiente em que policiam. Também existem diferenças internas e 
tensões entre os o conhecimento baseado na experiência de rua e aquele que se 
fundamenta em princípios mais burocráticos e de gestão. 
A avaliação de como os policiais veem o mundo e seu papel neste também 
é crucial na análise do que eles fazem. Esses valores e as regras de experiência 
são importantes, pois orientam a discricionariedade policial informando os critérios 
utilizados pelos policiais na tomada de decisões práticas, a forma como eles 
elegem prioridades e a forma como eles interpretam as regras gerais aos lidar 
com situações especificas de conflito (Carrabine et alli, 2004, p. 276). 
 13 
 
Atividade 1 
1) Apresente as diferenças entre polícia e policiamento. 
____________________________________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________ 
2) A partir da apresentação de como os britânicos veem sua policia, discuta as 
relações existentes entre a confiança, a legitimidade das instituições 
policiais e a participação dos cidadãos na produção da ordem social. 
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________ 
3) A forma como os policiais tratam as pessoas pode também influenciar a 
atitude da população. Dê a sua opinião sobre a afirmativa anterior. 
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
 14 
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________ 
Resposta comentada: 
Para responder a essas questões, os alunos deverão considerar alguns aspectos 
destacados na primeira parte dessa aula referentes às instituições, suas práticas e 
representações. Como resposta à última questão, solicita-se que os alunos 
emitam opinião de caráter pessoal. 
 
Análise comparada de modelos policiais em cinco países 
 
Em um estudo visando comparar a organização policial em diferentes países de 
língua inglesa, Bayley (2003) afirma que para comparar a organização policial em 
diversos países temos que considerar o número de forças policiais autônomas, a 
maneira como se dá a coordenação destas forças pelas diferentes jurisdições e a 
forma de distribuição territorial e funcional do comando dentro delas. 
 
Em seu estudo, Bayley apresenta as polícias da Grã-Bretanha, Estados Unidos, 
India, Austrália e parte do Canadá. Segundo o autor, assim se dá a composição 
das forças policiais em cada um dos países analisados: 
 
Quadro 2.1. Forças policiais existentes em cinco países 
 15 
 
Fonte: (Bayley, 2003). Dados trabalhados pela autora. 
 
Com relação a organização da polícia, destacamos que na Grã-Bretanha há 
somente uma organização policial, embora esta se divida em variadas jurisdições. 
Há a presença de quarenta e três forças metropolitanas e regionais estatutárias na 
Inglaterra e no País de Gales. A polícia se distingue de outros serviços públicos, 
pois tem capacidade do exercício da força legítimo (Bittner, 1974 apud Carrabine 
et alli, 2004, p. 276). Mas também existem outras forças especializadas que 
cooperam com esse exercício da autoridade do Estado, mas dentro de espaços 
privados particulares, tais como a polícia de transporte britânica e a autoridade 
policial de energia atômica do Reino Unido (Carrabine et alli, 2004, p. 276). 
Conforme podemos observar no quadro, países que pertenciam a antigas 
colônias inglesas, embora tenha se baseado no modelo britânico, implementaram 
significativas mudanças ao projeto que os inspirou. O principal critério que 
Estados 
Unidos 
40.000 (em 
1967) 
14901, sendo 
14000 
mantidas 
pelos 
governos 
locais (em 
1960) 
15118, sendo 
11989 forás 
locais, 3080 
departamento de 
xerifes dos 
condados e 49 
forças estaduais 
Grã 
Bretanha 
41 forças 
provinciais 
1 força na 
cidade de 
Londres e 
outra na 
região 
metropolitan
a de Londres 
India 
22 forças 
estaduais 
Unidades 
nacionais 
em 9 
territórios 
da união 
Austrália 
7 forças 
estaduais 
1 força 
federal 
(capital) 
Canadá 
10 forças 
provinciais 
(algumads 
reunidas no 
RCMP) 
450 forças 
municipais 
1 Royal 
Canadian 
Mounted 
Police 
 16 
podemos identificar continuidades é o fato de que em todos os países 
encontramos forças policiais locais, apostando num modelo descentralizado de 
gestão das instituições. Dos países analisados, aquele com maior número de 
forças policiais é os Estados Unidos, embora a estimativa do número de forças 
policiais existentes nesse país não sejam tão exatas, mas levantamentos 
realizados em 1960 e 1967 dão conta de cerca de 14.000 instituições policiais. No 
entanto, também identificamos que em alguns desses países (Austrália, India e 
Canadá), além das forças locais, também existem forças federais ou nacionais 
com competências territoriais ou funcionais limitadas. Em todos os países o 
governo nacional tem poder muito limitado no policiamento em geral, há o 
predomínio do policiamento local (Bayley, 2003). 
Quanto ao território coberto por cada uma destas policias, vemos que na 
Austrália, as forças policiais cobrem, em média, 873.866 km2, “cobrem uma área 
que é quase tão grande como os Estados Unidos, sem o Alasca e o Havaí ” 
(Bayley, 2003, p. 543). As jurisdições em Inglaterra e em Gales tem em média 
3.514 km2. As forças americanas quase sempre se sobrepõem em suas 
jurisdições e estão vinculadas a níveis de governo formados em escalas muito 
diferentes. (…). Os EUA têm poucas jurisdições policiais com tamanho 
substancial, mas, comparadas às outras quatro democracias de língua inglesa, a 
grande minoria é minúscula (Bayley, 2003, pp. 543-544). 
Quanto aos estatutos que informam a atuação dessas oferentes forças, 
observamos que, na Austrália e nos Estados Unidos, cada estado tem seu Código 
Penal, mas a Australian Federal Police e o Federal Bureau of Investigation 
(FBI/EUA) tem autoridade predominante para aplicar estatutos federais. Na 
London Metropolitan Police, a Scotland Yard é responsável pelo Parlamento, mas 
também pode ser direcionada pelo Ministro do Interior para assumir investigações 
e policiamento nacionais. A presença do governo nacional no policiamento é mais 
visivel para o público em geral no Canadá e nos Estados Unidos, devido ao 
destaque do RCMP e do FBI. Além disso, em todos esses países apontados, com 
exceção dos Estados Unidos, os cidadãos estão sujeitos à autoridade de uma só 
 17 
força policial de caráter geral por vez. Nos Estados Unidos, sistematicamente 
existem disputas sobre as jurisdições e competências de cada uma das forças 
policiais (Bayley, 2003). 
 Quando falamos em polícia, portanto, devemos estar atento que essa 
instituição não é uniforme em todos os lugares no que diz respeito ao tamanho do 
território e população que policiam, aos regulamentos que informam a sua atuação 
assim como também podem ser diversas as suas divisões internas e definição de 
suas competências. Dessa maneira, é importante estarmos atento que polícia não 
significa a mesma coisa em diferentes contextos. A instituição policial pode 
assumir múltiplas formas e desempenhar uma pluralidade de papéis. 
 A partir da análise proposta por Bayley (2003), observa-se que o que 
predomina nos países de língua inglesa são múltiplas forças policiais 
independentes. Existem polícias com plenos poderes no território da unidade de 
governo que a autoriza; existem polícias com finalidades específicas (como o 
Serviço Secreto Americano e o MI5 britânico); existem políciasde caráter geral, 
com jurisdição limitada a territórios específicos dentro de fronteiras mais amplas 
da unidade de governo que a autoriza (é o caso da Policia de Trânsito de Nova 
York e a Força Policial das Usinas Atômicas Inglesas). 
Com relação às formas de policiamento adotadas, Bayley (2003) destaca 
que o policiamento orientado para a comunidade e policiamento orientado para 
problemas são as ideias mais recentes na Austrália, na Inglaterra, no Canadá e 
nos Estados Unidos e que isso se deve à necessidade de obter a confiança da 
comunidade e recrutar a população para a atuação conjunta com os policiais na 
prevenção do crime (op. cit., p. 567). 
 
 
A Polícia nos Estados Unidos 
 
Vimos, brevemente, na parte anterior, que muitas são as polícias existentes 
nos Estados Unidos. Pretendemos agora destrinchar um pouco melhor esse 
 18 
quadro. Nos Estados Unidos, temos um modelo descentralizado com um grande 
número de departamentos de polícia. Temos agências federais, como o FBI, as 
agências estaduais e as agências municipais, como a Polícia de Nova York. No 
entanto, há casos “em que alguns municípios administram em conjunto suas 
forças policiais a fim de reduzir os custos de treinamento, manutenção e 
operação” (Costa, 2004, p. 145). 
Assim, destacamos que a polícia norte-americana é tratada quase que 
exclusivamente na esfera municipal, com algumas tarefas relativas às estradas e 
manutenção além da administração do sistema carcerário sendo realizadas pelas 
polícias estaduais. Os governos federais não tem protagonismo quanto a gestão 
da criminalidade e ao controle da atividade policial (Costa, 2004, p. 174). 
O Departamento de Polícia de Nova York (NYPD) é a maior força policial 
norte-americana, tendo um efetivo de 40.000 homens e mulheres em 1999, 
dividindo-se em 76 distritos policiais (prescints) e com jurisdição em cinco regiões 
metropolitanas (Manhatan, Brooklyn, The Bronx, Queens e Staten Island). 
Quanto a estrutura interna da carreira policial, Costa observa que “há uma 
só carreira policial e o acesso é único, por meio da Academia de Policia, de forma 
que o posto de oficial é um passo obrigatório para todos os membros do NYPD” 
(Costa, 2004, p. 146). Assim estão distribuídos os postos de carreira policial: 
 
Diagrama 2.1. Hierarquia interna da NYPD. 
 19 
Dados trabalhados pela autora. Fonte: Costa, 2004, p. 146. 
 
Costa (2004) nos relata em seu livro que a relação entre a NYPD e a 
Comunidade foi inicialmente marcada por muitas tensões e conflitos. Haviam 
problemas quanto a violência policial, a segregação social e discriminação das 
minorias étnicas e escândalos de corrupção institucionalizada na polícia. 
Com esses problemas em vista, a instituição policial e as práticas de 
policiamento foram objeto de muitas reformas desde 1970. 
Sobre a violência e, em especial, a violência policial, Costa (2004) relata 
que atualmente “o recurso a violência, como estratégia de ação, é caso raro, uma 
vez que menos de três quartos dos cerca de 500 incidentes potencialmente 
violentos observados resultaram em algum tipo de violência” (p. 147) “os policiais 
raramente deparam-se com a violência nos seus encontros com o público. Eles 
são frequentemente chamados em situações em que a violência já ocorreu e que 
Comissário	
  de	
  
Polícia	
  
• Indicado	
  pelo	
  
Prefeito	
  
Subcomissários	
  
Capitães	
  
• Distritos	
  
policiais	
  e	
  
unidades	
  
policiais	
  
(Prescints)	
  	
  
Tenentes	
  e	
  
Sargentos	
  
Oficiais	
  
• Tarefas	
  
roAneiras	
  de	
  
policiamento	
  
 20 
não era dirigida contra eles; como resultado, produzem-se poucas baixas e feridos 
tanto na polícia como no público.” (Bayley e Garafalo apud Costa, 2004, p. 147) 
As mudanças institucionais e mudanças na relação entre a polícia e a 
sociedade que foram promovidas referiam-se a: restrição ao uso da força letal por 
parte dos departamentos de polícia norte-americanos a partir da criação de 
protocolos de atuação, ou seja, da criação de protocolos internos específicas para 
controlar o uso da força letal dentro da filosofia de proteção à vida e da definição 
de estágios gradativos de uso da força dependendo das circunstâncias. São estas: 
persuasão verbal, uso de força física, uso de armamento não letal como spray de 
pimenta, uso de armas de impacto como cassetetes e bastões elétricos, uso de 
arma de fogo somente quando a vida de alguém estiver em perigo (Costa, 2004, 
pp. 154-155). A elaboração desses protocolos visavam informar e controlar os 
procedimentos policiais. 
Enfatizam-se mais os procedimentos do que a criação de normas abstratas, 
porque a ênfase deste modelo está na jurisprudência produzida nos processos de 
tomada de decisão referente a casos concretos. Para tanto, há uma constante 
referência a casos anteriores e não a leis abstratas que informem uma maneira de 
atuação. A ênfase nas práticas também podem ser identificadas nas cortes norte-
americanas, quando estas enfatizam as decisões dos juízes e dos tribunais, 
reinterpretando frequentemente o significado das leis (Costa, 2004). 
Ademais, foi proposto um conjunto de mudanças que envolviam a 
redefinição das técnicas de ação, dos programas de treinamento, o investimento 
em equipamentos não-letais e a criação de um setor encarregado de investigar 
incidentes policiais envolvendo o disparo de armas (Costa, 2004). 
Costa (2004) também relata que a partir do desencantamento com as 
antigas formas de policiamento a partir de 1980, foram enfatizados o policiamento 
motorizado para se dar uma resposta rápida aos conflitos e a investigação 
criminal. 
Foi criada uma nova filosofia policial: o policiamento comunitário. Com esta, 
foi dada centralidade do papel das comunidades na prevenção da criminalidade. 
 21 
Para tanto, o Estado devia reforçar as redes de sociabilidade locais ampliando a 
participação da sociedade civil no planejamento e supervisão da atividade policial 
(a partir da criação de conselhos e fóruns), as policias abandonaram um papel 
reativo e passaram assumir um caráter mais preventivo de atuação (Costa, 2004). 
As práticas preventivas da polícia foram enfatizadas a partir da descentralização 
administrativa das atividades policiais e do uso sistemático de um conjunto de 
informações como insumos da atividade policial: pesquisas de vitimização, 
análises ecológicas do crime e violência e estudos dos grupos de comportamentos 
desviantes (Costa, 2004, pp. 158-159). As novas tarefas exigidas aos policiais 
foram: o planejamento de suas atividades, o desenvolvimento da competência na 
avaliação e solução de problemas práticos, a busca do vínculo com a comunidade 
e a troca de informações (Costa, 2004, p. 159). 
Outra forma de policiamento criada em 1993, foi a política de tolerância 
zero visando a repressão de pequenos delitos que atingiam a qualidade de vida. 
A partir da criação de uma relação entre desordem e crime foi dada uma ênfase 
no policiamento de delitos de menor gravidade (Costa, 2004, p. 164). A estratégia 
do policiamento de tolerância zero foi baseado no princípio que, reprimindo delitos 
e pequenas incivilidades cometidas no espaço público, as infrações mais graves 
também serão reduzidas. Na prática, isso se traduziu em operações específicas 
contra o uso de cigarro e álcool por menores de idade, um maior controle dos 
comerciantes de rua, de mendigos, de prostitutas, de bêbados, em uma vigilância 
mais intensiva quanto as pessoas que urinam no espaço público, aos que fazem 
pichação nos muros. Alguns políticos e altos funcionários da polícia alegaram que 
a abordagem é um sucesso, reduzindo taxas de roubo e assassinato.Os críticos, 
porém, questionam as razões precisas de qualquer declínio nas taxas de 
criminalidade e da eficácia em geral da estratégia de tolerância zero (Carrabine et 
alli, 2004, p. 276). As práticas de abordagem e revista dos cidadãos (stop and 
frisk) cresceu substancialmente após a introdução dessas medidas, o que, 
segundo críticos, contribuiu para agravar as relações da polícia com os cidadãos 
(Costa, 2004, p. 164). Assim, ainda são muitos os questionamentos quanto ao 
 22 
bom trabalho policial, pois muitos foram os custos sociais envolvidos nessas 
práticas (Carrabine et alli, 2004, p. 276). 
Mudanças referentes a avaliação do trabalho policial também foram 
promovidas. Foram propostas promoções baseadas na performance dos policiais 
e não mais na antiguidade na carreira, sendo o desempenho avaliado a partir do 
cumprimento de metas (Costa, 1004, p. 163). Além de enfatizar o controle interno 
da atividade policial com vistas a uma melhor prestação de contas das atividades 
e uma melhor gestão das carreiras, também foram reforçadas inúmeras agências 
de controle externo da polícia. 
Costa (2004) afirma que não há relação de hierarquia entre os District 
Atorneys (membros do Ministério Público) e polícia, pois estes trabalham em 
mútua colaboração nos processos de investigação. Além disto, dada a grande 
descentralização existente no modelo norte-americano, que passa pela existência 
de múltiplas forças policiais presentes no território, os estados tem grande 
autonomia decisória e a Corte Federal pronuncia-se sobre pouquíssimos casos. 
Sobre este tema, Costa (2004) aponta que “desde a década de 1960, a corte 
federal tem tomado decisões sobre a constitucionalidade de determinadas práticas 
policiais”, o que impôs grandes restrições quanto aos interrogatórios e ao uso do 
instrumento da confissão, passando a ser aceita pela justiça apenas as confissões 
voluntárias, sem constrangimento físico ou psicológico, acompanhadas da 
instrução de um conjunto de evidências sobre os fatos (Costa, 2004, pp. 152-153 
e p. 174). 
Para finalizar, é importante destacar que este conjunto de mudanças e de 
desenvolvimento dessas novas formas de controle designadas como 
accountability, influenciaram não apenas práticas punitivas individuais dos agentes 
policiais, mas motivaram reformas nas estruturas e estratégias de gestão policial, 
o que inclui as carreiras, as formas de recrutamento, os equipamentos, os 
procedimentos, os treinamentos e mesmo as maneiras pelas quais os policiais 
relacionam-se com o público e prestam conta de suas atividades. 
 
 23 
 
Atividade Final 
1) Faça um repertório das práticas de policiamento que foram mencionadas 
ao longo do texto. 
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__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
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__________________________________________________________________ 
2) Foi apresentada nessa aula a ênfase existente na polícia inglesa e norte-
americana quanto a elaboração de protocolos e procedimentos de atuação 
policial. Com base nesses argumentos, argumente o quanto esses 
protocolos podem influir nas práticas de controle. 
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Resposta comentada 
Sugere-se que os alunos listem os modelos de policiamento abordados no 
texto. Além disto, que evidenciem os aspectos positivos dos protocolos policiais, 
uma vez que estes podem influir em práticas de responsabilização profissional e 
de melhor gestão da segurança pública. 
 
 24 
Conclusão 
Como conclusão, destacamos que as funções e o desenho das instituições 
policiais não se trata de assunto encerrado. A polícia ainda volta-se pensar em 
suas próprias atividades e em como prover informações sobre os usos e recursos 
às evidências para a efetividade policial. Atualmente, está no centro do debate a 
importância dos indicadores da performance policial com vistas a uma melhor 
construção dos processos institucionais e a produção de uma melhor relação entre 
os policiais e a sociedade (Carrabine et alli, 2004, pp. 281-283) 
 
Resumo 
Ao longo dessa aula, foram introduzidos e diferenciados os seguintes 
conceitos: controle social difuso e institucionalizado, polícia e policiamento. A partir 
disso, foram abordados o histórico e a representação da polícia inglesa e as 
práticas de policiamento adotadas por esta instituição em sua relação com a 
população. Também foram abordados de maneira breve, algumas diferenças entre 
as forças policiais existentes em diferentes países de língua inglesa. Por último, 
relatamos sobre a experiência norte-americana e, em especial, o modelo de 
polícia, de policiamento, reformas e formas de responsabilização e controle 
adotados pela polícia em Nova York. 
 
Referências Bibliográficas 
BAYLEY, David H. Comparando a Organização da Polícia em Países de Lingua 
Inglesa. In: TONRY e MORRIS (orgs.) Policiamento Moderno. São Paulo: 
Edusp, 2003. 
BRADFORD, Ben et JACKSON, Jonathan. « Pourquoi les Britanniques ont 
confiance en leur police »In: La vie des idees, Revue du College de France, 1er 
mars 2011. 
 25 
CARRABINE, IGANSKI, LEE, PLUMMER and SOUTH. Police and Policing. In: 
Criminology: a sociological introduction. New York/London. Routledge, 2004. 
COSTA, Arthur Trindade Maranhão. “Os mecanismos de controle da polícia de 
Nova York.” In: Entre a Lei e a Ordem: violência e reforma nas polícias do Rio 
de Janeiro e Nova York. Rio de Janeiro: FGV, 2004. 
LYMAN, J. L. The Metropolitan Police Act of 1829: an analysis of certain events 
influencing the passage and character of the Metropolitan Police Act in England. 
In: Journal of Criminal Law and Criminology, vol. 55, 1964. 
 
Outras fontes consultadas 
OFFICE OF NATIONAL STATISTICS. Statistical Bulletin. Crime in England and 
Wales, Year Ending March 2014. 
OFFICE OF NATIONAL STATISTICS. Statistical Bulletin. Focus on Public 
Perceptions of Policing, Findings from the 2011/12 Crime Survey for England 
and Wales, November 2012. 
Site: http://www.parliament.uk/about/living-
heritage/transformingsociety/laworder/policeprisons/overview/metropolitanp
olice/ 
 
 
Informações sobre a próxima aula 
Na próxima aula, serão abordados modelos policiais e de policiamento 
adotados em alguns países do continente europeu.

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